Bruno Miguel na Kogan Amaro

01/jun

 

A Galeria Kogan Amaro, São Paulo, SP, exibe de 05 de junho até 17 de julho, “A Beautiful Image”, a nova exposição de Bruno Miguel.

 

 

 

Texto de Ulisses Carrilho

 

 

Smile at least / You can’t say no to the Beauty and the Beast

                                                                                David Bowie

 

 

Palavras ou imagens são sempre provocações. O inconsciente não cessa de se inscrever: o fabulado e o imaginado se fazem presentes a cada salto dado pelo sujeito. No fluxo contrário, o real não se deixa inscrever – esgueira-se, escapa e acontece no mundo. Faz-se perceber na vida da matéria, apresenta-se como fenômeno sentido. Na pintura de Bruno Miguel, entre os códigos dos quais lança mão e as fartas doses de cor, em tinta e objetos, sobre a superfície de suas pinturas, há também uma dupla ocorrência: de maneira flagrante, percebemos um artista que apresenta hipóteses à história da pintura e, concomitantemente, a um regime das imagens que não acontece apenas no entorno do objeto de arte, mas no campo ampliado das visualidades. O título da mostra, tomado por empréstimo da inscrição na pintura que abre a exposição, deixa essa relação evidente: falemos sobre a imagem.

 

 

Muito embora o artista perambule por referências biográficas em seu trabalho, essa vontade não é memorial, não resulta do desejo de versar sobre um mundo particular do indivíduo. Parece lembrar que a matéria primeira da arte se constitui justamente por um salto entre uma imagem que é criada e outra que é percebida. Bruno Miguel é professor na Escola de Artes Visuais do Parque Lage há mais de uma década e é flagrante o seu interesse em elaborar uma pesquisa poética que investiga a formação de um certo olhar: o artista busca apurar uma sensibilidade em relação às imagens que já estão no mundo. Em outra oportunidade, seria interessante apurar essa hipótese à luz de sua série “Marina Ajuda Bruno”, que merece atenção e oportunidade de exposição, pois levanta uma discussão urgente que reajusta não apenas a ideia de função na arte, mas também a problemática noção da qualidade. Será que, frente a uma sociedade corrompida pelo excesso, pela saturação, pelo espetáculo e pela excludente e elitista ideia de que haveria, a priori, um “bom gosto”, as visualidades não apuradas pelo sistema artístico mereceriam menor oportunidade de investigação?

 

 

No discurso do artista, nota-se insistentemente ganas de versar sobre um mundo externo a ele: sobre imagens que o circundam, imagens de objetos que coleciona, mas que estão também impregnadas no seu corpo. Tais imagens não são convocadas pelo artista por um simples interesse de representação das mesmas no campo pictórico. Bruno Miguel explora, por meio da pintura, as imagens de um mundo fraturado pela desintegração; acelerado pelo entretenimento; enganado pela promessa da globalização.

 

 

Muitos dos objetos impregnados nas camadas de tinta sobre tela ou nas resinas que aludem às diferentes configurações de plásticos-bolhas são objetos de consumo: patches comprados em larga quantidade, indiscriminadamente, em plataformas de compra na Internet. De origem militar, usados desde os anos 1800 na Inglaterra, para fins bélicos, os patches começaram a se popularizar na década de 1930, como forma de identificar exércitos e patentes ­– questões da ordem de pertencimento. No final dos anos 1950 e nos primeiros anos da década de 1960, foram adotados por “adolescentes rebeldes” na baila do movimento MOD, que teve origem em Londres, na Inglaterra. O símbolo usado pelo movimento, um alvo, é originário do símbolo usado nos aviões da RAF, braço aéreo das forças armadas do Reino Unido, durante a Segunda Guerra Mundial. E foi assim que eles foram introduzidos na indumentária do rock’n’roll, onde se popularizaram na cultura popular. Rapidamente os patches começaram a ser veículos para expor ideias, posição política e amor por bandas. Os pequenos objetos são espécies de escudos que operam culturalmente, gerando pertencimento e denotando ou confrontando identificações. Tais emblemas são partes fundamentais dos trabalhos que vemos na mostra.

 

Em “Against Interpretation”, livro de Susan Sontag, no seu ensaio “One Culture and the New Sensibility”, encontro linhas em ricochete à profusão dos tais caminhos concomitantes que dão corpo às pinturas de Bruno Miguel. A arte é compreendida como um instrumento que modifica nossa consciência e organiza novos modos de sensibilidade. Viveríamos, segundo a autora, uma asfixiante pressão pela interpretação, que aniquila nossa sensibilidade a partir de uma visão causal, lógica, reacionária e interpretativa do mundo. Tal ideia cientificista, segundo algumas das hipóteses de Sontag, invadiram o campo artístico-literário na modernidade. Como resistir à lógica e confiar naquilo que sente o indivíduo perante um estímulo? É possível superar a ideia de gosto e gozar com o que o corpo vê, percebe e sente?

 

 

Na série de pinturas que vemos, o artista oferece, em telas, campos cromáticos repletos de referências a um mundo que, apesar de não ser externo à arte, é frequentemente subestimado por artistas, em nome de uma sofisticação e de um apuro intelectual. Com sorte, a pintura de Bruno Miguel insubordinadamente resiste a essa ideia, instaurando um campo onde é possível elaborar outras hipóteses, outrora já afirmadas pelos teóricos da cultura: uma ideia de cultura mais generosa, encharcada de complexidade, pouco binária. As várias manifestações da cor e da forma eclodem na tela sem a pretensão de confirmar a tradição, mas de atualizar os problemas nela elaborados. Suas estratégias artísticas, no entanto, também não desconfiam da pintura. Ao contrário disso, o artista ostensivamente confia nesse procedimento.

 

 

Não à toa, este texto começa pela inscrição e pela irrupção daquilo que não se deixa inscrever. Nas inscrições pintadas pelo artista, ele constitui imagens. As palavras apresentam-se como elementos visuais que integram, de maneira fundamental, a composição dos trabalhos. Sontag, nos anos 1960, colaborou para a compreensão de que a arte produzida naquele momento valia-se de elementos produzidos pela sociedade de consumo menos por um simples interesse visual, mas sobretudo para criar a oportunidade de que nós, o público, possamos reconfigurar nossos próprios critérios preconcebidos a respeito do que pode ou não ser considerado arte. Não há outro modo de terminar este texto: mas, afinal, o que é a beautiful image?

 

 

 Sobre o artista

 

 

Nasceu no Rio de Janeiro, 1981.Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Bruno desenvolve desde 2004 sua pesquisa em torno da construção e da representação da paisagem na contemporaneidade, atuante em diversas linguagens, o mesmo elege a pintura como tema principal de sua rotina obsessiva de produção. Nos últimos anos as questões acerca da paisagem começaram a dar lugar a uma investigação maior da pintura como linguagem e suas interfaces na vida cotidiana contemporânea. Mas acima de qualquer retórica que Bruno desenvolva para justificar suas opções, a verdadeira força de sua pesquisa está no trabalho. Não na obra em si, mas na labuta do atelier, onde sua curiosidade e inquietação fazem com que sua pintura se mantenha em transformação. Onde suas compulsões buscam erros ansiosos por soluções imprevisíveis, tão generosas que se escondem por trás do deslumbre banal das imagens fáceis. Sua pesquisa é um tipo de pós-pop periférico, sempre relacionando alta e baixa cultura. Uma maquiagem vulgar e exuberante que superficialmente disfarça sua condição de eterna busca pela beleza. Não da pintura, mas do pintar.

 

Dois na Capa e Contracapa

25/maio

 

A Anexo LONA, Centro, São Paulo, SP, recebe (de 29 de maio a 28 de julho) exposição, com curadoria e conceito de Marcio Harum – “CAPA e CONTRACAPA” – cuja sugestão de unicidade, é “2”. O espaço abre as mostras simultâneas dos artistas Fabio Menino e Viviane Teixeira que exaltam o pictorialismo, cada um à sua maneira, utilizando-se da técnica de representação artística mais antiga do mundo: a pintura. O conceito expositivo pensado por Marcio Harum subverte paradigmas uma vez que o conteúdo é sempre buscado no miolo e não nas capas e contracapas.

“As duas exposições individuais simultâneas (…..) irrompem no espaço como som, com dois lados dissonantes, mas complementares. A proposição surge movida pela inspiração gráfica do ato de se criar uma incerta e possível ligação tátil; como frente e verso de um álbum musical, em que pinturas exibidas nas paredes são as próprias gravações sonoras” explica o curador.

CAPA, com a artista plástica carioca Viviane Teixeira, permite um passeio por seu universo pictórico ficcional, onde uma corte fantasiosa possui figuras femininas como soberanas. Referências históricas da Família Real Brasileira, games, contos dos irmãos Grimm, as cartas de baralho, os jogos de tabuleiro, o jogo de xadrez, músicas, músicos, livros e artistas como Philip Guston, Paula Rego, Louise Bourgeois, Pia Fries, Laura Lima, Cristina Canale, etc., permeiam os questionamentos que gestam a obra. “Tais questões estão vinculadas às escolhas cromáticas contundentes, aos objetos associados ao desenho e às formas híbridas e fluidas que remetem a cenas e personagens arquetípicos saídos dos contos de fadas e que travam intensos duelos e diálogos”, diz Viviane Teixeira.

“A produção da artista vem sendo publicamente acompanhada mais de perto desde sua participação no edital Programa de Exposições do CCSP em 2015, e de lá pra cá tem marcado em suas obras de pintura uma vívida sucessão de alter egos e avatares anacrônicos, estando fixados em uma mise-­‐en-­‐scène bastante singular de cenários e figurinos voltados aos jogos, rituais, hábitos e costumes de outrora”, diz Marcio Harum.

Em “CONTRACAPA”, o artista paulistano Fabio Menino apresenta telas figurativas com forte apelo realista onde as cores e formas definidas de objetos do cotidiano, ou não, mas conhecidos e quase comuns, produzidos em escala industrial, mas agora vistos por suas funções, significados e potencias pictóricas. As escolhas não são aleatórias. Os objetos representados por Fabio Menino possuem um ponto de convergência. Como explica o artista: “são suas funções: de proteção, segurança ou mesmo como ferramenta; executando um papel que um coro sozinho não pode realizar”.

“Há entre o conjunto de telas do artista uma menção a ‘99,00’ -­‐  se tal cifra é sobre o preço da carne, o valor de materiais artísticos ou um mal-­‐entendido visual qualquer,na realidade não importa. Com a seleção exposta de pinturas, a indagação que fica acerca do vínculo identitário com o mundo físico das imagens de Fabio Menino traduz-­‐se por ser pura ficção, ou não”, elucida Marcio Harum.

Sobre o curador

Marcio Harum vive em São Paulo. Trabalha na interseção entre curadoria, programas públicos e educação. Coordenou o programa “CCBB – Arte e Educação” no Centro Cultural Banco do Brasil, São Paulo, entre 2018 e 2020. Foi curador de artes visuais do Centro Cultural São Paulo entre 2012 a 2016 e dirigiu o programa “experiências dialógicas” no Centro Cultural de España, São Paulo, entre 2009 a 2011. Tem participado de comissões julgadoras dos mais diversos editais de artes visuais do país. Vem realizando cursos, interlocuções, laboratórios e acompanhamentos artísticos em diversos formatos on-line. Integra o comitê curatorial da 1ª Bienal de Arte Contemporânea SACO no Chile.

Sobre os artistas

Fabio Menino vive e trabalha em São Paulo. Bacharelando em Arte e Design na Universidade Federal de Juiz de Fora-MG. Possui cursos de apoio e aperfeiçoamento em artes plásticas – Arte no Brasil, Relatos Alternativos | Tadeu Chiarelli; Arte Contemporânea | Pedro França; Conversa Circular | Leda Catunda (Instituto Tomie Ohtake, SP); Arte Contemporânea: História | Mirtes Marins, entre muitos, além de atuar como assistente direto de artistas como Stephan Doitschinoff, Paulo Nimer PJ e Hildebrando de Castro. Em sua trajetória artística, participou de mostras coletivas em galerias e instituições, tais como Cartografias , Instituto de Artes e Design, UFJF , Juiz de Fora-MG, SAV – Salão de Artes Visuais de Vinhedo, Vinhedo-SP, 15º Salão Nacional de Arte de Jataí, Museu de Arte Contemporânea de Jataí – Jataí-GO, Prêmio aquisitivo – 45º Salão de Arte Contemporânea Luiz Sacilotto, Santo André-SP, 26º Salão de Artes Plásticas de Praia Grande, Praia Grande-SP, 44º SARP – Salão de Arte de Ribeirão Preto Nacional – Contemporâneo – MARP, Ribeirão Preto, SP, Mostra de Arte da Juventude-MAJ – SESC Ribeirão Preto, Ribeirão Preto, SP, Sauna Mística – Galeria AM – São Paulo, SP, Casa Carioca – MAR | Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro, RJ.

Viviane Teixeira vive e trabalha no Rio de Janeiro. Bacharel em Pintura pela EBA, UFRJ (2003) e cursou EAV do Parque Lage, RJ (2004-12). Foi selecionada para as exposições individuais: The Queen seated inside her Castle – A Rainha Suplente, Capítulo II, CCSP/SP (2015-16) e The Queen seated inside her Castle – A Sala do Trono, Paço Imperial, RJ (2016) e para as coletivas: Arte Londrina 7 (2019), 14° Salão de Artes de Itajaí, SC (2018), 18° Festival Internacional de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil, Panoramas do Sul, Sesc Pompéia, SP (2013-14), 4° Salão dos artistas sem galeria, Zipper Galeria e Casa da Xiclet, SP (2013), 36° SARP, Salão de Arte de Ribeirão Preto Nacional-Contemporâneo, SP (2011), 17° Salão UNAMA de Pequenos Formatos, Galeria de Arte Graça Landeira, Belém, PA (2011), Abre Alas 5, Galeria A Gentil Carioca, Barracão Maravilha, RJ (2009), Artistas selecionados na Universidarte XIV, Intervenção no Museu da República, RJ (2007), Novíssimos 2007, Galeria de Arte IBEU, RJ e Selecionados Universidarte XIV, Casa França-Brasil, RJ (2006) além de participar de outras exposições em galerias e centros culturais no Brasil ao longo desses anos, como a individual As múltiplas faces da Rainha, na Galeria Movimento,RJ (2017).

Rafael França Réquiem e vertigem

24/maio

 

 

 

A Galeria Jaqueline Martins, São Paulo, SP, apresenta até 31 de Julho mostra dedicada a Rafael França. A curadoria da exposição é uma colaboração entre a escritora Veronica Stigger e a Galeria Jaqueline Martins

 

 

No ano em que se completam três décadas de sua morte, a exposição Réquiem e vertigem homenageia vida e obra de Rafael França (1957-1991). Dez vídeos do artista, realizados entre 1983 e 1991, são o fio condutor para uma exploração do modo como a vertigem (que, em sua obra, é réquiem e é erotismo) impõe uma alteração nos corpos, que se desmontam, se remontam, se travestem, se fragmentam, se dissolvem, adoecem, morrem, persistem, pulverizados como relíquias, nas imagens. A exposição pretende celebrar Rafael França apresentando não apenas trabalhos seus, mas buscando estabelecer diálogos com produções de alguns artistas de sua geração e também das gerações anteriores e posteriores, no Brasil e no exterior. Dez vídeos do artista, realizados entre 1983 e 1991, são o fio condutor para uma exploração do modo como a vertigem (que, em sua obra, é réquiem e é erotismo) impõe uma alteração nos corpos, que se desmontam, se remontam, se travestem, se fragmentam, se dissolvem, adoecem, morrem, persistem, pulverizados como relíquias, nas imagens. A exposição pretende celebrar Rafael França apresentando não apenas trabalhos seus, mas buscando estabelecer diálogos com produções de alguns artistas de sua geração e também das gerações anteriores e posteriores, no Brasil e no exterior. Estão aqui presentes Mário Ramiro e Hudinilson Jr (seus parceiros no grupo 3Nós3), Leonilson, Alair Gomes, Letícia Parente, Luiz Roque, Bruno Mendonça, Fabiana Faleiros, Davi Pontes, Wallace Ferreira, Luis Frangella, David Wojnarowicz, Robert Mapplethorpe e Cibelle Cavalli Bastos. Para além dos artistas, propõe-se também estender o diálogo com escritores que estavam produzindo na mesma época que França – Caio Fernando Abreu, Arnaldo Xavier, João Gilberto Noll, Ana Cristina César e Roberto Piva -, por meio de trechos selecionados de seus livros

 

 

Sobre o artista

 

 

Rafael França Porto Alegre, Brasil, 1957. Chicago, EUA, 1991. O trabalho de Rafael França é reconhecido como uma das obras mais coerentes e sistemáticas entre os artistas brasileiros que trabalham com a imagem em movimento. Deixando de lado o uso do vídeo como simples registro documental, sua obra deu continuidade (e levou ainda além) as experimentações feitas pelos pioneiros da vídeo arte dos anos 60. A narrativa de seus vídeo, elípticas e descontínuas, exploravam elementos como a ausência de sincronia entre som e imagem, alternância entre cortes rápidos e lentos e imagens propositalmente embaçadas e fora de foco. Ao tornar seus amigos, bem como a si mesmo, em personagens dos seus vídeos, Rafael França expandiu também os limites de uma narrativa fictícia/ documental. Depois de estudar desenho, pintura e litografia na adolescência, Rafael se mudou para São Paulo no final dos anos 70 para estudar na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde, encorajado pela artista e professora Regina Silveira, desenvolveu intenso trabalho de gravura. Em 1979, começa a explorar a xerografia e, juntamente com Hudinilson Jr. e Mário Ramiro, formam o grupo 3Nós3, focado em intervenções urbanas. Devido ao seu interesse pela arte e tecnologia, e influenciado por artistas como Nam June Paik e Buky Schwartz, Rafael começa a trabalhar com instalações de vídeo. Em 1982, o artista ingressa em um mestrado no Chicago Art Institute (EUA), onde dedica sua pesquisa inteiramente ao vídeo e dá início à série de trabalhos que se tornariam seu principal legado. Uma pesquisa contínua e radical que questiona e explora os elementos técnicos e conceituais que constituem a própria linguagem do vídeo. O trabalho de Rafael França foi precocemente interrompido pela AIDS em 1991. Hoje, sua obra faz parte do acervo de instituições como Museu Reina Sofia (Madrid, Espanha), Museu de Arte Contemporânea – USP (São Paulo), Museu de Arte Moderna (São Paulo), e Associação Videobrasil (São Paulo). Seu trabalho foi recentemente apresentado em importantes exposições retrospectivas como: United by AIDS (Migros Museum, Zürich, 2019), Histórias da Sexualidade (MASP São Paulo, 2018), Expo Projeção (SESC São Paulo, 2014) e Speaking Out (MoMA Nova York, 1992).

 

Segundo espaço da Bergamin & Gomide

20/maio

 

 

A Bergamin & Gomide tem o prazer de anunciar a inauguração do seu segundo espaço expositivo, localizado na Vila Modernista, a poucos metros da galeria no bairro dos Jardins, em São Paulo. A casa, que permitirá à galeria dobrar seu programa de exposições, foi projetada em 1933 pelo multifacetado artista Flávio de Carvalho, e conta com um ensaio de Guilherme Wisnik, crítico de arte e arquitetura.

 

 

O espaço abre ao público no sábado, dia 22 de maio, com a primeira exposição individual de José Resende na Bergamin & Gomide. A exposição apresenta duas instalações inéditas produzidas pelo artista, uma localizada na fachada lateral e outra que ocupa a área central do hall de entrada, além de uma seleção de obras que datam desde 1975.

 

 

Entrada gratuita

 

Sábado, 22 de maio  –  das 10 às 19 horas
Alameda Ministro Rocha Azevedo 1052, Jardins, São Paulo

 

*Lembramos que o uso de máscara é obrigatório e pedimos que evitem aglomerações.

Livro no Museu Afro Brasil

13/maio

 

 

O Museu Afro Brasil, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP,  convida para o lançamento da publicação “Heranças de um Brasil profundo”. A partir de 13 de maio, com curadoria do diretor do museu, Emanoel Araujo. O livro com 364 páginas e mais de 200 imagens é o registro da exposição homônima em cartaz no Museu com mais de 500 peças, entre obras de arte e utensílios da cultura material indígena de raiz brasileira, além de fotografias e obras de arte contemporânea. O livro está disponível para venda na loja do museu.

 

Projeto “INTERAÇÕES 3”

 

 

 

O projeto “INTERAÇÕES 3” chega à sede da LONA Galeria, Barra Funda, São Paulo, SP, com quatro forças artísticas do movimento e permanecerá em cartaz entre 15 de maio  e 24 de julho. São 15 trabalhos de Daniel Mello, Gustavo Aragoni, Lucas Quintas e Sueli Espicalquis. Em uma seleção que inclui pinturas, desenhos e objetos, onde “o universo abstrato norteia o trabalho destes quatro artistas e o movimento é a linha condutora do processo. Os trabalhos deste grupo têm uma pulsação que é capaz de fazer o visitante ser engolido pelas composições”, explica Duilio Ferronato, coordenador do projeto.

 

 

A pintura abstrata de Daniel Mello explora a relação e ressonâncias produzidas entre contrastes de cores, formas e texturas. Inspirado pela pluralidade de formas da arquitetura e pelas marcas de ocupação e transgressão humana, como o vandalismo e a pichação, utiliza diferentes mídias em conjunto, como tinta óleo, acrílica e spray sobre tela, papel e madeiras de descarte. A composição da pintura acontece em camadas onde a obra é resultado de um jogo de construção e desconstrução de formas. Já, Gustavo Aragoni possui um processo de criação que se desenvolve a partir de um encontro, de uma relação de forças entre o seu corpo e o corpo dos materiais disponíveis. Não há um plano totalmente pré-determinado, a criação surge de um caos, de uma tensão, de um fluxo de movimentos que se dá em função do contexto de espaço e tempo.

 

 

Lucas Quintas desenvolve trabalhos em diferentes mídias como desenhos, pinturas, esculturas e instalações. Sua pesquisa gira em torno dos materiais, onde explora questões como continuidade, tensão, leveza, rigidez e equilíbrio. Procura subverter seu uso, tentando controlar o incontrolável e transmitir de forma natural. Por meio de fenômenos óticos seus trabalhos são produzidos nas retinas dos espectadores. Com Sueli Espicalquis, construção e apagamento são presentes no processo de trabalho, com sobreposição de camadas, tendo interesse em vincular a cor à materialidade de tinta a óleo, com variações dadas pela mistura de cera de abelha e solventes.  As imagens resultantes da justaposição de cores, numa geometria apropriada e formas orgânicas, remetem a paisagens vistas através de mapas digitais.

 

 

Reunidos pela primeira vez em um mesmo espaço expositivo, os próprios criadores dão sua visão de como seus trabalhos conversam entre si. Daniel Mello “Apresento uma série de pinturas/desenhos abstratos (….) sempre flertando com as potências que nascem das relações e contrastes entre cores, formas e símbolos”, define Daniel Mello. As pinturas de Sueli Espicalquis “a guache e óleo sobre tela, com formas orgânicas e/ou de uma geometria apropriada, com ênfase na cor e fatura pictórica, dada pela mistura de solventes à espessa tinta a óleo, sobrepondo camadas de tinta, de forma que construção e apagamento de imagens convivem; assim, suponho haver interação (diálogo), entre essa e a produção dos artistas”. Para Gustavo Aragoni, “Meus trabalhos falam de gestualidade, de materialidade, de desenho e sobretudo, de processualidades. Acredito que estes sejam elementos comuns à prática dos artistas que participam da exposição e nesse sentido é possível se criar uma relação entre os trabalhos, que juntos podem produzir um efeito estético diverso, mas conceitualmente aproximados”. Por outro lado, Lucas Quintas explica: “Meu trabalho possui algumas interações, mas acredito que a com o espectador seja a mais relevante, pois através da sua movimentação ele se torna o fio condutor de novas descobertas de cores, e imagens, sendo a transformação da cor no tempo e espaço.”

 

 

Projeto INTERAÇÕES

 

 

Por falta de imunidade, foram excluídas as possibilidades de encontros. A simples perspectiva de interação sugere contaminação.” As relações dos últimos 2 anos entre os artistas da Lona Galeria têm se mostrado fecundas e incomuns. O grupo vem mantendo constante contato, trocando ideias e analisando ações mútuas. O contato artístico é tanto antropofágico como apropriador; basta um olhar e a transformação já principia. Artistas se contaminam de propósito com ideias, imagens e conversas. Não há lugar para barreiras. Os processos artísticos interessam tanto quanto o resultado e, as provocações constantes que surgem de todas as partes, sejam na área criativa ou comercial, nos mantém em alerta constante”, explica o coordenador Duílio Ferronato.

 

 

Com “INTERAÇÕES”, pretendem discutir os processos e alcançar uma nova etapa de amadurecimento artístico, institucional e comercial. “Os 2 primeiros anos nos mostraram diversas possibilidades, que firmamos nossa convicção de que incentivar o processo artístico é o que nos deixa animados para os próximos lances.” LONA Galeria

 

 

Nova artista na Bergamin & Gomide

12/maio

 

 

A Bergamin & Gomide, Jardins, São Paulo, SP, tem o prazer de anunciar a representação da artista Maria Lira Marques e sua primeira exposição individual na galeria, no segundo semestre de 2021. Maria Lira faz parte de uma longa e profícua linhagem de artistas no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, entre os quais se incluem Isabel Mendes da Cunha, Noemisa Batista dos Santos e Ulisses Pereira Chaves. Assim como muitos desses ceramistas, ela se iniciou nas artes visuais trabalhando com o artesanato utilitário pelo qual a região é conhecida. Porém, como não se considerava hábil para a olaria tradicional, passou a desenvolver experimentalmente criações próprias, buscando nas raízes da cultura popular a inspiração para suas obras. Nos anos 1970, Maria Lira começou a expor seu trabalho autoral em cerâmica, como bustos, presépios e as máscaras antropomórficas evocativas da sua herança africana e indígena.

Maria Lira traça a genealogia de sua vocação artística a partir da influência de sua mãe, que trabalhava como lavadeira e exercia em paralelo seus dons manuais com a cerâmica. Paralelamente à cerâmica, Maria Lira desenvolveu uma pesquisa musicológica a partir da forte tradição oral de sua região. Desde os anos 1990, ela vem se dedicando ao corpo de obra pelo qual se tornou mais conhecida, Bichos do Sertão, pinturas de animais imaginários que compõem um vasto bestiário que se caracteriza pela integração de sua linguagem gráfica com a paisagem sertaneja. Essas obras são desenhadas com uma mistura de barro e cola sobre papel ou seixos rolados, usando paleta cromática terrosa e texturas orgânicas, resultando em superfícies pictóricas de forte impacto visual.

Além de ser uma artista com mais de quarenta anos de carreira, Maria Lira é também uma pesquisadora, ativista e divulgadora da cultura popular, sobretudo das raízes indígenas e negras, que, como ela aponta, normalmente são invisibilizadas e negligenciadas pela sociedade. “O negro como o índio são as pessoas mais massacradas pela sociedade”, disse a artista em uma entrevista de 1983. “Não que a opressão esteja somente nessas minorias, pois que está geral, mas a gente vê muito bem e sente na pele que o negro, às vezes, não é aceito pela sociedade; o índio você vê que também está muito explorado (…). E [esta] é a minha cultura.”

Em 2010, ela participou da fundação do Museu de Araçuaí, em parceria com frei Xico, o frade holandês Francisco Van der Poel, com quem mantém interlocução há cinco décadas. O museu foi criado com o objetivo de abrigar um acervo de objetos e documentos que registram a religiosidade, os usos e costumes e os ofícios que constituem a história de Araçuaí, um dos principais polos de cultura popular do país.

Maria Lira fez sua primeira exposição em 1975 no Sesc-Pompeia, em São Paulo, e já expôs em diversas instituições no Brasil e internacionais, em países como Bélgica, Holanda, Dinamarca, França e Estados Unidos. Sua obra foi estudada pela pesquisadora Lélia Coelho Frota, uma das principais autoridades em arte popular brasileira, e em 2007 sua trajetória foi homenageada em uma peça com seu nome dirigida por João das Neves.

É, portanto, com muita alegria que a Bergamin & Gomide passa a representar, em parceria com a mineira AM Galeria, essa grande artista, ampliando o reconhecimento merecido de sua obra. Sua exposição individual, prevista para o segundo semestre deste ano no novo espaço expositivo, a casa projetada por Flávio de Carvalho, será acompanhada por um ensaio inédito do crítico e curador Rodrigo Moura, curador chefe do El Museo del Barrio, em Nova York.

 

Amilcar de Castro: na dobra do mundo

05/maio

 

Cerca de 120 obras do artista plástico neoconcretista e designer gráfico Amilcar de Castro passam a compor as instalações internas e externas do MuBE (Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia), São Paulo, SP. A exposição “Amilcar de Castro: na dobra do mundo” é uma homenagem ao centenário do multifacetado artista, que integra o rol dos maiores expoentes brasileiros na arte e cultura, acumulando títulos como o prêmio da Fundação Guggenheim e Prêmio Nacional da Funarte. A mostra é gratuita e pode ser visitada mediante agendamento prévio.

 

 

Dentre a seleção de trabalhos de Amilcar, há obras inéditas como a escultura horizontal, composta por duas partes, da década de 1990, disposta debaixo da marquise do MuBE, e a alta e esbelta escultura, sem título, também da década de 1990, instalada na grama do jardim do museu. Outro destaque é a participação da escultura, sem título, de 1999, com gigantescas dimensões (18 metros de altura e mais de 20 toneladas), pertencente à Universidade de Uberaba (MG) que, pela primeira vez, percorre mais de 480 km para ocupar novo lar temporário no MuBE.

 

 

A mostra é realizada em parceria com o Instituto Amilcar de Castro e conta com a curadoria de Guilherme Wisnik (professor da FAU-USP, crítico de arte e curador), Rodrigo de Castro (filho do artista e diretor do Instituto Amilcar de Castro) e Galciani Neves (curadora-chefe do MuBE). “É realmente uma honra comemorar o centenário de Amilcar em um museu que conversa tanto com a proposta de trabalho do artista. É o encontro da instituição com as obras neoconstrutivas que remontam à universalidade da arte”, celebra Rodrigo de Castro, destacando que as obras sempre estiveram conectadas ao urbanismo.

 

 

Outro ineditismo da exposição é a interação entre o trabalho de Paulo Mendes da Rocha (arquiteto responsável pela concepção do MuBE) e Amilcar de Castro. “O contraste entre a horizontalidade do prédio e a verticalidade das esculturas de aço corten de Castro resultam em uma fricção única entre arte, arquitetura e história”, destaca Guilherme Wisnik, especialista em arquitetura, urbanismo e artes visuais.

 

 

 

As obras estão expostas no pátio do MuBE, ao ar livre, e chamam a atenção de quem passa despretensiosamente na rua pelo lado de fora, mas também atraem quem busca por uma programação cultural ao ar livre. Uma das atrações dentro da exposição é o capítulo matéria-linha, uma seleção de trabalhos contemporâneos de artistas brasileiros diversos, que dialogam com as obras do Amilcar. Carmela Gross, Lia Chaia, Max Willà Morais, Moisés Patrício, Rubiane Maia e Carla Borba, Tomie Ohtake e Wlademir Dias-Pino fazem parte dessa seleção. “Nossa proposta é promover uma outra maneira de nos relacionarmos com o trabalho do Amilcar, trazendo uma visão atual a partir de diálogos que se relacionam com a ideia de linha, explorada pelo artista”, completa Galciani.

 

 

 

Textos curatorais

 

 

Amilcar de Castro no MuBE, de Paulo Mendes da Rocha. Um encontro fundamental entre dois gigantes da arte brasileira. Esculturas que carregam uma expressiva vocação pública, na área externa interagem com uma esplanada aberta. Praça atravessada por uma grande marquise de concreto protendido, que lhe dá escala, e constrói balizas visuais para as esculturas. No caso de Amilcar: chapas de aço cor-ten que, pela ação de corte e dobra, se transformam em espaço, em planos de equilíbrio instável, angulosos, que se afinam para tocar o chão em pontos reduzidos.

 

 

 

No preto e branco do artista, assim como no cinza do arquiteto, não há concessões sentimentais, ou cordiais. Sóbrias e desafiadoras, as suas respostas artísticas se baseiam no conceito virtuoso de projeto. Um projeto entendido como afirmação de desejos que se realizam em conformidade com a técnica e a matéria. Figurando, assim, a ideia de uma sociedade capaz de planejar seu futuro e medir as consequências dos seus atos, responsabilizando-se por eles. Algo que, no Brasil de hoje, volta a ter um urgente significado.

 

 

 

Guilherme Wisnik, curador da exposição

 

 

O início desta trajetória se deu nos anos 1940 quando Amilcar, jovem e estudante de Direito na UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais (formou-se em 1945), passou a frequentar a Escola Guignard onde, durante vários anos, teve aulas com o artista Alberto da Veiga Guignard… Os anos 50 foram decisivos e importantes. Encontrou amigos, fez parte do movimento Neoconcreto junto com Ferreira Gullar, Hélio Oiticica, Lygia Clark, Lygia Pape, Aluísio Carvão e Franz Weissmann. E em 1952 fez a “estrela” de cobre, escultura que inaugurou a descoberta da dobra da chapa e deu a direção para tudo o que viria depois…

 

 

Uma longa trajetória de mais de cinquenta anos de arte, produzindo esculturas, pinturas, desenhos e gravuras. E experimentando diversos e diferentes materiais além do ferro para realizar esculturas em madeira, vidro, granito e aço inoxidável… Um dia, conversando com Amilcar sobre a vida e como as coisas mudaram desde que nasceu em uma pequena cidade do interior de Minas Gerais (Paraisópolis), ele disse: “Tem que acreditar. Acreditar sempre e até o fim…”

 

Rodrigo de Castro, co-curador da exposição   

 

 

Adentrar esse momento histórico da produção artística brasileira é lidar com a complexidade de alguns dos processos que radicalizaram nossas formas de pensar, produzir e vivenciar arte. E nesse sentido, estar em contato com a obra de Amilcar, no MuBE, em uma retrospectiva que comemora seu centenário, acende pensamentos acerca das especulações com geometrias não-euclidianas, das objeções à leitura passiva da obra, das concepções não instrumentalizadas do espaço, de práticas fenomenológicas com a linha. Assim, com o capítulo matéria-linha, propomos um contexto de fluxos e contrapontos entre a linha construtiva dos desenhos, obra gráfica e esculturas de Amilcar e sua presença plural em trabalhos contemporâneos brasileiros.

 

 

 

Galciani Neves, co-curadora da exposição e curadora-chefe do MuBE

 

Até 23 de Maio.

 

Yuli Yamagata | Insônia

30/abr

 

 

 

Em sua primeira exposição individual – “Insônia” – na galeria Fortes D’Aloia & Gabriel, São Paulo, SP, a paulistana Yuli Yamagata apresenta 18 novas obras que arquitetam complexas relações entre a pintura, a escultura e o espectador. Ao longo dos últimos meses, a artista se debruçou, dentre outras referências, sobre a obra de David Lynch, trazendo para o corpo de trabalho da mostra algo do universo intangível proposto pelo cineasta. Nas palavras da artista: “Me interessa como o mistério se desenrola. É algo que você não entende, mas está no ar. Meu desejo é que as obras não sejam imediatamente digeridas. A continuação do trabalho não se dá nele próprio, mas em quem observa.” Desconectada de uma narrativa linear e vivendo a expectativa de um cotidiano funcional que não chega, Yamagata se apropria da incerteza e faz desse lugar de suspensão seu campo de experimentação. O fazer da obra é pautado pela experiência tátil, pela construção de volumes e fragmentos gerando imagens corpóreas que projetam-se da tela diretamente para o espaço. A costura desempenha papel central no vocabulário pictórico da artista. Yamagata lança mão de mecanismos para explorar a tensão entre plano e tridimensionalidade, um eventual estiramento dos fios é transformado em cicatriz, sobras de tecidos ganham recheio, dando forma e volume à tela. Na obra Summer Sweaty Dream, um relevo de veludo, seda e elastano engendra a imagem de um enorme esqueleto que, apesar de morto, contempla flores brotando do solo. Entre a forma e a sensorialidade, constitui-se uma cena contundente, reflexiva do momento atual. A indistinção entre realidade e sonho, característica da linguagem dos mangás japoneses, informa as composições da artista. Yamagata se aprofunda em suas origens nipônicas também ao resgatar a técnica milenar japonesa conhecida como shibori (popularizada pelo nome de tie-dye). A temática do ciborgue, parte orgânico parte cibernético, nomina algumas obras da exposição e permeam a sua própria constituição. Na obra Cyborg trabalhando (2021), por exemplo, um braço musculoso feito de sobressaltos de elastano é costurado em alto contraste à superfície artesanal do tie-dye ao fundo. Nesse novo corpo de trabalho, além do corte e preenchimento de tecidos variados como seda, crepe e veludo, a inserção do desenho e da pintura incorpora novos desafios à prática da artista. Insônia (2021), a obra que titula a exposição, reúne os elementos recorrentes da costura aos fragmentos de corpos e monstros desenhados freneticamente na tela. Jogando com a hipérbole e a sua capacidade para o absurdo, Yamagata surpreende, assalta e confunde o espectador.

 

 

Sobre o artista

 

Yuli Yamagata (São Paulo, 1989) vive e trabalha em São Paulo. Entre suas principais exposições individuais estão: Nervo, Mac Niteroi (Rio de Janeiro, 2021); Bruxa, Madragoa (Portugal, 2020); Microwave Your Friends, Invitro Gallery (Cluj, Romênia, 2019); Tropical Extravaganza: Paola & Paulina, SESC Niterói (2018); Stickers Album, CCSP (São Paulo, 2016); Sem Cerimônia, MARP (Ribeirão Preto, 2016). Em setembro de 2021 abre uma individual na Anton Kern, em Nova York

 

 

Até 29 de Maio.

 

 

Luiz Zerbini no Fortes D’Aloia & Gabriel

 

A Fortes D’Aloia & Gabriel, Galpão, Barra Funda, São Paulo, SP, apresenta Luiz Zerbini. O segundo espaço expositivo do Galpão é ocupado por quatro trabalhos que têm em comum uma narrativa pessoal marcante e exploram o conceito do autorretrato, gênero clássico no cânone da história da pintura.

 

 

Ao explorar o conceito do autorretrato, Luiz Zerbini passa para a tela algo que simbolize a pessoa e não necessariamente sua semelhança em traços hiper-realistas. Neste contexto, a figura da caveira é recorrente como forma de representar o outro e a si próprio, uma referência direta ao momento mori, argumento icônico cuja expressão do latim significa algo como “lembre-se de que você é mortal”. Nas obras Eu e a brisa (1997) e Iai Brother (1997), por exemplo, um esqueleto humano encara o espectador.

 

 

A figura do artista aparece também em diálogo com a paisagem, relação que fica evidente em Brasil Colônia (1993). A tela de mais de 6 metros revela o cotidiano de Zerbini durante uma viagem à feira de Colônia, Alemanha, marcando um momento de inflexão em sua carreira. O título da obra tem duplo sentido e ecoa seu sentimento à época, quando visitava a sua primeira feira de arte internacional. Durante os dias que esteve na cidade, o artista estabeleceu uma rotina de caminhadas e visitas a museus. Ele se baseou em fotos tiradas então para reconstruir o panorama que vemos, misturando aspectos do seu dia a dia que hoje ganham um viés histórico.

 

 

O retrato e as narrativas cotidianas se desdobram nas pinturas figurativas de alta saturação e intensidade apresentadas em mostras recentes – Amor (MAM Rio de Janeiro, 2012), Amor lugar comum (Inhotim, 2013-2018) e sua apresentação solo na coletiva Nous les Arbres (Fondation Cartier pour l’art contemporain, 2019). Objeto da exposição que ocupa o Galpão, o repertório do autorretrato permeia todos esses estilos pictóricos e é ainda hoje elemento recorrente em seus trabalhos, como visto em Suicida alto astral (2006) e Pau D’água (2019), obras atuais nas quais vestígios de seu próprio corpo são inseridos em meio a composições geométricas.

 

 

Sobre o artista

 

 

Luiz Zerbini (São Paulo, 1959) vive e trabalha no Rio de Janeiro. Entre suas principais exposições estão: Fire, Stephen Friedman Gallery (Nova York, 2021); Nous les Arbres na Fondation Cartier pour l’art contemporain (Paris, 2019); Intuitive Ratio na South London Gallery (2018); Amor lugar comum, Inhotim (2013-2018); Amor, MAM Rio de Janeiro (2012).

 

 

Até 29 de Maio.

 

Mirela Cabral estreando na Kogan Amaro

29/mar

 

A Galeria Kogan Amaro, São Paulo, SP, promove “Rebento”, exposição virtual de Mirela Cabral. Para esta que é a sua primeira exposição individual, com curadoria do professor e crítico Agnaldo Farias, foram selecionadas 20 obras com suporte sob papel e tela, compostas por materiais e técnicas diversas: uma linha que começa com seu corpo enunciado por pastel oleoso, passa para o grafite, depois carvão, transmuta-se em tinta a óleo, enquanto todo o tempo pode ser acompanhada por nanquim.

“O que importa são as linhas, a exuberância do grafismo, o modo peculiar como a artista plasma e pensa sua expressão. Esvisceradas as formas, dilacerados os contornos, as linhas, por elas, assumiram a preponderância do processo. Não lhes cabia mais representar nada, passaram a ter vida própria”, pontua o curador Agnaldo Farias.

A curiosidade em experimentar outra prática artística, com um tempo mais lento, distinto da alta velocidade em que a artista “rebentava” em papéis e telas, a levou até o bordado, experimentando engrossamentos de linhas, mudanças súbitas de cor, planos texturados e formas sutis. “Eu sempre achei meus desenhos explosivos e queria entender se ele era mesmo ou não. Quando eu vi que eu também explodia no bordado, só que levava bem mais tempo, eu entendi que era esse trabalho que eu queria ter, eu realmente tinha decidido isso. Assim, eu comecei a entender o tempo das coisas, a existência da desaceleração. Foi uma espécie de pesquisa rítmica do meu próprio corpo em ação com a matéria”, esclarece Mirela.

Sobre a artista

Mirela Cabral nasceu na cidade de Salvador, Bahia, em 1992. Formou-se como bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Cinema pela FAAP e paralelamente frequentou cursos artísticos em escolas como Parsons Paris, NYFA e UCLA. No Brasil, teve aulas com Agnaldo Farias, Manoel Veiga, Leda Catunda, Rubens Espírito Santo e Charles Watson. Hoje, dedica-se ao desenho, pintura e bordado como suas principais mídias de investigação, interessada em pesquisar como se interagem e se complementam entre si. Vive e trabalha em São Paulo, SP.