Alfredo Volpi e Bruno Giorgi

22/mar

Foram dez anos de pesquisas para construir uma exposição sobre a amizade entre dois grandes mestres da arte brasileira do século XX. “Estética de uma Amizade”, será exibida na Pinakotheke, Morumbi, São Paulo, SP, procura pontuar com memórias e produção artística os 50 anos de estreita convivência entre – o pintor Alfredo Volpi e o escultor Bruno Giorgi.

 

A mostra reúne cerca de 100 obras – a maioria apresentada ao público pela primeira vez, entre pinturas, desenhos e esculturas provenientes, da Coleção Leontina e Bruno Giorgi e colecionadores particulares. Os trabalhos são entremeados por fotografias, documentos, depoimentos e gravações com saborosas narrativas sobre esta amizade que perdurou de 1936 até a morte de Volpi em 1988.

 

No raro conjunto de numerosas pinturas de Volpi, esculturas, desenhos e telas de Bruno Giorgi, sobrepõem-se as obras surgidas de relações de amizades ou familiares, como os retratos de Mira Engelhardt e Gilda Vieira, feitos por Volpi, além de Judith, sua mulher, retratada por ele, e um desenho dedicado à sua única aluna Lore Koch; o retrato de Leontina Giorgi, as joias/esculturas projetadas por Giorgi; nus femininos assinados pelos dois artistas; retrato de Giorgi por Volpi e as cabeças de Volpi e Mario de Andrade esculpidas por Giorgi; as interpretações discordantes do poema “Balada de Santa Maria Egipcíaca” de Manuel Bandeira, que ambos fizeram em pintura; e até uma série de trabalhos concebidos na convivência da dupla. Há também as maquetes das obras de Brasília, quando os afrescos de Alfredo Volpi e as esculturas de Bruno Giorgi sublinharam a arquitetura de Oscar Niemeyer.

 

A exposição revela como o pintor, que se mudou com a família para o Brasil com apenas um ano de idade, e o escultor, ambos originários da mesma região italiana, a Toscana, compartilharam a fraterna relação e o saber artístico com igual intensidade. Não foram poucas as vezes que, com um esboço debaixo do braço, Volpi saiu de São Paulo e foi ao Rio de Janeiro discutir uma pintura com o amigo. Leontina, viúva de Bruno Giorgi, que muito contribuiu para a realização desta exposição, disponibilizando obras e arquivo, testemunhou muitas das longas conversas ou silêncios que os dois amigos gostavam de dividir. Ao mesmo tempo foram artistas que puderam comemorar juntos e reciprocamente virtuosas trajetórias: ambos participaram de prestigiosas exposições nacionais e internacionais, entre as quais em edições, às vezes coincidentes, como a Bienal de Veneza e a Bienal Internacional de São Paulo, além de conquistar vários prêmios no Brasil no exterior.

 

O projeto foi possível graças ao empenho dos curadores da exposição Max Perlingeiro e Pedro Mastrobuono, Leontina Ribeiro Giorgi, Instituto Volpi de Arte Moderna e à equipe da Pinakotheke. Com os arquivos do marido, Leontina Ribeiro Giorgi, gravou longas entrevistas, rememorando fatos históricos e pessoais. Nas suas pesquisas, Pedro, que é filho de Marco Antonio Mastrobuono, um dos primeiros colecionadores e amigo pessoal de Volpi, teve a oportunidade de encontrar informações preciosas, sobretudo entrevistas de Bruno Giorgi em Brasília, onde o pintor ítalo-brasileiro era constantemente mencionado.

 

Durante a exposição será lançada a publicação “Estética da Amizade – Alfredo Volpi e Bruno Giorgi” que, além do material da mostra, contém textos de David Léo Levisky, Rodrigo Naves e Mario de Andrade e dos curadores Max Perlingeiro e Pedro Mastrobuono, os quais destacam as personalidades que conviveram com a dupla, como Mário Schenberg, Lasar Segall, Sergio Milliet, e apresentam uma inédita biografia em ordem cronológica entrelaçada dos dois artistas, na qual é possível constatar como arte e amizade pulsavam em particular sintonia.

 

 

Até 25 de maio.

Cidade descortinada

19/mar

Arquitetos, fotógrafos e inquietos. Essas são algumas características que aproximam Cristiano Mascaro, de 74 anos, e Gal Oppido, de 66. Referência na fotografia documental urbana, como explica Rubens Fernandes Júnior, curador da exposição “O Que os Olhos Alcançam – Cristiano Mascaro”, o fotógrafo posiciona suas lentes para cidades ao redor do globo. Essa característica é presente desde o início da carreira: seu primeiro grande ensaio teve como cenário a metrópole de São Paulo. “Fotografou o Brás, descobriu o centro histórico e foi ampliando seu olhar para as cidades em geral, incluindo seus habitantes e paisagem”, contextualiza Fernandes.

 

Neste mesmo cenário concreto e humano, Gal Oppido segue os passos do fotojornalista francês Henri Cartier-Bresson, que não tirava sua Leica (marca de máquina fotográfica portátil) do pescoço. Por isso, desde 1975, Oppido imprime crônicas e ensaios urbanos em seus registros. No entanto, tempo e tecnologia se encarregam de agregar ao trabalho do fotógrafo outro diferencial: o smartphone. Instrumento que tem como fim a captação audiovisual “… e que, por sua maleabilidade, me permite registros instantâneos e agrega a outras câmeras mais uma ferramenta ao ato fotográfico”, explica Oppido.

 

Urbanidades diversas e seus habitantes

 

 

Mascaro desbravou espaços urbanos diversos, em vários países, e se expressa em registros clicados em diferentes tempos. Nesse sentido, “… as periferias urbanas convivem harmoniosamente com as referências urbanas mais icônicas”, analisa Fernandes. Ao caminhar por esses espaços, Mascaro privilegia as experiências que surpreendem.

 

De acordo com o curador, ao captar os arranjos casuais dos interiores das casas brasileiras nas periferias, o fotógrafo estabelece quase sempre uma relação afetiva com seus retratados. “Não existe tensão, muito menos o drama ou a denúncia”, acrescenta.

 

Em uma análise sobre as periferias urbanas, Oppido relembra seu trabalho de graduação interdisciplinar em Arquitetura, uma leitura gráfico-visual do “… centro da cidade até a borda da Represa de Guarapiranga onde projetei um conjunto residencial popular”. Atento em explorar a relação entre corpo e cidade em seus projetos, Oppido circula do espaço doméstico íntimo até as macropaisagens urbanas. “Tudo nos motiva a refletir e expressar”, conclui.

 

 

Imagens em dobro

 

Exposições individuais de Cristiano Mascaro e Gal Oppido. A exposição O Que os Olhos Alcançam – Cristiano Mascaro traça um panorama da produção do fotógrafo e abrange seu percurso técnico e estético. Um recorte de sua longeva carreira – Mascaro está em atividade profissional há 50 anos – pode ser visto até 23 de junho no Sesc Pinheiros, São Paulo, SP.

 

O Sesc Campo Limpo recebe, ainda no primeiro semestre, “Campo do Olhar”, do artista Gal Oppido.

 

A exposição é composta de uma série de registros feitos com celular pelas imediações da unidade, acompanhado de moradores do bairro. Somadas à exposição, estão previstas atividades como cursos e oficinas sobre fotografia e território.

Tàpies na Bergamin & Gomide

18/mar

Obras do artista catalão Antoni Tàpies (1923 – 2012) encontram-se em exibição na primeira exposição do ano da Galeria Bergamin & Gomide, Jardim Paulista, São Paulo, SP. O surrealismo foi a primeira influência estética na obra de Tàpies, que desenvolveu seu estilo com a pintura matéria a partir do uso de materiais não-artísticos e técnicas mistas. Com sólida formação intelectual, se inspirou numa diversidade de temas como Literatura, Ciência, Filosofia e Arte Oriental e Primitiva. Sendo precursor de linguagens e formas, Tápies é considerado um dos artistas mais revolucionários do Século XX. Composta de cerca de 13 obras criadas pelo artista a partir da década de 1970, a exposição constitui-se na segunda vez que o trabalho do artista é apresentado no Brasil. A primeira e única vez foi em 1995. Tàpies também fez parte da segunda Bienal de São Paulo, uma das exposições mais importantes da arte do século XX na época, que trouxe para o país 65 obras de Paul Klee, mais de 50 obras – pinturas e gravuras – de Edvard Munch, 20 obras de Mondrian, uma sala especial dedicada a Alexander Calder e o MoMA enviou a “Guernica” de Picasso.

 

Até 27 de abril.

Museu Nacional Vive 

28/fev

O Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro inaugurou exposição com 103 peças resgatadas do incêndio que destruiu o prédio principal do Museu Nacional – UFRJ (MN), na zona norte da cidade, em setembro do ano passado: “Museu Nacional Vive – Arqueologia do Resgate”.

 

O diretor do MN, Alexander Kellner, avalia que o pessimismo inicial dá hoje lugar à confiança de que muito será recuperado.

– O que poderia ter sobrevivido às gigantescas e intensas labaredas que destruíram grande parte do palácio? Graças a um trabalho intenso e heroico de servidores da instituição é que hoje podemos ver parte do material resgatado, e, felizmente, ainda há muito mais por vir. Essa exposição é uma demonstração clara de que o Museu Nacional VIVE !, celebra  Alexandre Kellner.

 

Sob curadoria da Comissão de Resgate do MN, “Museu Nacional Vive – Arqueologia do Resgate” ocupa duas salas do segundo andar do centro cultural, com cerca de 180 itens, dos quais 103 são peças resgatadas das cinzas inteiras ou danificadas. As demais são as preservadas, que estavam fora da área do incêndio ou emprestadas. O conjunto contempla todas as áreas de pesquisa da instituição: Antropologia, Botânica, Entomologia, Geologia e Paleontologia, Invertebrados e Vertebrados.

 

A exposição resulta de um trabalho coletivo de profissionais dos diversos departamentos do museu. No processo curatorial se identificou um novo campo que se abria no presente: a arqueologia do resgate.

 

– Apresentar para o público parte do trabalho de resgate do acervo do Museu Nacional é algo muito especial não só para o CCBB, mas também para todas as instituições culturais do Brasil e do mundo e para a população de uma forma geral, que viu e sofreu com o incêndio que destruiu uma história de 200 anos. Com esta exposição, celebramos o reinício do Museu. Poder fazer parte deste momento marcante é motivo de muito orgulho para nós, diz Marcelo Fernandes, gerente geral do CCBB Rio. Com interesse e colaboração vigorosa de todos, a mostra pretende dar ao visitante, do curioso ao pesquisador, um panorama da vida do Museu Nacional, como um convite a uma aventura pela imaginação.

 

 

Exposição

 

No térreo do CCBB, estará o Meteorito Santa Luzia que caiu do espaço em Luziânia, Goiás, em 1922, e homenageia o antigo nome da cidade. Ele pesa cerca de duas toneladas, mede 136 x 80 x 40 cm e é composto por 95,33% de ferro, mais níquel, cobalto, fósforo, cobre e outros elementos.

 

A grande sala do segundo andar apresenta a “Arqueologia do Resgate”, em que peças recuperadas guiam o percurso associadas a outras preservadas. O público encontrará animais taxidermizados; crânios de rinoceronte, boto, pacamara; peixes, tartarugas, sapos, pouquíssimos insetos (segmento muito afetado pelo incêndio); corais, peças-tipo (primeira vez que foram classificadas) como conchas e crustáceos.

 

O crânio de um jacaré-açu foi resgatado dos escombros e é um dos destaques da mostra. Além dele, há outros exemplares resgatados, que caracterizam as coleções de D. Pedro II e da Imperatriz Teresa Cristina – vasos, ânforas e lamparina romanos e etruscos e peças mochica e chimú (Peru).

 

Esculturas de cerâmica Marajoara, elementos ligados aos rituais dos orixás como flechas, argolas africanas do século XIX, agogô e búzios do Benin; bonecas Karajá, panelas do Xingu e um conjunto de miniaturas de cerâmica da região norte-nordeste.

 

No térreo do CCBB, estará o Meteorito Santa Luzia que caiu do espaço em Luziânia, Goiás, em 1922, e homenageia o antigo nome da cidade. Ele pesa cerca de duas toneladas, mede 136 x 80 x 40 cm e é composto por 95,33% de ferro, mais níquel, cobalto, fósforo, cobre e outros elementos.

 

A grande sala do segundo andar apresenta a Arqueologia do Resgate, em que peças recuperadas guiam o percurso associadas a outras preservadas. O público encontrará animais taxidermizadas; crânios de rinoceronte, boto, pacamara; peixes, tartarugas, sapos, pouquíssimos insetos [segmento muito afetado pelo incêndio]; corais, peças-tipo (primeira vez que foram classificadas) como conchas e crustáceos.

 

O crânio de um jacaré-açu foi resgatado dos escombros e é um dos destaques da mostra. Além dele, há outros exemplares resgatados, que caracterizam as coleções de D. Pedro II e da Imperatriz Teresa Cristina – vasos, ânforas e lamparina romanos e etruscos e peças mochica e chimú (Peru).

 

Esculturas de Shabti de Haremakhbit de faiança, do Egito Antigo, de 1380 a.C., se salvaram e estarão em exibição. Shabti são pequenas estatuetas, colocadas nas tumbas, representando servos cuja função era substituir o morto em seus trabalhos na pós-vida.

 

Ainda no mesmo espaço estarão as coleções regionalistas, como as peças em pedra em forma de ave e peixe (zoólitos) de Santa Catarina, cerâmica Marajoara, elementos ligados aos rituais dos orixás como flechas, argolas africanas do século XIX, agogô e búzios do Benin; bonecas Karajá, panelas do Xingu e um conjunto de miniaturas de cerâmica da região norte-nordeste.

 

O trono de Daomé, uma das primeiras peças constatadas como perdidas no fogo e assim noticiada pela mídia, ganhou uma réplica perfeita em papier maché, assinada por um aluno do ensino fundamental comovido com a destruição, e doada ao museu. O Miguel Monteiro Nunes ainda anexou um mosaico de fotos com o passo a passo da feitura da réplica.

 

Da biblioteca, que não foi atingida pelo incêndio, a exposição traz  a publicação “Meteorito de Bendégo”, de José Carlos de Carvalho, de 1888. É o relatório apresentado pela comissão formada por ordem D. João VI, D. Pedro I, Dom Pedro II, da Imperatriz Teresa Cristina, da Princesa Isabel de D. Pedro II para remoção e transferência do meteorito Bendegó para o Museu Nacional. A peça, de cinco toneladas, foi descoberta, em 1784, nas proximidades da cidade de Monte Santo, Bahia. O texto é bilíngue, em português e francês, encadernação de luxo com símbolo do império na capa. O exemplar está disponível na biblioteca digital do Museu Nacional.

 

Do herbário, um dos cinco mais importantes do mundo, há um conjunto de amostras de plantas prensadas (exsicatas) das coleções de D. João VI, D. Pedro I, Dom Pedro II, da Imperatriz Teresa Cristina, da Princesa Isabel e de grandes expedições estrangeiras ao Brasil, como a missão francesa.

 

Com a diversidade de itens resgatados e preservados, equacionados em expografia acolhedora, o público terá a sensação de visitar uma versão do Museu Nacional e experimentar o prazer do convívio com as raridades que a instituição preserva para todos, leigos e iniciados.

 

 

Sobre o Museu Nacional

 

O projeto Museu Nacional Vive já é uma realidade. Até o final de março, a empresa contratada para as obras emergenciais do Museu Nacional vai concluir as obras de estabilização, instalar uma cobertura provisória no prédio e entregar um laudo das patologias derivadas do incêndio. As obras já realizadas permitiram que a imprensa pudesse ver de perto, no dia 12 de fevereiro, como estão as estruturas do Palácio após o incêndio assim como acompanhar o esforço e dedicação dos pesquisadores que integram a equipe de resgate. Também neste dia a UFRJ lançou edital para a licitação de projetos executivos, necessários para a contratação de obras de recuperação do telhado e estruturas de sustentação e a fachada do prédio, tombadas pelo IPHAN. A licitação, contratação e o início destes investimentos deverão ocorrer na segunda metade de 2019 e será financiada, em grande parte, pelos recursos da emenda impositiva que a bancada do Rio (Deputados e Senadores) alocou para o Museu Nacional, no valor de R$ 55 milhões. Para promover um planejamento e gestão eficiente e transparente do projeto Museu Nacional Vive o MEC alocou R$ 5 milhões que serão executados pela UNESCO, órgão das Nações Unidas dedicado à educação e cultura. O apoio do MEC, inicialmente através dos recursos emergenciais e agora em seus desdobramentos, se revela de importância estratégica para a recuperação deste patrimônio único e valioso do país. O MCTIC, através da FINEP, com R$ 10 milhões) e da CAPES (com R$ 2,5 milhões) e o Ministério da Economia, através do BNDES (com recursos da ordem de R$ 20 milhões) também estão apoiando a reconstrução da capacidade de pesquisa do Museu Nacional.

 

 

CCBB 30 anos

 

Inaugurado em 12 de outubro de 1989, o Centro Cultural Banco do Brasil celebra 30 anos de atuação com mais de 50 milhões de visitas. Instalado em um edifício histórico, projetado pelo arquiteto do Império, Francisco Joaquim Bethencourt da Silva, o CCBB é um marco da revitalização do centro histórico da cidade e mantém uma programação plural, regular, acessível e de qualidade. Mais de três mil projetos já foram oferecidos ao público nas áreas de artes visuais, cinema, teatro, dança, música e pensamento.  Desde 2011, o CCBB incluiu o Brasil no ranking anual do jornal britânico The Art Newspaper, projetando o Rio entre as cidades com as mostras de arte mais visitadas do mundo. Agente fomentador da arte e da cultura brasileira segue em compromisso permanente com a formação de plateias, incentivando o público a prestigiar o novo e promovendo, também, nomes da arte mundi.

 

 

Até 29 de abril.

Obras de Paul Klee no Brasil

20/fev

O Centro Cultural Banco do Brasil, CCBB, Centro, São Paulo, deu início a temporada brasileira da exposição “Paul Klee – Equilíbrio Instável”, artista cuja obra possui ligações com diversos movimentos artísticos do século passado, como o Cubismo, o Expressionismo, o Construtivismo e o Surrealismo. Esta é a primeira vez da exibição retrospectiva de sua obra na América Latina, totalizando mais de 100 peças. Ao todo, são 16 pinturas, 39 papéis, cinco gravuras, cinco fantoches – que criou, por uma década, para seu filho Felix, com carretéis de linha, tomadas e ossos de boi fervidos -, 58 desenhos e objetos pessoais do artista, todos selecionados pela curadora Fabienne Eggelhöfer, do Zentrum Paul Klee, de Berna, na Suíça. Sediada na cidade onde Klee nasceu, viveu a infância e parte significativa da vida adulta, o museu mantém atualmente sob sua guarda mais de 4 mil obras produzidas pelo artista.

 

Saliente-se em sua biografia que além de Picasso, Paul Klee cruzou, durante sua vida, com outras personalidades de renome, como Kandinsky. Klee e Kandinsky tornaram-se colegas na Bauhaus, a escola fechada pelo governo nazista – o mesmo regime autoritário que classificou como “degenerado” o trabalho do pintor suíço. Dado a explorar os recônditos da mente e das emoções, Klee buscou sempre franquear a liberdade de suas expressões – seja ao não desistir das artes plásticas, ao prosseguir em seu processo formativo mesmo tendo sua inscrição na academia rejeitada na Alemanha, seja ao questionar tendências da arte pictórica, acolhendo o que qualificasse pertinente para o que entendia como equilíbrio.

 

“Ele é um artista super importante, que deu origem a vários movimentos, mas que nunca recebeu um rótulo, uma sigla com a qual tenha se identificado. É uma espécie de pai de todos, um artista fundamental para a arte moderna no mundo”, diz Roberta, destacando a natureza independente de Klee. “É a primeira vez que ele, tão fundamental, chega aqui de fato com uma retrospectiva. Quem visitar (a exposição) vai saber quem ele é, qual o seu percurso.”

 

Viabilizada pela Lei Rouanet, a exposição terá nas três unidades do CCBB – São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

 

Exposição “Paul Klee – Equilíbrio Instável”

CCBB São Paulo: até 29 de abril

CCBB Rio de Janeiro: de 15 de maio a 12 de agosto

CCBB Belo Horizonte: de 28 de agosto a 18 de novembro

Angelo Venosa na Galeria Nara Roesler

18/fev

Um dos poucos artistas – dedicado à escultura – egresso da Geração 80, cuja tônica era a pintura, o paulistano radicado no Rio de Janeiro, Angelo Venosa, traz a sua cidade natal a exposição “Penumbra”. Com curadoria da historiadora e curadora de arte Vanda Klabin, a mostra na Galeria Nara Roesler, Jardim Europa,  deriva de outra de mesmo nome realizada no ano passado em Vila Velha, ES. Nesta exposição o artista exibe oito esculturas. Dessas, seis são provenientes da exposição no museu capixaba, enquanto as outras duas, ainda que produzidas em 2017, serão exibidas pela primeira vez. “Inquietas e interrogativas, suas obras problematizam a visão do espectador, residem em um mundo fluido permeado pela artesania e pela tecnologia digital, que fazem parte de sua lógica de trabalho e ampliam o campo da sua poética”, pontua a curadora. A mostra reúne obras produzidas em materiais como bronze, madeira, tecido e fibra de vidro que exploram áreas cheias e vazias, criando formas que adquirem inesperada plasticidade. As esculturas formam com a sombra produzida pela iluminação incidente um corpo enigmático e, juntas, constroem particular atmosfera onírica. “A inclusão real da sombra abre um espaço possível, articula a nossa percepção, os nossos modos de ver, e essa simultaneidade de acontecimentos que segmenta um novo território parece sonegar a verdade do olho e possibilita uma grande variedade de acessos a uma realidade cifrada”, afirma a curadora. Segundo Vanda Klabin, ainda, a nova série de trabalhos de Angelo Venosa desperta muitas desconcertantes indagações. “O agenciamento de outros materiais para construir um novo continente de trabalho vai presidir a criação de um núcleo de obras envoltas em incidências luminosas que se desenvolve numa turbulência interna, em que as formas oscilam e tomam posição, no sentido de multiplicar os planos, criar uma ambiguidade espacial”.

 

 

Sobre o artista

 

Angelo Venosa nasceu em 1954, em São Paulo, SP. Brasil. Vive e trabalha no Rio de Janeiro.  É um dos poucos artistas da chamada “Geração 80” que se dedicou à escultura, em detrimento da pintura então em evidência. A partir da década de 1990, passou a utilizar materiais como mármore, cera, chumbo e dentes de animais, realizando obras que remetem a estruturas anatômicas, como vértebras e ossos. Mais recentemente, o artista começou a utilizar impressões em 3D e desenho assistido por computador para criar estruturas e exoesqueletos de compensado e metal que se assemelham a corais. Participou de exposições como a 19ª Bienal de São Paulo, 1987, a 45ª La Biennale di Venezia, 1993 e a 5ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre, 2005. Uma grande retrospectiva em comemoração pelos seus 30 anos de carreira foi realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, MAM Rio, em 2012, passando pela Pinacoteca do Estado de São Paulo em 2013 e pelo Palácio das Artes, Belo Horizonte, MG, e pelo Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães, MAMAM, Recife, PE, em 2014. Atualmente, possui esculturas públicas instaladas em diversos locais do país, como Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (Jardins), Museu de Arte Moderna de São Paulo (Jardim do Ibirapuera), Pinacoteca do Estado de São Paulo (Jardim da Luz) e Praia de Copacabana/Leme, Rio de Janeiro.

 

 

Até 16 de março.

Leonilson: obras inéditas na Fiesp

Leonilson ganha exposição em São Paulo. A mostra, em cartaz na Galeria de Arte do Centro Cultural Fiesp, denominada “Leonilson: Arquivo e Memória vivos”, reúne mais de 120 obras entre pinturas, desenhos e borados. A curadoria é de Ricardo Resende. Algumas de suas obras estiveram restritas por décadas em coleções particulares particulares e institucionais e foram pouco ou nunca antes exibidas na cidade. Leonilson faleceu jovem, aos 36 anos de idade.

Suas obras e memória são preservadas pelo Projeto Leonilson, cuidado por seus familiares.

 

A família do artista cataloga cada uma de suas obras e promove exposições em parceria com diversas instituições. Durante o período de duração da exposição, a FIESP montou um espaço educativo dedicado ao bordado, técnica bastante utilizada por Leonilson em sua trajetória para que o público possa interagir.

 

Até 19 de maio.

Alex Flemming, exposição inédita 

13/fev

A partir do dia 14 de fevereiro, a Emmathomas Galeria, Jardim Paulista, São Paulo, SP, recebe “Alex Flemming – Ecce Homo”, individual inédita do artista paulistano radicado em Berlim. Nesta exposição, Alex Flemming apresenta seus trabalhos mais recentes, frutos da série que também dá nome à exposição. O artista brasileiro, radicado em Berlim, reflete sobre cenário político do País, fazendo uso de metáfora bíblica.

 

Com curadoria de Ricardo Resende, a mostra reúne 27 trabalhos que tomam como suporte pias de banheiro fabricadas nos anos 1970 e 1980. Sobre elas, Alex Flemming desenha com o auxílio de um esmeril – ponta de diamante capaz de marcar a superfície da louça. Preciso, os traços gravados na cerâmica rasgam a camada de tinta que cobre as pias, trazendo à tona uma materialidade em traços brancos sob as cores vívidas e esmaltadas das louças. No ato, ganham forma mãos de amigos e pessoas próximas do artista, que, antes de registrá-las, primeiro as fotografou.

 

“Flemming grava o gesto do cotidiano em que se lava as mãos da imundice que carregamos e faz referência ao cenário político brasileiro, assolado pela corrupção e malfeitos da sociedade mancomunada com os políticos”, afirma o curador, para quem, simbolicamente, o artista trata daquela sujeira oculta encontrada na alma humana: a da hipocrisia, da falsa moral e da falsa religiosidade. “O trabalho, de certo modo, desmascara esse antagonismo moral entre o bem e o mal da vida social, feita hoje de perversão, de decadência, de fraquezas, de mentiras, do escárnio, da negação e da imoralidade. No gesto poético de lavar as mãos, busca-se encontrar a pureza: a limpeza não só das mãos, mas também da moral e da sanidade mental”, completa Resende.

 

No espaço expositivo, as obras são mostradas de forma não convencional: os lavatórios ganham pedestais, tais como os altares domésticos típicos do Barroco brasileiro. O tom sacro, inclusive, surge daquela que foi a inspiração da exposição: a passagem bíblica que antecede a crucificação de Jesus Cristo.

 

“Ecce Homo” (Eis o homem, em latim) teria dito Pôncio Pilatos, em um momento crucial para a humanidade: a entrega do homem de Nazareth ao povo judeu, ordenando à multidão que escolhesse o destino do filho de Deus, lavando então suas mãos para o destino que Ele teria e eximindo-se da responsabilidade por sua posterior crucificação.

 

“Esta série propõe uma reflexão plástica do fato de lavarmos nossas mãos em questões nacionais importantes, deixando-as para serem decididas por políticos e outros poderosos, invertendo assim a relação bíblica”, comenta Alex Flemming, para quem os conflitos e as questões sociais são caras e, muitas vezes, estopim para suas criações artísticas. Idealizada em 2018, ainda em Berlim, a série foi realizada ao longo de um mês, em um ateliê que o artista improvisou na Fábrica de Arte Marcos Amaro, sede da Fundação Marcos Amaro, em Itu, interior de São Paulo.

 

 

Sobre o artista
Alex Flemming é pintor, escultor e gravador. Nasceu em 1954 em São Paulo e, desde 1993, reside em Berlim, na Alemanha. Entre 1972 e 1974, frequentou o curso livre de cinema na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap). Cursou também serigrafia e gravura em metal. Na mesma década, realizou curtas-metragens e participou de festivais variados. A partir dos anos 1990, realizou intervenções em espaços expositivos e pinturas de caráter autobiográfico. Passou a recolher móveis para utilizar em seus trabalhos, aplicando sobre eles tintas e letras ou textos. Apesar da vivência na Alemanha, sempre expôs no Brasil. Em 1998, realizou painéis em vidro para a Estação Sumaré do Metrô de São Paulo, com fotos de pessoas comuns, às quais sobrepõe com letras coloridas trechos de poemas de autores brasileiros. A representação do corpo humano e os mapas de regiões em conflito estão na série Body Builders, 2001-2002. Também de 2002, a série “Flying Carpet”, que toma como ponto de partida o atentado terrorista de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos. Já a série “Anaconda”, de 2016, uma reflexão plástica sobre os horrores da ditadura do Estado Islâmico e o seu cruzamento com as tradições culturais do Oriente.

Enigmas na SIM Galeria

12/fev

SIM Galeria, Cerqueira César, São Paulo, SP, exibe “não está claro até que a noite caia”, exposição individual de Juliana Stein.

 

Entre enigmas 

Para sua primeira mostra individual em São Paulo, Juliana Stein, como lhe é característico, preparou um elenco enxuto de enigmas. E precisa mais? Como um dia escreveu Walter de Maria, que em 1977 instalou uma charada sob a forma de 400 para-raios num quadrado de uma milha por um quilômetro, numa região desértica do Novo México: Cada bom trabalho deve ter no mínimo dez significados. Juliana pertence a essa mesma linhagem. E quem já a conhecia, ou pensava conhece-la, preparou-se para ver fotografias. Para esses ela trouxe uma. Tão misteriosa e ambígua quanto o resto: uma penca de poemas visuais que se desdobram, primeiramente, em sentenças divergentes:

não

está

claro

até que

a noite

caia

Insinuação contraditória de que a luz chega com a escuridão – a luz da lua?  (o visitante haverá de notar que a luminosidade rebaixada do sol contido no a com til – não –, cintila seu último raio no está, tônico, despencando por detrás da linha do horizonte – até,  a noite – para acabar separada pela verticalidade impositiva do i – caia);

aliterações:

infalível

infalável

em que a ideia de precisão, por um triz coincide com a impossibilidade de  expressão. Enquanto o í tônico espelha o átimo da certeza, o á abre-se em possibilidades;

a solução enxuta:

oops

em que os oo refream a conclusão, realçam o momento em que o espírito em dúvida, eriça-se; põe-se de sobreaviso, enquanto o scolado ao p, distende esse estado de espírito; até o grão da palavra, o ínfimo fragmento, o átomo: u/n: quando a letra u, virada de cabeça para baixo, de vogal transforma-se em consoante.

 

Nesse jogo de embaralhamento de linguagem, das formas que ela pode assumir, esplende na parede do fundo, pintada de preto, solução que afora o contraste encurta ilusoriamente a distância, uma espécie de relógio digital ocupando grande parte dela, feito de lâmpadas fluorescentes brancas, marcando 00:00 horas  em regime permanente.  O relógio ostenta a força da sua matéria incorpórea, cegante e misteriosa. Por que parado e por que parado no 00:00 horas? Seria um ponto de partida ou de chegada? As duas interpretações são igualmente válidas, pois, segundo a lógica mais trivial, assim como acontece com a fotografia que suspende o fluxo de um tempo contínuo iniciado sabe-se lá quando, e que vai perdurar dentro da mesma indeterminação, o relógio parado em 00:00 horas dá a entender o mesmo. De qualquer modo prefiro imaginar, talvez movido pela sugestão do título da exposição, Não está claro até que a noite caia, que o relógio empreendeu uma contagem regressiva, baixando até o zero.  O fim do dia tem a ver com apagamento, o grande zero luminoso submergindo atrás da linha do horizonte. Quando as coisas perdem sua nitidez e vão se embutindo na sombra.

 

Um dos problemas que a exposição de Juliana Stein enfrenta de frente é a cegueira produzida por um mundo onde as pessoas, por assim dizer, não piscam, não têm, porque não tem ou porque não querem ter, um minuto, um segundo que seja, de sombra, escuridão e mistério. Flutuam à tona de suas certezas flácidas, bamboleantes, o que não as impedem de emiti-las com a fúria dogmática dos fanáticos.

 

E é nisso que reside o valor da única fotografia exposta, a imagem solitária que a artista nos concede.

 

A fotografia vai à praia. Juliana registra o corpo no lugar por excelência da exposição, mais do que isso, da superexposição; onde as pessoas colocam-se literalmente à flor da pele, escancaram sua  nudez consentida. Nessa situação, a artista, visitando o avesso, elege o corpo oculto, envolto no drapeado de um tecido branco, refulgente como o corpo de um fantasma ou de um santo, não se sabe, nunca se saberá. O que se sabe é que isso – um milagre? – acontece à luz do dia, com o sol a pino, ali onde a onda se quebra e a água desfaz-se em espuma, fragmenta-se em infinitas micropartículas, como uma exalação da matéria láctea, a matéria máter do mundo.

Agnaldo Farias

 

De 19 de fevereiro até 23 de março.

Palestra de Rosana Paulino

01/fev

O programa “Contatos com a arte” receberá, no dia 07 de fevereiro, quinta-feira, às 19h30, a artista Rosana Paulino para uma conversa sobre sua obra presente na exposição “Passado/Futuro/Presente: arte contemporânea brasileira no acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo”.

 

 

Sobre a artista

 
Doutora em Artes Visuais pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – ECA/USP. É especialista em gravura pelo London Print Studio, de Londres e Bacharel em Gravura pela ECA/USP. Foi Bolsista do Programa Bolsa da Fundação Ford nos anos de 2006 a 2008 e Capes de 2008 a 2011. Em 2014 foi agraciada com a bolsa para residência no Bellagio Center, da Fundação Rockefeller, em Bellagio, Itália.

 

Como artista vem se destacando por sua produção ligada a questões sociais, étnicas e de gênero. Seus trabalhos têm como foco principal a posição da mulher negra na sociedade brasileira e os diversos tipos de violência sofridos por esta população decorrente do racismo e das marcas deixadas pela escravidão.

 

Possui obras em importantes museus tais como MAM; Unm – University of New Mexico Art Museum, New Mexico, USA e Museu Afro-Brasil – São Paulo

 
Conversa com Rosana Paulino

 

Local: Museu de Arte Moderna de São Paulo
Endereço: Parque Ibirapuera – Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº. Acesso pelos portões 2 e 3

 
Horário: 19h30 às 21h30

 
Tel: (11) 5085-1300