Nova artista representada pela Fortes D’Aloia & Gabriel

16/abr

Tatiana Chalhoub

A produção de Tatiana Chalhoub é estruturada segundo os parâmetros técnicos e formais da pintura, expandidos por meio da cerâmica, em relevos de superfície acidentada ou fragmentada. A fusão entre imagem e matéria que tem lugar em seus trabalhos faz com que manchas de pigmento em acabamentos esmaltados ou oxidados ganhem contornos de paisagem ou natureza morta. Peças soltas, fragmentos e resíduos são processados em reinterpretações da natureza, da história da arte ou de anotações mentais, reunindo esses pedaços díspares num mundo marcado por matizes líquidos e tons aquáticos. Em peças suspensas entre ícones e atmosferas em pequena escala, Chalhoub abraça o acaso e a imprevisibilidade da prática de ateliê, projetando soluções pictóricas a partir de quebras, ruídos e desvios de processo.

Entre suas exposições individuais recentes estão Romper o dia, crack of dawn, Fortes D’Aloia & Gabriel, São Paulo, Brasil (2024); Mais uma casa, Kubik Gallery + Espaço Cama, São Paulo, Brasil (2022); On the grass, 1111 Project Space, Budapeste, Hungria (2019) e O brilho do bronze, Galeria Ibeu, Rio de Janeiro, Brasil (2015). Entre suas últimas exposições coletivas estão Contra-flecha: gestos de amor, práticas de sedução, Almeida & Dale, São Paulo, Brasil (2024); Nunca só essa mente, nunca só esse mundo, Carpintaria, Rio de Janeiro, Brasil (2023); Desmanchar, desfaz, Quadra, São Paulo, Brasil (2022).

Acontece na Casa Museu Eva Klabin

15/abr

Baseada no livro “Um Teto Todo Seu”, de Virginia Woolf, a exposição “Uma Casa Toda Sua” está em cartaz até 23 de junho na Casa Museu Eva Klabin, Lagoa, Rio de Janeiro, RJ.

A curadora Isabel Portella une Eva Klabin e Virginia Woolf em um pensamento comum, convidando catorze artistas mulheres com discursos e poéticas bastante diversos para trazer propostas instigantes e interferências no espaço. São elas: Bel Barcellos, Carolina Kaastrup, Claudia Hersz, Daniela Mattos, Dora Smék, Julie Brasil, Karola Braga, Lyz Parayzo, Mariana Maia, Marlene Stamm, Panmela Castro, Patrizia D’Angello, Sani Guerra e Simone Cupello (foto).

O livro “Um Teto Todo Seu” é uma coletânea de palestras de Virginia Woolf ministradas em faculdades de Cambridge, em 1929. Na obra, a autora reflete sobre as condições sociais da mulher e sua produção literária, bem como as dificuldades para que elas tenham uma posição de destaque e possam se expressar livremente, características ainda presentes nos dias de hoje. Virginia Woolf defende que a mulher precisa ter domínio sobre a sua vida e autonomia financeira para poder criar.

No período em que o livro foi publicado, Eva Klabin tinha apenas 25 anos, mas já adotava os princípios de Virginia Woolf. Ao mesmo tempo que vivia intensamente suas viagens e estudos, ela também precisava de um espaço privado, um pedaço do mundo onde sua individualidade existisse isoladamente. Na casa da Lagoa – onde hoje funciona a Casa Museu – Eva Klabin reuniu peças vindas de civilizações e épocas diversas para conservá-las ao alcance dos olhos, no lugar onde vivia.

“O que proponho é uma exposição só com artistas mulheres independentes. Mães solo, mulheres negras, lésbicas, trans, periféricas, deficientes, idosas e mulheres livres que fazem seus trabalhos com garra e força, independentes de críticas e do mundo fálico dos curadores homens que habitam o nosso cenário artístico atual. No encontro da arte com tantos desejos e conquistas, celebremos a figura de mulheres que ousaram transgredir, oferecendo à vida o que têm de mais íntimo e sagrado”.

Isabel Portella – curadora

Exposições simultâneas no Recipiente Porongo

O Centro Cultural Recipiente Porongo, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, inaugura dia 19 com duas exposições simultâneas: “Brotar”, coletiva com curadoria de Shannon Botelho com a participação de 30 artistas da cena contemporânea atual. São eles: Aline MacCord, Amador e Jr. Segurança Patrimonial Ltda, Ana Klaus, Camile Soares, Cibele Nogueira, Cibelle Arcanjo, Edu Monteiro, Eloá Carvalho, Fernanda Sattamini, Gabriela Noujaim, Hugo Houayek, Ju Morais, Julia Arbex, Karin Cagy, Kika Diniz, Luanda, Marcelo Monteiro, Mariana Guimarães, Maria Baigur, Maria Palmeiro, Paloma Carvalho, Patrizia D’Angello, Rafael Adorján, Rafael Prado, Rafa Diås, Raul Leal, Stefanie Ferraz, Thadeu Dias, Ursula Tautz, Vanessa Freitag e “Perspectivas para além da visão”, exibição individual de Michele Martines com curadoria de Renata Santini.

A memória pessoal de um artista

12/abr

O artista Pedro Carneiro, inaugura no dia 14 de abril de 2024, às 13h, no Sesc Madureira, Rio de Janeiro, RJ, sua maior exposição individual: “Antes que a Memória me Esqueça”. Aproximadamente 40 obras – entre pinturas, vídeos e fotografias – ocuparão os espaços expositivos do térreo da instituição. A fé, a religiosidade, o sonho e a sobrevivência diante da violência e do racismo também estão nos trabalhos de Pedro Carneiro. O curador Raphael Couto distribuiu as obras do artista em três grandes núcleos: o primeiro, relacionado ao cotidiano, ao ambiente familiar e afetivo; o segundo, lúdico, o movimento em busca dos sonhos; e o terceiro com obras que fazem comentários mais diretamente políticos. Os trabalhos de Pedro Carneiro partem de sua memória pessoal, principalmente em torno das matriarcas de sua família: as avós materna e paterna, que moravam juntas com as tias do artista em Oswaldo Cruz, bairro vizinho a Madureira. A morte da avó Ridete, em 2023, e a isquemia sofrida pela outra avó, Luiza, provocaram no artista uma urgência em registrar suas memórias. “Ainda que sejam relacionadas a minha memória, tento encontrar um lugar familiar na memória de todos que vejam meus trabalhos”, diz. “A memória é frágil, ela pode se perder, mas resistimos e queremos que ela persista o máximo de tempo possível. Mesmo quando eu partir, eu quero que algumas coisas sejam lembradas”.

O público é recebido pelas fotografias das duas avós, Ridete e Luiza, as matriarcas “anfitriãs” da exposição. Nesta primeira parte, estarão duas séries de pinturas de plantas: “Raízes”, plantas usadas como proteção por religiões afro-brasileiras, destacadas sobre um fundo de spray dourado; e “Do Quintal nº 240″, com plantas do quintal da avó Ridete, com o fundo em tom de rosa, uma característica do trabalho do artista.

“Há um rosa nos quintais, carrancas e álbuns de famílias, nas espadas de São Jorge e numa Coca-Cola na mesa do bar. Um rosa onde o cotidiano é mágico e banal, onde se cata o feijão na mesma mesa em que se lê uma história de super-herói. Há um rosa mágico, entre nuvens contempladas de um quintal no subúrbio, uma rosa dos ventos alegórica e pop. E há um rosa direto e absurdo, que avermelha no sangue dos corpos pretos vitimados ao portar pinhos sóis, guarda-chuvas e furadeiras. Rosa acobreado nos cartuchos de traçantes que riscam a paisagem tal qual Pedro risca a parede. O rosa de Pedro Carneiro é manchado, dissonante, colorido”, destaca Raphael Couto.

Cenas do ambiente familiar estão nas pinturas “Naquela mesa”, “Retomar a memória esquecida”, “Antes de mudar a história da arte da minha rua”, “Aprendendo a respirar”, e as avós, em “Raízes, Vó Luiza” e “Raízes, Ridete”. Em “Take it easy, my brother Charles”, um policial de costas, em silhueta, olha para uma paisagem. “Um dado muito discrepante é que o Brasil tem a polícia que mais mata, e também a que morre mais. Um policial preto que mata um preto. Quero discutir esse sistema. Como se constrói e se perpetua”.

A segunda parte de “Antes que a Memória me Esqueça” tem um caráter mais lúdico, e aborda a luta pela realização dos sonhos, a fé, o respiro necessário para admirar a vida, as curas. Pedro Carneiro diz que “faz parte de nossa vida “parar e olhar o céu”, em uma apropriação do Cartola” – as pinturas “Ao mergulhar no céu” e “Leste – Oeste”. “É importante observarmos um autocuidado, nos protegermos, cuidarmos uns dos outros, e trabalhar para melhorar nossa realidade”. Esses temas estão em obras como a pintura “Herói-tropicaos-marginal”, “Fé: levei as dores para serem lavadas no mar. I e II”, “Caminhar no mundo” e “Carranca”, uma instalação com sal grosso e resina epóxi, que “transpira” com o tempo, criando uma crosta, e uma poça em volta, sem no entanto perder a forma.

Estrelas Cadentes/Balas traçantes

No último segmento da exposição, estão trabalhos que discutem mais diretamente o racismo, a violência urbana, a segurança pública e o conceito de “bala perdida”.

Sobre o artista

Pedro Carneiro nasceu em 1988, Rio de Janeiro, RJ. Tem participado de exposições coletivas importantes, como “Carolina Maria de Jesus: Um Brasil para os brasileiros” – apresentada no Instituto Moreira Salles Paulista, e depois em itinerância em Sorocaba e São José do Rio Preto, em São Paulo, e no Rio de Janeiro, onde esteve no Parque Madureira, na Ocupação MAR, e no Museu de Arte do Rio (MAR). No MAR, Pedro Carneiro integrou também a mostra “Um Defeito de Cor”, que depois foi apresentada no Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab), em Salvador, BA. Entre outras coletivas, também participou de “Parada 7″,  no Centro Cultural Hélio Oiticica e Centro Cultural da Justiça Federal, no Rio de Janeiro, e da Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, RS.

Três exposições simultâneas

09/abr

No dia 17 de abril, o Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ, inaugura três exposições simultâneas: “Transmutação: alquimia e resistência”, da artista Marcela Cantuária, um dos nomes de maior destaque da cena de artes visuais da atualidade; “Davuls de Salé”, de Cadu, com a colaboração de Adriano Motta, Maneno Juárez e Virgilio Bahde, e “bassa danza”, de Nathan Braga. Em cartaz até 07 de julho.

Sobre Marcela Cantuária

Destaque da cena de artes visuais da atualidade, Marcela Cantuária apresentará a exposição “Transmutação: alquimia e resistência”, com obras recentes e inéditas. Com curadoria de Aldones Nino e assistência curatorial de Andressa Rocha, a mostra terá cerca de 20 obras da artista, que há cinco anos não faz uma exposição individual no Rio de Janeiro. No dia da abertura, às 17h, será realizada uma visita guiada com Marcela Cantuária e Andressa Rocha. “Cantuária não se limita a pintar; ela conjura, diariamente engajando-se em uma prática que se assemelha à magia, capaz de remodelar a realidade, redefinir narrativas e transformar perspectivas. Como uma alquimista contemporânea, cada tela age como um encantamento, um chamado à reflexão e à transformação. Ela propõe uma reinvenção constante da criação artística, estabelecendo conexões entre múltiplas temporalidades”, afirmam os curadores no texto que acompanha a exposição. “A exposição vai abordar diversos momentos da minha trajetória, desde onde a minha pintura começa, até onde estou neste momento”, conta a artista.

Dentre as obras inéditas, estão duas pinturas de “Mátria Livre”, pesquisa que a artista desenvolve há oito anos, elaborando, por meio de um vocabulário plástico-formal, narrativas sobre como reencantar figuras femininas de luta contra o capital, o colonialismo e o patriarcado. A espinha dorsal da série consiste em reverenciar aquelas que construíram e disputaram espaços na política, lutando com teoria e prática. As novas pinturas trazem a poeta grega Safo, que viveu na ilha de Lesbos, e Marleide Vieira, militante do MST de Pernambuco, assassinada no ano passado pelo marido ao pedir o divórcio. “Represento mulheres que inspiram ações, trazendo a minha perspectiva, mostrando principalmente a força feminina. São imagens de mulheres que, na maioria dos casos, existem ou existiram enquanto lutadoras. É como criar um panteão dessas mulheres, lugar de merecimento e de imortalidade também”, afirma a artista. Além das pinturas, estará em destaque na exposição a obra “A grande benéfica” (2021), um autorretrato, pintado sobre biombo, medindo 1,80m X 1,80m. “Será uma imagem ícone da exposição. Essa obra fala muito da relação que eu tenho com o tarô, fiz uma releitura da carta dois de copas, que representa o romance, e da carta do mundo, que é a realização, o ciclo, e mesclei com partes íntimas da minha vida”, conta Marcela Cantuária.

Sobre Cadu

Cadu apresenta a exposição “Davuls de Salé”, que contará com a participação de três colaboradores: Adriano Motta, Maneno Juárez e Virgilio Bahde. Com curadoria de Felipe Scovino, a exposição apresenta a diversidade de linguagens exploradas pelo artista individualmente e em parceria, através de fabulações debruçadas sobre a história da pirataria, organizadas pelo escritor Peter Lamborn Wilson em seu livro “Utopias Piratas” (1995). Entre os séculos XVI e XIX, corsários muçulmanos do Magreb devastaram navios europeus, escravizaram povos e fundaram a República Corsária Moura de Salé. Durante esse período, milhares de europeus se converteram ao Islã e se juntaram ao que Wilson chamará de “guerra santa pirata”. Essa forma anárquica de capitalismo, que os piratas tomam para si, encontra ecos nas esculturas, desenhos, filmes e instalações realizadas por Cadu e sua horda de rebeldes do mar. O mar serve de inspiração para a série de desenhos “Nadar Nada Mar”, realizados em grade formato sobre papel. Sereias, Krakens, Leviatãs e outras bestas marinhas amalgamam-se, constituindo quimeras através de grafite, colagem e óleo, num imaginário simbólico barroco de terror e deslumbramento. Reforçando a ideia de fabulação e a conexão intrínseca que seu trabalho tem com a linguagem, Cadu escreveu poemas para cada uma das obras, embaralhando referências das ciências, de cosmogonias e da literatura. Dentre os trabalhos em colaboração estão as esculturas sonoras Beijo para o Mar e Pio para o Píer com Maneno Juárez. Na primeira, 21 apitos divididos em três conjuntos são posicionados a uma distância relativa entre si na galeria, servindo de veículo para diálogos pneumáticos. As esculturas produzem notas musicais, indo do agudo ao grave, do brado ao sussurro. Já na segunda, utiliza-se a técnica tradicional peruana de modelagem para construção de vasos sonoros movidos por água.

Sobre Nathan Braga

A exposição “bassa danza”, do carioca Nathan Braga, é a primeira exibição solo em sua cidade natal, que marca seu retorno após três anos morando em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Doutorando em Arte e Cultura Contemporânea (PPGARTES-UERJ), Nathan foi aluno intercambista de Belas Artes na Universidade de Salamanca, na Espanha, tendo sido o segundo brasileiro a receber a Bolsa Iberoamericana do Santander para tal curso. Com curadoria de Aldo Victorio Filho, serão apresentadas cerca de 25 obras pertencentes a quatro séries diferentes de trabalho, produzidas desde 2019 até hoje, nas quais o artista versa sobre o ponto de inflexão entre as figuras mitológicas de Thanatos e Eros, realçando o jogo erótico envolvido entre as obras e na relação delas com o público visitante.

“Pinturas, esculturas, cerâmicas não são colocadas como linguagens ou modalidades plásticas impermeáveis umas às outras, pois as obras expostas, a despeito da completude técnica e material nas quais se encerram, se afirmam em outra lógica para além da artesania suporte/técnica/material. Se articulam, pois, na indizível força que ativam em conjunto. Uma ópera, um concerto, uma fuga, um silêncio a depender do ir e vir de cada visitante. Uma dança.”, conta o curador Aldo Victorio Filho. A pesquisa para esta exposição se iniciou a partir da leitura que o artista fez do livro “Eros: o Doce-Amargo” de Anne Carson, no qual a autora vai pensar de forma ensaística as relações dicotômicas presentes no desejo, o jogo psicológico entre os amantes e a implicação histórica e social da representação ambígua dessas relações, através de análises iconográficas e semânticas, desde a Grécia Antiga. A aproximação entre arte e literatura tem sido um modus operandi do artista, que já dedicou uma exposição individual ao último livro publicado em vida pelo poeta Mário Quintana, fazendo dessa aproximação uma possibilidade de construção de famílias monstruosas, através de interdisciplinaridades, intermaterialidades e intertextualidades, objetivando borrar as fronteiras entre as coisas, como faz o próprio Eros.

Pinturas de Carlos Muniz

08/mar

Expoente da arte abstrata brasileira, Carlos Muniz apresenta trabalhos recentes na Galeria Patricia Costa, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, com curadoria de Vanda Klabin. Passadas quase quatro décadas desde quando estiveram juntos em uma exposição nos idos dos anos 1980, Carlos Muniz, Patrícia Costa e Vanda Klabin voltam a se encontrar profissionalmente na individual “Carlos Muniz: O Olhar Abstrato”, com abertura marcada para o dia 04 de abril. A relação dos três profissionais de arte vem de longa data: antes da galerista Patrícia Costa, Carlos Muniz foi representado pela galeria de Paulo Klabin, então casado com a curadora e historiadora (e onde Patrícia também trabalhava). Para celebrar esse revival, foram selecionadas duas obras desta época, pertencentes ao acervo pessoal do artista. A mostra estará em cartaz até 30 de abril.

Da produção recente de 2023, ele mostrará um recorte com cerca de 15 obras inéditas em tinta acrílica, incluindo dípticos, trípticos e polípticos de grandes e médios formatos – alguns chegam a medir até três metros. A contraposição dos planos, as linhas paralelas simétricas que exploram cores primárias, sempre com muita precisão, são características marcantes em sua trajetória. Carlos Muniz se divide entre a residência em Montes Claros e o Rio de Janeiro, onde mantém ateliê em Botafogo. Sua filha Lúcia Muniz, cantora que foi revelação no programa “The Voice Kids” em 2019, fará uma apresentação no dia da abertura, às 19h, ocasião em que será lançado um filme documentário sobre a carreira do artista, dirigido pelo cineasta Pedro Paulo Mendes.

“Carlos Muniz compõe a sua nova gramática visual no zigue-zague dos padrões anunciados pela geometria e pelas vibrações cromáticas. Passamos a observar o mundo através desses exercícios geométricos coloridos, que trazem uma nova irradiação do seu olhar abstrato. A pintura e suas infinitas possibilidades se imbricam no amplo leque de experimentações que caracteriza a arte contemporânea. Uma geometria transitiva sempre antecedeu as suas pinturas, seja na elaboração do quadrado, do círculo ou do triângulo, repletos de um forte cromatismo, seja pela evidência de segmentos desiguais que revelam um acento existencial e trazem à tona, as assimetrias do mundo, o que contribui efetivamente para o florescimento de seu pensamento visual”, diz a curadora, Vanda Klabin.

Sobre o artista

Natural de Montes Claros (MG), Carlos Muniz é artista visual e cirurgião plástico. Começou retratando o bucólico interior mineiro, aderiu à sua tendência espontânea com o traço geométrico, passando a pintar quadrados e retângulos. Há mais de 15 anos começou a executar esculturas tridimensionais em aço com pintura automotiva. Uma delas se encontra exposta no Parque da Catacumba, na Lagoa, no Rio de Janeiro. O artista já participou de 30 salões de arte, quase 30 exposições individuais e cerca de 40 exposições coletivas no Brasil e em países como Japão, Portugal, Estados Unidos e África do Sul. Ao longo da carreira como artista, recebeu diversos prêmios: V Bienal Nacional (Santos/SP), XII Salão Nacional de Arte Plásticas FUNARTE/IBAC (Rio de Janeiro e Brasília), Salão de Arte Biosintética (São Paulo), entre outros. Sob influência da pintura de Raymundo Colares – artista renomado e seu conterrâneo -, suas obras alcançam o minimalismo abstrato, com um geométrico claro e intenso. Suas formas abstratas e concretas já haviam ocupado o espaço urbano durante a Copa do Mundo de 2014, com esculturas de grandes proporções na Praça Paris. Carlos Muniz já expôs suas obras em países como Japão (“Quatro Pintores Geométricos Brasileiros”, com Manfredo de Souzanetto, Ronaldo Macedo e Luiz Dolino), Estados Unidos (“Gallery 54″), Portugal (“Fundação Medeiros e Almeida”) e Londres (“Galeria 32/Embaixada do Brasil”), começou pintando há mais de 40 anos e fez parte da Geração 80.

Topiaria a arte da jardinagem

A artista brasileira radicada no México, Vanessa Freitag, retorna ao Brasil para inaugurar a exposição individual “Topiarius” no dia 22 de março, no SESC Três Rios, RJ.

Nessa exibição, Vanessa Frieitag apresenta uma instalação têxtil que faz referência a “arte da jardinagem”, utilizando roupas de segunda mão, retalhos de tecidos, linhas, fios, bolinhas de gude e pequenos objetos; e uma série de desenhos que correspondem ao processo de formação de criaturas de um jardim.

Durante a exposição, que ficará em cartaz até 16 de junho, estão previstas atividades como oficina e conversa com a artista e a curadora Renata Santini, e o convite ao desenho por todo o período da mostra, abertas ao público. Ao final, será lançada uma publicação – impressa e digital – sobre a obra da artista, sua pesquisa e processo de produção.

Intervenção artística no Copacabana Palace

Uma novidade no Copacabana Palace. Ao passar pelo icônico hotel no Rio de Janeiro vemos mosaicos coloridos na fachada… trata-se da intervenção artística do artista francês Daniel Buren que colore as 121 janelas de sua  fachada com 1.322 vinis transparentes, em azul, vermelho, verde, amarelo e rosa. A intervenção foi intitulada  “Escala colorida para Copacabana Palace”, e faz parte do projeto Mitico, realizado há três anos pela Belmond em parceria com a Galleria Continua. A intervenção permanece até meados de setembro, mês em que acontece a ArtRio.

Além do Copacabana Palace, estão na lista o Hotel Mount Nelson, na Cidade do Cabo; Villa San Michele, em Florença; Castello di Casole, na Toscana; Hotel Cipriani, em Veneza; e La Residencia, em Maillorca. Daniel Buren é famoso pelo uso de cores contrastantes dispostas sobre superfícies ou espaços arquitetônicos e listras simétricas. A marca está em obras como as colonnes preto e brancas do Palais Royal e “L’Observatoire de la lumière” (“O observatório da luz”, em tradução livre) na Fundação Louis Vuitton, ambas em Paris, França. O Centro Pompidou de Málaga e diversas instalações temporárias pelo mundo!

Exposição/homenagem na Pinakotheke Cultural

A exposição “Anjos com armas”, na Pinakotheke Cultural, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, apresenta até 11 de maio, cerca de 50 obras dos artistas Sergio Camargo (1930-1990), Lygia Clark (1920-1988), Mira Schendel (1919-1988) e Hélio Oiticica (1937-1980. A curadoria é de Max Perlingeiro, com a colaboração do artista Luciano Figueiredo.

A mostra é um tributo ao crítico e curador britânico Guy Brett(1942-2021), que desempenhou papel decisivo na internacionalização da arte brasileira, ao criar, junto com o artista filipino David Medalla(1942-2020), e outros amigos, a lendária galeria Signals, que de 1964 a 1966 exibiu obras desses fundamentais artistas que são Lygia Clark, Hélio Oiticica, Mira Schendel e Sergio Camargo. Quatro obras que estiveram originalmente na Signals, estarão expostas na Pinakotheke Cultural: “Bicho-Contrário II” (1961), “Espaço Modulado nº 4″ (1958) e “Espaço modulado nº8″ (1959), de Lygia Clark, e “Relief” (1964), de Sergio Camargo.

Na abertura de “Anjos com armas”, estará presente o crítico, historiador e filósofo da arte Yve-Alain Bois (Constantine, Argélia, 1952), pesquisador no prestigioso Institute for Advanced Study, em Princeton, EUA, quando será lançada a dupla publicação “Anjos com Armas” – dois volumes envolvidos por uma “luva” – bilíngüe (port/ingl), em formato de 21 x 27 cm. O primeiro, com 132 páginas, traz na íntegra o texto “Anjos com Armas” (“Angels with Guns”), de Yve-Alain Bois. Quando o filósofo enviou o texto para a tradução em português, ele instigou a Pinakotheke a montar uma exposição com base no ensaio, que trata-se de um texto muito amoroso sobre a importância da Signals e a amizade.

O volume 2, com 128 páginas, contém as imagens das obras da exposição, e fotografias de época, como as que mostram a Signals. Os textos são de Guy Brett sobre os artistas Sergio Camargo, Lygia Clark, Mira Schendel e Hélio Oiticica, apresentação de Max Perlingeiro, e ainda um texto de Luciano Figueiredo, que em 2017 organizou, com Paulo Venâncio Filho, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, a exposição “Guy Brett: a proximidade crítica”, em “reconhecimento ao longo interesse intelectual e afetivo do crítico por nossos artistas”, assinala Max Perlingeiro.

Outros destaques da exposição são os “Bichos”, de Lygia Clark, em alumínio: “Bicho caranguejo” (1960) e “Bicho-contrário II” (1961); o conjunto de sete “Metaesquemas” de Hélio Oiticica, de 1957 a 1959; o conjunto de seis “Relevos” de Sergio Camargo, entre eles o “Relevo nº 172″ (Fenditura spazio orizzontal e lungo), de 1967; os seis trabalhos da série “Monotipias” dos anos 1960 de Mira Schendel, além de seu “Caderno de artista” (1966), o “Diário de Londres”, no qual a artista usa, “ao que parece, pela primeira vez, as letras decalcadas (letraset)”, como afirmou Taisa Palhares, no catálogo da exposição “O espaço infindável de Mira Schendel” (2015), na Galeria Frente.

Signos na Paisagem no CCBB Rio

Última sede da itinerância da mostra BIENALSUR 2023 no Brasil evidencia os olhares de artistas de diferentes origens sobre o impacto que as ações humanas vêm promovendo no planeta. Um dos exemplos notáveis da exposição é o vídeo da argentina Gabriela Golder, gravado no Cerro Mariposa (Valparaíso, Chile), que mostra a devastação provocada por um incêndio de enormes proporções, em 2015!

Signos na Paisagem reúne obras de Rochelle Costi e Dias & Riedweg (BRA); Gabriela Golder e Matilde Marín (ARG); Stephanie Pommeret (FRA); Alejandra González Soca (URY); Gabriela Bettini (ESP); Sara Abdu, Zhara Al Ghamdi e Hatem Al Ahmad (SAU). Os trabalhos problematizam a experiência de vida contemporânea e têm como chave, em sua maioria, a questão do meio ambiente. A mostra faz parte da 4ª edição da BIENALSUR, o evento cultural mais extenso do mundo – 18.730 km de arte contemporânea, em 28 países e mais de 70 cidades nos cinco continentes chega ao Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro permanecendo em cartaz até 15 de maio.

“Uma das premissas do trabalho da BIENALSUR é explorar o panorama artístico internacional por meio de uma convocatória livre e horizontal que realizamos para cada edição. A partir deste chamado, surgem os temas principais sobre os quais trabalhamos, bem como um conjunto de projetos de artistas de diferentes contextos culturais, que são selecionados para serem incluídos nas diversas exposições e intervenções realizadas simultaneamente em cada edição do evento”, explica Diana Wechsler, Diretora Artística da BIENALSUR.

Do último chamado aberto surgiu o tema dominante que orienta a seleção de artistas nesta exposição. A experiência vital contemporânea é problematizada em todas as obras; em algumas delas, a questão ambiental é fundamental. “De diferentes maneiras, nosso olhar sobre o ambiente natural – antes identificado entre as disciplinas artísticas convencionais simplesmente como paisagem – é urgente e exige atenção. Há séculos sabemos que as sociedades humanas vêm modificando a natureza por meio da extração de recursos, o que gera um grande impacto no planeta”, diz a curadora.

A exposição

A observação do entorno próximo durante o período de isolamento social entre 2020 e 2021 devido à Pandemia foi o ponto de partida para as observações de Rochelle Costi (BRA), o que a levou a desenvolver sua série Casa & Jardim;. As fotos registraram insetos encontrados na área externa de sua casa/ateliê (localizada a 4 km do centro da cidade de São Paulo). O trabalho não foi apenas uma observação, mas também uma provocação, pois incorporou na paisagem do jardim doméstico placas de plástico em relevo, criando uma topografia na tentativa de imitar a natureza, ao mesmo tempo atraindo e causando estranheza nos insetos, alterando seus comportamentos habituais. A série exibe o contraponto do que a comunidade global estava passando naquela época, quando as rotinas e paisagens cotidianas estavam sendo alteradas e a sensação de estranhamento dominava a sociedade. Este foi o último trabalho da artista, falecida em novembro de 2022.

Em uma linha de reflexão semelhante, o trabalho de Dias & Riedweg (BRA), a série Silêncio, composta por 16 fotografias digitais, observa as marcas no ambiente urbano e adota um tratamento formal dessas fotografias que remove o volume e a cor, deixando apenas as linhas, aproximando-se da imagem de uma gravura em metal. Esta estratégia escolhida para desafiar o olhar é um convite para descobrir, através de pequenos detalhes, a anomalia, o estranho, o que se torna alheio a uma narrativa visual convencional. Por meio destas imagens tiradas em 2020, eles destacam a questão do risco latente e o aviso de que algo se perdeu.

A abordagem de Gabriela Golder (ARG) em “Tierra Quemada” também evidencia momentos de marcas e perdas. O vídeo (2015), gravado no Cerro Mariposa (Valparaíso-Chile), observa a área devastada pelo incêndio: casas e fauna queimadas por um fogo que, segundo depoimento de um morador, “era tão alto como se o mundo estivesse prestes a acabar. A terra queimou”. A convivência entre as intervenções humanas e a natureza expõe suas tensões, e a sensação de saturação, de “fim do mundo”, emerge.

De uma perspectiva diferente, Matilde Marín (ARG) aborda sua série “Temas sobre a Paisagem”, fotografias que, em seu formato extremamente panorâmico, captam a sensação de infinidade experimentada nesses espaços, criando faixas de atmosferas inesgotáveis, linhas e fugas de luz que se tornam imagens cativantes de um momento efêmero que resgata o conceito de beleza na paisagem e seus limites. O ponto de vista escolhido pela artista é ao mesmo tempo sua marca registrada e a marca de sua presença latente.

Já Gabriela Bettini (ESP) traz para a mostra Paisagens Brasileiras-Pernambuco/Maranhão, realizadas a partir das obras de Frans Post – pintor barroco holandês que trabalhou as paisagens do Brasil levando-as para a Europa. A artista é conhecida por suas pinturas hiper-reais que se aproximam da estética da fotografia de arquivo. A memória pictórica de Bettini, rica em referências visuais, resulta em obras que não apenas remetem para a questão colonial, mas também para as disputas identitárias que ocorreram e ocorrem nestes espaços lidos a priori como “paradisíacos”.

Hatem Al Ahmad (SAU), por sua vez, resgata em sua vídeo-performance “To Speak in Synergy”, junto aos membros da comunidade de Abha (SAU), uma técnica de cuidado antiga que tende a fornecer certos elementos às árvores em seus processos vitais, ao mesmo tempo em que contribui para sua proteção contra mudanças de temperatura ou, por exemplo, alguns insetos. Através da ação dos corpos na paisagem, ele expõe práticas e conhecimentos tradicionais atualizando-os. Hatem afirma: “O sentido prolongado da temporalidade da performance oferece um reconhecimento das histórias e dos corpos que moldaram e habitaram o passado, bem como da racionalidade de nossos futuros”.

A questão das relações com recursos do passado, o tempo e a forma como ele nos interpela aparece reinterpretada como um cenário fictício na obra de Zara Al Ghamdi (SAU) “Echo of the past”, uma instalação com seiscentas peças de blocos de areia e argila fabricados que busca expressar, através do resgate de técnicas antigas de construção, as formas pelas quais o tempo afeta a existência. As rachaduras visíveis nessa orografia imaginária estariam revelando o colapso dos arquétipos tradicionais ou, pelo menos, tensionando as tradições ancestrais vernáculas com um presente que as altera.

Em uma dimensão diferente, a instalação “Moebius” de Alejandra González Soca (URY) tem como objetivo “Cultivar o vazio”. Segundo ela, “convivem dois tempos de um mesmo rosto para gerar uma matriz de eventos onde a germinação e a ação performática modificam constantemente a peça e, portanto, as possíveis relações com ela”.  “Moebius, continua a artista, “aspira a criar um espaço quase ritual que questiona a ideia de um sujeito autoconsciente e seguro de si mesmo, a partir de uma vulnerabilidade assumida e oferecida. Um evento cíclico e efêmero, onde o que acontece de alguma forma evidencia a mínima distância entre os processos de construção e destruição”. A obra da artista se modifica ao longo da exposição.

“Unir a ecologia, a conservação da natureza e a arte permite um diálogo de ideias que vai além das culturas. É necessário aproximar esses mundos e, assim, abrir o campo de possibilidades para ativar um novo imaginário de colaboração”, é o que afirma a artista Stéphanie Pommeret (FRA), que desenvolve em sua série de fotografias “Tous Migrants”, uma síntese poética possível na qual explora as maneiras como nos relacionamos como migrantes com nosso ambiente. Este projeto realizado na reserva natural da baía de Saint-Brieuc a levou a uma longa observação que resultou na operação de apropriação das fotografias naturalistas de Alain Ponsero, combinadas com suas próprias imagens, servindo para reivindicar “a hospitalidade como o único ambiente que favorece o futuro de nossa espécie”. Descobrir o mundo do outro, conhecer seus conhecimentos, sentir sua sensibilidade desencadeia um novo olhar sobre seu horizonte.

Sara Abdu (SAU) “Anatomy Of Remembrance” oferece um conjunto de paisagens imaginárias que procedem do seu interesse em explorar as qualidades indiciais de sentidos distintos da visão. Com base nas memórias olfativas, ela resgata sua imediatez para evocar uma imagem mental do passado e suas emoções, resultando em cartografias psicogeográficas suspensas com as quais Abdu explora o lugar ou loci da memória dentro de nós e cria um ambiente particular ao enfrentar essas topografias do passado.

No dia 20 de março, dia da abertura da exposição, entre as 17h e as 18h, haverá uma visita guiada com a diretora artística da BIENALSUR, Diana Wechsler, e os artistas Maurício Dias e Walter Riedweg (Dias & Riedweg), Matilde Marín e Alejandra González Soca. Os visitantes que estiverem nas galerias poderão participar livremente, sem necessidade de emissão de ingresso específico.

BIENALSUR

Uma ampla proposta de arte, cultura e pensamento contemporâneo que rompe com a ideia de geografia estabelecida, ao criar uma grande rede de unidades autônomas em torno do evento, que tem o quilômetro zero no Museu da Imigração, Buenos Aires, e se estende a mais de 18 mil km, até Tóquio, Japão, na Universidade Nacional de Belas Artes e Música. Criada pela Universidade Nacional de Tres de Febrero (UNTREF), na capital argentina, nasceu com o propósito de buscar outras dinâmicas para a arte e para a cultura, fazendo chamadas abertas a curadores e artistas de todo o mundo, sem temas pré-determinados.

“A BIENALSUR prova que a arte é a melhor ferramenta para superar as fronteiras políticas e identitárias que colocam em tensão as relações internacionais”, comenta Aníbal Jozami, sociólogo que idealizou a BIENALSUR junto com a historiadora e curadora Diana Wechsler. Ambos são acadêmicos – respectivamente Reitor Emérito e Vice-Reitora da Universidad Nacional de Tres de Febrero, universidade pública da Argentina. A primeira edição do evento foi realizada em 2017, com a participação de mais de 400 artistas em pelo menos 80 espaços, em 34 cidades de 16 países. Em 2019 o mapa foi ampliado para 112 áreas em 47 cidades de 21 países; em 2021, apesar da Pandemia, aconteceu em 120 locais, em 48 cidades de 24 países da América, da Ásia e da Europa.  Mais de 1.800 artistas de todo o mundo participaram das três primeiras edições do evento.