Tunga no MAM SP

07/fev

O MAM, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, anuncia a permanência em exibição na Sala de Vidro de “…uma das últimas obras criadas por Tunga  (1952 – 2016), a instalação Eu, Você e a Lua. Inédita no Brasil, a obra reúne elementos frequentes da poética do artista como pedras, espelhos, garrafas de cristal e de gesso e pratos presos em aros e hastes”.

“Eu, Você e a Lua” está entre as últimas obras realizadas pelo artista que iniciou sua produção na segunda metade dos anos de 1960. Ao longo de sua trajetória, Tunga se interessou pela alquimia, pela psicanálise, pelas ciências e pela filosofia. Ele construiu uma mitologia singular com imagens simbólicas e materiais em que as noções de permanência e transformação são fundamentais. É recorrente em sua obra a ideia de que “o trabalho é um conjunto de trabalhos”.

A palavra do curador

Mesmo com a profusão de objetos e materiais, em Eu, Você e a Lua há uma forte coerência entre as partes. Alguns elementos são recorrentes no vocabulário poético do artista, como garrafas de cristal, de gesso ou de resina, tanto ocas como sólidas. Espelhos, cristais, pedras, pratos presos em aros e hastes, além de correntes ou alças de couro fixadas em tripés também aparecem em outras obras de Tunga. Ao lado de um tronco petrificado de milhares de anos, o uso desses materiais pode evocar o orgânico e o inorgânico ou o natural e o artificial. O fóssil de uma árvore que se manteve intacto, como se o tempo estivesse suspenso, convive com uma essência de âmbar, uma fragrância com toques amadeirados que goteja como se uma ampulheta marcasse a passagem do tempo e a transformação da matéria. Recorrendo ao olfato e à visão, os elementos originários e pré-históricos na obra de Tunga se fundem ao contemporâneo e à presença efêmera do perfume. Fragmentos agigantados de um corpo humano, dedos polegares de bronze patinado apontam para baixo, enquanto espelhos arredondados e prateados como a lua refletem a luz que vem de cima. Escultura de dedos, como se estivessem duplicados, apontam para lados contrários, para o céu e para o solo. Uma delas de pedra, na horizontal, alinhada ao tronco, indica sentidos opostos e apontam para o eu e para o outro. O olhar de dois sujeitos pode atravessar o fóssil e se encontrar num único. Os dois lados já não parecem se opor. Na poética de Tunga, o que está no planeta Terra ou fora dele, o interno e o externo, assim como eu, você e a lua, formam um todo indivisível.

Cauê Alves (curador-chefe do MAM São Paulo)

Sobre o artista

Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão, o Tunga, nasceu em 1952, em Palmares, Pernambuco, viveu e trabalhou no Rio de Janeiro. Foi o primeiro artista contemporâneo a exibir sua obra na pirâmide do Louvre, além de ter participado de exposições como a Bienal de Veneza, em 1982, e Documenta de Kassel, em 1992. Hoje o trabalho do artista está nos acervos do MoMA, em Nova York; do Museum of Fine Arts de Houston; do Centre Pompidou, em Paris; do Barcelona Museum of Contemporary Art, e da Tate Modern, em Londres.

Sobre o Instituto Tunga

Criado em 2017 logo após o falecimento do artista, o Instituto Tunga é uma entidade sem fins lucrativos cujo objetivo é estudar, preservar e difundir o legado do artista. Fundado por seu filho Antônio Mourão, diretor executivo, e por Clara Gerchman, gestora do acervo, o Instituto Tunga transformou em realidade uma vontade que o artista manifestava em vida. O Instituto Tunga é formado por uma equipe de profissionais composta por pesquisadoras, museólogas, montadores, arquivista, bibliotecária e gestores que cuidam do acervo que Tunga deixou, contemplando desde as obras de arte até seus materiais e ferramentas de trabalho, cadernos de anotações, fotografias, cromos, publicações e uma importante biblioteca do artista.

Museu ao ar livre em Pernambuco

05/fev

Em Pernambuco, a apenas uma hora e meia de Recife, por uma estrada surpreendentemente bem asfaltada, o visitante tem acesso à Usina de Arte. Projeto concebido em 2015, por Bruna e Ricardo Pessôa de Queiroz, ela se encontra num espaço de 130 hectares de terreno, dentro de uma área total de quase 7000 hectares, na Zona da Mata Sul, em Água Preta. O projeto traduz o desejo do casal e de sua família de revisitar a história da Usina Santa Terezinha, cuja operação começou em 1929, sob a condução do bisavô de Ricardo, José Pessôa de Queiroz, e que chegou a ser uma das maiores produtoras de álcool e açúcar no Brasil nos anos 1950. Em 1998, a usina encerrou suas atividades de moagem.

Parte do antigo campo de pouso e das linhas férreas se transformaram num jardim de quase 40 hectares, que circunda três lagos artificiais, projetado pelo paisagista Eduardo Gomes Gonçalves. A ideia de museus abertos de arte contemporânea ao ar livre e a reocupação de territórios começou, no caso do Brasil, em 2006, com um enorme investimento do empresário e colecionador Eduardo Paz em Inhotim, Minas Gerais, onde foram criados um exemplar Jardim Botânico e diferentes Pavilhões para exposições de artistas renomados, junto a sua coleção. Após muitos anos é uma referência internacional. No caso da Usina de Arte, o empreendimento visa ocupar o espaço desenvolvendo ou adquirindo obras que conversem com a história e a natureza do lugar. Hoje são mais de 45 obras já implantadas, outras foram desenvolvidas como sites específics em residência artística, e outras, adquiridas especialmente para o lugar.

Ainda nestes primeiros dias de fevereiro, a artista sérvia Marina Abramović inaugura no parque sua primeira obra aberta ao público no Brasil. A obra, “Generator”, alude a ideia de um enorme gerador de energia. Nasceu da experiência vivida pela artista em uma performance na Muralha da China, em 1988, e traz um muro com 25 metros de comprimento, 3 de altura e 2,5m de largura, no qual estão aplicados 12 conjuntos com três almofadas de quartzo rosa – vindas de Minas Gerais – conhecidas por transmitirem calma e clareza, onde o público pode encostar a cabeça, o coração e o estômago. Para a artista, convivemos paradoxalmente, num mundo onde os indivíduos, ao mesmo tempo que estão ligados por infinitas conexões digitais, carecem de uma ligação genuína consigo mesmos, com seus pares e a natureza.

Nomeação de comissário cultural internacional

29/jan

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, informa: Emilio Kalil foi nomeado Comissário-Geral do Brasil para o ano do intercâmbio cultural Brasil-França. Os ministérios das Relações Exteriores – Itamaraty e da Cultura – anunciaram a nomeação de Emilio Kalil como Comissário-Geral do Brasil para o ano do intercâmbio cultural Brasil-França 2025, acordado em encontro presidencial, ocorrido em Paris, em junho de 2023. Ele terá como missão levar projetos em todas as áreas da cultura para França, com destaque para o meio ambiente, a diversidade e relações com a África.

Nota curricular

Emilio Kalil exerce, desde 2018, o cargo de diretor-superintendente da Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS. Teve atuação destacada em Belo Horizonte como diretor do grupo Corpo, na década de 1980, e dos Teatros Municipais de São Paulo (1988 – 1992) e do Rio de Janeiro (1995-1999). Emilio Kalil também exerceu, de 2000 a 2011, a função de diretor de produção e projetos da Fundação Bienal de São Paulo. Esteve, ainda, à frente da Secretaria de Cultura da Cidade do Rio de Janeiro entre 2011 e 2016.

Itaú Cultural visita a Fundação Iberê Camargo

23/jan

A mostra “Livros de Artista na Coleção Itaú Cultural” faz sua primeira itinerância do ano na Fundação Iberê Camargo, Cristal, Porto Alegre, RS. Ao todo, são mais de 40 obras do acervo do Itaú Cultural chegando em Porto Alegre com foco nos artistas brasileiros na transição entre o Moderno e o Contemporâneo. Trata-se da oitava itinerância da mostra e inaugura as viagens em 2024 deste recorte do acervo de livros de artista do Itaú Cultural, entre eles, os gaúchos Carlos Scliar, Glauco Rodrigues, Glênio Bianchetti, Regina Silveira e Rochelle Costi.

Narrativas em Processo: Livros de Artista na Coleção Itaú Cultural chega a Porto Alegre depois de percorrer por sete cidades do país – a última foi no Museu de Arte do Rio (MAR), no Rio de Janeiro. Na capital gaúcha, permanecerá em cartaz na Fundação Iberê Camargo de 03 de fevereiro a 31 de março, e exibe um percurso de mais de 80 anos desse tipo de produção no cenário brasileiro. Felipe Scovino assina a curadoria da mostra onde as obras estão distribuídas em cinco eixos: Rasuras, Paisagens, Álbuns de Gravura, Uma Escrita em Branco e Livros-objetos.

Rasuras reúne peças que se colocam à margem de uma narrativa obediente ao pragmatismo. É o lugar de uma escrita que nasce para não ser compreendida, que é oferecida ao mundo com certo grau de violência e gestualidade, a exemplo de Em Balada (1995), de Nuno Ramos, cujo rastro do projétil atravessa o volume e se transforma em signo de leitura.

Os livros de Adriana Varejão, Artur Barrio e Fernanda Gomes, que compõem parcialmente a série As Potências do Orgânico (1994/95), e o livro de Tunga são índices de corpos transmutados em livros – estão lá vísceras, sangramentos, machucados, e no caso de Tunga, um componente erotizante.

Lais Myrrha também pode ser vista com o Dossiê Cruzeiro do Sul (2017), que questiona politicamente a constelação do Cruzeiro do Sul invertida na bandeira do Brasil; Aline Motta, com Escravos de Jó (2016), sobre um Brasil necropolítico, e Rosângela Rennó, com 2005-510117385-5 (2009), criada com reproduções de fotos furtadas e posteriormente encontradas e devolvidas à Biblioteca Nacional, seu lugar de origem.

No eixo Paisagens os livros dos artistas podem problematizar a paisagem enquanto um labirinto sensorial, como é a obra de Jorge Macchi; a paisagem como uma partitura que logo se transforma em desenho, como em Montez Magno e Sandra Cinto; evidenciar uma ampla gama de paisagens sociais atreladas a questões fundamentais para a compreensão do Brasil enquanto sociedade plural, como são os casos de Dalton Paula, Lenora Barros, Rosana Paulino e Eustáquio Neves.

Ainda, evidenciar a relação entre cosmogonias e povos originários, no caso de Menegildo Paulino Kaxinawa. Além disso, há uma produção realizada nos últimos cinco anos que se volta com uma potência crítico-social sobre a paisagem política brasileira, como pode ser observado na atmosfera de cinismo e niilismo que ronda o Livro de colorir, de Marilá Dardot, e O Ano da Mentira, de Matheus Rocha Pitta.

Álbuns em tiragem limitada estão concentrados no eixo Álbuns de gravura, composto de obras de artistas visuais que tiveram atuação determinante na passagem do moderno ao contemporâneo no Brasil. Concentra distintas análises, que exploram a reflexão sobre o diálogo entre a produção artística e os meios de experimentação, tendo o livro como forma e a serialidade como meio.

Carlos Scliar, Glauco Rodrigues e Glênio Bianchetti, que fundaram o icônico Grupo de Bagé, por exemplo, estão presentes em Gravuras Gaúchas (1952). O Meu e o Seu (1967), de Antonio Henrique Amaral, entre outros, têm a violência, o sexo e a política como temas recorrentes, com aparições de bocas, seios e armas, no primeiro caso, e de um nu tendendo ao expressionismo, no segundo. Uma das séries adquiridas pela Coleção Itaú Cultural recentemente, presente neste eixo, é Aberto pela aduana, de Eustáquio Neves, projeto selecionado pelo Rumos Itaú Cultural 2019-2020. Outras aquisições recentes em exibição na mostra são Anotações Visuais, de Dalton Paula; Búfala e Senhora das Plantas, de Rosana Paulino; …Umas, de Lenora de Barros; e Reprodutor, de Rochelle Costi.

De Regina Silveira tem Anamorfas (1980), uma subversão dos sistemas de perspectiva. A mostra também conta com espaço para a xilogravura: Pequena Bíblia de Raimundo Oliveira (1966), com texto de Jorge Amado, e Das Baleias (1973), de Calasans Neto, acompanhado de um poema de Vinicius de Moraes. A literatura de cordel é o referente para essas obras. Na exposição, este gênero literário não se apresenta apenas como uma expressão da cultura brasileira, mas como um livro e uma narrativa produzidos manualmente pelo próprio artista.

No núcleo Uma escrita em branco, os visitantes encontrarão neste espaço livros que evidenciam a forma, o peso e a estrutura da obra ao invés da palavra, como Brígida Baltar, com Devaneios/Utopias (2005), Débora Bolsoni, com Blocado: A Arte de Projetar (2016), e Waltercio Caldas, com Momento de Fronteira (1999) e Estudos sobre a Vontade (2000).

Em outro extremo, O Livro Velázquez (1996) e Como Imprimir Sombras, ambos de Waltercio Caldas, e Caixa de Retratos (2010), de Marcelo Silveira, o leitor/visitante é deixado em um estado de perda de referências, pois a linguagem impressa no livro é turva, não se exibe com exatidão.

Por fim, o eixo Livros-objetos reúne e homenageia os pioneiros no Brasil dos chamados livros-objetos e sua intersecção direta com a poesia concreta. São três livros feitos em parceria entre Augusto de Campos e Júlio Plaza: Caixa Preta (1975), Muda Luz (1970) e Objetos (1969).

Sobre a Fundação Iberê Camargo

Iberê Camargo construiu, ao longo de sua carreira, uma imagem sólida de trabalho e profissionalismo. O resultado desse esforço e olhar para a arte estão preservados na fundação que leva o seu nome. Neste espaço, o objetivo é o de incentivar a reflexão sobre a produção contemporânea, promover o estudo e a circulação da obra do artista e estimular a interação do público com a arte, a cultura e a educação, a partir de programas interdisciplinares. O artista produziu mais de sete mil obras, entre pinturas, desenhos, guaches e gravuras. Somando-se a esta ampla produção artística, estão diversos documentos que complementam suas obras e registram sua trajetória, já que o artista e sua esposa, Maria Coussirat Camargo, tiveram como preocupação constante a preservação da documentação e de sua produção. Toda a coleção compõe o Acervo Artístico e o Acervo Documental da instituição. São 216 pinturas que abrangem o período de 1941 a 1994; mais de 1500 exemplares de gravuras em metal, litografias, xilogravuras e serigrafias; e mais de 3200 obras em desenhos e guaches. Entre suas obras, destaque para um autorretrato pintado a óleo sobre madeira. Livre das regras do academicismo, Iberê sempre buscou o rigor técnico, mantendo-se fiel às suas memórias (o “pátio da infância”), e ao que considerava ético e justo. Sua pintura expressa este não alinhamento com os movimentos e as escolas. Dentre as diferentes facetas de sua vasta produção, o artista desenvolveu as conhecidas séries que marcaram sua trajetória, como “Carretéis”, “Ciclistas” e “As Idiotas”.

Coleção Itaú

Todas as peças desta exposição pertencem ao acervo do Banco Itaú, mantido e gerido pelo Itaú Cultural. A coleção começou a ser criada na década de 1960, quando Olavo Egydio Setubal adquiriu a obra “Povoado numa planície arborizada”, do pintor holandês Frans Post. Atualmente reúne mais de 15 mil itens entre pinturas, gravuras, esculturas, fotografias, filmes, vídeos, instalações, edições raras de obras literárias, moedas, medalhas e outras peças. Formado por recortes artísticos e culturais, abrange da era pré-colombina à arte contemporânea e cobre a História da Arte Brasileira e importantes períodos da História da Arte mundial. Segundo levantamento realizado pela instituição inglesa Wapping Arts Trust, em parceria com a organização Humanities Exchange e participação da International Association of Corporate Collections of Contemporary Art (IACCCA), esta é a oitava maior coleção corporativa do mundo e a primeira da América do Sul. As obras ficam instaladas nos prédios administrativos e nas agências do banco no Brasil e em escritórios no exterior. Recortes curatoriais são organizados pelo Itaú Cultural em exposições na instituição e exibidas em itinerâncias com instituições parceiras pelo Brasil e no exterior, de modo a que todo o público tenha acesso a elas e tendo alcançado cerca de 2 milhões de pessoas. Em sua sede, em São Paulo, o Itaú Cultural dedica duas mostras voltadas para as coleções “Brasiliana” e “Numismática”, expostas de forma permanente no Espaço Olavo Setubal e no Espaço Herculano Pires – Arte no dinheiro.

 

O que é arte contemporânea?

19/jan

A produção de Arte dos últimos 50 anos revolucionou padrões estabelecidos. Muito menos pictórica e muito mais simbólica, a arte contemporânea expressa sua potência criativa de forma, no mínimo, inusitada. O que faz com que uma banana colada na parede com fita adesiva possa ser considerada uma obra de arte? Ou, ainda, como explicar que uma tela destruída pelo artista imediatamente após a venda milionária em um leilão, valorize ainda mais? Quais mecanismos externos à obra de arte permitem que ela seja considerada como tal?

Em três encontros, o artista visual Daniel Escobar fala sobre a produção de arte contemporânea, apresentando-a na perspectiva de um sistema cultural, organizado a partir de feiras, exposições, coleções e redes sociais. Partiremos de obras e artistas como Banksy, Bruno Moreschi, Damien Hirst, Rosângela Rennó, Maurizio Cattelan, entre outros, para conhecer os caminhos que orientam a arte contemporânea, mantendo-a tão viva e necessária como em outros tempos.

Para participar, inscreva-se pelo site do Instituto Ling, bairro Três Figueiras, Porto Alegre, RS, ou garanta seu ingresso na recepção do centro cultural. As vagas são limitadas!

O ministrante

Daniel Escobar é doutorando em Poéticas Visuais pelo Instituto de Artes da UFRGS, além de mestre e graduado no curso de Artes Visuais pela mesma instituição. Sua experiência no campo da educação passa por instituições como Bienal do Mercosul, onde atuou como supervisor de mediadores, pelo Farol Santander Porto Alegre, onde foi assistente de coordenação da Ação Educativa, e pelo Instituto Inhotim, onde atuou junto à coordenação de arte e educação e foi responsável pela implantação dos programas de visitas escolares. Vive em Entre-Ijuís onde é gestor do espaço @oficinaescobar.

O Brasil em foco no MAR

09/jan

Apresentada pelo Instituto Cultural Vale e o Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF), a mostra agora em cartaz no MAR, conta com a curadoria de Lilia Schwarcz, Paulo Vieira, Márcio Tavares, Rogério Carvalho e com o acompanhamento curatorial de Marcelo Campos, Amanda Bonan e Amanda Rezende, da equipe do MAR, que contribui com 68 obras da coleção, sendo que 18 delas nunca foram expostas ao público, como um oratório do século XVIII e um adorno do povo Baniwa, do século XX.

As questões da igualdade, da diversidade, da conquista dos direitos civis, bem como políticas de reparação, acolhimento e cidadania são os temas que perpassam a exposição Brasil Futuro: As formas da democracia, no Museu de Arte do Rio, Centro, Rio de Janeiro, RJ, até 03 de março.

Com o sucesso da parceria com o MAR, a Organização de Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI) e o CAF assinaram um memorando de entendimento ampliando as ações no setor cultural para toda a América Latina e Caribe. O Museu de Arte do Rio pertence à Prefeitura do Rio de Janeiro e sua gestão é feita pelo organismo internacional desde 2021. Brasil Futuro é dividida em três núcleos e conta com mais de 250 obras de artistas consagrados como Djanira, Mestre Didi, Tarsila do Amaral, juntamente com contemporâneos como Denilson Baniwa, Bastardo, Victor Fidélis e Daiara Tukano que integram a mostra.

Para o Museu de Arte do Rio, receber uma exposição que coloca em pauta as questões da democracia brasileira é extremamente importante e necessário. “A história da retomada da democracia no Brasil através da arte é o ponto de partida de Brasil Futuro. Para o Museu de Arte do Rio é, sem dúvida, essa mostra ajudará a promover para os nossos visitantes um debate que trata prioritariamente da democracia, dos direitos humanos e da igualdade. Tais temas corroboram com a missão do Museu de Arte do Rio de ser um espaço de trocas de conhecimento e da pluralidade”, afirma Leonardo Barchini, Diretor e Chefe da Representação da Organização de Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI) no Brasil, instituição que faz a gestão do MAR.

MUSEU DE ARTE DO RIO

O MAR é um museu da Prefeitura do Rio e a sua concepção é fruto de uma parceria entre a Secretaria Municipal de Cultura e a Fundação Roberto Marinho. Em janeiro de 2021, o Museu de Arte do Rio passou a ser gerido pela Organização de Estados Ibero-americanos (OEI) que, em cooperação com a Secretaria Municipal de Cultura, tem apoiado as programações expositivas e educativas do MAR por meio da realização de um conjunto amplo de atividades. A OEI é um organismo internacional de cooperação que tem na cultura, na educação e na ciência os seus mandatos institucionais. “O Museu de Arte do Rio, para a OEI, representa um espaço de fortalecimento do acesso à cultura, ao ensino e à pluralidade intimamente relacionado com o território ao qual está inserido. Além de contribuir para a formação nas artes e na educação, tendo no Rio de Janeiro, com sua história e suas expressões, a matéria-prima para o nosso trabalho”, comenta Leonardo Barchini, diretor da OEI no Brasil. Após o início das atividades em 2021, a OEI e o Instituto Odeon celebraram a parceria com o intuito de fortalecer as ações desenvolvidas no museu, conjugando esforços e revigorando o impacto cultural e educativo do MAR, a partir de quando o Instituto Odeon passa a auxiliar na correalização da programação. O MAR tem o Instituto Cultural Vale como mantenedor, a Equinor, o Itaú Unibanco e a Globo como patrocinadores master, e a Nadir Figueiredo como patrocinadora. São os parceiros de mídia do MAR: a Globo e o Canal Curta. A Machado Meyer Advogados e a Icatu, via Lei Federal de Incentivo à Cultura, também apoiam o MAR. O MAR conta ainda com o apoio da Prefeitura do Rio de Janeiro, do Governo do Estado do Rio de Janeiro, do Ministério da Cultura e do Governo Federal do Brasil, também via Lei Federal de Incentivo à Cultura.

Artistas brasileiros no Cairo

A 3º edição da exposição internacional Something Else, que ocorreu na Cidadela de Saladino, no Cairo, capital do Egito, contou com a participação de artistas brasileiros. A mostra apresentou produções artísticas contemporâneas de artistas egípcios e de outros países em uma grande celebração global artística. Foram mais de 150 artistas presentes, representando 36 países.

A artista Mônica Hirano foi a curadora da presença brasileira na exposição, além de ter orquestrado a participação de alguns europeus. Hirano disse que a exposição destaca o papel das artes em unir pessoas de diferentes nacionalidades e países, sendo uma forma de expressão e uma linguagem universal que conecta pessoas acima de todas as ideologias, independentemente de suas religiões, etnias e valores políticos. “Ela reúne todas as energias positivas do mundo e nos ajuda a reconsiderar nossas prioridades como seres humanos e como artistas”, afirmou.

Mônica Hirano: trabalho mostra identidade dos povos

A artista afirma que a inteligência artificial expressa apenas a identidade da entrada de dados, não expressa a identidade original dos povos. Ela disse que o que se procura, através das várias formas de expressão artística da exposição Something Else na Cidadela, é expressar a identidade dos povos através da arte. O grupo brasileiro com curadoria de Hirano na exposição foi formado por Vinicius Couto, Igi Lola Ayedun, Alberto Pereira e Silvana Mendes. Mônica Hirano relata que cada um deles expressa a herança dos povos do seu jeito. Por exemplo, Alberto Pereira conhece as preferências culinárias dos consumidores de arte e visitantes de exposições de arte, e prepara um cardápio especial para os participantes, independentemente de suas raças e gêneros. Por outro lado, Silvana Mendes alimenta mecanismos musicais com a arte original dos povos, para confrontar a inteligência artificial, no lugar de deixá-la dominar e apagar a identidade dos povos, e inseriu a imagem de celebridades negras em pinturas conhecidas, utilizando técnicas de inteligência artificial. Realizada pelo Ministério do Turismo e Antiguidades do Egito em parceria com a Darb 1718 e a empresa Qalaa Holdings, a exposição reforça a posição do Cairo como um centro cultural e artístico na região, que tem sido tradicionalmente o foco da atenção dos amantes da arte no Oriente Médio e no mundo ao longo das eras.

Traduzido do árabe por Georgette Merkhan.

Registros de Ricardo Ribenboim

O Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, MAC-USP, Ibirapuera, São Paulo, SP, exibe a exposição “Rastro dos Restos”, com cerca de 80 obras recentes do artista Ricardo Ribenboim.

As peças evidenciam seu procedimento de trabalho a partir da ação do tempo sobre ideias e materiais que recolhe, observa, avalia os significados e então utiliza na construção de suas obras. Cacos, gravetos, retalhos, troncos calcinados, raízes do mangue, metais fundidos, chapas enferrujadas ou um giz de cera de seu neto encontram os restos do cotidiano do ateliê ao lado de suas memórias e dos registros de sua trajetória.

Sobre o artista

Ricardo Ribenboim foi aluno de Evandro Carlos Jardim e da Escola Brasil, sob a orientação de José Resende e Carlos Fajardo. Ele foi diretor do Paço das Artes e do Itaú Cultural, sendo responsável pela criação dos Eixos Curatoriais, das Enciclopédias em meio digital e do Programa Rumos.

Até 10 de março.

Fonte: Agência FAPESP

Arquitetura e feminismos

21/dez

Organizada pelo Instituto Cervantes, a exposição com arquitetas, urbanistas e artistas ocupará o Instituto de Arquitetos do Brasil, Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, até fevereiro de 2024.
Depois de ser exibida em Porto Alegre e Brasília, a exposição “Arquitetura e feminismos. Sem princípio nem fim”, organizada pelo Instituto Cervantes, chega ao Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), no Rio de Janeiro. Apresentando projetos de urbanismo, design e arquitetura sob uma perspectiva feminista. A curadoria de Semíramis González traz obras das criadoras espanholas e latino-americanas Ana Gallardo, Costa Badía, Julia Galán, Col-lectiu Punt 6, Colectivo offmothers, e os projetos “Women’s New European Bauhaus” – coordenado por Inés Sánchez de Madariaga -, “Madrid ciudad de las mujeres”, de Marián López Fdz. Cao e “Musas de vanguardia”, de Mara Sánchez Llorens e Luciana Levinton. Arquitetas, urbanistas e artistas, todas elas percorreram um longo caminho para reivindicar espaços feministas em edifícios e ruas, dando prioridade a outras formas de construir o mundo.
Baseada nas palavras da arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi, a proposta está comprometida com essa concepção “sem começo nem fim”, entendendo a arquitetura, o planejamento urbano e a criação como uma possibilidade múltipla, contínua, interseccional e sem hierarquias patriarcais.
Segundo Semíramis González, “esta exposição apresenta projetos que trabalham no eixo feminista e interseccional, desde a nova configuração das cidades com uma perspectiva de gênero, até o transporte urbano, a genealogia das mulheres arquitetas do passado ou a realidade das mulheres artistas em suas vidas, em seus espaços e nas ruas. Isso nos aproxima de algo tão comum quanto os lugares que habitamos, levando em conta o ponto de vista daqueles que tradicionalmente têm sido ignorados e propondo alternativas mais feministas”.
Houve uma performance com a Colab La Perereka (um coletivo transfeminista), e um colóquio com a participação da curadora, Semíramis González, e uma das artistas, Mara Sánchez, que veio para o Brasil especialmente para a ocasião, com tradução simultânea, tendo Marcela Abla, presidente do IAB, como moderadora.

Sobre a curadora
Semíramis González (Gijón, 1988) é curadora independente e gestora cultural especialista em questões de gênero, que se encarregou de selecionar as obras de várias artistas e coletivos de artistas contemporâneos, destacando a ideia de que a arquitetura e o feminismo são dois eixos para habitar os espaços de forma mais sustentável, igualitária e justa.

Sobre a perfomance
Colab La Perereka, um coletivo transfeminista carioca apresentou a performance “A cidade que mora em mim” (“La ciudad que habita en mí”), uma ação site especific dirigida pela artista, pesquisadora e jornalista espanhola Laura Corcuera, criada especialmente para a mostra com três artistas feministas cariocas. Esta ação artística busca contribuir para a expansão de formas poéticas de ativismo político e social. Título: “A cidade que mora em mim”. Direção: Laura Corcuera. Artistas participantes: Marta Moura, Muca Vellasco e Clarice Rito.

 

Exposição Deserto Oceano Floresta

Chama-se “Deserto Oceano Floresta de Alex Červený”, uma mostra especialmente pensada para o espaço da galeria Unidade do Senac – Senac Lapa Scipião, Lapa, São Paulo, SP. Reproduzidas em adesivo, uma série de pinturas recentes organizadas lado a lado, compõem uma espécie de instalação, onde um horizonte dinâmico em forma de um cinturão panorâmico de quase 360° ocupa a sala expositiva.

Característica principal da obra de Ceverny, que une representações de paisagens ficcionais a narrativas pessoais, podemos contemplar com exclusividade a imagem da obra Mondo Reale, a maior pintura que o artista já realizou e que está acompanhada de um vídeo documental de seu processo de realização. Mondo Reale foi feita sob encomenda para a Fundação Cartier para a Arte Contemporânea em 2023 e é a primeira vez que ela é exibida no Brasil, ainda que em versão digital. Além das 14 obras que compõem a instalação, também em exibição, uma vitrine central na sala composta por miniaturas originais realizadas pelo artista em diferentes momentos, que permitem sua visualização através da disponibilização de lupas.

Curadoria de Sandra Tucci.

 

Sobre o artista

Alex Červený (1963). Vive e trabalha em São Paulo. De formação independente, Alex Červený estudou desenho e pintura com Valdir Sarubbi entre 1978 e 1982, gravura em metal e técnicas de impressão com Selma D’Affre entre 1982 e 1986, e frequentou o curso livre de litografia com Odair Magalhães, na FAAP, em 1982. Ainda no início da década de 1980, integrou a Academia Piolin de Artes Circenses e, em seguida, o Circo Escola Picadeiro, experiência que exerceu forte influência sobre o seu universo visual. O personagem que criou quando atuou como contorcionista acrobático, “Elvis Elástico: o Homem de Plástico”, retorna nas figuras retorcidas que povoam suas pinturas.

 

Até 26 de fevereiro de 2024