Antônio Obá na Pina Contemporânea

21/jun

 

Revoada

A exposição de Antonio Obá Galeria na Praça, da Pina Contemporânea, Luz, São Paulo, SP, em cartaz até 18 de fevereiro de 2024, olha para a trajetória do artista que, em vinte anos de carreira, difundiu suas obras em coleções públicas e privadas no Brasil e no exterior. Seu trabalho é constituído por três importantes pilares, que conduzem a narrativa da exposição: a rememoração de acontecimentos históricos, a atribuição de novos significados a esses episódios e o processo educativo. A exposição “Antonio Obá: Revoada” é patrocinada pela Livelo, na cota Apresenta e tem curadoria de Ana Maria Maia e Yuri Quevedo.

A instalação e as crianças

A exposição apresenta um conjunto de pinturas com temáticas voltadas para a infância, e uma instalação inédita (Revoada), pensada a partir do contexto do museu – a Pinacoteca nasceu originalmente para ser uma escola. A obra consiste em 200 pares de mãos de crianças moldadas em resina em oficinas oferecidas pelo artista na Ocupação 9 de Julho (Movimento Sem Teto do Centro), em duas escolas particulares e no ateliê da Pina Contemporânea.

Além da instalação, 20 pinturas se organizam a partir do tema da infância e de um movimento vertical, muito presente no trabalho de Obá. No percurso de revisitar momentos da história, o artista inscreve a tragédia e a violência em um tempo mítico, transformando os personagens históricos em entidades, arquétipos que podem rever sua posição na própria história.

A infância em “Antônio Obá” não é ingênua. As crianças-personagens do artista são agentes do seu tempo, conscientes e capazes de transformar o mundo.

Sobre o artista

Antonio Obá nasceu em Ceilândia, Brasília, DF, em 1983. Foi professor de artes para crianças por muitos anos e seu projeto de individual parte da perspectiva da educação. O artista participa de exposições coletivas e individuais desde 2001, com um trabalho que maneja história e universo simbólico, alinhavando linguagens e experiências próprias. Suas últimas exposições incluem Path, Oude Kerk, Amsterdam; Antonio Obá: Fables, X Museum, Pequim (2022); Carolina Maria de Jesus, um Brasil para os brasileiros, IMS Paulista, São Paulo (2021); Enciclopédia Negra, Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo (2021). Hoje, Obá vive e trabalha em Brasília, DF.

Exposição de Mira Schendel

20/jun

A Galatea, Jardins, São Paulo, SP, apresentará a exposição “Mira Schendel:Toquinhos”, que será inaugurada no dia 28 de junho, às 18h. A mostra, em cartaz até 19 de agosto, conta com texto da curadora e crítica de arte Lisette Lagnado e reúne, pela primeira vez, um conjunto tão abrangente de obras – cerca de 60 – que compõem a série “Toquinhos”, produzida por Mira Schendel (1919-1988) principalmente entre 1972 e 1974. São trabalhos que se inscrevem no contexto das múltiplas experimentações com o papel de arroz japonês realizadas por Mira, após ter sido presentada pelo amigo Mario Schenberg, crítico de arte e importante físico brasileiro, com uma enorme quantidade desse material. A série “Monotipias”, produzida principalmente entre 1964 e 1967 e composta por cerca de dois mil desenhos, abre toda uma sequência de criações com o papel japonês que se desdobra, ainda, em trabalhos como as “Droguinhas” e os “Trenzinhos”, produzidos na segunda metade da década de 1960, e os “Objetos Gráficos”, realizados sobretudo entre 1967 e 1973.

Os “Toquinhos” aqui apresentados, vale ressaltar, diferem dos “Toquinhos” que consistem em pequenos retângulos de acrílico colados sobre placas transparentes também de acrílico, produzidos mais ou menos na mesma época (primeira metade da década de 1970). Entre as séries homônimas, os decalques de letraset são o elemento comum. A artista passa a utilizá-los sobretudo a partir da série “Objetos Gráficos”, cujas obras são compostas por folhas de papel de arroz repletas de rabiscos, traçados, rasuras, tipos datilografados e letraset inseridas entre duas placas de acrílico suspensas por fios de nylon e dispersas no espaço, longe das paredes, jogando com a luz, o dentro e o fora, a frente e o verso. Progressivamente, o desenho, a escrita cursiva e a rasura passam por um processo de síntese no trabalho de Mira, chegando ao que o ensaísta alemão Max Bense chama de “reduções gráficas”.

Nos “Toquinhos”, tais reduções são notáveis. A artista cria camadas colando sobre o papel japonês recortes geométricos (tingidos ou não) do mesmo papel, normalmente acompanhados de sinais de pontuação e letras. Ao ser questionada, em 1975, pela jornalista Norma Couri: “Por que letras?”, Mira responde: “São o pré-texto ou o pretexto do pós-texto”. Comentando tal diálogo, o teórico Geraldo Souza Dias afirma, em sua monografia sobre a artista intitulada “Mira Schendel: do espiritual à corporeidade” (2009): “A completa redução da forma a círculos e retas, desenvolvida nos tipos sem serifa da fonte Futura, a preferida da artista, permite considerar a relevância ótica das letras enquanto elementos de um conjunto. Nos trabalhos de Mira, o significado original dos sinais caligráficos – letras e números – transforma-se pela ação da letra autocolante, assumindo um caráter novo, puramente plástico.”

Acervo Aberto

16/jun

A trajetória de um ícone da arte urbana ao alcance das mãos. Ozeas Duarte (a.k.a. OZI) abre a ação/exposição Acervo Aberto, sob curadoria de Katia Lombardo, como parte do Projeto Desloca, no Studio Alê Jordão, Comendador Miguel Calfat, 213, Itaim Bibi, São Paulo, SP, apresentando – até 01 de julho – por volta de 150 obras entre pinturas, esculturas, ready made, serigrafias e matrizes originais de stencil.

O ser humano alcança momentos de ruptura, ou mudanças, em sua trajetória e essa ocasião, mais uma vez, apresentou-se para OZI. Seus 35 anos ininterruptos de ação tornam o momento autoexplicativo. O artista está em processo de mudança de ateliê e, como resultado de uma área menor, escolheu oferecer ao público a possibilidade de aquisição de obras de séries reconhecidas e conhecidas, bem como trabalhos pouco mostrados e, como destaque, as matrizes de stencil, por ele utilizadas.

A exposição, pensada em conjunto pelo artista e curadora exibe, em ordem cronológica, os inúmeros trabalhos e técnicas utilizados durante as décadas de criação e participação intensa no circuito de Arte Urbana. Artista inquieto e questionador, OZI está sempre à procura da “outra”, da “nova” técnica que pode aprimorar sua forma de registros. Mais ou menos cor; menos ou mais detalhes… tudo vai depender da forma que a vida estiver se apresentando naquele momento. OZI não é um criativo alienado ao presente. Ele expressa o hoje! Como prova dessa característica, o último módulo de OZI – Acervo Aberto é “Degustação” onde são exibidas novas pesquisas e obras inéditas. O viés cáustico e desafiador vem como bônus! O container “Proibidão”, com restrição etária por seu conteúdo, coloca a vista trabalhos polêmicos que já causaram embates com marcas mundiais, questionadas e provocadas pelo artista em algum momento de sua trajetória. Acervo Aberto possui obras criadas desde os anos de 1980 até os dias atuais. Muitos deles, além de participação em mostras emblemáticas de Arte Urbana, já foram exibidas internacionalmente em países como Argentina, Austrália, Estados Unidos, França, Suíça, além de cidades e capitais pelo Brasil.

A possibilidade de ter contato com as “mascaras matrizes de stencil” é única. “Essas “máscaras, matrizes” carregam a memória e a gestualidade das várias obras que são feitas a partir delas, trazendo uma sobreposição de tintas e cores que foram usadas nas pinturas”, explica a curadora.

“Com essa ação, abro a possibilidade das pessoas possuírem momentos de minha trajetória e fazer parte da minha história no circuito de arte urbana”.   OZI.

Ativações

OZI – Acervo Aberto possui uma agenda de ativações, para convidados, como parte do Projeto Desloca

Dia 17 de junho – sábado – das 11 às 18hs.

Visitas guiadas com OZI, Katia  Lombardo e a artista convidada Simone Siss durante o período.

Dia 18 de junho – domingo – das 12 às 14hs

Brunch com roda de conversa em que participam OZI, Katia Lombardo, os artistas Simone Siss e Alê Jordão e o galerista e curador Baixo Ribeiro

Arte e Arquitetura

15/jun

Linear, robusta e de leveza singular, a Galeria Origami CASACOR, Conjunto Nacional, Avenida Paulista, 2073, foi projetada por Gabriel de Lucca, arquiteto à frente do escritório GDL Arquitetura. Com 192m², a galeria possui predominância da madeira e do concreto em perfeito diálogo com o edifício. O percurso arquitetônico começa num amplo corredor linear paralelo a um labirinto, que distribui e organiza os trajetos de toda área expositiva sem necessariamente ditar sua exploração.

A escada é um dos destaques do espaço. Sua forma faz alusão ao Tsuru (ave sagrada e um dos mais tradicionais origamis da cultura japonesa) e o elemento construtivo convida o visitante a descobrir um mirante que permite uma vista sem obstruções do que acontece no seu entorno. De forma equilibrada, o invólucro arquitetônico se destaca entre as obras e peças que enfatizam e valorizam o design e a arte nacional. Cada seccionamento do projeto foi pensado para obter uma condicionante visual diferente, explorando cheios e vazios, permitindo a percepção de caminhar dentro de um quadro.

Todas as obras dos artistas mencionados estarão à venda durante o período da mostra e parte das vendas serão revertidas para o Instituto Tomie Ohtake e o Instituto Rubem Valentim. Os interessados podem realizar a compra e buscar por mais informações no próprio espaço. Os valores começam em R$ 6 mil podendo chegar até R$100 mil.

A CASACOR São Paulo, principal evento da mais completa mostra de arquitetura, paisagismo, arte e design de interiores das Américas segue até 06 de agosto, no Conjunto Nacional, com o tema Corpo&Morada. A proposta da 36ª edição é trazer novas leituras e abordagens para tratar de grandes questões do nosso tempo como inclusão, diversidade e sustentabilidade. Os profissionais do elenco 2023 apresentam projetos em referência à pele em que habitamos, além daquela do corpo, a da casa e a do planeta.

Esse ano, assim como nos anteriores, a CASACOR São Paulo manterá sua agenda de visitação programada, onde o visitante deve escolher o dia e a hora em que deseja visitar a mostra e, no ato da compra, atentar a esse detalhe, pois haverá tolerância máxima de 15 minutos para entrada no evento. A venda de ingressos acontece por meio do aplicativo CASACOR, no site oficial da mostra ou na bilheteria do evento mediante disponibilidade. A CASACOR São Paulo 2023 tem patrocínio master Deca, patrocínio Coral, parceira de tecnologia LG, patrocínio local Duratex e Casa Riachuelo, banco oficial Banco BRB, carro oficial Peugeot, apoio local Portinari e Savoy, fornecedores oficiais The Bar e Vivo Fibra, seguradora oficial Pottencial Seguradora, mídia partner oficial Veja e hotel oficial Radisson Oscar Freire.

Até 06 de agosto no Conjunto Nacional, Avenida Paulista, 2073.

Luiz Martins na Galeria BASE

14/jun

“toda manifestação estética forma, de uma maneira ou outra, uma parte significativa da sensibilidade humana”  L.M.

A BASE, galeria de Daniel Maranhão, Jardim Paulista, São Paulo, SP, inaugura a exposição “Passos ao Passado”, do artista multimídia Luiz Martins, com texto crítico de Agnaldo Farias. A mostra é composta por 21 obras inéditas desenvolvidas nos últimos dez anos, em papel, tela e mármore, resultantes de sua pesquisa em sítios arqueológicos das regiões Nordeste, Centro Oeste e Sul do Brasil. A abertura é no dia 17 de junho – sábado – às 12hs. Em exibição até 05 de agosto.

Luiz Martins volta a investigar os vestígios gráficos dos povos indígenas como fonte iconográfica primordial para sua série Ingá, oferecendo uma leitura visual livre sem tentar interpretar suas significações. Nas pinturas, utiliza tinta acrílica em combinações de tons e cores clássicas como corpo principal, sobrepondo-se a massas aquareladas circulares. A dinâmica do grafismo está presente, mas não determinante, fazendo com que formas se apresentem durante a construção das cores estabelecida por uma tradição plástica, conforme explica o artista. Para ele, esse encontro é uma sucessão de desencontros na elaboração estética e formal de cada obra com liberdade de transformação.

O trabalho de Luiz Martins desafia o espectador com enigmas visuais e conceituais. Suas esculturas de discos de mármore claro e granito escuro, perfurados e sustentados por hastes circulares de madeira, despertam curiosidade. Esses discos não apenas ficam em pé, mas também sugerem a possibilidade de rolar sobre seu eixo, deixando sulcos em um chão macio. “Que escultura/engrenagem é essa, proposta pelo artista? Seria aparentada com uma mó, com o mostrador de um relógio?”, acrescenta Agnaldo Farias.

Para Daniel Maranhão, “o uso do mármore pelo artista é um desdobramento da imensa escultura executada em 2022, oportunidade na qual Luiz Martins instalou uma obra em uma praça pública, em Portugal (uma encomenda do Governo Português, para homenagear os 500 anos do Descobrimento do Brasil). Para tanto, Martins fez uso de um monobloco de mármore  com cerca de 4 toneladas. Na mostra a ser inaugurada, o mármore e granito voltam à sua pesquisa.”.

Além das esculturas circulares, a mostra exibe pinturas e colagens explorando formas irregulares, achatadas e fragmentadas, evocando objetos antigos como lemes de barcos, foices e enxadas. Algumas obras apresentam esses feitios isolados em grande escala, enquanto outras compõem uma coleção de formas, assemelhando-se a um catálogo de maravilhas inventadas. Destaca-se uma grande pintura azul, com um horizonte suspenso atravessado por retículas, totens e monolitos, provocando questionamentos sobre seu propósito e significado. A dualidade também está presente nas pinturas com círculos desenhados à mão, criando uma ilusão de geometria em estágio embrionário, desafiando a percepção e as noções de ordem e forma. A arte enigmática e intrigante de Luiz Martins convida a explorar os mistérios do desconhecido, refletindo sobre as complexidades da existência e da criação.

Segundo Daniel Maranhão, responsável pela expografia e curadoria das obras, “a mostra ocupa os dois pavimentos da BASE. Além da série “Ingá”, prevalecente na exposição, somam-se dois conjuntos inéditos da série “Carolina Maria de Jesus” que são trabalhos expansíveis que permitem diversas montagens e um grande políptico de 46 partes, da já consagrada série “Não está no Dicionário”.”

“As obras de Luiz Martins levam a pensar que o nascimento da linguagem implica no nascimento do mundo, tanto na representação das coisas existentes quanto na prefiguração das inexistentes, daquelas a serem inventadas ou aperfeiçoadas.”   Agnaldo Farias

Obras de Babinski em exibição

O MAM, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, apresenta até 13 de agosto, a recente aquisição de mais 20 obras de Maciej Babinski. O artista está entre os grandes de sua geração e o presente conjunto enriquece nosso acervo. Como as gravuras trazem detalhes, narrativas e vários acontecimentos, os públicos que frequentam o MAM têm agora a possibilidade de investigar cada detalhe das obras com o auxílio de lupas disponibilizadas pelo museu.

Maciej Babinski nasceu em Varsóvia, Polônia, em 1931. Com a Segunda Guerra Mundial foi para a Inglaterra, depois Canadá, até se fixar no Brasil, em 1965. No Rio de Janeiro, aproximou-se de diversos artistas, entre eles Oswald Goeldi. Foi também professor na Universidade de Brasília e lecionou na Universidade Federal de Uberlândia, MG. Viveu em São Paulo por oito anos, onde frequentou a Escola Brasil. Atualmente vive em Várzea Grande, no Ceará. Seus deslocamentos e o convívio com manifestações da vanguarda marcam a sua trajetória.

As peças que o MAM acaba de receber são de períodos diversos: há exemplares dos anos de 1950, 1960, 1970 e 1980, além de um significativo conjunto realizado nas duas primeiras décadas do século 21. A mais antiga foi realizada em 1955, momento em que o artista desenvolveu obras abstratas. Sua gravura dos anos de 1960 aborda indiretamente o ambiente de tensão presente durante a ditadura militar. Se em algumas gravuras há traços expressivos, em outras, feitas entre 2009 e 2014, afloram seu imaginário e suas fantasias. Em alguns dos trabalhos das décadas de 1970, de 1980 e de 2010 paisagens naturalistas e formas vegetais são perseguidas pelo artista com traços singulares e autorais. Ao mesmo tempo, figuras humanas, ora mais geometrizadas, ora mais oníricas, aparecem em narrativas em que o animalesco, cenários complexos e personagens inusitados se intercalam.

O conjunto representa a variedade de estilos e técnicas usadas pelo artista, passando pela xilogravura e com ênfase na gravura em metal. Trata-se de uma seleção representativa e generosa, feita pelo próprio Babinski, de sua fecunda obra.

Cauê Alves

Thiago Honório na Galeria Luisa Strina

13/jun

A Galeria Luisa Strina, Cerqueira César, São Paulo, SP, apresenta “Oração”, segunda exposição do artista Thiago Honório, com curadoria de Ana Paula Cohen.

Em “Oração”, Thiago Honório ocupa o espaço expositivo da galeria – sediada no andar térreo de um edifício comercial, em formato U ou ferradura – considerando o corpo arquitetônico e os deslocamentos do corpo do espectador em seu interior como texto, oração, conjunto linguístico que se estrutura em torno de um verbo. Na experiência de “Oração”, os trabalhos se pulverizam pelo espaço da galeria como signos gráficos, vírgulas, pontos estelares que tomam a arquitetura como texto.

Texto quer dizer Tecido; mas enquanto até aqui esse tecido sempre foi tomado por um produto, por um véu todo acabado, por trás do qual se mantém, mais ou menos oculto, o sentido (a verdade), nós acentuamos agora, no tecido, a ideia gerativa de que o texto se faz, se trabalha através de um entrelaçamento perpétuo; perdido neste tecido – nessa textura – o sujeito se desfaz nele, qual uma aranha que se dissolvesse ela mesma nas secreções construtivas de sua teia. Se gostássemos dos neologismos, poderíamos definir a teoria do texto como uma hifologia (hyphos é o tecido e a teia da aranha).

A partir dessa noção de texto, na exposição a oração é concebida como constituinte sintático, coordenado ou subordinado, geralmente dotado de verbo, e também como litania, sob forma de meditação; reza; prece litúrgica enunciada nas horas canônicas ou na missa; como fala; ou, ainda, conjunto de palavras ordenadas segundo normas gramaticais, proposição, sentença, uma frase.

No trajeto proposto por “Oração”, é possível vislumbrar uma narrativa fraturada, aberta, a um só tempo fragmentada e suspensa, marcada por hiatos, intervalos, cortes, vazios e silêncios. Ao considerar a planta da Galeria Luisa Strina, a noção de planta no pensamento desta exposição adquiriu outros sentidos a partir de alguns elementos presentes nos trabalhos: o ramo de algodão, a rosa do rosário, a estaca para plantar, rebento, a planta arquitetônica, traçado, mapa, diagrama, a planta do pé. A mostra foi pensada como trama e também como uma espécie de exposição-procissão. Em julho, ela se desdobrará em Texto, operação a ser realizada na Capela do Morumbi, em São Paulo.

Até 24 de junho.

Lulla & Piero Gancia

12/jun

A Luste, Atelier Editorial & Multimídia, Edifício Itália – Circolo Italiano San Paolo – Lobby Térreo, República, São Paulo, SP, em parceria com o Grupo Comolatti, exibe imagens que ilustram o livro “Lulla & Piero Gancia – No Grande Prêmio da Vida”, de autoria de Carlo V. Gancia, em 8 backlights de grande formato, com 28 fotografias, como um tributo ao intenso e profundo sentimento que unia o casal. A curadoria é de Marcel Mariano e Serena Ucelli. No livro, o autor narra uma passagem da história da imigração italiana no Brasil, com ênfase na chegada da Família Gancia na década de 1950 e sua influência no estilo de vida da época.

Lulla & Piero Gancia, com denso vigor e atuação no circuito cultural paulistano e forte ligação com as pistas, estabelecem novos parâmetros e deixam sua marca na vida contemporânea da cidade com uma visão vanguardista em todos os setores a que se dedicam. O casal era movido tanto pelo amor que os unia como pelas paixões com que abraçavam suas metas e causas. Amavam o Brasil, país escolhido por eles para viver e criar os três filhos – Kika, Carlo e Barbara -, os vinhos e o automobilismo. Nas palavras de Carlo Gancia, “Lulla & Piero Gancia – No Grande Prêmio da Vida” – é um livro a ser lido para se saber como acaba. Garanto que a vida dos dois é uma epopéia a ser saboreada tanto pelos percalços que sofreram mas também pelas lindas coisas que criaram”.

De 12 de junho a 12 de julho.

Primeiro ano da Galatea

 

 

A Galatea, Jardins, São Paulo, SP, completou no dia 10 seu primeiro ano! Estamos muito felizes com tudo o que construímos e compartilhamos nos doze meses que se passaram.

Seguimos levando à frente nossa proposta de trabalhar tanto com novos talentos da arte contemporânea quanto com artistas consagrados do cenário artístico nacional, além de promover o reposicionamento de artistas históricos eclipsados pela histografia da arte e pelo mercado. Buscamos, assim, fomentar e agregar culturas, temporalidades, estilos e gêneros distintos, em uma rica fricção entre o antigo e o novo, o canônico e o não-canônico, o erudito e o informal.

Artistas representados

Hoje, contamos com um conjunto diverso de artistas representados, provenientes de diversas regiões do país, inscritos em diferentes gerações e que transitam por linguagens variadas, desde a pintura até a instalação. Por ordem de anúncio, são: Allan Weber (Rio de Janeiro, RJ, 1992), José Adário (Salvador, BA, 1947), Marilia Kranz (Rio de Janeiro, RJ, 1937-2017), Aislan Pankararu (Petrolândia, PE, 1990), Daniel Lannes (Niterói, RJ, 1981), Carolina Cordeiro (Belo Horizonte, MG, 1983) e Miguel dos Santos (Caruaru, PE, 1944).

Feiras

Participamos, desde o início, de importantes feiras nacionais e internacionais com projetos que, vistos em conjunto, traduzem bem a nossa proposta. Foram eles: o estande Tramas brasileiras na SP-Arte Rotas Brasileiras, em agosto de 2022; Chico da Silva: mitologias brasileiras na Independent 20th Century, em Nova York, em setembro de 2022; Allan Weber: Traficando arte na ArtRio, em setembro de 2022; o estande na SP-Arte, em abril de 2023; o estande com o projeto solo da artista Beatrice Arraes na ArPa, em São Paulo, em junho de 2023.

Exposições

Seguimos levando à frente nossa proposta de trabalhar tanto com novos talentos da arte contemporânea quanto com artistas consagrados do cenário artístico nacional, além de promover o reposicionamento de artistas históricos eclipsados pela histografia da arte e pelo mercado. Buscamos, assim, fomentar e agregar culturas, temporalidades, estilos e gêneros distintos, em uma rica fricção entre o antigo e o novo, o canônico e o não-canônico, o erudito e o informal.

A próxima exposição, com abertura no dia 28 de junho, apresentará uma seleção abrangente da série Toquinhos, produzida por Mira Schendel principalmente entre 1972 e 1974. Continuaremos a todo vapor e muito animados com todas as novidades que em breve serão compartilhadas!

Agradecemos imensamente a todos que colaboraram conosco e acompanharam a nossa trajetória.

Representação ousada feminina

07/jun

A exposição “Teresinha Soares: um alegre teatro sério” é o atual cartaz – até 29 de julho – da galeria Gomide&Co, Paulista, São Paulo, SP. Com organização de Luisa Duarte, apresenta um conjunto de obras entre desenhos, pinturas e gravuras da intensa trajetória da artista mineira pelos anos 1960 e 1970. A exposição conta ainda com textos inéditos de Lilia Schwarcz e de Julia de Souza. Inserida no contexto repressor da ditadura militar brasileira, a artista ousou a representar temas feministas e de gênero, por um viés do erótico e de grande contestação das relações do corpo com os costumes morais, o consumo e a máquina política.

“Minha arte é realista precisamente porque condeno os falsos valores de uma sociedade a que pertenço. Realista e erótica, minha arte é como a cruz para o capeta” – Teresinha Soares

O aspecto ousado está tanto na temática quando no tratamento formal empregado pela artista, com traços e cores que transitam e se relacionam com os movimentos artísticos da época, como a arte pop, o noveau réalisme e a nova objetividade brasileira.

“Em “Um alegre teatro sério”, trabalho que dá nome à exposição, o corpo feminino aparece duplicado – ora mais curvado e talvez reprimido; ora expansivo e sem amarras. Frases como “de luz apagada”, que aparece logo abaixo de um abajur iluminado, ou “há os outros naturalmente” e “recebe até na cama e o governado” contracenam com rostos que se beijam e o que parece ser uma máscara de teatro. A obra faz pensar no teatro da corporalidade feminina, sujeita a tantas proibições, jogos de simulação e não ditos. Permite introduzir também o imaginário erotizado dessa artista numa súmula bem-feita e que faz performance dentro e fora das telas” – trecho do texto de Lilia Schwarcz para exposição.

Antes de ser artista, Teresinha Soares foi a primeira vereadora eleita em sua cidade natal, Araxá, onde foi também miss e professora. Além de artista, é também escritora e ativista dos direitos da mulher e ambiental.   Nos últimos anos, seu trabalho tem sido revisto e reinscrito na história da arte brasileira, tendo participado de importantes exposições coletivas.

O seu olhar feminista e libertário, a sua capacidade de aliar eloquência formal de energia contestatória, nos endereçam uma obra munida de singular atualidade para pensarmos os caminhos da arte e os desafios políticos da contemporaneidade.

Sobre a artista

Teresinha Soares nasceu em Araxá, Minas Gerais, em 1927. Mudou-se para Belo Horizonte no início da vida adulta, onde iniciou sua carreira artística. Participou de três Bienais de São Paulo (1967, 1971 e 1973) e realizou as exposições individuais “Amo São Paulo” (1968), na Galeria Art-Art, São Paulo, e “Corpo a Corpo in Cor-pus Meus” (1971), na Petite Galerie, Rio de Janeiro. Seu trabalho vem sendo revisitado e inscrito na história da arte brasileira, tendo recentemente feito parte de grandes exposições no Brasil e internacionalmente, como “The World Goes Pop”, na Tate Modern (2015), “Radical Women: Latin American Art”, 1960-1985, no Hammer Museum (2017), Brooklyn Museum (2018), e na Pinacoteca do Estado de São Paulo (2018). Em 2017, o MASP realizou a sua primeira exposição retrospectiva em 40 anos: “Quem tem medo de Teresinha Soares?”.