A Amazônia de Renata Padovan

08/ago

 

 

Em exposição na CASNOVA, Jardim Paulista, São Paulo, SP, Renata Padovan nos revela o caminho à frente ao traçar as ameaças que circundam a floresta Amazônica. A mostra “Para Saber Aonde Está Pisando” conta com uma instalação que narra o cenário da represa hidrelétrica de Balbina no estado do Amazonas. E originando o título da mostra, temos a obra em tapete que mapeia as diversas áreas da floresta.

 

Em pura lã e bordado à mão pelas artesãs da Casa Caiada, esse trabalho nasceu de uma pesquisa que busca uma melhor compreensão do panorama ambiental. Aqui, a área da Pan Amazônia é dividida em cinco categorias: as áreas preservadas (em verde), as desmatadas (em vermelho), aquelas consideradas terras indígenas (ocre) e as áreas reservadas para a extração do petróleo (em cinza). As áreas na cor cru são as “não destinadas”; aquelas que costumam ser loteadas ilegalmente e estão mais suscetíveis à grilagem de terra. O tapete aponta para uma disputa ininterrupta entre preservação e exploração, mantendo a poética que é a trama do título.

 

Sobre e artista

 

Renata Padovan nasceu em São Paulo, onde vive e trabalha. É graduada em Comunicação Social pela FAAP, ganhou a bolsa Virtuose em 2001 para mestrado na Chelsea College of Art and Design, Londres. Participou de diversos programas internacionais como artista residente, entre eles Banff Centre for the Arts, Canadá; Nagasawa Art Park, Japão, Braziers international arists workshop, Inglaterra e NES, Skagaströnd, Islândia. Entre as exposições individuais: Galeria Baró, Galeria Eduardo H. Fernandes, Galeria Thomas Cohn, Centro Cultural São Paulo, Galeria Millan, Galeria Valu Oria, Museu Brasileiro da Escultura em São Paulo, e no Rio de Janeiro no Espaço Cultural dos Correios, Paço Imperial e Museu do Açude. Seu trabalho tem sido mostrado em exposições coletivas e festivais internacionais.

 

O verão de 1945 na Itália

 

 

Exposição fotográfica que traz ao Brasil uma seleção de 45 imagens do Arquivo Patellani conservado no Museu de Fotografia Contemporânea de Cinisello Balsamo – Milão, “Fotografia | O verão de 1945 na Itália: a viagem de Lina Bo nas fotografias de Federico Patellani Maeci” tem curadoria de Francesco Perrotta-Bosch. Em cartaz até 10 de agosto no Giardino dell’Istituto Italiano di Cultura, Higienópolis, São Paulo, SP.

 

As fotos retratam a viagem realizada por Federico Patellani, entre julho e setembro de 1945, pelas cidades italianas de Milão, Marzabotto, Florença, Buonconvento, Radicofani, Acquapendente, Viterbo, Cassino, Valmontone e Roma. Neste percurso Patellani esteve com dois jovens arquitetos, Lina Bo e Carlo Pagani, com o intuito de registrar as condições de moradia na Itália deste período. Federico Patellani (1911-1999) é considerado o precursor do fotojornalismo na Itália e exponente da fotografia neorrealista. Graças a seu olhar de viés sócio antropológico produziu incontáveis séries que documentaram fatos importantes e personalidades do século XX.

Novas obras de Ana Linnemann

05/ago

 

 

A Gentil Carioca | São Paulo, Higienópolis, convida para este sábado, 06 de agosto, das 14h às 19h – com visitação até 17 de setembro – para a abertura de “Anotações sobre a prática e outras considerações”, de Ana Linnemann.

 

A mostra finaliza uma trilogia protagonizada pelas relações internas de produção da artista e apresenta trabalhos anteriores e novas obras desenvolvidas em meio à pandemia da Covid-19 e ao desmonte dos últimos anos. Em um movimento de olhar para fora, uma leitura mais atenta a questões políticas e sociais se incorpora a trabalhos em que a artista pensa relações de igualdade, situações de rebatimento e polarização, o acaso e a sua falta, o inesperado e decorrências.

 

Vida e obra de Lorenzato em livro

 

 

A vida e a obra do artista mineiro Lorenzato estarão no centro do encontro que acontece na livraria Megafauna, Edifício Copan, Avenida Ipiranga, 200, loja 53, República, São Paulo, SP, no dia 06 de agosto (sábado), às 11h, por ocasião do lançamento de “Lorenzato”. Organizador do livro, o curador Rodrigo Moura conversa com o crítico Tiago Mesquita e a artista Patricia Leite, e na sequência autografa os exemplares.

 

Durante muitos anos limitada a um círculo pequeno de admiradores, a obra de Lorenzato vem conquistando novos públicos e consolidando seu lugar entre os artistas modernos brasileiros. As pinturas de Lorenzato remontam a sua origem na classe trabalhadora, condição que o levou a conjugar as ambições artísticas à necessidade de sustentar a família com o trabalho na construção civil, podendo se dedicar inteiramente à arte somente com mais de 50 anos.

 

LORENZATO – Rodrigo Moura – Ubu Editora

 

Obra bilíngue que reúne os principais trabalhos do pintor mineiro Amadeo Luciano Lorenzato que produziu um corpo de obra estimado entre 3 mil e 5 mil pinturas com temas e iconografias os mais diversos, que refletem sua biografia e sua relação com a paisagem de Belo Horizonte, MG, seu entorno e sua urbanização. Suas obras conhecidas datam dos anos 1940, quando ele volta ao Brasil depois de ter passado quase trinta anos

 

a Europa, a 1995, ano de sua morte. O artista só pôde se dedicar inteiramente à arte com mais de cinquenta anos, quando se aposenta devido a um acidente de trabalho. Seu ofício como pintor-decorador lhe inspirou a criação de uma técnica pictórica original, que se valia de instrumentos adaptados da decoração de paredes. Com o auxílio de um pente, ele raspava a tinta sobre a superfície repetidas vezes, criando uma fusão de cores com texturas e promovendo uma sensação de movimento. Costumava manipular as tintas a partir de pigmentos minerais encontrados no mercado, e frequentemente as aplicava sobre uma camada de alvaiade que contribuía para intensificar a vibração das cores. A fabricação dos suportes pictóricos, parte importante de sua economia de meios, o levava a reaproveitar pedaços de chapas de madeira e embalagens, às vezes recobertas com tecido ou papel, costurados ou colados à mão. Os formatos eram quase sempre pequenos ou médios – no máximo um metro no lado maior -, denotando certo sentido de domesticidade. Seus quadros têm aspecto áspero: são opacos, táteis e sensoriais. Durante muitos anos limitada a um círculo pequeno de admiradores, sobretudo de artistas e marchands de sua cidade natal, a obra de Lorenzato vem conquistando novas audiências nos últimos vinte anos por meio de exposições, sobretudo em galerias profissionais, que culminaram numa série de apresentações internacionais em 2019. Essa reapreciação consolidou seu lugar entre os artistas modernos brasileiros, contribuindo para a ampliação do cânone. Assim como outros artistas chamados preconceituosamente de primitivos ou ingênuos, Lorenzato recorreu a fontes populares, reprocessando-as com referências eruditas dentro de uma perspectiva não hierárquica. Sua obra deve, pois, ser compreendida como parte da modernidade tardia brasileira.

 

“Lorenzato” é uma publicação da Ubu e está disponível nas principais livrarias.

320 Páginas – Formato 17.5 × 25 × 2.8 cm – R$179,00

 

Sobre o autor e palestrantes

 

Rodrigo Moura é curador, editor e crítico de arte. Trabalhou em instituições brasileiras, como o Museu de Arte da Pampulha, o Instituto Inhotim e o MASP. Desde 2019, é curador-chefe no Museo del Barrio, em Nova York.

 

Tiago Mesquita é crítico de arte e professor de história da arte. Doutor em filosofia pela Universidade de São Paulo, é autor de livros como Imagem útil, imagem inútil e Cassio Michalany: como anda a cor.

 

Patricia Leite é artista, com bacharelado em Desenho e Gravura pela UFMG. Participou do Núcleo Experimental de Arte, dirigido por Amilcar de Castro, e foi professora de pintura no Curso Livre da Escola Guignard. Tem obras nas coleções de instituições como o Museu de Arte da Pampulha e a Pinacoteca do Estado de São Paulo.

 

*Diante do aumento dos casos de Covid, a Megafauna recomenda aos frequentadores da loja o uso de máscara.

 

 

Dudi Maia Rosa na Galeria Millan

03/ago

 

 

Em “Tudo de Novo”, a nova exposição individual de Dudi Maia Rosa na Galeria Millan, Pinheiros, São Paulo, SP, três anos após a mostra “Lírica”, em 2019, apresenta – de 06 de agosto a 03 de setembro –  um vasto recorte da produção do artista, mesclando obras recentes de sua produção com trabalhos mais antigos, sob a curadoria de Victor Gorgulho.

 

Através de uma abordagem não hierarquizante, são apresentados cerca de quarenta trabalhos inéditos, dentre suas conhecidas obras em resina poliéster pigmentada – técnica sobre a qual o artista debruça-se há décadas, ocupando papel central em sua prática – e trabalhos em pequenos formatos onde a resina funde-se a outros materiais diversos: pedaços de vidro, alumínio, latão, plástico e mesmo a pequenos objetos. Muitas vezes encobertos por sutis camadas de cor, seja pelo uso pontual da tinta à óleo, acrílica ou pelo emprego de carvão ou grafite, são peças que resultam em delicadas assemblages bidimensionais, cujas composições pautadas por ruídos visuais contrastam com as propriedades cromáticas e de luminosidade dos trabalhos em maior escala.

 

Ainda que a mistura destes dois grupos de trabalhos sugira, a princípio, relações dicotômicas entre luz e sombra, cor e escuridão, polidez e fratura, a exibição das obras em pequenos grupos e composições pensadas minuciosamente pelo artista junto ao curador, aprofundam e complexificam tais fricções entre eles. Deste modo, trabalhos do artista realizados em uma ampla janela temporal – desde uma pequena obra datada de 1993 até um robusto conjunto de trabalhos feito nos últimos três anos, aproximadamente – ganham novas camadas semânticas a partir de insuspeitadas relações tanto de afinidade quanto de oposição: seja de ordem formal, cromática, material ou de outras naturezas ainda por serem reveladas.

 

“Tudo de Novo”, frase escrita por Maia Rosa em um dos pequenos trabalhos de resina e fibra de vidro, remete, assim, à natureza irrevogável do labor artístico próprio do ateliê, da vivência diária do estúdio onde nascem e concretizam-se as ideias artísticas; bem-sucedidas ou falhas. É celebrada aqui, portanto, tal resiliência intrínseca ao trôpego fazer artístico, nas mais diversas práticas e produções, mundo afora.

 

Dudi Maia Rosa sabe – qualquer artista sabe – que é preciso encarar o ateliê, dia após dia, atravessando-os em seus questionamentos e dúvidas que teimam em povoar a espessa nebulosidade dos pensamentos de cada um. É preciso adentrar, sem medo, as noites infindas de criação, de inspiração e de impasse, surpresas e falhas, gozo e insatisfação. É preciso mesmo fazer tudo de novo, sabemos: adentrar o espaço expositivo, fitar mais uma vez sua própria obra (sua própria vida, afinal?) para então recriá-la, reconfigurá-la, como quem limpa os próprios olhos em busca de enxergar novamente a vida pela primeira vez. Lavada, nua, assombrosa. Tudo de novo, uma vez mais e outra ainda além, assim por diante.

 

Sobre o artista

 

Dudi Maia Rosa nasceu em 1946, São Paulo, SP. Vive e trabalha em São Paulo, iniciou suas primeiras investigações pictóricas com materiais translúcidos, como a resina poliéster pigmentada em fibra de vidro, em 1984. Também se tornou conhecido por conceber trabalhos com volumes e relevos que retêm a luz dentro de si. Suas obras possuem uma certa espacialidade que acaba por sugerir imagens que se dão sem profundidade, puramente na superfície, mas que são, ao mesmo tempo, profundas em si mesmas, se parecem ora com quadros, ora com telas de projeção, ora com vitrais, algumas com relevos de muranos, objetos que insinuam possuir acontecimentos tridimensionais de cores e formas internos. Os trabalhos de Dudi são ocasiões de corporeidade, de presença física, cujas imagens (essas entidades abstratas, que circulam livremente, que não possuem nem tempo e nem lugar) devem responder ao aqui e agora. Apresentou em 1978 sua primeira exposição individual no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, São Paulo, SP. Desde então, realizou diversas exposições individuais em importantes espaços dentre os quais na André Millan Galeria (1993) e Galeria Millan, São Paulo, SP (2009, 2012, 2016 e 2019), Centro Cultural Maria Antônia, São Paulo, SP (2002 e 2013), Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, SP (2013), Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, SP (2008), entre outros. Dentre as exibições coletivas destacam-se: “Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira”, Santander Cultural, Porto Alegre, RS, “Modos de Ver o Brasil: Itaú Cultural 30 anos”, Oca, São Paulo, SP (2017), “Auroras – Pequenas Pinturas”, São Paulo, SP (2016), “Uma coleção particular – Arte contemporânea no acervo da Pinacoteca”, Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP (2015), 10ª Bienal do Mercosul, “Mensagens de Uma Nova América”, Porto Alegre, RS (2015), “Brasiliana: Moderna Contemporânea”, Museu de Arte de São Paulo, SP (2006), 5ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre, RS (2005), “Mostra do Redescobrimento: Brasil 500 Anos”, no Pavilhão da Bienal de São Paulo, SP (2000), Bienal de Johanesburgo, África do Sul (1995), Bienal Internacional de São Paulo (1987 e 1994) e Panorama da Arte Atual Brasileira, Museu de Arte Moderna de São Paulo, SP (1973, 1986, 1989 e 1993). Possui obras em diversas coleções, incluindo a Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de Arte de São Paulo, Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, SP,  Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, SP, Museu de Arte do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Museu de Arte Moderna de São Paulo, SP, Coleção de Arte da Cidade, São Paulo, SP, Coleção Dulce e João Carlos Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, SP, Coleção Itaú, São Paulo, SP, “Coleção Metrópolis de Arte Contemporânea”, Stedelijk Museum, Amsterdan, Holanda, entre outras

 

 

Exposição de Bruno Cançado

02/ago

 

 
A Central Galeria, República, São Paulo, SP, apresenta até 19 de setembro a exposição “A menor distância” de Bruno Cançado. Em sua  segunda exposição individual na galeria, o artista de Belo Horizonte apresenta trabalhos tridimensionais inéditos em que emprega materiais diversos como terra de cupinzeiro, cimento, resina, adobe, concreto, madeira, aço e bronze. A mostra é acompanhada de um texto crítico assinado por Agnaldo Farias.

 

O trabalho de Bruno Cançado intersecciona arquitetura, ecologia e epistemologia. Baseando-se no conhecimento empírico de construir – seja da arquitetura vernacular ou da construção em escala industrial -, sua obra culmina em uma mistura de temporalidades e elementos, que vão do natural ao manufaturado, do artesanal ao erudito. “Bruno aventura-se pela cidade em busca do que não sabe, mas que reconhece tão logo encontra, seja algo realizado pelo exercício puro da inteligência quando açulada pela necessidade de improviso, pela carência de recursos, seja pelo encontro de coisas que atuam como gatilho da sua capacidade de estabelecer conexões entre coisas díspares”, observa Agnaldo Farias. “O artista interessa-se por suas serventias, pelos destinos que justificaram suas presenças no mundo, pelos sentidos que lhes foram e são atribuídos no decorrer do tempo.”

 

Sobre o artista

 

Bruno Cançado nasceu em Belo Horizonte em 1981. Mestre em Artes Visuais pela Cornell University (Ithaca, EUA, 2019), graduou-se em Artes Plásticas pela UEMG (2010) e em Comunicação Social pela PUC Minas (2003). Participou de diversas residências, como Lighthouse Works (Fishers Island, EUA, 2019), Fine Arts Work Center (Provincetown, EUA, 2014-2015) e Fundação Bienal de Cerveira (Portugal, 2014), entre outras. Entre suas exposições, destacam-se as individuais em: CCBB-BH (Belo Horizonte, 2021), Central Galeria (São Paulo, 2017), AM Galeria (Belo Horizonte, 2016) e Hudson D. Walker Gallery (Provincetown, 2015), entre outras. Seu trabalho integra as coleções do MAC Niterói e do Museu de Arte do Rio.

 

No Planetário do Carmo

29/jul

 

 

Proporcionando uma experiência sensorial e artística num espaço científico de pesquisa astronômica, a artista visual Marcia Ribeiro vai interseccionar saberes e criar relações de complementaridade entre as dimensões do macro e do microcosmos na mostra gratuita “Elipse, Eclipse, Apocalipse”, em ocupação que ocorrerá entre 31 de julho a 30 de outubro, no Planetário do Carmo, em São Paulo, SP.

 

Com obras pictóricas, instalações e proposição de exercícios criativos, ela estabelece pontes entre as noções de subjetividade e de coletividade. Em todas as obras, Marcia propõe uma reflexão sobre a nossa condição enquanto “parte de um todo”, exercitando a noção de consciência universal. “Ao olharmos para o céu, nos deparamos com algo expandido, desconhecido, preenchido de vazios e corpos celestes que sabemos imensos, mas que, ao mesmo tempo, parecem mínimos. Quando observamos o mais longínquo da dimensão do fora, nos deparamos com o infinito, mas somos, também, convidados a olhar para o que está dentro de nós”, afirma a artista.

 

Através dessas intersecções entre elementos opostos e complementares, a artista desenha um percurso com obras que espelham corpos celestes e átomos e que jogam com as noções de observação e imaginação, de atemporalidade e instante, de subjetividade e objetividade.

 

Sobre as obras

 

Na primeira instalação, um conjunto de bandeiras, com as palavras “Galáxia”, “Universo” e “Planeta” Marcia dialoga com o trabalho do artista brasileiro Antonio Dias, “Anywhere is my land”. Nela, discute o conceito de território e o apagamento das fronteiras em um mundo globalizado onde, para além das delimitações de ordem política e econômica, tem-se uma casa comum, habitada por todos. Já em “Cápsula Atômica”, o visitante adentra um espelho circular composto por três arcos, experimentando a sensação de perder-se o chão, de flutuar no céu e de, ao mesmo tempo, ser o núcleo de um átomo. Mais adiante, em uma sequência de oito pinturas de grande porte suspensas no ar por cabos, camadas de tinta são sobrepostas e expostas, através do gesto de raspagem, o que conduz o visitante a percorrer um caminho imagético contínuo e, ao mesmo tempo, fragmentado. Nas camadas da memória e do corpo da matéria em sobreposição, o tempo se revela em movimento contínuo e em pausas. Nas palavras de Ulisses Carrilho, crítico que escreveu o texto da exposição: “Em tinta acrílica, guache, bastão oleoso ou lidando diretamente com pigmentos, percebemos um corpo de trabalhos que ora parecem ser um gozo liberado de experimentação da forma, ora parecem ter o ímpeto de revelar o que a ciência ainda não conseguiu desvelar. Como espécies de mirações ou visões alucinógenas, percebemos uma psicodelia da forma que não obedece à rigidez dos projetos concretos e neoconcretos, tão importantes para a arte brasileira, mas ainda assim percebemos uma vontade geométrica nas composições estruturadas pela artista”. “Ao mirar suas pinturas”, continua ele, “reconhecemos enigmas que demandam tempo do espectador: desobedecem à rapidez da ordem do dia, parecem esgarçar o tempo, convidar a uma vagareza. Tal demora, própria da reflexão, poderia levar-nos a viajar no tempo e especular um regime de concomitâncias, de associações livres de respaldo ou fixidez: em Hilma af Klint (1862-1944), pintora sueca que experimentou o abstracionismo antes mesmo de Kandinsky ou Mondrian, também percebemos uma representação física, em tela, daquilo que não é visível”. Na arte de Hilma, “a tinta relembra que a matéria, por meio do gesto, não opera apenas naquilo que é concreto ou apreensível, por meio do que já foi elucidado. Ganha um quê espiritual – própria não apenas dos alfarrábios da história da arte, mas também possível de ser pareada à arte contemporânea brasileira produzida por artistas indígenas”, na análise Ulisses Carrilho.

 

Em outra obra, “Ciao Mondo – Réquiem Elíptico” – que se realiza no grande domo do planetário -, Marcia projeta cores e estrelas no imenso espaço esférico, com uma trilha sonora polifônica composta por Arthur Braganti que indica o ciclo de um dia. A imersão na luz e no som leva o visitante a uma viagem cósmica. No lugar da noite como espaço para criação de futuro e novas possibilidades e cantando em uníssono com o neurocientista Sidarta Ribeiro, a artista  coloca o sonho em um lugar central, importante, na vida de todos nós. E, quem sabe, como nós encontraremos o caminho para um amanhã melhor. “O trabalho propõe tomar consciência do fluxo dos próprios pensamentos, instigando a reflexão, o mergulho onírico e a renovação numa nova manhã”, enumera Marcia. O título sugere chegada e também partida.

 

O último trabalho, a proposição “Escrito nas Estrelas”, será interativo. A ideia é que o público compartilhe seus sonhos, desejos e pensamentos num ritual digital, através da #elipseeclipseapocalipse. O público torna-se coautor de uma grande obra coletiva, com infinitas possibilidades imaginativas. Trabalha-se, então, com as noções de destino, imaginação e transformação da realidade. Com esse exercício imaginário, diante de um momento em que a perspectiva da nossa condição planetária é apocalíptica, Márcia sugere uma espécie de elipse, uma volta para que possamos cultivar nossas potencialidades transformadoras: a nossa subjetividade e a noção de coletividade – de maneira espelhada. Segundo Carrilho, “em “Elipse, Eclipse, Apocalipse”, Marcia insiste na percepção. Provoca o encontro de seus trabalhos com aqueles que vêm até o planetário para, por meio de seus corpos, ter uma noção ampliada do universo onde vivemos – e morreremos”. Por fim, a artista acredita que realizar uma mostra de arte nesse local mágico, que permeia nosso imaginário e nos oferece um céu lúdico que estimula a sonhar, se torna pertinente sobretudo neste momento em que uma lógica perversa domina as diretrizes vigentes e explicitamente nega a ciência, a arte, a pesquisa. A natureza sinaliza que os impactos do Antropoceno já são irreversíveis, exigindo uma mudança comportamental urgente. Olhando para “fora”, questionamos o que está “dentro”, onde estamos e o que fazemos com isso. Ao olhar para o céu, temos o infinito como referencial e as coisas se ressignificam, do micro ao macro. É imaginar o “impossível” para pautar o possível!

 

A mostra ainda conta com uma apresentação especial do Corpo de Theatro Municipal de São Paulo em data a ser confirmada.

 

Sobre a artista

 

Trabalhando com pintura, instalação e desenho, Marcia Ribeiro tem como parte da sua poética os elementos do universo, das camadas do tempo e da memória dentro de uma perspectiva arqueológica, processos alquímicos, noções de coletividade e subjetividade. Formada em artes plásticas pela FAAP – SP, com pós-graduação em Ensino da Arte pela UERJ – RJ. Realizou as exposições individuais “In Between” na Svenska Kyrkan, NYC e “Um Pouco do Nada”, Casa da Luz, em São Paulo. Sua exibição mais recente foi a coletiva “Still Utopia: Island” na MC Gallery em NYC. É cocriadora do Festival Cajubi.

 

 

O Mapa da Mina por Alex Flemming 

26/jul

 

 

No ano do Bicentenário da Independência, em “O Mapa da Mina”, exposição individual do artista plástico Alex Flemming é proposto o debate sobre as riquezas naturais do Brasil.

 

A partir de 30 de julho, a Biblioteca Mário de Andrade, República, São Paulo, SP, recebe a série de obras feitas em chapas de madeira, recortadas no formato do mapa do Brasil, cravejadas de pedras nativas como topázios, ametistas, citrinos, opalas, rodolitas, peridotos, rubilitas e kunzitas, compondo uma cartografia visual que sustenta uma profunda potência estética e política.

 

A mostra exalta a riqueza e beleza gerada em nosso solo e traz um convite à reflexão sobre sua utilização: “Minha proposta com essas obras é discutir as riquezas do Brasil, a forma de extração e sua má distribuição. Desde nossa colonização o extrativismo gera fortunas que vão para os bolsos de uma minoria, escancarando a desigualdade da população”, explica Flemming. A mostra carrega também uma carga simbólica de pertencimento e deslocamento que os mapas fazem emergir, o que sem dúvida dialoga muito com Alex Flemming – artista que divide seu tempo entre o Brasil, país de origem, e a Alemanha, onde reside desde 1991. Flemming é um artista multimídia que transita pela pintura, gravura, instalação, desenho, colagem, esculturas, fotografia e objetos, com foco na “pintura sobre superfícies não tradicionais” como o próprio artista define. Foi professor da Kunstakademie de Oslo, na Noruega, entre 1993 e 1994 e em 1998 produz sua obra pública de maior impacto, na estação Sumaré do Metrô em São Paulo, com 44 retratos em vidro recobertos por poesia. Em 2016 inaugura mais 16 retratos em vidro colorido na Biblioteca Mário de Andrade, também em São Paulo.

 

Sobre o artista

 

Alex Flemming nasceu em São Paulo, SP e o reside na Alemanha desde 1991. Cursou Arquitetura na FAU-USP e frequentou o Curso Livre de Cinema na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em São Paulo, entre 1972 e 1974. Na década de 1970, realizou filmes de curtas-metragens e participou de inúmeros festivais de cinema. Em 1981, se muda para Nova York, onde permanece por dois anos e desenvolve projeto no Pratt Institute, com bolsa de estudos da Fulbright Foundation. A partir dos anos 1990, realiza instalações em espaços expositivos (MASP e XXI Bienal Internacional de São Paulo) usando bichos empalhados pintados com fortes cores metálicas, inaugurando assim uma duradoura série de pinturas sobre superfícies não tradicionais. Posteriormente passa a utilizar como material suas próprias roupas, móveis, objetos utilitários e computadores. Flemming também cria silhuetas de aviões feitas com tapetes persas na série “Flying Carpets” e aborda os dilemas da guerra em fotografias de grandes dimensões na série “Body-Builders”, só para citar algumas de suas frentes de trabalho nos 40 anos em que atua como artista. Em 2002, são publicados os livros Alex Flemming, pela Edusp, organizado por Ana Mae Barbosa, com textos de diversos especialistas em artes visuais; Alex Flemming, uma Poética…, de Katia Canton, pela Editora Metalivros; e, em 2005, o livro Alex Flemming – Arte e História, de Roseli Ventrella e Valéria de Souza, pela Editora Moderna. Em 2006 a editora Cosac & Naif publica Alex Flemming com texto e entrevistas produzidas pela jornalista e curadora Angélica de Moraes. Em 2016 tem sua primeira retrospectiva no MAC-USP com curadoria de Mayra Laudanna e a exposição e livro Alex Flemming editado pela Martins Fontes. Em 2017 expõe a série “Anaconda” na Fundação Ema Gordon Klabin, e de dezembro de 2017 a fevereiro de 2018 tem sua segunda retrospectiva – de CORpo e Alma – no Palácio das Artes em Belo Horizonte, com curadoria de Henrique Luz. No ano de 2019, expõe a série “Ecce Homo” na Galeria Kogan Amaro, em São Paulo, e a série “Apokalypse” em uma grande individual na Kirche am Hohenzollernplatz em Berlim (Alemanha). Em 2020, com a pandemia, Alex Flemming, em uma ação com a Companhia do Metrô de São Paulo ressignifica a sua mais conhecida obra pública, a estação Sumaré do Metrô. Para conscientizar a população sobre o uso de máscaras em espaços públicos, o artista aplica formas pentagonais de cores vibrantes que remetem à máscaras sobre os já conhecidos retratos da estação.

 

A exposição “ALEX FLEMMING: o Mapa da Mina” terá vernissage aberta ao público dia 30 de julho(sábado) às 11h, e poderá ser visitada até 28 de agosto das 11h às 18h.

 

 

Novidade na Simões de Assis

25/jul

 

 

A galeria Simões de Assis, Curitiba, PR  e São Paulo, SP, anuncia a representação da artista Thalita Hamaoui. No início de sua trajetória, dedicou-se longamente à estamparia, atividade que sempre a influenciaria. Foi com o design têxtil que suas formas orgânicas começaram a surgir, sendo seu principal interesse a dedicação demorada ao desenho e às cores dos tingimentos.

 

Suas telas são normalmente produzidas de maneira simultânea, tomando por completo as paredes do ateliê. Algumas demoram meses até serem resolvidas, enquanto outras são finalizadas com muita urgência, imediatez. Talitah Hamaoui nunca abandona um trabalho. Ao iniciar duas ou três pinturas ao mesmo tempo, cria um diálogo formal entre elas, que se tornam paralelamente singulares e integrantes de um todo. Dessa forma, a artista vai elaborando um repertório imagético que se repete, mas também se renova, como quem cria um vocabulário próprio dentro das paisagens internas que se erguem pelas tintas. Essas formas também são vivas, sempre na iminência de transformação, e provocam movimentos constantes do olhar, que passeia e circula de maneira fluida pela superfície, sem muito distinguir figura e fundo.

 

Sobre e artista

 

Formada em artes plásticas pela Fundação Armando Alvares Penteado, em 2006, sob a orientação de Sandra Cinto, sua pesquisa se iniciou no campo da escultura. Integrou grupos de estudos e acompanhamento com artistas como Bruno Dunley, Marco Gianotti, Rodolpho Parigi e Regina Parra, além de ter participado, em 2018, do programa de residência artística do Pivô. Thalita Hamaoui foi selecionada pelo edital do Centro Cultural São Paulo de 2017, realizando “Um Passo Irreparável”, sua primeira exposição individual. Entre outras mostras solo estão “A Borda do Mundo” (2020) na Galeria Nave, e “Oferenda” (2019) no ateliê Marilá Dardot, com acompanhamento crítico da artista e de Cristiana Tejo – ambas em Lisboa, Portugal. Dentre participações em coletivas destacam-se “Emotional Ladscapes” (2021) com curadoria de Gisela Gueiros; “Um retrato para um novo mundo” (2021), Casa da Luz, São Paulo;  “Mutirão”, Now here (2021), Lisboa; “The Land of no evil” (2019), Off Shoot Gallery, Londres; Infinitess (2019), Lazy Susan Gallery, Nova York; “Zona de coexistência” (2019), um diálogo com a coleção de Duda Miranda, “Áurea” (2018), LÁFF, Hamburgo e “Procession” (2016), Folley Gallery, Nova York.

 

A natureza vista por Rodrigo Bivar

21/jul

 

 

Rodrigo Bivar apresenta a exposição individual “Breve” na Casa de Cultura do Parque, Alto de Pinheiros, São Paulo, SP. A mostra faz parte do II Ciclo Expositivo de 2022 da instituição e reverbera a produção figurativa do artista. As dezessete pinturas, todas em pequeno formato, trazem pássaros e naturezas mortas, criando uma continuidade do interesse de longo prazo do artista em cenas cotidianas, natureza e retratos.

 

Neste conjunto, Bivar voltou-se à representação de elementos que poderia nomear, orientando-se para o seu entorno. Na série “Bípedes”, fez retratos de passarinhos, explorando um recorte de imagem que se assemelha a uma fotografia, explorando um olhar que humaniza esses animais. O artista ressalta, nesta mostra, a efemeridade, o curto instante que temos para observar um pássaro, que geralmente rapidamente alça voo.

 

Em “Breve” observamos o esforço de captar o transitório e registrá-lo por meio da tinta na tela. A exposição fica aberta até 18 de setembro, uma rara oportunidade de adentrar o universo proposto por Rodrigo Bivar.