Roberto Magalhães no Paço Imperial.

20/mar

Xilogravuras em uma coleção

Roberto Magalhães: xilogravuras da Coleção Mônica e George Kornis

Comemorar. Sempre. E com a alegria proporcionada por múltiplas comemorações, melhor ainda. Isso porque, ao mesmo tempo que o Paço Imperial completa e festeja seus 40 anos de presença ativa na cena artística e cultural do Rio de Janeiro, o artista plástico Roberto Magalhães completa 85 anos de vida, e celebra sete décadas de produção em arte – gravuras, desenhos e pinturas – que construíram uma obra extensa e qualificada. E com imensa satisfação, a Coleção Mônica e George Kornis comemora os 30 anos da sua primeira exposição, intitulada O papel da coleção – desenhos e gravuras da Coleção Mônica e George Kornis nesse mesmo Paço Imperial. Na ocasião, trabalhos de Roberto Magalhães foram exibidos, com destaque para sua obra em xilogravura, que integrava nossa coleção desde os seus primórdios, em meados dos anos 1970.

Potência. Essa é a palavra-chave desta exposição que revela, de modo claro, a envergadura das cerca de 100 obras em xilogravura produzidas em um curto e intenso período de tempo (1963-1966), quando Roberto Magalhães já era reconhecido como artista, na plenitude de seus 20 e poucos anos. Sua primeira mostra individual de desenhos aconteceu na Galeria Macunaíma da Escola Nacional de Belas Artes (ENBA), em 1962. A partir de 1963, Roberto começou a frequentar o curso de gravura da ENBA, quando tomou contato, através da biblioteca da escola, com as obras de Durer e Rembrandt, entre as de outros autores. Em 1964, expôs xilogravuras na prestigiosa Petite Galerie (RJ). Nesse mesmo ano, participou da Primeira Exposição da Jovem Gravura Nacional, realizada no Museu de Arte Contemporânea da USP; da IV Bienal de Gravura em Tóquio; e também da mostra Brazilian Art Today, realizada na Royal Academy of Arts, em Londres. Em 1965, além de receber o Prêmio de Viagem ao Exterior (com duração de dois anos) no XV Salão Nacional de Arte Moderna/RJ, foi contemplado com o Prêmio de Gravura na IV Bienal de Paris, premiação importante para a história da gravura brasileira. Ainda em 1965, participou da icônica mostra Opinião 65, realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ). Juntamente com os também jovens Antônio Dias, Carlos Vergara e Rubens Gerchman, entre outros artistas nacionais e estrangeiros, essa exposição apontava para uma ruptura no panorama artístico do país, e afirmava a presença de uma nova figuração no campo das artes plásticas. Dois anos depois, esse quarteto integrou a também icônica mostra intitulada Nova Objetividade Brasileira, no mesmo MAM-RJ, sendo que, em 1966, a Galeria G-4, no Rio de Janeiro, exibira suas obras, juntamente com trabalhos de Pedro Escosteguy. Em 1967, Roberto seguiu para Paris em função do prêmio obtido de viagem ao exterior.

Além de potência: intensidade. A obra em xilogravura de Roberto Magalhães, composta, segundo ele próprio, por 100 obras foi produzida em apenas três anos! Ele mesmo revela em entrevistas desconhecer a razão de ter interrompido seu trabalho em xilogravuras, apesar de ter aprofundado ao longo desses anos um amplo conhecimento da história da gravura no Ocidente. Esse final, súbito e surpreendente, deixa uma certa aura de mistério diante da obra gráfica absolutamente singular desse artista carioca, nascido em 1940 na Ilha do Governador.

A quase totalidade da produção de Roberto Magalhães em xilogravura está exibida nesta mostra, que inclui ainda uma matriz e sua impressão em papel de arroz. A presença em nossa coleção de outras obras do artista produzidas em outras técnicas, na mesma década de 1960 – pintura a óleo sobre tela (1961), desenho em grafite (1962) e pintura sobre papel em nanquim com pó de café solúvel, que atuava como substituto do caro e importado vieux-chêne (1964) – pretende aqui revelar o pensamento artístico de Roberto Magalhães expresso nas várias técnicas que dominou, e que permanece, a partir dos anos 1970 até hoje, com foco no desenho e na pintura.

Não há uma ordem cronológica na exibição dessas xilogravuras. Com a força do preto e branco, muito ocasionalmente interrompido pela cor vermelha, agrupam-se retratos e autorretratos, rodas que sugerem movimento, cenas de batalhas, figuras humanas que se confundem com animais, em meio a um peculiar senso de humor e sátira, reforçado pelos títulos que confere a seus trabalhos. Estamos diante de uma singular figuração que, com uma dicção própria, constrói um imaginário denso e complexo, por vezes violento. Um mundo de tormentos, fantasmagórico.

Dos desenhos e caricaturas que Roberto Magalhães produziu desde a adolescência, até os desenhos e pinturas que produz até hoje, destacamos nesta mostra três anos de uma produção em xilogravura absolutamente autoral e consistente que, com energia, resiste ao tempo. Já se passaram 14 anos da realização da uma mostra de um conjunto expressivo de desenhos a nanquim e xilogravuras do artista na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, intitulada Roberto Magalhães – PretoBranco 1963-1966. O Paço Imperial felizmente rompe esse silêncio com a realização desta exposição, que pretende ampliar o acesso ao conhecimento de parte expressiva da obra desse artista, além de disponibilizar ao público uma parte de nossa coleção de arte em papel. Uma iniciativa artística e cultural a ser comemorada. E parabéns, Roberto!

Mônica e George Kornis

Até 22 de maio.

 

Tarsila na Espanha.

17/mar

O Museu Guggenheim Bilbao, Espanha, em colaboração com grandes coleções internacionais, inaugurou em fevereiro uma exposição inédita de Tarsila do Amaral. O foco da mostra é a formação de Tarsila do Amaral no Cubismo e a transição para um estilo único, profundamente influenciado pela cultura brasileira.

A exposição no Guggenheim, que vai até 1º de junho, inclui um raro exemplar de “Nu cubista”, da década de 1920 – existem apenas três, todos em coleções privadas e de difícil acesso. A obra integra um conjunto da exposição sobre a formação de Tarsila do Amaral no Cubismo enquanto “escola de invenção”, fundamental para um estilo pessoal classificado pela própria artista como “brasileiro” e “moderno”.

O público, no entanto, nota na mostra a ausência de “A Negra”, uma das obras mais emblemáticas de Tarsila do Amaral, que esteve na exposição “Pintando o Brasil moderno”, no Museu de Luxemburgo, em Paris, entre outubro de 2024 e fevereiro, mas não seguiu para o Guggenheim de Bilbao.

O Guggenheim informa que “A Negra” é uma tela muito requisitada em mostras nacionais e internacionais e está no centro do novo esquema de apresentação da exposição permanente do Museu de Arte Contemporânea da USP. A mostra foca a representação do negro na arte moderna. Em novembro de 2024, enquanto esteve na capital francesa, a icônica obra de Tarsila do Amaral foi tema de dois dias de estudos sobre sua história e recepção desde a década de 1920 até aos dias de hoje.

Fonte: O Globo.

Sérgio Ferro no MAC USP.

14/mar

A produção de Sérgio Ferro documenta e desafia as estruturas de poder, evidenciando as tensões entre criação e opressão. A mostra propõe um olhar aprofundado sobre sua trajetória e as formas como sua obra dialoga com as lutas políticas e sociais; o público terá a oportunidade de explorar a produção do arquiteto por meio de documentos, maquetes, filmes e registros históricos que compõem um retrato profundo de sua trajetória. A mostra realizada no MAC USP até 15 de junho intitulada Sérgio Ferro – Trabalho Livre, mergulha na trajetória e no pensamento crítico do arquiteto, pintor e teórico cuja obra desafia as relações entre arte, arquitetura e sociedade.

Com curadoria de Fabio Magalhães, Maristela Almeida e Pedro Fiori Arantes, a exposição investiga como Sérgio Ferro desenvolveu um pensamento único sobre o trabalho, a produção artística e a arquitetura, pautado na resistência à opressão e na busca por uma prática verdadeiramente emancipada. A intersecção entre arte e política permeia sua obra, revelando a construção de uma visão crítica que atravessa diferentes campos de atuação. Desde sua participação no movimento Arquitetura Nova, ao lado de Flávio Império e Rodrigo Lefèvre, Sérgio Ferro reformulou as bases da crítica arquitetônica. Sua abordagem denuncia a exploração dos trabalhadores da construção civil e propõe uma revisão estrutural da disciplina, indo além da estética e das formas para analisar a materialidade e a organização do trabalho. Fotografias cedidas pelo Instituto Moreira Salles ilustram e ajudam a contextualizar a crítica do arquiteto ao modelo de produção vigente.

Bel Barcellos no Museu da República.

12/mar

Linha e agulha são suas ferramentas, tendo a costura e o bordado como linguagem essencial de suas referências femininas e dos seus saberes ancestrais, para criar trabalhos impregnados de delicadeza e memórias, que contam histórias viscerais.

Corpo abrigo é a individual que a artista brasileira Bel Barcellos (Boston, 1966) inaugura no dia15 de março na Galeria do Lago, no Museu da República, Rio de Janeiro, sob curadoria de Isabel Sanson Portella. A mostra marca 30 anos de atividades da artista nas artes visuais e é oferecida pela Equinor, multinacional de energia com atuação no Brasil há mais de 20 anos. Bel Barcellos define como “autoficcional” o conjunto de dez trabalhos inéditos desta exposição, nos quais desenha com bordado sobre lona ou linho, tendo a figura humana feminina como ponto focal e o universo emocional como trama subjetiva e, pela primeira vez, ela incorpora a cerâmica à sua produção. Os fazeres manuais do desenho, do bordado e da cerâmica convergem no universo criativo de Bel Barcellos, unindo a contemporaneidade a saberes herdados das avós, para revolver memórias afetivas comuns a todos. A costura sempre esteve presente em sua vida pessoal e no trabalho com figurinos, mas desde o contato com a obra de Arthur Bispo do Rosário, o bordado ganhou mais relevância no processo criativo de Bel Barcellos, embora a artista já bordasse símbolos e escritos em meio a suas pinturas anteriormente. A partir dos anos 2000, o bordado prevalece como elemento compositor da obra como um todo.

A costura sempre esteve presente em sua vida pessoal e no trabalho com figurinos, mas desde o contato com a obra de Arthur Bispo do Rosário, o bordado ganhou mais relevância no processo criativo de Bel Barcellos, embora a artista já bordasse símbolos e escritos em meio a suas pinturas anteriormente. A partir dos anos 2000, o bordado prevalece como elemento compositor da obra como um todo. A nova pesquisa da artista é a cerâmica, que aparece em Corpo abrigo em instalações, com a marca da figuração feminina, ora como suporte para seus bordados, ora levando este material à superfície da tela ou pintando a lona com o barro e o pó da terra.

A curadora Isabel Portella diz em seu texto de apresentação: “As obras de Bel Barcellos dizem muito mais do que se possa imaginar. Chegam carregadas do aprendizado e da energia de várias gerações de mulheres e formam um solo fértil de onde brotam as sementes compartilhadas. Elevam, ao surpreendente, o trabalho com as mãos, a delicadeza do bordado e da cerâmica. Pedem silêncio para que se possa mergulhar nesse rio e sabedoria para aceitar a inevitável passagem do tempo. Precisam de entendimento e desvelo para que se perceba que, por dentro, somos todos absolutamente iguais.”

 

Os 4 de Bagé em Brasília.

11/mar

A Caixa Cultural Brasília e a Fundação Iberê Camargo apresentam o legado do Grupo de Bagé. Mostra com mais de 180 obras de Carlos Scliar, Danúbio Gonçalves, Glauco Rodrigues e Glênio Bianchetti, abre no dia 18 de março e permanecerá em cartaz até 29 de junho.

Uma trincheira em defesa da liberdade na arte e na vida, cavada com as armas da inteligência e do bom humor na região sul do Rio Grande do Sul e conectada com os principais polos culturais do país. É o que caracteriza o legado de Pedro Wayne (1904-1951), escritor, poeta e jornalista e agitador cultural com enorme capacidade de articulação, inclusive nacional. Baiano que passou a infância em Pelotas, na metade sul do Rio Grande do Sul, chegou em Bagé em 1927, e lá exerceu uma extensa gama de atividades. Carlos Scliar (1920-2001), que tinha parentes morando em Bagé e ideias semelhantes às de Pedro Wayne, frequentava sua casa e o tinha como bom amigo.

Foi em torno deste importante personagem da cultura local que, na metade da década de 1940, Glauco Rodrigues (1929-2004) e Glênio Bianchetti (1928-2014), com 16 e 17 anos respectivamente, começaram a desenhar e a pintar. Pedro Wayne “adotou os guris” e mostrou a eles o que havia de mais avançado nas artes visuais na Europa. Mais tarde, o escritor introduziu Danúbio Gonçalves (1925-2019) ao “ateliê”, que trouxe para o Grupo, a partir de sua experiência na França. Já a influência da pintura moderna veio com a passagem do artista carioca José Moraes, que ficou um período na cidade quando ganhou uma bolsa de viagem de estudos.

Carlos Scliar, quando voltou de sua estada na Europa e participação na II Guerra Mundial, se interessou pelo movimento daqueles jovens e passou a frequentar, e praticamente liderar as atividades do Grupo interessados em realizar uma crítica social, levando-os a se envolver, na década de 1950, na criação do Clube de Gravura de Porto Alegre (1950) e do Clube de Gravura de Bagé (1951).

Inspirados no movimento do Taller de Gráfica Popular do México, os Clubes (que posteriormente foram unidos) criaram um importante e independente sistema de divulgação dos artistas regionais. Contar essa história é o objetivo principal da exposição. A versatilidade e a rica produção dos quatro artistas serão exibidas através de gravuras, pinturas, aquarelas e capas de revistas, a partir de novas leituras e percepções acerca do trabalho do Grupo. Com curadoria de Carolina Grippa e Caroline Hädrich, a exposição reúne mais de 180 itens como obras, ilustrações dos clubes de gravura de Bagé e de Porto Alegre, além de exemplares raros das revistas Horizonte, Senhor.

Sobre os artistas.

Carlos Scliar (1920-2001) – Nasceu em Santa Maria, interior do Rio Grande do Sul, e foi ainda pequeno para Porto Alegre, onde, com 11 anos, colaborou com as seções infanto-juvenis de jornais locais e, mais tarde, frequentou o departamento gráfico da Revista do Globo. Em 1940, foi para São Paulo e começou a fazer parte da Família Artística Paulista, mas após quatro anos foi para a Itália a serviço da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Segunda Guerra Mundial, entre 1958 e 1961, trabalhou como diretor artístico na Revista Senhor. Comprou, em 1964, um sobrando em Cabo Frio, RJ, onde morou e trabalhou por quarenta anos. No ano de seu falecimento, foi criado o Instituto Cultural Carlos Scliar, na cidade de Cabo Frio, e seu acervo se encontra atualmente tombado pela municipalidade.

Danúbio Gonçalves (1925-2019) – Nasceu em Bagé, fazendo parte de uma tradicional família de estancieiros da campanha. Aos sete anos, partiu para o Rio de Janeiro onde mais tarde teve aulas no ateliê de Cândido Portinari, manteve contato com outros pintores modernistas e participou de diversas edições do Salão Nacional de Belas Artes, recebendo prêmios e menções honrosas. Em 1950, foi estudar em Paris. Com um espírito imbuído dos ideais revolucionários e uma ligação com o Partido Comunista, Danúbio Gonçalves voltou ao Brasil e se juntou a Carlos Scliar, Glênio Bianchetti e Glauco Rodrigues, formando o Clube de Gravura de Porto Alegre e, posteriormente, o de Bagé. A partir de 1962, a convite do escultor Francisco Stockinger, passou a trabalhar no Ateliê Livre da Prefeitura de Porto Alegre, chegando a ser diretor. Lá, durante trinta anos ensinou litografia (técnica que aprendeu com Marcelo Grassmann, em 1962) e formou muitos artistas gravadores, atualmente reconhecidos no âmbito regional e nacional.

Glaudo Rodrigues (1929-2004) – Nasceu em Bagé e foi colega de escola de Glênio Bianchetti, com quem dividiu o interesse pela pintura. Recebeu ensinamentos sobre pintura de José Moraes e aproximou-se da gravura e, junto com Glênio, Danúbio e Scliar fundou, em 1951, o Clube de Gravura de Bagé e iniciaram suas viagens de estudos a estâncias da região. Com a união do Clube de Bagé ao de Porto Alegre, Glauco mudou-se para a capital gaúcha e, depois, em 1958, seguiu para o Rio de Janeiro.  Glauco Rodrigues participou da primeira Bienal de São Paulo, entrou na equipe da revista Senhor e começou a sua produção abstrata, que perdurou por 10 anos. Em 1962, viajou a Roma a convite do embaixador Hugo Gouthier para trabalhar no setor gráfico da embaixada brasileira, e ficou alguns anos na Itália. Nesse período, participou da delegação brasileira na Bienal de Veneza (1964), no mesmo ano em que os estadunidenses chamaram atenção pela sua produção pop. Retornou ao Brasil em 1966 e, aos poucos, a figuração voltou à sua obra, que seguiu até a sua morte.

Glênio Bianchetti (1928-2014) – Nasceu em Bagé, oriundo de uma família ligada ao comércio na cidade. Foi a mãe de sua namorada, Ailema (com quem posteriormente casou-se), que passou ensinamentos iniciais de pintura para ele e Glauco Rodrigues, que depois foram aperfeiçoados com a chegada de José Moraes a Bagé. Interessado pela pintura, ingressou no Instituto de Belas Artes em Porto Alegre no ano seguinte – mas não chegou a finalizar o curso.   Fundou, em 1951, ao lado de Glauco Rodrigues, Danúbio Gonçalves e Carlos Scliar, o Clube de Gravura de Bagé, tendo Bianchetti a maior produção de gravuras da época. Na década de 1960, mudou-se com sua família para Brasília (cidade onde viveu o resto de sua vida), devido ao convite de Darcy Ribeiro para lecionar na recém-inaugurada Universidade de Brasília, mas sendo afastado devido à perseguição na ditadura militar, sendo reintegrado apenas em 1988. Atualmente, sua casa-ateliê, com seu grande acervo, é mantida por sua família.

Explorando o volume e o ar.

Iole de Freitas inaugura a exposição “Fazer o ar”, no Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ, com sua mais recente e inédita produção. Com mais de 50 anos de trajetória, Iole de Freitas continua produzindo e experimentando novos materiais. A partir do dia 15 de março, ela apresenta sua mais nova pesquisa com curadoria do poeta Eucanaã Ferraz.

A mostra terá cerca de 16 trabalhos inéditos, que exploram o volume e o ar. Obras em grandes dimensões chamadas “Mantos”, feitas com papel glassine, com tamanhos que chegam a quase 4 metros, esculturas da série inédita “Algas”, em aço inox, e a obra “Escada”, feita há dois anos, mas que ganhará uma montagem inédita na exposição. Em 2023, o Paço Imperial apresentou uma mostra com trabalhos históricos de Iole de Freitas, feitos na década de 1970; agora, esta exposição, totalmente inédita, apresenta a produção de uma das mais importantes artistas plásticas brasileiras.

Grandes volumes brancos da série “Mantos”, ocuparão as paredes e o chão das salas da exposição. Originalmente, o papel glassine é usado como embalagem para obras de arte, conservando e acondicionando-as. “É um papel que foi pensado para proteger uma obra, aqui ele não existe como um envoltório, mas como algo que, trabalhado, guarda em si a expressão de uma linguagem. Gosto de deslocar a funcionalidade das coisas, subvertendo-as: tomo a capa da coisa e faço dela substância da forma”, afirma a artista.

A pesquisa para estes trabalhos começou há cerca de quatro anos. Para realizá-los, o papel é preenchido com ar, inflando-o e criando grandes superfícies, que então recebem água, areia e cola, que vão moldando, esculpindo e estruturando o papel até formarem os Mantos. Alguns ainda ganham novos elementos, como cobre, palha e pedras gipsitas. “Iole testa em cada obra as verdades físicas de seu corpo e do material que utiliza. Basta ver para inferirmos o quanto as formas nasceram da peleja, da disputa entre o gesto e o papel. É flagrante a atuação de uma inteligência física. O papel era liso, neutro, sem corpo nem memória, sem ar, inerte, ausente. Iole soprou nele. Deu a ele o sopro da vida. O papel, agora, está vivo. Veja: ele respira”, afirma o curador Eucanaã Ferraz.

Durante o período da exposição, o grupo Laboratório 60 – formado por Bea Aragão, Bento Dias, Cecília Carvalhosa, Gil Duarte e Ísis Lua – fará uma apresentação de dança no espaço expositivo, interagindo com as obras da artista. A exposição terá um catálogo a ser lançado ao longo do período da mostra.

Sobre a artista.

Iole de Freitas (Belo Horizonte, 1945. Vive e trabalha no Rio de Janeiro) iniciou sua formação em dança contemporânea no Rio de Janeiro, para onde se mudou aos seis anos de idade. Estudou na Escola Superior de Desenho Industrial da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e, em 1970, mudou-se para Milão (Itália), onde trabalhou como designer no Corporate Image Studio da Olivetti, sob a orientação do arquiteto Hans von Klie. Neste mesmo período, iniciou sua produção artística e sua participação em exposições. Ao longo de mais de cinco décadas de carreira, participou de importantes mostras internacionais, como Bienal dos Jovens de Paris (França, 1975), Bienal de São Paulo (1981, 1998), 5ª Bienal do Mercosul (2005) e a Documenta 12, de Kassel (Alemanha, 2007), além de individuais e coletivas em várias cidades do mundo, contando em 2023 as exposições no IMS (Instituto Moreira Salles) e no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. Seus trabalhos integram importantes coleções, como a do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo; Museus de Arte Moderna de São Paulo e do Rio de Janeiro; Museu de Arte Contemporânea de Niterói; Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro; Museu de Arte do Rio; Bronx Museum (EUA); Museu de Arte Contemporânea de Houston (EUA); Museu Winnipeg Art Gallery (Canadá) e Daros Foundation (Suíça).

Em cartaz até 11 de maio.

Catálogo para a poética de Tunga.

10/mar

O Instituto Ling, Bairro Três Figueiras, Porto Alegre, RS, realizou o lançamento do catálogo da exposição “A poética de Tunga – uma introdução”, marcando também o encerramento e visitação da mostra.

O evento contou com uma conversa aberta ao público entre o curador Paulo Sergio Duarte e o convidado Munir Klamt, artista, curador, professor e grande entusiasta da obra de Tunga. O catálogo foi distribuído gratuitamente entre os participantes.

A mostra apresentou uma seleção de mais de 60 obras, entre bidimensionais e esculturas de diferentes fases, grande parte delas inéditas, expondo temas e conceitos que atravessam toda a poética do artista. Esta foi a primeira exposição individual de Tunga em Porto Alegre, considerado uma das figuras mais emblemáticas da cena artística nacional.

 

Artista russa no Parque Glória Maria.

Parte do projeto “Waiting Zone.Limbo” – que começou a ser desenvolvido em 2022 e passou por museus e galerias de Moscou, integrou a 60ª Bienal de Veneza e foi exibido na África (Senegal) -, a exposição da artista russa Katerina Kovaleva, “in Limbo”, ocupará o Parque Glória Maria (antigo Parque das Ruínas) em Santa Teresa, Rio de Janeiro, RJ, a partir do dia 13 de março e duração até 31 de maio.

Katerina Kovaleva idealizou instalações de grandes proporções dedicadas ao tema “espera”, com novos significados adaptados à antiga mansão da mecenas da Belle Époque carioca Laurinda Santos Lobo, que costumava reunir intelectuais e artistas. A artista dedicou alguns trabalhos recentes à individual: uma instalação confeccionada com tecido de paraquedas se inspirou na tradicional vestimenta das baianas, bem como a pintura em homenagem ao padroeiro da cidade, São Sebastião. Outras obras estabelecem a conexão entre a Europa e o Brasil, dialogando com a história do próprio casarão de Laurinda Santos Lobo, que tanto contribuiu para estabelecer esses vínculos.

Também foram trazidos para a mostra trabalhos já apresentados no exterior, como outra obra feita com tecido de paraquedas medindo nove metros, inspirada no afresco de Giovanni Battista Tiepolo (onde os quatro continentes se unem), bem como parte da instalação “The Abduction of Europe”, um vestido de noiva com seis metros de comprimento.

“A história desta casa é como uma parábola: do esplendor e luxo, passando pelo declínio, pilhagem e desolação, até uma nova vida de um espaço cultural pós-civilização que continua a atrair pessoas. Apenas as paredes da casa de Laurinda, a “princesa dos mil vestidos”, permanceram, mas guardam a memória dos eventos que aconteceram aqui. Essas testemunhas silenciosas dão a oportunidade de tocar o tempo e o espaço, com a energia especial do lugar”, afirma Katerina Kovaleva.

“Vivemos um momento em que muitas pessoas são forçadas a deixar suas casas, lugares nativos, pisando no desconhecido; a imagem de uma construção em ruínas aguardando seu destino parece especialmente relevante para mim. O Limbo, o primeiro círculo do Inferno de Dante, não é um lugar de felicidade eterna, mas também não é um lugar de tormento eterno. O paraquedas neste projeto simboliza a imagem da esperança, a imagem de um céu “portátil” que balança ao sabor do vento”, conclui.

Sobre a artista.

Nascida em Moscou, Katerina Kovaleva é uma reconhecida artista multidisciplinar. Graduada na Moscow Printing Academy em 1989, já participou de mais de 80 exposições coletivas e individuais desde 1986. Trabalhou na área de design gráfico e de interiores, concluiu uma série de trabalhos em mosaico em Moscou, Nova York e Groningen, tendo criado um grande número de objetos escultóricos. Em 2017, fez parte do “Antarctic Biennale Project”; seus trabalhos gráficos “The Antarctic Diary” foram exibidos na 57ª Bienal de Veneza. Em 2018, uma grande retrospectiva chamada “Routes of Memory” foi realizada no “Moscow Museum of Modern Art”. Autora de projetos de arte e pesquisa dedicados especificamente à conexão entre história e personalidades, que foram exibidos com sucesso em museus de São Petersburgo e Moscou entre 2021 e 2023. Também participou na 60ª Bienal de Veneza em um programa paralelo, Personal structures by EEC in Palazzo Bembo. Katerina Kovaleva participa regularmente de feiras de arte e suas obras integram coleções públicas e privadas na Rússia e no exterior.

Exposição Casa Própria.

Mostra celebra 10 anos de trajetória de Ana Hortides com obras inéditas que investigam arquitetura e identidade popular.

O Paço Imperial apresenta de 15 de março a 11 de maio a exposição Casa Própria que marca a primeira individual da artista Ana Hortides, no Rio de Janeiro,  sua cidade natal. Com curadoria de Lucas Albuquerque, a mostra faz um panorama de sua produção ao longo de dez anos, incluindo obras inéditas que investigam a casa, explorando sua materialidade. Cimento e azulejos se fundem na sua pesquisa, que parte da arquitetura do subúrbio carioca para expandir sua visão sobre o habitar no Brasil. A produção é da Atelier Produtora.

Nascida e criada em Vila Valqueire, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, Ana Hortides constrói sua poética artística a partir de elementos visuais característicos dos subúrbios e periferias. Em sua pesquisa, materiais comuns à construção civil popular – como cimento queimado e ladrilhos – são transformados em estruturas que tensionam a familiaridade e o estranhamento. Escadas, lajes e fachadas, referências ao saber técnico de pedreiros e trabalhadores informais, surgem em dimensões variadas, descolando-se de suas funções originais e desafiando convenções espaciais e as fronteiras entre arte, política e identidade social.

“Apresentada de maneira ampla pela primeira vez na cidade do Rio, a produção da artista propõe ao visitante o indomado silêncio do doméstico. Protuberâncias feitas em cimento e ladrilhos multiplicam-se ao longo da exposição, como um tumor que cresce desordenadamente. A cera vermelha, comum ao chão das casas de subúrbio, ergue-se feito cortina, abandonando sua dureza para tornar-se maleável. Mesmo fachadas distantes, como os raio-que-o-parta paraenses, aparecem como primos não convidados, expandindo o espaço expositivo. A casa própria, que para alguns é um objetivo de vida inegociável, aqui revela uma faceta mais inquietante“, declara Lucas Albuquerque, curador da mostra.

Além da exposição, Casa Própria oferece um seminário com a artista, o curador e pesquisadores. O evento abordará temas como arquitetura popular, arte periférica e protagonismo feminino na produção artística, e ocorrerá durante o lançamento do catálogo impresso e digital (e-book), ambos distribuídos gratuitamente. A mostra também conta com audiodescrição das obras e intérpretes de Libras na visita guiada e seminário, garantindo acessibilidade às pessoas com deficiência.

Croquis carnavalescos.

26/fev

 

A Fundação Iberê Camargo, Bairro Cristal, Porto Alegre, RS, terá entrada gratuita neste final de semana de carnaval. O público poderá visitar as exposições que ocupam os quatro andares: Iberê 110 Anos – Minha Restinga Sêca, Iberê Camargo – Território das Águas e 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível – Itinerância Porto Alegre.

No domingo (02 de março), o Programa Educativo ministrará a oficina Croquis Carnavalescos, em diálogo com os desenhos criados por Iberê Camargo para peças de teatro e balé, entre eles a série de estudos de figurinos para o balé “As Icamiabas”, criada em 1959.

Oficina Croquis Carnavalescos

Quando: 02 de março | Domingo | 15h às 17h.

Número de participantes: 15 pessoas.

Faixa etária: a partir de 07 anos.