Goldfarb em retrospecto

26/jan

As duas décadas de carreira do artista carioca Walter Goldfarb estão sendo celebradas em “Walter Goldfarb – Retrospectiva 1995-2015: Ela não gostava de Monet”, sob curadoria de Vanda Klabin no Centro Cultural Correios, Centro, Rio e Janeiro, RJ, ocupando 1.000m2 de espaço expositivo. A mostra é um projeto da Graphos Brasil com produção da Artepadilla.  Essa panorâmica da produção de Goldfarb reúne cerca de 40 trabalhos pontuais, selecionados pela curadora, vindos de coleções institucionais e particulares do Brasil e do exterior, entre elas obras nunca exibidas, guardadas por Goldfarb, e telas de 2015.

 

Sobre as pinturas como um todo, Vanda Klabin assinala que “registram o desenvolvimento peculiar do seu laborioso exercício de ateliê e visa contemplar também as suas estruturas seriadas, que proporcionam articulações infinitas, dando espessura aos trabalhos e fornecendo consistência plástica ao olhar.”

 

A opção curatorial é a de privilegiar o enfrentamento visual e simbólico das obras, independentemente de datas, escolhidas entre as séries Teatros Bíblicos, Branca, Negra, Teatros do Corpo, Lisérgica e a mais recente Brinquedo de Roda, a partir de Heitor Villa-Lobos.

 

Nas telas de Teatros Bíblicos, de escala monumental, o artista discute a relação da escrita com a geometria e a figuração através das sagradas escrituras e da arquitetura bíblica. Entre as técnicas empregadas estão a impressão a fogo, o bordado e a costura em cânhamo, piche e couro de vaca sobre aninhagem e lona. Como exemplo dessa série, a pintura “Mezuzá” possui formato de pergaminho com seis metros de comprimento, com escrituras judaicas gravadas sobre lona crua, e estará ao lado do primeiro trabalho de Goldfarb com figuras humanas, quase esboços, pintadas com piche.

 

Na série Branca, a pintura de escassez, trata das relações entre o Cristianismo, Islamismo e Judaísmo através da ópera de Wagner, dos poemas de Teresa de Ávila e de mitos literários, como Fausto. O branco da têmpera toma conta da tela e a obra é feita com esboços de carvão, sem truques de sedução do olhar. O trabalho “Ela não Gostava de Monet”, que dá o título à exposição, reúne técnicas criadas pelo artista, como a pintura com esmerilhadeira no lugar do pincel, e bordados com fio retirado da própria lona do suporte.

 

Na Negra, a pintura sem luz, alude a Rembrandt, Goya, Velázquez, Da Vinci e Vermeer. Goldfarb substitui as áreas brancas da lona crua pelo preto das camadas com milhares de bastões de carvão (fusain). Submetidos a lavagens a cloro, os trabalhos revelam nuances alaranjadas e magentas, de acordo com a árvore que produziu o carvão.

 

Em Teatros do Corpo, as telas abordam a sexualidade na arte, o fetiche e a construção do corpo contemporâneo, espelhado no arquétipo greco-romano, partindo de uma pesquisa feita por Goldfarb em academias de ginástica da zona sul do Rio de Janeiro e na orla carioca. O artista anamorfoseia imagens de corpos de obras de Michelangelo, Caravaggio, Gustav Klimt e Egon Schiele com corpos de cartões postais de mulheres de fio dental na praia de Ipanema e Copacabana, revistas pornográficas femininas e masculinas, carnaval e lutas marciais.

 

Em reação às fases Branca e Negra, os trabalhos de Lisérgica buscam na solaridade do Rio de Janeiro a cor e a luz para uma reflexão sobre a possibilidade de uma pintura neo-impressionista, mesclada ao Barroco tão presente na obra de Goldfarb. A paleta lisérgica é feita da mistura de nanquim com anilinas alcoólicas, que mudam de acordo com a luminosidade e se alterarão infinitamente através da irradiação e temperatura da luz.

 

A série mais recente, Brinquedo de roda, é baseada nas cantigas de roda de Heitor Villa-Lobos. A pesquisa e a construção física das peças começaram em 2012. O conjunto é  formado por seis dípticos de grandes dimensões, em tons pastéis. Cada díptico é formado por duas telas: uma com detalhes de ornamentos arquitetônicos do Brasil Império em laca injetada na lona crua e bordados em Gobelin à mão e a outra com partituras das cantigas de Villa-Lobos, onde notas musicais aleatórias dançam como crianças rebeldes sobre as linhas dos pentagramas.

 

Walter Goldfarb é reconhecido por sua linguagem peculiar que mescla o fazer artesanal no exercício diário de ateliê, nos moldes dos mestres da Renascença e dos tecelões da Idade Média, com as vanguardas modernistas, impregnando os trabalhos de histórias e conceitos para além da arte pela arte, em telas de dimensões monumentais e técnicas incomuns, que quase nunca utilizam pincéis. É um artista contemporâneo mergulhado no curso da História da Arte no Ocidente e Oriente.
A curadora descreve, no texto do folder da mostra, características da fatura de Goldfarb: “[…] é uma  arte feita de construções e raspagens, onde aos fios de algodão são retirados da própria lona da tela, num procedimento de combinação e sobreposição das peças análogo ao modo com que aplica a tinta em seus quadros, seja pelos elementos fragmentários que se superpõem, num movimento realizado do fundo para a superfície, bem como o gosto pela composição cuidadosa e quase artesanal, como  se “tatuasse’ a realidade que habita o seu imaginário.”]

 

 

Sobre o artista

 

Foi no Centro Cultural Correios que Walter mostrou seu trabalho pela primeira vez, em 1995. No início da carreira, participou de salões e coletivas importantes como o Salão Carioca, Projeto Macunaíma [Funarte], Antárctica Artes com a Folha, selecionado pelos críticos Reynaldo Roels Jr., Fernando Cocchiarale e Lisette Lagnado, respectivamente. A partir de então, realiza regularmente individuais e expõe em feiras internacionais através de seus galeristas brasileiros e estrangeiros. Em 2010, Goldfarb foi escolhido, pela Academia Latina de Gravação de Hollywood, o Artista Visual do 11º Grammy, em Las Vegas. Sua obra ilustrou o catálogo dos indicados, milhares de ingressos e o pôster oficial do evento. Em sua lista de mostras, destacam-se as do Museu Nacional de Belas Artes, RJ, sob curadoria de Paulo Herkenhoff, atual diretor do MAR – Museu de Arte do Rio; no Museum of Latin American Art, Los Angeles, curada por Agustín, atual diretor do Museo Nacional de Arte do México, Jeu de Paume, Paris; no Domus Artium – Salamanca, Espanha; no Museu de Arte Contemporânea de São Paulo; no Culturgest/Caixa Geral de Depósitos, Lisboa; no Museo di Arte Moderna e Contemporanea di Trento e Rovereto, Itália, e no Museu Nacional de Belas Artes do Chile, entre outras. Walter Goldfarb tem obras nos acervos do MAR – Museu de Arte do Rio, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (coleção Gilberto Chateaubriand), Museu Nacional de Belas Artes, Museu de Arte Contemporânea de Niterói (coleção João Satamini), Museu de Arte de Miami (coleção Jorge Perez), da Fundacíon Golinelli, Bolonha-Veneza (Paolo e Marino Golinelli) e do Museu de Arte Moderna e Contemporânea, Lisboa (Colecção Comendador Joe Berardo), entre outros.

 

 

Até 28 de fevereiro.

Guilherme Vaz no CCBB-Rio

O CCBB-Rio, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresenta ao público a exposição “Guilherme Vaz: uma fração do infinito”, com 50 anos de produção desse artista multimeios, músico experimental, maestro, pensador e integrante das vanguardas dos anos 1970.  Um dos pioneiros da arte conceitual e sonora, Guilherme Vaz é um dos introdutores da música concreta no cinema brasileiro. A mostra conta com debates, reedição de trabalhos antigos, produção de novos trabalhos e edição de livro com ensaios inéditos, históricos e vasto conjunto de imagens e documentos.

 

A curadoria de Franz Manata apresenta o caráter inovador da obra de Guilherme Vaz ao destacar sua produção no contexto das vanguardas da arte contemporânea e sua vivência no Brasil central, com os sertanistas e povos indígenas. Em sua primeira grande exposição serão mostradas 41 obras que contemplam os diversos suportes utilizados pelo artista, como a instalação, objetos sonoros, instruções, desenhos, partituras, performances e parte de sua produção musical. “Guilherme Vaz: uma fração do infinito” destaca a importância da obra desse artista no panorama da cultura e deixará como legado um conjunto de textos, documentos e imagens para a memória da arte no Brasil.

 

 

Trajetória

 
Guilherme Vaz iniciou sua interlocução com a cena cultural do Rio de Janeiro no final da década de 1960, trabalhando com cineastas, músicos e artistas residentes na cidade. Realizou na época trilhas sonoras dos filmes “Fome de amor” (1968), de Nelson Pereira dos Santos – a primeira experiência de música concreta no cinema nacional, e O anjo nasceu (1969), dirigido por Júlio Bressane. Ambos premiados no Festival de Cinema de Brasília. Guilherme produziu trilhas para mais de 60 filmes, sendo 30 longas-metragens; ganhou nove prêmios e estabeleceu parcerias com importantes cineastas, como Júlio Bressane e Sérgio Bernardes. Segundo o curador, seu trabalho para o cinema traduz o “espírito do Brasil profundo”. Franz Manata comenta ainda o processo da pesquisa e curadoria da mostra.

 

Como músico e maestro, Vaz se envolveu com a música harmônica, a música concreta, experimental, o jazz, aprofundando-se na pesquisa com a música popular e flertando com a MPB. Esteve envolvido na fundação e apresentações do Grupo de Compositores da Bahia, organizado por Ernst Wiedmer; em 1967 funda com Vitor Assis Brasil o grupo Calmalma de Jazz Livre, que produzia jazz de vanguarda com acento na experimentação e improvisação musical; e participou da gravação do disco e da turnê do álbum de Ney Matogrosso, Água do céu-pássaro, de 1975, que apresenta sonoridade experimental permeada por elementos da natureza. Participou também da então nascente cena carioca de arte conceitual, articulada em torno das atividades do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, da criação da Unidade Experimental e de exposições históricas como o Salão da Bússola, realizado nesse museu, em 1969, e a polêmica “Agnus Dei”, realizada na Petit Galerie, no Rio de Janeiro, em 1970, além de participar das mostras internacionais: “Information”, no MoMA, em 1970, e da 8ª Bienal de Paris, em 1973, ambas relevantes no contexto da arte conceitual.

 

Dividida em três salas que ocupam o segundo andar da instituição, a exposição apresenta um percurso que se articula de forma complementar a mostrar uma fração do infinito artístico de Guilherme.

 

Na primeira sala, a experiência de Guilherme no interior do Brasil, onde desenvolveu trabalhos de antropologia, artes visuais e música pré-histórica com os povos indígenas sul-americanos Zoró-Panganjej, Gavião-Ikolem e Araras. O público poderá conhecer de perto um conjunto de pinturas realizado com o índio Carlos Bedurap Zoró, da tribo Gavião-Ikolem, de Rondônia, que por solicitação do artista reproduziu, nos tecidos fornecidos por Guilherme, suas pinturas corporais. Mais a série Solos ardentes, composta por 16 fotografias feitas com uma câmera amadora em 1999, em que crianças da tribo Gavião-Ikolem estão em frente a uma pilha de carvão da selva, dentro do escritório da Sociedade Pró-Arte, em Ji-Paraná, Rondônia.

 

Será apresentado o vídeo-concerto harmônico Música em Manaos (2004). Realizado por Guilherme e sob sua regência, a Orquestra Filarmônica Bielorussa se junta aos indígenas da etnia Gavião-Ikolem, no Teatro Amazonas. O registro é uma parceria com seu amigo, cineasta e documentarista Sérgio Bernardes (1944-2007). No outro vídeo, Uma fração do infinito, realizado em 2013 em parceria com o Instituto Mesa, Guilherme estabelece um diálogo com Charles Darwin ao refazer, simbolicamente, o caminho percorrido pelo naturalista britânico na cidade de Niterói. Um teatro sonoro onde os maracás ”acionam” as forças da natureza.

 

Na sala B estarão a escultura inédita Totem de maracás, composta por centenas de unidades do instrumento indígena, que reflete sobre o aprendizado com o universo indígena, e Jardim sem nome, uma instalação com seixos rolados que, segundo o artista, é uma metáfora acerca do universo da arte, em que sua própria história é como um imenso rio no qual os artistas são seixos dispostos ao longo do caminho.

 

A segunda sala mostra a produção de Guilherme como artista multimeios, músico experimental, maestro, pensador e integrante das vanguardas dos anos 1970. Aí poderão ser vistos sua pesquisa no campo da notação musical será apresentada (partituras convencionais, balizamentos gráficos, notações para o cinema e partituras como performance), a instalação sonora Crude, que surge a partir de sua pesquisa acerca do que ele definiu como “música corporal” iniciada na 8ª Bienal de Paris, em 1973, ainda sob o nome de Cru. Em sua primeira versão, o trabalho foi realizado de forma acústica quando o artista extraía sons diretamente da arquitetura. Já a partir da apresentação da 7ª Bienal do Mercosul em 2007, ele incorpora microfones e amplifica o som no espaço. Na versão atual, o artista convida o público para essa experiência. Tem também a instalação acusmática, composta por instruções de Guilherme Vaz, apresentadas ao público na “Information” – importante exposição de arte conceitual realizada no MoMA, em 1970. Para o CCBB o artista convida o público a seguir por um corredor, onde se escutam suas instruções. Segundo o curador é “uma estratégia para colocar ‘algo’ em evidência”.

 

A última sala destaca sua relação com a imagem em movimento através da parceria com o cineasta e documentarista Sérgio Bernardes, que traduz o Brasil profundo em sete filmes: Os guardiões da floresta (1990), Panthera Onca (1991), Cauê Porã (1999), Nós e não nós (2003), Amazônia (2006), Mata Atlântica (2007) e Tamboro (2009). A exposição conta com uma cronologia ilustrada, que aborda a vida e o percurso de Guilherme Vaz, com um vasto conjunto de documentos, obras, vídeos e arquivos de áudio.

 

Sobre o artista

 

Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Pioneiro da arte sonora, formou-se na Universidade Nacional de Brasília, tendo como professores Rogério Duprat, Décio Pignatari, Nise Obino, Cláudio Santoro, Damiano Cozzela, Régis Duprat, Hugo Mund Júnior, entre outros (1962-1964); e na Universidade Federal da Bahia, onde foi aluno de Walter Smetak e Ernst Wiedmer (1964-1966). Fundou, em parceria com Frederico Morais, Cildo Meireles e Luiz Alphonsus, a Unidade Experimental do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (1968-1970). Presidiu a Fundação Cultural de Ji-Paraná, fronteira com a Bolívia, onde desenvolveu trabalhos de antropologia, artes visuais e música pré-histórica com os povos indígenas sul-americanos Zoró-Panganjej, Gavião-Ikolem e Araras. Artista multimeios e experimental, autor das obras sonoras: Walk to anywhere, Rio de Janeiro (1970); Open your door as slow as you can, Rio de Janeiro (1970); Solos ardentes, Nova Iorque (1970); Crude, Paris (1973); Ensaio sobre a dádiva, d’après Marcel Mauss, Oslo (2008). Sua obra foi incluída em importantes exposições coletivas, dentre as quais se destacam: “Hélio Oiticica e seu Tempo”, Centro de Arte Hélio Oiticica, Rio de Janeiro (2006); VIII Biennale de Paris, Museé d’Art Moderne de la Ville de Paris (1973); “Agnus Dei”, Petite Galerie, Rio de Janeiro (1970); “Information”, MoMA, Nova Iorque (1970), entre outras.

 

Editou várias obras em CD com a gravadora OM Records: o vento sem mestre (2007), Sinfonia dos ares (2007), La Virgen (2006), Deuses desconhecidos (2006), Anjo sobre o verde (2006); A tempestade, El arte, Povos dos ares, Der Heiligue Spruch (2005); A noite original – Die SchopfungsNacht [Die Windeuber der Meer am Anfgang der Welt] (2004); Sinfonia do fogo (2004); O homem correndo na Savana (2003), todas elas lançadas no Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC). Publicou a Sinfonia das águas goianas (2001), um livro em que reúne algumas das conjunções sonoras mais profundas, arcaicas e significantes do meio central da América do Sul.

 

 
Debates

 

 Guilherme Vaz e a arte contemporânea
Sinopse: Comenta aspectos de sua produção artística, destacando seu papel na introdução da arte conceitual e sonora no Brasil. Na mesma data também será lançado o livro “Guilherme Vaz: uma fração do infinito”.
Palestrantes: Franz Manata, Marisa Flórido César

 
 Data: 24/02/2016

 

 Guilherme Vaz e o cinema
Sinopse: Comenta aspectos de sua obra musical, destacando seu papel na introdução    da música concreta nas trilhas sonoras do cinema brasileiro.
Palestrantes: Franz Manata, Júlio Bressane, Suzana Reck Miranda

 
 Data: 09/03/2016

 
 
 Guilherme Vaz e a música
Sinopse: Comenta sua produção como maestro, sua relação com os aspectos estéticos da música erudita e sua relação com a formação da identidade cultural brasileira.
Palestrantes: Franz Manata, J. P. Caron

 
 Data: 23/03/2016

 

 

 Até 04 de abril.

Leonilson, filme no Parque Lage

Dirigido por Carlos Nader, “A Paixão de JL”, realizado pelo Itaú Cultural em parceria com a produtora Já Filmes, foi produzido a partir de um único registro, o de fitas cassetes gravadas pelo artista na última fase de sua vida, entre 1990 e 1993. No dia 25 de fevereiro o longa-metragem entra definitivamente em cartaz no circuito Espaço Itaú de Cinema de São Paulo (Augusta, Shoppings Bourbon Pompeia e Frei Caneca), Brasília, Curitiba, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Salvador.

 

A “Paixão de JL” (82′, cor, 2015), dirigido por Carlos Nader, com realização do Itaú Cultural, terá pré-estreia nacional na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ, em sessão no Cine Lage, no próximo dia 29 de janeiro, às 20h. Após a sessão haverá uma conversa aberta com o diretor do filme, com a diretora da EAV Parque Lage, Lisette Lagnado, e o professor Ivair Reinaldim. Carlos Nader destaca que “a EAV foi um lugar central na carreira de Leonilson. Foi onde ele cresceu e se projetou”. Foi a partir da exposição “Como Vai Você, Geração 80?”, realizada no Parque Lage em 1984, com curadoria de Marcus Lontra Costa, Paulo Roberto Leal e Sandra Magger, que a obra do artista ganhou propulsão e ele passou a ser reconhecido nacionalmente.

 

O filme percorre os três últimos anos de vida de Leonilson (1957-1993), narrado pelo próprio artista, e seu depoimento é associado a imagens, músicas e algumas das suas principais obras, formando uma poética audiovisual sobre as impressões do que o artista viu e sentiu neste período. A ideia que culminou na realização do longa-metragem surgiu em 2011, quando o Itaú Cultural fez a mostra “Sob o Peso dos Meus Amores”, uma

retrospectiva da obra de Leonilson. Carlos Nader foi convidado a dirigir um curta sobre a exposição, cujo resultado levou, naturalmente, à produção deste longa-metragem. O filme recebeu o prêmio de melhor crítica e de melhor documentário brasileiro nos festivais “É Tudo Verdade” e “Mix Brasil de Cultura da Diversidade”, o reconhecimento de melhor longa-metragem pelo júri popular no “Festival Mostras CURTA-SE” (Festival Ibero-Americano de Cinema de Sergipe), e o prêmio especial pelo júri no “37º Festival Internacional do Novo Cinema Latino-Americano de Havana”, em 2015.

 

Pintor, desenhista e escultor brasileiro, José Leonilson Bezerra Dias nasceu em 1957 em Fortaleza, e morreu em São Paulo, vítima da Aids. Em janeiro de 1990, quando tinha 33 anos – três antes de morrer –, ele começou a produzir um diário íntimo gravado em fitas cassete. Carlos Nader, amigo próximo, conseguiu acesso ao material guardado pela família. “Alternando reflexões sobre sua intimidade e sobre o espírito de sua época, ele deixou um registro precioso em que um indivíduo especialmente sensível se relaciona com as grandes mudanças de seu tempo”, conta o diretor.

 
A partir do diário de Leonilson, ele optou por um caminho arriscado que, no entanto, resultou em uma produção no qual o espectador embarca em uma história pessoal de paixão, dúvidas e questionamentos, arte e criação, alinhavada por imagens de arquivo sobre aquele período.  Os tempos narrados por Leonilson são acompanhados por cenas que fizeram parte do seu imaginário e dos seus comentários. “Além de mostrar algumas de suas obras, o documentário entretece o diário íntimo com imagens públicas ligadas a diversos temas mencionados nas gravações”, conta Nader, premiado no “É Tudo Verdade”, em 2014, com o filme “Homem Comum”. “São assuntos tão diferentes quanto o Plano Collor, a Guerra do Iraque, filmes de Wim Wenders ou Derek Jarman, novelas da Globo, a tragédia da Aids ou o reino pop de Madonna”, completa. Vale ressaltar, ainda, a presença de trechos de programas da televisão, como “Família Dó-Ré-Mi”, o noticiário do Jornal Nacional, em 1990 e 1992, a série “Mico Preto” e “Perdidos no Espaço”. Nas gravações, Leonilson fala de seus trabalhos, de tristezas e alegrias, amores e desamores, medos, família e da homossexualidade. Um dia se descobre soropositivo, tema principal da última fase da sua vida.

110 anos

16/jan

A Índica Arte e Design, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, realiza a abertura da exposição de José Oiticica Filho.

 

Com curadoria de Cesar Oiticica Filho e Carlo Cirenza, a mostra comemora 110 anos de nascimento do fotógrafo e pintor. Pai de Hélio Oiticica, J.O.F. foi um dos grandes nomes da fotografia moderna brasileira, criando experimentações com fotografias construtivas e abstratas através de intervenções no processo de revelação.

 

 

Até 12 de março.

Quatro artistas na Hathi

14/jan

Instalada na galeria Ipanema 2000, Rio de Janeiro, RJ, a Hathi Galeria, abre sua primeira exposição prometendo periodicidade. Márcio Niemeyer, Ani Cuenca, Poe e Maíra Allemand expõem telas e fotografias, com técnicas, temas e propostas diferentes. Em comum, a “Simplicidade no olhar”, que não por acaso dá nome à mostra.

 

Márcio Niemeyer atribui à vocação da família a atração pela arte da imagem através das lentes, que o levou a fotografar desde pequeno. Ele expõe trabalhos da série “Skandinaviska”. Arquiteta por formação, Ani Cuenca, que se se define essencialmente como uma desenhista, assina telas monocromáticas sempre inspiradas em recortes da natureza. Maíra Allemand teve seus primeiros contatos com a fotografia na Faculdade de Desenho Industrial. Poe se define como um artista visual. Na série “Fine Line”, a busca pela essência na obra é levada ao rigor máximo do minimalismo. Apenas uma linha corta o espaço pictórico, ora contra uma cor sólida, ora contra a tela crua.

 

 

Sobre os artistas

 

Ani Cuenca

 

Arquiteta formada, com passagem em vários escritórios badalados da cidade, Ani Cuenca se define essencialmente como uma desenhista. Desde a época da faculdade, cursada na UFRJ, ela admite que adorava as aulas em que os trabalhos eram feitos em pranchas de nanquim sobre papel vegetal. Simples e essencial. O tempo passou, Ani se formou, e, o computador se tornou a principal ferramenta na sua vida profissional, mas a vontade de retomar os pincéis e canetas continuava forte. “Percebi o quanto o traço a mão era importante quando via os registros depois das reuniões. Sem perceber, os cadernos ficavam sempre cheios de rabiscos”, conta ela. Seus cadernos eram verdadeiras obras de arte e suas composições orgânicas inspiradas na natureza compensavam os excessos de linhas retas de seus projetos. Há cerca de um ano, Ani resolveu investir na carreira artística. Montou um atelier e passou a assinar telas monocromáticas sempre inspiradas em recortes da natureza.

 

 

 

Márcio Niemeyer

 

Márcio Niemeyer nasceu no Rio de Janeiro. Sua atração pela arte da imagem através das lentes o levou a fotografar desde pequeno, talvez pela influência de seu avô. Começou a clicar a beleza natural do Rio de Janeiro com as câmeras mecânicas de seus pais. Atraído por paisagens, cenários naturais, e pelo cotidiano no mundo, é cativado pela simplicidade no olhar. A série apresentada por ele na Hathi, “Skandinaviska” apresenta fotos clicadas na Dinamarca, Noruega e Suécia. Ele destaca, entre outros detalhes, as excêntrica Copenhagen, a pitoresca e chuvosa Bergen, a energizante Honningsvåg – onde se encontra a 15 km Nordkapp, o ponto continental mais ao norte no Círculo Polar Ártico do planeta -, e a encantadora Estocolmo, que contrasta o lado histórico de seu “reino” com o arrojado desenvolvimento tecnológico.

 

 

 

Maíra Allemand

 

Maíra Allemand nasceu em Florianópolis, onde reside atualmente. Conheceu a fotografia na faculdade de desenho industrial em 2000, e graças às influências dentro de casa desde pequena na área de decoração de interiores, fez com que sua verdadeira paixão despontasse através desse segmento. Formada em Fotografia pela UNIVALI em 2013, atualmente a artista segue clicando exclusivamente para uma fábrica de móveis, onde também atua como designer gráfica, profissional de marketing, na curadoria de projetos e na organização de eventos e conceito das novas coleções. Profissionais da área de decoração estão entre os clientes que compram seu trabalho.

 

 

 

Poe

 

O olhar saturado por informações encontra o conforto no horizonte. A linha da vida e os segredos decifrados pelas cartomantes. O caminhar de uma existência visto de fora como uma estrada. Na série “FINE LINE”, do artista visual Poe, a busca pela essência na obra é levada ao rigor máximo do minimalismo. Apenas uma linha corta o espaço pictórico. Ora contra uma cor sólida, ora contra a tela crua. A jornada começa no Leste em direção ao Oeste, sai do excesso indo ao encontro do essencial. BIO Poe Ramon, 40 anos, trabalha no Rio de Janeiro. Formado em Comunicação Social PUC e estudos nos cursos de fundamentação na EAV. Os movimentos de vanguarda do século XX, como o dadaísmo, cubismo, a pop art, expressionismo abstrato são as inspirações dos seus trabalhos.

 

 

A partir 14 de janeiro.

CCBB Contemporâneo, Rio

11/jan

Ricardo Villa é mais um contemplado do Prêmio CCBB Contemporâneo, com a individual “Como atravessar paredes”. Ele ganhou também o Prêmio ArteRef de junho de 2013. O artista paulistano começou como grafiteiro e tem uma relação política com a arquitetura e o solo das cidades. O Prêmio CCBB Contemporâneo apresenta mais um contemplado da série de 10 exposições individuais, inicada em junho de 2015. Agora é a vez do paulistano Ricardo Villa, que reúne obras em diferentes suportes – desenho, colagem, escultura, modelagem 3D, vídeo e uma instalação –, na mostra intitulada “Como atravessar paredes”.

 

Nessa individual, Villa articula questões relacionadas à ocupação do espaço público:

 

– Busco o entendimento das dinâmicas politicas e econômicas que radicam os conflitos urbanos, especialmente no que se refere à noção de público e privado, as relações entre planejamento urbano e operações imobiliárias, a ideologia presente nos projetos arquitetônicos e sobre (talvez) alguma possibilidade de atuação, situa o artista.

 

Ele começou a trabalhar com graffiti e outras formas de intervenção em superfícies públicas. Com a fotografia, desenvolve trabalhos nos lugares-resíduo da cidade, construções degradadas, abandonadas ou em preparação, estabelecendo um jogo associativo entre a ação executada e o espaço (des)ocupado.

 

“Hoje, o tema de sua pesquisa é a cidade e suas problemáticas humanas, econômicas, ambientais, […] que pouco lembram o caos do picho”, observa Daniela Labra, que faz acompanhamento crítico da produção do artista e é autora do texto de apresentação dessa mostra.

 

 

Sobre a exposição

 

A instalação “Cada lugar é, à sua maneira, o mundo”, composta por quatro árvores (ficus), com quatro metros de altura, e gradil de metal, ocupa o centro da sala de exposição.  O título dessa obra é uma citação do geógrafo Milton Santos (1926-2001). “Dividir para governar” é um conjunto de 49 desenhos a nanquim, de 30 x 42cm cada um, com a imagem de uma cerca violada. Como exemplos de esculturas, Villa apresenta uma feita de resíduos de demolição, lapidados em forma de diamante, e um conjunto de martelo e pregos amassados, de porcelana escura, sob o título  “Amor por princípio, ordem por base, progresso por fim”. Vídeos da série “Modelo fractal” mostram animações hipnóticas, como em um caleidoscópio de imagens humanas, animais e de veículos, entre outras obras. Links para os vídeos:

 

 

Sobre o artista

 
Ricardo Villa nasceu em São Paulo, SP, 1982, é bacharel em Arte e Cultura Fotográfica pelo Centro Universitário Senac. Ele começou a expor em coletivas e salões em 2003. Sua primeira individual foi em 2007. Participou de coletivas no Rio de Janeiro, em São Paulo, Belo Horizonte, Uberlândia, Juazeiro do Norete, Fortaleza, Belém do Pará e Phoenix, Arizona, EUA. Em 2011, mostrou seu trabalho na SP Arte, SP Foto e ArtRio. Ele ganhou menção honrosa no Salão de Artes Visuais da Praia Grande 2014, SP, Prêmio ArtRef Junho 2013, destaque no site da Fundação Iberê Camargo como resultado do programa de residência “Bolsa Iberê Camargo” em 2013 e o 1º Prêmio do Programa de Exposições da Galeria do Instituto Porto Pensarte, São Paulo, SP, em 2007. Villa tem obras nas coleções do Museu de Arte do Rio|MAR,  Palácio das Artes, Praia Grande, SP e da Nike S.A.

 

Prêmio CCBB Contemporâneo 2015-2016 

 

O Prêmio CCBB Contemporâneo foi criado em 2014, quando, pela primeira vez, o Banco do Brasil incluiu no edital do Centro Cultural Banco do Brasil um láurea para as artes visuais. Patrocinado pela BB Seguridade, o Prêmio contemplou, nessa primeira edição, 10 projetos de exposição, selecionados entre 1.823 inscritos de todo o país, para ocupar a Sala A do CCBB Rio de Janeiro.

 

O Prêmio é um desdobramento do projeto Sala A Contemporânea, que surgiu de um desejo da instituição em sedimentar a sala  como um espaço para a arte contemporânea brasileira. Idealizado pelo CCBB, em parceria com o produtor Mauro Saraiva, o projeto Sala A Contemporânea realizou 15 individuais de artistas ascendentes de várias regiões do país entre 2010 e 2013.

 

A série de dez individuais inéditas começou com o grupo Chelpa Ferro [Luiz Zerbini, Barrão e Sergio Mekler], seguido das mostras de Fernando Limberger [RS-SP], Vicente de Mello [SP-RJ], Jaime Lauriano [SP] e Carla Chaim [SP]. Depois da de Ricardo Villa, vêm as de Flávia Bertinato [MG-SP], Alan Borges [MG], Ana Hupe [RJ] e Floriano Romano [RJ], até julho de 2016.

 

Entre 2010 e 2013, o projeto que precedeu o Prêmio, realizou na Sala A Contemporânea exposições de Mariana Manhães, Matheus Rocha Pitta, Ana Holck, Tatiana Blass, Thiago Rocha Pitta, Marilá Dardot, José Rufino, do coletivo Opavivará, Gisela Motta&Leandro Lima, Fernando Lindote, da dupla Daniel Acosta e Daniel Murgel, Cinthia Marcelle, e a coletiva, sob curadoria de Clarissa Diniz.

 

 

 

De 12 de janeiro a 15 de fevereiro.

Novo curador MAM-Rio

08/jan

O presidente do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Carlos Alberto Chateaubriand, anuncia que o novo curador de artes visuais será Fernando Cocchiarale. Carioca, nascido em 1951, Fernando Cocchiarale é doutor em Tecnologias da Comunicação e Estética pela Escola de Comunicação da UFRJ (2012), e desde 1978 é professor de Estética do Departamento de Filosofia da PUC-RJ, e professor há 25 anos da Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Sua ligação com o MAM remonta a 1972, quando iniciou sua formação em artes visuais, justamente em um curso no Museu, de que foi curador de artes visuais entre 2001 e 2007.

 
“Fernando Cocchiarale tem o perfil que buscávamos para assumir a curadoria de artes visuais, ocupada por seis anos por Luiz Camillo Osorio, que deixou o cargo para ser diretor do Departamento de Filosofia da PUC-RJ”, afirma o presidente do MAM. “Fernando conhece muito bem o acervo, fez 128 curadorias no período em que esteve no Museu, é querido por artistas e colegas, e foi responsável por aquisições importantes para o MAM, por meio de dois projetos selecionados pelo programa Petrobras Cultural, em 2001 e 2002, em um valor total de um milhão de reais”, acrescenta.

 
Fernando Cocchiarale diz estar muito contente com o convite, e que “o MAM é, há 60 anos, um dos mais importantes museus do país”. Ele conta que chega à instituição com “um novo olhar”. “O Museu não é o mesmo, eu não sou o mesmo, e o Rio não é o mesmo”, afirma.

 
Fernando Cocchiarale é autor de vários livros, como “Abstracionismo Geométrico e Informal: A Vanguarda Brasileira dos Anos 50” (com Anna Bella Geiger), Rio de Janeiro, MEC/ Funarte, 1987; e “Quem Tem medo da Arte Contemporânea”, Recife, Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2006; e publicou cerca de 200 artigos, textos e resenhas em coletâneas, catálogos jornais e revistas de arte do Brasil e do exterior. Foi coordenador de artes visuais da Funarte entre 1990 e 1998; membro da Comissão Curadora do Projeto Rumos Visuais em 1999 e 2000, projeto de que foi curador-coordenador entre 2001 e 2002; curador da Casa de Cultura Laura Alvim, no Rio de Janeiro, em 2011 e 2012, e curador de mostras de arte contemporânea do Santander Cultural, em Recife.

 

Dentre as várias curadorias recentes que assinou, estão as exposições “Filmes de Artista – Brasil 1965/1980” (Oi Futuro, Rio de Janeiro, 2007); “Brasília e o Construtivismo: um encontro adiado” (Centro Cultural Banco do Brasil, Brasília, 2010); “Hélio Oiticica – Museu é o Mundo” (curadoria com César Oiticica Filho; Itaú cultural, São Paulo; Paço Imperial e Casa França Brasil, Rio de Janeiro; Museu Nacional do Conjunto Cultural da República, 2010), “Waldemar Cordeiro: Fantasia Exata” (curadoria com Arlindo Machado, Itaú Cultural, São Paulo, 2013, e Paço Imperial, Rio de Janeiro, 2014).

Goldfarb e Vanda Klabin

06/jan


Surge um novo espaço no CasaShopping, Barra, Rio de Janeiro, RJ, especialmente dedicado às artes, uma galeria dentro do maior polo de decoração da América Latina, e o primeiro convidado a estrear o ambiente é o artista plástico carioca Walter Goldfarb. O local, com 600 metros de área sob a Onda Carioca, receberá uma seleção de obras do artista. A mostra intitulada “Teatros do Corpo na Onda Carioca”, tem curadoria de Vanda Klabin e reúne telas produzidas ao longo dos vinte anos de carreira de Walter Goldfarb.

 

 

As duas décadas de carreira de Walter Goldfarb serão celebradas neste início de ano com duas mostras paralelas. Na primeira, “Walter Goldfarb Retrospectiva 1995 – 2015, Ela não gostava de Monet” que acontece até o final de fevereiro, no Centro Cultural Correios. A segunda, “Teatros do corpo na Onda Carioca”, que inaugura no novo espaço de artes no CasaShopping. É uma seleção de obras em grandes dimensões do artista, que estarão em exposição na nova área de expansão. Em ambas as mostras, a curadoria é de Vanda Klabin e a produção é de Jorge Saldanha.
A mostra do CasaShopping, intitulada “Teatros do Corpo na Onda Carioca”, ocupará 600 metros de área sob a Onda Carioca. Vanda Klabin tira partido da brutalidade do cimento e do concreto do espaço ainda cru, mesclando a estética das paredes levantadas em madeira natural para conceber a “expografia” da individual, buscando o enfrentamento entre a magnitude do espaço arquitetônico e a voltagem “matérica” e simbólica das 18 obras de diferentes fases produzidas por Walter Goldfarb ao longo de seus 20 anos de trabalho.

 

 

Walter Goldfarb é reconhecido por sua linguagem peculiar que mescla dois processos geralmente antagônicos na produção contemporânea: o fazer artesanal, no exercício diário de ateliê, nos moldes dos mestres da Renascença e dos tecelões da Idade Média, e por outro lado o das vanguardas contemporâneas, que enchem as obras de histórias e conceitos. Para além do vasto repertório cultural e imagético do artista, a produção de Goldfarb é marcada pelas telas de grandes dimensões e pelas técnicas incomuns, a maioria delas longe dos pincéis. Suas pinturas são construídas com lavagens e raspagens químicas de centenas de bastões de carvão, tingimentos em tie-dye, diversas técnicas de bordado realizadas pelo próprio artista sobre a lona espessa da pintura com o fio retirado da própria lona, e o uso de esculturas-objetos em pedras e metais preciosos, peles de animais, espelhos, madeiras e sementes dentre outros.

 

 

“É um artista contemporâneo mergulhado no curso da História da Arte no Ocidente e Oriente”, diz Vanda. Para ela, a proposta conceitual da mostra é apresentar a produção de Goldfarb nos últimos 20 anos. “Focamos principalmente em uma seleção de um conjunto significativo de suas telas em diferentes formatos, realizadas nos primeiros cinco anos de trabalho, que registram o desenvolvimento peculiar da fatura de seu exercício de ateliê, explica a curadora, completando com peças chaves dos anos seguintes”.

 

 

Nessa esteira, a obra de Walter Goldfarb é certamente uma composição de pinceladas sem pincéis. Walter se utiliza da ação do fogo, do piche injetado com seringas, alvejamentos em tanques e baldes de tinta produzidos no próprio ateliê. Nos últimos anos, o trabalho do artista se transformou em um campo fértil de pesquisa e inovações de técnicas que resultam numa linguagem visual ímpar. A formação do seu olhar tem referências culturais na pintura, na literatura, na música e na sua forma de estar no mundo. Seu vocabulário expressivo através da matéria da pintura e do que transborda sobre as lonas cruas, ultrapassa as fronteiras da Arte Latino Americana.

 

 

Na individual “Teatros do Corpo na Onda Carioca” no CasaShopping poderão ser contempladas obras pontuais da produção do artista como a pintura da série “Teatros Bíblicos – MILAGRE” de três metros de altura por seis de comprimento, com bordados em cânhamos, piche e objetos presos a lona crua apresentada na primeira mostra de Goldfarb no Centro Cultural Correios em 1995.

 

 

Walter Goldfarb tem obras nos acervos do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (Coleção Gilberto Chateaubriand), Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, Museu de Arte Contemporânea de Niterói (Coleção João Sattamini), MAR – Museu de Arte do Rio. Lá fora, Goldfarb se destaca nas paredes do Museu de Arte Moderna e Contemporânea de Lisboa (Coleção Berardo), Museu de Arte Moderna de Miami (PAMM, Perez Art Miami Museum) e Culturgest (Coleção da Caixa Geral de Depósitos de Portugal) dentre inúmeras instituições e coleções particulares. Em 2010, Goldfarb foi escolhido, pela Academia Latina de Gravação de Hollywood, o Artista Visual do 11º Grammy. Sua obra ilustrou o catálogo dos nomináveis, milhares de ingressos e o pôster oficial do evento no Mandalay Bay em Las Vegas.

 

 

Na curadoria da exposição, Vanda Klabin incluiu ainda pinturas do artista que integraram exposições internacionais como “El Hombre al Desnudo”, uma parceira do Musée D’Orsay de Paris e o Museu Nacional de Arte do México, os sensuais tigres em laca sobre fundo preto expostos na individual de Walter no Museum of Latin American Art, na Califórnia, e exemplares da série “Lisérgica”, que participaram recentemente da abertura do Centro de Cultura Contemporânea de Castelo Branco, Portugal, vindas da Coleção Berardo, de Lisboa.

 

 

 

De 07 de janeiro a 28 de fevereiro.

Abre Alas

28/dez

Tradicional promoção da galeria A Gentil Carioca, Centro, Rio de Janeiro, RJ, a exposição “Abre alas” ganha a edição número 12 e divulga os artistas contemplados. Novos nomes da novíssima geração de arte contemporânea como Alice Ricci, Aline Motta, André Burian, Dani Spadotto, Diogo Miranda, Dudu Quintanilha, Florencia Calazza, Gokula Stopel, Grupo Indigestão, Guilherme Ginane, Janaína Miranda, Jardineiro André Feliciano, Leandro Machado, Luisa Brandelli, Malvina Sammarone, Renato Custodio, Simone Cupello, Tchelo, Victor Matina e Yornel Martinez.

 

Querido Público Gentil,

 

Nós, da comissão de seleção do ABRE ALAS 12 | 2016, agradecemos a todos aqueles que se inscreveram. Foram quinhentas e cinquenta inscrições, número recorde para a exposição. Não nos era permitido selecionar todos, pois o edital contempla apenas vinte propostas e há o limite físico da galeria, tornando a escolha uma tarefa muito difícil.

 

Somos três pessoas com experiências profissionais distintas, que trabalharam juntas para chegar a uma decisão conjunta. Olhamos tudo com atenção e carinho, analisamos a proposta feita para a exposição e as obras do portfólio, e o eventual desequilíbrio entre ambos acarretou que artistas com produção consistente não fossem escolhidos para a mostra.

 

Esta seleção é resultado de um dos recortes possíveis, onde, infelizmente, não conseguimos incluir todos os trabalhos que gostaríamos. Portanto, agradecemos mais uma vez por sua inscrição e desejamos que ninguém sinta que desconsideramos o material enviado.

 

Foi um prazer entrar em contato com a atual produção de diversos artistas do Brasil e de outros países, e esperamos revê-los em breve.

 

 

Adriana Varejão
André Sheik
Paula Borghi

 

 

 

Abertura : 29 de janeiro de 2016.

Pedras de Paquetá

18/dez

O artista José Monleón, está radicado no Brasil desde o ano de 1956. Natural de Valência, Espanha, autodidata, dedicou incialmente muito tempo de sua vida profissional ao vitrinismo, uma atividade pioneira desempenhada com grande empenho.  A partir dos anos 1960 descobre os pincéis e passa a expor no Rio de Janeiro com alguma regularidade. Atualmente sua mais recente produção dos últimos dois anos pode ser apreciada através da exposição “As pedras de Paquetá – Paisagens”, no Quintal da Regina, na original ilha de Paquetá, Rio de Janeiro, RJ.

 

 
A palavra do artista

 

“Ao chegar a Ilha de Paquetá, observamos pedras arredondadas de diversos tamanhos que circundam, praticamente, todo seu litoral. Qual o significado desta aglomeração de pedras? Pode, simplesmente, nada significar, mas a imaginação não deixa de atribuir significados a esta bela manifestação da natureza. Serão guardiões contra a violência que tanto assombra os habitantes do Rio? Seja como for, elas guardam um tipo de vida tranquila e bucólica, como não existe mais…”

 

 

Até 10 de janeiro de 2016.