A Cor e o Tempo em Sergio Lucena

11/out

O Museu Afro Brasil Emanoel Araujo, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, com apoio da Simões de Assis, inaugurou uma grande mostra individual do artista Sergio Lucena. Com curadoria de Claudinei Roberto, “Na Raiz do Tempo, a Matriz da Cor” traz mais de 70 obras do artista paraibano, realizadas ao longo de seus mais de 40 anos de carreira.

Com séries antigas como os “Deuses”, e conjuntos inéditos como a série “Platibandas”, a exposição revela a vitalidade da linguagem da pintura que se verifica nos processos articulados pelo artista, que resultam em uma obra de alta voltagem poética e simbólica.

O projeto reúne de maneira ímpar referências à religiosidade de matriz africana, ao sincretismo caboclo, à arquitetura vernacular nordestina, às encruzilhadas e aos encontros. Essa síntese, apresentada nas pinturas, sugere uma narrativa em que convivem harmoniosa e poderosamente aquilo que convencionalmente chamamos de “arte erudita” e “arte popular”.

A mostra ficará em cartaz até fevereiro de 2024.

Arte Brasileira na Casa Fiat

Esta é a primeira vez que uma mostra de tamanha robustez é montada em Belo Horizonte, MG, fora do Museu de Arte da Pampulha (MAP) – algumas obras, inclusive, jamais foram vistas que não na icônica construção encravada às margens da Lagoa da Pampulha, pensada originalmente para abrigar um cassino aberto ao público. A exposição “Arte Brasileira” está organizada em seis núcleos inter-relacionados: Conjunto Moderno da Pampulha, Os Modernos, Pampulha Espiralar: Um Lar, Um Altar, Nossos Parentes: Água, Terra, Fogo e Ar, O Menino Que Vê o Presépio e Novos Bustos. Obras de Cândido Portinari, Guignard, Di Cavalcanti, Burle Marx, Mary Vieira, Oswaldo Goeldi, Antônio Poteiro, Yara Tupynambá, Cildo Meireles, Jorge dos Anjos, Vik Muniz, Nydia Negromonte, Froiid, Wilma Martins, José Bento, Eustáquio Neves e Luana Vitra, entre outros, são artistas de diferentes gerações e movimentos que agora se reúnem na exposição “Arte Brasileira: A Coleção do MAP na Casa Fiat de Cultura”, inaugurada em Belo Horizonte.

No terceiro e extenso andar da Casa Fiat de Cultura, cerca de 200 obras, entre gravuras, pinturas, fotografias, esculturas e cerâmicas, nunca antes expostas em conjunto, fazem um importante passeio pela produção artística brasileira dos séculos XX e XXI, ressaltando os principais deslocamentos da arte contemporânea do país. Ali, estão nomes que contribuíram para elevar não só o pensamento estético, mas também uma criação que lançou olhares inovadores e utópicos sobre o Brasil, a partir de uma elaboração da releitura de uma identidade nacional proposta pelo modernismo.

As obras expostas na Casa Fiat evidenciam, também, a característica vanguardista do MAP, como sublinha o curador do Museu de Arte do Rio (MAR), Marcelo Campos, que assina a curadoria ao lado de Priscila Freire, ex-diretora do museu, inaugurado em 1957: “Na arte brasileira, a palavra vanguarda foi inaugurada no modernismo e acompanha essa coleção do MAP, que sempre se mostrou com muita coragem ao constituir seu múltiplo acervo”.

Priscila Freire, que esteve à frente do MAP durante 14 anos, diz que pode contar um pouco dessa história por meio da exposição. “Indiquei obras que considero interessantes da coleção de um museu que passou pelo moderno, pós-moderno e contemporâneo sendo sempre contemporâneo”, comenta.

Fruto da parceria entre a Casa Fiat de Cultura e prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Fundação Municipal de Cultura, “Arte Brasileira: A Coleção do MAP na Casa Fiat de Cultura” fica aberta ao público até fevereiro do ano que vem e é parte das celebrações dos 80 anos do Conjunto Moderno da Pampulha, eleito Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco.

Para a secretária de Cultura de Belo Horizonte, Eliane Parreiras, “a exposição é um marco para a história do MAP, abre portas para pesquisas futuras e olhares que até então não tinham sido feitos sobre o acervo e a instituiçao”. Por sua vez, o presidente da Casa Fiat, Massimo Cavallo enfatiza o aspecto ousado, grandioso e inovador da mostra, “que desvela novos ângulos que habitam esse Patrimônio Cultural da Humanidade, nutrindo vínculos de pertencimento e identidades”.

Vocação contemporânea

“Arte Brasileira” dialoga com as indagações que permeiam o que há de mais atual nos debates sociais e com a literatura de Conceição Evaristo, Ailton Krenak e Leda Maria Martins, homenageados e retratados no núcleo Novos Bustos. Muito antes de termos como decolonial ou pós-colonial se popularizarem no nosso vocabulário, as obras que serão vistas na mostra já traziam questionamentos que hoje encontram o pensamento contemporâneo. Quando Marcelo Campos e Priscila Freire propuseram que a exposição revelasse tal traço, perceberam que a coleção do MAP respondia a esse anseio e unia o que é considerado erudito, popular e contemporâneo.

“Só um acervo de vanguarda poderia nos dar insumos e elementos para constituir uma exposição com quantidade de arte popular que temos, com artistas negros e negras e também com muitas mulheres fundamentais para a arte brasileira. A exposição explicita isso, mas também busca renovar a leitura. Muitas obras aqui pertencem ao acervo, mas nunca tinham sido expostas. Isso é fundamental”, explica Campos.

Os quadros “Os acrobatas” (1958), de Candido Portinari, e “Espaço (da série Luz Negra)”, de Jorge dos Anjos, são dois destaques da exposição. “No Portinari é bonito porque a gente vê um artista modernista observando a cultura popular. Uma das utopias modernistas foi pensar uma sociedade mais justa, igualitária, com os ideais humanistas presentes. A grandeza de Portinari foi alertar para um Brasil que tinha na população suas riquezas culturais”, ressalta o curador.

Sobre Jorge dos Anjos, que tem outras duas obras expostas na Casa Fiat, Marcelo Campos salienta que o ouro-pretano ampliou tradições e “é um artista negro que olha para o seu tempo e, por outro lado, não esquece as discussões ancestrais”.

Entre as obras inéditas, vêm à tona o conjunto de pinturas populares e o presépio pertencente ao núcleo O Menino Que Vê o Presépio, montado em uma das pontas do terceiro andar da Casa Fiat. Exibido pela primeira vez ao público, a obra, inspirada em um conto de Conceição Evaristo, tem cerca de 300 peças e é composta por esculturas em cerâmicas originárias do Vale do Jequitinhonha, com autoria de Cléria Eneida Ferraz Santos e Mira Botelho do Vale.

“Esse é outro grande destaque, vamos colocar isso dentro de uma exposição que, em tese, seria de arte moderna e contemporânea. Esse gesto reforça a ideia de vanguarda do acervo do MAP”, afirma Marcelo Campos. Outra novidade fica por conta do restauro de duas obras: “Estandartes de Minas” (1974), de Yara Tupynambá, e “Tempos Modernos” (1961), de Di Cavalcanti, que se juntarão à mostra.

“Arte Brasileira: A Coleção do MAP na Casa Fiat de Cultura” joga luz na potência cromática da arte brasileira e faz as pazes com a diversidade e a força das cores, tão rechaçadas e inferiorizadas por uma leitura antiquada e elitista. Com a mostra, atual e tropicalista, o curador diz que esse trauma pode ser superado: “A cor é uma conquista, horizontaliza a arte”.

Programação paralela

No dia 29 de outubro, às 11h, o Encontros com o Patrimônio convida a diretora de museus da Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte, Janaina Melo, para o bate-papo “Museu de Arte da Pampulha (MAP): Um Museu e Suas Histórias”. O evento é virtual e gratuito, com inscrição pela Sympla. Já no dia 07 de novembro, às 19h30, a Casa Fiat de Cultura realiza um bate-papo presencial com os curadores Marcelo Campos e Priscila Freire.

A exposição “Arte Brasileira: A Coleção do MAP na Casa Fiat de Cultura” fica aberta ao público, na Casa Fiat de Cultura (Praça da Liberdade, 10 – Funcionários), até 04 de fevereiro de 2024.

Coleção Andrea e José Olympio Pereira

10/out

Um recorte surpreendente da coleção Andrea e José Olympio Pereira, uma das mais importantes do mundo, tomará o espaço expositivo do Palácio Anchieta a partir de 17 de outubro. A mostra, com o patrocínio do Instituto Cultural Vale, traz obras que têm a natureza como potência criativa, em diálogo com o registro dos povos originários, afrodescendentes e da dita tradição popular. Sob o arguto olhar da curadora Vanda Klabin, a exposição “De onde surgem os sonhos | Coleção Andrea e José Olympio Pereira” oferece um excelente momento de reflexão sobre os rumos da arte que trabalha as raízes mais fundas da ancestralidade brasileira. Mostra inédita de arte contemporânea, da coleção Andrea e José Olympio Pereira, no Palácio Anchieta, em Vitória (ES). Com patrocínio do Instituto Cultural Vale, a exposição é a terceira lançada este ano pelo Museu Vale, como parte de suas ações extramuros, e marca os 25 anos de trajetória da instituição.

“De onde surgem os sonhos” tem título inspirado na obra de mesmo nome do artista macuxi Jaider Esbell, ativista dos direitos indígenas, falecido em dezembro de 2021. A mostra conta com 72 obras, de 50 artistas, da que é considerada uma das maiores coleções de arte contemporânea do Brasil e está entre as 200 maiores do mundo. Nesta seleção dividida em sete salas, obras de artistas como Adriana Varejão, Cildo Meirelles, Ana Maria Maiolino, Cláudia Andujar, Franz Krajcberg, Waltercio Caldas e José Damasceno, por exemplo, dialogam com os trabalhos dos artistas mais recentes.

Sobre a Coleção Andrea e José Olympio Pereira

Famosa no mundo inteiro, a coleção de Andrea e José Olympio Pereira tem foco na produção brasileira a partir dos anos 1940 até o momento atual e reúne algo em torno de 2,5 mil obras. Em 2018, o casal inaugurou o Galpão da Lapa, antigo armazém de café do século XIX, e o converteu em um espaço expositivo que recebe, a cada dois anos, um curador diferente para criar novas exposições a partir das obras de sua coleção. “Quando nos interessamos por um artista, gostamos de ter profundidade”, explica Andrea. “Conseguimos entender melhor o artista desta forma, pois um único trabalho não mostra tudo. É como se fosse um livro cuja história seria impossível de ser compreendida só com uma página”, compara.

De 17 de outubro de 2023 a 28 de janeiro de 2024.

Esculturas de Ascânio MMM em retrospectiva

A exposição “Ascânio MMM: Torções” no Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia (MuBE), Jardim Europa, São Paulo, SP, apresenta uma retrospectiva da carreira de 60 anos do escultor Ascânio MMM. A mostra, organizada por Francesco Perrota-Bosch, reúne 55 esculturas e instalações, 22 maquetes, 12 desenhos, além de fotos antigas e documentos do artista, que é reconhecido como um expoente da abstração geométrica na América Latina.

O conceito central da exposição gira em torno da ideia de “torção”, que se relaciona com a maneira como Ascânio combina módulos, como ripas de madeira ou pequenos blocos retangulares, para criar esculturas que parecem se retorcer sobre si mesmas, criando uma sensação de movimento e dança. Essas obras demonstram a fusão entre precisão matemática e estética, refletindo sua formação dupla em Artes plásticas e Arquitetura.

A exposição está dividida em duas partes: a primeira apresenta esculturas monocromáticas em madeira pintada de branco, que datam do final dos anos 1960 até o início do século 21. A segunda parte exibe obras das últimas duas décadas, nas quais o artista começou a utilizar o alumínio como base para suas criações.

Além das esculturas, a exposição destaca uma cortina de metal formada por pequenos quadrados vazados, que remete à influência de Hélio Oiticica, com quem Ascânio conviveu nos anos 1960. Também são mencionados outros artistas que influenciaram sua obra, como Franz Weissmann e Alexander Calder, conhecidos por suas esculturas geométricas e móbiles. Uma obra de destaque é Escultura 2, que recebeu o prêmio do Panorama da Arte Brasileira de 1972. A exposição também inclui esculturas instaladas na área externa do museu, criadas a partir das esculturas públicas de Ascânio no Rio de Janeiro, que contrastam com a arquitetura do MuBE e convidam os espectadores a interagir com elas de diferentes ângulos.

Até 26 de novembro.

História do funk no MAR

06/out

Música e artes visuais se unem em duas mostras que aportaram no Museu de Arte do Rio, Centro, Rio de Janeiro, RJ, que recebeu a exposição “Funk: Um Grito de Ousadia e Liberdade”, coletiva que conta a história do funk carioca, enquanto um casarão no bairro sedia “Ocupação Iboru”, desdobramento do álbum “Iboru”, de Marcelo D2.

Com mais de 900 obras, a principal mostra do MAR em 2023 recria a história do gênero musical que a batiza, indo dos bailes black da década de 1970 aos dias de hoje. São fotografias, pinturas, objetos, vídeos e instalações de mais de cem artistas, entre eles nomes como Hebert, Vincent Rosenblatt, Blecaute, Maxwell Alexandre, Panmela Castro, Gê Viana e Daniela Dacorso, dentre muitos outros.

A curadoria é de Marcelo Campos, curador-chefe do MAR, Amanda Bonan, gerente de curadoria do MAR, Dom Filó e Taísa Machado, com um time de consultores: Deize Tigrona, Sir Dema, Marcello B Groove, Tamiris Coutinho, Celly IDD, Glau Tavares, Sir Dema, GG Albuquerque, Leo Moraes e Zulu TR.

Na abertura, recebeu uma série de atrações, como apresentação de dança do Afrofunk Rio e show com MC Cacau cantando MC Marcinho.

Conversa no CCBB RJ

04/out

É amanhã, quinta-feira, dia 05 de outubro, às 18h, a conversa com Evandro Teixeira, um dos principais nomes do fotojornalismo brasileiro, o curador Sergio Burgi e o ensaísta Alejandro Chacoff, no Centro Cultural Banco do Brasil, Centro, Rio de Janeiro, RJ. O evento é gratuito. A conversa integra a mostra “Evandro Teixeira, Chile, 1973”, que pode ser vista até o dia 13 de novembro.

A conversa será em torno da impactante série de imagens realizadas por Evandro Teixeira no Chile, em 1973, poucos dias após o golpe militar de 11 de setembro. Evandro viajou para Santiago, enviado pelo Jornal do Brasil, e revela, através de suas fotos, uma cidade sitiada, ocupada pelas forças militares. Neste período, também registrou o falecimento do grande poeta chileno Pablo Neruda, sendo o único fotógrafo do mundo a fotografá-lo logo após a sua morte, ainda na clínica onde faleceu, perpassando pelo velório em sua residência depredada e o enterro com grande participação popular, documentando a primeira grande manifestação contra o regime do general Augusto Pinochet.

A exposição no CCBB RJ apresenta cerca de 160 fotografias de Evandro Teixeira (1935), baiano radicado no Rio de Janeiro, que fez toda a sua carreira na imprensa carioca, onde atuou por quase seis décadas, sendo 47 anos no Jornal do Brasil. Com curadoria de Sergio Burgi, coordenador de fotografia do Instituto Moreira Salles, a mostra chega ao Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro depois de ter sido apresentada com enorme sucesso no Instituto Moreira Salles Paulista, e integra a parceria firmada entre as duas instituições em 2022. A sede do Instituto Moreira Salles no Rio de Janeiro está fechada para reformas. A realização na cidade tem patrocínio do Banco do Brasil. A mostra reúne importantes fotografias em preto e branco, com destaque para a cobertura internacional do golpe militar no Chile em 1973. No país andino, Evandro Teixeira produziu imagens impactantes do Palácio De La Moneda bombardeado pelos militares, dos prisioneiros políticos no Estádio Nacional em Santiago e do enterro do poeta Pablo Neruda.

Além dos registros feitos no Chile, a mostra traz imagens produzidas por Evandro Teixeira durante a ditadura civil-militar brasileira, em um diálogo entre os contextos históricos dos dois países. Em monitores dispostos pelo espaço expositivo, também são apresentados trechos de filmes que documentam o período, como “Setembro chileno”, de Bruno Moet, e “Brasil, relato de uma tortura”, de Haskell Wexler e Saul Landau. A mostra apresenta, ainda, livros, fac-símiles e outros objetos, como máquinas fotográficas e crachás de imprensa.

Brasileira na Bienal de Caligrafia de Duba

02/out

A artista Zana Azeredo terá telas apresentadas nos Emirados Árabes Unidos, cujo díptico com caligrafia árabe será exibido até o final de outubro no Prédio 6 do Distrito de Design de Dubai. Moradora do país, Zana Azeredo foi selecionada em edital da Autoridade de Artes e Cultura de Dubai.

Ela integra a exposição com um díptico – dois quadros interligados – que traz trechos da música brasileira “O descobridor dos sete mares”, de autoria de Michel Gilson Mendonça e Tim Maia, escritos em caligrafia árabe ao estilo grafite, além de imagens inspiradas na letra da canção. A obra feita em acrílico sobre tela impressa mostra imagens de peixes dourados em fundo azul e ocre. As cores representam o mar e as praias que a letra menciona.

Caligrafia ao estilo grafite, música e poesia

O díptico faz parte da coleção Fusion, de Zana. As telas, assim como a que estará na bienal, trazem caligrafia árabe e são inspiradas em músicas brasileiras de cantores como Tiago Iorc, Ivete Sangalo, Adriana Calcanhoto, Caetano Veloso e Geraldo Azevedo. O trabalho é feito em acrílico e óleo e se propõe a transcender a essência da poesia para uma manifestação visual, captando o significado, o ritmo e a profundidade das palavras e as transpondo para a pintura. A artista descreve a coleção Fusion como uma celebração de culturas. A combinação de música, poesia e pintura, com letras de canções brasileiras retratadas em caligrafia árabe, tem como pretensão criar uma mistura entre os mundos latino e árabe. Zana Azeredo afirma que escolheu músicas tão ecléticas quanto o mundo atual e que o critério de seleção dessas canções foi que a poesia das suas letras “tocasse as almas”.

Sobre a artista

Zana Azeredo mora nos Emirados há 14 anos. Ela começou a criar aos dez anos de idade, e, com um pouco mais de 20 anos, estava produzindo pintura a óleo. Quando morava em Londres e estudava o idioma árabe, se apaixonou pela caligrafia. Primeiro se aventurou pela criação em caligrafia com tinta nanquim e pena de bambu em um estilo mais tradicional. Treinou com artistas do Reino Unido, Emirados Árabes Unidos e Egito. Com uma carreira também de poetisa e romancista, foi natural trazer as letras e a escrita para seu trabalho de artista plástica, fundindo assim poesia, pintura e caligrafia. Zana Azeredo se diz apaixonada pelas palavras, significados e pelo lirismo da linguagem. No ano passado, a brasileira foi uma das selecionadas para fazer parte de um programa de desenvolvimento de escritores emergentes que vivem nos Emirados Árabes Unidos e região.

Sobre a Bienal

A Dubai Culture & Arts Authority (Dubai Culture) apresenta a edição inaugural da Dubai Calligraphy Biennale (DCB). Com lançamento previsto para outubro de 2023 e com a participação de criativos e calígrafos de todo o mundo, visa promover diálogos culturais criativos, manter a arte caligráfica na vanguarda da produção do mundo árabe e fornecer uma plataforma para o melhor da disciplina. Com base na nova estratégia da bienal, a Autoridade lançará atividades e exposições em toda a cidade em vários locais culturais, bibliotecas, galerias de arte e outros locais de parceiros e partes interessadas para permitir o acesso a diferentes comunidades e públicos. Para elevar a paisagem da caligrafia em Dubai, a bienal apresentará a arte de uma variedade de línguas e culturas. O evento será composto por exposições de arte e design, complementadas com ativações dinâmicas, incluindo instalações de arte pública. A programação também incluirá workshops, palestras, masterclasses e painéis de discussões, incentivando um ambiente vibrante e educativo.

Fonte: Isaura Daniel/Anba.

Mulheres sul-americanas e suíças

29/set

 

Um grupo formado por artistas mulheres sul-americanas e suíças – entre elas duas brasileiras – vai ocupar neste sábado, dia 30 de setembro, das 11h às 19h, a Casa França-Brasil, no Centro do Rio, com entrada gratuita. Elas farão performances com música, vídeo, dança, em que abordam cenas cotidianas, questões de gênero e de desigualdade. O Rio foi o escolhido para sediar o terceiro encontro do grupo, que começou esta troca coletiva de práticas artísticas em 2018, em Buenos Aires, e depois em 2021, na cidade de Basel, na Suíça.

As artistas que estarão no Rio de Janeiro são: Andrea Saemann (1962, Basel, Suíça), Barbara Naegelin (1967, nasceu na Venezuela e cresceu na Suíça, e vive em Basel), Chris Regn (1964, Nuremberg, Alemanha, e vive entre Hamburgo e Basel), Cinthia Mendonça (1980, Minas, vive na Serrinha do Alambari, Serra da Mantiqueira), Dorothea Rust (1955, Zurique, Suíça), Gisela Hochuli (1969, Berna), Jazmín Saidman (1987, Buenos Aires), Maja Lascano (1971, Córdoba, Argentina), Nicole Boillat (1974, Biel, Suíça) e Paola Junqueira (1963, São Paulo, vive em Ribeirão Preto). A artista Luján Funes (1944, Tandil, Argentina) estará presente com um vídeo.

No Rio desde o dia 19, elas estão em uma residência artística na Vila Laurinda, em Santa Teresa, para troca de experiências e práticas artísticas. Elas quiseram absorver a atmosfera da cidade, do mar, da cultura carioca, suas cores e música, para criar novas abordagens de participação e colaboração para o público do espetáculo na Casa França-Brasil.

Artistas brasileiros em Londres

Em cartaz na instituição independente britânica Ruby Cruel (Hockney) entre 29 de setembro a 14 de outubro, a exposição MUAMBA: brazilian traces of movement (MUAMBA: rastros brasileiros de movimento) reúne mais de 25 artistas das diferentes regiões do Brasil. Com a curadoria do carioca Lucas Albuquerque, a coletiva traça um panorama da arte brasileira refletindo sobre a condição do objeto artístico e a sua dificuldade de circulação no âmbito internacional. Parte da programação paralela da 20ª edição da feira de arte Frieze London, a mostra abrange diferentes poéticas de jovens nomes brasileiros que foram convidados pelo curador a refletir sobre as questões em torno do movimento e da circulação de suas obras, tanto no campo simbólico como físico.

Entre trabalhos inéditos e outros de grande projeção no cenário brasileiro contemporâneo, a exposição permeia discussões históricas, culturais e identitárias que apresentam o Brasil como um complexo emaranhado de signos em trânsito que, por sua vez, encontram novos ecos por meio de seu transporte e contemplação no circuito europeu. Inspirado na caixa-valise de Duchamp, dispositivo móvel que continha versões miniaturizadas de suas obras e ready-mades – que em 1942 foi despachado da Europa para os Estados Unidos como uma “caixa de utensílios domésticos” -, mas sem esquecer das Flux Kits do grupo dadaísta Fluxus, da Valoche de George Brecht e, em terras brasileiras, de toda a relevância do pensamento de arte como meio em trânsito de Paulo Bruscky, o projeto parte desses interlocutores para instigar artistas brasileiros a pensar maneiras de habitar esse espaço, burlando a política de apagamento pautado em questões econômicas que assola poéticas latino-americanas e sua livre circulação.

“Quando fui convidado pelo espaço para pensar uma exposição que pudesse vencer a distância transatlântica entre Brasil e Reino Unido e superar os limites financeiros dessa empreitada, logo pensei na inteligência latino-americana elaborada por nós para conseguirmos nos ver em espaços que durante tanto tempo nos foram negados. Logo, convidei os artistas a pensarem trabalhos que coubessem em uma única mala e comportassem outros vinte e tantos parceiros de viagem”, explica Lucas Albuquerque, que estabeleceu como principal foco deste projeto artistas ainda sem representação comercial, como Ana Hortides, Darks Miranda, Keila Sankofa e Yhuri Cruz; além de também trabalhar com nomes representados por galerias recentemente através de programa voltados a práticas artísticas experimentais, como Arthur Palhano, Íris Helena e Laryssa Machada. “Refleti sobre o lugar simbólico que permeia esse lugar da informalidade e fui abraçado pela ideia da muamba, palavra da língua angolana quimbundo, que designa tanto um cesto comprido usado para transportar cargas em viagem, como também se popularizou durante o período da escravatura por se referir aos produtos trazidos clandestinamente de África e vendidos em solo brasileiro. Fala, portanto, de meio e de condição e está intrincado à formação da nossa cultura”, completa o curador.

Esta é a primeira iniciativa que irá reunir tantos nomes brasileiros no Ruby Cruel, instituição artística sem fins lucrativos fundada e dirigida pelo artista Blue Curry em 2019 com a missão de estabelecer diálogos por meio de exposições e residências, colaborando tanto com artistas locais quanto com profissionais criativos de renome internacional. “Meu encontro com Lucas Albuquerque em Londres foi marcante, inspirando-me a convidá-lo para colaborar conosco. Na ocasião, discutimos sobre como produzir uma exposição com soluções econômicas de maneira a superar as barreiras espaciais. E eis que aqui estamos!”, revela Blue Curry.

Nascida em Porto Alegre (RS) e baseada em Salvador (BA), a artista Laryssa Machada é um dos nomes que fazem parte da coletiva. Em sua produção, ela debate o processo de formação cultural colonial da identidade brasileira e como o trabalho de arte pode funcionar em uma lógica inversa de “desinvasão” e emancipação deste imaginário. “A gente precisa de fato circular essas contra-narrativas. Ganhar na repetição. Essa história colonial vem sendo repetida há mais de 500 anos. Então, penso inclusive o ato da muamba como coletar outros saberes e trocar por aí. E é o que viemos fazendo, ainda que desacertados em alguns territórios. Estranhados”, comenta a artista.

Já o paulistano Kauê Garcia (Campinas, SP) reflete sobre como a cultura underground brasileira pode reverter – ou mesmo prenunciar outras possibilidades históricas – a influência britânica na cena brasileira. “Procuro levantar uma contra narrativa em relação à origem do nome da banda Sex Pistols através da criação de uma outra, brasileira e periférica, nomeada Pistolas Sexuais. Busco discutir algumas questões atuais como a sede por pioneirismo, os movimentos de revisão histórica e decolonialidade, o apagamento da cultura local pela hegemonia global, as maneiras como são construídas as narrativas históricas oficiais”, conta.

Apesar da exposição nascer em uma urgência de ordem prática, Lucas Albuquerque observa que é interessante pensar o lugar do informal no que se convencionou como a formalidade do circuito contemporâneo brasileiro de arte. Necessidades estas que não se encerram apenas quando pensamos na passagem de tantos artistas brasileiros e latino-americanos entre continentes de maneira informal, na base da muamba, mas que é traçado em pequenos gestos, como o jovem artista que leva consigo o trabalho para uma exposição coletiva. “Isso sem falar no tanto de muambeiros e muambeiras que foram necessários a labuta para que corpos como o meu e de muitos artistas aqui chegassem em terras europeias”, comenta o curador, que finaliza “E, claro, não vejo potência de estar aqui se não para usar meu trabalho como anúncio de todas essas potências que estarão aqui, pulsando em suas poéticas. Quando vou, carrego os meus comigo.”

Fonte: DasArtes.

As resinas de Dudi Maia Rosa

27/set

O Instituto Ling, Três Figueiras, Porto Alegre, RS, inaugura no dia 05 de outubro a mostra individual “Desde A Tona”, de Dudi Maia Rosa, apresentando obras inéditas do artista paulistano. Sob a curadoria de João Bandeira, a exposição apresenta 23 obras datadas de 2007 a 2023, sendo a grande maioria resinas, que são superfícies cromáticas feitas em resina de poliéster e fibra de vidro – uma marca de seu trabalho, além de algumas aquarelas, trabalhos em relevo com diferentes materiais e esculturas em latão. O Instituto Ling ainda convida para a conversa de abertura, com participação de Dudi Maia Rosa e João Bandeira, curador da mostra. O bate-papo poderá ser acompanhado presencialmente, com entrada franca, no auditório do Instituto Ling. Na ocasião, será lançado o catálogo com distribuição gratuita a todos os participantes.

A mostra fica em cartaz até 29 de dezembro.

Desde A Tona  – Dudi Maia Rosa

O trabalho de Dudi Maia Rosa tem um marco, descrito em suas declarações e comentado por vários críticos, que é quase uma fábula de origem – e sabe-se que fabulação não se opõe necessariamente a verdade. O relato diz que, a certa altura, houve uma espécie de revelação, quando ele inventou um objeto artístico basicamente feito de resina de poliéster, fibra de vidro e pigmentos, que tende ao tridimensional. Porém umbilicalmente ligado à longa tradição formal e simbólica da pintura, e no qual a distinção entre imagem e suporte se dissolveu. Com o apelido de “resina”, esses trabalhos têm sido um laboratório da produção de Dudi – embora não exclusivamente -, e seu aspecto geral passou por várias gerações, muitas vezes remetendo ao “quadro”, mas de um modo todo próprio. Feito pelo artista em um molde deitado, uma das particularidades do objeto “resina” é que o que estava no fundo do molde será a superfície, quando ele estiver pronto para ser levantado na vertical e se apresentar a nós. É como se o que vemos nessas obras se originasse do movimento de fazer algo submerso vir à tona. Quase todas as “resinas” desta exposição são trabalhos recentes ou nunca mostrados, mas relacionados a uma linhagem há tempos consolidada na produção de Dudi, que soma a expansão generosa da cor ao afloramento, afetivamente irônico, de referências vindas da história da arte. Por exemplo, a pincelada, o grafismo, a listra, o jogo positivo-negativo, a iconografia simbólica (como a cobra-ourobouros), a apropriação de imagens (lá estão duas musas do cinema, Monica Vitti e Odete Lara), e até o quadro ele mesmo e sua moldura – embebida em humor, a materialidade do objeto de arte é, e não é, a própria representação. Uma certa rusticidade se destaca nessa nova safra: no aspecto fragmentário de grandes chapas de cor, na aspereza franca de algumas superfícies, ou, ainda, no desnudamento da própria substância que dá corpo a essas obras. Rusticidade e fragmento estão igualmente no corpo (e na alma contemporânea) dos pequenos trabalhos que parecem, ao mesmo tempo, atrair e gerar formas, entre materiais no limiar do reconhecimento e coisas identificáveis que surgem na sua superfície compacta. E, desse ponto de vista, são próximos também das esculturas em exposição, já que nelas podemos vislumbrar uma ou outra forma reconhecível do mundo na iminência de aparecer integralmente (uma harpa? um gradil? um ornamento arquitetônico?), ou como se recém-saída da pura matéria (um raio? uma nota musical?). Mais uma família de obras de Dudi, algumas mostradas aqui, faz pensar em fábulas e coisas que vêm à superfície: a série das Cábulas, que ele executa mesclando técnicas industriais e artesanais deslocadas do habitual. Se o que vemos aflorar nas “resinas” pode ser cogitado como um movimento no espaço, nas Cábulas ele transcorreria mais no tempo, através da memória coletiva. Isso porque suas imagens foram processadas a partir do repertório de antigos desenhos animados, guardando traços da visualidade das fábulas de cinema. Com um DNA assim, não é à toa que essas cenas e aparições de objetos isolados flutuando sobre um fundo mais ou menos homogêneo sejam um pouco como as sobras que identificamos de um sonho. O que, por sua vez, sugere analogias desses trabalhos também com as esculturas e os pequenos relevos, onde algumas coisas se deixam ver individualmente em meio ao que não está completamente revelado ou apenas desinteressado de qualquer semelhança. Em paralelo à efetiva sedução da sua materialidade, onde a luz opera de tantas maneiras, poderíamos, então, imaginar uma corrente que sobe e desce, entre o fundo e a tona de todas as obras expostas aqui. Ou, dito de outra forma: ao olhar para aquilo que nos chama com força nesses trabalhos, consideremos também o seu “calado”, aquela parte do barco que vai da ponta da quilha submersa até a linha visível da água. Levados por Dudi, neste barco estamos.

João Bandeira – curador

Sobre o artista

Dudi Maia Rosa tem uma trajetória de mais cinco décadas de trabalho artístico, documentado em publicações e textos de importantes críticos de arte, que destacam sua utilização de técnicas e materiais diferenciados. Realizou sua primeira exposição individual no MASP, em São Paulo (1978), e participou da Bienal de São Paulo (1987 e 1994), da Bienal do Mercosul (2005 e 2015) e da Bienal de Johannesburgo (1995), entre outras mostras coletivas relevantes. Possui obras em coleções dos principais museus do Brasil, além do Stedelijk Museum (Amsterdan) e da Collection Pinault (Paris). Lírica e Tudo de Novo (Galeria Millan, 2019 e 2022) estão entre as suas exposições individuais mais recentes.

Sobre o curador

João Bandeira foi coordenador de artes visuais do Centro Maria Antonia da Universidade de São Paulo (2005 a 2016) e atualmente coordena o Espaço das Artes da ECA-USP. Escreveu textos para artistas como Waltercio Caldas, Regina Silveira, Jac Leirner e David Batchelor e fez a curadoria de exposições de Evgen Bavcar (Itaú Cultural, 2003); Nuno Ramos e Cildo Meireles (Maria Antonia, 2012); Lina Bo Bardi (Sesc Pompeia, 2014); Geraldo de Barros, Rubens Gerchman e Antonio Dias (Sesc Pinheiros, 2018); Iole de Freitas (Instituto de Arte Contemporânea, 2018, e Instituto Ling, 2021); entre outros.

Esta programação é uma realização do Instituto Ling e Ministério da Cultura / Governo Federal, com patrocínio da Crown Embalagens.