Fragmentação, peso e leveza

16/nov

O trabalho de duas jovens artistas visuais, Marília Del Vecchio e Manuela Costa Lima, dialogam sobre as operações não visuais, na busca de um significado, abrindo em suas singularidades, potências de sentidos próprios. A exposição “Duas artistas, fragmentação, peso e leveza”, com curadoria de Rodrigo Naves, poderá ser conferida a partir do próximo dia 23 de novembro na Galeria Virgílio, Pinheiros, São Paulo, SP.

 

No que diz respeito à aproximação entre as artistas, e no que o curador Rodrigo Naves intitula como “operações não-visuais na busca de um significado para o que realizam”, Manuela Costa Lima exprime a condição do trabalhador assalariado contemporâneo na série “Ícones”. Espécie de “iconografia profana”, um tanto denunciativa, a artista pinta cartões de pontos em dourado, evocando em desenhos motivos espirituais e religiosos, presentes na história da arte no período bizantino em diante.

 

Por seu turno, Marília Del Vecchio, revela a sua poética, a partir da utilização dos cacos de vidros dos famosos copos americanos, criados por Nadir Figueiredo, em 1947, e tão presentes no imaginário e cotidiano da vida brasileira. Com o processo de restauro japonês, chamado kintsugi, a restauração, tal como no trabalho de ceramista, deixa à mostra o rastro dourado das emendas, mas revela, no sentido de significação, a potência da obra como ligação com a sabedoria oriental e uma possível experiência da vida.

 

O curador Rodrigo Naves, ressalta essa espécie de “afinidades” entre as duas artistas, como é o caso da obra “Palíndromo” de Marília Del Vecchio que evoca a dor da separação, nos versos de Pushkin, recortados em latão, e colados numa escultura composta por 5 placas de vidro apoiadas instavelmente entre si. O oposto complementar de “Palíndromo”, “Granadas” de Manuela Costa Lima reaproxima o que fora separado, a partir da pressão que cintas de metal realizam sobre vários pares de pedra. “Penso, porém, que o conjunto da produção de Marília e de Manuela tem singularidades suficientes para a constituição de sentidos próprios, o que implica uma atenção mais detida sobre cada um deles”, conta o curador.

 

Marília Del Vecchio destaca a fragilidade da vida e das relações humanas, seja com os cacos de vidro, narrativas pessoais e coletivas fragmentadas, lembrando as “inserções em circuitos ideológicos”, de Cildo Meirelles, como o amor evocado no poema de Pushkin, na obra “Palíndromo”, que, ao sugerir o desencontro dos amantes, pressupõe uma unidade originária perdida. “Esta é a minha primeira exposição individual, e também a primeira vez que tenho mais de um trabalho exposto no mesmo espaço. Com isto, pude desenvolver melhor os trabalhos e à relação entre eles – e no mesmo processo, as conversas com o Rodrigo Naves me ajudaram a amadurecer como artista”.

 

A singularidade de Manuela Costa Lima, por exemplo, ressoa na dialética entre peso e leveza, como na citada obra “Granadas”, mas também em “Livre Arbítrio”, na qual uma lâmpada fluorescente está suspensa por um fino cabo de aço, e levemente coberta por uma manta de borracha: “O traço comum aos trabalhos que formam essa exposição é a oposição entre peso e leveza, luz e escuridão. Recentemente tenho pensado sobre a questão do livre arbítrio, sobre as escolhas que enfrentamos e a tensão sempre presente nessas decisões”, afirma a artista.

 

 

De 23 de novembro a 19 de dezembro.

 

 

Oito décadas de Arte Naïf 

11/nov

Jacques Ardies, marchand franco-belga estabelecido no Brasil e proprietário da galeria que recebe o seu nome é também o curador da mostra coletiva “Arte Naif, uma viagem na alma brasileira”, com abertura no dia 12 de novembro, no Memorial da América Latina – Galeria Marta Traba, Barra Funda, São Paulo, SP.

 

Interpretar a “arte naif” por si só já é um desafio, visto que se trata de uma expressão regional que percorre o mundo assumindo aspectos de acordo com os artistas que expõe suas próprias experiências, por meio de linhas e formas peculiares, sem ter recebido uma orientação formal. Algumas de suas principais características são o uso de cores fortes, a retratação de temas alegres, traços figurativos, a idealização da natureza e sem a preocupação com a perspectiva, ou seja, às vezes, ela é bidimensional. É exatamente por isso que no Brasil, esta arte goza de um ambiente ideal que se amplifica mais ainda graças à exuberância das florestas, à intensa luminosidade e ao conhecido calor humano brasileiro.

 

Como trata-se de um país com tamanha vastidão cultural, para a mostra, foram escolhidos 70 nomes representativos desse gênero específico de expressão artística. Os artistas foram divididos em três núcleos: Histórico – composto por registros de nomes já reconhecidos no segmento e com trajetória sólida; Atual, com nomes ativos no presente, cujos trabalhos também sofrem influencias de novas técnicas e temas contemporâneos e complementando a exposição, uma área especial composta por 10 esculturas do segmento destacado.

 

Segundo Jacques Ardies, a Arte Naïf baseia-se na liberdade para expressar memórias e emoções, por isso, escolhe apresentá-la em montagem em ordem cronológica, começando pela década de 40 até os dias atuais, com destaque para a pintura tropicalista, as evocações divinas em degradés sofisticados e outras características marcantes como cenas paulistanas, cores quentes, a boemia carioca e baianas em trajes finos. O curador observa que os artistas conseguem superar suas dificuldades técnicas e criar uma linguagem inédita, pessoal e singular. Essa liberdade da execução permite maior dedicação ao essencial da arte que pode ser observada pelas pessoas que ainda preservam intacta sua capacidade de encantar-se com o que pode ser apreciado numa exposição.

 

 

Artistas participantes

 

Agenor, Agostinho Batista de Freitas, Alba Cavalcanti, Ana Maria Dias, Antônio Cassiano, Antônio de Olinda, Antônio Julião, Antônio Porteiro, Artur Perreira, Bajado, Barbara Rochltiz, Bebeth, Chico da Silva, Conceição da Silva, Constância Nery, Crisaldo Morais, Cristiano Sidoti, Denise Costa, Dila, Doval, Edivaldo, Edna de Araraquara, Edson Lima, Elisa Martins da Silveira, Elza O.S, Ernani Pavaneli, Francisco Severino, Geraldo Teles de Oliveira, Gerson, Gilvan, Grauben, Helena Coelho, Iaponí Araújo, Ignácio da Nega, Iracema, Isabel de Jesus, Ivan Moraes, Ivonaldo Veloso de Melo, José Antônio da Silva, José de Freitas, José Perreira, Lia Mittarakis, Louco, Lourdes de Deus, Lucia Buccini, Luiz Cassemiro, Madeleine Colaço, Magdalena Zawadzka, Maite, Malu Delibo, Mara Toledo, Marcelo Schimaneski, Maria Auxiliadora, Maria Guadalaupe, Miranda, Mirian, Neuton de Andrade, Olimpio Bezerro, Passarinheiro, Raimundo Bida, Rodolpho Tamanini Netto, Rosina Becker do Valle, Silvia Chalreo, Soati, Sônia Furtado, Vanice Ayres, Waldemar, Waldomiro de Deus, Wilma Ramos e Zé do Embu.

 

 

A galeria

 

A Galeria Jacques Ardies, na Vila Mariana, está sediada em imóvel antigo totalmente restaurado. Desde sua abertura em Agosto de 1979, atua na divulgação e a promoção da arte naif brasileira. Ao longo de 37 anos, realizou inúmeras exposições tanto em seu espaço como em instituições nacionais e estrangeiras, onde podemos destacar MAC/ Campinas, MAM/ Goiânia, Espace Art 4 – Paris, Espaço Cultural do FMI em Washington DC, USA, Galeria Jacqueline Bricard, França, a Galeria Pro Arte Kasper, Suíça e Gina Gallery, Tel-Aviv, ,Israel. Em 1998, Jacques Ardies lançou o livro “Arte Naif no Brasil” com a colaboração do crítico Geraldo Edson de Andrade e em 2003, publicou o livro sobre a vida e obra do artista pernambucano Ivonaldo, com texto do professor e crítico de arte Jorge Anthonio e Silva. Em 2014, publicou Arte Naïf no Brasil II, de sua autoria, com textos complementares dos colecionadores Daniel Achedjian, Peter Rosenwald, Marcos Rodrigues e Jean-Charles Niel. A galeria possui em seu acervo obras, entre quadros e esculturas, de 80 artistas representativos do movimento da Arte Naif brasileira.

 

 

A galeria Marta Traba

 

A Galeria Marta Traba de Arte Latino-Americana é um espaço privilegiado para a difusão da arte latino-americana e para o intercâmbio cultural com os países do nosso Continente. Projetada por Oscar Niemeyer, a Galeria é hoje o único espaço museológico existente no Brasil, inteiramente dedicado às artes e à cultura latino-americanas. Ocupando uma área de 1.000 m², o espaço é sustentado por uma única coluna central, circundado por painéis que permitem ao visitante, desde a entrada, uma visão do conjunto das obras expostas.

 

 

Até 06 de janeiro de 2017.

Tudo Joia

08/nov

A exposição “Tudo Joia” tem por conceito apresentar um recorte da produção de artistas do século XX que, por intenções diversas, conceberam e concebem suas criações tendo o corpo como suporte do pensamento artístico. Sob a curadoria da Bergamin & Gomide, com a colaboração do antiquário Rafael Moraes, a exposição poderá ser vista até 26 de novembro, na Galeria Bergamin & Gomide, Jardins, São Paulo, SP. A expografia da mostra traz a assinatura da arquiteta Marieta Ferber.

 

Em exibição cerca de 60 peças entre criações modernistas como as de Di Cavalvanti e Burle Marx, as contemporâneas de Antonio Dias e Roy Lichtenstein com sua exuberante Pop Art, até aqueles que estão criando pela primeira vez, exclusivamente para a mostra. Ao todo, cerca de 40 artistas participam com trabalhos em prata, ouro e outros materiais nobres. Contudo, a diversidade do elenco também trouxe peças diversas e, acima de tudo, atemporais.

 

Para Antonia Bergamin, à frente da galeria e uma das curadoras da mostra, essa exposição é um momento especial. “Eu queria mostrar também um lado da produção dos artistas que poucos conhecem. De uma maneira forte “Tudo Joia” é uma exposição para os curiosos. Muitos artistas que conhecemos e admiramos em algum momento se aventuraram nos desenhos de objetos usáveis e poucos ficam sabendo, pois é algo pontual e experimental. A exposição é uma oportunidade de ver essas peças reunidas e entender como elas se relacionam com o resto da produção do artista”, conclui Antonia.

 

Cildo Meireles, em sua pesquisa da série “Arte Física”, criou um anel em prata, terra, ônix, ametista e safira. Sônia Gomes apresenta suas joias em tecido bordado, inquietando-nos com seu barroco contemporâneo. As joias de Di Cavalcanti foram executadas em parceria com o joalheiro Lucien Finkelstein no Rio de Janeiro: um anel e um pingente feitos em ouro e esmalte.

 

Roberto Burle Marx introduziu seu pensamento paisagístico no desenho de joias, revolucionando a joalheria brasileira com colares, pulseiras, broches e anéis em ouro e prata, adornados com pedras em lapidação livre. Tais peças foram desenvolvidas na joalheria que pertencia aos irmãos Roberto e Haroldo Burle Marx. Nessa época, geralmente as joias eram feitas com ouro e pedras brasileiras. As que serão apresentadas na mostra, foram lapidadas seguindo as fibras naturais da própria pedra e em formatos orgânicos, presente no trabalho de paisagismo do artista. Um broche em ouro, um anel em ouro e turmalina e um conjunto de colar e brincos em ouro e turmalina, trazem à cena o joalheiro Burle Marx.

 

Além dos já citados, outros importantes nomes como Ron Arad, Arman, Miquel Barcelo, Anna Bella Geiger, Alighiero Boetti, Paloma Bosquê, Celio Braga, Pedro Cabrita Reis, Waltércio Caldas, Alexander Calder, Sergio Camargo, Enrico Castellani, Carlos Cruz-Diez, Alexandre da Cunha, José Damasceno, Amilcar de Castro, Michael Dean, Wesley Duke Lee, Servulo Esmeraldo, Fernanda Gomes, Jenny Holzer, Rebecca Horn, Ilya and Emilia, Kabakov, Anish Kapoor, Jannis Kounellis, Nelson Leirner, Tonico Lemos Auad, Atelier Van Lieshout, Renata Lucas, Marepe, Beatriz Milhazes, Tatsuo Miyajima, François Morellet, Mariko Mori, Ernesto Neto, Nazareth Pacheco, Artur Luiz Piza, José Resende, David Shrigley, Regina Silveira, Edgard de Souza, Tiago Tebet, Amelia Toledo, Tunga, Giorgio Vigna, Ai Weiwei, Sonia Gomes e Rubens Gerchman, entre outros, compõem a exposição.

Belezas naturais 

A Verve Galeria, Jardim Paulista, São Paulo, SP, recebe a partir do dia 10 de novembro a mostra individual de fotografias “Lembranças de um tempo que não acaba”. O tempo parece parar nas paisagens da terra natal do piauiense Valdeci Ribeiro, com os 20 trabalhos de temas diversificados, registrados ao longo dos últimos 8 anos, com curadoria de Ian Duarte Lucas.

 

Nascido na cidade interiorana de Campo Maior, Valdeci Ribeiro cultivou desde cedo o contato com suas raízes, resultando em particular visão sobre as paisagens de sua infância e de seu estado natal, o Piaui. Já participou de cursos, workshops, seminários nacionais, conquistou o primeiro e o segundo lugar no “Fotografe Teresina” e ainda expôs na capital do Piauí; mas essa é sua primeira individual no circuito cultural de São Paulo.

 

Com combinação apurada de luz, técnica e profundidade, o fotógrafo lança um olhar afetivo sobre intocado patrimônio natural ao resgatar memórias e desvendar paisagens. Nesses registros, das inúmeras incursões pelo seu estado de origem, é possível conhecer de perto uma vida transcorrida em meio à natureza. A Serra da Capivara, o Delta do Parnaíba e as fazendas de Campo Maior, instigados pela beleza que transborda a cada clique. O título da exposição, é inspirado em trecho do poema “A Rua”, do conterrâneo piauiense Torquato Neto, que traça um paralelo entre suas vivências e questões universais que afloram de suas observações.

 

Para além de sua história, fortemente ligada à terra e aos elementos naturais, as fotografias de Valdeci Ribeiro também trazem à tona questões ligadas ao passar do tempo e como ele molda sua relação com o mundo. Destas reflexões, advindas do exercício contemplativo que só o convívio com a natureza em estado bruto pode permitir, emergem os grandes temas do conjunto de suas imagens.

 

O artista inicia sua aproximação pelo registro panorâmico, caminha na direção da abstração, ao observar e interpretar detalhes e o mundo ao seu redor. Define o curador Ian Duarte Lucas: “os temas das fotografias, aproximam-se do conceito agostiniano de tempo, que existe tão somente na mente do homem, porque é na mente do homem que convergem presente, passado e futuro. O tempo fica, desta forma, “em suspenso”: uma visita ao passado, através da memória; o presente, por sua intuição; e o futuro, pela espera do que está por vir”. A coordenação é de Allann Seabra.

 

 

Sobre o artista

 

Valdeci Ribeiro é médico. Seu convívio com imagens no dia-a-dia de consultório instigou sua curiosidade, e há 8 anos iniciou seus estudos no campo da fotografia. Muito ligado a pessoas e lugares, cultivou o hábito o hábito de viajar desde cedo, sem nunca esquecer suas origens. Os diversos cursos, workshops e viagens dedicados ao tema lhe renderam inúmeras premiações, tais como 1º e 2º prêmios do Concurso Municipal de Fotografia Paisagística de Teresina de 2014, 1º lugar Concurso fotográfico UniCred, em 2014 e 2015.

 

 

Sobre a Verve Galeria

 

A Verve é uma galeria de arte contemporânea fundada em São Paulo, em 2013. Em seus espaços, tendo à frente Allann Seabra e Ian Duarte Lucas, transita por diversos meios e linguagens. Nascida do entusiasmo e inspiração que animam o espírito da criação artística, a Verve Galeria é abrigo para diferentes plataformas de experimentação contemporânea. A eloquência e sutileza que caracterizam o nome do espaço também estão presentes na cuidadosa seleção de artistas e projetos expositivos. Por entender que as linguagens artísticas são processos contínuos e complementares, representa novos talentos e profissionais consagrados que transitam livremente entre a pintura, fotografia, escultura, vídeo, site in situsite-specif, gravura e o street art.​ A galeria ocupa uma casa centenária, e na diversidade de seus espaços expositivos emergem possibilidades de curadoria que vão além do tradicional formato do “cubo branco”. Ao abrir-se para a rua, estabelece franco diálogo com o patrimônio construído de São Paulo, cumprindo a função integradora entre a arte, o público e a cidade. Busca ir além da venda direta de arte, promovendo mostras regulares, palestras e workshops, assim como o intercâmbio e parcerias com artistas e galerias no Brasil e no exterior.

 

 

Até 10 de dezembro.

Na Pinacoteca do Estado

03/nov

A Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, exibe “Arte no Brasil: Uma história na Pinacoteca de São Paulo. Vanguarda brasileira dos anos 1960 – Coleção Roger Wright”, um recorte de 80 obras realizadas entre as décadas de 1960 e 1970 no Brasil pelos artistas mais representativos da nova figuração, do teor político e da explosão colorida do pop, como Wesley Duke Lee, Claudio Tozzi, Antonio Dias, Cildo Meireles, Nelson Leirner, Raymundo Colares, Rubens Gerchman, Carlos Zilio, entre outros.

 

A mostra de longa duração celebra o comodato de 178 obras estabelecido em março de 2015 entre a Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, a Pinacoteca e a Associação Cultural Goivos, responsável pela Coleção Roger Wright. Além disso, também dá continuidade à narrativa iniciada com a exposição “Arte no Brasil”, em cartaz no segundo andar e que apresenta os desdobramentos da história da arte no Brasil do período colonial aos primeiros anos do modernismo em 1920.

 

“Com esse conjunto, o museu oferece aos visitantes a possibilidade de ver e compreender processos recentes que contribuíram para formação da visualidade brasileira. Sem contar, que a Pinacoteca se consolida como um museu nacional da história da arte no Brasil, constituído por núcleos articulados em uma narrativa extensa e representativa”, explica José Augusto Ribeiro, curador da exposição.

 

A exposição tem patrocínio, via leis de incentivo, de Pirelli, Klabin e Credit Suisse. Sua realização foi possível também graças ao apoio direto de amigos pessoais do colecionador Roger Wright, como Paulo S.C. Galvão Filho e José Olympio da Veiga Pereira.

 

 

Comodato

 

A Coleção representa a produção brasileira dos anos 1960 e possui importantes instalações produzidas a partir de 2000. Foi montada por Roger Wright e seus dois filhos desde 1996 e, após o acidente que vitimou a família em 2011, Christopher e Ellen Mouravieff-Apostol, irmão e mãe de Roger Wright, decidiram manter as obras em solo brasileiro. Para isso, consultaram vários museus nacionais, buscando encontrar algum que apresentasse condições seguras e plenas de pesquisa, comunicação, salvaguarda e projeção pública.

 

“Estou muito feliz com a perspectiva de ver em breve a coleção aberta ao público na Pinacoteca. Acima de tudo, tenho certeza que tanto o Roger como os filhos estariam orgulhosos com esse novo rumo na história da coleção que eles montaram com tanta dedicação”, disse Christopher.

 

A Pinacoteca tem experiência em acomodar obras de grande relevância por meio de comodatos, como a Coleção Brasiliana – Fundação Estudar, que após o período de empréstimo foram doadas ao museu e hoje compõem o seu acervo, e o comodato assinado em 2004 com a Fundação Nemirovsky com trabalhos importantes do período modernista.

 

A mostra permanece em cartaz até 26 de agosto de 2019 no 1º andar da Pinacoteca – Praça da Luz, 2.

Performance no MAM SP

01/nov

No dia 06 de novembro, domingo, a partir das 13hs, o artista russo Fyodor Pavlov-Andreevich dirige a performance inédita “Domingo Adentro” no Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo, SP, em que coloca dez educadores do museu à disposição do público visitante do Parque Ibirapuera para conversar sobre temas diversos da atualidade. Com cinco horas de duração, a ação acontece na marquise no MAM, em frente à parede de vidro da Grande Sala, onde serão colocadas dez mesas, dez banquetas e vinte cadeiras para que os participantes debatam, mediados por um júri formado pelo próprio público. A cada trinta minutos, o bate-papo deve ser finalizado e iniciada uma nova discussão.

 

Idealizador da performance, Fyodor propõe que durante todo o período de duração os dez educadores do museu permaneçam sentados, cada um em uma mesa, dando espaço para que o público também possa se sentar tanto como o debatedor, ocupando uma cadeira livre, ou como júri do debate, sentando-se na banqueta para mediar as conversas. Haverá, inclusive, um educador surdo para que também tenham debates em Libras.

 

O objetivo é produzir discussões que reflitam sobre as relações entre sujeitos e instituições, espaços públicos e cidadania e o papel do privado no ambiente público. Assuntos como amor, vida, arte, casa, rua, família, noite, festa, drogas, violência, medo, raça, corpo, sexo, morte e futuro, a serem escolhidos pelo participante, serão dialogados em sessões de 30 minutos, tomando diferentes rumos de acordo com conhecimentos e experiências pessoais de cada um.

 

O júri, que supervisiona o debate, dispõe de uma sineta que deve ser acionada quando o bate-papo não estiver atingindo o objetivo ou se ocorrerem casos de ofensas ou manifestações preconceituosas, e, até mesmo, se a conversa estiver tediosa. Nesse embate, público e museu se juntam para desenvolver conversas pertinentes às ocupações que fazem do mesmo espaço no Parque Ibirapuera.

 

 

Educação como matéria-prima

 

Em abril deste ano, na exposição “Educação como matéria-prima”mostra do MAM que discutiu processos pedagógicos na arte, o artista Fyodor Pavlov-Andreevich realizou pela primeira vez a performance “Um retrato com o artista e o vazio”, onde posou como modelo vivo nu para o público desenhá-lo e também se juntar a ele como modelo. O objetivo era repensar o papel de modelos vivos no ambiente acadêmico das escolas de arte e a distância estabelecida entre o desenhista e o modelo, além do tabu da nudez em espaços públicos.

 

Sobre o artista

 

Fyodor Pavlov-Andreevich é russo e vive entre Moscou, Londres e São Paulo. É artista, curador, escritor, diretor de teatro e cineasta. Recentes trabalhos incluem Hygiene (2009), performance nos Deitch Projects (NY); My Mouth is a Temple (2009), instalação no Marina Abramovic Presents, no Festival Internacional de Manchester; Whose Smell is This (2010) instalação  especial para feiras Armory/Volta, em NY; EGOBOX (2010) instalação/performance no Festival Internacional de Performance de Moscou; My Water Is Your Water (2010), instalação/performance curada por Maria Montero (Galeria Luciana Brito, Bienal de SP 2010); The Great Vodka River, escultura/performance Art Basel Miami Beach;  Laughterlife (2013) um show solo e performance comissionados pelo Centro Cultural São Paulo; Fyodor’s Performance Carousel, instalação site specific em colaboração com nove artistas no Faena Arts Center (BA); O Batatódromo (2015) escultura performática no CCBB Brasília; e Um retrato com o artista e o vazio (2016), performance na exposição Educação como matéria prima, no MAM de São Paulo.

 

Mostra de Marina Rheingantz

31/out

A Galeria Fortes Vilaça, Vila Madalena, São Paulo, SP, apresenta “Terra Líquida”, quarta exposição individual de Marina Rheingantz exibindo pinturas inéditas de formatos variados, desde peças em grande formatos a outras de menores dimensões, que operam no limiar da figuração. São paisagens mínimas que remetem a falésias, serras, mares, charcos, campos e terras caipiras, lugares visitados e inventados que se descolam do real e incorporam a geometria e a textura da pintura.

 

Em “Terra Líquida”, trabalho que dá nome à exposição, emaranhados de poças d’água unificam a tela e criam caminhos entre elementos reconhecíveis que sugerem um clube hípico. Com mais de quatro metros de largura, é a maior pintura já executada por Marina, o que exigiu da artista um movimento constante de aproximação e distanciamento ao pintá-la, um movimento que se repete para o espectador. A composição sugere um processo de desconstrução de uma imagem com sucessivas camadas de pintura, resultando na reconstrução de uma memória.

 

No entanto, um olhar mais apurado revela o protagonismo da tinta no processo da artista. Marina não persegue uma ideia narrativa – ela deposita sobre a tela camadas de pinceladas robustas, trabalhando a superfície e ouvindo a pintura. Ao escutar a cor e a tinta, a imagem se insinua e a artista segue, agora sim de encontro a uma possível narrativa. A imagem não é o começo e nem o fim, ela acontece no meio do caminho.

 

Nas pinturas sobre linho da série “Bordados” as cores de fundo ganham tratamento quadriculado, como nos tecidos próprios para bordar, por meio de sutis alterações tonais e controladas pinceladas. Barras coloridas introduzem aos poucos novas cores no trabalho, enquanto linhas grossas traçam padrões assimétricos e sugestivas paisagens distendidas.

 

A abertura será pontuada pelo lançamento do livro “Terra Líquida”, pela Editora Cobogó, o qual abrange toda a produção da artista, com ensaio assinado pelo crítico e curador Rodrigo Moura.

 

 

 

Sobre a artista

 

 

Marina Rheingantz, nasceu 1983 em Araraquara, SP. A artista é graduada em artes plásticas pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). Integrou o grupo de jovens artistas paulistas conhecido como 2000e8, que reafirmou a força da pintura como linguagem artística nos anos recentes. Teve mostras individuais no Centro Cultural São Paulo (2012) e no Centro Universitário Maria Antônia (2011), entre outras. Exposições coletivas incluem Projeto Piauí (Pivô Arte e Pesquisa, São Paulo, 2016), Soft Power (KunsthalKAdE, Amersfoort, Holanda, 2016), Os muitos e o um (Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, 2016) e No Man’s Land – Women Artists from the Rubell Family Collection (Contemporary Arts Foundation, Miami, 2015). Seutrabalho está em coleções como a da Pinacoteca do Estado de São Paulo, do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e do Itaú Cultural.

 

 

De 05 de novembro a 22 de dezembro.

Individual de Pedro Hurpia

19/out

Os fenômenos naturais, percebidos pelo homem quando emergem a superfície e elevam-se como aparência, ou ainda, quando o corpo é impactado diretamente por terremotos, deslizamentos de terras, ondas sonoras, margeiam a preocupação estética e as formas de apreensão na relação olhar/objeto na recente pesquisa do artista plástico brasiliense Pedro Hurpia. As obras, que se realizam em plataformas como fotografias, vídeos, desenhos, esculturas e instalações, compõem a primeira exibição individual do artista – no Jardim Paulista – na unidade de São Paulo da Galeria Marcelo Guarnieri.

 

A produção e o olhar de Pedro Hurpia remetem-nos aos artistas-pintores-viajantes, que durante as suas travessias em diferentes regiões e contextos, recolhem o material bruto usado em seus projetos. Para a mostra na Marcelo Guarnieri, por exemplo, o artista trabalha com desenhos de paisagens reais, registradas pela fotografia e paisagens construídas pelo real ou imaginário, realizados a partir dos padrões geológicos que constam nessas fotografias.

 

Com imagens fotográficas realizadas pelo próprio artista – salvo exceção das estereoscópicas dos vídeos e instalação – tratadas como referência inicial, parte-se para a composição, a recombinação e novos direcionamentos no desenho. O registro fotográfico procura captar aquilo que na formação geológica não se mostra de imediato, e que está oculto do campo de visão; neste sentido, o desenho é a revelação que faz justiça conferindo formas aos “ocultos” da própria natureza.

 

As noções de deslocamento e colapso, não aparecem somente na relação entre a fotografia e o fotografado – a natureza – mas ao próprio meio fotográfico. “A pesquisa surgiu quando adquiri um aparelho estereoscópico. As fotografias, utilizadas neste aparelho, são duplicadas e colocadas justapostas com uma leve diferença de deslocamento horizontal entre uma e outra. Com o aparelho colocado na posição correta do usuário, permite que se tenha uma ilusão tridimensional da imagem em questão”, conta o artista, que ficou interessado nas duas imagens idênticas e na possibilidade em se pensar uma “terceira imagem”, a partir deste método. Desde então, Hurpia passou a se interessar por essa investigação em seu processo criativo, com objetos e instalações que trouxessem esses duplos de uma maneira sutil, sem um aparato que causasse ilusões ópticas.

 

“obverso // reverso”, título da exposição, trata desse duplo da paisagem, que pode ser transfigurado na imagem impressa ou em “objetos-estruturas”. Em ambos os casos, a preocupação com o olhar, a dimensionalidade e a apreensão fenomênica do objeto: o frente e verso, direita e esquerda, obverso e reverso. Cada imagem e cada objeto se particularizam, também, por apresentarem um outro lado, que, para o artista, conjugam a possibilidade de abertura de realidades infinitas, além da superfície bidimensional e plana da imagem. No caso da formação geológica, lastro na natureza em que a inquietação do artista iniciou a sua “jornada”, segundo as palavras do próprio viajante Pedro Hurpia: “há um caminho e camadas para se chegar atrás de onde se encontrava anteriormente; longe do campo de visão, mas que pode ser projetada pela imaginação de experiências passadas”.

 

 
De 29 de outubro a 26 de novembro, na unidade São Paulo da Galeria Marcelo Guarnieri.

 

Galeria Millan exibe Tunga

13/out

Tunga, um dos mais potentes criadores da arte contemporânea brasileira, morreu precocemente em junho passado, aos 64 anos, deixando pronta aquela que seria a sua próxima exposição. A Galeria Millan, Pinheiros, São Paulo, SP,  dá continuidade aos planos do artista e inaugura, no dia 15 de outubro, em seus dois endereços, a mostra “Pálpebras”, reunindo um conjunto de trabalhos inéditos ou pouco vistos no Brasil.

 

Na sede da Millan poderão ser vistos os “Phanógrafos”, peças derivadas do série “Cooking Crystals” (2010). Pouco exibidas desde então, são caixas que servem como recipiente, ou suporte, para assemblages de diferentes objetos e materiais, como garrafas, cálices, âmbar, pedras ou elementos escatológicos. Objetos que, segundo Tunga escreveu, têm “algo de talismã, se configurando como uma lamparina”.

 

O segundo andar da galeria abrigará também projeções e desenhos, revelando, por exemplo, as conexões entre produções bidimensionais e tridimensionais, e enfatizando a importância da linha no trabalho do artista.

 

No Anexo Millan, novo espaço inaugurado em 2015, será exposta a série “Morfológicas”, esculturas orgânicas que remetem ao corpo, sensuais, por vezes surreais e muitas vezes eróticas – lembrando vulvas, glandes, línguas, bocas, dedos e seios – que se originaram de outros conjuntos de trabalhos (como a série “FromlaVoieHumide”, de 2014) mas nunca foram mostradas independentemente no Brasil, mesmo que respeitando sua posição um tanto indefinida entre estudo de forma (como indica o próprio título) e obra acabada.

 

Um desses projetos começou a ser confeccionado em grandes dimensões para a Feira Internacional de Arte Contemporânea (FIAC), em Paris. A peça, intitulada “A Seus Pés”, tem sete metros e – como é usual em seu trabalho – é composta por diferentes partes. O elemento central é uma forma roliça e longa, com unhas em cada extremidade, como se fossem dedos que apontam para lados distintos. A peça não chegou a ser fundida em versão final e o que o público verá é a prova de artista que há algum tempo habita o ateliê de Tunga.

 

“Pálpebras” não é uma tentativa de síntese ou de olhar retrospectivo, mesmo porque, no caso de Tunga, a noção de retrospectiva não faz sentido. Afinal, seu trabalho parece marcado por um retorno cíclico a um manancial de elementos, físicos e psíquicos, que ressurgem de tempos em tempos, transfigurados em diferentes leituras. É como se testemunhássemos, interagíssemos com fragmentos de alguma história ou ação passada, seja pelo caráter instável de seus arranjos, que permitem infinitas possibilidades de reagrupamento, seja pelas várias camadas de leitura que se sobrepõem, criando um hipnótico enigma.

 

Esses mesmos ecos temporais se fazem sentir nas obras mais recentes. Mesmo que em vários momentos assumam um caráter mais escultórico, os aspectos centrais de seus mais de 40 anos de intensa produção – período no qual Tunga flertou com o surrealismo, se avizinhou da arte conceitual e muitas vezes pareceu agir mais como um xamã ou um cientista – estão novamente presentes.

 

 

De 18 de outubro a 12 de novembro.

Nova coletiva no MAM-SP

10/out

O Museu de Arte Moderna de São Paulo, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, apresenta a exposição Greve Geral, elaborada por alunos do curso Laboratório de Curadoria e Criação, sob supervisão da curadora Veronica Stigger. A mostra conta com 23 obras do acervo do MAM e é apresentada na biblioteca, no corredor de acesso dos profissionais da instituição e no saguão do museu. Intitulado de “A idade do ócio”, o curso foi realizado no próprio museu, tanto no segundo semestre de 2015 quanto nos primeiros meses deste ano. Os 16 participantes desenvolveram a linha curatorial, idealizaram a comunicação visual e escolheram produções de diferentes suportes que demostram situações de interrupção imprevistas do trabalho.

 

 

Segundo Veronica Stigger, vivemos em uma sociedade que transforma o trabalho no valor mais alto para preservar melhor as relações sociais e, principalmente, a produção. “Daí que toda forma de suspensão imprevista das atividades como a preguiça, o ócio e, sobretudo, a greve sejam sempre vistas como modos de resistência política”, explica a curadora. “Não por acaso, a mostra começa em um dos interstícios de espaços de trabalho do museu, o corredor de acesso, para se desenvolver na biblioteca”.

 

 

A exposição conta com obras que sugerem uma fuga da labuta e convidam ao repouso e à preguiça como as fotografias de Otto Stupakoff e Juan Esteves, o desenho de Eduardo Iglésias e a xilogravura de Eduardo Cruz. Outras produções demostram a inoperância da máquina capitalista como a serigrafia “Desestrutura para executivos I”, de Regina Silveira, além da imagem de uma engrenagem na pintura de Sergio Niculitcheff e o desenho de pregos de Cláudio Tozzi.

 

 

Há, ainda, a peça de acrílico “A câmara clara”, de Nelson Leirner, que recusa a própria condição de obra. A contradição fica por conta da suposta artificialidade de uma família saindo de férias na fotografia “Aero Willys”, de German Lorca. Outro ponto alto da mostra é que haverá um rodízio das obras selecionadas no meio do período de exposição, quando as produções feitas em papel serão trocadas por outras com o objetivo de exibir ainda mais obras do acervo do museu. Para complementar, o espaço expositivo da biblioteca propicia a exibição de livros e catálogos abertos em páginas que também exploram o tema da exposição.

 

 

Até 18 de dezembro.