Ocupação fotográfica

31/maio

 

Curiosidade, indiscrição ou procura de comunicação? Objeto de uma pesquisa realizada aos longo de 18 meses, “Janelas Indiscretas, eu vejo o que você vê?”, individual de Marilou Winograd, teve início no isolamento decorrente da pandemia. Recolhida, com o universo visual reduzido, a geometria das janelas e a nova geometria dançante que se estabelecia ao anoitecer, com os pequenos pontos de luz piscando na escuridão, aguçaram o olhar da artista. Sob curadoria de Alexandre Murucci, a ocupação fotográfica é produzida por Carlos Bertão e Alê Teixeira e será aberta no dia 11 de junho, sábado, no Centro Cultural Correios RJ.

 

“Numa Copacabana desértica, silenciosa e triste, o apelo do surgir de cada farol aceso aquecia minha solidão à procura de alguma vida pulsando, nas sombras e silhuetas sugeridas. Comecei a fotografar todas as noites em diversos horários estes espaços iluminados, isolados, pequenos universos de calor e energia. Quantas historias e vidas em suspenso, juntas, mas separadas…”, relembra Marilou Winograd.

 

Poltrona, mesinha e dois bancos altos, um em cada janela, farão parte da sala redonda Proa. Serão usadas ao todo 20 ampliações grandes, medindo 100cm x 150cm, além de cerca de 150 fotos menores (30cm x 40cm), que serão sobrepostas. Haverá um ação performática no dia do vernissage.

 

“Em sua crônica de um tempo difícil, Marilou parte de fotos de ambiência hooperniana, onde ausências se transformam em personagens, até chegar em imagens difusas, experimentais, comodamente situadas na tradição fotográfica brasileira, de artistas como José Oiticica Filho e Geraldo de Barros. Quase abstratas, são, não apenas sua abordagem pictórica, mas também seu testemunho existencial, uma potência que reverbera intensamente em sua janela não-discreta. Uma janela que bradou por vida, enquanto a vida ficou suspensa, transmutando-se em arte pelo seu olhar.  Olhar este que nos indaga, humanamente ‘Eu vejo o que você vê?’”, analisa o curador Alexandre Murucci.

 

A palavra do curador

 

A obra de Marilou Winograd sempre foi pautada por atmosferas e memórias. Mesmo quando a subjetividade de sua composição formal se impõe, há um claro “psicologismo” sobre nossa recepção da realidade que propõe. Trabalhando com fotografias e a expansão de suas faturas em objetos e instalações em grande parte do corpo de sua produção, a artista mantém um rigoroso vocabulário plástico, ao mesmo tempo, suave e vigoroso. Na mostra que agora apresenta, Marilou nos traz um compêndio visual que mapeou sentimentos comuns à maioria das pessoas, neste período incomum do que foi a vida durante o período da grande pandemia da era contemporânea – a suspensão de nossas possibilidades de interação social e toda a angústia que isto provocou – globalmente. Neste trabalho, a artista instaura, a partir de sua própria sobrevivência emocional, uma geografia relacional com seu âmbito doméstico – aquilo que seu espaço lhe permitia apreender do mundo exterior, através de sua janela e de seu olhar como opção de comunicação restante, num momento que ficamos aprisionados em nossas circunstâncias.   Na exclusão física imposta, não bastou à artista as ferramentas que o admirável mundo novo nos proporciona.  Sua vontade de estar com o outro, expandiu-se pela procura de gestos, de vivências, de acenos possíveis, vistos da janela de seu apartamento, pairando por sobre uma Copacabana desértica, seu único canal de resiliência. De respiro! Num clássico da cinematografia universal “Janela Indiscreta”, de meados do século XX, o personagem principal, vivido por Jimmy Stewart, seguia na observação solitária, preso na incomunicabilidade de sua vida, refletindo a ansiedade e desconexão de nossos tempos, que já se estruturava no horizonte, com a difusão da TV e que hoje, potencializada pela vida digital, tornou-se o padrão de nossas relações. Aquilo que o sociólogo David Riesman chamou apropriadamente de “a multidão solitária”, pois já em seu livro de 1950, deferiu que a sociedade contemporânea tinha sido atomizada e cada vez mais seria caracterizada por pessoas vivendo entre si, mas à parte umas das outras. Porém, diferente da observação fria da trama policialesca do filme, o olhar da artista é empático, solidário… Foi, através do registro poético, sua forma de manter seu lugar no mundo.  E naquilo que sua sensibilidade transformou em urgência de expressão, nos brinda com uma abordagem documental desta experiência humana conjunta, que ainda será visitada muitas vezes, à luz da história. Neste percurso primordial, de procura pela vida que transbordava por frestas, luzes, sombras, salas, varandas e silêncios, Marilou vai desenvolvendo um tratado plástico, interagindo em nossa percepção, até que as imagens, à priori presas à realidade emoldurada por geometrias sensíveis, se diluam ao explodirem em movimentos de cores e formas de um repertório expressionista. Fauvista, poderíamos dizer. Isto, que de outra forma, se apresentaria como um desenvolvimento de autoralidade sobre o trabalho, é ainda mais tocante, por confidenciar que sua percepção atual do mundo, passa por um processo de acomodação sensorial, após algumas intervenções oftalmo-cirúrgicas que sofreu.   Ao nos trazer, em algumas imagens, aquilo que por vezes é seu limite de apreensão visual do mundo, ela nos dá oportunidade de um exemplo mais amplo de empatia, nos proporcionando o lugar do outro – a alteridade do “Em-si (en-soi)”/”Para-si (pour-soi)”, como colocou Sartre, em contraponto com os limites descarteanos da existência solitária do homem.

 

Sobre a artista

 

Nascida no Cairo, Egito, Marilou Winograd chega ao Brasil, no Rio de Janeiro, em 1960. Formada em Artes no CEAC (Centro de Arte Contemporânea), IBA (Instituto de Belas Artes) e EAV (Escola de Artes Visuais) do Parque Lage, no Rio de Janeiro, Brasil. Participou de exposições individuais e coletivas, congressos e seminários no Brasil e no exterior (1971/2022). É uma das curadoras do projeto Zona Oculta – entre o público e o privado, com 350 artistas mulheres (2004/2014), do projeto Acesso Arte Contemporânea, com 179 artistas visuais (2011/2022) e de várias coletivas, ocupações e convocatórias. Em 2004, publicou o livro “O Silêncio do Branco”, relato visual de sua viagem à Antártica, num contraponto com a sua obra. Entre os países onde já expôs, além do Brasil, estão: França (Paris), Alemanha (Berlim e Colônia), Argentina (Buenos Aires), Itália (Roma) e Portugal (Lisboa).

 

Visitação: de 14 de junho a 23 de julho.

 

 

Mostra inédita para o Museu Judaico

30/maio

 

 

O Museu Judaico de São Paulo apresenta “Botannica Tirannica”, mostra inédita concebida pela artista e pesquisadora Giselle Beiguelman onde ela investiga a genealogia e a estética do preconceito embutidos em nomes populares e científicos dados a plantas. Por exemplo, Giselle Beiguelman observa a lógica em que palavras como virginica, virginicum e virgianiana são comumente utilizadas para designar flores brancas.

 

A pesquisa realizada durante um ano e meio permitiu reunir centenas de plantas cujos nomes Giselle Beiguelman organizou em cinco grupos: antissemitas, machistas, racistas, e discriminatórios com relação a indígenas e ciganos (uma palavra contestada por associar grupos como roma e sinti a trapaça e roubo). Em conjunto com seu “Jardim da resiliência”, que ocupa as áreas externa e interna do Museu e onde são cultivadas espécies dotadas de nomes ofensivos e preconceituosos, na série “Flora mutandis” a artista cria com a inteligência artificial seres híbridos, plantas reais e inventadas, em um jardim pós-natural.

 

A mostra também conta com obras do artista convidado Ricardo Van Steen, que produziu sete aquarelas inéditas, de estética naturalista e científica, em que retrata jardins imaginários a partir de cada um dos grupos de pesquisa.

 

Até 18 de setembro.

Fonte: artebrasileiros

 

A diversidade artística africana hoje

 

 

O curso inaugural da Escola do MAB apresenta um panorama contemporâneo do trabalho de oito artistas mulheres, originárias de distintas regiões do continente africano – Magdalena Odundo (Quênia), Julie Mehretu (Etiópia), Sue Williamson (África do Sul), Jane Alexander (África do Sul), Ghada Amer (Egito), Toyin Ojih Odutola (Nigéria), Colette Omogbai (Nigéria) e Peju Laiywola (Nigéria).

 

Da cerâmica à pintura, da performance à instalação, da fotografia ao vídeo, suas obras abarcam múltiplas linguagens e revelam a diversidade da produção artística africana hoje. Ao longo de oito aulas, iremos comentar os trabalhos dessas artistas, sempre amparadas pelos seus contextos histórico e sociais de produção.

 

Será emitido certificado.

Ministrantes

Emi Koide, Sabrina Moura e Sandra Salles.

Coordenação: Sabrina Moura.

Investimento

Curso completo: R$ 240,00

Descontos: estudantes, professores e maiores de 60 anos têm 10% de desconto.

Período

De 30/05 a 18/07 das 19h às 21h.

Duração de cada aula: 2h

Duração total do curso: 12h

​Modalidade: online – Plataforma Zoom

 

Novidades no Inhotim

27/maio

 

 

O Instituto Inhotim, em Brumadinho, MG, vai inaugurar obras e exposições temporárias. O próximo dia 28 marca a abertura da temporada, que traz Isaac Julien, importante nome nos campos da instalação e do cinema, que foi convidado a expor um de seus trabalhos mais emblemáticos na Galeria Praça. O Acervo em Movimento, programa criado para compartilhar com o público as obras recém-integradas à coleção, inaugura com trabalhos dos artistas brasileiros Arjan Martins e Laura Belém, ambos instalados em áreas externas do instituto. Jaime Lauriano também integra a lista dos artistas participantes da programação, e abre o projeto  Inhotim Biblioteca, que vai convidar, anualmente, artistas e pesquisadores que estabeleçam diálogos com a biblioteca do instituto. A instalação do artista mantém relação direta com o Segundo Ato do projeto Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra (MAN), ao propor a curadoria de uma nova bibliografia que contempla autores negros para integrar o acervo da biblioteca do Inhotim.

 

Instalado na Galeria Mata, o Segundo Ato do projeto, realizado, assim como o Primeiro Ato, em curadoria conjunta entre Inhotim e Ipeaafro, aborda o Teatro Experimental do Negro, movimento encabeçado por Abdias Nascimento, e que está nas origens do Museu de Arte Negra. As inaugurações são parte do Território Específico, eixo de pesquisa que norteia a programação do Instituto Inhotim no biênio de 2021 e 2022, pensada para debater e refletir a função da arte nos territórios a níveis local e global, e também a relação das instituições com seu entorno, mirando os desdobramentos de um museu e jardim botânico como o Inhotim.

 

Em um trabalho que une poesia e imagem, Isaac Julien parte de uma exploração lírica sobre o mundo privado do poeta, ativista social, romancista, dramaturgo e colunista afro-americano Langston Hughes (1902 – 1967) e seus colegas artistas e escritores negros que formaram o Renascimento do Harlem – movimento cultural baseado nas expressões culturais afro-americanas que ocorreu ao longo da década de 1920.

 

A obra foi dirigida por Julien na época em que era membro da Sankofa Film and Video Collective, e contou com assistência do crítico de cinema e curador Mark Nash, que trabalhou no arquivo original e pesquisa cinematográfica.  A investigação sobre personalidades proeminentes do século 20, como Langston, é uma constante na obra de Isaac Julien. O artista se debruça sobre a vida destas figuras a fim de revisitar as narrativas históricas oficiais.

 

Nome seminal da arte contemporânea, Julien nasceu em 1960 em Londres, onde vive e trabalha, e utiliza em sua obra elementos provenientes de disciplinas e práticas variadas, como o cinema, a fotografia, a dança, a música, o teatro, a pintura e a escultura, integrando-os em instalações audiovisuais, obras fotográficas e documentários. São latentes nas obras de Arjan Martins conceitos sobre migrações e outros deslocamentos de corpos e presenças entre espaços de luta e poder, e ainda as diásporas e os movimentos coloniais que se deram em territórios afro-atlânticos.  Na instalação de “Birutas” (2021) – apresentada no caminho entre a obra “Piscina” (2009), de Jorge Macchi e “A origem da obra de arte” (2002), de Marilá Dardot – Arjan expõe aparelhos destinados a indicar a direção dos ventos, que se fundem às bandeiras marítimas e seus códigos internacionais para transmitir mensagens entre embarcações e portos.  “Na fusão desses dois elementos, birutas e bandeiras náuticas, Arjan trata do trânsito de corpos através dos oceanos, do tráfico de pessoas escravizadas e das diásporas causadas pelos movimentos coloniais”, explica Douglas de Freitas, curador do Inhotim.

 

Fonte: Diário do Comércio

 

 

Pinacoteca SP e Coleção Ivani e Jorge Yunes

 

 

A Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, apresenta, de 04 de junho a 04 de julho, um conjunto de cinco obras inéditas dos participantes do programa de comissionamento artístico “Atos Modernos”. A mostra é um dos resultados do projeto homônimo realizado com a Coleção Ivani e Jorge Yunes. Em vigor desde 2021, a parceria tem se voltado a fomentar a pesquisa e o diálogo artístico entre as duas instituições, ampliando as pontes para projetos de curadoria. Em um modelo inédito no país, o museu passou a receber um aporte financeiro da Coleção Ivani e Jorge Yunes para a contratação de um curador, Horrana de Kássia Santoz, que trabalhando na Pinacoteca, pode desenvolver uma produtiva pesquisa e contribuir com a programação no museu, como a exposição “Atos Modernos”, que estimula e incentiva a produção de jovens artistas do Brasil.

 

“A Pinacoteca conta com uma grande experiência em convidar artistas a desenvolver obras especificamente para os espaços da Pina. Com este projeto, ampliamos esta prática de comissionamento para novos campos da produção e pesquisa artística contemporânea”, afirma Jochen Volz, diretor geral do museu. A seleção de artistas feita pela Curadora de Pesquisa e Ação Transdisciplinar Coleção Ivani e Jorge Yunes, Horrana de Kássia Santoz, conta com Castiel Vitorino Brasileiro, Mitsy Queiroz, Luciara Ribeiro, Olinda Wanderley Tupinambá e Charlene Bicalho.

 

Sobre a exposição

 

A exposição “Atos Modernos” estará organizada entre o edifício da Pinacoteca Luz, que receberá quatro trabalhos, e o da Pinacoteca Estação. Segundo Horrana, as obras procuraram discutir aspectos da modernidade na produção e no pensamento contemporâneo. “Em um ano de marcos importantes, como as eleições, o centenário da semana de 22 e o bicentenário da independência, tratar das contradições e das memórias que nos constituem torna-se urgente”, completa. O grupo de artistas já trabalhava com pesquisas sobre memórias e acervos, temporalidades e ancestralidades. Com duração de um ano, o programa comissionou esses trabalhos inéditos e cada um dos selecionados ganha espaço na programação pública da Pinacoteca para realização de produções presenciais ou transmitidas nas plataformas digitais do museu.

 

Fonte: RG Uol

 

Debate de Ideias

24/maio

 

 

A Aliança Francesa Porto Alegre, em parceria com a Fundação Iberê Camargo e o Centre Intermondes de La Rochelle, promove o segundo “Debate de Ideias” do ano, sobre a importância da residência artística nas artes visuais. O evento ocorre nesta quinta-feira, 26 de maio, a partir das 19h, no auditório da Fundação Iberê Camargo, com transmissão pelo YouTube da AFPOA. Antes, às 18h, será realizada uma visita mediada às exposições em cartaz:  “Magliani,  (4º e 3º andares), “Antes que se apague: territórios flutuantes” (2º andar), de Xadalu Tupã Jekupé, e “Iberê e Porto Alegre – No andar do Tempo” (Átrio). O debate será mediado pelo jornalista Roger Lerina. O evento será em português, com tradução consecutiva, realizada por Mélanie Le Bihan, diretora da Aliança Francesa.

 

Os convidados desta edição são David Ceccon, Leandro Machado, Letícia Lopes e Xadalu, artistas premiados pelo Prêmio Aliança Francesa de Arte Contemporânea, que participaram de uma residência artística no Centre Intermondes, em La Rochelle, na França, e Edouard Mornaud, diretor do Centre Intermondes (Residência Artística Internacional), ligado à Direção da Cultura e do Patrimônio da Prefeitura da cidade de La Rochelle. O debate será mediado pelo jornalista Roger Lerina.

 

Sobre os convidados

 

Edouard Mornaud tem 25 anos de experiência em funções de liderança cultural, incluindo o Departamento Cultural do Ministério dos Negócios Estrangeiros francês (Paris), como chefe do Executivo da Alliance Française em Melbourne (Austrália), adido cultural da Comissão Europeia no Sudeste Asiático, vice-curador da AFAA/ Culturesfrance (atualmente Institut Français) e, desde 2008, atua como diretor do Programa de Residência Internacional de Artes do Centro Intermondes em La Rochelle. Desde os seus primeiros trabalhos como oficial cultural, tanto para a Aliança Francesa em Bangcok, como para o Oficial Cultural Francês em Nazaré (Israel), constrói metodicamente uma carreira em torno do desenvolvimento e entrega de programas culturais complexos, com enfoque específico nas relações transculturais.

 

David Ceccon é formado em Artes Visuais pela UFRGS. Artista multidisciplinar, sua prática artística reflete sobre as existências biológicas, culturais, reais e virtuais dos sujeitos na sociedade contemporânea. Realizou seis exposições individuais e participou de diversas coletivas nacionais e internacionais. Também desenvolveu e participou de diferentes projetos na área de artes visuais, incluindo projetos gráficos e cenográficos. Ganhou o prêmio IEAVI (2016), o Prêmio Açorianos nas categorias Artista Revelação e Destaque em Gravura (2016) e o Prêmio Aliança Francesa de Arte Contemporânea (2018) – com o qual recebeu uma residência artística na França. É cocriador e artista-colaborador da Revista Fracasso (@revistafracasso), indicada ao Prêmio Açorianos (2021). Atualmente, é representado pela Galeria AURA (SP). Atua também como assistente executivo na CoCreate TH partnered with Art Sense em Londres (UK).

 

Leandro Machado é bacharel em Artes Visuais pela UFRGS. Realizou mostras individuais, como Arqueologia do Caminho (2019), no Centre Intermondes, em La Rochelle, na França, e Desenhos Esquemáticos (2018), na Pinacoteca Aldo Locatelli, em Porto Alegre.

 

Letícia Lopes é formada em Artes Visuais pela UFRGS. Desenvolvendo sua pesquisa principalmente através da pintura, a artista investiga espaços de ambiguidade e mistério entre realidade e representação, explorando o suporte e a montagem do trabalho como ferramentas para propor novos significados. Desde 2013, participa de mostras coletivas em São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, Pernambuco, França e República Checa. Em 2022, realizou sua 8ª individual, Anima, na Galeria Verve (SP), com texto de Agnaldo Farias, e, em 2019, foi a vencedora do 3º Prêmio de Arte Contemporânea da Aliança Francesa, o qual rendeu-lhe sua primeira individual fora do país, I want to be adored (La Rochelle/FR). Ainda em 2019 e  em 2021, foi indicada ao Prêmio PIPA.

 

Xadalu Tupã Jekupé é um artista mestiço que usa elementos da serigrafia, pintura, fotografia e objetos para abordar em forma de arte urbana o tensionamento entre a cultura indígena e ocidental nas cidades. Sua obra, e as conversas com sábios em volta da fogueira, tornou-se um dos recursos mais potentes das artes visuais contra o apagamento da cultura indígena no Rio Grande do Sul. O diálogo e a integração com a comunidade Guarani Mbyá permitiram ao artista o resgate e reconhecimento da própria ancestralidade. Em 2020, sua obra Atenção Área Indígena foi transformada em bandeira e hasteada na cúpula do Museu de Arte do Rio. Meses depois, venceu o Prêmio Aliança Francesa com a obra Invasão Colonial: Meu Corpo Nosso Território, que o levou a uma residência artística na França, no Centre Intermondes em 2021.

 

Sobre o mediador

Roger Lerina é jornalista e crítico de cinema, integrante da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Foi vice-presidente da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (ACCIRS), entre 2008 e 2010, e presidente, de 2010 a 2012. É editor do site Roger Lerina, uma plataforma dedicada a notícias, artigos e vídeos sobre cinema, artes cênicas, música, artes visuais e eventos culturais. Desde 2019, integra o conselho artístico do evento Noite dos Museus e a comissão de seleção das atrações musicais da Virada Sustentável em Porto Alegre. Curador da Mostra de Longas-Metragens do Festival Internacional de Cinema da Fronteira em 2018 e 2019 e dos projetos Meu Filme Favorito e Adaptação: entre a Literatura e o Cinema – ambos realizados no Instituto Ling. Também atua como repórter e crítico de cinema no Canal Brasil e programador das três salas do Cine Grand Café, no Shopping Nova Olaria, em Porto Alegre.

No auditório do MAM SP

 

 

A conversa com Kiki Mazzucchelli e Cauê Alves no auditório do MAM, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, será no dia 04 de junho às 10h. Neste bate-papo, a curadora da exposição “Samson Flexor: além do moderno”, Kiki Mazzucchelli, e o curador-chefe do Museu de Arte Moderna de São Paulo, Cauê Alves, conversam sobre a mostra que tem como objetivo trazer à luz a obra tardia de Flexor. Esse período marcou a transição do artista do moderno para o contemporâneo ao confrontar questões éticas e estéticas de sua época. Na ocasião, o catálogo da exposição estará à venda.

 

Kiki Mazzucchelli é diretora artística da Galeria Luisa Strina, em São Paulo, curadora e crítica independente, tendo realizado diversas exposições em galerias e instituições.

 

Cauê Alves é mestre e doutor em Filosofia pela FFLCH-Universidade de São Paulo. Desde 2020 é curador-chefe do Museu de Arte Moderna de São Paulo e desde 2010 é professor do Departamento de Artes da Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Artes da PUC-SP.

 

 

Bispo do Rosário no Itaú Cultural

20/maio

 

 

Um ato de criação libertário, exercido dentro de um sistema opressivo, isto é, numa cela de manicômio. Uma obra ao mesmo tempo única e feita de múltiplas partes, que exibe, sem hierarquias, mantos, estandartes, esculturas e objetos comuns, mas ressignificados. Uma representação do mundo para ser apresentada a Deus no Dia do Juízo. A partir de 18 de maio – Dia Nacional da Luta Antimanicomial -, o Itaú Cultural, Avenida Paulista, apresenta a exposição “Bispo do Rosario – eu vim: aparição, impregnação e impacto”, que reúne centenas de trabalhos de Arthur Bispo do Rosario (1911-1989), em paralelo com outros artistas, modernos e contemporâneos.

 

 

Sobre o artista

 

 

Nascido em Sergipe, Arthur Bispo do Rosario se mudou para o Rio de Janeiro aos 14 anos. Na cidade, foi empregado pela Marinha brasileira – as referências ao trabalho no mar estão presentes na sua obra – e pela companhia de eletricidade Light, além de atuar como boxeador. Em dezembro de 1938, após ter se apresentado no Mosteiro de São Bento como juiz dos vivos e dos mortos, foi diagnosticado como esquizofrênico-paranoico. Primeiro, foi levado ao Hospital dos Alienados; depois, à Colônia Juliano Moreira, instituição em Jacarepaguá voltada para os loucos e outros excluídos. Entre 1940 e 1960, alternou períodos de internação e de moradia em outros lugares. Em 1964, voltou para a colônia em definitivo.

 

 

Nessas décadas posteriores ao seu episódio místico, Bispo construiu sua obra. Na colônia, desfazendo uniformes dos funcionários, além de lençóis, conseguia os fios para tecer as suas invenções. Por meio do escambo com outros internos, juntava diversos itens. Tanto recuperava memórias suas quanto representava acontecimentos da época, colhidos nos jornais, em seu trabalho. Na década de 1980, essa atuação – em meio a debates da luta antimanicomial e de questões da arte de então – passou a impactar o pensamento social e artístico brasileiro. Nesse contexto, suas criações surgiram com uma potência nova.

 

 

Diálogos modernos e contemporâneos

 

 

“Bispo do Rosario – eu vim: aparição, impregnação e impacto” conta também com trabalhos de artistas cujas perspectivas criativas têm afinidades com as de Bispo. Nesse sentido, um dos destaques são os integrantes do Ateliê Gaia, coletivo formado por pessoas que tiveram passagem pelo serviço de saúde mental da Colônia Juliano Moreira. Do grupo, mostram-se, entre outras, obras de Arlindo Oliveira e de Patrícia Ruth, que conviveram com Bispo. Entre os outros artistas contemporâneos presentes estão Carmela Gross, Leonilson, Sônia Gomes, Jaime Lauriano, Fernanda Magalhães, Paulo Nazareth, Rosana Paulino, Rick Rodrigues, Rosana Palazyan e Maxwell Alexandre. Além deles, a mostra traz nomes que marcaram o cenário das artes brasileiras ao longo do século XX, como Abraham Palatnik, Regina Silveira, Aurora Cursino, Flávio de Carvalho, Djanira, Geraldo de Barros, Maria Leontina, Edgar Koetz, Antônio Bragança, Carlos Pertuis, Ivan Serpa, Mônica Nador, Maria Aparecia Dias e Ubirajara Ferreira Braga.

 

 

Esta exposição é realizada em uma parceria do Itaú Cultural (IC) com o Museu Bispo do Rosario, do Rio de Janeiro, e tem curadoria de Diana Kolker e Ricardo Resende.

 

 

Minidocumentário e entrevistas

 

 

Acompanhe o nosso canal no YouTube, em que serão publicados conteúdos exclusivos que aprofundam a experiência da mostra: um minidocumentário sobre Arthur Bispo do Rosario que descreve a sua trajetória e as características da sua produção, e uma série de entrevistas com artistas que participam da mostra, como Maxwell Alexandre, Arlindo Oliveira e Patrícia Ruth. Esses materiais serão vinculados também neste texto

 

 

Até 02 de outubro.

 

 

Seminário presencial

 

 

O Museu do Pontal, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, RJ, realiza em sua nova sede, o seminário “Modernismos, arte e cultura popular”, com dois encontros presenciais: o primeiro em 21 de maio e o segundo em 11 de junho. As relações entre modernismos e cultura popular brasileira permearão as discussões. O evento busca rever, pensar e entender melhor as conexões que podem ser feitas a partir de um Museu de arte popular em meio às comemorações dos 100 anos da Semana de Arte Moderna (1922-2022).

 

 

“O ato de comemorar implica não só lembrar e memorar algum evento, como também uma oportunidade para repensarmos seus significados, limites e transformações”, afirma Angela Mascelani, diretora do Museu do Pontal junto com Lucas Van de Beuque.

 

 

Entre os convidados estão os historiadores Martha Abreu, Durval Muniz de Albuquerque Júnior, Juliana Pereira, Lurian R. S. Lima; o sociólogo André Botelho, a cientista política Angela de Castro Gomes; os antropólogos Maria Laura Cavalcanti e Vinicius Natal; os curadores e ensaístas Clarissa Diniz e Frederico Coelho, e a historiadora da arte Renata Bittencourt. Alguns temas a serem debatidos são as narrativas dos intelectuais e artistas considerados modernistas em torno da cultura popular; e música popular e modernidade negra.

 

 

Os ingressos para os debates são gratuitos ou contribuição voluntária, e poderão ser adquiridos previamente pela plataforma Sympla.

 

 

Haverá certificado de participação.

Modernismos, Arte e Cultura Popular – Programação

21 de maio de 2022, sábado

10h – Abertura – Lucas Van de Beuque, Angela Mascelani e Martha Abreu

10h30 às 12h – Disputas de memória: por que debater a Semana de Arte Moderna de 1922?

Durval Albuquerque Junior e Angela Castro Gomes

Mediação: Juliana Pereira

14h às 15h30 – Qual o papel da cultura popular e de seus agentes nos rumos do modernismo?

Maria Laura Cavalcanti e Martha Abreu

 

 

 

Outra visão do Brasil do século XIX

19/maio

 

 

Johann Moritz Rugendas, Emil Bauch, Thomas Ender, Friedrich Hagedorn, Eduard Hildebrandt e Augusto Müller são alguns dos artistas e cientistas germânicos que registraram a paisagem humana e natural do país

 

 

Em 1999, o casal Maria Cecília (1922-2014) e Paulo Geyer (1921-2004) doou ao Museu Imperial, em Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro, sua coleção de arte e a casa que a abriga, no bairro carioca do Cosme Velho. Em 2014, a Coleção Geyer foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), tornando-se Patrimônio Cultural do Brasil. O conjunto era considerado a maior brasiliana em mãos particulares do país.

 

 

A partir desta coleção preciosa de 4.255 pinturas, gravuras, desenhos, mapas, livros de viagem e objetos, os curadores Maurício Vicente Ferreira Júnior, diretor do Museu Imperial, e o historiador de arte Rafael Cardoso selecionaram 200 obras, para reconstituir parte da contribuição germânica (alemães, austríacos e suíços) à formação cultural do Brasil do século XIX, completada por peças do acervo do Museu Imperial e itens emprestados da coleção particular de Flávia e  Frank Abubakir. Nasceu, assim, a mostra “O Olhar Germânico na Gênese do Brasil”, em cartaz a partir de sábado, 21 de maio, no Museu Imperial, sob patrocínio da Unipar, através da Lei de Incentivo à Cultura.

 

 

“Ao contrário do que preconiza o senso comum, que costuma enfatizar a relação com a França, a participação de artistas de língua alemã foi intensa e constante ao longo do século XIX. A exposição recupera o legado desses artistas através das obras de Thomas Ender, J.M. Rugendas, barão de Löwenstern, Ferdinand Pettrich, Augusto Müller, Friedrich Hagedorn, Eduard Hildebrandt, Franz Keller, Ernst Papf, Emil Bauch, entre outros, oferecendo uma visão nova e vibrante do Brasil numa época formativa para a ideia da nacionalidade”,  declara a curadoria.

 

 

Cena política internacional

 

 

Foi depois da derrota de Napoleão Bonaparte que o Império Austríaco e o Império Português, então sediado no Rio de Janeiro, começaram a firmar uma aliança estratégica – expressada pelo casamento do príncipe D. Pedro de Alcântara com a arquiduquesa Leopoldina, filha do imperador austríaco Francisco I, em 1817. A comitiva que acompanhou a futura imperatriz em sua vinda ao Brasil incluiu os naturalistas Johann Baptist von Spix e Carl Friedrich Philipp von Martius, incumbidos pela Academia de Ciências da Baviera de realizarem longa viagem de pesquisa pelo país. Trocas efetivas se ampliaram a partir de então.

 

 

A exposição

 

 

“O Olhar Germânico na Gênese do Brasil” está dividida em núcleos que contemplam os temas: Rio de Janeiro à vista – pinturas de paisagem com temática do RJ; Retratos da vida da corte – retratos de notáveis do Império; Olhar a gente brasileira – obras com figuras anônimas, a maioria aquarelas e desenhos; Imaginar o Brasil – livros e estampas litográficas relacionadas a vistas e viagens pelo país, e O olhar do colecionador, instalação com imagens e objetos da Casa Geyer.

 

 

Rio de Janeiro à vista

 

 

Com a abertura dos portos em 1808, passaram a circular pelo mundo marcos paisagísticos do Rio de Janeiro, como Corcovado, Pão de Açúcar, Igreja da Glória e Morro do Castelo, em pinturas e litografias. Esta internacionalização propiciou trânsito comercial, diplomático, científico e a vinda de artistas, atraídos pela natureza deslumbrante do novo país. Muitos vinham de países de língua alemã. Neste núcleo está a contribuição destes artistas à formação de uma iconografia da cidade. A onipresença da escravidão não escapou à atenção dos pintores.

 

 

Retratos da vida da corte

 

 

A concessão de títulos nobiliárquicos e honrarias servia para confirmar o status social e econômico. Os contemplados iam da família imperial a súditos anônimos e duques, marqueses, condes, viscondes, barões, comendadores e dignatário de ordens imperiais. Neste segmento estão retratos pintados de notáveis. Eles exerceram a função de dar visibilidade à posição social do retratado. O mercado local se tornou atraente para artistas estrangeiros especializados em retratos. E eles vieram para o Brasil.

 

 

Olhar a gente brasileira

 

 

Os artistas do século XIX registraram o cotidiano de uma sociedade ainda afundada nas relações perversas com a escravidão. A massa escravizada, presente na paisagem humana, está retratada nos trabalhos deste núcleo. A estranheza do cenário aos olhos dos artistas estrangeiros os moveu a chamar a atenção do mundo para a situação dos escravos, que a sociedade fingia ignorar.

 

 

Imaginar o Brasil

 

 

A circulação internacional de livros, estampas, panoramas e álbuns de vistas deste segmento evidenciou a contraposição entre uma Europa civilizada e o suposto exotismo do resto do mundo. O imaginário que se formou da natureza tropical, selvagem e indomável, passou a confrontar uma ideia de domesticidade e civilidade como marcas de pertencimento cultural. O olhar estrangeiro oferecia uma lente para os brasileiros que quisessem enxergar a imensidão do Brasil.

 

 

O olhar do colecionador

 

 

Maria Cecilia e Paulo Geyer passaram quatro décadas a coletar, em casas de leilões mundo afora, pinturas, gravuras, desenhos, mapas, livros de viagem e objetos de arte para criar a Coleção Geyer.  A doação integral do conjunto e da casa que o abriga a uma instituição pública (Museu Imperial) é um exemplo de caráter social e merece ser sempre festejada. Esta sala se dedica a invocar o espírito do casal de filantropos e recordar um ambiente da casa em que viveram durante tantos anos no Rio de Janeiro.

 

 

Homenagem a Petrópolis

 

 

Completam a mostra objetos produzidos por artistas germânicos radicados em Petrópolis, como as esculturas de madeira de Carlos Spangenberg –  suas bengalas eram apreciadas por D. Pedro II. Copos e pesos de papel de vidro e cristal lapidados por Henrique e Guilherme Sieber, eram os souvenirs mais procurados pelos que visitavam Petrópolis. As peças destes artistas e mais as pinturas de Karl Ernest Papf e de Friedrich Hagedorn, pertencentes à coleção do Museu Imperial, estarão lado a lado com itens da Coleção Geyer, como paisagens da cidade serrana e seus arredores. É uma homenagem da curadoria a Petrópolis, tão afetada pelas chuvas recentes.

 

 

Patrocínio

 

 

“O Olhar Germânico na Gênese do Brasil” tem patrocínio, através da Lei de Incentivo Fiscal, da Unipar, hoje fabricante de cloro, soda e PVC, cuja origem, a Refinaria União, foi fundada por Alberto Soares de Sampaio, pai de Maria Cecília Geyer, como refinaria de petróleo. Seu genro Paulo Geyer se tornou sócio de Alberto neste negócio. Após a morte de Geyer em 2004, seu neto Frank Geyer Abubakir entrou para o conselho da empresa, representando os herdeiros. Em 2008, Frank se tornou chairman e atualmente é presidente do conselho da Unipar.