Crítica de arte

09/dez

Um dos mais importantes e atuantes críticos de arte do Brasil na década de 1970, Francisco Bittencourt (1933 – 1997), terá sua produção reunida pela primeira vez no livro “Francisco Bittencourt: Arte-Dinamite” (Editora Tamanduá Arte), organizado pela curadora e crítica de arte Fernanda Lopes e pelo escritor Aristóteles Angheben Predebon, detentor dos direitos de publicação da obra do crítico. Com cerca de 550 páginas, o livro apresentará um amplo panorama da produção de Francisco Bittencourt, que escreveu no Jornal do Brasil e na Tribuna da Imprensa, no Rio de Janeiro, e no Correio do Povo, no Rio Grande do Sul. Haverá, ainda, uma entrevista concedida ao crítico a António Celestino, em 1975, publicada no jornal Tribuna da Imprensa. O lançamento será no dia 10 de dezembro, no Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, e será seguido de debate com os organizadores e o crítico de arte Frederico de Morais. O livro tem patrocínio da Secretaria Municipal de Cultura, através do edital Viva a Arte!
Francisco Bittencourt foi um dos principais nomes da crítica de arte no Brasil, mais especificamente no Rio de Janeiro, durante os anos 1970. Foi um dos mais importantes defensores e divulgadores da geração de artistas plásticos que surgia e se consolidava naquela época, como Antonio Manuel, Anna Bella Geiger, Artur Barrio, Ascanio MMM, Cildo Meireles, Ivald Granato, Lygia Pape, Raymundo Colares, entre outros. É dele uma das expressões mais marcantes usadas até hoje para se pensar a produção artística brasileira nos anos 1970: “Geração Tranca-Ruas”.
“Os textos de Francisco Bittencourt são resultado do esforço, do exercício de pensar para além das convenções e dos modelos até então instituídos e compartilhados pelo cenário artístico brasileiro, contribuindo de maneira definitiva para o debate mais efervescente da arte brasileira, naquele momento e ainda hoje”, diz Fernanda Lopes. “É impressionante (e muito revelador) como os temas tratados por Bittencourt há mais de quatro décadas permanecem extremamente atuais”, ressalta.
O livro revela um rico panorama de sua obra, além de parte importante da história da arte e da crítica de arte no Brasil. Os organizadores realizaram uma ampla pesquisa de textos nos veículos de comunicação onde Francisco atuou e selecionaram cerca de 130 publicações que mostram os diferentes aspectos de sua produção crítica. No jornal Tribuna da Imprensa, ele escreveu a coluna semanal “Artes Plásticas”, entre 1974 e 1979. No Correio do Povo, colaborou com textos semanais entre 1975 e 1979. Ainda na década de 1970, trabalhou como interino no Jornal do Brasil.
“Sua postura generosa, atenta a atitudes novas, procura se opor não só ao que se faz de convencional em termos de arte, mas também em termos de crítica. É comum encontrarmos depoimentos de artistas sobre suas obras, discursos referidos, tentativas de elaboração e aprimoramento de caminhos próprios“, conta Aristóteles Angheben Predebon. Dono de um texto forte e envolvente, Francisco Bittencourt escrevia sobre os artistas contemporâneos da época e também sobre as Bienais, os Salões de Artes Plásticas e as instituições, principalmente o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e o Museu Nacional de Belas Artes. Bittencourt destacava não somente a programação dos museus e centros culturais, mas também suas precariedades e sua administração, criticando também a ausência de alguns artistas em certas exposições. Alguns textos, inclusive, atacam a própria imprensa, dizendo que alguns fatos surpreendentemente não ganharam o merecido espaço na mídia.
“Esses textos, em sua maioria publicados na imprensa diária, alternam-se entre discussões sobre o sistema de arte, o fazer artístico e da crítica de arte, além de perfis de artistas. (…) Em comum todos eles têm um olhar urgente e inconformado sobre os anos 1970 do Brasil, partindo do contexto artístico, mas que a ele não se limitam. E é isso que essa organização procurou enfatizar”, afirma Fernanda Lopes, que diz, ainda, que esses textos em conjunto “revelam um crítico comprometido, que não desassocia ética e estética, e que com seu humor ácido dedica-se a pensar não só a produção artística, mas também a produção da crítica de arte”.
O título do livro foi retirado de um texto de Francisco Bittencourt sobre a exposição de Artur Barrio, na Pinacoteca do Estado de São Paulo, publicado no jornal Correio do Povo, em 3 de dezembro de 1978, onde ele destaca os “Cadernos livros” do artista. Ele termina a crítica sugerindo que aquela seria uma boa exposição para ser apresentada no Museu de Arte do Rio Grande do Sul, uma sugestão ousada, inimaginável nas críticas de arte publicadas atualmente nos jornais.
Aristóteles Angheben Predebon ressalta que Francisco deixou inéditos livros de poemas, um romance, contos, duas peças de teatro. Ele diz que “Francisco Bittencourt: Arte-Dinamite” “trata-se do primeiro passo de um projeto maior: pretende-se, a partir daqui, publicar toda a sua obra inédita”.

 

 

Sobre Francisco Bittencourt
Francisco Badaró Bittencourt Filho nasceu em Itaqui, RS, 1933. Mudou-se com a mãe para Porto Alegre em 1948. Lá publica, em 1952, o livro de poemas “Vinho para Nós”. Passa a contribuir com revistas como a “Província de São Pedro”, da Editora Globo, e em suplementos literários. Aos vinte anos, muda-se para o Rio de Janeiro. Lança seu segundo livro de poemas, “Jaula Aberta”, em 1957. Vive no exterior durante quatro anos, de 1964 a 1968, contratado pela Rádio do Cairo. Volta ao Brasil e passa a exercer a atividade de crítico de arte, além de estar empregado pela Embaixada da Inglaterra durante os dez anos seguintes. Escreve semanalmente, durante a década de 1970, para jornais como a Tribuna da Imprensa e Correio do Povo e contribui como interino no Jornal do Brasil, escrevendo eventualmente também para revistas como a Vozes. Publica artesanalmente dois números do “Budum”, com a colaboração de Artur Barrio, Caio F. Abreu e outros. Trabalha como tradutor do francês e do inglês; é sua a primeira tradução em língua portuguesa de “Germinal”, de Émile Zola. Em 1978, ao lado de Agnaldo Silva e de outros intelectuais homossexuais, funda o “Lampião de Esquina”, jornal dedicado sobretudo às questões de sexualidade, mas que também procura abarcar questões feministas, raciais, indígenas e ligadas às minorias de modo abrangente, além de questões artísticas e culturais. Sua atividade como crítico de arte é interrompida em 1980, ano em que também se debela um inócuo processo contra o “Lampião de Esquina”. Durante toda sua vida foi poeta, tendo publicado ainda outros livros, como “Pequenos deuses”, em 1995, “A vida inédita”, em 1996, e “Aquela mulher”, também em 1996. Faleceu em 1997, deixando diversos livros de poemas ainda inéditos, duas peças de teatro e o romance memorialista “O Homem dos Outros” ou “Bico!”, gíria que significa “cale-se!”.

 

Resgate
Francisco Bittencourt: Arte-Dinamite” é o primeiro volume de uma série que será lançada pela editora Tamanduá Arte, que se baseia na pesquisa e no resgate da memória da critica de arte no Brasil, com a edição da obra de importantes nomes desde a década de 1950. O próximo volume a ser lançado no ano que vem será sobre o crítico Walmir Ayala, com organização de Carlos Newton Junior, professor da Universidade Federal de Pernambuco, e de Andre Seffrin, crítico literário. Parte da tiragem de 1000 exemplares será distribuída para instituições, centros de pesquisa, fundações, museus, bibliotecas públicas, bibliotecas de universidades com cursos de graduação e/ou pós-graduação na área de Artes Visuais, garantindo assim o amplo acesso a essa produção.

 

Em torno de Clarice

07/dez

Performance A Imitação da Rosa
A partir do dia 7 de dezembro, quem visitar os jardins do Museu da República, Catete, Rio de Janeiro, RJ, vai acompanhar a mãe da artista plástica Panmela Castro, dona Elizaberth, costurando um vestido de 20 metros de comprimento e 600 de tecido cor de rosa, cujo custo do foi adquirido através de campanha coletiva nas redes sociais vinculadas à artista.
Dia 10, a partir das 17h, Dona Elizabeth vai vestir a filha em um ato simbólico de passar adiante conhecimento e sabedoria. Mas não é só isso! O público feminino poderá participar da performance, assim como contribuiu na campanha, se vestindo de sabedoria e alguns metros de tecido. A nova obra de Panmela Castro fala de Sororidade: união e aliança entre mulheres, baseado na empatia e companheirismo, em busca de alcançar objetivos em comum.
Diferente das últimas duas performances públicas de Panmela que exploravam a violência e a dor, esta obra será uma celebração. Apropriando-se da epifania na obra “A Imitação da Rosa” de Clarisse Lispector, Panmela explora questões de natureza específica entre ficção e vida, e ainda outras sobre alteridade e dualidade entre o “eu” e o “outro”.
Clarice Lispector, em muitas de suas narrativas, retrata o aprisionamento das personagens à condição feminina e o desejo de liberdade. Personagens que inicialmente se negam a escapar da rotina mecanizada e aparentemente confortável, em algum momento se deparam com o imprevisto de um súbito instante de revelação, momento privilegiado, que as leva a um processo de autoconhecimento e a um momento de lucidez. O retorno à antiga não-consciência e o equilíbrio desta falta de verdade é impossível. Na obra de Panmela, é preciso entender a necessidade de cooperação entre mulheres e desconstruir a imagem existente de competição.
Com o objetivo de homenagear a escritora Clarice Lispector no dia do seu aniversário, 10 de dezembro, a curadora Isabel Portela da Galeria do Lago do Museu da República propõe a ocupação dos espaços de arte contemporânea do Museu com uma exposição intitulada “Somos todos Clarice”, que apresentará trabalhos de 20 artistas atuantes no cenário carioca inspirados em textos da escritora: Adrianna Eu, Alessandro Sartore, Bianca Madruga, Claudia Hersz, Denise Adams, Helena Trindade, Joaquim Paiva, Jozias Benedicto, Julia Debassi, Katia Wille, Laura Gorski, Manoel Novello, Panmela Castro, Patrizia D’Angello, Pedro Gandra, Regina Vater, Renata Cruz, Thais Beltrame, Virginia Paiva.

 

 

Clarice e o Palácio do Catete
Em 1940, após a morte de seu pai Pedro Lispector, Clarice e sua irmã Elisa se mudam para a residência de Tania que se casara em 1938, com William Kaufmann –, situada à rua Silveira Martins, 76, casa 11, no bairro do Catete, na vila chamada de Condomínio Bairro Saavedra, vizinha ao Palácio do Catete. Neste período a escritora, que já havia tido um conto seu publicado em um jornal semanário, estava se dedicando fortemente à escrita. O Palácio do Catete, antigo Palacete Nova Friburgo, foi construído na segunda metade do Século XIX como moradia da família de António Clemente Pinto, Barão de Nova Friburgo, uma das maiores fortunas do Segundo Império, negociante de escravos e produtor de café.
Além do palácio, a residência mais suntuosa da época, há um imenso jardim que chegava às areias da Praia do Flamengo. Adquirido pelo governo brasileiro como residência dos presidentes, o Palácio do Catete era certamente o centro da vida política e social carioca. Após a mudança da Capital Federal para Brasília, o Palácio do Catete foi transformado em Museu da República, instituição na qual está instalada há 13 anos uma Galeria de Arte Contemporânea, a Galeria do Lago, com uma programação voltada para a exibição de projetos artísticos que se referenciem à história e ao acervo do Museu, no espaço principal da Galeria e em sua extensão, no Coreto, além de propostas que utilizem o Jardim e seus equipamentos, ou mesmo o prédio principal do Museu.

 
A Trajetória de Panmela Castro
Dedicada a pensar as questões relativas ao gênero, Panmela não pode deixar de lembrar que sua performance acontece no último dia da Campanha 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres, mobilização mundial pelo fim da violência de gênero. Andarilha, Panmela viaja o mundo pintando muros por cidades como Johanesburgo, Paris, Washington e pelo menos dez países diferentes do globo. Este ano criou um mural de 300 m2 na fachada do primeiro museu de street art do mundo, o Urban Nation em Berlin; já passou três vezes pela cidade de Nova York, onde trabalha em um quarteirão inteiro de pinturas que cerceiam o Andrew Freedman Complex, além de ter criado o mural da Deusa da Vitória no Boulevard Olímpico, no Rio de Janeiro. Ainda em Dezembro visita o bairro de Wynwood em Miami, famoso por possuir obras de street art dos principais artistas do mundo, inclusive uma sua, que ocupa 100 m2. Já em 2017 Panmela vai pintar uma empena comemorativa Dia da Mulher a convite do prefeito de Jersey City, vai voltar a Berlin para participar da exposição de abertura do Museu Urban Nation e ainda pretende realizar sua primeira performance na cidade de São Paulo. Panmela ressalta que durante o processo de construção de seus murais, o que mais passou a lhe interessar não é o resultado da parede, mas sim o processo de estar nas ruas e sua relação com as pessoas e a cidade, e foi através da performance que conseguiu transformar estas experiências em arte e apresentar para o público.

 

 

De 11 de dezembro de 2016 a 10 de março de 2017.

Fotos de Alair Gomes

A CAIXA Cultural Rio de Janeiro apresenta, a mostra “Alair Gomes: Percursos”. Organizada pelo pesquisador e curador Eder Chiodetto, a individual do fotógrafo Alair Gomes traz a público uma seleção de 293 imagens das séries “Sonatinas”, “Four Feet”, “Symphony of Erotic Icons”, “The Course of the Sun”, “Beach Triptych” e “A New Sentimental Journey”. O projeto tem patrocínio da Caixa Econômica Federal e Governo Federal.

 

A exposição, que esteve na CAIXA Cultural São Paulo em 2015 e gerou recorde de visitantes, também traz série inédita de fotografias de atletas do surf, futebol, canoagem e natação no Rio de Janeiro, além da realizada na Praça da República, em 1969, na cidade de São Paulo. Haverá programação especial em duas datas: visita guiada com Eder Chiodetto na abertura, em 13 de dezembro, e lançamento do catálogo da exposição e palestra, também com o curador, no dia 21 de janeiro.

 

Considerado um dos precursores da fotografia homoerótica no Brasil, Alair Gomes notabilizou-se a partir dos anos 1960 pelas fotografias que enfocam o corpo do homem belo e jovem, seguindo a tradição da história da arte, notadamente das esculturas greco-romanas. Com forte acento voyeurista, muitas de suas fotografias, realizadas entre 1960 e 1992, foram feitas a partir da janela e também no perímetro de seu apartamento na orla da praia de Ipanema, no Rio de Janeiro. Desde então, sua produção tem sido estudada por críticos brasileiros e estrangeiros, e vem ganhando espaço em livros, revistas, galerias e museus.

 

 
Séries e temas:

 

A exposição “Alair Gomes: Percursos” será aberta com uma série inédita de 32 fotografias da Praça da República, de São Paulo, em 1969, auge do movimento hippie no Brasil. Chiodetto se surpreendeu ao encontrar essa série em sua pesquisa no acervo da Biblioteca Nacional. “Essas imagens ajudam a entender a pulsão da obra de Alair como um desdobramento da revolução comportamental ocorrida após maio de 1968, é uma ode ao hedonismo, ao prazer sem culpa possibilitado pelo sexo livre e pela regressão de certos dogmas”, afirma.

 

Em “Sonatinas”, “Four Feet” (1970-1980), o artista alude à composição musical para criar sequências com imagens de uma ação que ocorre num tempo-espaço bem definido, em geral com dois rapazes se exercitando na praia. Entre as séries sequenciais que tornaram a obra de Gomes conhecida mundo afora, a curadoria selecionou 13 “Beach Triptych”, série de jovens que se exercitam na praia, flagrados do calçadão de Ipanema, nos anos 1980.

 

Realizada entre 1967 e 1974, a série “The Course of the Sun” apresenta 25 fotografias feitas a partir do apartamento à beira-mar em Ipanema, onde Alair morava. Usando lentes de longo alcance, ele fotografava rapazes indo e vindo da praia. A sombra dos corpos se alonga no chão criando uma tensão entre a figura e sua projeção.

 

Em “Esportes” (1967-1969), Alair fotografou atletas de diversas modalidades esportivas. Esses registros, porém, são muito diferentes daqueles que normalmente vemos na cobertura esportiva realizada por fotojornalistas. Alheio à competição, o olhar de Alair perscruta os corpos dos rapazes com foco na musculatura, no contorno, no movimento por meio do qual esses corpos bem torneados revelam a perfeição da forma. “Bem-aventurado sou eu, por ter tantas vezes adorado a elevação e a manifestação da via sagrada do mundo na carne dos jovens rapazes”, escreveu Alair em seu diário.

 

Na sala anexa à galeria da CAIXA Cultural, estão fragmentos da série “Symphony of Erotic Icons” (1966-1978), realizada no estúdio caseiro do fotógrafo. Não raro, Alair mostrava aos garotos da praia as fotos que realizava furtivamente e os convidava para seu estúdio, onde promovia sessões fotográficas mais íntimas, explorando ângulos e sombras de seus corpos nus. Chiodetto complementa a série com outra, intitulada “A New Sentimental Journey”, espécie de diário textual-imagético que trata da viagem do artista para a Inglaterra, França, Suíça e Itália, em 1969, onde revela seu apreço pela estatuária clássica greco-romana.

 

 
Sobre o artista

 

Nascido em Valença, RJ, Alair de Oliveira Gomes (1921-1992) formou-se em Engenharia Civil e Eletrônica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A partir de 1965, dedicou-se a Fotografia e, ao longo de 26 anos, produziu mais de 170 mil negativos de um trabalho inédito e único com o qual obteve reconhecimento internacional após sua morte. Alair Gomes também foi criador e coordenador do setor de Fotografia da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, nos anos 1970, e foi retratado por Luiz Carlos Lacerda no filme “A morte de Narciso” (2003). Um conjunto de suas fotografias foi selecionado para a Bienal de São Paulo, em 2012, e recentemente teve obras incorporadas ao acervo do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA).

 

 

De 13 dezembro de 2016 a 19 de fevereiro de 2017.

ArtRio Carioca

Obras de grandes nomes da arte moderna e contemporânea estarão na primeira edição da ArtRio Carioca. O evento é um desdobramento da Feira Internacional de Arte do Rio de Janeiro e vai acontecer entre os dias 08 e 11 de dezembro, no Shopping Village Mall, na Barra da Tijuca.

 
A feira de arte, que tem a participação exclusiva de galerias da cidade, amplia o calendário de ações da plataforma ArtRio e promove mais uma oportunidade para colecionadores e interessados em arte de ter acesso a uma seleção de trabalhos de importantes galerias.

 
Reconhecida como uma cidade com forte vocação cultural, o Rio reúne um público cada vez mais crescente em exposições e eventos de artes. Além da feira, em paralelo ao evento irão acontecer palestras sobre arte, mercado e colecionismo, com início já no mês de novembro.

 
A ArtRio CARIOCA é um projeto da BEX, produtora cultural especializada em artes visuais, cuja atuação tem sido um diferencial no cenário brasileiro, com ações e projetos que integram as instituições, galerias, artistas e curadores, formando novas audiências, estimulando o colecionismo e o crescimento do mercado das artes visuais.

 

 

Galerias participantes:

 
A Gentil Carioca, Anita Schwartz Galeria de Arte, Athena Contemporânea, Athena Galeria, Artur Fidalgo, Almacén Thebaldi, Colecionador Escritório de Arte, Galeria Movimento, Galeria da Gávea, Galeria Nara Roesler, Galeria de Arte Ipanema, Galeria INOX, Gustavo Rebello, Jacarandá, LURIXS: arte contemporânea, Marcia Barrozo do Amaral, Mul.ti.plo Espaço Arte, Silvia Cintra + Box 4, Pinakotheke, Ronie Mesquita, UQ! Editions e Um Galeria.

Novo livro de Terranova

É com muita alegria que anuncio a chegada de um novo livro.

 
Por mais que as pessoas identifiquem o meu trabalho com as montanhas o meu ambiente natural é o mar. Comecei nas tranquilas águas de Angra dos Reis levado por meus pais a quem devo tudo e nunca mais parei.
A primeira vez que estive em Abrolhos foi no ano de 1984 subindo a costa do Brasil a bordo do magnífico veleiro Sea Wife (55 pés) do comandante Fernando Meira. Lá pude ter meu primeiro contato com a fauna e toda a beleza do arquipélago.

 
Já no Jornal do Brasil após ser contratado pelo Rogério Reis (editor de fotografia), recebi um presente. Uma pauta no ano de 1996 que me levaria de volta ao arquipélago para documentar o início da parceria entre a Petrobras e o Instituto Baleia Jubarte. Eu não imaginava mas após este encontro a minha vida mudaria. Nunca mais conseguiria tirar do meu espírito o encantamento e o vício de reencontrar as lindas Baleias Jubartes. Algumas eu fiquei tão íntimo que conhecia pelo nome, como a fêmea Claudia e o macho Chifre.

 
Se passaram 20 anos e finalmente posso apresentar: Abrolhos – Visões de um Arquipélago Oceânico. Livro lançado pela Andrea Jakobsson, minha querida e amada editora que sempre acreditou nos meus sonhos ao ponto de se tornarem seus.

 
Pude contar com amigos que fiz em 1996 e que estão comigo até hoje. O comandante Roberto Caçonia Fortes (Veleiro Coronado), Ana Cristina Freitas, Ian fortes que conheci aos 05 anos e hoje escreve o capítulo de geologia e o maior fotografo de cetáceos do Brasil, Enrico Marcovaldi, que gentilmente cedeu algumas imagens do seu arquivo para que este projeto ficasse ainda mais bonito.

 
Não posso encerrar este texto sem fazer uma homenagem ao Veleiro Coronado. Seus 27 pés não representam o seu tamanho e sua importância em nossos corações. Foram milhares de milhas náuticas navegadas entre Caravelas, Abrolhos e Rio de Janeiro. Atravessadas medonhas e velas rasgadas no meio de ondas gigantescas e ventos que chegavam a 45 nós. Tudo isso para subir ou descer a costa com os ventos SW e NE.

 
E também agradecer a todos os envolvidos neste projeto ao longo destes anos.

 
Até o lançamento!!!

 
Abs

Marco Terranova

O livro de São Sebastião

05/dez

Anita Schwartz Galeria de Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a partir de 14 de dezembro próximo a exposição “O livro de São Sebastião”, com trabalhos inéditos e feitos especialmente para o espaço da galeria pelo artista pernambucano Bruno Vilela, que desde 2001 é atuante na cena nacional e internacional. Serão apresentadas 15 pinturas, das quais sete óleos sobre tela e oito trabalhos sobre papel, nos quais Bruno Vilela utiliza diversas técnicas, desde a sobreposição da tinta óleo ao pastel seco e carvão, ao uso da folha de prata. As obras dão sequência à pesquisa do artista sobre arquétipos e mitologias, em que desta vez se aprofunda no universo judaico-cristão e no hermetismo.
“Pintar é uma maneira de reproduzir as imagens do inconsciente em uma tela. Na impossibilidade de se fotografar sonhos e pesadelos, é possível entrar em estado de sonho através da pintura”, conta Bruno Vilela, que aborda o universo onírico, e investiga memórias ancestrais e pessoais. “Esta exposição é como um livro. Seus textos foram perdidos. Mas suas ilustrações sobreviveram”, diz ele.

 

Artista que passa até onze horas no ateliê, Bruno Vilela foi tema de um episódio da série “Se Cria Assim”, do cineasta Cláudio Assis, dirigido por Beto Brant. Com 26 minutos de duração. O filme exibido este ano no canal Arte 1 será projetado no contêiner localizado no terraço da galeria. Além de dois livros de artista – “Animattack” (2014) e “Vôo Cego” (2010) – Bruno Vilela estreou ano passado na ficção, com o romance “A sala verde”, escrito após 70 dias cumprindo residência artística no Palácio do Marquês de Pombal, em Lisboa, a convite da instituição Carpe Diem Arte e Pesquisa. A publicação de 166 páginas, que inclui pinturas e montagens feitas pelo artista, estará à venda na galeria, durante o período de exposição, por R$ 35,00.

 

A cada série de trabalho Bruno Vilela usa um caderno onde anota ideias, o que lê, filmes que assiste, com o registro daquele período e produção. Ele colocará à disposição do público para leitura e manuseio o caderno que acompanha este trabalho “O livro de São Sebastião”.

 
Obras
A exposição segue uma narrativa misteriosa em muitas medidas, após estudo do espaço da galeria, para dispor seus trabalhos de acordo com esta narrativa, dividida em cinco capítulos. As obras ocupam o grande piso térreo, a escada, e o segundo andar. No diagrama feito pelo artista, ele comenta cada trabalho. A seguir, um resumo desses comentários:
(Cap. 1)
O Divã (2016, óleo e carvão s/ papel, 115cm x 150cm) – Uma visão da sala de Freud e seu divã. Para mim os sonhos e pesadelos são uma espécie de teatro, ou cinema fantásticos. Hiperfantásticos. O realismo mágico na pele. Com a prática é possível ter cada vez mais consciência durante os sonhos e aumentar o poder de memória de suas “cenas”.

 

Fio de prata (2016, óleo s/ tela, 90cm x 200cm) – Já houve o descolamento do corpo com o espírito. A alma entra na escuridão e fundo se avista a floresta do subconsciente. Um salto no vazio. A lua aparece no lugar da cabeça. É a luz para iluminar a escuridão da noite.

 

Moisés (2016, óleo e pastel seco sobre papel, 60cm x 80cm) – Uma luz sai de uma fenda na montanha. É o Monte Sinai. Referência ao momento em que Moisés vê a Sarça ardente e conversa com Deus. Tem alguma coisa lá longe na paisagem. O que tem dentro daquela fenda? Daquela caverna?

 

A Virgem dos Rochedos (2016, óleo sobre tela, 189,5cm x 120cm) – Lembrança da pintura de Da Vinci vista na National Gallery, em Londres. Não se vê os seres encantados, só suas auréolas.
(Cap. 2)
Maria (2016, óleo e carvão sobre papel, 65cm x 80cm) – Maria. Os ossos sagrados que nunca desaparecem. O útero é a caverna escura e a auréola o símbolo da santidade que brilha na sombra.

 

Fabíola (2016, óleo s/tela, 180cm x 140cm) – O amor de São Sebastião está na exposição frente a frente com o urso, na mesma altura dos olhos encarando o animal. Ela não tem os dois dedos, indicador e médio, fundamentais para um arqueiro. Os franceses arrancavam os dois dedos dos arqueiros ingleses. Por isso, levantar esses dois dedos na Inglaterra, é uma ofensa. Já os ingleses arrancavam o dedo médio dos arqueiros franceses. Daí surgiu o gesto de levantar o dedo!
São Sebastião (2016, óleo s/tela, 140cm x 190cm) – O urso. A resiliência. Foi flechado e não morreu. Foi um dos personagens centrais do romance “Fabíola” (“A Igreja das Catacumbas”), escrito em 1854 pelo Cardeal Nicholas Wiseman. Na minha desconstrução do mito o urso acha que foi flechado, mas não foi. Ele criou seu próprio sofrimento. A explicação está na arqueira, Fabíola, que não tem os dedos indicador e médio.
O Anjo (2016, carvão sobre papel, 92cm x 114cm) – Existem muitas referências a discos voadores na Bíblia. E uma vasta pesquisa em diversos livros como no clássico: “Eram os Deuses Astronautas?”, de Erich von Däniken.

 

 

(Cap. 03)
Paradise Lost (2016, óleo e pastel seco sobre papel, 80cm x 110cm) – “Paraíso Perdido”, escrito por John Milton, originalmente publicado em 1667 em dez cantos. O poema descreve a história cristã da “queda do homem”, através da tentação de Adão e Eva por Lúcifer e a sua expulsão do Jardim do Éden. Uso a imagem das placas Pioneer, que foram colocadas a bordo das naves espaciais Pioneer 10 (1972) e Pioneer 11 (1973), com uma mensagem pictórica que possa ser interceptada por vida extraterrestre ou até mesmo humanos do futuro. As placas mostram as figuras nuas de um homem e uma mulher. Na minha mitologia pessoal fazem o papel de Adão e Eva. Atrás vemos a árvore da Ciência do Bem e do Mal (“Gênesis” 3:22).

 

Red Right Hand (2016, óleo sobre tela, 150cm x 120cm) – A mulher com a espada é a versão feminina do Arcanjo Gabriel. “Red Right Hand” é uma música de Nick Cave baseada num texto de John Milton, “Paradise Lost” (1667). A mão vingativa de Deus. O Arcanjo em forma de mulher. A unha da mão vermelha é branca, e a unha da mão branca é vermelha. Yin & Yang circulando no corpo. A bengala é de preto velho. Para Milton, antes de serem expulsos, Adão e Eva receberam uma revelação do Arcanjo Gabriel sobre o horror que o homem cometeria ao longo da história da humanidade.

 

O Pontífice (2016, óleo e folha de prata sobre tela, 90 cm x 130 cm) – A Ponte do Diabo ou Ponte Mizarela, localizada na fronteira de Portugal com a Espanha, na Serra do Gerês. Segundo o mito um fugitivo da justiça se vê aos pés de um penhasco, onde abaixo passava um rio cheio de pedras. Apelou para o Diabo que construiu a ponte, em troca lhe ofereceu a alma. Depois de escapar, a ponte é derrubada pelo demônio e seus perseguidores não podem lhe pegar mais. Depois do ocorrido, aflito pelo que fez, o ladrão pede a ajuda de um padre. Esse o faz invocar novamente o criador da ponte. E lhe pede que a construa novamente. Ele faz sua vontade e levanta a ponte. Então surge o padre lhe joga água benta, fazendo o anjo do mal desaparecer. A ponte foi construída pelo Diabo, mas mantida pelo emissário de Deus. O padre, O Pontífice. Que como Mercúrio, Hermes, Exu e Pã, faz a ligação entre o mundo dos mortais e o Divino. A ponte simboliza essa passagem. A aureola é feita de folha de prata, forma o símbolo do infinito, ou a fita de Möebius, junto com o vão da ponte.
O Dilúvio (2016, óleo sobre tela, 110cm x 140cm) – O Fechamento. A balsa de salvamento é arremessada ao mar e o barco naufraga. No fundo vem vindo a tempestade, que já molha a tela, a visão do observador, com o escorrido da tinta. Representa O Homem, Adão e Eva, a humanidade. Expulsos do paraíso perdido.

 

(Cap. 04)
A escada de Jacó (2016, carvão s/ papel, 80cm x 60cm) – Esta obra fica na escada da galeria e faz a ponte entre o térreo e o segundo andar. O espectador vê e sente a passagem na própria escada que está prestes a subir para encontrar as duas últimas obras.
(Cap. 05)
A Terra (2016, carvão mineral e folha de ouro s/papel, 140cm x 115cm) – Do pó ao pó. A lembrança do mundo clássico grego no jarro de cerâmica. A terra presente no jarro é eterna, como os ossos, nunca desaparece. De dentro sai flutuando, com o mesmo diâmetro da boca do jarro, a serpente. Ouroborus. Aquela que se arrasta pela terra.

 

O Céu (2016, carvão mineral e folha de ouro s/papel, 140cm x 115cm) – No livro sagrado do hermetismo, o “Caibalion”, o primeiro e mais importante dos sete preceitos herméticos é:” O todo é mente. O Universo é mental”. A Deusa tem o rosto solar. O Sol é representado pelo ouro em diversas civilizações. A pedra filosofal dos hermetistas, que se disfarçavam de alquimistas (químicos de suas épocas), transformava metais pesados em ouro. Mas isso era uma metáfora pra transformar sentimentos e mentes primitivas e vulgares em luz através do conhecimento. O ouro, o sol, a luz, são o conhecimento divino. Na arte hermética e alquímica o sol é representado pela figura humana de um homem ao lado de uma mulher com a lua no rosto. Aqui eu subverto essa imagem clássica do misticismo e fecho essa história, não linear, fruto de um sonho, simbólica e espiritual, com as últimas palavras de William Turner no leito de morte: “Deus é o Sol”.

 
Sobre o artista
Bruno Vilela nasceu em Recife, 1977, onde vive e trabalha. O artista participa de mostras individuais e coletivas no Brasil e no exterior deste 2001. Seu trabalho integra coleções como a do Centro Cultural São Paulo, Banco Mundial, em Washington, Centro Dragão do Mar, e Centro Cultural do Banco do Nordeste, em Fortaleza, Museu de Arte Moderna Aluísio Magalhães (MAMAM), Fundação Joaquim Nabuco e Museu do Estado de Pernambuco, em Recife. Das exposições individuais realizadas, destacam-se “A Sala Verde”, Palácio Pombal, Carpe Diem Arte e Pesquisa, Lisboa/Portugal, “ELA”, Dragão do Mar, Fortaleza, em 2015; “Dia de festa é véspera de dia de luto”, Paço das Artes, São Paulo, em 2013; “O Céu do Céu”, Museu do Estado de Pernambuco, Recife, em 2009; “Bibbdi Bobbdi Boo”, Galeria Massangana, FUNDAJ, Recife, em 2008; “Réquiem sobre papel”, Museu Murilo La Greca, Recife, em 2006. Dentre as coletivas selecionadas, estão “Orixás” Casa França Brasil, Rio de Janeiro, 2016; “Art from Pernambuco”, Embaixada do Brasil, Londres, 2015; “New Brasil Bolivia Now”, Memorial da América Latina, São Paulo, 2013; “Metrô de superfície”, Paço das artes, São Paulo, 2012; “World Bank Art Program”, Washington, e “Jogos de guerra”, Caixa Cultural Rio de Janeiro, 2011; “Investigações Pictóricas”, MAC Niterói, 2009, 58º Salão de Arte Contemporânea do Paraná, MAC, Curitiba, e Prêmio Internacional de Pintura de Macau, IMM, Macau, China, 2001.

 
De 14 de dezembro a 04 de março de 2017.

 

Na ArtRio Carioca

A Galeria Marcia Barrozo do Amaral, com mais de 30 anos representando grandes nomes do cenário da arte, apresenta obras selecionadas exclusivamente para a primeira edição da Art Rio Carioca, que acontece entre os dias 08 e 11 de dezembro, no Shopping Village Mall, na Barra da Tijuca. Entre os artistas presentes no stand da galeria de Marcia Barrozo do Amaral estão os artistas Frans Krajcberg e Ascânio MMM. Outros nomes como Galvão, que atualmente apresenta uma exposição individual na galeria, Anna Letycia, que firmou-se como centro de referência nacional para o ensino das técnicas e do desenvolvimento da gravura, Luiz Philippe, Wilson Piran e Manfredo de Souzanetto também terão seus trabalhos apresentados. A feira de arte promove mais uma oportunidade para colecionadores e interessados em arte de ter acesso a uma seleção de trabalhos das mais importantes galerias.

 

Cidade Jacaranda

A exposição “Cidade Jacaranda”, na Fundação Cidade das Artes, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, RJ, conta com obras assinadas por Daniel Senise, Carlos Vergara & Zanini de Zanine, José Bechara, Vik Muniz, Afonso Tostes, Iole de Freitas, Arjan Martins, Vicente de Mello, Raul Mourão, Beth Jobim, Angelo Venosa, Paulo Vivacqua, Cabelo e Coletivo Organicidade. A mostra, que ficou em cartaz durante todo o período dos jogos Olímpicos e Paralímpicos, e permanecerá até o dia 30 de dezembro, celebra o início da parceria entre a plataforma Jacaranda e a Cidade das Artes, com o objetivo de promover um panorama relevante da arte contemporânea brasileira.

 

“Nem todas as obras são inéditas, mas todas têm grande importância na produção individual de cada artista. As pinturas, esculturas e fotografias produzem cruzamentos poéticos entre elas mesmas e a arquitetura do prédio emblemático projetado por Christian de Portzamparc”, pontua José Bechara.

 

“Jacaranda” é uma plataforma crossmedia de divulgação da arte contemporânea brasileira. Desde 2014, o grupo vem realizando exposições e, em 2015, lançou a revista bilíngue com distribuição gratuita no circuito internacional de arte. No dia 18 de junho de 2016, inaugurou no bairro da Glória seu novo espaço com a exposição coletiva “Do clube para a praça”, organizada pela crítica e curadora Luisa Duarte, com obras de 26 artistas. “Jacaranda é uma idealização de artistas, produzida por artistas e que funda um lugar intelectual e físico que pretende servir a todos que contribuem para formar o que chamamos de mundo da arte”, explica José Bechara.

 

 

Até 30 de dezembro.

Eloá Carvalho no MAM Rio

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro inaugura no próximo dia 03 de dezembro de 2016 a exposição “Todo Ideal Nasce Vago”, com pinturas de Eloá Carvalho (Niterói, 1980), feitas a partir de sua pesquisa sobre o acervo fotográfico das exposições realizadas pelo MAM, dos anos 1950 aos dias de hoje. A curadoria é de Ivair Reinaldim, que destaca a investigação da artista sobre a história das instituições. “Seu trabalho articula diferentes camadas de memória, mediante um cuidadoso processo de edição do material pesquisado, propondo conexões entre imagens e narrativas, assim como a articulação de diferentes temporalidades e espacialidades, em consonância com seus locais de exibição”, explica.

 

Em 2013, a artista realizou o projeto “Mise en Scène”, a partir do acervo iconográfico da Galeria de Arte IBEU. Em 2015, Eloá Carvalho foi convidada para fazer uma mostra individual na Galeria do Lago, no Museu da República, a partir da história e da arquitetura do Palácio do Catete, e da relação afetiva dos visitantes da instituição com a memória do espaço.

 

Para a exposição “Todo Ideal Nasce Vago”, a artista retornou à pesquisa iconográfica, e mergulhou no universo do Centro de Documentação e Pesquisa do MAM Rio, onde selecionou fotografias de exposições realizadas no museu, da década de 1950, registros dos jardins e do prédio, um marco modernista projetado por Affonso Reidy (1909-1964), e alguns feitos pela própria artista. A partir dessas fotografias, ela criou em torno de 18 pinturas que estarão na exposição, como “O regador”, “Gran circo” e “O ideal”, feitas este ano, em óleo sobre tela, a maioria em torno de 100 cm x 80 cm, e outras que vão de 150 cm x 180cm a 30cm x 40cm.

 

Eloá Carvalho conta que pesquisa arquivos de instituições para ter acesso a sua história, mas que seu interesse fundamental é a relação com a figura humana, de que maneira ela se está inserida nesse contexto. Feita a seleção de imagens que lhe chamaram a atenção, ela faz uma “edição” pessoal, misturando elementos e umas com outras. Eloá Carvalho ressalta que seu objetivo não é “um projeto histórico”, ou “fazer retratos”, e sim buscar “a cena, o momento”. Exemplo disso é a obra “O regador”, em que se vê um homem de terno curvado com um regador na mão. Trata-se de Juscelino Kubitschek, então presidente da república, na solenidade de plantação das palmeiras do Parque do Flamengo, no final dos anos 1950. “Achei interessante a pessoa que se curva, em uma ação simples, diferente da atitude formal e solene de um chefe de estado”, explica.

 

 

Trazer para dentro o que está fora
Uma pintura em grande formato mostra o artista Heitor dos Prazeres (1898-1966), a rara presença de um negro em um coquetel de abertura de exposições. “As imagens são bem diferentes entre si, mostram pessoas que frequentam o MAM, seus jardins, em universo que vai de figuras importantes, com taças de champanhe, a crianças de escola”, diz a artista. Ela lembra uma frase de Affonso Reidy, que pretendeu, com a fachada de vidro do Museu, trazer para dentro o que está fora. “Eu também, de uma certa forma, quis trazer para dentro o que está fora, as paisagens, as histórias das imagens”, observa.

 

“Além da investigação histórica e iconográfica, as pinturas produzidas por Eloá Carvalho para esta mostra ressaltam sua percepção poética das características físicas e ideológicas dos espaços expositivos e seus usos e afetos, a partir da presença do corpo do espectador. Sua linha de pesquisa reforça o uso da documentação histórica não como mera apropriação ou pastiche, mas, a partir de articulações mais complexas, que em si não escondem idiossincrasias e conflitos internos, para estimular a constituição de novos olhares para o espaço e sua memória”, destaca Ivair Reinaldim.

 

Ele explica que a artista “tem desenvolvido projetos que partem da história de instituições –por meio da investigação de documentos visuais e textuais, relatos orais, objetos e mobiliário, entre outros – para em seguida estabelecer um profícuo diálogo com a memória e as características desses espaços. Seu trabalho articula diferentes camadas de memória, mediante um cuidadoso processo de edição do material pesquisado, propondo conexões entre imagens e narrativas, assim como a articulação de diferentes temporalidades e espacialidades, em consonância com seus locais de exibição”.

 
Sobre a artista
Eloá Carvalho nasceu em Niterói, em 1980, e vive e trabalha na cidade do Rio de Janeiro. Graduou-se em pintura pela EBA/UFRJ, tendo feito cursos na EAV Parque Lage e na Fundação Eva Klabin. Entre suas exposições individuais, destacam-se: “Como se os olhos não servissem para ver”, na Galeria do Lago, Museu da República, Rio de Janeiro; “Projetos da minha espera”, ZipUp, Zipper Galeria, São Paulo, ambas em 2015; “Mise en Scène”, Galeria de Arte IBEU, Rio de Janeiro, em 2013. Das exposições coletivas, as principais são: “Ver e ser visto”, no MAM Rio de Janeiro, em 2015; “Figura Humana”, Caixa Cultural Rio de Janeiro, e “Novas Aquisições”, no MAM Rio, “Como se não houvesse espera”, Centro Cultural da Justiça Federal, Rio de Janeiro, todas em 2014; XI Bienal do Recôncavo Baiano, São Félix, Bahia, em 2012; “Como tempo passa quando a gente se diverte”, Galeria Casa Triângulo, São Paulo (2011); “Novíssimos”, Galeria de Arte IBEU, Rio de Janeiro, em 2010. Possui trabalhos nas coleções Gilberto Chateaubriand | MAM RJ e Instituto Cultural IBEU.

Até 05 de março de 2017.

Zilio no MAM-Rio

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro inaugura no próximo dia 03 de dezembro de 2016 a exposição “Atensão”, remontagem da histórica mostra realizada em 1976 com oito obras de Carlos Zilio (Rio de Janeiro, 1944), um dos mais importantes artistas da cena contemporânea brasileira. Com coordenação geral de Vanda Klabin e coordenação de montagem Jaime Vilaseca, a exposição irá ocupar exatamente o mesmo local da montagem original, no terceiro andar do Museu. À época, “Atensão”, a primeira individual de Carlos Zilio em uma instituição, integrou o programa Área Experimental do MAM, que existiu entre 1975 e 1978, e realizou um total de 38 exposições. Artista com reconhecimento no circuito nacional e internacional, Carlos Zilio teve sua pintura “Cerco e Morte” (1974) adquirida há dois anos pelo MoMA de Nova York. A obra integrou a exposição realizada pelo museu norte-americano “Transmissions: Art in Eastern Europe and Latin America, 1960-1980”, de setembro de 2015 a janeiro de 2016.

 

A instalação “Atensão” é formada por materiais de construção, como madeira, tijolos e pedras, articulados em equilíbrio precário e com o som incessante de um metrônomo, e remete o espectador a uma relação com a tensão. “Deste modo, o aspecto austero e geométrico do conjunto, gera uma situação na qual a questão estética está diretamente vinculada a experiência e a vida”, observa Vanda Klabin. Carlos Zilio afirma que remontar a exposição “possibilita recriar uma fase da minha produção e, simultaneamente, situar a inserção e pertinência deste trabalho hoje”.

 

O conjunto de oito obras, pertencente à Coleção MAM Rio de Janeiro, está sendo reconstituído para a exposição por Jaime Vilaseca, que participou da montagem original e de outras três que incluíram esses trabalhos: “Arte e política”, no Museu de Arte Moderna do Rio, que depois itinerou para o MAM São Paulo e MAM Bahia, em 1996 e 1997, com curadoria de Vanda Klabin. Na ocasião, Vilaseca também coordenou o restauro desses trabalhos. Vanda Klabin chama atenção para o fato de que a mostra individual de Carlos Zilio “tem caráter retrospecto, exibida agora após 40 anos, e foca uma produção estética investida de um alto teor político, uma arte engajada e com intensos posicionamentos críticos”.

 

O texto escrito pelo artista para o folder da mostra em 1976 estará na parede da entrada do espaço. Nele, Carlos Zilio destaca que “a leitura da exposição deve partir do princípio de que o seu objetivo está presente nos mínimos detalhes. As partes existem em função do todo; isoladamente, ficam sem sentido”. “A matéria é importante. Tábuas, tijolos, cabos de aço, pedras. Materiais de construção, prestes a desabar. (…) A direção do projeto é dar margem à formação de uma ampla articulação de conceitos que envolve o campo psicológico e o social; os significados objetivos e subjetivos interligados: um som (o seu ritmo), a pedra por um fio (a quase ruptura)”, destacou à época o artista. No final, ele avisa que “a linguagem está imersa na minha fantasmática, mas é preciso situar o projeto historicamente. O meu e o nosso tempo. O meu e o nosso universo. Tempo de tensões, pressões e (des)equilíbrios”.
 

 

Contexto Político-Cultural da época

 
No próximo dia 08 de dezembro, às 16h, haverá uma conversa aberta ao público sobre o contexto político da época, com o artista, os curadores do MAM, Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes, e ainda o crítico Ronaldo Brito, que em 1976 integrou a Comissão Cultural do Museu, responsável pela Área Experimental.

 

 
Área experimental do MAM

 
Para Vanda Klabin, “a Área Experimental do MAM representou um espaço de afirmação para a arte contemporânea brasileira”. “Em um momento do país marcado pelo obscurantismo político e social, a Área Experimental teve um valor simbólico particular por ter sido um espaço independente”, afirma. O programa realizado pelo MAM entre 1975 e 1978 foi objeto de pesquisa de Fernanda Lopes, que resultou na publicação “Área Experimental – Lugar, espaço e dimensão do experimental na arte brasileira dos anos 1970” (Bolsa Funarte de Produção em Artes Visuais 2012, em parceria com a editora Figo). Com 208 páginas, o livro faz uma análise histórica, crítica e inédita sobre a criação e funcionamento da Área Experimental, e teve como base documentos do Centro de Documentação e Pesquisa do MAM Rio e de acervos particulares, além de mais de 20 entrevistas feitas com artistas que expuseram dentro da Área Experimental do MAM, além de críticos de arte que acompanharam aquele programa de exposições.

Os artistas que expuseram na Área Experimental do MAM foram: Emil Forman, Sérgio de Campos Mello, Margareth Maciel, Bia Wouk, Ivens Machado, Cildo Meireles, Gastão de Magalhães, Anna Bella Geiger, Tunga, Paulo Herkenhoff, Umberto Costa Barros, Rogério Luz, Wilson Alves, Letícia Parente, Carlos Zilio, Mauro Kleiman (duas mostras), Lygia Pape, Yolanda Freire (duas mostras), Fernando Cocchiarale, Regina Vater, Waltercio Caldas, Sonia Andrade (duas mostras), Amélia Toledo, João Ricardo Moderno, Ricardo de Souza, Luiz Alphonsus, Reinaldo Cotia Braga, Jayme Bastian Pinto Junior, Dinah Guimaraens, Reinaldo Leitão, Lauro Cavalcanti, Dimitri Ribeiro, Orlando Mollica, e Essila Burello Paraíso, além de Beatriz e Paulo Emílio Lemos, Murilo Antunes e Biiça, Luis Alberto Sartori, Jorge Helt e Maurício Andrés, que apresentaram a mostra coletiva “Audiovisuais mineiros”.
 

 

Sobre o artista

 
Carlos Zilio (Rio de Janeiro, 1944) vive e trabalha no Rio de Janeiro. Estudou pintura com Iberê Camargo. Participou de algumas das principais exposições brasileiras da década de 1960 – “Opinião 66” e “Nova Objetividade Brasileira”, por exemplo, ambas no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro –, e de mostras com repercussão internacional, como as edições de 1967, 1989 e 2010 da Bienal de São Paulo (9ª, 20ª e a 29ª), a 10ª Bienal de Paris (1977), a Bienal do Mercosul e a exposição “Tropicália”, apresentada em Chicago, Londres, Nova York e Rio de Janeiro, em 2005. Na década de 1970 morou na França. Desde seu retorno ao Brasil, em 1980, participou de diversas mostras coletivas e individuais, entre as quais “Arte e Política 1966-1976”, nos Museus de Arte Moderna do Rio de Janeiro, de São Paulo e da Bahia (1996 e 1997), “Carlos Zilio”, no Centro de Arte Hélio Oiticica (Rio de Janeiro, 2000), que abrangeu sua produção dos anos 1990, e “Pinturas sobre papel”, no Paço Imperial (Rio de Janeiro, 2005) e na Estação Pinacoteca (São Paulo, 2006). As mais recentes exposições coletivas que integrou foram: “Brazil Imagine”, no Astrup Fearnley Museet, Oslo, MAC Lyon, na França, Qatar Museum, em Doha, e DHC/Art, Montreal, no Canadá, em 2014; e “Possibilities of the object – Experiments in modern and Contemporary Brazilian art”, na The Fruit Market Gallery, em Edinburgh. Dentre suas mais recentes exposições individuais estão as realizadas no Museu de Arte Contemporânea do Paraná (Curitiba, 2010), no Centro Universitário Maria Antonia (São Paulo, 2010), e no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (2011). Carlos Zilio foi professor na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em 2008, a editora Cosac Naify publicou o livro “Carlos Zilio”, organizado por Paulo Venâncio Filho, sobre a sua produção. Possui trabalhos em acervos de prestigiosas instituições como MAC/USP, MAC/Paraná, MAC Niterói, MAM Rio de Janeiro, MAM São Paulo, Pinacoteca do Estado de São Paulo e MoMA de Nova York..

 

 

De 03 de dezembro a 05 de março de 2017.