As diferentes cores da terra.

09/abr

A Almeida & Dale, São Paulo, SP, anuncia a correpresentação da artista e pesquisadora Marlene Almeida (1942, Bananeiras, PB) em parceria com a galeria Marco Zero, de Recife.

Com uma prática interdisciplinar, Marlene Almeida combina conhecimentos literários, científicos e artísticos na investigação de um objeto comum à sua produção desde a década de 1970: a terra. Em expedições que realiza, a artista cataloga e armazena amostras de terras de diferentes cores e são guiadas por um projeto audaz: o Museu das Terras Brasileiras, que visa a identificação e estudo das cores encontradas em diferentes formações geológicas do território nacional. Em sua trajetória, Marlene Almeida também se nutriu de extensa atuação na militância ecológica e política. Nesse contexto, por exemplo, fundou e dirigiu o Centro de Artes Visuais Tambiá, onde durante uma década coordenou intercâmbios internacionais entre artistas, com destaque para os projetos desenvolvidos em parceria com a Alemanha.

Em maio deste ano, Marlene Almeida apresentará exposições individuais na Fondation Walter Leblanc, em Bruxelas, e na Carlos/Ishikawa, em Londres, que sucedem sua mostra na galeria Marco Zero, Recife, em 2024. Entre suas exposições recentes, estão: Paisagens temporais: perspectivas em evolução, Almeida & Dale (2024); 38º Panorama da Arte Brasileira, Mil graus, realizada pelo MAM São Paulo no MAC USP, São Paulo (2024); 2ª Bienal Internacional de Arte em Cerâmica de Jingdezhen, China (2023) e ROOTED – Brasilianische Künstlerinnen, Vilsmeier-Linhares, Munique, Alemanha (2024).

O pensamento pictórico de Thiago Hattnher.

07/abr

Próximo cartaz da Almeida & Dale, Pinheiros, São Paulo, SP, “Beira do tempo”, será a primeira individual de Thiago Hattnher no Brasil, mostrando o resultado de uma relação persistente e meticulosa com a pintura.

A mostra estará em exibição até 31 de maio.

O artista propõe uma construção vagarosa, atenta. Tem por hábito trabalhar muitas telas simultaneamente, sem saber de antemão como o trabalho vai ser. Utilizando tinta a óleo, cuja secagem é lenta, ele sobrepõe camadas, criando campos de cor e de forma que oscilam entre harmonias e desequilíbrios, articulando-se em um jogo provocativo entre zonas neutras, áreas que sugerem jogos abstratos ou paisagens imaginárias, linhas que simulam horizontes, citações que remetem à paisagem ou ao gênero da natureza morta, evocando assim a história da pintura. São trabalhos, como diz Hattnher, muito mais motivados por atmosferas do que por narrativas. Aspecto que o artista reforça ao optar por não dar título às obras, nem as isolar por meio de molduras. Ao deixar a lateral visível, ele dá visibilidade às camadas de cores (verde limão, laranja florescente…) que, juntas, criam uma aparência brumosa, difícil de definir.

“Trata-se de um pensamento que reluta em fixar-se em ideia e em alcançar sua forma final”, sintetiza Julia de Souza no texto crítico da mostra Beira do tempo. “A cogitação de Hattnher se aproxima mais do pensamento, da meditação e da preparação do que do cálculo”, acrescenta ela. Longe de ser um instrumento para contar histórias, demonstrar virtuosismos ou construir lógicas precisas, a técnica torna-se uma investigação persistente e diária, que cria como que uma temporalidade alargada. “Isso traz uma lentidão na leitura que eu gosto que o trabalho tenha”, afirma Hattnher. Essa desaceleração temporal vai de encontro ao imediatismo contemporâneo. Remete à memória, como uma lembrança borrada, diz ele. Vistas em conjunto, as telas desafiam o espectador, convidando-o a descobrir elos e particularidades no interior de cada uma delas e também nos diálogos entre as várias obras, num movimento incessante de aproximação e afastamento, autonomia e síntese.

A exposição estabelece um diálogo profundo com a tradição pictórica, mas ao mesmo tempo a subverte, transformando a técnica em campo de experimentação e reflexão. Os formatos são normalmente pequenos e modulares. Há apenas uma tela um pouco maior, com 1,4 metro de largura, de um azul profundo, atmosférico, na qual “o impasse entre figura e fundo se exacerba”, como enfatiza Julia de Souza. O tipo de tinta usada é o mesmo, mas os materiais, técnicas e superfícies são diversos. Madeira, linho ou juta mais rústica absorvem a luz e a tinta de forma diferente, jogando com a percepção.

“Cada superfície me permite convocar uma imagem diferente”, destaca. Essas variações de ritmo, intensidade, duração – esse desenvolvimento errante, como ele diz – dão à obra algo de “notação musical”, como observa Mateus Nunes, atual curador do MASP, em seu texto crítico para a exposição que Hattnher realizou em Londres, no ano passado. Não por acaso, a dissertação de mestrado do artista na ECA-USP intitula-se, sugestivamente, Pintura, Silêncio e outros ruídos e trata das aproximações entre a produção de John Cage e Cy Twombly e sua própria investigação. Há uma inquietação permanente na forma como Hattnher constrói sua obra. A pintura desde sempre foi sua linguagem, desde antes de deixar São José do Rio Preto para estudar artes visuais em São Paulo, em 2009. “Nunca tinha sido apresentado a outras práticas, era o que eu conhecia”, brinca.

Focalizando a obra de Zéh Palito.

04/abr

 

A Simões de Assis anuncia o lançamento de “Zéh Palito – Um Lugar ao Sol”, a primeira publicação dedicada à obra do artista.

Realizada em parceria com a Act, a edição reúne cerca de 150 obras realizadas entre 2019 e 2024, além de destacar cinco exposições individuais realizadas no Brasil, Estados Unidos, Itália e México. Com organização de Mariane Beline, Luana Rosiello e o próprio artista, o livro conta ainda com ensaios dos renomados curadores Ademar Britto Jr., Chantel Akworkor Thompson, Larry Ossei-Mensah e Rodrigo Moura, além de uma entrevista entre Zéh Palito, Larry e o também artista Derrick Adams.

SP-Arte | Lançamento e sessão de autógrafos

Sexta-feira, 04 de abril às 18h30

Estande Act Editora – ED4

2º andar

Simões de Assis | Lançamento aberto ao público

Sábado, 05 de abril às 11h – 13h

Al. Lorena, 2050 A – Jardins

A produção de Carlos Zilio em retrospecto.

03/abr

 

Itaú Cultural, Avenida Paulista, São Paulo, SP,  apresenta exposição retrospectiva da obra de Carlos Zilio. Com mais de 100 peças, a mostra Carlos Zilio – a querela do Brasil se estende pelos três andares do espaço expositivo da instituição e percorre os vários tempos de sua vida, que marcaram o trabalho realizado pelo artista nos últimos 60 anos.

É a primeira retrospectiva do artista, nascido em 1944, no Rio de Janeiro. Com caráter cronológico, a mostra acompanha a sua produção de 1966 a 2022 definida por cada fase de sua vida. A exposição passa pelas diferentes etapas da obra do artista – entre técnicas, linguagens e suportes variados – e acompanha o desenvolvimento do trabalho iniciado com uma produção politizada, durante a Ditadura Militar, passando por trabalhos abstratos e de experimentação em uma reflexão sobre a identidade nacional e o Modernismo Brasileiro, até chegar ao vazio e à ausência. Exibe, ainda, cadernos de trabalho de Zilio, nunca antes expostos. Com concepção e realização do Itaú Cultural, curadoria de Paulo Miyada e projeto assinado por Fernanda Bárbara, do Escritório UNA barbara e valentim, a mostra fica em cartaz até 06 de julho.

“Carlos Zilio é um artista fundamental na arte contemporânea brasileira. Para entender seu trabalho artístico e intelectual, é preciso olhar para o contexto social, político e artístico no qual ele estava inserido”, observa Sofia Fan, gerente de Artes Visuais e Acervos do Itaú Cultural. “Esta exposição é uma oportunidade para que as pessoas possam se aprofundar em sua produção, tornando-a mais acessível para um público amplo e diverso. Os visitantes poderão compreender como ela se relaciona com a história recente do país e conhecer mais os diferentes movimentos artísticos com os quais o seu trabalho dialoga, da década de 1960 até hoje.”

“Esta não é uma exposição óbvia e a vejo coerente com o projeto do Itaú Cultural de valorizar a história da arte e de seus agentes que ajudaram a construir o Brasil de maneira mais autônoma”, comenta o curador Paulo Miyada, para quem Zilio é um artista-cidadão “obstinadamente inquieto ou inquietamente obstinado.”

Por suas grandes dimensões, a instalação Atensão (com “s”, mesmo), realizada em 1976, ocupa boa parte do piso 1. Composta de materiais de construção, como pedras, tijolos, cabos de aço, ripas de madeira, além de um metrônomo e uma bomba de compressão em metal, ela explora a tensão e a suspensão. A obra permite que o público transite por situações de equilíbrio precário, o que desafia a sua percepção.

No piso -1, que abrange as pinturas de Zilio dos anos 1990 a 2022, o público conhecerá os seus cadernos de trabalho inéditos. Eles facilitam a observação de algumas etapas do seu processo criativo e se conectam com os pensamentos e formas de fazer arte.

Descendo para o piso -2, onde está reunida a produção de 1960 a 1980, encontram-se obras significativas de sua carreira, como A Querela do Brasil (ou o diabo e o bom Deus). Acrílica sobre tela da coleção do artista, realizada entre 1979 e 1980, esta obra critica o Modernismo e os estereótipos da brasilidade. Nela – fruto da tese de doutorado A Querela do Brasil defendida na França, em 1970 -, Zilio aponta as influências culturais europeias, negras e indígenas na constituição da arte brasileira, a partir da análise das obras de Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti e Portinari.

Lute, de 1967, é mais uma das obras emblemáticas de Carlos Zilio que está nesse andar. Trata-se de uma serigrafia sobre filme plástico e resina condicionados em uma marmita de alumínio aberta. Ela contém um rosto amarelo de formato indefinido, onde a palavra que batiza a obra está escrita em vermelho sobre a boca. O projeto era distribuir as marmitas nas fábricas, em uma tentativa de mobilizar os trabalhadores a protestar contra o autoritarismo. Logo percebeu que se tratava de um plano de difícil execução, tanto pela grande quantidade que deveria produzir quanto pelo período vivido. Nestes tempos de repressão mais forte, Carlos Zilio ficou mais engajado na luta e na resistência do que na produção artística. O momento marcou uma ruptura voluntária em sua produção – forçada, em seguida, por mais dois anos devido à prisão. Não por acaso, nesse mesmo piso encontra-se Auto-retrato, uma de suas primeiras produções após sair do cárcere e retomar a sua obra. Trata-se de uma tela em vinílica e hidrocor, de 135 x 85 cm, onde se vê uma mancha vermelha disforme – bem no centro de um fundo branco – atravessada pela palavra que lhe dá nome. A exposição também reúne, no piso -2, 30 desenhos, feitos em folhas de papel e com caneta hidrográfica no período em que foi preso político da Ditadura Militar, de 1970 a 1972, no Rio de Janeiro. Eles formam uma espécie de diário do cárcere, usando elementos figurativos para abordar a repressão a que esteve submetido.

‍Os tempos de Zilio

A obra de Zilio é marcada por fases distintas, que vão do enfrentamento político à introspecção e experimentação, sempre pautado por compromisso éticos, conectados com o seu tempo e orientados por pensamentos em relação ao mundo. A sua entrada nas artes começou nos anos de 1960 e foi impactada pela fase da Ditadura. Nesse momento passou a expressar sua visão crítica de modo claro e rápido, com recursos retóricos gráficos, visuais e poéticos, integrado ao movimento da contracultura. Foi após a instauração do AI-5, que restringia as liberdades no mesmo período autoritário, que ele começou a duvidar da contundência da arte e a se aprofundar no enfrentamento ao regime. Acabou sendo baleado pelos órgãos de repressão e preso por dois anos, quando passou a desenhar no cárcere com caneta em folhas de papel e até nos pratos que recebia na cela. Libertado na década de 1970, Zilio experimentou recursos para produzir a sua obra de modo que pudesse circular, driblando a censura, com mensagens críticas subliminares. Assim, buscando uma linguagem que produzisse alegorias críticas ao país, fez uso de práticas conceituais de fotografia, audiovisuais, instalações, objetos. Aqui, ele renunciou às cores e aos recursos figurativos, elaborando uma narrativa diferente da dos anos 1960. Sempre, no entanto, com um discurso permeado pela tensão, ruptura, fragilidade e incompletude que permeavam os sentimentos dos brasileiros. Nessa mesma década, foi para Paris para estudar teoria e história da arte, ampliando sua visão artística para a qual passou a ter acesso livre. Voltou ao Brasil com doutorado A querela do Brasil, publicado em livro com o título A querela do Brasil – A questão da identidade da arte brasileira. Neste estudo, se debruçou no modernismo europeu e brasileiro, apontando suas promessas e falências. A volta do exílio, do fim dos anos de 1970 para 1980, foi o momento de o artista produzir o primeiro grande corpo de pinturas, presente na exposição, quando passou a refletir, absorver, digerir e comentar aspectos da arte brasileira e internacional, com algumas pitadas de irreverência e muita crítica. Ao mesmo tempo, começou a direcionar o seu ativismo pela arte para o campo acadêmico para o qual dedicou décadas de sua vida. Começou a dar aula na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e na Faculdade de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Foi professor pioneiro na orientação de arte para os pesquisadores, criou disciplinas, programas acadêmicos, publicações, seminários e simpósios. Virou mestre de gerações de futuros professores, artistas e pesquisadores – não somente do Rio. Por fim, a partir dos anos 1990, reviu o modo de fazer pintura, reduziu sua paleta cromática e privilegiou o gesto, o movimento, a escala e o ritmo. Até 2022, ano que encerra o arco da retrospectiva no IC, Zilio caminhou para o desafio de produzir o vazio, o luto, a morte e a ausência.

Obras de Sergio Camargo na Raquel Arnaud.

02/abr

 

Ética e estética

Ronaldo Brito

O modo feliz como se autoenvolvem – os elementos geométricos acabam por se encaixar à perfeição, nada falta, nada sobra, acrescidos ao brilho do mármore ou do Negro Belga – não deixa margem a dúvidas: estamos diante de modernas esculturas clássicas. Apresentam aquela espécie de beleza perene imune ao tempo, porém, sem regras a priori que viessem a inibir seu caráter de pesquisa livre – cada uma das peças resulta de uma combinatória metódica a valorizar sobretudo dilemas e paradoxos. Distantes da ortodoxia concretista e de sua serialidade mecânica, decompondo as figuras geométricas segundo uma ordem linear, tampouco seguem a morfologia tradicional da estatuária ocidental. Mas o mármore se faz presente, a dar consistência histórica (e força lírica!) a essas manobras abstratas, inverossímeis do ponto de vista da lógica figurativa.

 Sergio Camargo opera por meio de séries geométricas, partindo do cilindro ou do cubo, mas parece perseguir somente a exceção, ali onde a figura desmente sua suposta integridade imutável. O corte da máquina é preciso e anônimo –  o esculpir artesanal desapareceu no horizonte, incapaz de acompanhar raciocínio tão móvel e abstrato -, já o produto final é justo o oposto: uma peça de escultura única e distinta que resume uma pergunta: como vim a ser? O seu poder de atração e sedução estéticas deriva, em larga medida, dessa pergunta reincidente. E, em certo sentido, a pergunta é irrespondível, ou não permaneceríamos colados a essas esculturas (e aos sensacionais relevos que as precedem) muito depois de decifrarmos sua origem – elas, ativas e convidativas; nós, cativos de seu acontecimento.

A curadoria se revela, desculpem o contrassenso, um ótimo problema espinhoso. Há que manejar e remanejar no espaço da galeria, de saída, material tão pesado quanto delicado. E evidenciar sua vocação metódica e serial sem cair em um didatismo protocolar, em tudo e por tudo estranho ao espírito de aventura que distingue a poética de Camargo. Não confundir, no entanto, imaginação geométrica inspirada com fantasia arbitrária. O artista não faz o que lhe vem à cabeça, e sim o que o estudo profundo e prolongado das condições de possibilidade da figura do cilindro, por exemplo, faculta. Ele pode vir a alinhar dez cilindros em calculada ondulação para concluir sua Homenagem a Bernini ou esticá-los em cortes limítrofes, que se reduzem a até cinco milímetros, nas extraordinárias peças negras do final de sua produção. Na primeira, instintivamente, entramos logo a projetar uma escultura pública de escala monumental que faria justiça à importância cultural do construtivismo brasileiro. Em tempos tão frívolos e obscuros, seria no mínimo um oportuno sinal de vida inteligente. Já nas longas e enigmáticas peças horizontais em Negro Belga, me ocorre sempre um antigo ditado: o clássico é um romântico que deu certo! Estaríamos aqui, a meu ver, muito mais próximos ao sublime romântico do que ao belo clássico.

Tínhamos, ainda, à nossa disposição exemplos significativos das inúmeras variações em torno do cubo, típicas do conjunto da obra, desde os que se equilibram inquietos na vertical àqueles que se desdobram em intercambiar seções do bloco geométrico de maneira inesperada, a demonstrar a irresistível vocação moderna para a disponibilidade – nada é tão definitivo que não possa se transformar numa versão mais inventiva e radical de si mesma. Outrora representante do eterno, depois de Brancusi a escultura torna-se o exemplo consumado da mobilidade existencial moderna. Semelhante voracidade, contudo, impõe uma contrapartida inegociável: toda mudança terá a medida de sua verdade, nunca a de suas veleidades. Eis aí onde se realiza, por definição, a máxima da razão emancipada moderna: a coincidência entre ética e estética.

 Até 17 de maio.

Páginas de um sonho global.

01/abr

Brazilism é a primeira individual do renomado artista camaronês Pascale Marthine Tayou em São Paulo – e sua segunda exposição com A Gentil Carioca, em colaboração com a Galleria Continua. Com obras inéditas, a mostra mergulha na prática multifacetada do artista, criando um diálogo vibrante entre culturas e contextos. Além disso, marca o retorno do artista à cidade desde sua participação na 25ª Bienal de São Paulo, em 2002.

Nascido em 1966, em Nkongsamba, Camarões, Pascale Marthine Tayou vive e trabalha entre Ghent, Bélgica, e Yaoundé, Camarões. Reconhecido por sua abordagem inovadora e dinâmica, seu trabalho constrói pontes entre civilizações e explora as interseções ambíguas entre o homem e a natureza. Sua prática, marcada pela fluidez entre diferentes meios, reflete sobre mobilidade, trocas culturais e as complexidades da identidade. Esta exposição dá continuidade à sua investigação sobre suas raízes africanas e as dinâmicas do mundo globalizado.

Com uma trajetória marcada por participações em importantes eventos internacionais, como a Documenta de Kassel, Bienal de Veneza, Bienal Internacional de São Paulo e a Trienal de Turim, Pascale Marthine Tayou também realizou exposições individuais em renomadas instituições, incluindo a Serpentine Gallery (Londres, 2015), o Bozar (Bruxelas, 2015) e o Musée de l’Homme (Paris, 2015).

A palavra do artista.

“O Brasil é a ilustração perfeita do “mundo inteiro”. Um país que é a soma total das paixões humanas, uma exposição para folhear as páginas de um sonho global. Brazilism é um convite para passear aqui e em outros lugares, um passeio por um campo de flores entremeado de suaves espinhos”.

Um lugar para a cabeça.

31/mar

A Fortes D’Aloia & Gabriel, Barra Funda, São Paulo, SP, apresenta na Sala 2, Um lugar para a cabeça, exposição individual de Gokula Stoffel. A mostra reúne obras produzidas no último ano e marca a expansão das investigações da artista sobre a matéria pictórica e sua abordagem fragmentária da figuração. Texto crítico por Ariana Nuala. Em cartaz até 17 de maio.

Em uma prática exploratória guiada pelo processo, Stoffel abraça o acaso e os acidentes como co-criadores de suas pinturas e esculturas. Seja desdobrando uma mancha de tinta para representar um braço ou desvendando traços humanos em uma imagem de paisagem, a artista se interessa pelas distorções e perturbações da forma e da ambientação. Os gestos turbulentos e espiralados compõem superfícies cintilantes, nas quais criaturas emergem de uma atmosfera liquefeita, como em Salso Reino (2025) e Morcego (2025). Uma gama de vibrações ópticas aparece como consequência da incorporação de acabamentos metálicos e tintas iridescentes no repertório material da artista, criando efeitos de luz brilhante que se manifestam em diferentes mídias. Em obras como a  pintura Espirro (2025) e a escultura Umbigo-Espiral (2024), elementos díspares são articulados por meio de procedimentos colagísticos. Embora a primeira seja abstrata e a segunda represente um corpo desconstruído, ambas são organizadas em espirais, um motivo e coordenada espacial recorrentes na obra da artista. O caráter mutável dos ambientes naturais permeiam as abstrações e imagens de Stoffel, despertando correntes sinestésicas por meio da cor, textura ou escala. Memória Olfativa (2025), uma das maiores pinturas da exposição, alude a esse cruzamento de impressões sensoriais, evocando o olfato junto à fisicalidade concreta que estrutura a composição. Metamorfoses e percepções alteradas criam um terreno de contornos fluidos e limites difusos onde a vida humana, animal e vegetal se fundem, escapando constantemente da identificação e de posições estáticas.

 

Abordagens pictóricas de Pélagie Gbaguidi.

A Fortes D’Aloia & Gabriel tem orgulho de apresentar “Manifestação”, a primeira exposição individual de Pélagie Gbaguidi, na Sala 1 do Galpão, em São Paulo. A artista beninense, nascida em Dakar e radicada em Bruxelas, exibe pinturas inéditas produzidas durante a sua residência no Pivô Salvador, de janeiro a fevereiro de 2025, além de obras que fundamentam a estrutura conceitual de seu corpo de trabalho mais recente. Até 17 de maio.

A pesquisa de Gbaguidi se concentra em narrativas ancestrais e táticas contemporâneas para reformular histórias sob uma perspectiva decolonial. Em suas pinturas e desenhos, ela traduz a natureza sedimentar do tempo histórico em composições de camadas densas, justaposições de cor e forma, pigmentos e traços gestuais. Ao retratar silhuetas humanas fragmentadas e distorcidas junto a padrões abstratos, a artista busca entrelaçar abordagens pictóricas a sistemas simbólicos. Por meio dessa coreografia visual, a artista incorpora o repertório do conhecimento, filosofia e existência africanos. A pintura Mango tree (2025), por exemplo, faz referência a uma imensa árvore em frente ao prédio do Pivô, em Salvador. Inicialmente atraída por sua escala monumental e folhagem exuberante, Gbaguidi depois soube que a árvore marcava o local de um cemitério, onde estão enterradas algumas das pessoas que participaram da Revolta dos Malês em 1835, considerada a maior revolta de escravizados da história do Brasil. O episódio violento marcou um esforço comum empreendido por pessoas retiradas à força de seus territórios nativos como Benin, Togo e Nigéria, entre outros. O encontro entre um conflito antigo e as suas manifestações no âmbito contemporâneo serve como metáfora para sua obra como um todo, assim como para sua posição como griot contemporânea, uma contadora de histórias da África Ocidental, e um arquivo de narrativas orais e tradições ancestrais. Equipando-se com esse conjunto complexo de estruturas estéticas e metodologias conceituais, a prática de Gbaguidi se entrelaça com o contexto brasileiro e sua constituição afro-indígena.

A mostra é acompanhada por uma conversa por escrito entre Gbaguidi e o artista e pesquisador Karamujinho.

Conceito de limite da resistência.

28/mar

Mecânica dos meios contínuos, individual de Marcius Galan, na Galeria Luisa Strina, Jardins, São Paulo, SP, apresenta um conjunto de obras, a maioria inéditas, que explora o conceito de limite da resistência. São objetos e instalações que, aparentando estar à beira do colapso, continuam a cumprir seus movimentos e funções específicas. O título refere-se a uma área da física dedicada à formulação matemática dos fenômenos relacionados ao movimento e à deformação dos corpos sob a ação de agentes externos.

Como programa público, uma conversa entre o artista, a curadora e pesquisadora Heloisa Espada, que assina o texto da exposição, e o colecionador e pesquisador Fábio Faisal acontecerá no encerramento da mostra, em 10 de maio, às 11h.

A extensa e diversa produção de Marcius Galan assimila conceitos e linguagens do cotidiano para reelaborar o espaço, tema central de sua obra. Seus trabalhos integram as coleções de MAM-SP, MAM-RJ, MASP, Pinacoteca de São Paulo, MAC-USP, Museum of Fine Arts Houston, Phoenix Art Museum e Inhotim. Participou de exposições em instituições como Palais de Tokyo, Wexner Center, Guggenheim Bilbao, Museu Serralves, Americas Society, Bienal de São Paulo, Bienal do Mercosul e Bienal das Américas. Foi vencedor do Prêmio PIPA em 2012 e fez residência na Gasworks Londres; e do prêmio Iberê Camargo em 2004, com residência na School of the Art Institute of Chicago.

Quanto mais escura é a noite, mais vigorosa é a luz dos vaga-lumes

A primeira obra da mostra é Cinema (2025), que ocupa a sala principal da galeria, completamente às escuras. Um sistema de luz suspenso do teto simula o voo de dois vaga-lumes. Esses pequenos focos luminosos emitem sinais em um código de comunicação que só pode existir na ausência de luz. Além de explorar a percepção cinética, na qual o cérebro humano interpreta as piscadas de luz como movimento, Cinema presta homenagem a Pier Paolo Pasolini (1922-1975). O cineasta italiano, em carta a um amigo, comparou o desaparecimento dos vaga-lumes à extinção da resistência ao fascismo na Itália. Segundo ele, a luz da propaganda fascista era tão intensa e uniforme que apagava nuances, a poesia e a própria resistência política.

Anti-horário (2025) foi filmado no deserto e registra um pequeno galho seco que, movido pelo vento, desenha um círculo perfeito na areia. A direção do vento muda constantemente, alterando o sentido do desenho. O som desempenha um papel essencial na obra: cada mudança de direção é pontuada por um ruído, reforçando a percepção da instabilidade do movimento.

Infinito (1999), único trabalho pertencente a uma produção anterior do artista, é um tubo de vidro moldado na forma do símbolo do infinito, cujo ciclo contínuo é interrompido por um volume de cera que obstrui sua passagem, rompendo a ideia de continuidade.

A resistência dos materiais

Na Sala 2, os trabalhos lidam com a materialidade de maneira distinta. São obras feitas com pedras, carvão e ferro, nas quais há a intenção de confrontar o peso e a resistência destes materiais.

Memória geológica (2025) consiste em duas pedras cortadas por uma linha de aço que se atraem para um ponto comum. A interação entre os vértices das linhas sugere uma força magnética que parece cortar as rochas, que, por sua vez, resistem ao movimento, criando uma tensão entre atração e oposição. Apesar da aparente dinâmica, a obra permanece estática.

De forma semelhante, Força resultante (2025) apresenta uma haste de madeira em uma posição aparentemente impossível, desafiando a gravidade. Uma linha de ferro sugere a manutenção desse equilíbrio ao se aproximar de um prego na parede, sem tocá-lo. A obra captura o instante de instabilidade entre a iminência da queda e um ponto de segurança.

Baixa resolução (2025) é uma grande composição de parede feita com cubos de madeira e carvão. As áreas chamuscadas evocam tanto a vista aérea de uma região devastada por queimadas quanto explosões pixeladas de videogames antigos, congelando um momento de destruição em linguagem básica que remete aos primórdios da representação virtual.

Por fim, Orbital (2025) é uma grande composição de placas pintadas com tinta automotiva preta sobre as quais são dispostas pedras minerais. Esses elementos determinam as órbitas de objetos cortantes que riscam a superfície industrial dos módulos. O atrito entre os materiais desenha padrões geométricos similares aos traços de um compasso, criando um contraste entre a delicadeza das linhas e a agressividade do movimento que as inscreve na superfície.

Ao longo da exposição, cada obra aborda o conceito de resistência, explorando a instabilidade dos materiais, a tensão entre equilíbrio e colapso, e a dinâmica entre permanência e efemeridade. Assim como na mecânica dos meios contínuos, os trabalhos investigam a relação entre forças externas e suas consequências sobre corpos físicos, levantando questões sobre fragilidade, persistência e transformação.

Ilusão e Inclusão.

27/mar

 

Exposição destaca a participação ativa do espectador e a evolução da Op-Art para a Arte Cinética.

A Galeria Espaço Arte MM, Jardim Paulista, São Paulo, SP, inaugura a exposição Op-Art – Ilusão e Inclusão, sob curadoria de Denise Mattar, no dia 29 de março. A mostra reúne artistas pioneiros e contemporâneos que exploram a relação entre forma, cor e movimento, proporcionando ao público uma experiência sensorial que ultrapassa a contemplação passiva.

A Op-Art surgiu na Europa na década de 1950 como herdeira do Concretismo, mas rompeu com sua rigidez estática ao propor uma nova forma de interação entre arte e espectador. Caracterizada pela repetição de formas geométricas simples, contrastes de cor e ambiguidades entre fundo e figura, essa vertente cria ilusões de movimento e profundidade, desafiando a percepção visual.

A exposição apresenta obras que dialogam com essa tradição e sua evolução para a Arte Cinética, na qual o movimento virtual torna-se real, seja por meio de mecanismos ou pela interação direta do público. Reunindo nomes fundamentais da Op-Art e da Arte Cinética, como Julio Le Parc, Jesús Rafael Soto, Carlos Cruz-Diez, Victor Vasarely, Yaacov Agam, Dario Perez-Flores e Abraham Palatnik, além de artistas que continuam expandindo essa linguagem, como Yutaka Toyota, Yuli Geszti e José Margulis, a mostra evidencia a força e a atualidade desse movimento artístico.

A Op-Art consolidou-se internacionalmente por meio de exposições como Le Mouvement (Galeria Denise René, 1955), The Responsive Eye (MoMA, 1965) e pela atuação do GRAV (Groupe de Recherche d’Art Visuel), que buscava integrar arte e público. Op-Art – Ilusão e Inclusão reafirma essa trajetória e destaca sua influência contínua em diversas áreas, como Design, Moda e Arquitetura. Com essa exposição, a Galeria Espaço Arte MM reafirma seu compromisso com a promoção da arte contemporânea e convida o público a vivenciar a arte de maneira ativa e imersiva.

Em cartaz até 26 de abril.