O Mapa da Mina por Alex Flemming 

26/jul

 

 

No ano do Bicentenário da Independência, em “O Mapa da Mina”, exposição individual do artista plástico Alex Flemming é proposto o debate sobre as riquezas naturais do Brasil.

 

A partir de 30 de julho, a Biblioteca Mário de Andrade, República, São Paulo, SP, recebe a série de obras feitas em chapas de madeira, recortadas no formato do mapa do Brasil, cravejadas de pedras nativas como topázios, ametistas, citrinos, opalas, rodolitas, peridotos, rubilitas e kunzitas, compondo uma cartografia visual que sustenta uma profunda potência estética e política.

 

A mostra exalta a riqueza e beleza gerada em nosso solo e traz um convite à reflexão sobre sua utilização: “Minha proposta com essas obras é discutir as riquezas do Brasil, a forma de extração e sua má distribuição. Desde nossa colonização o extrativismo gera fortunas que vão para os bolsos de uma minoria, escancarando a desigualdade da população”, explica Flemming. A mostra carrega também uma carga simbólica de pertencimento e deslocamento que os mapas fazem emergir, o que sem dúvida dialoga muito com Alex Flemming – artista que divide seu tempo entre o Brasil, país de origem, e a Alemanha, onde reside desde 1991. Flemming é um artista multimídia que transita pela pintura, gravura, instalação, desenho, colagem, esculturas, fotografia e objetos, com foco na “pintura sobre superfícies não tradicionais” como o próprio artista define. Foi professor da Kunstakademie de Oslo, na Noruega, entre 1993 e 1994 e em 1998 produz sua obra pública de maior impacto, na estação Sumaré do Metrô em São Paulo, com 44 retratos em vidro recobertos por poesia. Em 2016 inaugura mais 16 retratos em vidro colorido na Biblioteca Mário de Andrade, também em São Paulo.

 

Sobre o artista

 

Alex Flemming nasceu em São Paulo, SP e o reside na Alemanha desde 1991. Cursou Arquitetura na FAU-USP e frequentou o Curso Livre de Cinema na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em São Paulo, entre 1972 e 1974. Na década de 1970, realizou filmes de curtas-metragens e participou de inúmeros festivais de cinema. Em 1981, se muda para Nova York, onde permanece por dois anos e desenvolve projeto no Pratt Institute, com bolsa de estudos da Fulbright Foundation. A partir dos anos 1990, realiza instalações em espaços expositivos (MASP e XXI Bienal Internacional de São Paulo) usando bichos empalhados pintados com fortes cores metálicas, inaugurando assim uma duradoura série de pinturas sobre superfícies não tradicionais. Posteriormente passa a utilizar como material suas próprias roupas, móveis, objetos utilitários e computadores. Flemming também cria silhuetas de aviões feitas com tapetes persas na série “Flying Carpets” e aborda os dilemas da guerra em fotografias de grandes dimensões na série “Body-Builders”, só para citar algumas de suas frentes de trabalho nos 40 anos em que atua como artista. Em 2002, são publicados os livros Alex Flemming, pela Edusp, organizado por Ana Mae Barbosa, com textos de diversos especialistas em artes visuais; Alex Flemming, uma Poética…, de Katia Canton, pela Editora Metalivros; e, em 2005, o livro Alex Flemming – Arte e História, de Roseli Ventrella e Valéria de Souza, pela Editora Moderna. Em 2006 a editora Cosac & Naif publica Alex Flemming com texto e entrevistas produzidas pela jornalista e curadora Angélica de Moraes. Em 2016 tem sua primeira retrospectiva no MAC-USP com curadoria de Mayra Laudanna e a exposição e livro Alex Flemming editado pela Martins Fontes. Em 2017 expõe a série “Anaconda” na Fundação Ema Gordon Klabin, e de dezembro de 2017 a fevereiro de 2018 tem sua segunda retrospectiva – de CORpo e Alma – no Palácio das Artes em Belo Horizonte, com curadoria de Henrique Luz. No ano de 2019, expõe a série “Ecce Homo” na Galeria Kogan Amaro, em São Paulo, e a série “Apokalypse” em uma grande individual na Kirche am Hohenzollernplatz em Berlim (Alemanha). Em 2020, com a pandemia, Alex Flemming, em uma ação com a Companhia do Metrô de São Paulo ressignifica a sua mais conhecida obra pública, a estação Sumaré do Metrô. Para conscientizar a população sobre o uso de máscaras em espaços públicos, o artista aplica formas pentagonais de cores vibrantes que remetem à máscaras sobre os já conhecidos retratos da estação.

 

A exposição “ALEX FLEMMING: o Mapa da Mina” terá vernissage aberta ao público dia 30 de julho(sábado) às 11h, e poderá ser visitada até 28 de agosto das 11h às 18h.

 

 

Novidade na Simões de Assis

25/jul

 

 

A galeria Simões de Assis, Curitiba, PR  e São Paulo, SP, anuncia a representação da artista Thalita Hamaoui. No início de sua trajetória, dedicou-se longamente à estamparia, atividade que sempre a influenciaria. Foi com o design têxtil que suas formas orgânicas começaram a surgir, sendo seu principal interesse a dedicação demorada ao desenho e às cores dos tingimentos.

 

Suas telas são normalmente produzidas de maneira simultânea, tomando por completo as paredes do ateliê. Algumas demoram meses até serem resolvidas, enquanto outras são finalizadas com muita urgência, imediatez. Talitah Hamaoui nunca abandona um trabalho. Ao iniciar duas ou três pinturas ao mesmo tempo, cria um diálogo formal entre elas, que se tornam paralelamente singulares e integrantes de um todo. Dessa forma, a artista vai elaborando um repertório imagético que se repete, mas também se renova, como quem cria um vocabulário próprio dentro das paisagens internas que se erguem pelas tintas. Essas formas também são vivas, sempre na iminência de transformação, e provocam movimentos constantes do olhar, que passeia e circula de maneira fluida pela superfície, sem muito distinguir figura e fundo.

 

Sobre e artista

 

Formada em artes plásticas pela Fundação Armando Alvares Penteado, em 2006, sob a orientação de Sandra Cinto, sua pesquisa se iniciou no campo da escultura. Integrou grupos de estudos e acompanhamento com artistas como Bruno Dunley, Marco Gianotti, Rodolpho Parigi e Regina Parra, além de ter participado, em 2018, do programa de residência artística do Pivô. Thalita Hamaoui foi selecionada pelo edital do Centro Cultural São Paulo de 2017, realizando “Um Passo Irreparável”, sua primeira exposição individual. Entre outras mostras solo estão “A Borda do Mundo” (2020) na Galeria Nave, e “Oferenda” (2019) no ateliê Marilá Dardot, com acompanhamento crítico da artista e de Cristiana Tejo – ambas em Lisboa, Portugal. Dentre participações em coletivas destacam-se “Emotional Ladscapes” (2021) com curadoria de Gisela Gueiros; “Um retrato para um novo mundo” (2021), Casa da Luz, São Paulo;  “Mutirão”, Now here (2021), Lisboa; “The Land of no evil” (2019), Off Shoot Gallery, Londres; Infinitess (2019), Lazy Susan Gallery, Nova York; “Zona de coexistência” (2019), um diálogo com a coleção de Duda Miranda, “Áurea” (2018), LÁFF, Hamburgo e “Procession” (2016), Folley Gallery, Nova York.

 

A natureza vista por Rodrigo Bivar

21/jul

 

 

Rodrigo Bivar apresenta a exposição individual “Breve” na Casa de Cultura do Parque, Alto de Pinheiros, São Paulo, SP. A mostra faz parte do II Ciclo Expositivo de 2022 da instituição e reverbera a produção figurativa do artista. As dezessete pinturas, todas em pequeno formato, trazem pássaros e naturezas mortas, criando uma continuidade do interesse de longo prazo do artista em cenas cotidianas, natureza e retratos.

 

Neste conjunto, Bivar voltou-se à representação de elementos que poderia nomear, orientando-se para o seu entorno. Na série “Bípedes”, fez retratos de passarinhos, explorando um recorte de imagem que se assemelha a uma fotografia, explorando um olhar que humaniza esses animais. O artista ressalta, nesta mostra, a efemeridade, o curto instante que temos para observar um pássaro, que geralmente rapidamente alça voo.

 

Em “Breve” observamos o esforço de captar o transitório e registrá-lo por meio da tinta na tela. A exposição fica aberta até 18 de setembro, uma rara oportunidade de adentrar o universo proposto por Rodrigo Bivar.

 

Duas mostras no MASP

 

 

O MASP, Avenida Paulista, São Paulo, SP, abriga duas exposições poderosas que apontam uma parte da diversidade nacional: “Dalton Paula: Retratos Brasileiros”, com pinturas sobre lideranças e personalidades negras; e “Joseca Yanomami: Nossa Terra-Floresta”, com obras sobre a vida e a cosmologia do povo Yanomami. As duas mostras ficam em cartaz de 29 de julho a 30 de outubro.

 

Arte negra

 

Com curadoria de Adriano Pedrosa, Glaucea Britto e Lilia Schwarcz, a mostra “Retratos Brasileiros” reúne 45 pinturas – muitas delas inéditas – do artista contemporâneo brasiliense Dalton Paula. Ele produziu 12 desses trabalhos com apoio do MASP, e, por isso, as obras foram doadas para a instituição. As pinturas retratam lideranças e personalidade negras que foram historicamente invisibilizadas no Brasil. As obras são o resultado de um longo processo criativo, que passa por um estudo de biografias dos homenageados e a coleta de documentos sobre eles, como fotos e recortes de jornal. Entre essas figuras, estão a escritora Maria Firmina dos Reis, considerada a primeira romancista negra no país; Manuel Congo, o líder da maior rebelião de escravos no Vale do Paraíba; e Assumano Mina do Brasil, um famoso alufá (nome dado aos líderes religiosos muçulmanos no norte da África) no Rio de Janeiro. Em sua investigação, o artista busca ressignificar e dar protagonismo às contribuições de personalidades afrodescendentes.

 

Arte Yanomami

 

Já a mostra “Nossa Terra-floresta” é pautada pela celebração aos 30 anos da homologação da terra indígena Yanomami. Com curadoria de Adriano Pedrosa e David Ribeiro, a exposição reúne 93 desenhos do artista Joseca Yanomami, que retrata personagens, cenas, paisagens, mitologia desse povo indígena. O artista adota como referência a floresta amazônica e os vários seres que a habitam. Os cantos xamânicos, a vida cotidiana dos Yanomami e as lutas das lideranças indígenas e dos espíritos também são elementos presentes nas obras, que foram produzidas entre 2011 e 2013. Muitos dos desenhos são acompanhados por descrições feitas originalmente em yanomami pelo artista e que dão conta das dimensões cosmológicas presentes em sua narrativa visual. A obra “Urihi xi wãrii tëhë thë urihi huëmaɨ wihi thëã (Os xamãs seguram a terra quando esta entra em caos)”, de 2011, por exemplo, se preocupa em demonstrar o trabalho de preservação da terra pelos xamãs.

 

 

Para conhecer e debater

20/jul

 

 

O Museu Afro Brasil, Parque do Ibirapuera, Portão 10, São Paulo, SP, tem buscado, ao longo de seus quase dezoito anos de existência, valorizar e promover a herança de matriz africana no Brasil por meio do mapeamento, preservação, pesquisa e difusão de suas diferentes manifestações culturais e das múltiplas criações delas originadas. O histórico de encontros, palestras, congressos e cursos realizados e acolhidos pelo museu desde sua inauguração, em 2004, é vasto e compreende, igualmente, eventos que buscam refletir e discutir sobre as produções no próprio continente africano, tanto as contemporâneas quanto aquelas que refletem diferentes momentos de sua história.

 

Com o objetivo de diversificar ainda mais essa atuação e se consolidar como um espaço de encontro, reflexão e construção coletiva de conhecimento e de partilha de saberes e experiências, o Museu Afro Brasil lançou, no primeiro semestre de 2022, a Escola MAB – Escola do Museu Afro Brasil.

 

Artes Visuais e História da Arte a partir do MAB, no qual serão abordadas e discutidas questões formais e conceituais acerca de obras e coleções que integram o acervo do Museu Afro Brasil, assim como das temáticas que as cercam e que delas emanam, compreendendo as lacunas e ausências em sua constituição. Tais cursos compreenderão também aspectos relacionados às exposições temporárias realizadas no museu.

 

Cursos de aperfeiçoamento técnico voltados à gestão de acervos, sua conservação, documentação e estratégias de difusão, além de montagem de exposições, restauro, entre outros, oferecidos por especialistas e profissionais renomados na área.

 

Cursos na área do Patrimônio material e imaterial africano e afro-brasileiro, contemplando diferentes linguagens e manifestações como a música, a literatura e as artes cênicas. Serão igualmente oferecidos cursos de introdução a idiomas falados no continente africano.

 

E, finalmente, a série O Pensamento de …  oferecerá cursos que abordarão a produção de intelectuais africanas(os) em diferentes áreas de conhecimento, trazendo ao público uma introdução a uma produção ainda pouco conhecida e debatida no Brasil e no mundo.

 

Em seu curso inaugural, “Artistas Africanas – Olhares Contemporâneos”  lançado no mês de maio, a Escola MAB apresentou um panorama contemporâneo do trabalho de oito artistas mulheres, originárias de distintas regiões do continente africano. Da cerâmica à pintura, da performance à instalação, da fotografia ao vídeo, suas obras abarcam múltiplas linguagens e revelam a diversidade da produção artística africana contemporânea.

 

No segundo semestre de 2022, a Escola MAB dará continuidade e aprofundará a reflexão sobre as formas e caminhos pelos quais a produção artística africana e seus artistas se fizeram e se fazem presentes nas instituições museológicas e no circuito artístico do Brasil e do mundo. Serão oferecidos cursos sobre as cenas artísticas em países como Angola, Moçambique e Senegal e as aulas serão ministradas tanto por professores brasileiros quanto do continente africano. O público terá igualmente oportunidade de participar do curso “Introdução à arte africana a partir do acervo do MAB”.

 

Dentro do Eixo Cursos de aperfeiçoamento técnico, os cursos “Gestão de acervos em Museus” (em formato de workshop presencial de um dia e, posteriormente, de curso extensivo virtual) e “Exposição de arte e o olhar do conservador” ampliarão o campo de atuação da Escola, abarcando os diferentes aspectos técnicos envolvidos no trabalho de um profissional de museu.

 

Finalmente, a série “O Pensamento de …”  terá início com uma introdução ao pensamento do intelectual ugandense Mahmood Mamdani, reconhecido como um grande especialista em política africana e internacional, autor de obras que exploram a interseção entre política e cultura, os estudos comparativos do colonialismo, a história da guerra civil e do genocídio na África e a história e teoria dos direitos humanos, dentre outros temas.

 

A Escola MAB oferecerá materiais de apoio aos alunos, assim como certificados aos participantes (mediante comprovação de 75% de frequência às aulas), além de bolsas de estudos a professores da rede pública de ensino e a pessoas pretas, indígenas, trans, travestis e em situação de vulnerabilidade social. Os cursos serão propostos em diferentes modalidades, virtual, presencial ou híbrida,  e em diferentes horários. A carga horária também terá variação de acordo com o programa do curso oferecido.

 

Exposição de Reynaldo Candia

18/jul

 

 

A BELIZÁRIO Galeria, Pinheiros, São Paulo, SP, abriu a mostra “O concreto já rachou!”, de Reynaldo Candia, artista paulistano que criou trinta e cinco obras inéditas para contar a história não mostrada sobre a construção de um sonho. Não um sonho pessoal do artista e sim uma ideia que foi apresentada a uma nação sobre o “País do Futuro” com sua “Capital da Esperança”. O texto crítico é de Divino Sobral.

 

“A mostra “O concreto já rachou!” busca seu título em um verso da letra da música “Brasília” (1985), gravado pela banda brasiliense “Plebe Rude” em seu disco de estreia que, também, tinha esta frase como título”, explica Divino Sobral, que acrescenta: “Brasília parece chamar atenção da cidade para o momento em que o concreto começa a trincar e a rachar, deixando prestes a desabar os pontos frágeis da construção edificada sob o selo da democracia e da liberdade política.(….) Por outro lado, o título leva a pensar também nas fissuras ocorridas na construção do próprio conceito de cidade e de arquitetura moderna, diante das pressões de um país subdesenvolvido”. O concreto, o ferro e a madeira são os principais elementos utilizados pelo artista na construção de seus trabalhos, os quais também são os elementos base de Brasília. Diferente do que possa sugerir o título, em “O concreto já rachou!”, Reynaldo Candia enfatiza prioritariamente a influência dos candangos sobre a execução deste grandioso projeto e resgata a cultura histórica brasileira.

 

O artista não se posiciona como um crítico ou analista de tempos ou posicionamentos diversos e sim como um historiador que busca o resgate dos personagens sombreados pela redação histórica. Os “candangos” são personagens importantíssimos uma vez que o olhar de Reynaldo Candia não se furta de observar a realidade humanística das épocas e regiões brasileiras às quais dedica sua pesquisa. Após imersão na região nordeste do Brasil para sua série pregressa, o artista deparou-se com relatos das migrações para o Planalto Central na época da construção da nova capital. Por definição, “candango” é o termo dado aos trabalhadores que migraram à futura capital para sua construção. A palavra de origem africana, tem significado pejorativo – “ordinário”, “ruim” – e era a denominação que se dava aos trabalhadores que participaram da construção de Brasília. “Foi do Nordeste que saiu o retirante, fugindo da seca e da fome, para calejar as mãos na construção das riquezas de outras regiões” define Divino Sobral.

 

Pinturas, colagens, intervenções fotográficas, instalação, técnicas e suporte diversos, todos criados em 2022, preenchem o espaço e contam a história da pesquisa do artista que, após uma imersão na região nordeste, virou seu foco para o planalto central. A tela “Eixo”, cinzenta como o cimento, faz alusão à primeira cicatriz do solo da nova capital deixada por Lucio Costa em 1956 quando fixou com uma cruz o encontro do Eixo Monumental com o Eixo Rodoviário onde começam tanto a nova cidade como todo um processo que resultou em profunda transformação da região Centro-Oeste do país.

 

Com fotografias transpostas para uma superfície de concreto, o Reynaldo Candia sobrepõe frases célebres que poderiam servir como uma segunda legenda, como em “Candangos construção”. O políptico, também Candangos, manipula pontos de vista lançados sobre a monumental escultura de Bruno Giorgi e o mesmo título se repete em um objeto, encapsulado por acrílico onde o livro Candangos é perfurado e nos orifícios são inseridos retratos de trabalhadores impressos em vermelho. Já em “Antes”, antes, uma fotografia é perfurada por círculos que funcionam como molduras para outras imagens com detalhes arquitetônicos da cidade.

 

A grande “Terra vermelha” exibe um mapa do Brasil, executado com terra extraída do solo da cidade e posto em posição invertida, o que provoca um certo desconforto no olhar e sugere questionamentos. Duas obras que retratam a ausência e a incompletude – Aqui não tem sudeste nem sul e “Pau-brasil” – representam o mapa do Brasil por meio da união de técnicas de pintura agregada à apropriação de objetos. Enquanto a tela em óleo, “Aqui não tem sudeste nem sul”, é formada por um fragmento do mapa com as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, “Pau-brasil” é um trabalho tridimensional com uma prancha da madeira título perpendicular à parede como suporte às capas de livros de história sobre as quais está pintado o mapa brasileiro. “São obras que tratam do esvaziamento da historiografia oficial e da necessidade de reescritura da história, em observância ao narrar do vencido e não do vencedor, como é habitual”, diz Divino Sobral.

 

“Viramundo”, oferece um mapa onde tanto a região Nordeste como a palavra do título surgem pintados com a mistura de cimento, pigmento e tinta acrílica aplicada sobre um suporte de madeira. Para História, com exemplares da enciclopédia Delta dedicados à história geral ou à história do Brasil, uma intervenção de recortes redondos escavados nas capas e nos miolos dos livros, resultam em uma movimentação visual sugerindo acesso ao conteúdo a partir de pontos pré-definidos. “Lacre” e “Torre” são trabalhos que possuem livros vedados no interior de placas de concreto simbolizando as ideias que havia no período da ditadura. Já em “Memória” reúne um grupo de livros didáticos que funcionam como base de sustentação do mastro que ergue a bandeira nacional, confeccionada em feltro com cores acinzentadas “(….) as obras de Reynaldo Candia têm a ousadia de firmar posição de crítica ao fascismo e ao conservadorismo, e de fazer compromisso com a defesa dos valores que garantem a liberdade política, o futuro da juventude e o crescimento da justiça social do País”.

 

Divino Sobral

 

Até 13 de agosto.

 

Telefone: (11) 3816.2404

 

Horários: de segunda a sexta-feira, das 10h às 19hs; sábado das 11 às 15hs

 

Número de obras: 35

 

Técnica: pintura, colagem, corte, serralheria, alvenaria, costura, instalação

 

Dimensões: de 30 x 20 cm a 3

Formas e cores de Maurício Nogueira Lima

14/jul

 

A exposição traz um conjunto de serigrafias produzidas pelo artista entre 1971 e 1995. O Museu de Arte Contemporânea da USP, Ibirapuera, São Paulo, SP,  apresenta a exposição “Maurício Nogueira Lima: Forma e Cor”, com vinte serigrafias do acervo do Instituto que leva o nome do artista e uma pintura de coleção particular. Para Stela Politano, curadora do Instituto Maurício Nogueira Lima, “…as serigrafias demonstram o amadurecimento do artista concreto e um momento de maior liberdade no uso e desenvolvimento das suas pesquisas cromáticas”. Documentos e estudos realizados pelo artista complementam a mostra.

 

Sobre o artista

 

Maurício Nogueira Lima (1930-1999) foi o mais jovem integrante do Grupo Ruptura, que reuniu artistas abstratos geométricos no início da década de 1950 em São Paulo. Ao lado de Geraldo de Barros, Luiz Sacilotto e Waldemar Cordeiro, construiu uma carreira importante como artista concreto e suas obras estiveram presentes nas Bienais de São Paulo (III, IV e V). Em 1960, foi convidado pelo suíço Max Bill para tomar parte da mostra de Arte Concreta em Zurique. Nogueira Lima experimentou um retorno à figuração após o golpe de 1964, aproximando-se de imagens dos meios de comunicação de massa. Em 1967, colaborou com a exposição Nova Objetividade Brasileira (MAM Rio) e assinou o manifesto coletivo Declaração de Princípios Básicos da Nova Vanguarda. No início dos anos de 1970, Nogueira Lima volta suas pesquisas para os efeitos ópticos da cor tendo como base a abstração geométrica, retomando a arte concreta como método e princípio artístico. “A reprodutibilidade do objeto artístico e sua democratização, ideais encontrados no manifesto dos concretos paulistas, são experimentados em seus múltiplos serigráficos”, observa a curadora. É também na década de 1970 que o artista direciona o olhar aos problemas visuais do meio urbano na tentativa de repensar o espaço para neutralizar a poluição urbana por meio da cor. Muitos desses estudos e projetos ainda podem ser visitados, como a Empena São Bento (1979) e as paredes/estruturas lineares das estações de metrô Santana e São Bento (1990), onde se pode observar alguns dos mesmos elementos plásticos de suas serigrafias. Maurício Nogueira Lima buscava a seriação e a multiplicação da forma e da cor, visando uma redistribuição social da criação artística que tanto o fascinava, preocupado em expandir seus estudos e multiplicá-los entre os pares, os alunos, os professores, os amigos e o público. Nas palavras do artista, “concretizo, com formas simples e compreensíveis, as contradições que existem, numa linguagem visual direta e não verbal. Uso os recursos que sei manipular: formas e cores.”

 

 

Maurício Nogueira Lima: Forma e Cor
Stela Politano
Curadora – Instituto Maurício Nogueira Lima

 

Serigrafia é uma forma de impressão/expressão. É uma informação multiplicada. A série de imagens constitui-se de múltiplos serigráficos baseados em processos fotográficos chamados fotolitos. Para Maurício Nogueira Lima, todo o processo gera apenas múltiplos, compostos de formas e cores.
A partir de 1972, Nogueira Lima realiza pesquisas sobre os efeitos ópticos da cor com base na abstração geométrica. Se detém na construção de massas de cor na estrutura bidimensional, criando outros espaços e temporalidades. Como método e princípio artístico, continua fiel à arte concreta aprendida e vivenciada desde 1952, como integrante do grupo Ruptura. A reprodutibilidade do objeto artístico e sua democratização, ideais encontrados no manifesto dos concretos paulistas, são experimentados em seus múltiplos serigráficos, estabelecendo um universo de encontros poéticos entre formas e cores, resultando em uma estrutura informativa e de impacto óptico.
A exposição Maurício Nogueira Lima: Forma e Cor apresenta serigrafias que demonstram o amadurecimento do artista concreto e um momento de maior liberdade no uso e desenvolvimento das suas pesquisas cromáticas, fato que pode ser verificado no conjunto documental e nos estudos que complementam a exposição. O artista-arquiteto modela o espaço por meio da cor, na construção geográfica de superfícies coloridas, criando volumes com o deslocamento da linha ou sobreposição de sombras e leveduras. Compôs com o rigor técnico do arquiteto, do artista concreto, do profissional plástico que se tornou ao longo dos anos.
Disciplinas como a matemática, a física, a geometria, a história e a filosofia se tornam veículos para a criação artística, fomentando a intuição e a sensibilidade por outros caminhos. Os concretos paulistas estiveram envolvidos com a pesquisa plástica concreta, com o aprendizado de técnicas de produção e com o exercício profissional emergente. Uma geração responsável e politicamente comprometida com o trabalho artístico e a democratização do seu acesso.
Também é na década de 1970 que Maurício Nogueira Lima direciona seu olhar aos problemas visuais do meio urbano, tendo como objeto de pesquisa a própria cidade de São Paulo. O intuito era repensar o espaço para neutralizar a poluição urbana por meio da cor. Muitos desses estudos e projetos, como a Empena São Bento (1979) e as paredes/estruturas lineares das estações de metrô Santana e São Bento (1990), ainda podem ser visitados. Neles, pode-se encontrar alguns dos mesmos elementos plásticos das serigrafias. Maurício Nogueira Lima buscava a seriação e a multiplicação da forma e da cor, visando uma redistribuição social da criação artística, rememorando o início da arte construtivista soviética, solidária e democrática, que tanto o fascinava. O ativismo político, antes trabalhado segundo a semântica pop na década de 1960, ganha efeitos cinéticos de cor numa atuação sensível do artista, preocupado em expandir seus estudos e multiplicá-los entre os pares, os alunos, os professores, os amigos e o público. Em suas palavras, “concretizo, com formas simples e compreensíveis, as contradições que existem, numa linguagem visual direta e não verbal. Uso os recursos que sei manipular: formas e cores”.

 

Até 25 de setembro.

Duas exposições na Marcelo Guarnieri SP

 

 

A Galeria Marcelo Guarnieri, Jardins, São Paulo, SP,  apresenta, de 16 de julho a 13 de agosto, na sede de São Paulo, “Guima”, exposição individual do artista paulista e “Gabinete”, exibição coletiva com obras de Alfredo Volpi, Alice Shintani, Antonio Lizárraga, Elisa Bracher, Eleonore Koch, Flávio de Carvalho, Gerty Saruê, Helena Carvalhosa, Iberê Camargo, Ismael Nery, Ivan Serpa, LIUBA, Luiz Paulo Baravelli, Marcello Grassmann, Maria Leontina, Mira Schendel, Niobe Xandó, Paola Junqueira, Pedro Correia de Araújo, Roberto Magalhães, Tarsila do Amaral e Waltercio Caldas. Na Sala 1 serão apresentadas pinturas do taubateano GUIMA (1927-1993) produzidas durante as décadas de 1960 e 1970 e na Sala 2 serão apresentados desenhos, sejam eles obras ou estudos preparatórios, produzidos entre os anos de 1920 e 2020 por artistas brasileiros de diversas gerações.

 

Sobre o artista

 

GUIMA é Luis Moreira Castro Toledo de Souza Guimarães. Nascido em Taubaté em 1927 e formado como artista no Rio de Janeiro em tradicionais centros de estudos de artes como o MAM RJ e a Escola do Povo (fundada por Portinari, Oscar Niemeyer e Quirino Campofiorito), dedicou-se à gravura, ao desenho e à pintura de marinhas e paisagens rurais desertas, muitas vezes habitadas por seres fantásticos e monstruosos. Tais figuras – peixes alados, dragões e outros híbridos gigantes – surgem de influências diversas, tais como o Apocalipse bíblico, as imagens do inconsciente exploradas pelos Surrealistas e o bestiário de Marcello Grassmann, artista que foi também seu professor de gravura. As pinturas de GUIMA variam entre a calmaria silenciosa dos verdes campos do Vale do Paraíba, os ambientes soturnos de pesadelos madrugais e o sentimento trágico das tempestades em alto mar. GUIMA participou da IX Bienal de São Paulo (1967), da coletiva “O Monstro na Arte Moderna” (1967), das 17ª, 18ª, 19ª e 22ª edições do Salão Nacional de Arte Moderna (1968, 1969, 1970, 1973), do 25º Salão Paranaense (1968) e da 16ª Arte e Pensamento Ecológico (1978), dentre outras.

 

A coletiva

 

“Gabinete” reúne obras em desenho produzidas por vinte e dois artistas em diferentes momentos da história da arte brasileira em um período de cem anos. O conjunto de trabalhos permite observar modos distintos com os quais os artistas exploraram o rastro do atrito sobre o papel, seja através das modalidades clássicas da linguagem como o desenho de observação – modelo vivo, paisagem, natureza-morta -, seja através da investigação de seus elementos plásticos e estruturais – o traço e a geometria, por exemplo – ou mesmo através de seu uso como ferramenta para estudos e projetos.

 

 

Rubem Valentim na Pinakotheke São Paulo

28/jun

 


A Pinakotheke São Paulo, Morumbi, lançará no dia 02 de julho, às 11h, o livro “Rubem Valentim (1922-1991) – Sagrada Geometria” (pelo selo da Edições Pinakotheke), edição bilíngüe (port/ingl), com 292 páginas, em formato 21 x 27cm, apresentação de Max Perlingeiro, e texto de Bené Fonteles, amigo mais próximo e que acompanhou por duas décadas Rubem Valentim, extraordinário artista, que fez do sagrado sua vida e obra.
O livro que celebra o centenário de Rubem Valentim, contém depoimentos sobre o artista e sua obra escritos por personalidades da arte como Emanoel Araújo, Ferreira Gullar, Giulio Carlo Argan, Roberto Pontual, Clarival do Prado Valladares e Theon Spanudis. Com edição de Camila Perlingeiro e coordenação geral de Luli Hunt, a publicação busca preencher uma lacuna na história da arte sobre este grande artista, e foi possível graças ao patrocínio do Itaú Cultural, a partir da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Secretaria de Cultura/Ministério do Turismo). “Rubem Valentim (1922-1991) – Sagrada Geometria” poderá ser encontrado nas sedes da Pinakotheke, em São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza, nas livrarias e plataformas de livros na internet, o preço é R$ 120,00. Para marcar o lançamento do livro, a Pinakotheke São Paulo realiza a exposição “Rubem Valentim (1922-1991) – Sagrada Geometria”, com cerca de 100 trabalhos do artista, em pinturas e desenhos, e ainda seus “objetos”, em pintura sobre madeira. A curadoria é de Max Perlingeiro com consultoria de Bené Fonteles. Será exibido, em looping, o vídeo “Rubem Valentim (1922-1991) – Sagrada Geometria”, feito especialmente para a ocasião, com 28’15 de duração, direção de Max Perlingeiro, edição de Fabricio Marques, narração de Bené Fonteles e fotografia de Andre Caliento Barone.

 

Ensaio fotográfico de Christian Cravo

 

Estará também na exposição um ensaio fotográfico de Christian Cravo do “Templo de Oxalá”, conjunto com 20 esculturas e 10 relevos criado em 1974 por Rubem Valentim, pertencente ao Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador.

 

Simbologia Mágica – Tradições populares dos negros da Bahia

 

Nascido em Salvador, em 09 de novembro de 1922, e falecido em São Paulo, em 30 de janeiro de 1991, “Valentim queria essa conexão sagrada em complementação com a estética. Rubem Valentim é um artista essencial para uma melhor compreensão da tradição afro-brasileira; e Bené Fonteles, seu principal estudioso e interlocutor por sua conexão espiritual”, escreve Max Perlingeiro no texto “Um artista sacerdote”, na apresentação do livro. “A pedido do artista, Bené torna-se o Ogã (palavra que vem do iorubá e significa “Senhor da minha casa”) do terreiro de Valentim. Aquele que cuida de sua vida e, em consequência, de sua obra. É mais um caso de amizade que a Pinakotheke torna visível!”, destaca Max, responsável pelo planejamento e organização da publicação e curador da exposição. Giulio Carlo Argan (1909-1992), o grande teórico da arte que conviveu com o artista no início dos anos 1960, durante sua estada em Roma, escreveu sobre ele: “Os seus signos são deduzidos da simbologia mágica que se transmite com as tradições populares dos negros da Bahia. A evocação destes signos simbólico-mágicos não tem, entretanto, nada de folclorístico. É necessário expor, antes, que eles aparecem subitamente imunizados, privados das suas próprias virtudes originárias, evocativas ou provocatórias: o artista os elabora até que a obscuridade ameaçadora do fetiche se esclareça na límpida forma do mito. Decompõe-nos e os geometriza, arranca-os da originária semente iconográfica; depois os reorganiza segundo simetrias rigorosas, os reduz à essencialidade de uma geometria primária, feita de verticais, horizontais, triângulos, círculos, quadrados, retângulos; enfim, torna-os macroscopicamente manifestos em acuradas, profundas zonas colorísticas, entre as quais procura precisas relações métricas, proporcionais, difíceis equivalências entre signos e fundo”. “O que a sua pintura, em última análise, quer demonstrar é que nas atuais concepções do espaço e do tempo os símbolos e os signos de uma experiência antiga, ancestral, conservam uma carga semântica não inferior à geometria pitagórica ou euclidiana”, continua Argan. “O seu apelo à simbologia mágica não é, portanto, o apelo à floresta; é, talvez, a recordação inconsciente de uma grande e luminosa civilização negra anterior às conquistas ocidentais. Por isso, a configuração de suas imagens é também mais claramente heráldica e emblemática do que simbólico-mágica”.

 

Melhor síntese sincrética em todas as Américas afetadas por uma colonização brutal

 

Paraense nascido em 1953, artista plástico e poeta, Bené Fonteles destaca que Rubem Valentim “…talvez seja o artista que fez melhor e mais intensamente a síntese sincrética em todas as Américas afetadas por uma colonização brutal que ainda atormenta a consciência no século 21”. “Artista extraordinário que decodificou, durante cinco décadas, a herança mestiça na busca obsessiva de um fazer sempre leal sua “riscadura e sentir brasileiros”, atravessado por propósitos de uma rigorosa e radical artesania”. Ele comenta que Rubem Valentim afirmava: “Fora do fazer, não há salvação”. “Esta salvação era eivada pela   radicalidade de um artista-sacerdote – como ele queria ser em seu mosteiro-ateliê sonorizado pelos cantos gregorianos ou, ainda, Bach e Mozart”, observa Fonteles. “Seja em Brasília ou São Paulo, desenvolvia seu projeto inspirado por sua vocação construtiva vinda da tradição milenar de nossa arte ameríndia assim como dos povos que atravessaram o Atlântico em meio a toda dor e a redimiram num raro projeto cultural e espiritual sem paralelo no mundo. Valentim é produto vital desse ser mestiço que nos tornamos”.

 

Obras do artista em coleções e locais públicos

 

Em 1963, estava sendo criado o Museu de Arte Moderna de Roma, que adquiriu três obras de Rubem Valentim. Em Roma, a Galleria Nazionalle d’Arte Moderna e o Palácio Doria Pamphili também têm obras do artista. Outras instituições na Europa com trabalhos de Rubem Valentim são o Museu de Arte Moderna de Paris, e o Museu de Arte e História de Genebra, Suíça. O Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), EUA, e Museu de Arte de Ontário, Canadá, têm obras do artista. Na África, há obras de Rubem Valentim no Museu de Arte de Lagos, na Nigéria, e no Museu de Arte de Marrakech, no Marrocos. No Brasil, coleções e locais públicos onde podem ser vistas obras de Rubem Valentim: em São Paulo – Biblioteca Municipal Mário de Andrade, Centro Cultural São Paulo, Museu Afro-Brasil, Museu de Arte Contemporânea da USP, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu de Arte de São Paulo, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Praça da Sé, e Coleção Itaú-Unibanco. Em Brasília: Coleção de Arte do Banco do Brasil, Centro Cultural Banco do Brasil, Palácio do Itamaraty, Palácio do Buriti, Ministério da Educação, e Secretaria da Fazenda do Distrito Federal. Em Salvador: Museu de Arte Moderna da Bahia. No Rio de Janeiro: Museu de Arte Moderna.

Até 30 de julho.

 

 

A história de Efrain Almeida

22/jun

 

 

O Museu de Arte Sacra de São Paulo – MAS/SP, Avenida Tiradentes, 676, Luz, instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, apresenta de 26 de junho a 14 de agosto a exposição “O Sexto Dia”, do artista Efrain Almeida, sob curadoria de Paulo Azeco, que discorre sobre a trajetória do artista, em primeira pessoa, narrando sua história e pautando suas escolhas no decorrer dos anos.

O momento em que Efrain Almeida teve revelado o seu real papel como criativo, quando uma súbita sensação de entendimento da sua essência, quase um sonho irrealizável de conscientização sobre sua procura, ocorre em uma visita à sala de ex-votos em uma congregação local. “Enquanto imagens, relíquias, artefatos votivos são instrumentos de adoração e por vezes causadores de êxtase entre fiéis, no caso de Efrain, a epifania foi estética. Aquilo era o máximo de força criativa que já havia visto e é esse o ponto fundamental de sua produção artística”, explica o curador.

“O Sexto Dia”, dia da criação dos animais e do homem, segundo as Escrituras, marca o momento de sua epifania por sua profunda compreensão da essência das coisas e de sua inserção no todo; a consciência de que todos são criados iguais, sem distinção nem diferenças. Dos desenhos feitos na areia em um pequeno município do interior do Ceará, o artista arquiteta seu sexto dia participante, com objeto de arte, como parte da trajetória que conta a história como personagem de sua própria obra.

Seus delicados beija-flores, em pleno voo, beijam as paredes para dar as boas-vindas já que, em algumas culturas antigas, são seres de luz e portadores de boa sorte. “Eles abrem a exposição, para contar a história desse artista, que esteticamente está muito ligado ao cristianismo, mas que usa o seu corpo, e sua vida como testemunho do seu tempo, partindo de códigos próprios norteados pelo pensamento contemporâneo”, explica Paulo Azeco. O equilíbrio harmônico é desafiado pela série de aquarelas, lembranças do momento pandêmico onde o artista, infectado e afetado por febre elevada, insere o beija-flor em uma delas talvez, inconscientemente, buscando a cura. As aquarelas são seguidas por delicadas pinturas a óleo, reposicionando a figura humana como tema central, elaborada com a precisão geométrica dos concretistas e sofisticadas técnicas e seleção de paletas de cor.

“Cabeça-vermelha”, que compõe a sala expositiva, é uma instalação inédita criada por Efrain para esse momento específico. Está diretamente vinculada às lembranças de sua vida pregressa com pessoas agora ausentes, carinhos do coração. O curador explica: “ Seu pai, marceneiro, sempre cortou os cubos de madeira para Efrain esculpir… Tempos depois de sua morte, Efrain encontra essas últimas peças de madeira esquecidas e as esculpe, uma a uma, em um momento de intimidade sublime entre seu trabalho e a lembrança de seu pai. Obras impregnadas de emoção que, de alguma forma, buscam no espectador cumplicidade frente a delicadeza e força do trabalho”.

Finalizando a exposição, temos uma imagem de Santa Luzia, santa de devoção de Efrain e protetora dos olhos os quais, nas representações escultóricas ela os carrega em sua mão, e que se tornaram elementos constantes nas criações do artista. Uma instalação, com uma série de bonés de veludo onde o artista utiliza a cor marrom, remete a San Francisco, EUA e que, de certa forma fala, sobre sua história, fica posicionada à frente do par de olhos. “Seriam todos esses olhos vigiando ou culpando o artista?”, comenta o curador, deixando a resposta em aberto.

Efrain é daqueles poucos artistas que sempre se manteve fiel à sua arte e sua verdade, se afastando de modismos e mostrando que seu trabalho, por vezes tido como regionalista, é na verdade universal, graças a sofisticação de pensamento, execução. Enfatiza, também, que por tratar um tema tão delicado como a igreja e a fé com força, coragem e respeito, é capaz de criar uma poética precisa e coesa E como na criação do homem, no sexto dia, o artista aqui se desnuda”.  Paulo Azeco