Brecheret em exposição homenagem

06/jun

O Liceu de Artes e Ofícios, Luz, São Paulo, SP, comemora 150 anos com exposição – até 12 de agosto – em homenagem a Victor Brecheret. A mostra, que discute a escala das obras produzidas por um dos alunos mais ilustres da escola, tem curadoria de Fernanda Carvalho e Ana Paula Brecheret, neta do artista.

Um dos principais centros de ensino da cidade de São Paulo, o Liceu de Artes e Ofícios comemora 150 anos em 2023 e, para celebrar a data, homenageia um dos seus principais e mais ilustres alunos, o escultor Victor Brecheret. Intitulada Victor Brecheret: o mestre das formas, e realizada em parceria com o Instituto Victor Brecheret, a mostra apresenta a trajetória de um dos maiores nomes da escultura do país e do mundo. Com curadoria de Fernanda Carvalho e co-curadoria de Ana Paula Brecheret, neta do artista, a mostra será aberta ao público no dia 20 de maio no Centro Cultural Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo.

Nascido na Itália, Brecheret emigrou para o Brasil ainda nos primeiros anos de vida. Um dia, caminhando pelo Viaduto do Chá, enquanto ainda trabalhava consertando sapatos com a família, o jovem Victor Brecheret – na época com 15 anos – achou um jornal que publicara uma foto de uma escultura do francês Auguste Rodin, e percebeu ali, naquele momento, que era aquilo que gostaria de fazer, comentando com sua tia, que o levou até o Liceu e o matriculou no curso de Desenho e Modelagem, onde estudou por dois anos. Assim nascia uma profícua relação que formaria um dos mais geniais artistas brasileiros. Foi lá que teve os primeiros contatos com a escultura, e esse período na escola serviu como base para que depois o artista fosse estudar em Roma, e se tornasse um dos principais nomes responsáveis pela introdução da escultura brasileira no movimento modernista internacional. Ao longo de sua profícua carreira, Brecheret transitou entre as cidades de São Paulo, Paris e Roma.

A exposição, que ocupa o primeiro pavimento do Centro Cultural Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, reúne 14 obras de coleção particular, divididas em seis núcleos, datadas entre as décadas de 1910 e 1950. Nela, a curadoria busca discutir a escala das obras produzidas pelo artista ao longo de sua trajetória.

“Brecheret aproveitou-se de muitas tradições do fazer e de diversos materiais, executando desde obras monumentais com mais de trinta figuras de 6 metros de altura cada até pequenas peças representando dançarinas voláteis, mitos polivalentes e paixões estilizadas”, afirma Fernanda Carvalho.

Em “Victor Brecheret: o mestre das formas” o intuito é elucidar as contraposições trabalhadas pelo escultor. Segundo a curadoria, “a ideia é percorrer o amplo arco temático da produção do artista que dialogou com o sagrado e o profano, o masculino e o feminino, o oriente e o ocidente, a cultura dos povos originários e a mitologia, apresentadas em obras multiformes e de diferentes épocas históricas”.

Dividido em 6 núcleos – “Núcleo Modernidades – Figura de convite”, “Núcleo Vanguardas”, “Núcleo Memórias”, “Núcleo Modernismos – Contextos”, “Núcleo Tecnologia” e por fim, “Núcleo Múltiplas sintaxes” – o percurso expositivo da exposição propõe exames breves, mas densos de aspectos emblemáticos da trajetória do escultor a partir de suas próprias peças. Neles, os visitantes encontrarão memórias pessoais, iconografias, réplicas digitais, e a manipulação de materiais envoltos, cada qual, em ambientações cenográficas criadas especialmente para eles.

O Núcleo Modernidades – Figura de convite, propõe um diálogo entre peças produzidas por Brecheret e outros artistas modernistas, como Jean Baptiste Houdon, por meio de um podcast criado pelas curadoras, com conversas imaginárias e emocionais que aproximam os personagens expostos; como a obra Dama Paulista (Retrato de Dona Olivia Guedes Penteado), de Brecheret, e Diana, deusa da Caça, de Houdon. Na conversa roteirizada pela curadoria, ambas mulheres moraram em Paris e se encontram acidentalmente e, num tom divertido, começam a discorrer sobre o modernismo e outras afinidades que as aproximam.

No Núcleo Vanguardas, os visitantes terão contato com experimentações artísticas do escultor. Ali, o público encontra peças como Beijo (1930), Dançarina (1920), Banho de Sol (1930), entre outros, e peças de mobiliário que preservam a intimidade do artista. O Núcleo Memórias, traz arquivos sonoros e fílmicos entremeados de depoimentos pessoais de membros da família do artista, além de documentações das passagens do escultor por Roma, Paris e São Paulo.

O acervo histórico do Liceu de Artes e Ofícios pode ser encontrado no Núcleo Modernismos – Contextos, que ilustra diversos contextos nos quais obras do artista foram inseridas, com arquivos do final do século XIX e início do século XX, e entre as décadas de 1910 e 1950. O eixo apresenta Novos cânones: exemplos emblemáticos de modernismos possíveis, onde o público encontra Pietá (1912-1913), única peça esculpida em madeira por Brecheret, e Virgem Indígena (1950), esculpida em gesso patinado, Beijo (1930), feita de bronze polido, e Veado Enrolado (1947-1948), cuja técnica é pedra rolada pelo mar.

Em Núcleo Tecnologia, o espectador tem contato com réplicas digitais de obras icônicas em hologramas e sua magia. Peças como: Fuga para o Egito (1925-1929), Soror Dolorosa (1920), O Ídolo (1929), entre outras. Por fim, o Núcleo Múltiplas sintaxes leva ao Centro Cultural diversos elementos e ferramentas que foram utilizados pelo escultor ao longo de sua jornada, como o registro da matrícula de Brecheret no curso de Desenho e Modelagem, ferramentas originais usadas pelo artista, materiais usados pelo escultor, uma maquete do Monumento às Bandeiras, entre outros.

“Esta exposição, contemplando todas as fases do saber-fazer do escultor, é uma combinação de tributo da escola ao seu ilustre aluno ao mesmo tempo que uma homenagem de Brecheret aos 150 anos do Liceu”, comenta a curadora Fernanda Carvalho.

Sobre o Centro Cultural Liceu de Artes e Ofícios

O CCLAO encontra-se anexo ao Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, uma das instituições de ensino mais tradicionais do país, com mais de 145 anos de história e relevantes serviços prestados à cidade e à sociedade paulistana, na produção de propriedades industriais e bens culturais. Trata-se de um espaço de eventos lindo, moderno, elegante e multiuso, com 1.630 metros quadrados nos dois pisos, situado no tradicional bairro da Luz, bem no centro da capital paulista.

Sobre o Instituto Victor Brecheret

O Instituto Victor Brecheret (IVB), fundado em 18 de novembro de 1999, tem como objetivo realizar e promover pesquisas, estudos, consultorias, cursos, conferências, avaliações e implementações de projetos destinados à divulgação e incentivo de atividades artísticas e culturais relativas às artes e artistas plásticos em geral, especialmente à obra do escultor Victor Brecheret. Realiza exposições e eventos nacionais e internacionais por meio de doações, subvenções, incentivos fiscais ou outros mecanismos legais. Desenvolve trabalhos de documentação, certificação, catalogação, arquivo e editoração de livros, referentes à produção de obras de arte e cultura em geral. Apoia programas e intercâmbios educativos, sócios-culturais e de informação. O IVB desenvolve atividades culturais junto às empresas e organizações públicas e privadas. Estabelece mecanismos para captação de recursos para a consecução de seus objetivos, individualmente ou em colaboração com empresas e entidades públicas, particulares, nacionais e internacionais.

Artur Lescher no Instituto Artium

01/jun

O Instituto Artium de Cultura apresenta a exposição individual de Artur Lescher (São Paulo, Brasil, 1962), um dos artistas de maior destaque no cenário da arte contemporânea brasileira. Composta por cinco obras de grandes formatos, a mostra traz dois trabalhos concebidos especialmente para a exposição, inéditos ao público. A exposição fica aberta até o dia 23 de julho e a entrada é franca.

Conhecido por suas impecáveis esculturas pendulares, este recorte da produção do artista foi concebido em diálogo com a arquitetura do Palacete Stahl – construído em 1920 para abrigar o consulado da Coroa Sueca, mais tarde utilizado pelo Império do Japão, e agora sede do Instituto Artium, uma entidade cultural sem fins lucrativos.

Nesta mostra Artur Lescher busca colocar em diálogo a função original do edifício com a sua função contemporânea, que é a de espaço cultural, voltado para projetos de artes visuais. Para isso, apresenta trabalhos que dialogam diretamente com o entorno em que estão inseridos. Com esta relação entre os trabalhos e o espaço construído há mais de cem anos, o artista nos questiona: o que pode aparecer desse atrito e confronto de ideias e ficções extemporâneas?

Os destaques da montagem são as obras pendulares no salão principal, onde foi criada uma grande instalação de obras inéditas que conversam com trabalhos anteriores. Completando a ocupação do palacete, a obra “Elipse Piracaia” (2016), uma escultura de 3,50 metros, será instalada na área externa do Instituto Artium.

Há mais de 30 anos o paulistano Artur Lescher apresenta um sólido trabalho, resultado de uma pesquisa em torno da articulação entre matéria, forma e pensamento. São trabalhos que excedem o caráter de escultura e cruzam as linguagens da instalação e do objeto, a fim de modificar a compreensão destas e do espaço no qual se inserem. Ao mesmo tempo que sua prática está atrelada a processos industriais, sua produção não tem como único fim a forma.

Fortemente ligada aos processos industriais e alcançando extremo refinamento e rigor na mecânica das formas, a produção de Lescher vai além de uma investigação puramente formal. Autointitulado um construtor, ele é reconhecido pelo emprego de materiais como madeira e metais, tais como ferro, alumínio e cobre, que são trabalhados utilizando métodos semi-industriais, desenvolvidos a partir de uma gramática de formas para analisar as conexões entre a matéria, a obra e o espaço que ela habita.

Paulo Bruscky: Atitude Política

A exposição “Paulo Bruscky: Atitude Política”, com curadoria de Jacopo Crivelli Visconti, celebra a chegada de parte do acervo do artista à coleção do Instituto de Arte Contemporânea, IAC, Pacaembú, São Paulo, SP, e foi concebida a partir de pesquisas no infindável arquivo pessoal do artista, essa espécie de “Biblioteca de Babel” borgeana no Recife onde convivem e conversam cartas, obras, poemas, ideias do próprio Bruscky e de um número incalculável de outros artistas, de maneira análoga ao que acontece, de certa forma, no próprio IAC.

O eixo escolhido, em diálogo com o próprio artista, foi o da colaboração, apoio e afinidade do artista com colegas ao redor do mundo que enfrentavam, como ele, as ameaças e os perigos de regimes opressores.

A a abertura da exposição acontecerá no dia 03 de junho, sábado, das 11h às 15h. “Paulo Bruscky: Atitude Política” ficará em cartaz até o dia 05 de agosto.

A exposição tem o apoio da Galeria Nara Roesler, apoio institucional do Arquivo Paulo Brusky e o educativo é apoiado pelo Instituto Galo da Manhã. As atividades do IAC são amparadas pela Lei Federal de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura, Governo Federal.

Exibição de Ione Saldanha e Etel Adnan

29/maio

Encontra-se em cartaz na Simões de Assis, São Paulo, SP, até o dia 27 de julho a exibição conjunta de Ione Saldanha & Etel Adnan.

Ione Saldanha e Etel Adnan: Duas Coloristas

Ione Saldanha (1919-2001) e Etel Adnan (1925-2021) jamais se conheceram pessoalmente. Tampouco viram a obra uma da outra. Ione era brasileira e viveu quase a vida toda no Rio de Janeiro; Etel era libanesa e viveu entre Paris e São Francisco. Em 2012, a Documenta de Kassel dedicou uma sala à pintura de Adnan. Àquela altura eu preparava uma retrospectiva de Saldanha para o MAM-Rio, Fundação Iberê Camargo e MON. Surpreendeu-me imediatamente as afinidades entre as duas: a vibração da cor, a sensibilidade lírica, o contato poético com a natureza. Ambas fizeram da pintura um exercício de maravilhamento pautado nas composições cromáticas. Construção e natureza se reúnem e se potencializam nas suas poéticas.

Ambas trabalharam à margem dos movimentos de vanguarda, sem deixarem jamais de experimentar com as linguagens visuais. No caso de Adnan, o trabalho com a poesia e com a escrita caminhou paralelamente à produção pictórica. Seus Leporellos desdobram e integram escrita e pintura, concebendo em páginas sanfonadas, articuladas no espaço, uma caligrafia cromática singular. Saldanha foi densificando a matéria cromática sobre a tela até saltar para o espaço nas ripas, bobinas e bambus. Ambas viveram até o limite em uma zona de transição entre uma sensibilidade moderna que fazia da pintura um exercício de depuração da forma visual e uma urgência contemporânea que afirmava o trânsito entre linguagens, suportes e materialidades poéticas.

Nesta exposição, que ensaia um primeiro diálogo entre estas duas artistas, temos ainda a articulação de suas obras com a arquitetura brutalista e oxigenada de Paulo Mendes da Rocha. Volumes abertos integram a forma construída com o entorno natural, diálogo este muito caro a estas duas artistas que cresceram e viveram perto do mar, das montanhas e da luz natural. Quiçá seja a procura pelas variadas formas de deixar a luz penetrar no espaço, seja pictórico, seja arquitetônico, o que reúne esta casa e estas obras.

Por fim, a certeza de que a trajetória de Ione Saldanha merece ser cada vez mais vista, estudada e conhecida. Há nela essa capacidade única de juntar a experimentação com a linguagem pictórica e a desaceleração da percepção. Este diálogo franco com a pintura mais tardia de Etel Adnan, por mais pontual que seja, revela um lugar singular de ambas na história da arte da segunda metade do século XX.

Luiz Camillo Osorio

Exposição de Novíssimo Edgar

26/maio

A Gentil Carioca convida para a primeira exposição individual de Novíssimo Edgar, músico, compositor, poeta, artista visual e performer. A mostra “A Invenção do Espelho”, será na sede em Higienópolis, São Paulo, SP, e a abertura acontece neste sábado, dia 27 de maio, das 14h às 19h. O artista é um criador compulsivo e sua obra transborda autenticidade e liberdade, passando por diversos suportes e segmentos de pesquisas de metalinguagens e transmídia.

“A mostra foi concebida por Edgar como uma viagem, na medida do possível linear, por (…) referências, episódios, histórias e iconografias que o alimentam. Desfilam pelas salas da A Gentil Carioca desde episódios e personagens da mitologia grega até espíritos tailandeses, de iconografias indianas à releitura do mais célebre quadro holandês do século XVII, de máscaras rituais ao Guernica de Picasso.” – Jacopo Crivelli.

Até 11 de agosto

Os Três Franciscos

25/maio

O Museu de Arte Sacra de São Paulo (MAS.SP), Luz, São Paulo (ao lado da
estação Tiradentes do Metrô), uma instituição da Secretaria da Cultura e
Economia Criativa do Estado de São Paulo, inaugura a exposição “Fé, Engenho
e Arte – Os Três FRANCISCOS: mestres escultores na capitania das Minas do
ouro”, sob curadoria de Fabio Magalhães e museografia de Haron Cohen, onde
exibe – até 30 de julho – 65 obras dos mestres do barroco brasileiro: Antônio
Francisco Lisboa (Aleijadinho), Francisco Vieira Servas e Francisco Xavier De
Brito. Na mostra, com abertura no dia 27 de maio às 11hs, o MAS.SP
homenageia os expoentes das expressões barroca e rococó no Brasil, do século
XVIII, além de estabelecer um paralelo entre as obras desses três artistas que se
faz fundamental para a compreensão e apreciação da Arte Sacra Barroca
Brasileira. A exposição destaca esculturas e talhas, oferecendo ao público uma
experiência imersiva e enriquecedora.

Sobre os artistas
Antonio Francisco Lisboa (Aleijadinho) (1738 – 1814) – Nascido em Vila Rica
(atual Ouro Preto), é considerado um dos maiores expoentes da arte barroca no
Brasil. Pouco se sabe, com certeza sobre sua biografia, e sua trajetória é
reconstituída através das obras que deixou. Toda sua obra, entre talhas, projetos
arquitetônicos, relevos e estatuária, foi realizada em Minas Gerais. Sua
produção artística, apesar das limitações físicas decorrentes de uma doença
degenerativa, é notável pela expressividade e dos detalhes minuciosos.
Aleijadinho é conhecido principalmente por suas esculturas, com destaque para
os profetas do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do
Campo, e os doze apóstolos de Ouro Preto.

Francisco Vieira Servas (1720 – 1811) – escultor e entalhador português,
nascido em Eidra Vedra, foi um dos principais representantes da talha e do
barroco mineiro, deixando uma importante marca na Arte Sacra. Sua habilidade
técnica e a fusão de influências europeias com a sensibilidade local resultaram
em obras de grande beleza e expressividade. Suas esculturas revelam uma
devoção religiosa profunda, retratando santos, anjos e cenas bíblicas em
madeira e pedra.

Francisco Xavier de Brito (? – 1751) – entalhador e escultor português, com
local de nascimento desconhecido, foi responsável por importantes talhas de
igrejas do barroco mineiro. Ele contribuiu de maneira significativa para a Arte
Sacra Barroca Brasileira. Suas habilidades na arquitetura e no entalhe
complementam a exposição, apresentando ao público obras detalhadas e
distintas.

A visão do arquiteto
A materialização das linhas de um projeto expositivo em uma mostra de arte é
um desafio vencido a quatro mãos. Nele estão inseridos o conceito curatorial
que define as obras a serem exibidas e a forma, juntamente com a história, que
será contada de forma visual. É a memória que fica gravada na mente de quem
a vê. No conceito pensado por Haron Cohen para “Fé, Engenho e Arte – Os
Três FRANCISCOS: mestres escultores na capitanias das Minas do ouro”, o
primeiro espaço é uma sala branca onde, uma simulação do adro de Congonhas
do Campo reproduz com fidelidade, nas devidas proporções, a localização
original dos 12 Profetas criados por Aleijadinho. É um instante que sugere
calma.
Uma vez que o projeto concebido por Haron Cohen se propôs a criar uma Ouro
Preto dramática, com representações de desníveis, ladeiras e praças,
características do local. O toque diferenciado vem da idealização de um novo
conceito de “altar”. Como os três mestres viveram na mesma cidade, as suas
ruas se transformaram em altares para seus santos. Superfícies brancas
simulando ruas, com focos de luz para dar destaque ao etéreo, sugerindo
enlevação: “eu crio uma Ouro Preto cheia de ruas e de altos e baixos”, explica o
arquiteto.
Adentrar a sala principal oferece a dramaticidade proposta uma vez que o
caminho se inicia pela parte lateral de um “altar”, em formato longitudinal,
permitido pelo desenho do espaço expositivo. Ao seguir as ruas e desníveis da
cidade apresentada e acompanhar as 55 obras presentes, tem-se ao fundo, o
“Painel das 1000 cruzes”, com destaque para as de cor branca sobre um azul
denso que remete ao tom do céu de Ouro Preto, representando ascensão e
queda, por seu ângulo e direcionamento.
Na sequência, o espaço em vermelho e carmim, exibe peças não menos
representativas da Arte Barroca, dos mestres portugueses Francisco Vieira
Servas e Francisco Xavier de Brito, na mesma Ouro Preto de ladeiras e curvas,
onde viveram grande parte de suas vidas.

Um pouco da história
No período que abrange os séculos XVIII e XIX, período da ascensão e
declínio da mineração aurífera na Capitania das Minas de Ouro, diversos
arquitetos, entalhadores, escultores e pintores atuaram na região. Três
escultores de nome FRANCISCO se sobressaíram em comparação aos demais:
Antônio Francisco Lisboa (conhecido como Aleijadinho), sem dúvida
nenhuma, o grande escultor do Brasil Colônia, nascido em Vila Rica, Francisco
Xavier de Brito e Francisco Vieira Servas, ambos de origem portuguesa. Os
reis portugueses sempre sonharam com a possibilidade de ouro abundante na
vastidão das terras do Brasil. As descobertas espanholas no Vice-reino do Peru
fez com que incentivassem bandeirantes e aventureiros a realizarem incursões
por regiões que não lhes pertenciam a procura do precioso metal. Isso
contribuiu para que o território da colônia se expandisse e povoados foram
criados além das linhas do Tratado de Tordesilhas. O pensamento dos
bandeirantes era simples: se havia ouro na costa espanhola da América do Sul,
devia haver também no Brasil. Eles estavam certos. No século XVIII o Brasil
se transformou no maior produtor de ouro do mundo. A notícia se espalhou
com rapidez e gerou uma corrida tanto entre os habitantes locais como os de
Portugal. Todos foram em busca de riqueza e poder. Para garantir sua parte, o
rei de Portugal impôs regras rígidas: enviou milícias para vigiar a produção de
minérios e que também impediam o acesso à região das minas, sendo permitida
apenas com autorização real. Todos os caminhos eram vigiados para impedir o
contrabando. E, mesmo assim, parte considerável da produção escapava desse
controle. Uma nota de contextualização: fazem parte desse período conhecido
como “Civilização do ouro”, do final do século XVII, no meio do nada e
distante de tudo, o artista Antônio Francisco Lisboa, nascido em Vila Rica,
conhecido como Aleijadinho, Francisco Xavier de Brito e Francisco Vieira
Servas. O Rei D. João V tomou diversas medidas para controlar e assegurar o
envio do ouro para Portugal. Uma delas, em 1711, foi a proibição da entrada de
ordens religiosas na região das minas e obrigou a saída das que já estavam nos
locais buscando evitar a intervenção do poder da Igreja católica nos assuntos
auríferos do reino. Assim sendo, o trabalho de evangelização e gestão paroquial
foi assumida por sacerdotes seculares. Multiplicaram-se, também, a presença
de confrarias leigas, irmandades e ordens terceiras que tomaram a frente dos
temas religiosos em Minas e com fé, engenho e arte, investiram em construções
de igrejas de alto nível artístico e nas representações do imaginário do sagrado.
Portugal enviou seus mestres e também ensinou os nativos no ofício do entalhe
e da cantaria, entre outras atividades vinculadas à Arte Sacra. Mesmo com a
proibição do rei de Portugal quanto à presença das ordens na região, a vida
religiosa foi organizada através de ordens terceiras, irmandades e confrarias. A
rivalidade entre essas instituições impulsionou a criação artística, o que

resultou em uma plêiade de artistas, artesãos e músicos que foram requisitados
para embelezar as celebrações. Em Minas, a religiosidade se expressava com
grande pompa, quase como um espetáculo grandioso. Durante o período de
esplendor e riqueza em Vila Rica, os cidadãos proeminentes da cidade erguiam
moradias imponentes, desfrutavam de uma vida luxuosa e apreciavam produtos
importados da Europa. As influentes confrarias religiosas competiam
fervorosamente entre si, tanto em devoção religiosa quanto em ostentação da
fé. Essas instituições contratavam profissionais especializados, como arquitetos
e artesãos, para construir igrejas com fachadas majestosas e ornamentações
requintadas. Nesse ambiente próspero e dinâmico, cresceu um jovem mulato
chamado Antônio Francisco Lisboa, filho natural do arquiteto português
Manuel Francisco da Costa Lisboa (?-1767). No ano de 1738, coincidindo com
o nascimento de Antônio Francisco Lisboa, as ricas jazidas de ouro da região
ainda apresentavam uma produção generosa, o que impulsionava um notável
crescimento em todas as regiões de Minas Gerais, em especial em Ouro Preto.

A exposição “Fé, Engenho e Arte – Os Três FRANCISCOS: mestres escultores
na capitania das Minas do ouro” convida os visitantes a explorar e apreciar a
riqueza das obras desses mestres da Arte Sacra Barroca Brasileira. O Museu de
Arte Sacra de São Paulo tem o prazer de proporcionar essa oportunidade única
de mergulhar na história e na cultura por meio das criações de Antônio
Francisco Lisboa, Francisco Vieira Servas e Francisco Xavier de Brito

 

Diferentes Gerações de Artistas

23/maio

A proposta da exposição “Artista de artista”, que ocupa até 24 de junho a Sala 2 da Galeria Luisa Strina, Cerqueira César, São Paulo, SP, foi convidar os artistas representados pela galeria residentes no Brasil a indicar outros artistas para participar de uma exposição coletiva. A sugestão foi que indicassem artistas históricos ou contemporâneos, preferivelmente brasileiros, que ainda não tenham alcançado a devida visibilidade dentro do circuito de museus e galerias.

Esse projeto parte do pressuposto de que as relações e conexões estabelecidas entre artistas é essencialmente movida por interesses muito distintos daqueles dos curadores, galeristas, art advisors, diretores de museu e jornalistas. Delegar a escolha das obras participantes aos artistas – e, nesse caso, um conjunto de 24 trabalhos selecionados por 16 artistas – implica, naturalmente, em uma exposição polifônica. E, no entanto, cada um dos trabalhos selecionados revela algo sobre os artistas que fizeram as indicações: às vezes ficam evidentes afinidades estéticas, metodológicas, temáticas; às vezes revelam direções de pesquisas semelhantes; ou simplesmente uma admiração por algo completamente diferente do trabalho do artista-curador. 

A grande maioria optou por colocar em evidência a prática de artistas mais jovens, muitos deles ainda sem representação em galerias comerciais. Em alguns casos, são relações de afinidade que se desenvolveram ao longo dos anos, muitas vezes envolvendo uma interlocução regular e o acompanhamento da trajetória desses jovens artistas. Em outros, os artistas representados conheceram as obras através de exposições realizadas em outros locais. Há, ainda, exemplos de artistas selecionados já estabelecidos no mercado e que estão presentes com uma produção distinta daquela que lhes deu reconhecimento; bem como artistas que, por diversas razões, nunca tiveram uma inserção significativa no circuito da arte.

Artista de artista é, sobretudo, uma oportunidade para enxergar uma parcela ínfima da produção de diferentes gerações de artistas sob a perspectiva de alguns dos artistas que trabalham conosco. Nesse sentido, forma um pequeno porém potente panorama de algumas ideias e práticas que apontam tanto para o passado quanto para o futuro, mantendo-se vivas através das relações dos artistas com artistas.

Afonso Pimenta – selecionado por Bruno Baptistelli, Ana Raylander – selecionada por Cinthia Marcelle, Fred Lemos Auad – selecionado por Tonico Lemos Auad, Gabriela Mureb – selecionada por Laura Lima, Gaya Rachel – selecionada por Anna Maria Maiolino, Júlia Gallo – selecionada por Thiago Honório, Mariela Scafati – selecionada por Pablo Accinelli, Marina Hachem – selecionada por Marina Saleme, Marlon de Paula – selecionado por Pedro Motta, Priscila Rooxo – selecionada por Panmela Castro, Renato Maretti – selecionado por Caetano de Almeida, Rose Afefé – selecionada por Marcius Galan,  Sofia Caesar – selecionada por Fernanda Gomes, Tantão – selecionado por Jarbas Lopes, Tiago Tebet – selecionado por Alexandre da Cunha, Yan Braz – selecionado por Marepe.

 

Simões de Assis na Casa Gerassi

17/maio

A Simões de Assis, após cinco anos instalada na Rua Sarandi 113A, nos Jardins em São Paulo, comunica sua mudança para uma nova sede. Os atendimentos na Rua Sarandi foram realizados até o dia 10 de maio.

A partir de 23 de maio, a Simões de Assis ocupará temporariamente um imóvel projetado por Paulo Mendes da Rocha, a Casa Gerassi, localizada no Alto de Pinheiros, que passará a sediar suas atividades até a inauguração do seu novo e definitivo espaço, em setembro de 2023. Para este momento transitório, a galeria desenvolveu um projeto expositivo especial: uma mostra que aproxima as produções da brasileira Ione Saldanha e da franco-libanesa Etel Adnan, com curadoria de Luiz Camillo Osório.

A exposição reunirá um conjunto que tensiona as poéticas de duas artistas de trajetórias e nacionalidades distintas, mas que avizinha seus trabalhos por aspectos formais, por investigações profundas sobre cor e por intuitivas explorações da abstração. As linhas, ângulos e geometria da Casa Gerassi, projetada em 1989, dialogam diretamente com as obras, criando uma conexão profunda entre arte e arquitetura. As visitas à mostra e à residência serão realizadas com agendamento prévio até o dia 22 de julho.

Barrio em exibição na Central Galeria

 

“O Sonho do Arqueólogo: …uma tênue linha inexistente…entre dois espaços…existentes…enquanto…que…opostos..a si…” será a primeira exposição de Artur Barrio na Central Galeria, Vila Buarque, Sâo Paulo, SP. A abertura acontece no próximo sábado, 20 de maio, das 11h às 17h.

Antes da arte, Artur Barrio desejou ser arqueólogo submarino. Hoje, o artista vive em um barco sobre as águas da Baía de Guanabara e produz de forma solitária. Esquematiza em diversos papéis a possibilidade de uma ideia, que não necessariamente será seguida; tais papéis, no entanto, acompanham-no na realização de cada trabalho. Produz diretamente nos espaços expositivos, sem espectadores.

Possibilita, dessa forma, acessar a reclusão tal qual o homem de Lascaux ou da Caverna de Cosquer, podendo, assim, produzir de forma que as noções de consciência e inconsciência deixam de fazer sentido. Ao mesmo tempo, com o experiente olhar de quem estuda a vida em sociedade, produz para apresentar ao público. Dispensa o valor de culto do homem primitivo e esgarça o campo do possível na arte contemporânea. Ainda que as sensações sejam reais, acessar o seu trabalho pode ser uma experiência quase onírica, surreal.

Para a Central Galeria, Barrio produz um monólogo cujo procedimento de elaboração, pela primeira vez, será realizado ao lado dos trabalhadores da galeria. Enquanto Barrio trabalha construindo a exposição, a equipe seguirá em seu trabalho cotidiano de escritório. Segundo o artista, ainda que seja definida uma linha invisível a separar os afazeres de equipe e artista, o processo não deixa de criar uma relação entre as partes pelo estorvo mútuo. O artista pretende ainda colocar em cena pó de café, luz baixa e um texto-lamento, transformando a galeria na caverna de um intelectual que deixa os rastros do gesto selvagem do laboro sobre uma pobre mesa e pelas paredes escritas à exaustão.