A arte introspectiva de Eleonore Koch

27/maio

O silêncio e a elegância na obra de Eleonore Koch

Cadeiras, xícaras, uma máquina de costura, flores. Esses são alguns dos elementos que aparecem com frequência nos quadros de Eleonore Koch, artista que viu o início do reconhecimento de sua obra poucos anos antes de falecer, em 2018. Hoje, 6 anos depois de sua morte, essa valorização só cresce e tem alcançado cifras milionárias no mercado de arte, além de exposições e documentários. No Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP), 190 pinturas estão expostas em sua primeira grande retrospectiva. Com curadoria de Fernanda Pitta e obras de coleções públicas e privadas,  “Eleonore Koch: Em cena” reúne décadas de produção da artista, incluindo trabalhos nunca antes exibidos. Abordando os gêneros tradicionais da pintura explorados por ela (paisagens, naturezas-mortas e interiores), a mostra evidencia a simplicidade, o silêncio e a elegância retratados por meio de suas telas.

O início de tudo

Eleonore Koch nasceu em Berlim, em 1926, e veio para o Brasil ainda criança, aos 12 anos de idade. Imigrantes judeus-alemães, seus familiares fugiam do regime nazista. Desde cedo ela sonhava em trabalhar com arte, mas seu desejo era visto como uma ambição distante, já que todos os seus parentes levavam a vida difícil de quem precisa escapar do próprio país e se estabelecer em um novo local. Mesmo assim, Eleonore manteve sua vontade e recebeu apoio da família.

Em meados de 1940, ela frequentou os ateliês de personalidades como Yolanda Mohalyi, Elizabeth Nobiling, Samson Flexor e Bruno Giorgi. Depois, viajou à Europa e teve aulas com o pintor húngaro Arpad Szenes e o escultor francês Roberto Coutin. De volta ao país tropical, Eleonore viveu períodos nas capitais de São Paulo e do Rio de Janeiro e experimentou diferentes métodos artísticos. Foi somente em 1953, quando conheceu Alfredo Volpi, que ela começou a desenvolver a técnica da têmpera a ovo. Ao conviver com o mestre visitando seu ateliê, discutindo arte e observando sua forma de produzir, Eleonore incorporou a têmpera em seu processo criativo e passou a se preocupar cada vez mais com as cores e composições. Embora não tenha aprendido exatamente a “receita” empregada pelo artista, ficou conhecida como sua única discípula. O conjunto de pigmentos utilizados por ela – minerais, vegetais e alguns poucos sintéticos, alguns herdados de Volpi – hoje integra a coleção do Núcleo de Conservação e Restauro da Pinacoteca de São Paulo. No arquivo do MAC USP, há diários da artista com breves anotações sobre sua prática de pintura. Em seus estudos, ela registrava os pigmentos e misturas realizadas para conseguir os matizes de seu interesse.

Na década de 1950, também conviveu com grandes nomes do movimento concretista, dentre eles o paulista Geraldo de Barros, e observou o diálogo de Volpi com esses artistas. Apesar disso, não abandonou a figuração para se tornar “abstrata”, como muitos de sua geração fizeram. Sua predileção por objetos fez com que sua obra avançasse nos gêneros pictóricos da natureza-morta e dos interiores.

Certa de que deveria se dedicar ao ofício, Eleonore optou por não casar e nem ter filhos. Para garantir sua independência financeira enquanto a arte não lhe rendia tantos frutos, Koch trabalhou como vendedora de livros, assistente de cenógrafa, secretária e tradutora. Foi apenas em 1968, ao se mudar para Londres, que conseguiu viver da pintura. Na cidade nova, o empresário e colecionador Alistair McAlpine, tocado pelas obras, passou a ser seu mecenas. Antes de partir para a capital inglesa, Eleonore conquistou, sim, espaços importantes no circuito da arte brasileira. Em 1961, por exemplo, teve seu trabalho aceito pela Bienal de São Paulo, depois de muitas recusas. Mas de forma geral, a inserção no mercado de arte foi custosa para uma mulher que não seguia as vertentes daquele momento – nem a arte concreta, nem a pintura figurativa de caráter social.

Em cena

No MAC USP, os quadros de paisagens aparecem com certo destaque. Eles foram feitos depois de visitas da artista a parques de Londres, Versailles e outras localidades da Europa. Combinando observações, fotografias e uma mistura de realidade e fantasia, Eleonore criou algo de encenado – daí o título da exposição. Como explica o texto curatorial, “essas paisagens se assemelham a cenários ou imagens do pensamento, […] nas quais se “intrometem” elementos da memória e do afeto: a cadeira predileta, plantas azuis, um chão como a superfície do mar”. A sensibilidade de Koch é expressa principalmente pelos objetos colocados nas telas. Mais do que pela combinação minuciosa de cores, é por meio dos cômodos e das praças vazias que ela se comunica com o público. São os elementos da memória e do afeto – os cafés, os brinquedos, a casca da laranja e as cadeiras desocupadas – que fazem o observador se identificar com a introspecção da artista. Não se trata da mera figuração por ela mesma, mas da abertura às sensações que ela provoca.

Na mostra do MAC USP, é possível conhecer, ainda, todo o processo criativo de Eleonore, que documentava cada um de seus trabalhos. Em grandes vitrines, estão expostos os registros fotográficos de suas pinturas finalizadas – este era um modo de documentar e inventariar sua produção de forma independente. Entre os negativos, estão algumas das trinta pinturas de propriedade do Barão Alistar McAlpine, que se perderam em um incêndio na West Green House, na Inglaterra.  Além da mostra que permanece em cartaz até 17 de julho, o trabalho de Eleonore Koch tem ganhado destaque também em outros meios. Em abril deste ano, o festival de cinema “É tudo verdade” fez quatro exibições do documentário “As cores e os amores de Lore”, sobre a vida íntima e a trajetória profissional da artista. Com 80 minutos, o filme dirigido pelo cineasta Jorge Bodanzky apresenta um retrato dos últimos anos da artista, que faleceu aos 92 anos. Em breve, a película deverá chegar aos cinemas. Para o segundo semestre, está previsto, ainda, o lançamento de um livro sobre sua obra, com imagens e textos críticos.

Publicado por  Victoria Louise

Fonte: Artsoul.

A relevância da obra de Wesley Duke Lee

23/maio

A Ricardo Camargo Galeria, Jardim Paulistano, São Paulo, SP, anuncia a exposição “O Filiarcado” do renomado artista Wesley Duke Lee. Nesta série, composta por oito pinturas de grandes dimensões (257 x 227 cm), o artista utiliza bastões de pastel a óleo sobre uma base de argamassa que remete às paredes de pedra das cavernas, criando uma textura sólida e enrugada que dá vida às suas figuras. As obras exploram a temática dos jogos infantis ancestrais, retratando crianças que nadam, correm, pulam sela e fogueira, atiram dardos e jogam cartas ou bolinhas de gude.

Wesley Duke Lee começou a dar forma à série “O Filiarcado” após comemorar 40 anos de vida artística com uma grande retrospectiva no Museu de Arte de São Paulo (MASP) em 1992. O conceito do “filiarcado”, a era do filho, surgiu de conversas com a poetisa Dora Ferreira da Silva, esposa do filósofo Vicente Ferreira da Silva, amigos de Wesley Duke Lee. Inspirado pelos desenhos renascentistas de Andrea Mantegna e pelas gravuras barrocas de Jacques Stella, Wesley Duke Lee utilizou computação gráfica para recriar essas imagens em uma perspectiva renascentista, organizando-as no formato do losango, uma figura que ele associava ao equilíbrio instável entre os triângulos masculino e feminino.

Os quadros de “O Filiarcado” foram agrupados cromaticamente pelo artista em fases que remetem às transmutações alquímicas: Albedo, com tons claros e brancos dourados sobre fundo ocre; Rubedo, com vermelhos dourados; e Nigredo, com magentas dourados e enegrecidos. As figuras infantis, os objetos e os cenários são dispostos de maneira a criar uma trama delicada dentro dos losangos, remetendo aos jogos e à paisagem da infância do artista.

A exposição “O Filiarcado” oferece ao público uma oportunidade única de apreciar o trabalho de Wesley Duke Lee em sua plena maturidade artística. A combinação de técnicas inovadoras e referências históricas cria uma experiência visual e conceitual rica, reafirmando a relevância do artista no cenário contemporâneo.

Sobre o artista

Wesley Duke Lee, nascido em São Paulo em 1931, é uma figura central na arte contemporânea brasileira. Formado pela Parsons School of Design e pela New York School for Social Research, nos Estados Unidos, ele retornou ao Brasil na década de 1960, onde desenvolveu uma carreira marcada pela experimentação e pela integração de diversas formas artísticas. Participou do movimento “Ruptura” e foi um dos fundadores do grupo “Rex”, que revolucionou a cena artística paulistana. Sua obra é conhecida pela fusão de elementos clássicos e modernos, e pela profunda reflexão sobre a condição humana e suas expressões culturais.

Exposição de Pietrina Checcacci na Galatea

21/maio

Galatea São Paulo

Pietrina Checcacci: táticas do corpo

Abertura [Opening]

Terça-feira, 04 de Junho

[Tuesday, June 4th]

Exposição [Exhibition]

04 de Junho – 13 de Julho

Rua Oscar Freire, 379 – Jardins, São Paulo, SP.

Feira de Artes Gráficas

20/maio

A 5ª edição do MAB Margens – Feira de Artes Gráficas acontece dia 18 de maio no Museu Afro Brasil Emanoel Araujo. O Museu celebra o sucesso do evento que reúne artistas e coletivos sob sua marquise, diante do lago do Parque Ibirapuera, em meio à 22ª Semana Nacional de Museus.

O Museu Afro Brasil Emanoel Araujo, instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, reúne artistas e coletivos para celebrar um evento que já se tornou tradição no calendário cultural de São Paulo. Com gratuidade no Museu durante todo o dia 18 de maio (sábado), a 5ª edição da feira de artes gráficas MAB – MARGENS ocorre das 12h às 18h. Venha conhecer e refletir sobre “as margens” enquanto espaço-fronteira de produções, com artistas e coletivos que nem sempre são visibilizados no cenário das artes visuais.

Como um manifesto vivo, o Museu oferece sua bela marquise diante do lago do Parque Ibirapuera às produções de artistas inovadores, visando o diálogo e as trocas com o público, possibilitando o fomento da diversidade e a valorização. O objetivo é lhes oferecer espaço privilegiado de divulgação e venda de suas produções gráficas. Para esta 5ª  edição, foi lançado um chamamento público, divulgado via redes sociais e site do Museu, por meio do qual foram selecionados 14 artistas e coletivos pela Comissão de Seleção formada por profissionais de diferentes núcleos de trabalho do Museu. Foram também convidados 5 artistas, cujos portfólios retratam a diversidade social brasileira.

Segundo Guinho Nascimento, um dos artistas que irão expor na feira, participar da MAB Margens é uma possibilidade de encontro. “É estar em comunidade pra ser e fazer mercado, entendendo a feira numa perspectiva que Exu apresenta: um lugar de movimentação, comunicação, prosperidade e caminhos. Assim, vai além de estar à margem do museu, é estar dentro. Não é a parede que nos distancia, porque a MAB é o quintal do Museu, aberto para comer, dançar, enfeitar, apreciar, rezar e celebrar”. Para a artista Neia Martins, a importância é, “estar no espaço do Museu Afro Brasil Emanuel Araujo e no coletivo de artistas que representam esse cenário cada vez mais inclusivo”.

Haverá ainda uma oficina que convida os visitantes à reflexão sobre articulações comunitárias em torno da cultura e do direito à cidade. Será realizada com mediação de Izabel Gomes, educadora popular e artista que divide suas histórias com as pessoas na região do Jardim Miriam, no JAMAC – Jardim Miriam Arte Clube. O evento contará com a venda de bebidas e de quitutes do tabuleiro baiano do Alcides.

A 5ª MAB – MARGENS acontecerá na marquise do Museu, localizada na área externa do pavilhão Padre Manoel da Nóbrega no Parque Ibirapuera, próximo ao Portão 10. O acesso será livre e sem a necessidade de inscrição prévia, lembrando que no dia da feira a entrada do Museu Afro Brasil Emanoel Araujo será gratuita.

Artistas e coletivos selecionados:

CaiOshima – De um lado, o mundo da ginga; do outro, o equilíbrio. De família metade pernambucana, metade japonesa, o artista visual CaiOshima nasceu e cresceu nas duas culturas. Instagram: @Cai0shima

Cauã Bertoldo – Artista visual autodidata, produz imagens a fim de discutir o mundo estético que tange às questões das pessoas negras em sua pluralidade e subjetividades. Instagram: @cauabertoldo

Daiely Gonçalves – Artista visual mineira, articula narrativas que se lançam sobre a representação do corpo e território em temas de raça e gênero por meio da pintura, desenho e gravura. Instagram: @daielygoncalvesart

Guinho Nascimento – Educador e multi-artista, graduado em Artes Visuais pela Universidade Cruzeiro do Sul e em Dança pela Escola Viva. Instagram: @guinhonascimento @galopretoatelie

Hanna Gomes – Artista visual e designer de Salvador, explora visualmente os questionamentos sobre o ato revolucionário de sonhar, utilizando cores primárias e cenários tropicais ou desérticos. Instagram: @the.hannag

Juliana Mota – Designer gráfica paulistana, trabalha com ilustração digital, pintura, bordado e a experimentação disso tudo junto. É inspirada pela mistura da natureza com retratos femininos. Instagram:@julianamotabordado

Katarina Martins – Artista plástica e arte educadora paulistana, investiga o campo botânico e de manchas orgânicas, com ênfase na busca da beleza cotidiana, com diferentes técnicas da gravura e fotografia. Instagram: @katarinamartins_

Mayara Smith – Mestre em Artes Visuais pela Universidade Federal de Minas Gerais (2024), é artista visual, designer gráfica e pesquisadora. Em seu trabalho aborda identidade e corpo negro, principalmente feminino. Instagram: @mayarasmith_

Neia Martins – Trabalha com escultura, pintura, desenho, calcogravura e seus segmentos.Instagram@neia.vancatarina

ÒRÚ – Artista da zona leste de São Paulo, possui trabalhos voltados à ilustração e colagem digital. Instagram: @oru.artista

Pixote Mushi – Artista visual, trabalha com muralismo, arte 3D, xilogravura, pintura e educação artística. Iniciou sua carreira no graffiti e tem explorado temas como raça, sociedade e espiritualidade. Instagram: @pixote_mushi

Rodrigo Abdo  – Designer, ilustrador e artista preto. Seu trabalho observa o cotidiano e organiza coisas que estão no ar. Busca representar a rua, a juventude e questões sociais diversas.  Instagram: @vbdx_

Thiago Vaz – Artista visual e arte-educador, faz um recorte especial sobre a arte urbana: graffiti e street art; pesquisa sobre os modos de ocupação com arte nos espaços públicos: zonas e territórios. Instagram: @thiagovaz.arts

Artistas e coletivos convidados:

Coletivo Anansi Lab – Laboratório de experiências transmídia que promove o letramento racial por meio de livros, revistas, papelaria, eventos, cursos, exposições e produtos digitais. Instagram: @anansi.La

Gejo Tapuya – Reúnem-se via editora especializada em prints, toy art, gravuras e street art. Buscam criar renda para artistas originários, negros e periféricos da cultura hip-hop, graffiti, pixação e outras manifestações culturais marginais. Instagram: @editora.marginal

JAMAC – Artista popular autodidata, autora de estampas exibidas em diversas exposições, cujas inspirações relembram as memórias da sua infância, banhadas pelas belezas do Rio São Francisco.  Instagram: @izabel._gomes – @jardim.miriam.arte.clube

Nei Vital – Baiano que cresceu em São Paulo, se inspira em suas origens do cordel, em seus traços que mesclam o sertão com a metrópole. Instagram: @cordelurbano

Coletivo Xiloceasa – Coletivo formado por integrantes periféricos que buscam por meio da arte, manifestar suas ideias e desejos do cotidiano. Instagram: @xiloceasa

Na atividade, serão apresentadas técnicas de estamparia em tecido com os artistas do JAMAC (Jardim Miriam Arte Clube). A Educadora Izabel Gomes utiliza materiais simples e acessíveis para criação de padrões únicos e personalizados em panos de prato – uma superfície para contar histórias e ensinar a técnica de estêncil, criando desenhos a partir de memórias pessoais e coletivas. Não é necessário ter experiência prévia para participar, mas as vagas são limitadas! As inscrições podem ser feitas via site do Museu.

Homenagem ao artista Sidney Amaral

Visita tematica – Sidney Amaral: Canto para uma arte incômoda no dia 23 de Maio ás 19h, Virtual via Zoom.

Como parte da Programação do Mês da Abolição, o Museu Afro Brasil Emanoel Araujo, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, oferece a “Visita Temática Sidney Amaral: Canto para uma arte incômoda”, em homenagem a esse artista visual, sua trajetória e obra, indissociáveis de uma perspectiva política e crítica e, a partir disso, refletir também sobre o dia 13 maio.

Educador: Guilherme Renan

Doação de obras de Samico para o MAC

08/maio

O MAC incorpora a seu acervo trabalhos de um dos principais gravadores do País, Gilvan Samico, um artista que uniu o popular ao erudito. Literatura de cordel e temas populares nordestinos serviram de inspiração para os trabalhos de Samico e tornaram-se indissociáveis da memória de sua obra.

Dragões, pássaros de fogo, demônios e serpentes estão no Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP. O motivo para a chegada dessa fauna fantástica é a doação que o museu acaba de receber. Trata-se de 45 obras do gravador e pintor pernambucano Gilvan Samico (1928-2013), famoso por seu universo imagético inspirado na literatura de cordel e nas mitologias de vários povos do planeta. As 45 obras recebidas pelo MAC são uma doação de Joaquim e Vivianne Falcão, que foram amigos próximos do artista. Joaquim Falcão é jurista, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), fundador e ex-diretor da Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getúlio Vargas (FGV) enquanto Vivianne Falcão é advogada e conselheira da Humanitas 360.

A coleção que o casal entrega agora aos cuidados do MAC foi construída ao longo de décadas e comporta diversos presentes oferecidos por Samico. São estudos, pequenas gravuras e rascunhos, alguns deles ainda conservando as dedicatórias, como é o caso da prova do artista de “Cena campestre”, xilogravura de 1957. A obra foi recebida pelo museu acompanhada de um pequeno recorte, onde se lê “Para Vivianne, a primeira xilo. Samico E Célida Olinda, 7 janeiro 2006”. Célida era a esposa do artista.

É um acontecimento para o MAC, que vê sua coleção de obras de Samico saltar de duas para quarenta e sete, além de tornar geograficamente mais plural o acervo do museu, concentrado no eixo Rio-São Paulo. “Samico está entre os grandes gravadores brasileiros”, comenta a professora Ana Magalhães, diretora do MAC. “Ele tem importância fundamental porque está ligado ao Movimento Armorial, junto de Ariano Suassuna e outros artistas e intelectuais, com um papel decisivo na divulgação dessa cultura local.”

Fonte: Jornal da USP/Luiz Prado

Xilogravuras e pinturas de Santídio Pereira

O Museu de Arte Moderna de São Paulo, Parque do Ibirapuera, apresenta até 1º de setembro uma exposição inédita do artista Santídio Pereira. Com curadoria de Cauê Alves, curador-chefe do MAM, a exposição “Santídio Pereira: paisagens férteis” reúne na Sala Paulo Figueiredo mais de 30 obras – algumas, inéditas -, entre gravuras, pinturas e objetos produzidos pelo artista em um período entre 2017 e 2024.

Nascido em Isaías Coelho, no interior do Piauí, Santídio Pereira se mudou com a família para São Paulo ainda criança e, aos oito anos de idade, foi matriculado pela mãe no Instituto Acaia, uma organização criada pela artista Elisa Bracher. Lá, ele entrou em contato com uma grande variedade de técnicas artísticas e, mais tarde, aprofundou-se na gravura no Xiloceasa, idealizado pelos artistas Fabrício Lopez e Flávio Capi.

Com uma trajetória profícua em instituições brasileiras e mundo afora, Santídio apresenta em “Paisagens férteis” sua pesquisa em torno das imagens de biomas brasileiros, da Amazônia à Mata Atlântica, passando por paisagens que fizeram parte de suas vivências e carregando especialmente as observações que faz em meio à natureza.

O curador Cauê Alves selecionou gravuras, objetos e pinturas de Santídio Pereira que trazem imagens de paisagens montanhosas e de plantas como bromélias e mandacarus. Esses motivos nas obras do artista derivam de suas experiências imersivas nos biomas brasileiros, durante viagens em que se dispõe a observar a geografia e a vegetação com atenção. Parte delas também são fruto das memórias da infância no Piauí que ele carrega consigo.

As imagens, porém, não são apenas reproduções do que Santídio Pereira enxerga, mas criações. O curador explica que “a referência a uma espécie de planta específica, que está disponível aos seus olhos, não se opõe à imaginação, ou seja, à mentalização de algo que não está presente. É como se ele interpretasse o que viu e o que lembra do que viu, mas de modo diferente, novo, já que vai além do que se passou e do que se recorda”.

Conhecido inicialmente por seus trabalhos com xilogravura, Santídio Pereira começou a se dedicar também à pintura com guache e à feitura de objetos nos últimos anos. A exposição no MAM será a primeira a exibir, no Brasil,  esses objetos e as guaches. Santídio Pereira comenta que, a partir dessas experimentações, passou a criar objetos que podem ser impressos, e não mais matrizes.

Já as pinturas surgem a partir da vontade que ele teve em trabalhar com a materialidade do guache. “São trabalhos relativamente menores que as xilogravuras, mas são trabalhos que levam para um lugar completamente distinto. Não pelo tema, mas pela materialidade, porque a materialidade da tinta da gravura é um tanto brilhante, é um pouco oleosa, enquanto a materialidade da guache, do jeito que trabalho, é mais opaca”, explica o artista. Para ele, essa característica opaca da pintura à guache transmite uma maior profundidade no trabalho, “como se o trabalho em guache abraçasse e o trabalho em gravura tomasse uma certa distância”.

Em seu texto curatorial, Cauê Alves destaca o olhar atento e a sensibilidade rara de Santídio Pereira, enfatizando o modo com que ele se relaciona com o mundo. “Sua história de vida é uma exceção, e a visibilidade que seu trabalho alcançou é atípica no meio da arte. Ele soube relacionar sua liberdade com aquilo que era, de fato, necessário para ele, apostando na invenção, mas sem renunciar ao trabalho ou abandonar suas origens”, comenta o curador.

Sobre o artista

Nascido em 1996 em Isaías Coelho, no Piauí, Santídio Pereira vive e trabalha em São Paulo. Estudou História da Arte com o crítico e curador Rodrigo Naves, e é graduado em Artes Visuais pela Fundação Armando Álvares Penteado, em São Paulo. A trajetória de Santídio Pereira tem sido permeada pela experimentação e estudo constante sobre os preceitos artísticos, impulsionando um desejo de criação e inovação dos padrões pré-estabelecidos, tanto no aspecto formal, quanto conceitual das linguagens artísticas. Seu trabalho já foi exibido em instituições brasileiras como Fundação Iberê Camargo (Porto Alegre), Centro Cultural São Paulo, Paço das Artes, MuBE – Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia, e MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo (todos em São Paulo) em exposições de espaços e instituições internacionais como a Galería Xippas (Punta del Este, Uruguay),  b[x] Gallery (Nova York, EUA), Bortolami Gallery (Nova York, EUA), Fondation Cartier pour l’Art Contemporain – Triennale di Milano (Milão, Itália) Fondation Cartier pour l’Art Contemporain (Paris, França), Power Station of Art (Xangai, China), dentre outros. Seu trabalho integra coleções importantes, como Pinacoteca do Estado de São Paulo (Brasil), Coleção Cisneros (EUA), Acervo Sesc de Artes (Brasil), Museu de Arte do Rio – MAR (Brasil) e Fondation Cartier pour l’Art Contemporain (França). Santídio Pereira também foi contemplado com o Prêmio Piza (2021, Paris, França), além de ter participado da AnnexB Residência Artística (2019, Nova York, EUA).

Sobre o MAM São Paulo

Fundado em 1948, o Museu de Arte Moderna de São Paulo é uma sociedade civil de interesse público, sem fins lucrativos. Sua coleção conta com mais de 5 mil obras produzidas pelos mais representativos nomes da arte moderna e contemporânea, principalmente brasileira. Tanto o acervo quanto as exposições privilegiam o experimentalismo, abrindo-se para a pluralidade da produção artística mundial e a diversidade de interesses das sociedades contemporâneas. O Museu mantém uma ampla grade de atividades que inclui cursos, seminários, palestras, performances, espetáculos musicais, peças de teatro, sessões de filmes  e práticas artísticas. O conteúdo das exposições e das atividades é acessível a todos os públicos por meio de visitas mediadas em libras, audiodescrição das obras e videoguias em Libras. O acervo de livros, periódicos, documentos e material audiovisual é formado por 65 mil títulos. O intercâmbio com bibliotecas de museus de vários países mantém o acervo vivo. Localizado no Parque Ibirapuera, a mais importante área verde de São Paulo, o edifício do MAM foi adaptado por Lina Bo Bardi e conta, além das salas de exposição, com ateliê, biblioteca, auditório, restaurante e uma loja onde os visitantes encontram produtos de design, livros de arte e uma linha de objetos com a marca MAM. Os espaços do Museu se integram visualmente ao Jardim de Esculturas, projetado por Roberto Burle Marx para abrigar obras da coleção.Todas as dependências são acessíveis a visitantes com necessidades especiais.

A exposição Plástico-Bolha

03/maio

A exposição coletiva “Plástico-bolha”, na CASANOVA, Barra Funda, São Paulo, SP, fala de impermanência e movimento como lugar seguro. De uma instabilidade protegida, a transição ou o deslocamento como potencializador do sensível.

Sem mudança há a estagnação, força contrária à expansão ou ampliação do olhar, do ser, do fazer. Recalcular a rota é um gesto magistral em qualquer processo de transformação e a arte é um sábio diário de bordo ou destino-deriva.

A expressão artística não existe sem um redirecionamento do pensar. Estar aberto para que o caminhar seja maior que o caminho. Na trajetória da vida é a liberdade de nos mover ou a capacidade de flexibilizar que nos faz criativos.

As obras apresentadas na mostra e a concepção expográfica tratam desta espacialidade. Chão é um lugar essencialmente simbólico.

Organização de Juliana Freire e Adriano Casanova.

Artistas participantes: Akauã Kamaiura, Adriano Casanova, Julia Pereira, Juliana Freire, Laerte Ramos, Lia Chaia, Luiz Martins, Massuelen Cristina, Raphael Escobar, Renata Padovan, Renato Dib, Simone Floot, Vinicius Monte, Vivi Rosa e Yan Boechat.

Até 25 de Maio.

Vera Reichert exibe Espelhos D’Água

Em um convite à contemplação e à reflexão sobre a relação entre a água e seus diferentes biomas, Vera Reichert apresenta a exposição “Espelhos D’Água” na Caixa Cultural, Praça da Sé, São Paulo, SP, com curadoria do artista e gestor cultural André Venzon. A mostra mergulha nas profundezas dessa temática, explorando novas narrativas e perspectivas poéticas sobre esse elemento essencial à vida. A abertura ao público será no dia 03 de maio, com vernissage no dia 4 de maio, às 10h.

Ao longo de mais de três décadas de imersão na poética da água, Vera Reichert tem investigado e expressado sua visão singular por meio de diversas mídias, como fotografia, vídeo, instalação e escultura. Sua jornada artística é marcada por uma profunda conexão com os ambientes aquáticos, inspirando-se nas nuances e na beleza dos oceanos, rios, lagos e lagoas ao redor do mundo.

As obras exibidas em “Espelhos D’Água” revelam a habilidade da artista em capturar a essência da água em suas mais diversas formas. Fotografias subaquáticas transportam o espectador para um mundo raro, onde a luz dança sobre as superfícies e as cores se mesclam em harmonia. Instalações imersivas proporcionam uma experiência sensorial única, convidando-nos a explorar os mistérios e as maravilhas dos ecossistemas aquáticos. Foram produzidas mais de 30 obras, entre imagens do fundo do mar dentro de escotilhas espelhadas, imagens de superfícies de lagoas emolduradas e em forma de gotas moldadas em calotas de acrílico. Um curta-metragem, selecionado no canal Arte1 sobre seu trabalho, uma gota espelhada e um backlight da lua complementam a exposição, oferecendo ao público uma experiência visual e sensorial única.

Vera Reichert, exibe também criações inéditas, especialmente concebidas para este evento: instalações interativas que convidam o público a mergulhar literalmente na arte e no pensamento da artista, proporcionando uma experiência imersiva e transformadora. “Espelhos D’Água” não apenas encanta visualmente, mas também convida à conscientização sobre a importância da preservação e do uso responsável das fontes e mananciais de água em nosso planeta. Por meio de sua pesquisa visual, Vera Reichert nos lembra da fragilidade e da beleza desse recurso hídrico, instigando-nos a refletir sobre nossa relação com a natureza e as futuras gerações. Não perca a oportunidade de mergulhar nessa experiência única!

Até 16 de junho.

Exposição de Juan Cerón no Brasil

25/abr

 


Exposição de fotografías do espanhol Juan Cerón inaugurada  no Instituto Cervantes de São Paulo faz uma abordagem ao romance “Dom Quixote” em comemoração ao mês do livro. A exposição recebeu o título de “Anaqronías”. Após um longo processo de conceitualização e diferentes trabalhos que lhe permitiram avançar artisticamente,  “Anaqronías” é seu segundo projeto pessoal, cujo percurso o levou a expor em vários países de três continentes, como Espanha, Itália, Reino Unido, Alemanha, China, México, República Dominicana chegando, finalmente, ao Brasil.
Trata-se de uma interpretação fotográfica contemporânea baseada em um estudo documentado do romance “Dom Quixote”, de Miguel de Cervantes, como explica Juan Céron: “Tentei resgatar dos recantos mais profundos da obra aqueles personagens de caráter secundário, terciário, imaginário…e trasladá-los para a realidade fotográfica, dotando-os de uma anacronia, de um elemento anacrônico sempre relacionado ao papel do personagem no romance, que nos leve da imagem pictórica inicialmente pretendida a uma imagem atual, de nosso tempo, brincando assim com a anacronia como um erro estético necessário e intencional”. Sob esquemas de luz e composição inspirados nos mais destacados pintores do realismo barroco do século XVII – Caravaggio, Bernini, Rembrandt, Vermeer, Ribera – “Anaqronías” assume o duplo desafio de confrontar, por um lado, o romance mais importante de todos os tempos com o rigor e o respeito que merece e, por outro, dar forma e figura a uma série de personagens dos quais, em alguns casos, não há nenhuma evidência documental através de pinturas, desenhos ou gravuras e que permaneceram encerrados no romance, esperando pacientemente por mais de 400 anos.

Sobre o artista
Juan Cerón (Bochum, 1973). O artista entra em contato com o mundo da fotografia no início de 2007, quando, tendo em suas mãos sua primeira câmera DSLR, entende a fotografia como um poderoso instrumento de comunicação visual e criação artística, com o qual, além de poder capturar o momento, ele pode ser abordado através de uma história para contar e compartilhar. De formação principalmente autodidata, desde 2015 tem realizado várias exposições individuais com seu primeiro trabalho fotográfico “Onde Habita o Esquecimento”, pelo qual foi pré-selecionado para fazer parte de uma representação de artistas no âmbito do PhotoEspaña. Participou como palestrante de diversas conferências e oficinas em muitos espaços culturais espanhóis e internacionais, bem como congressos de fotografia contemporânea. Fez parte do júri para a EGADE Business School de Monterrey (México).
Até 1º de junho.