Basquiat em São Paulo

29/jan

“Eu sei desenhar, mas não quero”, costumava dizer Jean-Michel Basquiat (1960-1988), conhecido por pinturas que lembram grafites e traços robustos que se assemelham a desenhos infantis. Nos anos 1970, o artista negro começou a ganhar popularidade ao pichar muros em Nova York com a assinatura de “SAMO” (“same old shit”, ou “mesma merda de sempre”) passando depois ao suporte convencional das telas.

 

“Ele queria ser visto, por isso grafitava em lugares que chamassem a atenção”, diz Pieter Tjabbes, que assina a curadoria da primeira retrospectiva do artista no Brasil.

 

A mostra, no CCBB São Paulo, Centro, São Paulo, SP, conta com cerca de 80 obras do artista do acervo do israelense Jose Mugrabi. Considerado o maior colecionador de Basquiat no mundo – embora não revele quantas peças do artista possui, nem o valor pelo qual cedeu as obras ao CCBB – Mugrabi tem ainda em seu acervo peças de Andy Warhol.

 

Segundo o curador da mostra, foi por colecionar trabalhos de Warhol que Mugrabi conheceu Basquiat. Warhol foi um grande colega de Basquiat e calcula-se que tenham produzido cerca de cem telas juntos.

 

No CCBB, estarão expostas três telas da dupla. “Eles tinham uma relação muito intensa”, explica o curador, frisando que, no entanto, o cunho não era sexual. Além de telas, há na exposição desenhos e objetos – caso da porta de um apartamento em que o artista morou com uma namorada e traz escritos como “famous negro athlets” (famosos atletas negros), um aceno crítico de Basquiat ao fato de que, na época, negros só atingiam a fama se fossem jogadores de basquete ou cantores de jazz.

 

Fora de museus

 

Calcula-se que mais de 80% dos trabalhos de Basquiat estejam na mão de colecionadores, e não de museus. Ao morrer precocemente – Basquiat teve overdose de ecstasy e cocaína aos 27 anos – ele tinha produzido, em sete anos, cerca de 2.000 peças. Os preços das obras do artista subiram exponencialmente após a sua morte, e os museus não conseguiram acompanhar suas vendas.

 

Além disso, instituições não costumavam comprar obras de iniciantes. “Hoje os museus não têm fundos para comprar mais as obras de Basquiat”, diz o curador. Por exemplo, em 2017, uma obra do neoexpressionista bateu recorde em vendas de artistas americanos em leilão ao ser arrematada por US$ 110 milhões em Nova York.

 

Marcus Bastos, professor do departamento de artes plásticas da USP, acredita que a crise econômica dos anos 1970 tenha ajudado na ascensão de Basquiat. Para Bastos, a crise possibilitou que artistas vivessem em Manhattan, e não na periferia de Nova York, então “uma cidade com clima underground”. Quando a situação econômica melhorou, nos anos 1980, eles estavam bem posicionados e “estouraram”.

Fonte: Touch of class

 

 

Até 07 de abril.

 

Semana temática

Durante esta semana, o Wesley Duke Lee Art Institute, Jardim Paulistano, São Paulo, SP, mostrará como foi o período vivido por Wesley no Japão. Em 1965, ele é convidado por Pietro Maria Bardi como principal representante do Brasil na 8ª Bienal de Tóquio e não só participa como também recebe o primeiro prêmio dedicado à pintura.  Devido ao sucesso na Bienal, passa mais cinco meses no país, expondo na Tokyo Gallery (a galeria de arte mais importante do Japão) e estudando caligrafia e Sumi-ê. O Japão se tornou uma grande inspiração para o Wesley em toda sua carreira, sendo parte importantíssima de sua trajetória.

“SÃO PAULO | VON POSER”

22/jan

A Verve Galeria, Jardim Paulista, São Paulo, SP, inaugura seu calendário expositivo de 2018 com “SÃO PAULO | VON POSER”, do artista plástico paulistano Paulo von Poser e curadoria de Ian Duarte Lucas. Planejada para as comemorações dos 464 anos de São Paulo, a individual contempla nove séries inéditas, perfazendo um total de vinte e seis peças – em técnicas distintas de desenho, acrílica sobre tela, instalação e objetos -, que desvendam a relação do artista com a cidade onde nasceu, onde vive e trabalha, e que representa sua maior inspiração ao longo de seus 35 anos de carreira.

 

“Minha rua em São Paulo é um estranho assombro, sem casas nem vizinhos da frente, nem asfalto tem – a rua é de terra mesmo! Moro e trabalho literalmente no mato, no mais absoluto silêncio da natureza na periferia sul da cidade. Neste desenho me surpreendi com a presença de pessoas e o movimento desta rua deserta de onde saio todos os dias em busca da arte e da vida urbana”. A citação de Paulo von Poser se refere a “minha rua” (desenho em carvão e acrílica sobre tela), trabalho realizado na Riviera Paulista, às margens da Represa de Guarapiranga. “Ao conduzir o expectador por uma São Paulo muito pessoal, o artista aborda um conceito que permeia toda a sua pesquisa: a deriva, procedimento psicogeográfico proposto pelo escritor Guy Debord, representante do movimento situacionista, que tem como objetivo estudar os efeitos domeiourbanonos estadospsíquico e emocional das pessoas. Ao registrar seus percursos, o artista se deixa conduzir pelo próprio ambiente urbano para produzir seus trabalhos, outro ponto de contato com os situacionistas, que propunham a abolição da noção de arte enquanto atividade especializada – sua superação viria pela transformação ininterrupta do meio urbano”, comenta Ian Duarte Lucas, curador da mostra.  

  

Em “vistas privadas” (desenho sobre papel, técnica mista), paisagens urbanas, como o bairro do Glicério, o Parque Dom Pedro e a Igreja da Boa Morte, são recriadas com os traços de Paulo von Poser. Na obra intitulada “vistas públicas”, são apresentadas cenas da cidade elaboradas com grafite e guache sobre papel. “A exposição toma ainda uma dimensão urbana literal, na medida que propõe atividades pela cidade ao longo de seus dois meses de duração. A obra “tempo livre” percorrerá espaços importantes de São Paulo para o artista, e será completada em aulas de desenho abertas ao público, simbolizando esta cidade que se constrói a cada dia em suas incontáveis histórias”, conclui o curador.

 

 

 

De 23 de janeiro a 31 de março.

Tunga no MASP

20/dez

A exposição “Tunga: o corpo em obras” encerra o programa anual de 2017 do MASP, Avenida Paulista, São Paulo, SP, em torno das histórias da sexualidade, que incluiu mostras individuais dos artistas Teresinha Soares, Wanda Pimentel, Miguel Rio Branco, Toulouse-Lautrec, Tracey Moffatt, Guerrilla Girls, Pedro Correia de Araújo e a exposição coletiva “Histórias da sexualidade”. O MASP agradece muito especialmente ao Acervo Tunga pela doação de uma escultura da série “Morfológicas” exposta nesta mostra. A exposição tem curadoria de Isabella Rjeille, assistente curatorial e Tomás Toledo, curador, MASP. A expografia é da Metro Arquitetos Associados.

 

A sexualidade e o erotismo são temas centrais na produção de Tunga (Palmares, Pernambuco 1952 – Rio de Janeiro, 2016) desde sua primeira exposição individual, intitulada “Museu da masturbação infantil”, realizada em 1974 no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Essa mostra de 1974 incluiu desenhos abstratos que, posteriormente, pautariam o raciocínio acerca desses temas na produção do artista. Eram obras cujas formas evocavam imagens eróticas ou processos de gozo, elementos que reaparecem expostos em desenhos daquele mesmo ano.

 

Nesta exposição, a sexualidade não constitui apenas um tema da produção do artista, mas um modo de compreender relações, vínculos, transformações e criações entre corpos, matérias e linguagens. A escolha dos trabalhos e sua disposição no espaço foram definidas a fim de potencializar essas relações e promover diálogos entre obras de diferentes períodos e técnicas, em detrimento de uma organização cronológica. O título da mostra “Tunga: o corpo em obras” tem duplo sentido: alude tanto ao corpo como assunto das obras do artista, como propõe um olhar sobre sua produção como um corpo continuamente em obras, ou seja, em constante transformação. Essa leitura surgiu da natureza diversa e circular da obra de Tunga, cujos trabalhos não se encerram em categorias estanques. Referências ao corpo, à sexualidade e ao erotismo podem ser observadas em todas as obras expostas: o nu (Vê-nus e Eixos exógenos), a pele e a maquiagem (em desenhos ou sobre as esculturas na série Lábios), os cabelos (Tranças e Escalpes), dedos, vulvas e falos (Morfológicas e A cada doze dias e uma carta), o masculino e o feminino (Tacapes e Tranças) e o magnetismo do desejo (com os ímãs em Tacapes, Lezart e Palíndromo incesto).

 

 

Sobre o artista

 

Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão, conhecido como Tunga, foi o primeiro artista contemporâneo e o primeiro brasileiro a ter uma obra exposta no Museu do Louvre, em  Paris. Obras suas estão em acervos permanentes de museus como o Guggenheim de Veneza, além do Instituto Inhotim, em Brumadinho, Minas Gerais. Nascido em Palmares, Pernambuco, Tunga mudou-se para o Rio de Janeiro, onde cursou Arquitetura e Urbanismo. O filho do escritor Gerardo de Mello Mourão iniciou a carreira no começo dos anos 1970. Arquiteto de formação, Tunga transitou por diferentes linguagens, das artes visuais à literatura, incluindo a escultura, a instalação, o desenho, a aquarela, gravura, vídeo, texto e a instauração. Frequentemente, suas obras se alimentam de um repertório que provém de distintos campos do conhecimento, como a psicanálise, a filosofia, a química, a alquimia, bem como as memórias e as ficções.

 

 

Até 09 de março de 2018.

Rodrigo Andrade na Pina Estação

18/dez

A Pinacoteca de São Paulo, instituição da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, inaugurou a exposição retrospectiva da obra de Rodrigo Andrade no quarto andar da Pina Estação. A Pina Estação fica próxima à estação Luz da CPTM, vizinha à Sala São Paulo. Com curadoria de Taisa Palhares e patrocínio do Banco Credit Suisse, “Rodrigo Andrade: Pintura e matéria (1983-2014)” reúne pela primeira vez um conjunto de mais de 100 trabalhos, apresentando uma visão abrangente de sua carreira, desde 1983 até os últimos cinco anos de sua produção. Entre os trabalhos apresentados destacam-se as obras de sua fase abstrata, quando Andrade começa a usar o estêncil, além de pinturas da série “Matéria noturna”, expostas na 29ª Bienal. A exposição vem dar continuidade às mostras de revisão de carreira de artistas que emergiram no cenário brasileiro durante a década de 1980, que a Pinacoteca realiza há mais de dez anos. Vale lembrar que entre as obras apresentadas, está uma instalação criada exclusivamente para o prédio da Pina Estação, seguindo a produção de intervenções pictóricas realizadas pelo artista nos anos 2000 em espaços públicos, como “Lanches Alvorada”, “Paredes da Caixa” e “Óleo sobre”. Um catálogo da exposição será publicado com reproduções de obras, um ensaio da curadora e um texto de Michael Asbury, autor convidado.

 

 

Sobre o artista

 

Andrade é um pintor paulistano, nascido em 1962, que iniciou sua trajetória artística em 1977, período em que estudou gravura com Sergio Fingermann. Na década de 1980 formou o grupo conhecido como Casa 7, que incluía Nuno Ramos, Fabio Miguez, Carlito Carvalhosa e Paulo Monteiro. Sua produção inicial foi marcada pela observação dos comics norte-americanos e de pintores como o canadense Philip Guston. Em seguida, sua pintura passa a se identificar com uma produção então chamada de “matérica”, por valorizar o acúmulo de tinta e de outros elementos no suporte (papelão, madeira, etc), bem como a gestualidade ao preencher a superfície da pintura.

 

Até 12 de março de 2018.

Prova de Artista/Fortes D’Aloia & Gabriel

Já está aberta ao público a exposição “Prova de Artista” que encerra a programação 2017 da Fortes D’Aloia & Gabriel. A mostra permanecerá em cartaz até 24 de fevereiro na Galeria, Vila Madalena, São Paulo, SP. “Prova de artista” traz obras assinadas por Cabelo, Cristiano Lenhardt, Jac Leirner, Leda Catunda, Lucia Laguna, Luiz Zerbini, Mauro Restiffe, Odires Mlászho, Pedro França, Rodrigo Cass, Rodrigo Matheus e Sara Ramo.

 

Prova de Artista toma o título de empréstimo do termo originário da gravura – as provas de artista são as cópias que o autor reserva para si, à parte da edição final de uma obra – para investigar a relação de intimidade que o artista mantém com o próprio trabalho. Concebida e organizada pela equipe da Fortes D’Aloia & Gabriel, a coletiva reflete o desejo de desvelar questões próprias do fazer artístico que muitas vezes ficam restritas aos bastidores da produção.

 

Ao debruçar-se sobre as decisões que levam o artista a reconhecer a obra já em seu estado final ou compreendê-la como experimento de sua vivência no ateliê, a exposição promove a redescoberta de obras como Retalhos de Plástico (1996) de Leda Catunda. Tido pela artista como um estudo, o trabalho permanecia inédito e “esquecido” até então, podendo agora adentrar novos territórios semânticos. Rodrigo Cass exibe, em sequência, quatro vídeos realizados entre 2006 e 2007. São seus primeiros flertes com essa mídia, cuja mise-en-scène caseira revela um vínculo íntimo e afetivo. Contents (2017), uma pintura de concreto sobre linho, também desenvolve essa noção ao reinterpretar a pauta de seu caderno de anotações com alguns conceitos-chave que norteiam sua pesquisa.

 

Em conjunto, os trinta desenhos Sem título (2017) de Cabelo denotam um ritmo intenso de produção, excerto de uma série de 140 estudos a óleo realizada em apenas três dias. Antes de ganharem painéis, telas e murais de maior escala, seus seres híbridos convivem com anotações processuais, onde o próprio artista assinala a intensidade de sua práxis ao afirmar em um dos desenhos: “não paro”. A palavra também é explorada nas Cartas para Poemas Automáticos (2012) de Odires Mlászho, nas quais fragmentos de clichês tipográficos se mesclam ao fundo reticulado para dar origem a composições abstratas.

 

Retrato (2008) de Luiz Zerbini representa um ponto de virada em sua carreira e exemplifica sua diversificada investigação pictórica. Exibida originalmente como parte de uma instalação no Centro Universitário Maria Antonia (São Paulo, 2008), a obra é uma grande tela negra que vai à divisa da problemática da representação na pintura: sua superfície reflexiva é preenchida por vultos do entorno.

 

Jac Leirner apresenta duas obras que demonstram um contínuo compromisso de explorar os materiais até o limite. Osso 008 (40 Desenhos) (2008) é concebida a partir dos estudos de sua série com sacolas de plástico, enquanto Timeline (2008-2014) é feita com aparas de papel de outra obra, elegidas e agrupadas por inscrições das datas. De maneira análoga, os Desenhos (2016) de Lucia Laguna ganham forma a partir das sobras materiais de sua atividade: são colagens com as fitas utilizadas nas suas telas que traduzem de forma autônoma a abstração desenvolvida nas pinturas. Sara Ramo, por sua vez, cria esculturas de gesso pedra em Matriz e a Perversão da Forma (2015) a partir das máscaras de papel presentes em seu vídeo Os Ajudantes (2015).

 

O Radiador Bruto 5 (2017) de Cristiano Lenhardt é parte de um série iniciada em 2014. Retiradas do mundo em seu estado cru, a obra revela uma curiosa abstração espontânea, cuja geometria flerta com o aspecto randômico de outros trabalhos do artista. Em processo similar, Rodrigo Matheus instala a carcaça de um aparelho antigo de ar-condicionado no canto superior de uma das paredes da Galeria. Potencializado pela ambiguidade permissiva do teste, o corpo estranho adere ao espaço e instaura-se entre a dúvida e a possibilidade do pertencimento real.

 

A série Vermeer (1997-2002) de Mauro Restiffe esgarça os limites da metalinguagem ao explorar as possibilidades de presença de uma mesma fotografia em diferentes contextos. Se Vermeer (1997) apresentava uma pintura entrecortada de Johannes Vermeer no museu, Wrapped Vermeer (1999) é a foto da foto de 1997 embrulhada em plástico bolha, enquanto em Hanging Vermeer (2002) a mesma reaparece pendurada no laboratório fotográfico. Essa última, editada pela primeira vez especialmente para esta exposição, é apresentada com uma sequência de folhas de contato fotográficas que explicitam diferentes momentos da série e o processo de escolhas do artista.

 

Com Environ (2017), Pedro França ocupa o segundo andar da Galeria criando um ambiente distópico em tons verdes e azuis de chroma key. As peças são ambivalentes e podem ser lidas tanto como esculturas autônomas quanto como objetos de cena cuja presença converge no trabalho em vídeo que completa a instalação. Usando as superfícies de chroma key para inserir efeitos visuais, o artista continuará editando o vídeo ao longo da mostra, oferecendo uma obra em mutação que se coloca incessantemente à prova.

 

 

A galeria cumprirá o recesso de fim de ano: fechada entre 22 Dezembro 2017 e 07 Janeiro de 2018. No Carnaval: fechada entre 10 e 14 Fevereiro de 2018.

Julio Le Parc: da Forma à Ação

13/dez

O Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, apresenta adaptada para seu espaço, a grande retrospectiva de Julio Le Parc, realizada em 2016 no Pérez Art Museum Miami (PAMM). Com a mesma curadoria de Estrellita B. Brodsky e consultoria artística de Yamil Le Parc, a mostra em São Paulo, com patrocínio do Bradesco, apresenta mais de 100 obras que trazem uma centelha de experiências físicas e visuais do consagrado artista. Ao incluir as principais instalações e trabalhos raramente vistos em papel e materiais de arquivo, “Julio Le Parc: da Forma à Ação” é uma exploração da figura central de Le Parc na História da Arte do Século XX.

 

“As investigações de Julio Le Parc sobre as maneiras de engajar e empoderar o público redefiniram e reinterpretaram a experiencia da arte”, afirma a curadora Estrellita B. Brodsky. “Movido por um sólido ethos utópico, Le Parc continua a olhar a arte como um laboratório social, capaz de produzir situações imprevisíveis e de ludicamente engajar o espectador de novas maneiras. Seu posicionamento radical continua cada vez mais relevante após seis décadas”.

 

O artista argentino logo após mudar-se para Paris, tornou-se, em 1960, membro fundador do coletivo de artistas Grupo de Pesquisa de Artes Visuais (GRAV). Ao enfatizar o poder social de objetos e situações de arte não mediados e desorientadores, Le Parc buscou limpar as estruturas e sistemas que separam espectador de obra. Sua inovação no campo da luz, movimento e percepção foi central para os movimentos da arte cinética e ótica da época, servindo suas teorias como veículo de mudança social e política, que continuaram a integrar a vanguarda parisiense de 1960 adiante.

 

Esse espírito da arte como ímpeto social move-se pela mostra em três secções temáticas. A primeira, “Da superfície ao objeto”, reúne trabalhos iniciais em papel e pinturas que mostram o uso de cor como meio de desestabilizar a superfície bidimensional. Estão expostas obras de 1958, com estudos do bidimensional com tinta e guache em papel, assim como pinturas de 1959 até hoje. Também consta nesse segmento, o monumental “A Longa Marcha”, um grupo de 10 pinturas vibrantes que flutuam ao redor de uma parede arredondada.

 

Em “Deslocamento”; “Contorções”; “Relevos”, estão os revolucionários labirintos-instalação, de Le Parc exibidos pela primeira vez como parte da participação da GRAV na Bienal de Paris de 1963, as caixas de luz e obras de contorção. A sequência de três cômodos imbuídos de luz oferece aos espectadores uma experiência sensorial poderosamente desorientadora.

 

Por fim, “Jogo & Política de participação” dissolve os muros físicos e ideológicos que separam espectador, obra de arte e instituição. Precursor do movimento de estética relacional, esse período da carreira de Le Parc considera como a arte pode encorajar uma nova consciência sobre o espaço social do indivíduo.

 

“Acredito que a exposição de Julio Le Parc despertará o mesmo interesse e encantamento do público causado pela mostra de Yayoi Kusama, que realizamos em 2014, por também provocar singular experiência sensorial aos espectadores”, diz Ricardo Ohtake, presidente do Instituto Tomie Ohtake.

 

O trabalho desenvolvido pela curadora Estrellita B. Brodsky é uma pesquisa retrospectiva da abrangente prática de Le Parc e uma análise de seu impacto tanto em seus contemporâneos na América Latina quanto na Europa vanguardista do pós-Guerra e subsequentes gerações de artistas. Apesar do âmbito histórico, a exposição conversa com força com o presente, demandando presença física e perceptiva do público. “Julio Le Parc: da Forma à Ação” apresenta o artista à nova geração, permitindo que cada visitante reaja de forma direta e pessoalmente ao trabalho.

 

 

Até 25 de fevereiro de 2018.

Fuga : Verve e Mezanino juntas

A Verve Galeria, Jardim Paulista, São paulo, SP, em parceria inédita com a Galeria Mezanino, exibe a coletiva “Fuga”. Sob curadoria de Ian Duarte Lucas e Renato de Cara, são propostos 3 diálogos entre 6 artistas de ambas as galerias: Luisa Malzoni e Emídio Contente; Vladimila Veiga e Leo Sombra; e Luciano Zanette e Sergio Niculitcheff. Composta por 25 obras, a expografia pensada para a mostra coloca os trabalhos em contraponto, do qual emergem inúmeras possibilidades de associação. Da música erudita foi emprestado o título da exposição, que investiga processos de espelhamento, modulação, expansão e síntese entre as obras.

 

Assim como nas outras artes, a música possui a capacidade de nos transportar de um lugar a outro num deslocamento, ainda que temporário, da realidade. Palavra do latim que tem o duplo significado de fugir (fugire) e caçar (fugare), a “fuga” é um estilo de composição contrapontística com origem na música barroca, em que as vozes ecoam, uma após a outra, o tema principal, em operações de repetição e contraposição – importante ressaltar que todas as vozes com a mesma importância na composição.

 

Com esta inspiração, a coletiva “Fuga” apresenta diversas linguagens e conceitos, em obras que passam pelas técnicas de escultura, fotografia, gravura e pintura, sempre no intuito de revelar paralelos e correlações entre o trabalho dos artistas.

 

“Pela contraposição, fica evidente a complementaridade entre os processos poéticos de cada um, pois afinal é do encontro que se traça o devir de todo artista”, concluem os curadores Ian Duarte Lucas e Renato de Cara. A coordenação é de Allan Seabra.

 

De 14 de dezembro de 2017 a 20 de janeiro de 2018.

Obra 7 Noites, 365 Dias

11/dez

  1. Pavel Herrera, artista cubano que vive em São Paulo-SP, é representado pela Galeria Sancovsky, Jardim Paulistano, São Paulo, SP. Até o dia 22 de dezembro o público terá a oportunidade de visitar sua primeira exibição individual – “Ponto de Fuga” – na qual apresenta obras desenvolvidas, uma parte em Havana, Cuba, outra em São Paulo. J. Pavel Herrera exibe trabalhos em pintura e desenho, tendo a paisagem como temática que dialoga sobre o fenómeno da insularidade e que traduz o olhar de uma pessoa que nasceu numa ilha.

 

 

Sobre a galeria

 

Localizada na Praça Benedito Calixto em São Paulo sob a direção de Marcos Sancovsky, a galeria tem como objetivo apresentar uma significativa produção de artistas jovens e de artistas já consolidados, que trabalham com diferentes linguagens como pintura, vídeo, escultura, performance, entre outras. Sua programação contempla desde exposições individuais dos artistas representados a coletivas de curadores convidados.

Arte Naïf com Jacques Ardies     

 

A Galeria Jacques Ardies, Vila Mariana, São Paulo, SP, inaugurou a “Grande Coletiva de Arte Naïf”, sob a curadoria de Jacques Ardies apresentando mais de 80 obras, de 30 artistas brasileiros. A mostra propõe um destaque à arte popular brasileira com obras que tratam do cotidiano dos artistas e suas experiências de vida.  A exibição, que tradicionalmente encerra a agenda expositiva da galeria, mescla formas distintas de se fazer arte, cada uma com o seu conceito e processo criativo particular.

 

No Brasil, o movimento naïf se consolidou a partir dos anos 1940, com o surgimento das obras de Heitor dos Prazeres e José Antonio da Silva, entre outros. Hoje, o país é um dos grandes representantes deste tipo de arte no mundo, com enormes contrastes territoriais, preservação cultural, capacidade de aflorar novos talentos, mistura de raças e de crenças, sensibilidade inata e alegria contagiante. A chamada Arte naïf é uma expressão artística que surgiu na eclosão da arte moderna. Os artistas naïfs, via de regra, não pretendem seguir as regras da academia, e, por meios próprios, inventam uma linguagem pessoal, expressando suas experiências de vida. Com determinação, buscam superar eventuais dificuldades técnicas, propondo uma arte original, sem compromisso com a perspectiva e executada com total liberdade. A palavra francesa “naïf” foi utilizada para definir o estilo de Henri Rousseau, que apresentava uma arte personalíssima e encantadora.

 

O galerista Jacques Ardies, que adotou o incentivo à Arte naïf brasileira como uma de suas missões, declara que “…esses artistas têm em comum a sutileza com que retratam os temas ligados à natureza e ao dia-a-dia. Usando as cores com habilidade, eles transmitem em cada um de seus quadros a alegria, o lirismo e o otimismo característicos do povo brasileiro”.

 

Na exposição “Grande Coletiva de Arte Naïf”, econtram-se obras assinadas por Ana Denise, Ana Maria Dias, Barbara Rochlitz, Bebeth, Bida, C. Sidoti, Denise Costa, Doralice Ramos, Edgar Calhado, Edivaldo, Edna de Araraquara, Ernani Pavaneli, Enzo Ferrara, Francisco Severino, Helena Coelho, Isabel de Jesus, Ivonaldo, L. Cassemiro, Lucia Buccini, Madeleine Colaço, M. Guadalupe, M. Zawadzka, Maite, Malu Delibo, Mara D. Toledo, Marcelo Schimaneski, Rodolpho Tamanini Neto, Waldomiro Sant’ Anna, Vanice Ayres Leite e Wima Ramos.

 

 

Até 22 de dezembro.