Prêmio CCBB Contemporâneo

02/out

O artista paulistano Jaime Lauriano, 30 anos, intitula sua primeira individual no Rio de Janeiro com uma das frases atribuídas a Pero Vaz de Caminha, escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral, na carta-relato ao rei Dom Manuel, sobre a chegada dos portugueses ao Brasil: “Nesta terra, em se plantando, tudo dá”. A exposição entra em cartaz no CCBB Rio, Centro, Rio de Janeiro, RJ. Um dos dez contemplados pelo Prêmio CCBB Contemporâneo, o projeto de Jaime Lauriano para esta mostra se fundamenta na pesquisa do artista sobre a formação do Estado brasileiro, a partir das violências que este impõe sobre o corpo da sociedade civil, com foco na disputa de terras, entre a iniciativa privada e o Estado e a população. Ele leva em conta não só a violência física, mas também a simbólica, a do discurso, e aí, inclui a mídia.

 

O artista avalia que a arte contemporânea é uma ferramenta de produção de conteúdo e de crítica, se estende para as áreas de História, Antropologia e Sociologia e potencializa essas relações interdisciplinares para apresentar um olhar artístico contemporâneo sobre o processo de formação do Brasil como nação.

 

– A disputa de terras foi gestada na primeira invasão dos portugueses e segue até nossos dias. Em momentos de crise intensa, instala-se uma situação de exceção, como no Brasil Colônia, no Brasil Império, na ditadura militar e na ascensão conservadora do Congresso Nacional hoje, argumenta Lauriano.

 

O trabalho que intitula a exposição é um objeto, no qual uma muda de pau-brasil cresce dentro de uma estufa, até que suas raízes e galhos destruam a estrutura que a contém. Ao romper seu suporte a planta está fadada à  destruição, condicionando, assim, sua existência ao aprisionamento.

 

– A violência imposta pela arquitetura da estufa alude à violência impingida aos povos nativos da Terra Brasilis durante o processo de colonização, compara o artista.

 

 

“Nesta terra, em se plantando, tudo dá”

 

Além da estufa com pau-brasil plantado, a mostra apresenta ainda os seguintes trabalhos inéditos:

 

– “Calimba”: manchetes de jornal pirografadas e impressas a laser sobre placas de madeira. Todas se referem a pessoas amarradas e espancadas na rua, entre 2013 e 2015. Calimba é o instrumento usado para marcar os escravos com o brasão de seu dono. A palavra só é encontrada em dicionários da diáspora negra;

 

– “Suplício nº3”: o artista pesquisou em jornais de todo o país os elementos mais usados em ataques a cidadãos por preconceito religioso, principalmente contra as práticas afro-brasileiras – pedras portuguesas, vidros, entulho de construção e peças de madeira, e os reuniu em uma vitrine de museu;

 

– “Quem não reagiu está vivo” é um conjunto de 11 textos curtos ilustrados, impressos sobre papel, sobre disputa de terras, desde o descobrimento do Brasil até 2015;

 

– “Ordem e progresso” é um desenho de chão, em que a frase, desenhada com arame incandescente, acende e apaga, acionado por um transformador.

 

Germano Dushá fecha assim seu texto de apresentação da mostra: “Por meio de operações que inclinam sobre as possíveis relações do período colonial com as gravidades sociais que acometem os dias de hoje, o artista lida com lesões abertas que marcam impetuosamente nosso cotidiano. Podemos, então, com sorte, pensar criticamente a respeito do que se fez nesta terra e, sobretudo, como se tem contado suas histórias. O que foi que se plantou, e o que foi que deu.”

 

 

Sobre o artista

 

Jaime Lauriano (São Paulo, 1985) vive e trabalha em São Paulo. Graduou-se em Artes pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, em 2010. Entre suas exposições mais recentes, destacam-se as individuais: Autorretrato em Branco sobre Preto, Galeria Leme, São Paulo, 2015; Impedimento, Centro Cultural São Paulo, São Paulo, 2014, e Em Exposição, Sesc Consolação, São Paulo, 2013; e as coletivas: Frente à Euforia, Oficina Cultural Oswald de Andrade, São Paulo, 2015; Tatu: futebol, adversidade e cultura da caatinga, Museu de Arte do Rio (MAR), Rio de Janeiro, 2014; Taipa-Tapume, Galeria Leme, São Paulo, 2014; Espaços Independentes: A Alma É O Segredo Do Negócio, Funarte, São Paulo, 2013; Lauriano tem trabalhos na coleção da Pinacoteca do Estado de São Paulo, e na do do MAR – Museu de Arte do Rio.

 

Sobre o Prêmio CCBB Contemporâneo

 

 

Em 2014, pela primeira vez, o Banco do Brasil incluiu no edital anual do Centro Cultural Banco do Brasil um prêmio para as artes visuais. É o Prêmio CCBB Contemporâneo, patrocinado pela BB Seguridade, que contemplou 10 projetos de exposição, selecionados entre 1.823 inscritos de todo o país, para ocupar a Sala A do CCBB Rio de Janeiro. O Prêmio é um desdobramento do projeto Sala A Contemporânea, que surgiu de um desejo da instituição em sedimentar a Sala A como um espaço para a arte contemporânea brasileira. Idealizado pelo CCBB em parceria com o produtor Mauro Saraiva, o projeto Sala A Contemporânea realizou 15 individuais de artistas ascendentes de várias regiões do país entre 2010 e 2013.

 

A série de dez individuais inéditas, começou com o grupo  Chelpa Ferro [Luiz Zerbini, Barrão e Sergio Mekler], seguido das mostras de Fernando Limberger [RS-SP] e Vicente de Mello [SP-RJ]. Depois da de Jaime Lauriano [SP], vêm as de Carla Chaim [SP], Ricardo Villa [SP], Flávia Bertinato [MG-SP], Alan Borges [MG], Ana Hupe [RJ], e Floriano Romano [RJ], até julho de 2016. Entre 2010 e 2013, o projeto que precedeu o Prêmio, realizou na Sala A Contemporânea exposições de Mariana Manhães, Matheus Rocha Pitta, Ana Holck, Tatiana Blass, Thiago Rocha Pitta, Marilá Dardot, José Rufino, do coletivo Opavivará, Gisela Motta&Leandro Lima, Fernando Lindote, da dupla Daniel Acosta e Daniel Murgel, Cinthia Marcelle, e a coletiva, sob curadoria de Clarissa Diniz.

 

 

De 06 de outubro a 09 de novembro.

Palestra de Fernanda Feitosa

29/set

O novo projeto do Baretto Londra, Hotel Fasano, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, que promove palestras sobre o mundo das artes, realiza seu primeiro encontro, aberto ao público, na próxima quinta feira, 1º de outubro. Fernanda Feitosa é quem irá conduzir o “Alpha Talks”, ela é a diretora da SP-Arte – Feira Internacional de Arte de São Paulo, considerada o mais relevante evento do mercado de arte no hemisfério sul. Fernanda Feitosa irá tratar da SP-Arte e do mercado da arte no Brasil. A ideia do projeto é das jovens Manuela Sève e Renata Thomé.

 

“Semeando o campo de novas ideias e propostas inovadoras, acreditamos que colecionadores e interessados podem vir a fazer uma grande diferença no Brasil e no mundo. Vamos construir uma comunidade das artes para unificar e fortalecer o meio. Queremos realizar um aprendizado coletivo”, explicam as idealizadoras.

 

Para completar a noite e aguçar os sentidos, o chef Paolo Lavezzini prepara um apetitoso jantar para os participantes. A clássica caprese italiana – salada preparada com tomates frescos, selecionada mozzarella de búfala e carnudas azeitonas pretas – dárá início ao deleite. Em seguida, suculento risoto de funghi porcini será servido para os comensais. E como não poderia deixar de ser, vinho tinto acompanha o prato principal.

 

 

O Projeto

 

O “Alpha Beats + Alpha Talks” é uma parceria do Baretto-Londra com a Geração Alpha. O objetivo dos encontros musicais + palestras é contextualizar e aproximar o universo das artes de pessoas interessadas, integradas ou não, no mercado das artes visuais.

As “Alpha Beats” contemplarão o universo musical ligado ao mundo da arte. As festas serão momentos de confraternização e interação entre os participantes. As noites seguem com uma fantástica seleção de sucessos que proporcionam reflexão ao clima casual e artsy. Para completar, apresentações ao vivo também prometem surpreender o público.

 

Já o “Alpha Talks” promoverá circuito de debates conduzidos por convidados especiais. Uma vez por mês, um artista selecionado, entre os maiores nomes da arte contemporânea internacional, será apresentado em formato TED, com os principais destaques de sua carreira. Após a compacta apresentação, um debate/estudo sobre o tema será estimulado entre os participantes.

 

 

Sobre as idealizadoras

 

Manuela Sève iniciou sua carreira como analista de empresas na Gávea Investimentos e, durante sua vivência no mercado financeiro, desenvolveu um amplo conhecimento de modelos de funcionamentos organizacionais. A família, por sua vez, sempre atuou no mercado de arte, tanto na ponta de produção como na de venda: seu pai é galerista desde a década de 1970. Cresceu, assim, em meio a artistas, obras de arte e galeristas – personagens fundamentais desse meio.

 

Renata Thomé trabalhou em algumas das mais respeitadas e tradicionais empresas de arte do mundo, como a casa de leilão Christie’s e a galeria David Zwirner. Antes de juntar-se ao time do Geração Alpha, Renata fundou a REN-ARTs, LLC, com sede em Nova Iorque; a empresa que visa facilitar a colaboração entre empresas de arte na América Latina e no mundo através de um serviço de consultoria e já realizou projetos com alguns do lideres no setor de arte e tecnologia, como por exemplo, a casa de leilão online Paddle8.

 

 

Sobre o Baretto Londra

 

Versão carioca do Baretto de São Paulo, o melhor Bar de Hotel do Mundo, segundo a revista inglesa Wallpaper, o Baretto Londra – localizado no Hotel Fasano Rio – oferece drinks exclusivos e receitas italianas. Sob o comando do restaurateur Rogério Fasano, a badalada casa oferece ambiente intimista e requinte na medida certa. No bar, o premiado barman André Paixão, assina a carta de drinks e o chef Paolo Lavezzini é o responsável pelos quitutes. Uma homenagem do restaurateur a sua cidade preferida, o Londra (Londres em italiano) mistura atmosfera rock and roll com clima de pub. No ambiente, duas enormes bandeiras da Inglaterra “italianizadas” em vermelho, branco e verde sobressaltam das paredes de tijolos. Para chegar ao bar, desfila-se por 18 metros de uma passarela de vidro iluminada, cercada por cortinas de veludo púrpura e linho branco. Ao entrar, depara-se com clima envolvente e decoração chique com charmosas mesas rústicas de madeira, poltronas e sofás de couro. Capas de disco de vinil emolduradas cobrem as paredes de tijolos. Os lps das melhores bandas inglesas são da coleção pessoal de Rogério Fasano, escolhidos a dedo pelo próprio.

A proposta da Índica

28/set

Inspirado na histórica Indica Galllery de Londres, que impulsionou a contracultura dos anos 1960, a Índica surge neste momento de turbulência e oportunidades como uma nova
plataforma de arte no Rio de Janeiro, englobando galeria de arte contemporânea, loja de design sustentável, publicações, rádio, intervenções urbanas, diálogos e eventos que pretendem pensar o país e os novos rumos da arte.

 

A galeria foi inaugurada no último dia 13 de setembro, com uma boiada e exposição de Ronald Duarte, com curadoria de César Oiticica Filho e texto de Renato Rezende. O terceiro sócio da Índica é Sergio Cohn, da Editora Azougue. O grupo de artistas e pensadores em torno do projeto, inclui dentre outros os nomes de Mariana Roquete Pinto, Gabriela Gusmão, Claudia Roquete Pinto, Dione Boy, Carlos Vergara, José Oiticica Filho, Gabriela Gusmão, Fernando Codeço, Hélio Oiticica e Neville de Almeida, Alex Cerveny e Lee Jaffe.

 

Como contrapartida sustentável além de trabalhar com a Tucum em fair trade e com várias
etnias indígenas a Índica traz coleções sustentáveis da Mameluca, Zerezes e terravixta que compõe essa rede de apoio às iniciativas sociais e ecológicas junto a outros designers, artistas, músicos, poetas que lutam por um mundo melhor e mais limpo.

Ângulos da notícia

24/set

Nos 450 anos do Rio de Janeiro, o Museu de Arte do Rio, MAR, Centro, Rio de Janeiro, RJ,  abre ao público a exposição “Ângulos da Notícia – 90 anos de fotojornalismo do Globo”. São mais de 150 fotografias de Custódio Coimbra, Bruno Veiga, Sebastião Salgado, Eurico Dantas, Marcelo Carnaval e Marcia Foletto, entre outros grandes nomes do fotojornalismo nacional, que diariamente emprestam seus olhares para levar informação à milhares de leitores. Com curadoria do MAR e O Globo, a exposição apresenta um Rio que passa cotidianamente pelas páginas do jornal, com suas alegrias, dores, destruição e reconstrução, num testemunho de uma cidade que não para de se reinventar.

 

 
Cada núcleo da exposição terá seu texto assinado por jornalistas e colunistas conhecidos do grande público. Miriam Leitão escreverá sobre o período da ditadura, que na exposição será apresentado por imagens que abrangem desde as primeiras movimentações para o Golpe de 64 até fotos raras do cadáver do estudante Edson Luiz, com a propriedade de quem viveu os terrores da época. Ainda na área política, Merval Pereira contextualizará o cenário anterior ao ano de 1961, com o isolamento do poder em Brasília, e o lento processo de redemocratização que leva à constituição de 1988. Os debates sobre habitação social e transformações urbanas, temas amplamente discutidos em exposições do MAR, dessa vez serão tratados por Sergio Magalhães, enquanto o editor de Sociedade, William Helal Filho, discorrerá sobre religião e educação, assuntos que também fazem parte da rotina do museu.

 
Apaixonado pelas mulatas do carnaval, Ancelmo Gois escreverá sobre os registros da festa e sua relação com a cultura afro-brasileira. Imagens que ajudam a reforçar o imaginário da cidade maravilhosa, unindo o Rio e seus contornos, vistos do chão e do céu, serão traduzidas pelo texto do veterano João Máximo. Já na contramão da alegria e da beleza carioca, as dores causadas por catástrofes naturais, pela violência e pelo agressivo processo de pacificação serão expressadas por Paulo Motta, editor executivo do Globo.

 

O amor pelo esporte virá representado por Fernando Calazans em um núcleo que reúne
grandes lances do futebol, a primeira capa do ídolo Ayrton Senna e cenas inusitadas de
diversas modalidades. A música popular brasileira e seus grandes personagens serão introduzidos pelo cronista Nelson Motta. Já o fotojornalismo do Globo será apresentado pelo editor de opinião, Aluísio Maranhão, e a mostra contextualizada por Ascânio Seleme, diretor de Redação.

 

 

Atualmente dirigida por Antônio Ribeiro, a seção de fotografia do Globo valoriza o papel histórico e contemporâneo de um jornal na elaboração da notícia cotidiana. O design gráfico do veículo, renovado em 2012 por Chico Amaral – que trabalhou na remodelação de jornais como El País (Espanha), The Independence (Inglaterra), Clarím (Argentina) e O Estado de São Paulo –, estabelece uma nova relação entre imagem e texto.

 

“Ângulos da Notícia – 90 anos de jornalismo do Globo” celebra o aniversário do maior jornal da cidade e integra uma série de exposições que ressaltam a importância do fotojornalismo ao lado de mostras como “Kurt Klagsbrunn, um fotógrafo humanista no Rio” e “Evandro Teixeira: a constituição do mundo”. A série será completada com exposições sobre as revistas O Cruzeiro e Manchete, que serão organizadas em breve. Para marcar a abertura da mostra, uma Conversa de Galeria reúne jornalistas, fotógrafos e curadores no dia 29 de setembro, às 11h. Parte das obras em exibição serão doadas ao acervo do MAR.

 

 

A partir de 29 de setembro.

Prêmio CCBB Contemporâneo

23/set

A exposição “Ultramarino”, de Vicente de Mello, o terceiro dos dez projetos selecionados para a temporada de 2015-2016 do Prêmio CCBB Contemporâneo**, se despede da Sala A do CCBB Rio na segunda, 28 de setembro. Em “Ultramarino”, o artista recobre as quatro paredes do espaço com uma colagem de lambe-lambes da imagem ‘Átomo Jacaré’, de sua autoria, feita em silkscreen. A instalação de Vicente de Mello se propõe a ser o outro lado do mar.

 

O impacto monumental da sala se dá, à primeira vista, com a projeção de luz led branca, “varrendo” o ambiente como um farol, sobre as paredes e depois com a projeção de luz led vermelha, que irá alterar o azul para um magenta vibrante. As gamas de magenta transformam as imagens, de pequenos “plânctons”, em tramas sanguíneas. Como se o sangue azul, referente ao mito de ser nobre, se transfomasse em sangue vermelho.

 

 

Sobre o artista

 

Vicente de Mello, nasceu em São Paulo, SP, 1967. Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Formou-se em Comunicação Social pela Universidade Estácio de Sá e especializou-se em História da Arte e Arquitetura no Brasil, pela PUC Rio. Além de inúmeras exposições individuais e coletivas, o artista tem livros publicados. O mais recente é Parallaxis [Cosac Naify], de 2014.  Em 2007, ganhou o APCA de melhor exposição de fotografia em São Paulo, na Pinacoteca do Estado, com a mostra “moiré.galáctica.bestiário / Vicente de Mello – Photographies 1995-2006”.

 

 

 Prêmio CCBB Contemporâneo 2015-2016

 

A série de exposições inéditas, em dez individuais, contempladas pelo Prêmio começou com grupo Chelpa Ferro [Luiz Zerbini, Barrão e Sergio Mekler], seguido da mostra de Fernando Limberger [RS-SP]. Depois de Vicente de Mello [SP-RJ], sucedem-se as de Jaime Lauriano [SP], Carla Chaim [SP], Ricardo Villa [SP], Flávia Bertinato [MG-SP], Alan Borges [MG], Ana Hupe [RJ], e Floriano Romano [RJ], até julho de 2016.

 

 

Até 28 de setembro

Daniel Senise em “Quase aqui”

21/set

Curadoria: Alberto Saraiva e Flavia Corpas

 

Nome de ponta da arte contemporânea nacional, Daniel Senise apresenta “Quase Aqui”, uma ocupação dos quatro andares da Oi Futuro Flamengo, Rio de Janeiro, RJ.  A curadoria é de Alberto Saraiva e de Flavia Corpas e o patrocínio da Oi através da Lei de Incentivo do Estado do Rio de Janeiro. Ao longo de quase três décadas, Senise vem produzindo obras em diversos suportes, em um discurso que gira em torno da linguagem da pintura – como, por exemplo, a sala “O Sol me ensinou que a história não é tão importante” na edição de 2010 da Bienal Internacional de São Paulo e com a instalação “2892”, de 2011, exibida na Casa França-Brasil no Rio de Janeiro. “Senise é um pintor, e tudo parte da relação dele com a pintura, mesmo que isso ganhe outros suportes e linguagens”, diz Flávia Corpas. Esta é a primeira vez que Daniel Senise expõe no Oi Futuro, existente há dez anos, é um dos principais centros culturais do Rio de Janeiro.

 

 

Até 23 de outubro.

Iberê no MAM-Rio

14/set

A mostra “Iberê Camargo: um trágico nos trópicos” abriu as homenagens ao centenário do artista no CCBB/SP em maio de 2014 e, no final do ano, foi reconhecida como melhor exposição retrospectiva pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), em sua 59ª edição. A sua reedição no MAM Rio é um marco de encerramento desse ano comemorativo, justamente na cidade onde Iberê morou, de 1942 a 1982, consolidou sua formação artística e consagrou-se como um dos mais importantes artistas modernos brasileiros. As 134 obras que compõem a exposição foram especialmente selecionadas pelo curador, professor e crítico de arte, Luiz Camillo Osorio e incluem pinturas, desenhos, gravuras e matrizes.
Na versão carioca da exposição, o público poderá apreciar desde obras da década de 50 – período em que Iberê retornou da Europa para o Rio após ter estudado com mestres como Carlos Alberto Petrucci, De Chirico e André Lhote – até as grandes e trágicas telas de sua última fase, nos anos 90, que incluem as séries: “Ciclistas”, “As Idiotas” e “Tudo Te é Fácil e Inútil”.

 

“O núcleo da exposição é o processo de amadurecimento da trajetória de Iberê, dos Carretéis até as telas dos anos 1980, quando a figura humana começa a reaparecer. E como não poderia deixar de ser, haverá uma pequena mostra complementar do Iberê gráfico, apresentada como uma exposição de câmara, intimista, em que muitos dos seus temas e obsessões são trabalhados no corte preciso da linha e das várias experimentações realizadas como gravador”, afirma o curador.
Em 1994 foi realizada no CCBB do Rio de Janeiro uma grande exposição retrospectiva de Iberê Camargo. Para o catálogo desta exposição, o curador Ronaldo Brito escreveu um ensaio a que deu o título de “Um Trágico Moderno”. Ao longo da exposição, já doente, o artista veio a falecer. Foi ali que vi pela primeira vez o conjunto de grandes pinturas figurativas de sua última fase, iniciada em 1990. Beirando os oitenta anos Iberê daria naquelas últimas telas um salto trágico, radicalizando a experiência do corpo e da finitude. Tudo ali ganhava uma gravidade exacerbada. As fisionomias são abrutalhadas como na fase negra do Goya, os corpos ganham uma carnalidade aderida à superfície encrespada da tela, a atmosfera, atravessada por uma luminosidade fria, é pós-apocalíptica. Deparar-me com estas telas foi desconcertante. Continua sendo. Quanta força e quanto desencanto.
Esta exposição retrospectiva aqui no MAM, encerrando as comemorações do centenário do artista, tem como premissa uma relação direta entre a presença viva da matéria pictórica e a potência trágica da sua pintura. Não há uma narrativa cronológica, mas um esforço de perceber o modo como ao longo de sua trajetória, ao menos desde o momento em que conquista sua maioridade pictórica com os carretéis, há uma mesma tensão entre pintar um motivo e o próprio motivo da pintura. Uma viva tensão entre algo percebido e a densidade do gesto e das camadas de tinta. Demos ênfase, ao fazer as escolhas curatoriais, à fase madura do artista, mostrando-a como coroamento de sua trajetória, em que a recuperação da figura foi menos um retorno a algo que havia sido abandonado e mais uma explicitação da corporeidade – do homem e da pintura – e sua inscrição como visualidade encarnada.

 

 

 

Até 01 de novembro.

“Opinião 65 – 50 anos depois”, no MAM Rio

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Parque do Flamengo,  inaugura, no próximo dia 19 de setembro de 2015, a exposição “Opinião 65 – 50 anos depois”, com 57 obras de artistas brasileiros que participaram da emblemática exposição em 1965, organizada por Ceres Franco e Jean Boghici (1928-2015), no MAM Rio. Dessas obras, três participaram da exposição original: as pinturas “Miss Brasil” (1965), de Rubens Gerchman, e “O artista chorando assina…” (1964), de Wesley Duke Lee, e um “Parangolé” de Hélio Oiticica, que apresentou seus Parangolés pela primeira vez ao público na exposição de 1965.

 
Com curadoria de Luiz Camillo Osorio, a mostra terá ainda uma série de cartazes de filmes que estavam em exibição no período da exposição em agosto/setembro de 1965, documentos de época, críticas de jornal, uma série de fotografias dos artistas e da exposição em 1965, um vídeo de 1967, intitulado “Arte Pública”, e um novo feito para a exposição. A ideia é reconstituir a atmosfera do período e mostrar o quanto a exposição foi um momento importante de resistir ao golpe militar, juntando artistas de uma mesma geração que atualizavam o vocabulário plástico da arte brasileira pondo-a em contato com a energia da visualidade popular. A mostra é uma parceria com a Pinakotheke Cultural, que irá inaugurar na mesma data, em seu espaço em Botafogo, uma exposição com cerca de 70 obras, em que todos os trinta artistas participantes da montagem original estarão representados. Destas, todas foram produzidas na época, e várias integraram a mostra no MAM.

 
Os artistas que terão obras na exposição do MAM são: Adriano de Aquino,  Angelo de Aquino, Antonio Berni, Antonio Dias, Carlos Vergara, Flávio Império, Gastão Manoel Henrique, Hélio Oiticica, Ivan Freitas, Ivan Serpa, José Roberto Aguilar, Pedro Geraldo Escosteguy, Roberto Magalhães, Rubens Gerchman, Tomoshige Kusuno, Vilma Pasqualini e Wesley Duke Lee.

 

 

A palavra do curador

 

“A exposição Opinião 65 está no inconsciente coletivo da história cultural recente. Tentando recontar este capítulo de nossa história para as gerações mais novas, ao mesmo tempo em que homenageamos os curadores e artistas que fizeram parte daquele momento, o MAM Rio – palco dos acontecimentos – e a Pinakotheke Cultural resolveram juntar seus esforços nesta empreitada. Aqui no MAM, daremos foco aos artistas brasileiros que participaram da exposição, além de mostrar material de arquivo referente à mostra – críticas, iconografia, filmes e entrevistas”, afirma o curador Luiz Camillo Osorio.

 

 

De  19 de setembro a 28 de fevereiro de 2016.

Opinião 65: 50 anos depois

11/set

A Pinakotheke Cultural, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, apresenta, a partir de 17 de setembro a

exposição “Opinião 65: 50 anos depois”, com curadoria de Max Perlingeiro. É a comemoração

de meio século da histórica exposição realizada no MAM-Rio. Todos os trinta artistas

participantes da montagem original estarão representados, e das setenta obras que estarão

expostas, todas foram produzidas na época, e várias integraram a mostra do MAM.  Os artistas

são os brasileiros Antonio Dias, Ivan Serpa, Hélio Oiticica, Rubens Gerchaman, Ângelo de

Aquino, Adriano de Aquino, Pedro Geraldo Escosteguy, Gastão Manoel Henrique, Ivan Freitas,

Roberto Magalhães, Carlos Vergara, Vilma Pasqualini, Waldemar Cordeiro, Flávio Império, José

Roberto Aguilar, Tomoshige Kusuno e Wesley Duke Lee, e os estrangeiros Antonio Berni, Juan

Genovés, Roy Adzak, John Christoforou, Yannis Gaïtis,  José Vañarsky, Peter Foldès, José

Paredes Jardiel, Manuel Calvo, Alain Jacquet, Michel Macréau, Gerard Tisserant e Gianni

Bertini.

 

Para chegar ao resultado que idealizou, o de reproduzir “ao máximo possível” a montagem

original, o curador Max Perlingeiro fez uma longa e detalhada pesquisa durante um ano – que

lhe tomou “24 horas por dia”. Recorreu aos amigos Antonio Dias, Roberto Magalhães e Carlos

Vergara, e a uma edição de outubro de 1965 da revista “Manchete”, que trazia fotos da mostra

no MAM, para mapear as obras. As famílias dos artistas participantes aderiram de imediato ao

projeto, e um fator decisivo foi localizar a lendária colecionadora e crítica de arte Ceres Franco,

residente em Paris desde 1951, que organizou em 1965 a exposição idealizada pelo marchand

Jean Boghici (1928- 2015). Ambos serão homenageados na mostra. Residente em Carcassonne,

e com uma coleção de 1.500 obras em um espaço público em Montelieu, França, Ceres Franco

escreveu à mão um depoimento emocionado, que estará no livro que acompanhará na

exposição, tanto em fac-símile como transcrito.

 

Dentre as obras da montagem original estarão “Parangolé Bandeira – P2 Bandeira 1” (1964),

de Hélio Oiticica, que apresentou seus “Parangolés” pela primeira vez no MAM junto com a

Escola de Samba da Mangueira, todos seguidos  por uma multidão aos pilotis do Museu após

terem sido expulsos do salão. Outras obras que estiveram na exposição “Opinião 65” e serão

vistas na Pinakotheke são a aquarela “Estados Desunidos do Brasil” (1965), de Roberto

Magalhães; a pintura “Diálogo” (1965), de José Roberto Aguillar; a colagem de papel e metal

sobre chapa de ferro “Campanha do ouro para o Bem do Brasil” (1964), de Wesley Duke Lee; a

impressão sobre papel “Dejeneur sur l’herbe”(1965), de Alain Jacquet; a obra “Vencedor”

(1964), de Antonio Dias, um cabide de pé com construção em madeira pintada, tecido

acolchoado e capacete militar; “Sin título (Ramona levantando pesas)”, de Antonio Berni; a

pintura “Crianças e pássaros”, de Yannis Gaitis; “Negative Objects” (1963), de Roy Adzak;

“Diálogo” (1965), de Jose Roberto Aguilar; “Fuga” (1965), de Juan Genovés; o guache sobre

papel “Sem título” (1965), de Gerard Tisserand; “Personnages” (1964), de Jack Vanarsky; “La

barbecue de Justine” (1962), de Gianni Bertini; a pintura “Sorcellerie” (1964), de John

Crhristophorou; “Na cidade do extermínio (Segundo poema de Bialik)”, de José Jardiel; “La

vierge et as mère” (1964), de Michel Macréau; “Dejeneur sur l’herbe” (1965), de Alain Jacquet;

“UDN (Respeitosamente) – o extinto era muito distinto…” (1965), de Flavio Império, e “Estória

(O fim da idade do chumbo)”, 1965, de Pedro Geraldo Escosteguy.

 

“Opinião 65: 50 anos depois” não obedecerá a uma ordem cronológica. “Como na montagem

original, será tudo junto e misturado”, avisa Max Perlingeiro. “Era uma mostra ultrassaturada,

com um fator muito forte: estavam todos contra o regime militar”, observa. As obras

pertencem a coleções públicas e privadas, como a de João Sattamini, Gilberto

Chateaubriand/MAM Rio, Jean Boghici, entre outras

 

 

Marco na História da Arte

 

“Opinião 65” foi um marco na história da arte. A polêmica exposição idealizada por Jean

Boghici e organizada por Ceres Franco mudou por completo o cenário das artes plásticas no

Brasil. A ideia era reunir no Rio os artistas internacionais que trabalhavam no Novo Realismo

europeu e os brasileiros que assumiram a Nova Figuração (e um pouco da Pop Art americana)

em oposição à exaurida Abstração. Para o artista Roberto Magalhães, “Opinião 65 foi o início

de tudo o que existe hoje na arte brasileira. Foi uma mudança radical”.

 

Os artistas eram todos muito jovens na época, como ressaltou Wilson Coutinho em 1995, na

exposição comemorativa que realizou junto com Cristina Aragão no CCBB Rio: “Para avaliar o

clima da exposição é preciso conferir a certidão de nascimento de alguns participantes. Aguilar

tinha 24 anos, Angelo de Aquino 20, Gerchman 23, Vergara 24, Roberto Magalhães 25 e

Antonio Dias apenas 21. Para se ter uma ideia deste ‘boom’ de jovens basta comparar com a

Semana de Arte Moderna de 22, quando Oswald de Andrade ao participar tinha 32 anos,

Mario de Andrade 29 e Tarsila do Amaral 36”.

 

O título “Opinião 65” fazia uma alusão direta ao espetáculo “Opinião”, com Zé Keti, João do

Vale e Nara Leão – depois substituída pela estreante Maria Bethânia – , dirigido por Augusto

Boal, e encenado no Teatro Opinião, em Copacabana.

 

Em 1966, o crítico de arte Mário Pedrosa escreveu no extinto jornal “Correio da Manhã”: “Em

1965, o calor comunicativo social da mostra, sobretudo da jovem equipe brasileira, era muito

mais efetivo. Havia ali uma resultante viva de graves acontecimentos que nos tocaram a todos,

artistas e não-artistas da coletividade consumidora cultural brasileira. Personagens sociais

foram, por exemplo, elevadas à categoria de representações coletivas míticas como o General,

a Miss etc., sem falar nas puras manifestações coletivas da comunidade urbana, como o

samba, o carnaval. Antes de o ser pelo conteúdo plástico das obras (muitas delas de alto valor)

ou pelo seu estilo ou proposições técnicas, eram elas por mais diferentes que fossem

individualmente, esteticamente, identificadas pela marca muito significativa de emergirem

todos os seus autores de um meio social comum, por igual convulsionado, por igual motivado.

Daí vermos a arte altamente interiorizada de símbolos (corações, falos, sexos) e que se

distribuem, rigorosamente, num esquema formal simétrico que lembra o da arte bizantina; de

cores, (vermelhos, pretos etc.) que obedecem antes de tudo a representações litúrgicas de um

Antônio Dias, ao lado da arte essencialmente dinâmica de um Roberto Magalhães, cuja

irresistível força expressiva do desenho é assim vencida ou dominada pela extraordinária

clareza predicativa do seu esquema formal”, escreveu.

 

 

Catálogo

 

A exposição será acompanhada de uma bem-cuidada publicação, com 160 páginas, bilíngue

(português/inglês), formato 22cm X 27cm, texto de Frederico Morais e excertos de Ferreira

Gullar, Ceres Franco e Mario Pedrosa.

 

 

De 17 de setembro a 31 de outubro.

A Gentil Carioca | 12 Anos

10/set

A programação festiva dos 12 anos da galeria A Gentil Carioca, Centro, Rio de Janeiro, RJ, é

bastante eclética. A saber: abertura da Exposição | Chão de Estrelas, de José Bento com

curadoria do Ricardo Sardenberg; Módulo de Escuta|com Ricardo Basbaum e o compositor

convidado Paulo Dantas; Parede Gentil nº 25 | com Renato Pera com Gentil Apoio de Juan

Carlos Verme e Joel Yoss; Lançamento Camisa Educação nº 63 | com Maíra Senise; Festa |

Celebração 12 anos A Gentil Carioca com Desfile de Drags | parceria Drag-se + Drag Attack;

Bolo comemorativo | Edmilson Nunes e Música |  ”Verônica decide morrer”.

 

A exposição “Chão de estrelas” do artista José Bento, é um mote poético inspirado, é claro,

pela canção homônima de 1935 de Orestes Barbosa e Silvio Caldas. A instalação que dá nome

a mostra é composta de milhares de pedaços de madeira (Vinhático ou popularmente

conhecida como gema de ovo), entremeados por cabos de aço (ou como os assistentes do

artista nomearam “fios de ouro”) tencionados de um lado ao outro da sala expositiva no limite

do rompimento. Assim estamos diante de um plano, monocromático, que flutua na altura do

umbigo do artista, que remete a um horizonte que tenciona a relação entre o monocromo que

é em si uma paisagem dourada onde se encontra o dia e a noite.

 

Minha vida era um palco iluminado

Eu vivia vestido de dourado

Palhaço das perdidas ilusões

Cheio dos guizos falsos da alegria

Andei cantando a minha fantasia

Entre as palmas febris dos corações

 

Meu barracão no morro do Salgueiro

Tinha o cantar alegre de um viveiro

Foste a sonoridade que acabou

E hoje, quando do sol, a claridade

Forra o meu barracão, sinto saudade

Da mulher pomba-rola que voou

 

Nossas roupas comuns dependuradas

Na corda, qual bandeiras agitadas

Pareciam um estranho festival

Festa dos nossos trapos coloridos

A mostrar que nos morros mal vestidos

É sempre feriado nacional

 

A porta do barraco era sem trinco

Mas a lua, furando o nosso zinco

Salpicava de estrelas nosso chão

Tu pisavas nos astros, distraída

Sem saber que a ventura desta vida

É a cabrocha, o luar e o violão

 

O conjunto de obras expostas em “Chão de estrelas”  reúne diversas estratégias utilizadas ao

longo da carreira de José Bento. Notavelmente, a obra Xadrez para Max e Marcel se utiliza da

recriação de objetos do cotidiano em madeira numa aproximação do discurso hiper-realista,

como feito pelo artista em anos anteriores em obras como Cobogó, Telefone e de forma

espetacular em Banheiro Bento quando recriou sabonetes, tampões de ralo etc,  porém aqui

ele acena para o que já foi chamado de “surrealismo mitigado” em seu trabalho. Em Xadrez

para Max e Marcel,  José Bento brinda a famosa foto em que Marcel Duchamp aparece

brindando Max Ernst por meio do jogo de xadrez originalmente desenhado pelo terceiro

artista para a exposição The imagery of Chess, na Julien Levy Gallery, em 1944. Num jogo de

espelhos e auto-referências, aqui José Bento estabelece suas credencias como um artista que

goza com prazer das artimanhas neo-dadas e surrealistas contemporâneas.

 

Já em outra sala, em direto contraponto à mensagem Duchamp-ernestiana, um conjunto de

monocromos que variam entre o amarelo e o vermelho acompanhados de um tapete de

madeira virado para Meca, como uma bússola, que nos relembra de tradições atlânticas que

nos conecta à África e à Europa por meio de uma reticência a paisagem, ao ilustrativo e ao

figurativo, neste caso um “misticismo mitigado”. O surrealismo, embora mais conhecido por

sua ênfase no inconsciente, também sempre enfatizou um aspecto místico de comunicação

com o além.

 

Entre as duas pontas do modernismo ocidental, ou dito de outra forma, entre o abstrato

formal da arte construtiva e a representação discursiva típica do surrealismo, a exposição Chão

de estrelas por meio da poesia substantiva de Orestes Barbosa – barraco, trinco, zinco, chão,

astros etc – estica o seu olhar contemporâneo resgatando a simples poesia dos jogos das coisas

simples. Como comentou o artista certa vez: esse Orestes Barbosa é um gênio porque trouxe

os astros lá de cima e pôs no chão para os humildes pisarem.

 

E é com humildade que a exposição vai se espalhar pelo SAARA – a Sociedade de Amigos e

Adjacências da Rua da Alfândega. Espalhado em suas famosas lojas/ tendas e por suas ruas

apertadas e barulhentas, aproximadamente oito trabalhos estarão camuflados na paisagem

comercial. Tanto um comentário ao aspecto comercial da exposição, mas principalmente ao

estatuto variável do que é um ready-made hoje em dia, também desafia o espectador a

considerar a paisagem do SAARA como um espaço expositivo, local de troca e de recorrentes

experiências estéticas e sociais.

 

Toda a exposição será “amarrada” por meio de um jornal em formato tablóide que será

repositório dos enigmas das possíveis fontes do trabalho escultórico expansivo do José Bento.

O jornal de certa forma é onde o inconsciente, o místico, e o pedestre artista estão amarrados.

Lá as referências vêm à tona e submergem no meio do palavrório dos outros curadores,

artistas e paisagens.

 

 

Sobre o artista

 

José Bento, nasceu em Salvador, BA, em 1962, vive e trabalha em Belo Horizonte.  Desde a

década de 1980 realiza, sobretudo, esculturas, instalações, além de trabalhos em vídeo,

desenho e fotografia. Expondo em museus, instituições culturais e galerias dentro e fora do

Brasil, seus primeiros trabalhos se desenvolvem a partir da discussão entre o plano e a

tridimensionalidade, como as maquetes e objetos construídos com palitos de picolé. Já em

Árvores, uma de suas obras mais conhecidas, o artista aborda questões materiais: o material

que serve à sua própria representação. A relação entre a arquitetura dos espaços expositivos e

os trabalhos de arte também se mostrou uma fonte de proposições artísticas em sua carreira,

algumas delas site-specific. Seus trabalhos mais recentes lidam com o estatuto da linguagem

escultórica na contemporaneidade e discussões acerca da representação do valor financeiro e

economia no circuito de arte. Participou de inúmeras exposições coletivas e individuais, entre

elas se destacam: On Another Scale, Galeria Continua, San Gimignano, e Tara por Livros,

Galeria Bergamin 2014; Eletric Blue Night, Galeria Mendes Wood, São Paulo;

Correspondências, Galeria Bergamin, São Paulo, ambas coletivas em 2013; participou com a

Floresta Invisível na 2o Bienal do Benim, Porto Novo, Cotonou e Uidá,  e realizou uma

individual na A Gentil Carioca, Rio de Janeiro em 2012; em 2011, 1901-2011, Arte Brasileira e

Depois, na Coleção Itaú, São Paulo; individual, Galeria Celma Albuquerque, Belo Horizonte em

2010 e no mesmo ano, Zum Zum Zum, na A Gentil Carioca, Rio de Janeiro; Poética da

Percepção no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008; Acervo do MAP

no Espaço de Arte Pitágoras. Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte; e Chão na Galeria

Bergamin, São Paulo, 2005. Em 2004 realiza individual no Museu de Arte da Pampulha – MAP,

em Belo Horizonte. Integrou o 29º Panorama da Arte Brasileira, MAM/SP, 2005, entre outras.

Recentemente seu trabalho foi publicada na edição da ABC – Arte Contemporânea Brasileira

organizado por Adriano Pedrosa e Luisa Duarte, Cosac Naify, 2014.

 

 

De 11 de setembro a 31 de outubro.