O Círculo e seus Significados

09/jul

 

 

Ecila Huste apresenta nova exposição, a partir de 15 de julho, na Sala Redonda do terceiro andar do Centro Cultural Correios, Centro, Rio de Janeiro, RJ. Ao receber o convite para expor nesta sala, a artista, que é representada pela Duetto Arts New York, resolveu criar um site specific, um painel feito de tiras de tecido de várias cores, previamente grafitadas e trançadas, formando uma pintura com relevo que vai abraçar o diâmetro do espaço e tem cerca de vinte metros de comprimento.

 

 

“É muito instigante criar uma obra para uma sala circular”, diz Ecila, “pois o círculo é uma forma geométrica muito bonita e, além de representar a unidade, é também símbolo de perfeição, inteireza, completude, a totalidade, o infinito.  Essa forma sempre existiu na natureza e está presente no miolo de uma flor, nos ninhos dos pássaros, em algumas espécies de frutos, na concha de um caracol, na íris dos olhos e também em cada movimento cíclico, como as estações do ano e o movimento do sol e da lua”.

 

 

Ecila Huste vem desenvolvendo há vários anos um trabalho de pintura que ela chama de entrelaçamento – de cores, de formas, de fios, de gestos e de percursos.  Dentro deste conceito da não separação, que é milenar, tudo no universo está interligado, formando uma unidade.

 

 

A palavra do curador Ruy Sampaio

 

 

Sabem todos que, nas culturas orientais, as mandalas apontam para a perfeição, seja na tese do Eterno Retorno, do Vedanta, seja na diluição dos pares de opostos, que levaria ao sartori, dos budistas. Portanto, não é somente a bem achada maneira de vencer o desafio de um espaço circular pré-existente que leva Ecila Huste a conformar a ele esses relevos que agora o preenchem – a opção pelo círculo aqui diz mais. Ela o faz sob uma exigência estética irretocável, mas atenta a um rico feixe de significados que, histórica e antropologicamente, perpassam aquela metáfora milenar. E aqui transparece a Ecila também psicóloga de profissão. Ao vir da pintura plana para o universo tridimensional do relevo a artista guarda todos os valores de um desenho limpo e refinado que um dos seus mestres – ninguém menos que Aluisio Carvão – um dia chamou de precioso. Por entre suas tramas as cores amorosamente se enlaçam como aquelas do poema de Drummond, na continuidade fluente de um cromatismo único que já dantes nos seduzia em suas telas.  Deliberadamente os fios que enfeixam os diversos momentos dessa pintura tão integradamente objetual permanecem aparentes como se a artista os quisesse um testemunho da elaborada manualidade de sua artesania.

 

 

O processo de criação 

 

 

A princípio, Ecila Huste começou trabalhando com guache. Depois veio a aquarela, mais tarde a tinta acrílica, técnica mais explorada ultimamente. Ecila sempre foi atraída pelos grandes espaços, o que acabou influenciando o tamanho das telas, que foi pouco a pouco aumentando, até chegar a uma obra de dez metros de comprimento por um metro e sessenta de largura. Em sua pintura as cores e formas se entrelaçam o tempo todo, como uma teia, por toda a extensão de suas obras. O trabalho final é quase sempre exuberante em cor e tem um grau de movimentação incessante.

 

 

Sobre a artista

 

 

Artista visual carioca, Ecila Huste atua no campo das artes plásticas desde 1981. Sua formação artística passa pela Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV), Museu de Arte Moderna (MAM) e Centro de Arte Contemporânea, no Rio de Janeiro, Brasil. Participou de inúmeras exposições no Brasil e no exterior, com destaque para individuais realizadas no Centro Cultural Correios (2018), Casa de Cultura Laura Alvim (RJ-2003), Museu Nacional de Belas Artes (RJ-1997), Centro Cultural Candido Mendes (RJ-1994), Centro Cultural CEMIG (MG-1994), Universidade Federal de Viçosa (MG-1994), Museu do Telefone (RJ-1993), Palácio Barriga Verde (SC-1993), Sala Miguel Bakun (PR-1992) e Espaço Cultural Petrobrás (RJ-1985). Ecila Huste é artista da Duetto Arts New York e faz parte do coletivo Zagut no Rio de Janeiro. Trabalha com pintura, fotos, objetos e gravura digital. A artista trabalha e reside no Rio de Janeiro.

 

 

Até 28 de agosto.

 

 Na Japan House

07/jul

 

A nova exposição da Japan House, Avenida Paulista, São Paulo, SP, apresenta as janelas como elementos fundamentais da   sociedade japonesa, além de ser ponto focal da representação da coletividade em tempos de Pandemia.

 

 

Depois de ser exibida na Japan House Los Angeles, a exposição inédita “WINDOWOLOGY: Estudo de janelas no Japão”, fica em cartaz até 22 de agosto com entrada gratuita. Tendo como ponto de partida o papel das janelas no design, na construção das relações sociais, nas artes, na arquitetura e na literatura, a exposição foi concebida pelo Window Research Institute, instituição japonesa que realiza pesquisas em torno deste elemento que, à primeira vista pode parecer ter um papel simples no cotidiano, mas que se torna imprescindível, principalmente em momentos de reclusão social como o que o mundo vive atualmente. Por meio de nove categorias, a exposição propõe diversas leituras sobre a representação da janela nos processos artesanais, em produções audiovisuais, na construção das casas de chás, na arquitetura contemporânea, nos mangás, nas suas diferentes aplicações nos diversos ambientes japoneses e seus múltiplos formatos, que foram se refinando e se adaptando às necessidades das diferentes culturas ao longo da história.

 

Em cartaz no segundo andar da instituição, a “WINDOWOLOGY: Estudo de janelas no Japão” explora a janela por meio de desenhos técnicos, maquetes, fotos, vídeos, mangás e obras literárias, que buscam mostrar aos visitantes as janelas como um dos componentes mais fascinantes da arquitetura e do dia a dia de todos. Para isso, apresenta seus diferentes tipos e movimentos, sua posição de destaque em ambientes e histórias, assim como revela sua potência, capaz de conectar o externo e o interno, permitir entrada de luz e ar nos ambientes, proteger do frio e da chuva e fazer com que seja possível observar o outro, a natureza e o movimento das cidades e das pessoas.

 

Falando sob o viés arquitetônico, no contexto japonês elas são, em sua maioria, feitas em madeira e compostas por colunas e vigas. Os vãos possuem características peculiares: quando se move um tategu (portas e janelas), o espaço transforma-se em um ambiente inteiramente ventilado. Um exemplo que reflete esse uso são as salas de chá japonesas (chashitsu), um programa arquitetônico especial que reúne diferentes tipos de janelas num espaço pequeno, em especial, o Yōsuitei, denominado também de Jûsansōnoseki (sala de 13 janelas), casa de chá que possui o maior número de janelas e que, nesta mostra, será exibida como uma réplica em tamanho real (escala 1:1) feita de papel artesanal japonês (washi).

 

Outra perspectiva apresentada na exposição é a relação das janelas com os locais de trabalhos manuais no Japão. Nesses ambientes, elas possuem lugar de destaque, inserindo ou expulsando elementos como a luz, o vento, o calor, a fumaça e o vapor, por exemplo, que alteram características de materiais como argila, madeira, tecido e papel. “As janelas são repletas de simbologias e atribuições poéticas e valorizar algo que está ao nosso lado nem sempre é uma percepção imediata. Mas basta pensar nas consequências da sua ausência, especialmente em tempos de confinamento e isolamento, para entendermos o porquê de elas merecerem tanta deferência”, afirma Natasha Barzaghi Geenen, diretora cultural da Japan House São Paulo.

 

 

Para Igarashi Taro, curador da mostra, além de seu valor histórico e arquitetônico, as janelas desempenham papel sem igual durante uma crise, por permitirem que as pessoas possam compartilhar esperança e gratidão de forma única. “As janelas sempre evocaram comportamentos específicos em pessoas de diferentes regiões e culturas – e essa diversidade pode ser reconhecida ainda hoje, em meio à pandemia”, afirma dando exemplos como “Ir até a varanda cantar ópera para os vizinhos, mandar mensagens de agradecimento aos profissionais de saúde e passar objetos pela janela para garantir o distanciamento social”. Taro é Doutor em engenharia, historiador, crítico de arquitetura e leciona na Universidade de Tohoku, em Sendai, no Japão. Foi curador do Pavilhão japonês na Bienal de Veneza, em 2008 e atuou como diretor artístico da Trienal de Aichi, em 2013.

 

 

“WINDOWOLOGY: Estudo de janelas no Japão” chega como uma leitura sobre o papel das janelas no mundo, como objetos culturais que relatam as diferentes visões e perspectivas sobre o que se vive hoje. A exposição conta com programação paralela online e conteúdos compartilhados por meio das redes sociais da Japan House São Paulo e, depois de passar por São Paulo, segue ainda este ano para a Japan House Londres.

 

 

Sobre o Window Research Institute

 

O projeto de pesquisa WINDOWOLOGY faz parte das atividades do Window Research Institute (Instituto de Pesquisas sobre Janelas) e se baseia na crença de que as janelas refletem a civilização e a cultura ao longo do tempo. Esse instituto dedica-se a contribuir para o desenvolvimento da cultura arquitetônica mediante a coleta e disseminação de uma vasta gama de ideias e conhecimentos sobre janelas e arquitetura, por meio do apoio e organização de iniciativas de pesquisa e projetos culturais. Nos últimos 10 anos, além de diferentes frentes de estudo, o Instituto também vem desenvolvendo projetos internacionais que englobam temas relacionados a arquitetura, cultura e artes, com a colaboração de diferentes instituições de pesquisa, museus e órgãos privados, entre outros.

 

 

Fonte: ARTSOUL

 

 

A arte urbana de Daniel Melim

05/jul

 

 

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, anuncia para o dia 07 de agosto, a exibição de “Reconstrução”, mostra do artista Daniel Melim. Com curadoria de Miguel Chaia e co-curadoria de Baixo Ribeiro e Laura Rago, a mostra apresentará doze trabalhos de sua mais recente produção, aliando obras de grandes formatos com outras menores, que tem como foco principal a pintura, oriunda da arte urbana, com o frescor de novas técnicas para uma linguagem artística tão consagrada.

 

 

“As obras buscam reorganizar o espaço pictórico através das diversas “fatias” colocadas lado a lado, compondo um campo dos mais variados contrastes, tendo como técnica principal o stencil (molde vazado), muito utilizado na arte urbana e tendo como principal expoente o artista Alex Vallauri”, diz o artista.

 

 

Daniel Melim é considerado um dos nomes mais importantes no cenário da street art. Um dos seus trabalhos, a grande pintura da moça loira que ocupa a lateral de um prédio perto da Pinacoteca de São Paulo, na avenida Prestes Maia, foi eleito, em 2013, como o mural representativo da cidade.

 

 

Dos quadrinhos para o mundo

 

 

Nascido e criado em São Bernardo do Campo, filho de pai metalúrgico da Volkswagen e de mãe professora primária, desde muito cedo, Daniel Melim teve acesso aos livros, e foram as ilustrações que sempre lhe chamaram a atenção. Aos 13 anos, começou a frequentar a primeira pista de skate da cidade, que tinha visual estético marcado pelo pixo e pelo grafite. Foi ali que conheceu o estêncil, técnica da arte de rua que predominava naquele espaço. As intervenções eram feitas por nomes que ficaram muito conhecidos na cena urbana do ABC, como Jorge Tavares, Job Leocadio, Marcio Fidelis e Vado do Cachimbo.

 

 

Fascinado por aqueles desenhos que valorizavam a repetição e a ilustração, ele começou a tentar reproduzir por conta própria. Resgatou traços da linguagem de quadrinhos para ilustrar sua primeira personagem, uma figura de uma mulher chorando. Na sequência, fez um homem gritando.

 

 

No ano 2000, conheceu Rodrigo Souto, também chamado de Maionese, e, ao lado dos grafiteiros Ignore, Sapo e Tomate, criou a Crew Ducontra. “A gente tinha de ser  “du contra”: se o lance era fazer letra, íamos e fazíamos algo diferente”, lembra. Ali surgia a técnica da tinta escorrida, um olhar mais aprofundado para as texturas, que ele leva até hoje para seu trabalho.

 

 

Foi aí que Daniel Melim resolveu se apropriar da técnica do estêncil tornando-a sistematicamente a linguagem principal do seu trabalho e gerando, assim, o DNA de sua obra. Além da arte de rua, sua pintura já foi apresentada em galerias e museus no Brasil, Alemanha, França, Suíça, Espanha, Inglaterra e Austrália.

 

Individual de Victor Arruda

01/jul

 

 

A exposição “TEMPORAL” exibição individual de pinturas e desenhos de Victor Arruda é o próximo cartaz do Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ. A curadoria é assinada por Adolfo Montejo Navas, autor de livro já editado sobre o artista.

 

 

De 08 de julho a 26 de setembro. 2021.

 

Catálogo de obras do MACRS

30/jun

 

 

Ficou pronto e já foi lançado o Catálogo Geral de Obras do Acervo do Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS). O projeto Arte Contemporânea RS, responsável por esta ação fundamental no campo das artes visuais, direcionou seu olhar para a catalogação do acervo do MACRS, resultando em uma publicação em formato impresso e digital. O cuidadoso trabalho desenvolvido pela equipe de pesquisa, coordenado pela gestora e produtora cultural Vera Pellin, e orientado pela pesquisadora e curadora do projeto Maria Amélia Bulhões, catalogou 1813 obras de 921 artistas.

Em edição trilíngue (português, espanhol e inglês), o catálogo também é apresentado em versão online gratuita para download no site www.acervomacrs.com.  A versão impressa é composta de 304 páginas e tem tiragem de 1.200 exemplares, a distribuição será administrada pela Associação de Amigos do MACRS (AAMACRS).

 

 

O processo de trabalho, realizado pelo conjunto de profissionais e colaboradores, incluiu as etapas de pesquisa, documentação, digitalização, edição e impressão, demandando intensa dedicação, atenção e aprendizado. Entre os possíveis desdobramentos do projeto está a difusão e divulgação em diferentes mídias deste acervo de arte contemporânea que vem se constituindo ao longo de quase três décadas. Diferentes visões de mundo e expressões a respeito do nosso tempo disponíveis a partir de agora em condição permanente. A partir do olhar desta geração de artistas se manifesta a história da arte contemporânea no Rio Grande do Sul, sendo o MACRS o principal Museu do estado focado nas atividades de preservação e conservação desta memória para as gerações futuras.

 

 

“A edição do Catálogo do Acervo do MACRS, com 1813 obras de 921 artistas, tem caráter inédito e viabilizará à comunidade artística a promoção, difusão, preservação e acesso à informação deste valioso patrimônio cultural, além de fonte de pesquisa ao público especializado e interessado. Sua edição impressa e digital possibilitará a emersão de novos processos de leitura e significação da arte ao conhecer, de forma ampliada, todas as obras que compõem este valioso acervo, suas linguagens, diversidade de técnicas e práticas artísticas”, afirma Vera Pellin.

 

 

Para o diretor do MACRS, André Venzon, a publicação é um forte indício da consistência desse caminho do Museu, de resgate da biografia desses artistas, doadores, gestores, servidores, estagiários e colaboradores que apontaram essa história, do seu início até hoje, para as novas gerações. “Trata-se de uma publicação indispensável para todos que desejam conhecer mais sobre arte contemporânea, com toda a força e pluralidade que a sua produção representa.”

 

 

“Compartilho de uma emoção coletiva ao finalizar o projeto Arte Contemporânea RS, destinado à catalogação do acervo do MACRS, que foi um grande desafio para todos os colaboradores e uma realização pessoal e institucional”, afirma a curadora Maria Amélia Bulhões. Para a professora e pesquisadora da UFRGS, “agora é possível olhar a totalidade do trabalho desenvolvido e perceber a amplitude e diversidade desse acervo, ondem se destacam obras em fotografia (469) e gravura (422), seguidas de pintura (236), desenho (167) e escultura (126), além de categorias mais recentes como vídeo (82) e livros de artistas (30), entre outras”.

 

 

A leitura da publicação, assim como da exposição, propõe um exercício experimental de compreensão, que amplia significados sem criar categorias ou estereótipos, destacando obras que marcam significativamente mudanças de perspectiva na produção artística da contemporaneidade, por suas estratégias, seus recursos materiais, formais ou de conteúdo. “Certas obras investigam os universos não hegemônicos, como o feminino, o negro, o indígena ou o marginal, procurando instaurar no sistema da arte a crítica e os debates de gênero, etnias e relações sociais conflitantes. O corpo é forte presença, colocando em pauta aspectos reprimidos da sexualidade. A relação com todas essas problemáticas tem espaço no conjunto da coleção”, complementa a curadora.

 

 

O projeto ainda contempla uma significativa exposição do acervo no MACRS, que pode ser conferida até 22 de agosto, com curadoria de Maria Amélia Bulhões, nas galerias Sotero Cosme e Xico Stockinger, além do espaço Vasco Prado, no 6º andar da Casa de Cultura Mário Quintana. De forma presencial e também virtual, o público pode conferir mais de setenta obras em diferentes suportes, marcando a multiplicidade e representatividade desse acervo.

 

Mostra individual de Arthur Scovino

O Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ, em parceria com o projeto de extensão Arte & Curadoria, vinculado ao Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), apresenta “Lágrimas de Nossa Senhora”, sétima exposição individual de Arthur Scovino, artista licenciado em Desenho e Plásticas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) que investiga símbolos atravessadores do afeto subjetivo e da memória cultural, a partir da presença pulsante do seu corpo.

 

 

Presente em coleções do Museu de Arte Moderna da Bahia, com participação marcada na 3ª Bienal da Bahia e na 31ª Bienal de São Paulo, o artista já indicado três vezes ao Prêmio Pipa agora apresenta parte da sua produção no Paço Imperial, lugar onde iniciou seu contato com as exposições cariocas e conheceu A Imagem do Som, uma série de exibições que propunham interpretações de canções brasileiras por artistas contemporâneos. Esse encontro instigou a relação do artista com a música popular brasileira e as capas de discos, desdobrando-se inclusive na realização da mostra individual, inspirada na música “Um Índio”, de Caetano Veloso. A partir dessa canção, Arthur Scovino, na busca do “ponto equidistante entre o Atlântico e o Pacífico”, propõe uma relação com pontos do Brasil e suas paisagens, como a capital do Estado do Mato Grosso.

 

 

Com curadoria de Marcelo Campos e assistência dos colaboradores do Arte & Curadoria, projeto universitário de sua coordenação, a individual apresenta alguns trabalhos inéditos e a instalação “Lágrimas de Nossa Senhora”, uma referência às sementes presentes nas contas de rosário, utilizadas em cultos católicos e afro-brasileiros, que são fiadas pelo artista junto a meditações durante suas ativações performáticas. A exposição homônima propõe um encontro entre o simbólico e o terreno, apresentando articulações de ícones religiosos da cultura brasileira, e suas potências visuais múltiplas, estabelecendo um pensamento mágico que, como um sismógrafo de epifanias, busca captar em cada gesto e, em cada movimento, os sinais que a terra pode nos apresentar.

 

 

Em exibição de 08 de julho a 26 de setembro.

 

 

Esperança

29/jun

 

O Museu de Arte Sacra de São Paulo – MAS/SP, instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, exibe até 22 de agosto, “Esperança”, mostra coletiva sob curadoria de Simon Watson, composta por trabalhos dos artistas contemporâneos Ana Júlia Vilela, Andrey Rossi, Desali, Enivo, João Trevisan, Leandro Júnior, Lidia Lisbôa, Mag Magrela, Moisés Patrício, Paulo Nazareth, Thiago Rocha Pitta, Yasmin Guimarães, onde cada obra é acompanhada de um texto crítico assinado por curadores convidados Thierry Freitas, Márcio Harum, Fernando Mota, Carlo McCormick, André Vechi, Jackson Gleize, Mirella Maria, Gabriela Longman, Guilherme Teixeira, Janaina Barros,  Ulisses Carrilho e Carollina Lauriano.

 

O segundo evento do Projeto LUZ Contemporânea, Esperança, traz a sensação de acolhimento, do olhar para frente, do ser bem-vindo. “Vista pelas lentes de diversas práticas artísticas contemporâneas, Esperança é uma observação curatorial caleidoscópica buscando resposta aos 18 meses de pandemia. Para muitos de nós, o ano passado pareceu se arrastar, de forma lenta e dolorosa. Foi um tempo de espera e esperança, um tempo de autorreflexão. Um período que despertou consciências, tanto pessoais como coletivas, em resposta a uma crise global de saúde; como cada um de nós se relaciona com o outro e como compartilhamos nossa saúde coletiva”, explica o curador Simon Watson. Como mote para exposição, um dos conceitos que interligam os trabalhos são as múltiplas formas pelas quais as mãos e corpos dos artistas se fazem presentes na criação dessas obras de arte. “Ao reafirmar sua presença, esses artistas confirmam nossa existência como humanos e, com a presença de sua mão somos lembrados de nossa impermanência, da fragilidade de nossas vidas. E por serem obras de arte, possuem uma permanência no registro de nosso tempo. Na presença da mão do artista, encontramos sinais pessoais de propósito, determinação e esperança”, conclui o curador.

 

 

Como um presente adicional ao público, Simon Watson convidou críticos e curadores do circuito cultural para escreverem sobre as obras exibidas por cada um dos artistas participantes: “como um estrangeiro engajado e apaixonado pela cena cultural brasileira contemporânea, estou muito impressionado com a nova onda de curadores e críticos de arte brasileiros que, por conta própria, estão forjando uma nova versão da história da arte, vista por meio de perspectivas novas e variadas. Fazendo perguntas provocativas sobre quem está faltando e porque, sua investigação enérgica está provocando e apoiando artistas e diversas práticas artísticas. Meu interesse por esta nova onda levou-me a convidar profissionais das artes para fazerem ensaios para cada um dos 12 artistas de Esperança”.

 

 

Os 54 trabalhos – bidimensionais, tridimensionais, tecnológicos – de Esperança, que abrangem técnicas diversas como aquarelas, pinturas, grafitti, esculturas, fotografias e vídeo performances, estão dispostos na sala de exposições temporárias do MAS/SP bem como em seu jardim interno – Jardim do Claustro – como um brinde de formas, cores e convite a estar perto.

 

 

Os trabalhos de Andrey Rossi sugerem uma meditação tranquila em uma enfermaria de hospital fictício. Os desenhos são altamente detalhados e formam a base de um ciclo contínuo de pinturas que, por mais que pareça um assunto sombrio, são estranhamente sedutoras e transmite uma mensagem poderosa e agem como meditação e celebração do impulso humano para superar a tragédia e descobrir a vida no mais improvável dos lugares. Desdobrando materiais primordiais está Leandro Júnior cujas pinturas figurativas de argila líquida se inspiram na cultura do vale do Jequitinhonha onde cresceu e no material com que pinta. Seus retratos invocam pungência e tristeza, bem como sentimentos de empoderamento, pois as figuras parecem estar contemplando a luz de um dia de céu azul.

 

 

Muito parecido com um oratório contemporâneo, Desali faz acrílicos em escala íntima pintados em pedaços de madeira de descarte. São atos de meditação pessoal, um reflexo do sofrimento cotidiano, frequentemente impregnado pela presença de luz natural e céus radiantes. Temas do cosmos podem ser claramente sentidos nas pinturas terrestres e paisagísticas de Yasmin Guimarães. Em pequena escala, examinando detalhes aparentemente microscópicos ou em telas maiores e robustas, ela é um mundo de magia e maravilhas no mundo natural. Moisés Patrício se apresenta com uma pintura em grandes dimensões que retrata uma mulher negra vestida de branco em um ritual performativo de nascimento e renascimento. Um momento comovente e comemorativo.

 

 

Esperança apresenta três murais site specific nas paredes do museu. Dois dos murais estão nas extremidades da sala expositiva. De um lado, uma figura feminina pintada por Mag Magrela e do outro, uma figura xamã masculina pintada por Enivo. Mag Magrela se inspira no tumulto das imagens urbanas e na mistura das culturas brasileiras. A imagem retrata um mundo de gigantes gentis, mulheres que são poderosas e dominadoras, mas ainda mantêm uma intimidade vulnerável em seus olhos, bem como em sua postura. Enivo está presente na cena mural de rua de São Paulo, e se tornou conhecido por suas pinturas de prática de estúdio “alienígenas futuristas”, que nesta exposição vê a união dos dois, uma enorme pintura mural de uma figura futurista semelhante a um xamã de otimismo e esperança instalada com um agrupamento de pinturas de resina.

 

 

Ana Júlia Vilela cria um terceiro mural no centro da sala expositiva onde combina intervenção direta na parede e um aglomerado de telas. Ela brinca com o espectador, revelando apenas alguns fios de investigação pictórica, todos interrompidos por fragmentos de texto que lembram um tweet ou a troca casual de uma breve conversa.

 

 

O tema do fogo e da ressurreição ígnea tem sido um elemento recorrente na ampla prática de Thiago Rocha Pitta. Suas aquarelas sugerem um mundo mítico e ardente equilibrado entre o apocalíptico e o alucinógeno. Igualmente alucinógena é uma performance de Lidia Lisbôa. Suas esculturas do Casulo são uma versão suave de sua mediação ao longo da vida sobre o tema dos formigueiros encontrados em todo o Brasil. A exposição inclui a vídeo-performance Alvorecer.

 

 

O tema abrangente da exposição é retratado de forma mais vívida no vídeo performático “Cuando tengo comida en mis manos” de Paulo Nazareth. Situado contra um céu azul claro, ele lembra São Francisco como a ação de mãos erguidas com comida e pássaros se precipitando e se alimentando parece tão generoso, tão frágil e tão importante.

 

 

Esperança finaliza no pátio interno com uma escultura em madeira de sete partes de dormentes criada por João Trevisan. A obra convida o espectador a sentar-se e, ao fazer isso, você se torna primeiro consciente da arquitetura e, então, totalmente ciente da existência do céu.

 

 

Sobre o curador

 

 

Simon Watson – Nascido no Canadá e criado entre Inglaterra e Estados Unidos, Simon Watson é curador independente e especialista em eventos culturais baseado em Nova York e São Paulo. Um veterano com trinta e cinco anos de experiência na cena cultural de três continentes, Watson concebeu e assinou a curadoria de mais de 250 exposições de arte para galerias e museus, e coordenou programas de consultoria em colecionismo de arte para inúmeros clientes institucionais e particulares.

 

Mostra inédita e eclética de doações

25/jun

 

 

Entrou em cartaz e permanecendo até 20 de agosto na Pinacoteca Aldo Locatelli, Paço dos Açorianos, Porto Alegre, RS, a exposição “A Arte Pode Ser Eu?”. A mostra exibe o conjunto de obras doadas pelo advogado, executivo, gestor e colecionador Luiz Inácio Franco de Medeiros para a Pinacoteca Aldo Locatelli.

 

 

Destaca-se a variedade de estilos do conjunto, que entre 2015 e 2020, o colecionador generosamente repassou para o acervo da Prefeitura Municipal de Porto Alegre. A mostra reúne nove gravuras, três desenhos, duas pinturas, duas esculturas e uma tapeçaria. Obras assinadas por artistas brasileiros, argentinos, poloneses, japoneses, franceses e por um húngaro naturalizado americano.

 

O colecionador manteve interesse em diferentes linguagens, estilos, técnicas e temáticas. Seu olhar apurado apreendeu novas informações estéticas e as trouxe à cidade natal, sem nunca descuidar do que era produzido em Porto Alegre, onde permaneceu até o final de sua vida. Datadas do século XIX até 2003, as obras transitam do figurativo de matriz expressionista, como a pintura de Magliani ou o desenho de Babinski, até peças abstratas, como a litogravura de Tadeusz Lapinski ou a tapeçaria de Carla Obino, além  de desenho de Roth e uma pintura de Farnese de Andrade. A escultura, que representa um modelo feminino, de autoria de Nico Rocha coabitou o apartamento de Luiz Inácio Franco de Medeiros com a peça abstrato-geométrica de Ladislas Segy, de modo que não é possível identificar um gosto específico ou predileção formal nas escolhas do colecionador.

 

 

O conjunto aponta o trajeto de um personagem fundamental para a compreensão do sistema de arte em Porto Alegre nas últimas décadas que, informado pelas mais diversas tendências internacionais, não perdeu a conexão com os novos artistas gaúchos, os quais estimulava através de suas múltiplas aquisições.

 

 

O porto-alegrense Luiz Inácio Franco de Medeiros (1943 -2021) foi um homem que imprimiu a sua marca onde atuou, seja no meio empresarial ou cultural. Tornou-se conhecido por gestões decisivas e inovadoras como diretor do Museu de Arte do Rio Grande do Sul e, posteriormente, do Museu Júlio de Castilhos. Sua atuação foi fundamental para a consolidação do campo museológico do Rio Grande do Sul, sendo o primeiro museólogo registrado no Conselho Regional de Museologia e, também, o primeiro presidente. Foi agraciado em 2010 com a Medalha do Mérito Museológico pelo Conselho Federal de Museologia. Como diretor do MARGS (1975 – 1979) foi o responsável pela transferência do museu para a atual sede na Praça da Alfândega; modernizando a sua organização, adaptando tecnicamente o prédio histórico para as novas funções e promovendo projetos que levaram a arte ao público em geral, com o museu indo até às escolas, fábricas, ao Presídio Central e ao Hospital Psiquiátrico São Pedro. No Museu Júlio de Castilhos entre 1983 e 1987, deu início às obras que ampliaram o espaço físico da instituição, levou o museu ao encontro do público através de passeios culturais no centro histórico de Porto Alegre, criou o laboratório de conservação e restauro e criação da Associação de Amigos. Foi um dos grandes doadores de obras para o Museu Júlio de Castilhos e, também, para a Pinacoteca Aldo Locatelli, (chegando a quase 20 obras). Em 2016 participou ativamente da fundação da Associação de Amigos das Pinacotecas de Porto Alegre – AAPIPA, sendo conselheiro da entidade por duas gestões.

 

Magliani e Xadalu na Fundação Iberê Camargo

23/jun

 

 

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, prepara, para o primeiro semestre de 2022, duas grandes exposições que enaltecem a diversidade cultural. Em fevereiro, será inaugurada uma mostra da pintora, desenhista, gravadora e ilustradora, Maria Lídia Magliani (1946-2012).

 

Nascida em Pelotas, Magliani foi uma artista valente e irreverente, que produziu uma obra densa, dilacerada e trágica, expondo suas emoções de forma vibrante, sem medo do uso da cor. Para a curadora Denise Mattar, “sua criação se insere num expressionismo sangrento, que choca e fere os desavisados e os sectários”.

 

 

“Ser uma pessoa de cor negra não interfere em nada na minha pintura, eu não entendo a sempre presente preocupação de pessoas com este aspecto. É minha vez de perguntar por que parece tão excepcional que um negro pinte? Por que a condição social de artistas de cor branca nunca é mencionada? Por que sempre me perguntam como é ser negro e ser artista? Ora é igual ao ser de qualquer outra cor. As tintas custam o mesmo preço, os moldureiros fazem os mesmos descontos e os pincéis acabam rápido do mesmo jeito para todo o mundo. A diferença quem faz é a mídia. É ‘normal’ ser branco e, portanto, é natural que o branco faça tudo, mas quando se trata de um negro, age como se fosse algo fantástico, um fenômeno – o macaco que pinta! Não gosto disto”, disse em entrevista ao jornalista João Carlos Tiburski, em 1987.

 

 

Cosmologia e ancestralidade

 

 

Em março, a Fundação abre uma exposição inédita de Xadalu Tupã Jekupé com obras, projeção e som que retratam a cosmologia, a ancestralidade e, também, as lembranças de Alegrete e das águas que banharam a sua infância na antiga terra chamada Ararenguá, carregadas de história de Guaranis Mbyá, Charruas, Minuanos, Jaros e Mbones – assim como dos bisavós e trisavós do artista. De etnia desconhecida, eles eram parte de um fragmento indígena que residia em casas de barro e capim à beira do Ibirapuitã, dedicando-se à pesca e vivendo ao redor do fogo mesmo depois do extermínio das aldeias da região.

 

 

Para o crítico de arte Paulo Herkenhoff, a arte de Xadalu não vai mudar o mundo, mas pode alterar nosso olhar: “Xadalu não fica à espera por mudanças na sociedade, mas busca agenciar sua potência para agir na escala individual – não se move por impotência; reconhece a pequena medida de suas possibilidades, sem submergir à onipotência. Seus riscos e dúvidas movem sua pulsão de vida no contexto de um contrato social solidário da arte”.

 

MON realiza exposição do premiado artista Schwanke 

21/jun

 

 

O Museu Oscar Niemeyer, MON, Curitiba, Paraná, apresenta a exposição “Schwanke, uma Poética Labiríntica”, uma retrospectiva de Luiz Henrique Schwanke (1951-1992), desde a década de 1970 até as últimas produções, num total de mais de 150 obras, sendo boa parte inédita. A curadoria é de Maria José Justino.

 

 

“Ao realizar a exposição, que é inédita e foi idealizada especialmente para o espaço do Olho, o MON reverencia esse artista pesquisador tão importante que, com seu trabalho, explorou magistralmente as mais diversas linguagens, o que faz com que sua obra permaneça tão atual”, afirma a diretora-presidente do Museu, Juliana Vosnika. “Ao visitar a mostra, o público terá a oportunidade de encontrar um conjunto de obras múltiplas que permitem não apenas contemplar, mas que instigam”, comenta.

 

 

“Trata-se de uma retrospectiva de toda a produção de Schwanke desde 1976, percorrendo experiências múltiplas. Mais de 70% das obras apresentadas são inéditas, pertencentes ao acervo da família e de colecionadores”, explica Juliana.

 

 

A superintendente-geral de Cultura do Paraná, Luciana Casagrande Pereira, destaca a onipresença do artista no cenário das artes entre as décadas de 1970 e 1990. “Com a exposição em seu mais icônico espaço expositivo, o MON reconhece a importância desse profícuo e premiado artista, que viveu alguns anos em Curitiba, cidade que certamente o inspirou”, afirma Luciana.

 

 

O premiado artista tem em sua obra a singularidade de permitir diferentes abordagens e se estender por variadas formas, o que inclui desenhos, pinturas, livros, objetos, esculturas e instalações, num conjunto complexo e surpreendente.

 

 

“A obra de Schwanke é um campo de inquietação e desassossego e se constitui em um verdadeiro labirinto”, diz a curadora Maria José Justino. “Entrar em sua obra é um convite a percorrer caminhos que oferecem diversas linguagens e, quando acreditamos encontrar a saída, não passa de novas sendas para outras rotas, outras paragens e novos sentidos”, afirma.

 

 

A exposição “Schwanke, uma Poética Labiríntica”, realizada pelo MON, conta com o apoio do Instituto Luiz Henrique Schwanke.