Projeto Vênus na Central Galeria

09/out

Denominada de “Cansado”, entrou em caratz a exposição individual de Felipe Barsuglia na Central Galeria, Vila Buarque, em parceria com o Projeto Vênus. A exposição é de curta duração e poderá ser visitada por duas semanas, até 21 de outubro.

Em sua segunda individual em São Paulo, Felipe Barsuglia apresenta obras em diferentes suportes com um discurso pictórico para tratar do cansaço na sociedade contemporânea. Byung-Chul Han, em “Sociedade do cansaço” (2017, editora Vozes) designa o funcionamento das culturas ocidentais como o de uma “sociedade do desempenho”, onde a positividade imposta gera uma violência neural. Felipe Barsuglia observa uma cultura de repetição por meio do fazer quase que maquínico. No trabalho, na escola, em eventos sociais, no descanso, etc., os sujeitos estão cansados sem ao menos perceber, pois os cotidianos se tornam cada vez mais automáticos, não proporcionando abertura ao olhar diferente.

“Cansado” inaugurou na Central Galeria e no mesmo dia, após o encerramento na galeria, o evento proseguiu no Cine Cortina com a projeção de vídeos de Felipe Barsuglia produzidos desde 2014.

Sobre o artista

Desde 2015, Felipe Barsuglia vem desenvolvendo uma produção artística que abrange diversas mídias. Em 2016, desenvolveu o projeto online “Site-terapia”, para o banalbanal.org. Entre suas exposições individuais, destacam-se:  “Legal” de 2022 na Lanterna Mágica, São Paulo, e “Milanesa” de 2020 na Anita Schwartz Galeria de Arte, Rio de Janeiro. Entre coletivas: “vaidade infinita” de 2021 no Rio de Janeiro; “Parabéns” de 2019 no Edifício Tinguá, São Paulo; “os dois a 80km/h” de 2018 na Caixa Preta, Rio de Janeiro; “Coletiva” de 2018 no Auroras, São Paulo; “Where is your god now?!” de 2017 em Budapest, Hungria.

Suassuna, Brennand, Samico e dos Santos

03/out

A BASE, de Daniel Maranhão, Jardim Paulista, abre a exposição “Ressonância Armorial” com Ariano Suassuna, Francisco Brennand, Gilvan Samico e Miguel dos Santos, texto crítico de Denise Mattar e 30 obras entre pinturas, esculturas e objetos dos quatro artistas mais representativos no Movimento Armorial, uma iniciativa artística cujo objetivo seria criar uma arte erudita a partir de elementos da cultura popular do Nordeste brasileiro que buscava convergir e orientar todas as formas de expressões artísticas: música, dança, literatura, artes plásticas, teatro, cinema, arquitetura, etc. A abertura é no dia 07 de outubro, ficando em cartaz até 11 de novembro.

Em um primeiro momento, em 2020, Daniel Maranhão inseriu o Movimento Armorial, em seu segmento de artes plásticas, no cenário cultural paulistano com a exposição “Samico e Suassuna – Lunário Perpétuo”, que marcou a reinauguração da BASE pós-pandemia, agora, com “Ressonância Armorial”, amplia o número de artistas que trabalharam os mesmos conceitos.

As “iluminogravuras” – termo criado pela junção das palavras iluminura e gravura, de Ariano Suassuna, retornam à galeria acompanhadas de publicações, raros LPs do “Quarteto Armorial”, do múltiplo artista Antônio Nóbrega, e trechos do longa metragem “Auto da Compadecida” dirigido pelo pernambucano Guel Arraes. Suassuna, idealizador do Movimento Armorial, nos anos 1970, assim o conceitua: “A Arte Armorial Brasileira é aquela que tem como traço comum principal a ligação com o espírito mágico dos “folhetos” do Romanceiro Popular do Nordeste (Literatura de Cordel), com a Música de viola, rabeca ou pífano que acompanha seus “cantares”, e com a xilogravura que ilustra suas capas, assim como com o espírito e a forma das artes e espetáculos populares, com esse mesmo Romanceiro, relacionados”.

Miguel dos Santos, que aos 79 anos figura como único integrante vivo do Movimento Armorial e que, atualmente, está no foco dos grandes colecionadores e instituições nacionais e internacionais, é apresentado de forma inédita na BASE. Como define Daniel Maranhão, “não há como se falar em Movimento Armorial, sem citar Miguel, um dos principais participantes.(…) É sabido que cada artista tem sua fase, ou época, mais prestigiosa; e, no caso de Miguel, são as décadas de 1970 e 1980 as mais importantes, de onde serão apresentadas oito obras, todas em óleo sobre tela, sendo que seis delas da década de 1970 e duas, em grande formato, da década de 1980, adquiridas ao longo de anos”. Sobre seu trabalho, Denise Mattar pontua: “Incorporando vestígios do passado e referências a deuses ancestrais, seu trabalho, personalíssimo, envereda pelo realismo mágico.”

Gilvan Samico possui obras inspiradas no Cordel desde os anos de 1960 o que o qualifica como um dos precursores do Movimento Armorial. “O virtuosismo técnico na arte da xilogravura, aliado ao imaginário das fantásticas histórias do Romanceiro Popular do Nordeste, apresentadas de forma hierática, quase sagrada, em “soberana simplicidade”, tornaram a obra de Samico a mais plena concretização das ideias armoriais – uma união perfeita de erudito e popular”, como define Denise Mattar. Dentre as xilogravuras, destacam-se: “Dama com Luvas” (1959) e “Suzana no Banho” (1966) (acervo do MoMA, NY), com tiragem limitada (20 exemplares).

Internacionalmente reconhecido como pintor e ceramista, Francisco Brennand exibe esculturas de grande porte e peças em cerâmica – painéis e placas – da década de 1960, “que evocam o mundo telúrico, sensual e provocador, característico de toda a sua produção”, segundo Denise Mattar.

“A reunião desses quatro artistas, na Galeria BASE, evidencia a ressonância do Movimento Armorial, potencializando seu resultado mágico e contestador, que remete às raízes profundas de nosso país.”  Denise Mattar

Livro de Diógenes Moura

02/out

Com lançamento em São Paulo previsto para o dia 05 de outubro, o conhecido fotógrafo Diógenes Moura, lançará seu novo livro “O pinguelo rígido – Um surto baiano” no   A Dama e os Vagabundos Bar, Rua Camerino, 94, Casa anexa, Barra Funda.

Escrito entre 2015 e 2023, “O pinguelo rígido – Um surto baiano”, constrói uma polaroide urbana com textos precisos, a partir de cenas que o autor presenciou nas ruas de Salvador, cidade que conhece desde o dia 2 de julho de 1971, quando, vindo do Recife, chegou com sua família para viver no bairro da Liberdade.

Com uma narrativa repleta de personagens reais, ao lado da ficção poética e limítrofe sempre presente na obra do autor, o pinguelo rígido – Um surto baiano também diz sobre a violência embutida nas ruas da cidade; as cenas absortas dentro dos hotéis; o aluguel dos palácios tombados pelo patrimônio histórico para “eventos” feito pelos carnegões da casa grande; a cadeira elétrica infra-humana que carrega os animais para o abate na feira de São Joaquim; os últimos dias de Kelly Cyclone, a Dama do Pó; a exploração do homem do ferro que trabalha dentro de um dos arcos da Ladeira da Conceição da Praia: “Corre, homem bafio! Desce as escadas que levam ao mar e conta para suas parceiras que vivem lá por baixo, às bordas do contorno da avenida, que amanhã outra mulher vai levar a filha à escola para ver se a menina não se torna uma mulher bafio, uma mulher espectro, uma mulher exumada, uma mulher carniça antes da porra do carnaval chegar e pronto: arregaça bala, faca, garrafa quebrada no corpo da menina para roubar qualquer nada e a menina cai sem vida na porta do palácio, logo cedo”.

No livro, entre violência e paixão, o escritor deixa claro o seu incômodo com os turistas e/ou agregados que, vindos em grande parte do Sudeste do país, chegam à cidade para, em menos de uma semana, se tornarem filhas ou filhos de santo, entre outros detalhes de intimidade perversa e sintomática: “Vosmicê quer tirar uma foto comigo, é? Então pague. Não estou aqui fantasiada de “baiana típica” para fazer parte da paisagem do Pelourinho, não, viu? Quer a minha agonia colorida para postar no Instagram? Então pague. Quer usar o meu corpo preto para sair por aí dizendo que somos um povo alegre: painho, mainha, meu rei? Meu rei, um caralho! A minha sofreguidão não cabe dentro da tela do seu celular”.

Para esses e aqueles, Diógenes Moura criou o termo Cheiradores de Axé e uma série de verbetes a partir de expressões que pertencem à linguagem popular: “O Boca-se-zer-nove”: aquele que vai almoçar ou jantar uma “moqueca desconstruída” em alguma comunidade que virou moda à beira-mar (trema o vale, povo da Gamboa!), pede para não colocar coentro porque pode vomitar desleixos e sai dizendo que pobre-dendê deve, sim, sonhar acordado, sem tomar banho de folhas”. Com sua dicção peculiar, sua geografia humana muito particular e uma escrita concisa e abundante em acontecimentos, o pinguelo rígido – Um  surto baiano faz um retrato veloz, realista e tragicômico de uma cidade devastada pela alegria, sempre de braços abertos para ser explorada física e mentalmente, sobretudo nas fatídicas temporadas de verão.

A palavra do editor

Na apresentação do livro, o editor Igor de Albuquerque, escreve: “Sob o sol negro brilhando visgo, soa nas ruas uma voz que cavalga no lombo das bestas pingueludas da destruição. Voz escrita – alcaloide – a única que até agora foi capaz de, enfim, pôr em prática o processo de zumbificação definitivo do turista, do cheirador de axé. Vocês irão entender muito bem quando, nas ruas claras do Santo Antônio Além do Carmo, cruzarem com aquele sorriso-wanna-be-influencer: sinta logo a morrinha do morto-vivo antes dele sair rastejando cidade abaixo. Diz a voz. E quando perguntarem o que havia de bom, de belo, de justo, lembremos sempre que, antes da queda, da boca-de-se-fudê, da imolação, antes de morrerem, de morrermos, essa gente esteve viva. Desmedidamente viva”.

Ampliando imaginários

A Gentil Carioca, Higienópolis, São Paulo, SP, apresenta até 11 de novembro, a exposião “Ocultas Marés: Ana Silva & Marcela Cantuária”, com curadoria de Raquel Barreto.

Sobre a exposição

“Em Ocultas Marés, Ana Silva & Marcela Cantuária” disputam, com suas poéticas e proposições, significados (possíveis) para arte, ampliando imaginários e suportes materiais, explodindo cores e formas. Estabelecem também diálogos com a história da arte, relações entre o passado e o presente e, às vezes, imaginam futuros de modo revolucionário.” – Raquel Barreto.

Exposição na Galeria Tato

28/set

Mostra coletiva que faz parte do programa Casa Tato, que já se firmou como núcleo de desenvolvimento de artistas visuais e novos agentes do mercado de arte contemporânea. A exposição vai até 07 de outubro, na Barra Funda, São Paulo, SP, circuito efervescente de arte na capital paulista.

“(Uma) Certa Enciclopédia…” é o nome dessa nova coletiva em exibição na Galeria Tato. A mostra integra o programa Casa Tato, que chega à sua nona edição, reunindo nomes efervescentes do campo da arte contemporânea, 28 artistas que participaram das recentes edições do projeto. O espaço, fundado em 2010, é dirigido por Tato DiLascio.

Artistas participantes

Alessandra Mastrogiovanni, Alexandre Vianna, Aline Mac Cord, Angela Fernandes, Anna Guerra, Bet Katona, Danilo Villin, Diogo Nógue, Flávia Matalon, Giovanna Vilela, Greicy Khafif, Isaac Sztutman, Isabela Castro, Jamile Sayão, Julia Mota, Júnia Azevedo, Laura Martínez, Luciano Panachão, Magna Sperb, Maiana Nussbacher, Maria Claudia Curimbaba, Orlando Facioli, Pedro Orlando, Rafa Diås, Renata Barreto, Rogo, Rossana Jardim e Simone Höfling.

Sobre o título da exposição, os curadores explicam: “É provável que qualquer pessoa que tenha se proposto a organizar uma biblioteca, uma coleção de discos ou mesmo um guarda-roupa esteja familiarizada com a vertiginosa arbitrariedade que marca os procedimentos de classificação e organização do mundo. A enciclopédia, esse dispositivo paradoxalmente dotado de uma ambição totalizante e fadado à obsolescência que resulta do intervalo entre o tempo das coisas e o tempo das palavras, inspira as mostras de encerramento da Casa Tato 8, que tem curadoria de Nancy Betts e Icaro Ferraz Vidal Jr., e de abertura da Casa Tato 9, com curadoria de Katia Salvany.”

Galeria Marcelo Guarnieri exibe Ana Sario

25/set

A Galeria Marcelo Guarnieri, Jardins, apresenta, entre 07 de outubro e 11 de novembro, “Não estou mais onde existo nem onde penso”, terceira exposição de Ana Sario (1984, São Paulo) no endereço de São Paulo, SP. A mostra reúne pinturas da série “Flores” produzidas entre os anos de 2019 e 2023 e dão continuidade à investigação da artista sobre o caráter transitório da paisagem. A exposição contará com texto da crítica e curadora Taisa Palhares.

Desde 2020, Ana Sario vem revisitando algumas paisagens de campos de flores que começou a produzir em 2016 e que agora, em suas pinturas mais recentes, ganham formalizações diferentes. Se antes a artista trabalhava com espessas camadas de tinta e campos de cor, levantando questões em torno da ideia de nitidez através da supressão dos detalhes das paisagens, agora ela aposta em pequenos e múltiplos pontos coloridos que buscam produzir um efeito de vastidão e profundidade. Ana Sario explora o conceito de sobreposição tanto a partir da linguagem da pintura, utilizando-se da justaposição de camadas de pinceladas, como a partir do ciclo de floração das plantas que compõem suas paisagens transitórias, em constante transformação.

Em algumas dessas pinturas, as molduras também parecem querer se sobrepor à tela: invadindo o espaço da representação, aparentam bordas camufladas de flores. Não é a primeira vez que a artista se interessa pela condição da moldura em seu trabalho. Quando a tinta invade as laterais da tela, quando não há madeira ao seu redor ou quando a pintura recua na superfície quadrada, não ultrapassando os limites do que poderia ser uma espécie de moldura que ali não está. Em todos esses momentos há o questionamento sobre a pintura como uma janela do mundo.

Em “Não estou mais onde existo nem onde penso”, Ana Sario amplia as escalas, desenvolvendo sua investigação sobre as paisagens floridas também no grande formato, explorando o caráter imersivo e contemplativo dessas telas. “Trazer uma escala maior para o trabalho foi uma exigência da própria pesquisa, uma vontade de trazer novos pontos de vista para a paisagem, um desejo de ocupar esse espaço da pintura e contemplar a paisagem”, comenta Ana Sario. A artista também apresenta uma produção inédita de pinturas sobre vidro, paisagens que se revelam não mais em contato direto com a textura, a cor e o cheiro da tinta, mas em seu avesso, através de uma superfície cristalina.

A obra de Carolina Cordeiro

“O tempo é”, exposição individual de Carolina Cordeiro é o atual cartaz na Galatea, Jardins, São Paulo, SP.

O trabalho de Carolina Cordeiro é notável por sua diversidade de suportes e sua interação com o ambiente em que é apresentado. Ela começou sua carreira artística com o desenho, mas ao longo do tempo, explorou outras linguagens artísticas. Suas obras frequentemente buscam envolver o espectador de forma imersiva e são influenciadas pelos elementos do ambiente em que são exibidas.

Um exemplo significativo de seu trabalho é a instalação Uma noite a 550km daqui (2010-2017), que utiliza feltro e sementes de carrapichos (Xanthium cavanillesii). Essa obra faz referência à distância entre diferentes locais onde foi exibida e o município em Minas Gerais, onde as sementes de carrapichos foram coletadas. As sementes são fixadas em feltro azul escuro, criando uma representação de um céu estrelado. O título da obra destaca tanto a distância quanto a conexão entre os espaços onde a instalação é montada.

Os títulos desempenham um papel importante na obra de Carolina Cordeiro, muitas vezes fazendo referência à poesia e à música popular brasileira. Seus materiais também são escolhidos com base em suas associações simbólicas, como o uso do zinco em algumas de suas obras. A pesquisa de Carolina Cordeiro é coesa e abrange temas como a vida doméstica, a paisagem, a economia de linguagem e o simbolismo. Ela tem participado de várias residências artísticas no Brasil e no exterior, e sua obra foi exibida em exposições individuais e coletivas em locais renomados.

Além de sua prática artística, Carolina Cordeiro foi uma das fundadoras da Galeria de Artistas, um projeto criado por artistas com o objetivo de explorar novas formas de inserção no mercado de arte. Ela também foi indicada ao prêmio PIPA em 2020. Sua carreira é marcada pela versatilidade e pela capacidade de criar obras que dialogam com o ambiente e a cultura brasileira.

Até 14 de outubro.

Novo representado pela Gomide&Co

21/set

É com orgulho que a Gomide&Co anuncia a representação de Megumi Yuasa. A apresentação do seu nome ocorre no contexto de um programa da Gomide&Co que devota especial atenção ao território da cerâmica, tendo como bússola a superação das distinções estabelecidas entre essa técnica e outras linguagens artísticas com vias à afirmação dessa produção no campo da arte contemporânea.

Em uma entrevista de Megumi Yuasa, encontramos a seguinte passagem: “Ao se formar, nosso planeta era uma bola de magma que esfriou e formou a pedra dura. Sobre a pedra veio a água e, dela, a vida. Enquanto isso, a rocha decomposta virou argila. Não fiquei espantado quando a Nasa declarou, há algum tempo atrás, que somos feitos da mesma matéria das estrelas. Todo ceramista sabe isso.” Esse breve trecho resume um dos sentidos centrais da obra do artista, qual seja, nos recordar que há um amálgama entre seres humanos e natureza. Desse ponto de vista Megumi nos apresenta uma série de paisagens imaginadas. Árvores, sóis, luas, montanhas, nuvens, sementes, ganham formas simultaneamente familiares e improváveis, ao mesmo tempo em que se aliam, de forma fiel, ao vazio. Aqui, os espaços preenchidos pelo ar são tão importantes quanto aqueles feitos de matéria concreta. Vazio que, por sua vez, pode nos recordar a dimensão do silêncio. Em meio a um mundo cada vez mais ruidoso, as suas esculturas de acento pictórico evocam uma necessária esfera meditativa. Tendo realizado as suas primeiras exposições ainda no fim da década de 1960, o artistachega aos anos  2020 somando mais de meio século de trajetória como um nome seminal da cerâmica no Brasil. Em realidade, diante das obras de Megumi Yuasa, não se trata de lidar com a especificidade de uma técnica, mas sim pensar na amplitude de sua poética e na sua capacidade de endereçar, a parir dela, um universo de aguda singularidade.

Luisa Duarte

Diretora Artística

Sobre o artista

Megumi Yuasa, 1938. O escultor e ceramista, Megumi Yuasa inicia-se nas artes plásticas em 1964, quando passa a realizar suas primeiras cerâmicas. Viaja em seguida junto a sua companheira Naoko Yuasa ao interior do estado de Goiás, pesquisando técnicas e materiais. Em 1968, realiza em Goiânia sua primeira exposição, e no ano seguinte retorna para São Paulo. Logo seu trabalho passa a ser reconhecido. Já em 1971, frequenta por seis meses a Escola Brasil, a convite do pintor Luiz Paulo Baravelli (1942). Desde o início de sua carreira, Megumi está sempre presente nas mostras de artistas nipo-brasileiros, e nas mostras voltadas para a linguagem da cerâmica. Sempre imbuído de um discurso filosófico e político, é um artista com viés anárquico em suas práticas, na medida que incorpora outros materiais às suas cerâmicas, como metais e tintas, o que foge de um escopo tradicional dentro da cerâmica japonesa. Em 1979, inicia atividades como professor de cerâmica, às quais se dedica até hoje, organizando cursos e oficinas. Entre 1981 e 1982, presta assessoria à Escola Senai Armando Arruda Sampaio. Em 1982, é convidado a ministrar um curso de cerâmica na Universidade Caxias do Sul. No ano de 1984, é convidado pelo Museu de Artes do Rio Grande do Sul – MARGS, a ministrar o curso Observação da Realidade. Em 1987, realiza uma individual na Galeria de Arte São Paulo. Em 1988, recebe o Prêmio Escultura Associação Paulista dos Críticos de Arte – APCA. No mesmo período, morando em Itu, passa a trabalhar na Cerâmica Aruan, de Gilberto Daccache. Lá teve um espaço na fábrica onde modelava suas peças e ensinava o ofício aos jovens operários que produziam utilitários. Além disso, organizou uma biblioteca onde estudavam poesia, música e literatura. Em 1989, viaja a Lisboa (Portugal) para ministrar curso no Seminário de Cerâmica Brasileira em Lisboa. Em 1991, volta a Galeria de Arte São Paulo com nova individual. No fim dos anos 1990 realizou as suas últimas individuais, na Skultura Galeria de Arte (São Paulo), em 1997, e na Galeria LGC Arte Hoje (Rio de Janeiro), em 1998. Das exposições coletivas, cabe destaque às suas participações nas 13ª e 14ª edições da Bienal Internacional de São Paulo (1975 e 1977, respectivamente); na coletiva itinerante Encuentro de Ceramistas Contemporaneos de America Latina, de 1987, que passou pelo Museum of Conteporary Hispanic Art (New York, USA), Museum of Fine Arts (St. Pittsburg, USA), Centro de Arte Contemporâneo (Ciudad de Mexico, México), Museo de la Universidad Nacional de Colombia (Bogotá, Colômbia), Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro); Sala Nacional de Exposiciones (Buenos Aires, Argentina), entre outras. Também participa da coletiva Laços do Olhar, em 2008, no Instituto Tomie Ohtake (São Paulo) e, em 2023, integra a coletiva O Curso do Sol, na Gomide&Co, também em São Paulo. Participa de várias edições de festivais e encontros de ceramistas, além de mostras realizadas por ocasião de aniversários da imigração japonesa ao Brasil. Ao longo de sua carreira, e até os dias de hoje, Megumi Yuasa também ministra oficinas, palestras e cursos dentro dos temas que abrangem suas práticas artísticas.

Os Yanomamis por Claudia Andujar

19/set

Artista e ativista, Claudia Andujar nasceu na Suíça, em 1931, e cresceu na Transilvânia em uma família de origem judaica e protestante. Sobrevivente do holocausto, chegou ao Brasil em 1955, onde começou sua carreira como fotojornalista e artista, e se estabeleceu no país. A fotografia era o meio usado por ela para conhecer as pessoas e aprender sobre o novo país. Em 1971, encontrou os Yanomami pela primeira vez e decidiu passar mais tempo com eles.  “Sonhos Yanomami”, um dos últimos trabalhos realizados por Andujar a partir de seu acervo de imagens sobre o povo Yanomami, é o atual cartaz do Projeto Parede do Museu de Arte Moderna de São Paulo, Parque do Ibirapuera, Portões 1 e 3, até 28 de janeiro de 2024.

Desde o primeiro contato com os Yanomami, Claudia Andujar voltou várias vezes para a região e lá permaneceu por longos períodos, desenvolvendo laços estreitos com seus membros, os fotografando em suas casas coletivas – chamadas “yano” – e os acompanhando na floresta para fotografar diversas atividades.

“Considero a série Sonhos Yanomami um turning point em minha experiência com os Yanomami. As imagens que compõem a série revelam os rituais xamanísticos dos Yanomami, sua reunião com os espíritos. A partir de sua criação, eu comecei a conceber uma interpretação imagética acerca dos rituais, fato que me deu acesso à genealogia do povo, aglutinando aspectos da cultura e dissolvendo as fronteiras entre os seres humanos, seus deuses e a natureza, integrando todos em um fluxo contínuo”, contou a artista em entrevista publicada na ocasião da exposição “Identidade”, exibida em 2005, na Fondation Cartier, em Paris.

A série, que acaba de ser integrada à coleção do MAM, é composta por 20 imagens geradas por meio da sobreposição de cromos negativos fotografados a partir de 1971. “Trata-se de uma obra do período maduro da artista, que já possuía grande intimidade com a cultura do povo que a acolheu. As imagens revelam algo dos rituais dos líderes espirituais Yanomami e a importância do sonho em sua cosmologia”, comenta Cauê Alves, curador-chefe do museu, em texto que acompanha a mostra.

O conjunto de imagens exibidos no Projeto Parede do MAM é, também, reflexo de um momento de respiro de Claudia Andujar e do povo Yanomami. Ao lado de outros ativistas, ela fundou em 1978 a Comissão pela Criação do Parque Yanomami (CCPY) – conhecida como Comissão Pró-Yanomami. A Comissão, coordenada por ela, organizou a campanha pela demarcação do território Yanomami, a fim de garantir a preservação e a sobrevivência desse povo originário da Amazônia. A Terra Indígena Yanomami foi reconhecida pelo governo brasileiro em 1992, entretanto ela continua sendo invadida pelo garimpo ilegal que tem provocado centenas de mortes. Claudia Andujar fez da luta pela preservação do povo, da cultura e da terra Yanomami o trabalho de sua vida.

“A fotografia é minha forma de comunicação com o mundo. Um processo de mão dupla em que você recebe tanto quanto dá. Se o registro fotográfico de culturas pode ser considerado uma forma de compreensão do outro, eu acredito que com a série Sonhos eu consegui entender a essência do povo Yanomami”, afirmou Andujar na ocasião da mostra na Fondation Cartier.

Sob orientação de Paulo Herkenhoff

13/set

 

Localizada na sede da FGV, em Botafogo, no Rio de Janeiro, a FGV Arte será um espaço voltado à valorização e experimentação artística e a debates contemporâneos em torno da arte e da cultura, buscando incentivar o diálogo com setores mais criativos e heterogêneos da sociedade. A iniciativa pretende conectar, a partir de projetos artísticos, as escolas da FGV, tais como a Escola Brasileira de Administração Pública, Escola de Economia, Escola de Matemática Aplicada, Escola de Ciências Sociais (CPDOC) e a Escola de Comunicação, Mídia e Informação. A FGV Arte prevê ainda seminários, oficinas metodológicas e cursos práticos de formação para as artes.
A exposição inaugural foi intitulada de “A Quarta Geração Construtiva no Rio de Janeiro” pelo curador Paulo Herkenhoff e ficará em cartaz, com entrada gratuita, até novembro de 2023. Na abertura, será lançado o livro “Rio XXI Vertentes Construtivas”, também sob a concepção de Paulo Herkenhoff, que além de organizar a publicação, dirigiu o projeto editorial junto ao artista e designer gráfico Fernando Leite. O livro é o segundo volume da coleção, que se iniciou com “Rio XXI Vertentes Contemporâneas”, lançado em 2019. A relação da FGV com a arte contemporânea vem sendo resgatada desde 2012, quando passou a editar publicações sobre diversas vertentes da arte e do design, a exemplo do livro “Móvel brasileiro moderno”.
“Ainda na década de 1940, a FGV promoveu um curso pioneiro no âmbito artístico que possibilitou a formação especializada para o campo gráfico – em forte expansão à época. A FGV Arte resgata a tradição de incentivo à arte da Fundação, buscando encorajar e desenvolver ainda mais o setor cultural no Rio de Janeiro”, avaliza o presidente da FGV, Carlos Ivan Simonsen Leal, que completa: “A importância do novo espaço se firma na promoção de diálogos multidisciplinares, algo que a Fundação tem em sua missão”.
“A FGV Arte surge em um movimento importante de revitalização do Rio de Janeiro”, diz Sidnei Gonzalez, diretor da FGV Conhecimento, um dos incentivadores do projeto: “O novo espaço abre com a intenção de apoiar a arte contemporânea brasileira e carioca. Local de produção de conhecimento, prospecção de novos artistas e promoção de diálogos, a FGV Arte se integra à cidade, ressaltando um dos seus grandes diferenciais: o setor artístico e seu engajamento criativo”.

Música e arte digital

Durante a abertura da FGV Arte, a esplanada da FGV será palco de um concerto com metais e percussão da Orquestra Sinfônica Brasileira. O repertório cria uma cronologia da música carioca, de Villa-Lobos ao funk. E, pela primeira vez, a abóbada do auditório, projetado por Oscar Niemeyer, receberá um mapping original criado pela SuperUber, a partir das inspirações conceituais e das referências da exposição em cartaz. As projeções sobre a abóboda acontecem de segunda a sexta-feira, dia 15 de setembro, das 18 às 21h.

A exposição

“A Quarta geração construtiva no Rio de Janeiro” reúne 47 artistas cariocas: de origem, por adoção ou visitantes marcados pela cidade, sem limite geracional ou de linguagem, e sob curadoria de Paulo Herkenhoff, que definiu a cidade no século XXI “com novas perspectivas no campo social de circulação da obra de arte”. Para o curador, o processo construtivo, retratado na exposição, permanece fortemente na cidade, com práticas contemporâneas em andamento. Foi a partir daí que Paulo Herkenhoff estabeleceu o conceito de “quarta geração construtiva”: “O século XXI coincide com a quarta geração construtiva, a etapa de maior abertura experimental da relação com a matemática, a topologia, o número, o acaso e improvisos, desastres e a crise do poder, num emaranhado de agendas políticas e conceituais, processos de subjetivação, a explosão do olhar da periferia e um novo ethos, a crítica institucional, a geometria sensível da América Latina, introdução de signos materiais da arte inauditos e o quase nada e o zero”.

Participam da coletiva os artistas (por ordem alfabética):

Adriana Eu, Adriana Maciel, Alexandre Vogler, Allan Weber, Alvaro Seixas, Amalia Giacomini , Andrea Brown, Antonio Bokel, Bruno Veiga, Cadu, Carolina Ponte, Daniel Murgel, Deborah Engel, Delson Uchôa, Denilson Baniwa, Francisco Proner, Guilherme Santos Silva, Guilhermina Augusti, Heleno Bernardi, Heberth Sobral, Igor Vidor, Ismael Monticelli, Jefferson Medeiros, Joana Traub Csekö, Joelington Rios, Joey Seiler, Latoog, Lucas Ururah, Luiz Baltar, Luna Bastos, Lyz Parayzo, Marcelo Catalano, Marcelo Conceição, Marcelo Macedo, Marcelo Monteiro, Marcone Moreira, Maria Mazzilo, Michel Groisman, Mulambö, Osvaldo Carvalho, Paulo Vivacqua, Pedro Vitor Brandão, Tainan Cabral, Tantão, Thiago, Ortiz, Toz e Yhuri Cruz.

O livro

Com organização e direção editorial Paulo Herkenhoff e Fernando Leite, Rio XXI Vertentes Construtivas [288 páginas] é o segundo volume bilíngue [português e inglês], da coleção Rio XXI, desenvolvida pela FGV Conhecimento. A nova publicação relaciona as gerações precursoras dos movimentos atuais e suas formas de gerar o raciocínio construtivo nas artes visuais brasileiras. Assinam textos nesta edição (na ordem em que aparecem na publicação) Leno Veras, Glória Ferreira, Paulo Herkenhoff, Sérgio Bruno Martins e Felipe Scovino; e textos adicionais por José Maria Dias da Cruz, Luiz Chrysostomo de Oliveira Filho, Luiz Camillo Osorio, André Pitol, Daniela Name, Guilherme Altmayer, Priscyla Gomes, Fernanda Lopes, Fernando Cocchiarale, Jefferson Medeiros, Christiane Laclau, Aldones Nino, Nathalia Grilo, Vovó Maria Carlota, Ricardo Gomes Lima, Natalia Quinderé e Wair de Paula. A publicação estará à venda a partir do final de novembro.
Coleção de arte

Concomitante à criação da FGV Arte, a Fundação Getulio Vargas está iniciando uma coleção de arte brasileira do século XXI. As primeiras obras incorporadas são uma escultura de Ascânio MMM e um trabalho de Xadalu Tupã Jekupé, artista indígena radicado em Porto Alegre. A coleção tem orientação e coordenação curatorial de Paulo Herkenhoff.

Fundação Getulio Vargas

Instituição de caráter técnico-científico e educativo, foi criada em 20 de dezembro de 1944 como pessoa jurídica de direito privado. Tem por finalidade atuar na produção de conhecimento, com ênfase especial no campo das ciências sociais, administração, direito e economia, contribuindo para o desenvolvimento econômico e social do país.