Singularidades/ Anotações

23/out

Depois de apoiar a produção de mais de mil artistas e pesquisadores de todas as regiões do Brasil, o Itaú Cultural, por meio do Rumos Itaú Cultural, plataforma de fomento do Itaú Cultural à produção artística brasileira, faz uma homenagem aos selecionados desde o primeiro edital até a 16ª edição, quando o programa passou por uma reformulação. O resultado é a mostra “Singularidades/Anotações: Rumos Artes Visuais 1998-2013”, em cartaz no Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ.

 

Com equipe curatorial formada por Aracy Amaral, Regina Silveira e Paulo Miyada, a exposição, apresentada ano passado em São Paulo, reúne cerca de 50 trabalhos de 35 artistas contemplados de 1998 a 2013 nos editais de Artes Visuais, Arte e Tecnologia, Transmídia e Novas Mídias. O público poderá conferir um conjunto bastante heterogêneo de obras, parte delas inédita, entre pinturas, gravuras, fotografias, instalações, vídeos, performances e projetos interativos. “É uma mostra muito rica em termos de linguagens e abordagens, dispositivos e recursos”, explica Regina Silveira. A expografia é do escritório Álvaro Razuk Arquitetura. Entre os artistas selecionados estão representantes de todas as regiões do país. “Focamos naqueles que construíram um lugar próprio para a sua obra. A arte contemporânea pode qualquer coisa, é verossímil que tenha qualquer formato. É a trajetória de cada artista que vai delimitar o que o trabalho dele pode ser”, diz Paulo Miyada.

 

A mostra conta com nomes de carreira internacional já consolidada, como a paraense Berna Reale, que representa o Brasil na Bienal de Veneza deste ano. A artista apresenta a série “MMXIII”, produzida durante as manifestações de rua de 2013. São cinco fotografias sobre
alumínio em que ela aparece vestida com a farda da Tropa de Choque e elementos do cotidiano. O manauaense Rodrigo Braga, que já expôs em lugares como a Maison Européenne de La Photography, em Paris, mostra fotos da natureza densa do litoral de Pernambuco e do Rio de Janeiro. Já o artista paulistano Laerte Ramos apresenta o trabalho “Acesso Negado & Acesso Negrado”, série de 46 esculturas de cerâmica (23 em branco e 23 em negro).

 

Caio Reisewitz, de São Paulo, utiliza fotos que mesclam realidade com subjetividade na obra Autoridade. A paulistana Raquel Kogan apresenta “O.lhar”, de 2012, instalação interativa com três câmeras em forma de monóculo dispostas em pedestais pretos de diferentes alturas. O mineiro João Castilho aposta na videoinstalação “Emboscada”. Na obra, quatro TVs passam imagens de estradas de terra bucólicas no sertão de Minas, mas a quietude e o silêncio são quebrados por tiros e explosões. O trabalho cria a ilusão de um tiroteio alternando momentos de calma e tensão.

 

Graças ao Rumos Itaú Cultural, inúmeros artistas conseguiram divulgar seus trabalhos nacionalmente. “A importância do programa e sua vigência por tantos anos reside sobretudo na acolhida desse projeto por artistas de regiões distantes de grandes centros do Brasil. A aceitação de seus trabalhos traz a possibilidade de sua visibilidade em outras regiões” diz Aracy Amaral.

 

Artistas participantes: Alexandre Vogler, André Komatsu, Bárbara Wagner, Berna Reale, Cadu, Caio Reisewitz, Carla Zaccagnini, Cinthia Marcelle, Ducha, Fabrício Lopez, Gilbertto Prado, Gisela Motta e Leandro Lima, Grupo EmpreZa, João Castilho, Katia Maciel, Laerte Ramos, Lucas Bambozzi, Luiz Roque, Marcellvs L., Marcelo Moscheta, Marcius Galan, Marcone Moreira, Nicolás Robbio, Paulo Vivacqua, Raquel Kogan, Raquel Stolf, Rejane Cantoni e Leonardo Crescenti, Rodrigo Braga, Rodrigo Paglieri, Rommulo Conceição, Sara Ramo, Sofia Borges, Tatiana Blass, Thiago Martins de Melo e Vitor Cesar.

 

 

Até 29 de novembro.

Formas incandescentes

O artista Mauricio Bentes foi saudade como um dos grandes nomes da escultura brasileira da década de 1980 até o ano 2000. Com curadoria de Marcus Lontra, sua obra ganha uma mostra panorâmica no Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ. A mostra “Mauricio Bentes: formas incandescentes”, apresenta 35 obras que buscam sintetizar a trajetória curta – porém dinâmica e espetacular – do artista falecido precocemente em 2003, aos 45 anos.

 

Discípulo de Celeida Tostes na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio e de Haroldo Barroso nas Oficinas do Museu do Ingá, em Niterói, Bentes tem uma produção caracterizada pela criação de artefatos de extrema potência artística, que ultrapassam os limites da escultura e envolve outros sentidos além da visão. Sua obra tridimensional transita por esculturas, instalações, videoinstalações, monumentos públicos, intervenções, cenografias para cinema, espetáculos teatrais e balés. Inicialmente em cerâmica e depois em ferro e aço, suas obras caracterizam-se por uma ação incisiva do fogo que molda e transforma os materiais. Utilizando a solda, o artista produziu uma “metalurgia poética” onde as formas surgem “em pleno estado de suspensão”. A introdução do néon e de outros recursos de luminosidade, sugerem ora elementos vindos do interior da terra ora estranhos e belos meteoritos de espaços distantes do universo. Ao mesmo tempo, o artista realizou trabalhos de grandes dimensões, produzindo elementos cenográficos e de integração arquitetônica, como no caso das criações para os prédios públicos da cidade de Palmas, no Tocantins. Em 1989, assumiu a direção da Oficina de Escultura do Ingá, onde permaneceu até 2002.

 

 

O texto do curador

Maurício Bentes Formas Incandescentes

 
As obras que integram a exposição “formas incandescentes” buscam sintetizar a trajetória curta – porém dinâmica e espetacular – de Maurício Bentes, caracterizada pela criação de artefatos escultóricos de extrema potência artística. Coerente com os ideais de sua geração, o artista entendia as práticas de seu ofício como instrumento fundamental em seu processo criativo. Ele era o homem do projeto, o arquiteto, mas era também o operário, o construtor. A escultura surge pelo domínio do fogo; primeiro pelo cozimento do barro e depois pela fundição, pela forja e pelas soldas dos metais. Aluno de Celeida Tostes e Haroldo Barroso, com a primeira aprendeu a ver a arte como processo, como gestação, compreendendo a arte como organismo vivo e dinâmico, e, com o segundo, a fundamental importância do método de construção, da clareza formal e da objetiva definição de seus propósitos. Maurício Bentes é o artista dos contrastes e nele habita o ímpeto da dualidade. A obra de arte nasce do embate de ações opostas: a organicidade e a construção, o opaco e a luminosidade, a tradição e o novo. O ferro é noite, silêncio e mistério; a solda sangra, é sede, cera e suor, e a luz é a imanência do ser, o útero encantado da verdade. Seus trabalhos dialogam com os móbiles de Calder, com os cinéticos de Palatnik, com a luminosa pop art de Dan Flavin, com a modulação construtiva de Franz Weissmann. Dessa diversa e variada fonte de referências surge uma obra vibrante e apaixonada, um espetáculo visual de grande impacto, luzes da escuridão. Essa é a estranha natureza que povoa o universo de Maurício Bentes. São pedras, rochas, cristais, superfícies e interiores, “meninos que comem luz”. A reunião de um conjunto expressivo de obras do artista no mesmo espaço físico permite aflorar a integridade e a coerência de suas ações e reafirma a importância da arte como estratégia de sobrevivência do espírito libertário e criativo do homem sobre a Terra. Marcus de Lontra Costa, curador.

 

 

Até 29 de novembro.

Not Vital no Paço Imperial

O Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a obra do célebre escultor suíço Not Vital na primeira exposição institucional do artista na América do Sul. Aos mais de 60 anos de idade e com uma carreira que perpassa quatro décadas, Vital surge como pensador singular e original, cuja prática artística envolve filosofias sobre habitação e vida material. Acostumado a um estilo de vida nômade, Not Vital é um incansável viajante e explorador curioso. Sua obra busca inspiração e admiração em muitos lugares distintos e díspares que, ao longo do tempo, chamou de lar. Criado no pequeno vilarejo de Sent, situado na região elevada e montanhosa do vale Engadin, na Suíça, Vital, desde então, viajou ao redor do mundo. Primeiro fixou residência em Nova York, durante a década de 1980, e, depois, internacionalmente, entre continentes, montou estúdios e construiu esculturas arquitetônicas como habitações transitórias em centros urbanos e vastas paisagens desde o Cairo, Patagônia, no Chile, até Agadez, em Níger, Pequim, na China, Flores, ilha da Indonésia, e no Rio de Janeiro. A mostra foiorganizada por Olivier Renaud-Clément.

 

Envolvendo-se com as impressões culturais locais e assimilando-as em sua prática artística mais ampla, Vital traz obras nesta exposição que exploram o relacionamento entre materialidade, forma e significado; elas apresentam temas familiares que o artista concebe de modos totalmente inesperados. “HEADs” de 2013-2015 é um novo conjunto de obras que traz outra concepção do retrato e atravessa o representacional com o abstrato. Vital buscou inspiração na forma do Buda, que encontrou durante uma viagem ao Laos, em 2013. Transformando a intensa espiritualidade e incrível beleza do ídolo em sua linguagem escultural especial, Vital reduz a representação figurativa a contornos sutis que negam qualquer conceito de expressão individualizada. Desse modo, tanto separadas como coletivamente, as esculturas de Vital evocam as formas mais antigas da arte pré-histórica. Contudo, confeccionada em aço monocromático altamente refletor, sua obra pertence enfaticamente aos avanços tecnológicos da sociedade atual. Desde 2008, quando instalou seu estúdio no distrito artístico de Caochangdi, em Pequim, Not Vital vem colaborando com artesãos chineses especializados para produzir esculturas em aço inoxidável. Para a série “HEADs”, a técnica de revestimento por deposição física de vapor foi empregada de forma a criar superfícies refletoras muito polidas e luminosas. Dominando a presença física dos próprios espaços que habitam, as silhuetas ameaçadoras das esculturas de Vital mobilizam o espectador em um remoinho de reflexõesfluidas.

 

 

Numa instalação que ocupa uma parede inteira de uma galeria, Not Vital apresenta “750 Knives”, obra de 2004. Para esta obra, o artista fincou 750 lâminas de tamanhos variados na parede. Do outro lado, as pontas afiadas projetam-se para fora. Neste trabalho de minimalismo imbuído de poesia, Vital cria um relacionamento entre a obra de arte e o espectador que é ao mesmo tempo ameaçador e instigante. Embora desconcertante em sua devastadora violência, a parede possui uma energia tranquila e poderosa, oferecendo uma imagem de beleza surreal. Incitando a forma escultural da obra com uma surpreendente estética de pintura, as sombras criam desenhos em fluxo, um contrapeso para os óbvios atos de provocação.

 

Utilizando novamente a parede como tela, o artista cria uma obra site-specific para o Paço Imperial que traz uma grande semelhança com os vestígios explosivos de uma guerra de bolas de neve. Em “Snowball Wall”, obra de 2015, Vital emprega a arte performática, jogando contra a parede “bolas de neve” de gesso, cujas formas se rompem com o impacto. O artista usou gesso durante toda a sua carreira e explicou muitas vezes que a atração pelo material origina-se do fato que, por um curto período, o gesso toma a consistência da neve. Transformando e elevando formas corriqueiras em criações extraordinárias, ricamente imbuídas de sentido e significado, Not Vital combina uma diversidade de impressões duradouras e experiências pessoais de terras estrangeiras e populações locais que coletou ao longo de muitos anos. A gênese do trabalho de Vital explora com intensidade seu estilo de vida nômade, mas é igualmente influenciada por seu relacionamento, na infância, com a natureza e sua casa nos Alpes suíços. Essa tensão comanda relacionamentos líricos e contrastantes, que exploram temas de cultura e natureza, abstração e mutação, artifício humano e espécie animal, contextualizando também a beleza misteriosa e o jogo conceitual tão profundamente enraizados na essência da obra de Not Vital. Junto com a exposição no Paço Imperial, Not Vital está construindo uma “House to Watch the Sunset”, no Ji-Paraná, perto de Manaus.

 

 

Sobre o artista

 

 
Nascido em 1948 em Sent, na Suíça, Not Vital estudou em Paris e Roma antes de se mudar para Nova York em 1974. Escultor, Vital é também pintor, construtor de pontes, casas e torres, nômade e eterno explorador. Atualmente, mora e trabalha entre o Rio de Janeiro, Pequim e Sent. Not Vital realizou mostras institucionais individuais em: Museo d’Arte di Mendrisio, Mendrisio, Suíça (2015); Musées d’Art et d’Histoire, Genebra, Suíça (2014); Isola di San Giorgio Maggiore, Veneza, Itália (2013); Ullens Centre for Contemporary Art, Pequim, China (2011); Museo Cantonale d’Arte di Lugano, Suíça (2007); The Arts Club of Chicago, EUA (2006) e Kunsthalle Bielefeld, Alemanha (2005). Em 2001, participou da 49º Bienal de Veneza (com curadoria de Harald Szeeman). Sua obra compõe acervos públicos ao redor do mundo, tais como: Carnegie Institute, Pittsburg, EUA; Dallas Museum of Art, Dallas, EUA; Solomon R. Guggenheim Museum, Nova York, EUA; Kunstmuseum Bern, Berna, Suíça; Kunsthalle Bielefeld, Bielefeld, Alemanha; Kunstmuseum Luzern, Lucerna, Suíça; Musées d’Art et d’Histoire, Genebra, Suíça; Museum of Fine Arts, Boston, EUA; Museum der Moderne, Salzburgo, Áustria; Philadelphia Museum, Filadélfia, EUA; The Museum of Modern Art, Nova York, EUA; The Ashmolean Museum, Oxford, Reino Unido; The Brooklyn Museum, Brooklyn, EUA; Toyota Municipal Museum of Art, Aichi, Japão.

 

 

Até 29 de novembro.

Exposição de Cinthia Marcelle

22/out

A terceira mostra individual de Cinthia Marcelle, “em-entre-para-perante”, próximo cartaz da galeria Silvia Cintra + Box 4, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, abriga uma instalação com pinturas e objetos.

 

Nas paredes, uma série de tecidos listrados, cujas linhas pretas foram pintadas de branco, ficam pendurados bem ao alto, remetendo à imagem de um pátio central de um presídio.

 

No chão, um conjunto de objetos encobertos por cadarço negro, instrumentos que sugerem, em sua maioria, ferramentas utilizadas em situações de fuga. O público caminha em um estreito corredor, em um jogo de oposições entre o que está em cima e o que está embaixo, o que está descoberto e encoberto, solto e atado.

 

 

O conceito da artista

 

Interessa à artista pensar os conceitos de cárcere e fuga, investigando o espaço simbólico (e histórico) dos presídios brasileiros de um ponto de vista de quem vê de fora, de quem experimenta os confinamentos (econômico-sociais e psicológicos) do fora, os limites do dia-a-dia, projetando, ao mesmo tempo, de dentro de seu exercício estético, uma linha de fuga.

 

 

Sobre a artista

 

Cinthia Marcelle nasceu em 1974, Belo Horizonte, Brasil. Graduada em Belas Artes na Universidade Federal de Minas Gerais (1997-1999). Seu trabalho tem circulado em significantes exposições incluindo Bienal de Havana, Cuba (2006), Bienal de Lyon, França (2007), Panorama da Arte Brasileira, São Paulo e Madri (2007 – 2008), Bienal de São Paulo, Brasil (2010), No Lone Zone, Tate Modern, Londres (2012), Triennial of New Museum, Nova York (2012), Sala de Arte Publico Siqueiros, Cidade do México (2012), Dundee Contemporary Art, Escócia (2012), Bienal do Mercosul, Porto Alegre (2013), Bienal de Istambul, Turquia (2013), Bienal de Sharjah, Emirados Árabes (2013 e 2015), Secession, Viena (2014). Vencedora de prêmios como o International Prize for Performance, Trento, Italy (2006), Annual TrAIN Artist in Residency award at Gasworks, Londres (2009) e The Future Generation Art Prize, Kiev (2010). Vive e trabalha em São Paulo.

 

 

Até 28 de novembro.

Diogo Reis na Q.Guai

20/out

Figura querida e lançador de tendências na noite carioca, o produtor cultural Diogo Reis inaugura na Q.Guai, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, sua primeira exposição individual. O artista exibirá série inédita de desenhos. Nesta primeira investida como artista plástico, – ele é sócio, criador e DJ do selo MOO  – traz referências simbólicas extraídas das Fábulas de Esopo — onde animais, deuses, homens e coisas inanimadas dialogam entre si —, passando por manuais de Tarô e Dicionários de Gírias Urbanas. São registros de situações esdrúxulas e surrealistas: personagens que surgem de dentro uns dos outros, objetos banais que viram símbolos fálicos ou derretem como nas pinturas de Dalí, uma de suas influências.

 

 
De 21 de outubro a 12 de novembro.

Herbert Baglione no Rio

19/out

Expondo pela primeira vez no Rio de Janeiro, Herbert Baglione, realiza seu debut na cena carioca através da Galeria Movimento, Copacabana. A exposição denomina-se “Rito”, e traz obras inéditas que refletem a sua fase transitória desde que começou, no ano de 1999, a pintar as famosas sombras, considerada uma fase negra e pesada no início de sua carreira. São nove telas e dez fotografias que transportam as mais conflitantes emoções, – que ficam claras nas cores e traços de seus trabalhos -, mas desta vez, coloridos e plenos de luz.

 

Nos últimos três anos e meio Herbert Baglione fez exposições individuais em lugares muito especiais e que concentram muita energia, como Colômbia e México. O artista, sensível, e em busca de respostas profundas, viu coisas que não mais revisita em seus trabalhos: a angústia, o lado negro, o lado que provocava discussões relativas à religiosidade, o sexo e a violência de uma forma geral. O artista encontra-se em outro momento e no processo atual a sensibilidade é notória por isso foca e traz luz e alegria nos trabalhos, como se fosse um processo de limpeza em obras com leveza e sentido mais abstratizante. Nos trabalhos anteriores, destacam-se a série “1000 Shadows”. A primeira “sombra” foi pintada em 1999 no Brasil e, a partir, daí o artista apaixonado – e estudioso autoditada – pela Arquitetura e Fotografia, começou a utilizar a interferência urbana. Ele está entre os poucos que usam calçadas, telhados e até mesmo os gramados como tela. Já o “EQM (Estado quase morto)”, também importante, nada mais é do que a visão que se tem entre vida e morte. Um trabalho muito mais espiritual.

 

Sobre o artista

 

Movido por uma curiosidade e desejo de provocação ímpar, com 20 anos de carreira, Herbert Baglione, começou a desenhar aos três anos de idade. Seu estilo distinto e a complexidade dos temas explorados, visíveis em suas ilustrações, pinturas, fotografias e intervenções, fazem de Baglione um nome respeitado no cenário da arte contemporânea.  O artista já foi publicado inúmeras vezes, inclusive na capa, da Revista Juxtapoz, uma das principais no segmento de arte e cultura urbana no mundo. Além disso, seu trabalho também está presente no livro premiado de um estudioso londrino, Rafael Schacter, o The World Atlas of Street Art and Graffitti, e uma de suas pinturas (Um minuto de silêncio) se mantém viva em São Paulo, sendo a única da Binneale (evento que trouxe artistas para fazerem intervenções na cidade) que não foi apagada pela prefeitura. Seus trabalhos estão em importantes coleções como no Museu de Arte Contemporânea de Bogotá, Eugênio Sidoli (Itália), Rik Reinking (Alemanha), Fernando Abdalla, Joshua Liner (NY), Steve Lazarides (Inglaterra), entre outras. Herbert, que já participou de exposições individuais no México, Colômbia, França, Espanha, EUA, Itália, Inglaterra, Canadá, Tunísia, Dinamarca, SP e Porto Alegre. Baglione foi convidado para a Coletiva Street Art – Um Panorama Urbano, que aconteceu ano passado, na Caixa Cultural, onde ao lado de suas obras estavam trabalhos de Banksy.

 

Os principais contatos com a pintura, o desenho e a fotografia, se deram na década de 80, quando Herbert ainda era uma criança, fazendo intervenções nas fotos de família, desenhando amigos da escola e depois reproduzindo logotipos de bandas de Rock.

 

Fã assumido de The Jam, Justin Sullivan e principalmente do folk cinematográfico de Tom Waits, o trabalho de Herbert tem forte influência musical. No início dos anos 90, por conta da necessidade de maior espaço para suas criações e experimentações, começou a usar a rua como seu atelier e teve como escola a contracultura, consumia quadrinhos e tocava bateria em banda punk. Esta bagagem lhe possibilitou conhecer, reconhecer e interceder no espaço urbano de forma a extrair o melhor da arquitetura, pintura, instalações e fotografia, linguagem que o artista incorpora com sabedoria pois leva o expectador a um outro olhar sobre a produção artística. Seus trabalhos extraem do universo urbano a fluidez e liberdades presentes da prática da street art e combina forte carga conceitual, que é incorporada às suas referências de movimentos artísticos, da Art Noveau e Minimalismo ao Expressionismo abstrato, e Pop Art. Levanta questões pessoais à discussões sobre o papel do homem na sociedade, armado pela ideia do consumismo imediato, tecnologia e tabus. Em 2001 e 2002 aconteceram as exposições Urban Discipline em Hamburgo – Alemanha, com alguns dos principais artistas do mundo naquele momento. Representando o Brasil tinha o grupo formado por Herbert, OsGemeos , Vitché e Nina. Os trabalhos de Banksy também estavam na mostra. Em 2001 Baglione foi convidado para uma individual nos EUA e a carreira internacional segue até hoje.

 

 

De 22 de outubro a 19 de novembro.

Rogerio Reis na Marsiaj Tempo

15/out

A exposição individual de Rogerio Reis é o próximo cartaz na Marsiaj Tempo galeria, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ. Serão apresentados dois trabalhos distintos mas que de uma forma irônica se relacionam intimamente com o Rio de Janeiro de hoje. Na galeria será exibido o trabalho “Microondas”, no qual o fotógrafo faz um relato de ações de violência que ele documentou.

 

No Anexo, serão mostradas as fotografias da série “Ninguém é de Ninguém”. Estes dois trabalhos mostram uma cidade partida, dividida entre a violência dos arrastões e a beleza estonteante de suas paisagens. Como já cantou Fernanda de Abreu: “Rio 40 graus, cidade maravilha, purgatório da beleza e do caos”, nestes 10 anos que separam um trabalho do outro, de certa forma temos dois diagnósticos temporais da cidade, e tanto mudou… e tanto ficou na mesma..

 

 

“MICROONDAS, 2004”

 

Microondas é resultado da ressaca existencial, vivida por Rogerio Reis, devido a uma série de fatos que o aproximaram da barbárie: Tim Lopes foi assassinado, Marcelo Yuka virou cadeirante, e o fotógrafo, acompanhado de sua mulher, quase morreu num assalto seguido de disparo dentro do carro. Esses fatos o levaram a frequentar grupos de ação e reflexão sobre questões sociais como o Coletivo X com participação de ativistas e artistas como Yuka, Paulo Lins, alguns setores da polícia civil e moradores de favela .

 

Esse recesso criativo empurrou Rogerio para algumas rupturas formais como o desinteresse por quadros na parede , descoberta do chão como espaço expositivo, fotos documentais redondas, não mais quadradas e retangulares . “Microondas” são objetos em backligth com fotografias feitas em dois tempos: as coloridas são resultado de uma ação protagonizada por um amigo, vítima da violência da ditadura militar que, a pedido de Rogerio, incendiou pneus no alto de um morro. Já as fotos em preto e branco são testemunhais, cenas reais da experiência como repórter documentarista.

 

 

NINGUÉM É DE NINGUÉM, 2011- 2014

 

Uma crônica de hábitos e costumes de inspiração sensual e bem humorada. Aqui Rogerio encarna o personagem que criou, “Paparazi dos Anônimos” , que busca a liberdade para fotografar sem autorizações prévias e sem burocracia . Essa experiência gerou a “Cartilha de como tirar fotos espontâneas nas praias do Rio” onde inclui a frase de resistência que sustenta as suas ações e que vem do Banksy (artista de rua inglês): “ É sempre mais fácil pedir perdão do que permissão” . As tarjas utilizadas pela imprensa para proteger a identidade de menores e suspeitos remetem ao humor provocante do americano John Baldessari e dos primeiros mascaramentos com círculos flutuantes do húngaro Lászlo Moholy Nagy ( The Olly and Dolly Sisters, 1925). Um indivíduo com venda nos olhos pode estar protegido mas perde o poder de revidar o olhar, de produzir semelhanças e correspondências. Podemos nos divertir com uma sociedade que criou a propriedade da imagem no espaço público. Na ocasião, será lançado o livro “Ninguém é de Ninguém” , Edições de Janeiro e Olhavê.

 

 

De 17 de outubro a 14 de novembro.

O universo de Duval

14/out

A exposição “WASTHA – Universo imaginário de Fernando Duval” entra em cartaz – com curadoria geral de Antonio Torres Xavier – na Sala Multiuso do Marina Barra Clube, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, RJ. O artista que tem vida profissional com mais de cincoenta anos de atividades contínuas dentro e fora do país, é criador de incontáveis personagens que habitam um notável mundo paralelo contado através de inspiradas figuras que servem de imediata alusão à realidade cotidiana.

 

 

Sobre o artista

 

Nascido em 1937, em Pelotas, RS, Fernando Duval estudou inicialmente na Escola de Belas Artes de Pelotas. Aos 19 anos, transferiu-se para o Rio de Janeiro onde ingressou na turma de alunos comandados pelo pintor Ivan Serpa no MAM-Rio que ainda encontrava-se em construção e travou conhecimento com Aluísio Carvão, Fayga Ostrower e Edith Behring. Quando as vanguardas abstratas tomaram a cena artística brasileira, dividindo cariocas e paulistas, geométricos e informais, Duval influenciou-se pelas diferentes orientações, refletidas em uma fase marcada pelo uso do preto e branco. A seguir, passou a trabalhar com cores primárias em trabalhos mais figurativos e logo começou desenvolver seu universo fantástico. Primeiramente, em livros de edição única que mostrava apenas aos amigos. Após ter participado da 9ª Bienal do Mercosul em 2013, o artista lança um livro ambientado em seu universo, o Wasthavastahunn no qual narra (e ilustra) a história do Bivar, um animal que nunca foi visto.

 

 

De 18 a 25 de outubro.

Wanda Pimentel na Frieze Masters

09/out

A artista brasileira Wanda Pimentel é um dos destaques da Frieze Masters, feira que reúne mestres da história da arte contemporânea, que acontece de 14 a 18 de outubro, no Regent’s Park, em Londres. Segundo o site da feira, Wanda Pimentel possui uma importante e reconhecida trajetória artística de quase 50 anos. Ela apresenta na feira  de Londres nove pinturas produzidas nos anos 1960.

 

No Brasil, o trabalho da artista pode ser visto no Rio de Janeiro, na Anita Schwartz Galeria, na Gávea, onde ela apresenta, até o dia 17 de outubro, a exposição

 

“Geometria/Flor”, ocupando todo o espaço expositivo da galeria com pinturas, desenhos e esculturas inéditas. Os trabalhos da exposição têm a ver com um processo iniciado pelo artista em 2011, de rever o passado.

 

“Esses trabalhos tem um tom dramático, têm a ver com as minhas memórias, mas, ao mesmo tempo, é uma saudação à vida, rompendo com tudo que já fiz. Vou dissecando lembranças e construindo novas memórias”, afirma a artista.

Elifas Andreato nos Correios/Rio

06/out

A exposição Elifas Andreato, 50 Anos está em cartaz no Centro Cultural Correios, Centro, Rio de Janeiro, RJ, reunindo alguns dos principais trabalhos elaborados pelo artista paranaense ao longo de cinco décadas de carreira. A Mostra traz obras que marcaram a fase áurea da música popular brasileira, a luta contra a ditadura e o teatro brasileiro. Depois, segue para o Museu dos Correios, em Brasília, e para o Centro Cultural Correios, em São Paulo.

 

A mostra tem início com uma linha do tempo narrando desde os primeiros trabalhos, realizados ainda nos tempos de operário, até as mais recentes produções, passando por alguns dos principais capítulos da história da música, do teatro e da política no Brasil. No campo musical, trabalhos feitos para alguns dos mais importantes nomes da MPB, como Elis Regina, Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Tom Zé, Clara Nunes, Clementina de Jesus, Chico Buarque, Adoniran Barbosa, Carmen Miranda e Vinicius de Moraes, entre outros.

 

Em estações multimídia, os visitantes podem selecionar e assistir a depoimentos do artista sobre a realização de alguns de seus principais trabalhos para a música: capas de disco, coleções de fascículos, projetos culturais. Os visitantes podem ainda sentar-se em torno de estações digitais para ouvir discos que Elifas embalou, a partir de um aplicativo que reproduz as velhas vitrolas, seus característicos chiados e sua forma de operação. A obra do artista voltada para o universo infantil também está representada, com destaque para uma reprodução em grande escala da arca e dos bichinhos que compõem a capa do inesquecível LP “Arca de Noé”, de Vinicius de Moraes. Crianças e adultos podem se colocar dentro da capa, em uma proposta expográfica que desdobra os planos da obra, quase como em um livro pop-up.

 

A mesma experiência, de adentrar os trabalhos de Elifas, os visitantes têm através dos discos como Canto das Lavadeiras, de Martinho da Vila, e de cartazes para Elis Regina e para peça Rezas de Sol para a Missa do Vaqueiro. A contribuição para o teatro ganha espaço também com a reprodução de cartazes como A Morte de Um Caixeiro Viajante, de Arthur Miller, com direção de Flávio Rangel; Mortos Sem Sepultura, de Jean-Paul Sartre, dirigida por Fernando Peixoto; e Murro em Ponta de Faca, de Augusto Boal, com direção de Paulo José.

 

A atuação política, sobretudo durante o regime militar, tem espaço com a reprodução de alguns dos trabalhos que ilustraram a resistência à ditadura no período, como capas para publicações alternativas que fundou e dirigiu: os jornais Opinião e Movimento e a revista Argumento. Como denúncias dos crimes cometidos pelos militares estão 25 de Outubro (1981), que escancarou em tela o assassinato do jornalista Vladimir Herzog nas instalações do DOI-CODI, e o majestoso painel A Verdade Ainda que Tardia (2012), encomendado pela Comissão da Verdade da Câmara. A exposição traz ainda um raro exemplar do Livro Negro da Ditadura Militar, com capa assinada pelo artista, além de outras reproduções e objetos valiosos que ajudam a recontar a trajetória de Elifas Andreato e seu compromisso com a cultura e a história do País.

 

 

Sobre o artista

 

Elifas Andreato nasceu no Paraná em 1946. O marco inicial da sua carreira é 1965, quando abandonou o trabalho de aprendiz de torneiro mecânico na fábrica da Fiat Lux, em São Paulo, para dar os primeiros passos em sua trajetória artística profissional. Nos anos 1960, na Editora Abril, participou da equipe de criação de inúmeras revistas, fascículos e coleções, como Placar, Veja e História da Música Popular Brasileira. Durante o regime militar, fundou órgãos da imprensa alternativa como Opinião, Argumento e Movimento. Iniciou também o trabalho como programador visual e cenógrafo para peças teatrais memoráveis. Ainda nesse período, destacou-se como criador de capas de discos para os mais importantes nomes da MPB. Ao longo da carreira, calcula que tenha produzido em torno de 400 trabalhos – capas antológicas de praticamente todos os grandes nomes da nossa música. A partir dos anos 1990, seu trabalho voltou-se para a área editorial, tornando-se responsável pelas históricas coleções MPB Compositores e História do Samba, ambas lançadas pela Editora Globo, e pelo Almanaque Brasil, publicação mensal que circula nos vôos da TAM. Em 2011, pelo conjunto da obra, recebeu o Prêmio Especial Vladimir Herzog, concedido a pessoas que se destacam na defesa de valores éticos e democráticos e na luta pelos direitos humanos. O reconhecimento, assim como a comenda da Ordem do Mérito Cultural, se junta a diversos prêmios que recebeu ao longo da carreira pela contribuição ao País, seja no campo artístico, político ou social.

 

 

Até 29 de novembro.