Itinerância artistica

03/maio

Curitiba é o palco de uma das mostras itinerantes da 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível, em parceria com o Museu Oscar Niemeyer. Com curadoria de Diane Lima, Grada Kilomba, Hélio Menezes e Manuel Borja-Villel, a exposição, que foi um sucesso de público e crítica em 2023, desembarcou na cidade, onde permanecera aberta ao público até 26 de maio. Este ano, a mostra se expande para quinze cidades, e Curitiba receberá um recorte especial, sendo um dos maiores fora de São Paulo, com a participação de dezesseis participantes: Aida Harika Yanomami, Edmar Tokorino Yanomami e Roseane Yariana Yanomami, Amos Gitaï, Anna Boghiguian, Dayanita Singh, Gabriel Gentil Tukano, Geraldine Javier, Katherine Dunham, Luana Vitra, Maya Deren, Min Tanaka e François Pain, Morzaniel Ɨramari, Rosana Paulino, Sammy Baloji, Sonia Gomes, Tadáskía e Zumví Arquivo Afro Fotográfico.

A 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível, explora as complexidades e urgências do mundo contemporâneo, abordando transformações sociais, políticas e culturais. A curadoria busca tensionar os espaços entre o possível e o impossível, o visível e o invisível, o real e o imaginário, dando voz a diversas questões e perspectivas de maneira poética. A coreografia, entendida como um conjunto de movimentos centrados no corpo que desafia limites, considera diversas trajetórias e áreas de atuação, criando estratégias para enfrentar desafios institucionais e curatoriais. As coreografias do impossível geram suas próprias relações, tempos e espaços, oferecendo uma experiência marcante aos visitantes.

Para os curadores, é crucial que a exposição alcance mais cidades, transcendendo os limites do Pavilhão da Bienal. Segundo eles, “os debates propostos pela 35ª Bienal atravessam inúmeros territórios de todo o mundo; assim, não restringir as coreografias do impossível ao Pavilhão da Bienal é de extrema importância para o trabalho realizado”.

Andrea Pinheiro, presidente da Fundação Bienal de São Paulo, destaca a relevância não apenas de levar as coreografias do impossível para um público mais amplo, mas também de fortalecer os laços entre as instituições culturais. “Levar a mostra para mais cidades e com um parceiro tão importante quanto o Museu Oscar Niemeyer é de extrema importância para o fortalecimento das instituições culturais do Brasil. A troca de experiências entre públicos e instituições é uma das grandes riquezas das itinerâncias da Bienal de São Paulo”, afirma.

A diretora-presidente do Museu Oscar Niemeyer, Juliana Vosnika, comenta que a arte tem a capacidade de comunicar sem palavras e, por isso, proporciona uma conexão profunda e presente, que muitas vezes não seria possível de nenhuma outra maneira. “Ao participar da itinerância desse tão importante evento, o MON ajuda a transpor barreiras por meio da arte e, desta forma, permite um elo entre pessoas, mundos e vivências”, afirma.

Até 26 de Maio.

Alquimia Abstrata no Centro Cultural Correios

Imagens emergem da alquimia das cores, do contraste entre claro e escuro que serve de base para pinceladas e espatuladas através dos movimentos síncronos e assíncronos na superfície da tela. Assim a curadora e artista Renata Costa define os trabalhos de Andréa Noronha, Cosme Martins, Deborah Netto e Miguel Nader que se juntam a ela expondo na coletiva “Alquimia Abstrata”, inaugurada no dia 1º de maio, no Centro Cultural Correios RJ, no Centro. A mostra reúne, até meados de junho, 25 obras que expressam o processo produtivo e criativo de cada um dos artistas, conectando-se através do tempo pela gestualidade e formando superfícies pictóricas cheias e vazias, resultando em uma mistura de pigmentos que formam cores e tons. Na abertura houve um show com o artista Duda Anízio. A mostra estará em cartaz até 15 de Junho.

O conjunto expositivo ressalta as diversas possibilidades de expressar a arte através da (re) utilização de materiais: Cosme Martins, por exemplo, parte do aproveitamento de tecidos e papelões que seriam descartados. Já Deborah Netto emprega a técnica de encáustica, enquanto Miguel Nader aposta em misturas fluidas e geométricas. André Noronha e Renata Costa exploram os efeitos de luz e formas.

“A magia alquímica do processo criativo de cada um desses artistas, leva o interlocutor a uma viagem pela sua imaginação fluida e pessoal. A imensidão de possibilidades estimula novas formas de registrar o seu imaginário, apresentando volumes que saltam ao olhar do espectador”, diz Renata Costa, curadora e artista.

Sobre os artistas

Andréa Noronha

A trajetória da artista visual Andréa Noronha, nascida em Belém (PA) é delineada por sua participação na cena artística da região norte do país, bem como no cenário nacional e internacional. Recentemente a artista tem se dedicado a pesquisas de novas técnicas com tintas e texturas diversificadas no seu próprio ateliê. Seu enfoque contemporâneo a trouxe do figurativo para o abstrato, estilo que a deixa mais livre para utilizar a fluidez de cores vibrantes e dourados solares em suas obras.

Cosme Martins

Cosme Martins, artista visual autodidata, nasceu na cidade de São Bento (MA). Na década de 1980, mudou-se para o Rio de Janeiro com o objetivo de expandir o reconhecimento do seu trabalho artístico, obtendo orientação de grandes nomes da pintura como Rubens Gerchman, Luiz Aquila, Aluísio Carvão, Kate Van Scherpenberg e José Maria Dias da Cruz, dentre outros. A evolução do artista o levou a obter prêmios e participações em salões importantes, como MNBA-RJ e MAM-SP. Na fase atual observa-se a presença de texturas, e reaproveitamento de materiais que seriam descartados como restos de tecidos e papelão. A variedade de cores presentes em sua obra é movida pela sensibilidade do artista que diz não conseguir chegar a um limite até que sua agonia seja substituída pela sensação de prazer ao terminar suas telas.

Deborah Netto

Deborah Netto é artista visual nascida no Rio de Janeiro, bacharel em Pintura pela EBA- UFRJ. O trabalho da artista passou por diversas fases até chegar na pintura com encáustica, técnica que apesar de pouco difundida, é uma das mais remotas do mundo, mesclando diversos materiais e suportes. Em várias de suas obras, é possível observar linhas de arabescos que surgem das manchas de cores, padrões  florais e abstratos, cuja interpretação varia de acordo com o observador. O foco inicial é claro em ritmos abstratos da cor que remete a uma natureza interior, dialogando com o imaginário do observador.

Miguel Nader

Miguel Nader nasceu em São Paulo, formou-se em Odontologia no Rio de Janeiro. Em 1998, começou a frequentar o Atelier-escola na Urca e posteriormente, a EAV do Parque Lage, onde estudou Pintura e História da Arte. Em 2022, passou a se dedicar exclusivamente à arte, sendo movido a criar suas composições abstratas inicialmente inspiradas em fotos de paisagens cósmicas, tendo foco na existência de “fluxos”, que se mesclam entre si, gerando imagens interligadas fluídas, coloridas e de contornos orgânicos. Observa-se em sua produção atual, três tipos de abstrações, realizadas alternadamente, composições abstratas fluídas, as mistas ou puramente geométricas onde as formas orgânicas estão ausentes.

Renata Costa

Renata Costa é curadora, artista visual e arquiteta, nascida no Rio de Janeiro. Na FAU-UFRJ, estudou História da Arte e da Arquitetura. A artista adotou o abstracionismo e as técnicas acrílica/óleo como forma de externar sua criatividade. Sua poética baseia-se na liberdade de pensamento, contrastando cores fortes, texturas e espatuladas que representam elementos espaciais, da natureza e formas orgânicas e imperfeitas. Participou de diversas exposições coletivas no Brasil e no exterior, tendo em 2023 realizado sua primeira exposição individual. Recebeu reconhecimento por Mérito Artístico na Luxembourg Art Prize e realizou curadoria e produção de exposições individuais e coletivas  no CCC-RJ e recentemente no Espaço Alienista.

Transmuta‡Æo alquimia e resistˆncia

A Gentil Carioca anuncia a exposi‡Æo “Transmuta‡Æo: alquimia e resistˆncia”, exibi‡Æo individual de Marcela Cantu ria aberta no Pa‡o Imperial, Centro, Rio de janeiro, RJ.

A mostra, que tem curadoria de Aldones Nino e assistˆncia curatorial de Andressa Rocha, contar  com cerca de 20 obras da artista, incluindo trabalhos recentes e in‚ditos. “Cantu ria nÆo se limita a pintar; ela conjura, diariamente engajando-se em uma pr tica que se assemelha … magia, capaz de remodelar a realidade, redefinir narrativas e transformar perspectivas. Como uma alquimista contemporƒnea, cada tela age como um encantamento, um chamado … reflexÆo e … transforma‡Æo. Ela propäe uma reinven‡Æo constante da cria‡Æo art¡stica, estabelecendo conexäes entre m£ltiplas temporalidades”, afirmam os curadores no texto que acompanha a exposi‡Æo.

No dia da abertura foi realizada uma visita guiada pela exposi‡Æo com Marcela Cantu ria e Andressa Rocha.

Exposição de Juan Cerón no Brasil

25/abr

 


Exposição de fotografías do espanhol Juan Cerón inaugurada  no Instituto Cervantes de São Paulo faz uma abordagem ao romance “Dom Quixote” em comemoração ao mês do livro. A exposição recebeu o título de “Anaqronías”. Após um longo processo de conceitualização e diferentes trabalhos que lhe permitiram avançar artisticamente,  “Anaqronías” é seu segundo projeto pessoal, cujo percurso o levou a expor em vários países de três continentes, como Espanha, Itália, Reino Unido, Alemanha, China, México, República Dominicana chegando, finalmente, ao Brasil.
Trata-se de uma interpretação fotográfica contemporânea baseada em um estudo documentado do romance “Dom Quixote”, de Miguel de Cervantes, como explica Juan Céron: “Tentei resgatar dos recantos mais profundos da obra aqueles personagens de caráter secundário, terciário, imaginário…e trasladá-los para a realidade fotográfica, dotando-os de uma anacronia, de um elemento anacrônico sempre relacionado ao papel do personagem no romance, que nos leve da imagem pictórica inicialmente pretendida a uma imagem atual, de nosso tempo, brincando assim com a anacronia como um erro estético necessário e intencional”. Sob esquemas de luz e composição inspirados nos mais destacados pintores do realismo barroco do século XVII – Caravaggio, Bernini, Rembrandt, Vermeer, Ribera – “Anaqronías” assume o duplo desafio de confrontar, por um lado, o romance mais importante de todos os tempos com o rigor e o respeito que merece e, por outro, dar forma e figura a uma série de personagens dos quais, em alguns casos, não há nenhuma evidência documental através de pinturas, desenhos ou gravuras e que permaneceram encerrados no romance, esperando pacientemente por mais de 400 anos.

Sobre o artista
Juan Cerón (Bochum, 1973). O artista entra em contato com o mundo da fotografia no início de 2007, quando, tendo em suas mãos sua primeira câmera DSLR, entende a fotografia como um poderoso instrumento de comunicação visual e criação artística, com o qual, além de poder capturar o momento, ele pode ser abordado através de uma história para contar e compartilhar. De formação principalmente autodidata, desde 2015 tem realizado várias exposições individuais com seu primeiro trabalho fotográfico “Onde Habita o Esquecimento”, pelo qual foi pré-selecionado para fazer parte de uma representação de artistas no âmbito do PhotoEspaña. Participou como palestrante de diversas conferências e oficinas em muitos espaços culturais espanhóis e internacionais, bem como congressos de fotografia contemporânea. Fez parte do júri para a EGADE Business School de Monterrey (México).
Até 1º de junho.

Acontece na 60ª Bienal de Veneza

19/abr

Denilson Baniwa, Arissana Pataxo e Gustavo Caboco Wapichana, curadores do Pavilhão Hãhãwpuá. Foto: CABREL/Escritório de Imagem. Fundação Bienal de São Paulo.

A Gentil Carioca, São Paulo e Rio de Janeiro, anuncia que Denilson Baniwa, junto aos artistas Arissana Pataxó e Gustavo Caboco Wapichana, assume a curadoria do Pavilhão Hãhãwpuá na 60ª edição da Bienal de Veneza. O Pavilhão Hãhãwpuá – nome usado pelo povo indígena brasileiro Pataxó para se referir à terra, ao solo ou, mais precisamente, ao território que veio a ser chamado de Brasil após a colonização – abrigará a exposição Ka’a Pûera: nós somos pássaros que andam, que destaca os direitos territoriais e a resiliência das comunidades indígenas brasileiras. A mostra conta com obras dos artistas Glicéria Tupinambá, Olinda Tupinambá e Ziel Karapotó.

A artista Yanaki Herrera terá suas obras apresentadas no Pavilhão da Bolívia numa coletiva organizada pelo Ministério das Culturas, Descolonização e Despatriarcalização da Bolívia e comissionada por Juan Carlos Cordero Nina. A exposição, intitulada Olhando para o futuro-passado, estamos caminhando para frente – QHIP NAYRA UÑTASIS SARNAQAPXAÑANI, é inspirada na cosmovisão Aimará.

A pesquisa artística de Yanaki Herrera, nascida em Cusco, Peru, e atualmente residente em Belo Horizonte, MG, Brasil, é voltada à maternagem e suas lutas. Através da pintura, da escultura e de instalações, a artista cria narrativas que conversam entre a ancestralidade e o presente como um lugar de transformação. Compõem a sua imagética elementos que nascem a partir das expressões corporais e culturais da América Latina.

Esposizione Internazionale d’Arte – La Biennale di Venezia – Stranieri Ovunque – Foreigners Everywhere

Curadoria Adriano Pedrosa / Organização La Biennale di Venezia

Até 24 de novembro.

Exposição no Sesc Pinheiros

O livro “Um Defeito de Cor”, escrito por Ana Maria Gonçalves e lançado em 2006, tornou-se uma das principais obras da literatura brasileira contemporânea sobre a escravidão no Brasil e todas as mazelas advindas disso. Após ser homenageado pela escola de samba Portela, que fez da obra o seu samba-enredo de 2024, a publicação ganha uma exposição no Sesc Pinheiros, em São Paulo.

A mostra, que recebe o nome do livro – “Um Defeito de Cor” – é fruto de uma parceria entre o Sesc São Paulo e a Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI), com a concepção original do Museu de Arte do Rio de Janeiro (MAR). Por sua vez, a curadoria da exposição é da autora do livro, Ana Maria Gonçalves, em parceria com os pesquisadores Marcelo Campos e Amanda Bonan.

Brasil colônia

Por meio de obras de arte, a exposição faz alusão ao período do Brasil Império (1822-1889) para discutir os contextos sociais, culturais, econômicos e políticos do século 19 e seus desdobramentos em elementos contemporâneos. Ao todo, 372 peças entre arte têxtil, fotografias, instalações, cartazes, pinturas e esculturas de autoria de artistas do Brasil, da África e das Américas interpretam “Um defeito de cor”, ganhador do prêmio Casa de las Américas e considerado um dos mais importantes clássicos da literatura afro-feminista e nacional. Assim como o livro, a exposição faz um enfrentamento às lacunas e ao apagamento da história da população negra ao contar a jornada de uma mulher africana nascida no início do século 19, escravizada no Brasil, e sua busca por um filho perdido.

Na exposição em São Paulo, estarão presentes os figurinos e croquis das fantasias do Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela, assinados pelo artista e carnavalesco Antônio Gonzaga, que se inspirou no livro de Ana Maria para desenvolver o samba-enredo do Carnaval 2024, no Rio de Janeiro. O desfile impulsionou a procura em livrarias físicas e digitais e elevou “Um defeito de cor” para a categoria de mais vendidos do Brasil. Além disso, estarão em exibição, pela primeira vez, um “Retrato de Ana Maria”, quadro de Panmela Castro; “Bori – filha de Oxum”, do artista e babalorixá Moisés Patrício, e “romaria”, mural que será pintado por Emerson Rocha na entrada do Sesc Pinheiros, além de uma programação integrada, com ações educativas divulgadas ao longo do período expositivo.

A exposição “Um Defeito de Cor” está dividida em dez núcleos não-lineares, que se espelham nos dez capítulos do livro, a exposição não é cronológica nem explicativa. O objetivo é trazer uma visão do Brasil com momentos históricos e recortes sociais transmitidos por meio de uma produção intelectual e de imagem presentes na arte contemporânea. Dessa maneira, a mostra faz um mergulho na essência de temas como os levantes negros, o empreendedorismo, o protagonismo feminino, o culto aos ancestrais e a África Contemporânea, que reexaminam os caminhos da população afro-brasileira desde os tempos de escravidão até os dias atuais, e fazem uma interpretação dos conceitos apresentados no romance, principalmente as origens e as identidades africanas que constituem a população, das quais ainda pouco se sabe.

Até 1º de dezembro.

Cruzando Carmela Gross com Lina Bo Bardi

17/abr

Chama-se “Quase Circo” a exposição de Carmela Gross no Sesc Pompeia, São Paulo, SP. A mostra estará em cartaz até 25 de agosto e compreende 13 obras, em grande escala, que ocupam diferentes espaços da antiga fábrica. Com curadoria de Paulo Miyada, a exibição reúne uma convergência do trabalho de Carmela Gross com a arquitetura de Lina Bo Bardi. Carmela Gross realiza trabalhos em grande escala que se inserem no espaço urbano e que assinalam um olhar crítico sobre a arquitetura e a história urbana. O eixo comum, para além da diversidade dos contextos e das propostas elaboradas em cada caso, é o conceito básico de trabalhar-na-cidade. O conjunto de operações que envolvem desde a concepção do trabalho, passando pelo processo de produção, até a disposição no lugar de exibição, enfatizam a relação entre a obra e o espaço, entre a obra e o público.

A exposição propõe uma leitura panorâmica das obras da artista, pautada no diálogo com a fábrica projetada por Lina Bo Bardi.  Esta exposição apresentará trabalhos de grandes dimensões, como a instalação “Roda Gigante”, de 2019, e “Escadas Vermelhas”, de 2024.  Painéis luminosos, vídeos, e desenhos também compõem o espaço da área de convivência, além de duas obras expostas anteriormente no Sesc Pompeia, intituladas “Rio Madeira” (1990) e “Estandarte Vermelho” (1999). Destaca-se ainda, a obra “Gato”, realizada especialmente para a exposição, que será instalada nas passarelas do complexo esportivo, inspirada em um desenho de Lina Bo Bardi.

Sobre a exposição, diz o curador Paulo Miyada

“Esta exposição é uma convergência. De uma parte, a obra da paulistana Carmela Gross, que há quase seis décadas produz arte como uma forma peculiar de observar, deslocar e recombinar as coisas do mundo, muitas vezes fazendo dos despojos do crescimento urbano a matéria de suas obras. De outra parte, a arquitetura da italiana Lina Bo Bardi, que encontrou no Brasil lições sobre o trabalho, arquitetura e design populares, que ela estudou e incorporou em sua própria arquitetura de princípios modernistas”.

Sobre a artista

A artista visual Carmela Gross nasceu em São Paulo, em 1946. Suas primeiras obras, nos anos 1960, foram realizadas enquanto estudava no Curso para Formação de Professores de Desenho, na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), em São Paulo. Concluiu o mestrado em 1981, e o doutorado em 1987, na Escola de Comunicação e Artes da USP, ambos sob orientação do crítico de arte e curador Walter Zanini (1925-2013).  A artista participou de oito edições da Bienal de São Paulo (1967, 1969, 1981, 1983, 1989, 1998, 2002 e 2021); duas edições do evento Arte-Cidade (1994 e 2002); da 2ª Bienal de Arte Contemporânea de Moscou (2007) e da 5ª Bienal do Mercosul (2005), em Porto Alegre.  Algumas de suas obras públicas permanentes são: Grande Hotel (2017), no Sesc 24 de Maio, São Paulo;  Terra (2017), no Museu de Escultura e Ecologia – MuBE, São Paulo; Cascata (2005), em Porto Alegre, Rio Grande do Sul; Fronteira, Fonte, Foz (2001), em Laguna, Santa Catarina; Painel Hans Staden (1997), no Hotel Renaissance, em São Paulo. Seus trabalhos fazem parte de diversas coleções: Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu de Arte Contemporânea da USP, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de Arte de Brasília, Fundação Padre Anchieta, Museu de Arte de São Paulo, Itaú Cultural, Biblioteca Luis Angel Arango de Bogotá, Museum of Modern Art, em Nova Iorque, Museum of Fine Arts, em Houston, entre outras.

Sobre o curador

Paulo Miyada é curador e pesquisador de arte contemporânea. Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela FAU-USP, tem mestrado em História da Arquitetura e Urbanismo pela mesma instituição. Foi assistente de curadoria da 29ª Bienal de São Paulo, em 2010, e fez parte da equipe de curadores do Rumos Artes Visuais do Itaú Cultural, entre 2011 e 2013. Em 2021, passou a atuar como curador adjunto do Centre Pompidou, em Paris, uma das mais renomadas instituições de arte da Europa. Miyada também foi curador adjunto da 34ª Bienal de São Paulo e do 34º Panorama da Arte Brasileira do MAM-SP. Atualmente, é diretor artístico do Instituto Tomie Ohtake.

Acontece na Casa Museu Eva Klabin

15/abr

Baseada no livro “Um Teto Todo Seu”, de Virginia Woolf, a exposição “Uma Casa Toda Sua” está em cartaz até 23 de junho na Casa Museu Eva Klabin, Lagoa, Rio de Janeiro, RJ.

A curadora Isabel Portella une Eva Klabin e Virginia Woolf em um pensamento comum, convidando catorze artistas mulheres com discursos e poéticas bastante diversos para trazer propostas instigantes e interferências no espaço. São elas: Bel Barcellos, Carolina Kaastrup, Claudia Hersz, Daniela Mattos, Dora Smék, Julie Brasil, Karola Braga, Lyz Parayzo, Mariana Maia, Marlene Stamm, Panmela Castro, Patrizia D’Angello, Sani Guerra e Simone Cupello (foto).

O livro “Um Teto Todo Seu” é uma coletânea de palestras de Virginia Woolf ministradas em faculdades de Cambridge, em 1929. Na obra, a autora reflete sobre as condições sociais da mulher e sua produção literária, bem como as dificuldades para que elas tenham uma posição de destaque e possam se expressar livremente, características ainda presentes nos dias de hoje. Virginia Woolf defende que a mulher precisa ter domínio sobre a sua vida e autonomia financeira para poder criar.

No período em que o livro foi publicado, Eva Klabin tinha apenas 25 anos, mas já adotava os princípios de Virginia Woolf. Ao mesmo tempo que vivia intensamente suas viagens e estudos, ela também precisava de um espaço privado, um pedaço do mundo onde sua individualidade existisse isoladamente. Na casa da Lagoa – onde hoje funciona a Casa Museu – Eva Klabin reuniu peças vindas de civilizações e épocas diversas para conservá-las ao alcance dos olhos, no lugar onde vivia.

“O que proponho é uma exposição só com artistas mulheres independentes. Mães solo, mulheres negras, lésbicas, trans, periféricas, deficientes, idosas e mulheres livres que fazem seus trabalhos com garra e força, independentes de críticas e do mundo fálico dos curadores homens que habitam o nosso cenário artístico atual. No encontro da arte com tantos desejos e conquistas, celebremos a figura de mulheres que ousaram transgredir, oferecendo à vida o que têm de mais íntimo e sagrado”.

Isabel Portella – curadora

Três exposições simultâneas

09/abr

No dia 17 de abril, o Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ, inaugura três exposições simultâneas: “Transmutação: alquimia e resistência”, da artista Marcela Cantuária, um dos nomes de maior destaque da cena de artes visuais da atualidade; “Davuls de Salé”, de Cadu, com a colaboração de Adriano Motta, Maneno Juárez e Virgilio Bahde, e “bassa danza”, de Nathan Braga. Em cartaz até 07 de julho.

Sobre Marcela Cantuária

Destaque da cena de artes visuais da atualidade, Marcela Cantuária apresentará a exposição “Transmutação: alquimia e resistência”, com obras recentes e inéditas. Com curadoria de Aldones Nino e assistência curatorial de Andressa Rocha, a mostra terá cerca de 20 obras da artista, que há cinco anos não faz uma exposição individual no Rio de Janeiro. No dia da abertura, às 17h, será realizada uma visita guiada com Marcela Cantuária e Andressa Rocha. “Cantuária não se limita a pintar; ela conjura, diariamente engajando-se em uma prática que se assemelha à magia, capaz de remodelar a realidade, redefinir narrativas e transformar perspectivas. Como uma alquimista contemporânea, cada tela age como um encantamento, um chamado à reflexão e à transformação. Ela propõe uma reinvenção constante da criação artística, estabelecendo conexões entre múltiplas temporalidades”, afirmam os curadores no texto que acompanha a exposição. “A exposição vai abordar diversos momentos da minha trajetória, desde onde a minha pintura começa, até onde estou neste momento”, conta a artista.

Dentre as obras inéditas, estão duas pinturas de “Mátria Livre”, pesquisa que a artista desenvolve há oito anos, elaborando, por meio de um vocabulário plástico-formal, narrativas sobre como reencantar figuras femininas de luta contra o capital, o colonialismo e o patriarcado. A espinha dorsal da série consiste em reverenciar aquelas que construíram e disputaram espaços na política, lutando com teoria e prática. As novas pinturas trazem a poeta grega Safo, que viveu na ilha de Lesbos, e Marleide Vieira, militante do MST de Pernambuco, assassinada no ano passado pelo marido ao pedir o divórcio. “Represento mulheres que inspiram ações, trazendo a minha perspectiva, mostrando principalmente a força feminina. São imagens de mulheres que, na maioria dos casos, existem ou existiram enquanto lutadoras. É como criar um panteão dessas mulheres, lugar de merecimento e de imortalidade também”, afirma a artista. Além das pinturas, estará em destaque na exposição a obra “A grande benéfica” (2021), um autorretrato, pintado sobre biombo, medindo 1,80m X 1,80m. “Será uma imagem ícone da exposição. Essa obra fala muito da relação que eu tenho com o tarô, fiz uma releitura da carta dois de copas, que representa o romance, e da carta do mundo, que é a realização, o ciclo, e mesclei com partes íntimas da minha vida”, conta Marcela Cantuária.

Sobre Cadu

Cadu apresenta a exposição “Davuls de Salé”, que contará com a participação de três colaboradores: Adriano Motta, Maneno Juárez e Virgilio Bahde. Com curadoria de Felipe Scovino, a exposição apresenta a diversidade de linguagens exploradas pelo artista individualmente e em parceria, através de fabulações debruçadas sobre a história da pirataria, organizadas pelo escritor Peter Lamborn Wilson em seu livro “Utopias Piratas” (1995). Entre os séculos XVI e XIX, corsários muçulmanos do Magreb devastaram navios europeus, escravizaram povos e fundaram a República Corsária Moura de Salé. Durante esse período, milhares de europeus se converteram ao Islã e se juntaram ao que Wilson chamará de “guerra santa pirata”. Essa forma anárquica de capitalismo, que os piratas tomam para si, encontra ecos nas esculturas, desenhos, filmes e instalações realizadas por Cadu e sua horda de rebeldes do mar. O mar serve de inspiração para a série de desenhos “Nadar Nada Mar”, realizados em grade formato sobre papel. Sereias, Krakens, Leviatãs e outras bestas marinhas amalgamam-se, constituindo quimeras através de grafite, colagem e óleo, num imaginário simbólico barroco de terror e deslumbramento. Reforçando a ideia de fabulação e a conexão intrínseca que seu trabalho tem com a linguagem, Cadu escreveu poemas para cada uma das obras, embaralhando referências das ciências, de cosmogonias e da literatura. Dentre os trabalhos em colaboração estão as esculturas sonoras Beijo para o Mar e Pio para o Píer com Maneno Juárez. Na primeira, 21 apitos divididos em três conjuntos são posicionados a uma distância relativa entre si na galeria, servindo de veículo para diálogos pneumáticos. As esculturas produzem notas musicais, indo do agudo ao grave, do brado ao sussurro. Já na segunda, utiliza-se a técnica tradicional peruana de modelagem para construção de vasos sonoros movidos por água.

Sobre Nathan Braga

A exposição “bassa danza”, do carioca Nathan Braga, é a primeira exibição solo em sua cidade natal, que marca seu retorno após três anos morando em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Doutorando em Arte e Cultura Contemporânea (PPGARTES-UERJ), Nathan foi aluno intercambista de Belas Artes na Universidade de Salamanca, na Espanha, tendo sido o segundo brasileiro a receber a Bolsa Iberoamericana do Santander para tal curso. Com curadoria de Aldo Victorio Filho, serão apresentadas cerca de 25 obras pertencentes a quatro séries diferentes de trabalho, produzidas desde 2019 até hoje, nas quais o artista versa sobre o ponto de inflexão entre as figuras mitológicas de Thanatos e Eros, realçando o jogo erótico envolvido entre as obras e na relação delas com o público visitante.

“Pinturas, esculturas, cerâmicas não são colocadas como linguagens ou modalidades plásticas impermeáveis umas às outras, pois as obras expostas, a despeito da completude técnica e material nas quais se encerram, se afirmam em outra lógica para além da artesania suporte/técnica/material. Se articulam, pois, na indizível força que ativam em conjunto. Uma ópera, um concerto, uma fuga, um silêncio a depender do ir e vir de cada visitante. Uma dança.”, conta o curador Aldo Victorio Filho. A pesquisa para esta exposição se iniciou a partir da leitura que o artista fez do livro “Eros: o Doce-Amargo” de Anne Carson, no qual a autora vai pensar de forma ensaística as relações dicotômicas presentes no desejo, o jogo psicológico entre os amantes e a implicação histórica e social da representação ambígua dessas relações, através de análises iconográficas e semânticas, desde a Grécia Antiga. A aproximação entre arte e literatura tem sido um modus operandi do artista, que já dedicou uma exposição individual ao último livro publicado em vida pelo poeta Mário Quintana, fazendo dessa aproximação uma possibilidade de construção de famílias monstruosas, através de interdisciplinaridades, intermaterialidades e intertextualidades, objetivando borrar as fronteiras entre as coisas, como faz o próprio Eros.

Três séries em exposição

A exposição de Luciana Maas na Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, mostrará – até 09 de junho – as técnicas possíveis da pintura tendo o tênis como objeto principal. “Balanço” abrirá no dia 13 de abril, às 14h, no Átrio, seguido de visita guiada pela artista. Esta será a primeira exibição individual de Luciana Maas (SP) em um museu. Com curadoria de José Augusto Pereira Ribeiro, a artista apresenta, pela primeira vez, as três principais séries a que se dedicou nos últimos 15 anos: os Tênis, as Lonas, e os Balanços, todas em grandes formatos e com liberdade nos golpes dos pincéis e nas articulações entre figura e fundo. São cerca de 20 trabalhos que permitem um mergulho completo em sua obra e no seu imaginário. No processo de cada pintura, entram em disputa pensamentos contrários, gestos largos e mínimos, ligeiros e lentos, sujos e minuciosos, materiais distintos (a tinta a óleo, o bastão oleoso, o spray) na obsessiva atividade de colocar, espalhar, raspar e retirar tinta, depintar, apagar, sujar e pintar de novo, de mexer e mexer em franco vaivém.

“Fazer” implica a destruição – e implica, por consequência, a contradição -, nos processos de trabalho de Luciana Maas (…) As obras são inteiras, carregadas, densas. Resultam em superfícies preenchidas por sobreposição e mais sobreposição de matéria e atividade. Outro paradoxo aparente se refere justamente ao fato de que pinturas tão impregnadas de substância e ação sejam povoadas por corpos descarnados, mutilados, por objetos em desmancho, metidos em espaços incertos, envolvidos por luzes fluorescentes, nuvens de fumaça e gás – que, a julgar pelo brilho e pelas cores, são radioativos. Agora, se ainda assim os trabalhos inspiram inacabamento é porque, prontos, restam ainda como se estivessem em aberto, com seus acontecimentos em marcha contínua, de formação, distorção, desmoronamento e construção, de novo, de suas partes, de maneira diferente a cada vez, a cada exame – sobretudo nas telas pintadas por Luciana Maas a partir de 2012″, destaca José Augusto Pereira Ribeiro em seu texto curatorial.

Sobre a artista

Luciana Maas nasceu em 1984, na cidade de São Paulo, onde trabalha como pintora há mais de 20 anos. Formada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, frequentou os ateliês dos artistas Osmar Pinheiro e Carlos Fajardo durante anos. Participou de inúmeros cursos promovidos pelo Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo; pela Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro; pela Tate Modern, em Londres, Inglaterra, entre outros. Iniciou sua prática através da figuração e do desenho de observação, mas logo expandiu seu repertório para a pintura gestual de linguagem mais abstrata. Atualmente, seu trabalho tem como tema o encontro visual com o inesperado, no próprio movimento de pintar, em tentativas de capturar a metamorfose do plano pictórico nele mesmo. Cada obra sua possui singularidades e demanda um longo processo para lograr seu resultado: que pareça inacabado e, ainda em transformação. Luciana Maas teve uma importante experiência na residência que frequentou em 2018, na cidade de Salzburg, na Áustria. Sob a orientação do artista Ei Arakawa, produziu uma música e duas pinturas que foram expostas com o grupo no Salzburger Kunstverein Museum. Participou de diversas exposições coletivas, entre elas “No Body Yet”, na Galeria Simone Subal, Nova York, EUA (2023); “Obra em Processo. Olhar Impertinente”, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo – MAC USP (2004) e “Diante do desconhecido: o Outro”, na Galeria de Arte Solar, Rio de Janeiro (2017). Em 2022, realizou a exposição individual “Palafitas”, no Projeto Vênus, em São Paulo, SP, com a curadoria de Ivo Mesquita. No mesmo ano, a artista iniciou seus estudos em gravura em metal no Atelier Piratininga, em São Paulo, onde investiga traços finos por meio de técnicas que deram início à sua fase atual, dos fios dos balanços.

Sobre o curador

José Augusto Pereira Ribeiro é mestre e doutor em Teoria, História e Crítica de Arte pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Trabalhou como curador sênior da Pinacoteca de São Paulo, de 2012 a 2022, e diretor do núcleo de artes visuais do Centro Cultural São Paulo, entre 2010 e 2012.