Basquiat em São Paulo

29/jan

“Eu sei desenhar, mas não quero”, costumava dizer Jean-Michel Basquiat (1960-1988), conhecido por pinturas que lembram grafites e traços robustos que se assemelham a desenhos infantis. Nos anos 1970, o artista negro começou a ganhar popularidade ao pichar muros em Nova York com a assinatura de “SAMO” (“same old shit”, ou “mesma merda de sempre”) passando depois ao suporte convencional das telas.

 

“Ele queria ser visto, por isso grafitava em lugares que chamassem a atenção”, diz Pieter Tjabbes, que assina a curadoria da primeira retrospectiva do artista no Brasil.

 

A mostra, no CCBB São Paulo, Centro, São Paulo, SP, conta com cerca de 80 obras do artista do acervo do israelense Jose Mugrabi. Considerado o maior colecionador de Basquiat no mundo – embora não revele quantas peças do artista possui, nem o valor pelo qual cedeu as obras ao CCBB – Mugrabi tem ainda em seu acervo peças de Andy Warhol.

 

Segundo o curador da mostra, foi por colecionar trabalhos de Warhol que Mugrabi conheceu Basquiat. Warhol foi um grande colega de Basquiat e calcula-se que tenham produzido cerca de cem telas juntos.

 

No CCBB, estarão expostas três telas da dupla. “Eles tinham uma relação muito intensa”, explica o curador, frisando que, no entanto, o cunho não era sexual. Além de telas, há na exposição desenhos e objetos – caso da porta de um apartamento em que o artista morou com uma namorada e traz escritos como “famous negro athlets” (famosos atletas negros), um aceno crítico de Basquiat ao fato de que, na época, negros só atingiam a fama se fossem jogadores de basquete ou cantores de jazz.

 

Fora de museus

 

Calcula-se que mais de 80% dos trabalhos de Basquiat estejam na mão de colecionadores, e não de museus. Ao morrer precocemente – Basquiat teve overdose de ecstasy e cocaína aos 27 anos – ele tinha produzido, em sete anos, cerca de 2.000 peças. Os preços das obras do artista subiram exponencialmente após a sua morte, e os museus não conseguiram acompanhar suas vendas.

 

Além disso, instituições não costumavam comprar obras de iniciantes. “Hoje os museus não têm fundos para comprar mais as obras de Basquiat”, diz o curador. Por exemplo, em 2017, uma obra do neoexpressionista bateu recorde em vendas de artistas americanos em leilão ao ser arrematada por US$ 110 milhões em Nova York.

 

Marcus Bastos, professor do departamento de artes plásticas da USP, acredita que a crise econômica dos anos 1970 tenha ajudado na ascensão de Basquiat. Para Bastos, a crise possibilitou que artistas vivessem em Manhattan, e não na periferia de Nova York, então “uma cidade com clima underground”. Quando a situação econômica melhorou, nos anos 1980, eles estavam bem posicionados e “estouraram”.

Fonte: Touch of class

 

 

Até 07 de abril.

 

Visões da terra / O mundo planejado. Coleção Luís Paulo Montenegro

15/jan

Visiones de la tierra / El mundo planeado. Colección Luís Paulo Montenegro

 

Entre 20 de fevereiro e 10 de junho de 2018, o Santander Art Room, Madrid, Espanha, acolherá a exposição “Visions of the Earth / The Planned World”, a primeira exposição que mostra as obras do colecionador brasileiro Luís Paulo Montenegro.

 

Luís Paulo Montenegro começou sua coleção em 1999, quando comprou o primeiro trabalho, “La India Carajá” de Cândido Portinari, em um leilão. Hoje, possui uma das mais importantes coleções de Arte Moderna e Contemporânea no Brasil.

 

Rodrigo Moura, ex-diretor de programas artísticos e culturais do Instituto Inhotim, será o curador desta exposição para a qual realizou uma seleção de mais de 200 peças que mostram os gostos artísticos do colecionador, que começou a se interessar pelo Modernismo Brasileiro, posteriormente pela Arte latino-americana e Arte Concreta Brasileira e internacional e, finalmente, para Arte Contemporânea.

 

A exposição mostrará uma seleção de 218 peças de diferentes disciplinas artísticas, com uma representação especial da pintura. Entre os 107 artistas selecionados, destacam-se nomes importantes da arte brasileira moderna, como Alfredo Volpi, Lygia Clark, Lygia Pape, Wifredo Lam, Hélio Oiticica, Cildo Meireles, Ernesto Neto; mas também renomados artistas internacionais como Alexander Calder, Andy Warhol ou Willem de Kooning.

 

 

De 20 de fevereiro a 10 de junho.

Exposição no MNBA

09/jan

Uma prévia do cenário da nova Galeria de Arte Brasileira Moderna e Contemporânea, que em breve vai ser reformulada, é o que se antecipa na exposição “O Espaço da Arte”, que o Museu Nacional de Belas Artes, Cinelândia, Rio de Janeiro, RJ, vai abrir – com entrada franca – no dia 13 de janeiro.

 

O público vai poder descortinar, dentro das salas Flamengo-Holandesa, Boudin e Lúcio Costa, cerca de 51 obras da coleção do MNBA, incluindo nomes como Iberê Camargo,  Maria Leontina,  Guignard, Ivan Serpa, Candido Portinari,  Flávio de Carvalho, Djanira e Fayga Ostrower, entre outras.

 

Através destes trabalhos, que tiveram impacto na trajetória da arte visual brasileira,  a exposição  se volta para  as transformações da espacialidade da obra de arte, elemento  fundamental para a compreensão da transição da passagem do mundo visual moderno para o contemporâneo.

 

Optando pela abordagem da espacialidade na obra de arte os curadores da exposição “O espaço da Arte” lembram que suas transformações ao longo do século XX são essenciais para se entender as mudanças visuais e conceituais que ocorreram ao longo de mais de cem anos de história, gerando conseqüências no fazer de hoje.

 

No primeiro dos três módulos  nos quais se estrutura a mostra, aborda-se o contato com novos tratamentos da superfície,  ou de características óticas e materiais das obras, anunciando as transformações que viriam depois, com mais radicalidade, ênfase e segurança. Trata-se de um estágio no qual os artistas parecem exibir uma postura de timidez e incerteza sobre os rumos que se abraçariam pelos anos subseqüentes.

 

Posteriormente,  o segundo módulo exibe  algumas experiências artísticas onde as obras assumem a postura investigativa frente o problema histórico que enfrentam diante do espaço da obra, pesquisando soluções diferentes, mas que, de algum modo, ainda estão presos a certos paradigmas, principalmente relacionados à figuração. Neste segmento,  podemos  observar o entre-lugar,  ou seja,  o artista está  abrindo uma campo entre o antes e o depois;

 

Deixando para trás o impasse das fases iniciais, no ultimo módulo, as obras expostas, sem vacilação, assumem seu lugar no mundo real.   Caminham para além  da representação, buscando  se apresentar enquanto si mesmas no espaço real,  construindo uma ponte entre dois mundos, antes separados.  Nesta fase,  a obra de arte não evoca, está presente,  ganhou vida própria,  emerge como um ente tal qual seu observador e, a partir disso, se põe a modificar as relações em seu entorno.

 

Os curadores da exposição “O Espaço da Arte” ressaltam, “ainda que se desenhe no tempo, a história da espacialidade,  enquanto percurso,  está  repleta de fraturas, desvios, descontinuidades”.  Isso explica,  porque dentro da dinâmica da história da arte,  “o passado pode conter distantes anúncios de um porvir a ser trabalhado como a também permanência de certos modelos criados dentro da sua trajetória,  fazendo com que as noções de espacialidade reverberem continuamente,  umas sobre as outras, num fluxo contínuo do fazer e refazer”.

 

 

Até 27 de maio.

Paulo Bruscky em Paris

Paulo Bruscky durante a montagem de sua exposição no Centre Pompidou, Paris. A mostra, integra o programa “L’oeil écoute”, apresenta um recorte panorâmico da produção do artista desde o final dos anos 60, incluindo poemas/processo, filmes de artista, poesia sonora/áudio arte, classificados, arte correio, poesia visual, projetos conceituais, etc. Há ainda uma seção em homenagem/diálogo com o multiartista pernambucano Vicente do Rego Monteiro.

 

Parte dos trabalhos expostos será incorporada ao acervo da instituição francesa após o término da exposição, em cartaz até abril de 2018.

Claudio Paiva no MAR

08/jan

A exposição “Claudio Paiva – O colecionador de linhas” em cartaz no MAR, Centro, Rio de Janeiro, RJ, exibe pela primeira vez ao público, o corpus da sua obra. Foram selecionados trabalhos dos diversos momentos de sua trajetória – dos anos 60 até seu falecimento em 2011.

Claudio Paiva participou de um importante momento da arte brasileira, ao lado Cildo Meireles, Umberto Costa Barros, Antonio Manuel, Artur Barrio, Luiz Alphonsus entre outros. Mesmo com a produção ininterrupta desde seu surgimento, seu trabalho, entretanto, tem sido esporadicamente mostrado. Desde o final dos anos 60, estabelece seu campo de criação visual através da articulação de três esferas: o desenho, a palavra e o objeto.

 

Na atual exposição constam mais de 200 obras entre desenhos com suportes e técnicas variadas, instalações e vídeos, entre eles uma série de entrevistas inéditas com depoimentos sobre o artista, lembranças afetivas por parte dos amigos que lhe acompanharam ao longo de sua vida.

 
Para o artista desenho é um projeto em si:

 

“Há um pacto entre os meios, entre a linha e a cor; se por um lado, o desenho quer ser cor, quer ser pintura; por outro lado o desenho não quer ser nada além da linha.” (PAIVA, Claudio, Niterói, 2001).

 

“A relação entre a palavra e o desenho cria uma nova imagem onde os papeis de deslocam. A palavra participa da elaboração da imagem e a imagem pretende desenhar a palavra: Desenho de uma palavra, é também o título de um de seus desenhos. Cria-se, então, um espaço topológico entre palavra e imagem, configuração de um singular espaço poético.” (BOMPUIS, Catherine, Rio de Janeiro, 2002, Catálogo da Exposição Armadilha para tempestade, pag. 2).

 

Desde o início de sua produção, Claudio realizou também diversas instalações, que posteriormente se transformaram em instalações de bolso. Cordões, velas, caixas de fósforo, fazem lembrar, de uma maneira leve, lúcida, e que é ainda possível a tudo transgredir, tudo renomear e recolocar instantaneamente com nada ou quase nada. Esses objetos híbridos: “O descanso do paralelepípedo”, “O Colecionador de nada”, “Guerra fria”, “Lúcifer”, “O princípio do prazer”, formam uma coleção de pequenos paradoxos.

 

A curadoria é de Evandro Salles e Catherine

 

 

Até 03 de junho

Tunga no MASP

20/dez

A exposição “Tunga: o corpo em obras” encerra o programa anual de 2017 do MASP, Avenida Paulista, São Paulo, SP, em torno das histórias da sexualidade, que incluiu mostras individuais dos artistas Teresinha Soares, Wanda Pimentel, Miguel Rio Branco, Toulouse-Lautrec, Tracey Moffatt, Guerrilla Girls, Pedro Correia de Araújo e a exposição coletiva “Histórias da sexualidade”. O MASP agradece muito especialmente ao Acervo Tunga pela doação de uma escultura da série “Morfológicas” exposta nesta mostra. A exposição tem curadoria de Isabella Rjeille, assistente curatorial e Tomás Toledo, curador, MASP. A expografia é da Metro Arquitetos Associados.

 

A sexualidade e o erotismo são temas centrais na produção de Tunga (Palmares, Pernambuco 1952 – Rio de Janeiro, 2016) desde sua primeira exposição individual, intitulada “Museu da masturbação infantil”, realizada em 1974 no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Essa mostra de 1974 incluiu desenhos abstratos que, posteriormente, pautariam o raciocínio acerca desses temas na produção do artista. Eram obras cujas formas evocavam imagens eróticas ou processos de gozo, elementos que reaparecem expostos em desenhos daquele mesmo ano.

 

Nesta exposição, a sexualidade não constitui apenas um tema da produção do artista, mas um modo de compreender relações, vínculos, transformações e criações entre corpos, matérias e linguagens. A escolha dos trabalhos e sua disposição no espaço foram definidas a fim de potencializar essas relações e promover diálogos entre obras de diferentes períodos e técnicas, em detrimento de uma organização cronológica. O título da mostra “Tunga: o corpo em obras” tem duplo sentido: alude tanto ao corpo como assunto das obras do artista, como propõe um olhar sobre sua produção como um corpo continuamente em obras, ou seja, em constante transformação. Essa leitura surgiu da natureza diversa e circular da obra de Tunga, cujos trabalhos não se encerram em categorias estanques. Referências ao corpo, à sexualidade e ao erotismo podem ser observadas em todas as obras expostas: o nu (Vê-nus e Eixos exógenos), a pele e a maquiagem (em desenhos ou sobre as esculturas na série Lábios), os cabelos (Tranças e Escalpes), dedos, vulvas e falos (Morfológicas e A cada doze dias e uma carta), o masculino e o feminino (Tacapes e Tranças) e o magnetismo do desejo (com os ímãs em Tacapes, Lezart e Palíndromo incesto).

 

 

Sobre o artista

 

Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão, conhecido como Tunga, foi o primeiro artista contemporâneo e o primeiro brasileiro a ter uma obra exposta no Museu do Louvre, em  Paris. Obras suas estão em acervos permanentes de museus como o Guggenheim de Veneza, além do Instituto Inhotim, em Brumadinho, Minas Gerais. Nascido em Palmares, Pernambuco, Tunga mudou-se para o Rio de Janeiro, onde cursou Arquitetura e Urbanismo. O filho do escritor Gerardo de Mello Mourão iniciou a carreira no começo dos anos 1970. Arquiteto de formação, Tunga transitou por diferentes linguagens, das artes visuais à literatura, incluindo a escultura, a instalação, o desenho, a aquarela, gravura, vídeo, texto e a instauração. Frequentemente, suas obras se alimentam de um repertório que provém de distintos campos do conhecimento, como a psicanálise, a filosofia, a química, a alquimia, bem como as memórias e as ficções.

 

 

Até 09 de março de 2018.

Rodrigo Andrade na Pina Estação

18/dez

A Pinacoteca de São Paulo, instituição da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, inaugurou a exposição retrospectiva da obra de Rodrigo Andrade no quarto andar da Pina Estação. A Pina Estação fica próxima à estação Luz da CPTM, vizinha à Sala São Paulo. Com curadoria de Taisa Palhares e patrocínio do Banco Credit Suisse, “Rodrigo Andrade: Pintura e matéria (1983-2014)” reúne pela primeira vez um conjunto de mais de 100 trabalhos, apresentando uma visão abrangente de sua carreira, desde 1983 até os últimos cinco anos de sua produção. Entre os trabalhos apresentados destacam-se as obras de sua fase abstrata, quando Andrade começa a usar o estêncil, além de pinturas da série “Matéria noturna”, expostas na 29ª Bienal. A exposição vem dar continuidade às mostras de revisão de carreira de artistas que emergiram no cenário brasileiro durante a década de 1980, que a Pinacoteca realiza há mais de dez anos. Vale lembrar que entre as obras apresentadas, está uma instalação criada exclusivamente para o prédio da Pina Estação, seguindo a produção de intervenções pictóricas realizadas pelo artista nos anos 2000 em espaços públicos, como “Lanches Alvorada”, “Paredes da Caixa” e “Óleo sobre”. Um catálogo da exposição será publicado com reproduções de obras, um ensaio da curadora e um texto de Michael Asbury, autor convidado.

 

 

Sobre o artista

 

Andrade é um pintor paulistano, nascido em 1962, que iniciou sua trajetória artística em 1977, período em que estudou gravura com Sergio Fingermann. Na década de 1980 formou o grupo conhecido como Casa 7, que incluía Nuno Ramos, Fabio Miguez, Carlito Carvalhosa e Paulo Monteiro. Sua produção inicial foi marcada pela observação dos comics norte-americanos e de pintores como o canadense Philip Guston. Em seguida, sua pintura passa a se identificar com uma produção então chamada de “matérica”, por valorizar o acúmulo de tinta e de outros elementos no suporte (papelão, madeira, etc), bem como a gestualidade ao preencher a superfície da pintura.

 

Até 12 de março de 2018.

Obras de Rossini Perez

O Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli, Porto Alegre, RS, exibe a exposição “Caminhos de Rossini Perez”, em parceria com o Museu Nacional de Belas Artes/Ibram/MinC. A mostra, com curadoria de Claudia Regina Alves da Rocha, está em cartaz nas galerias João Fahrion, Pedro Weingartner e Ângelo Guido do MARGS. A curadora e chefe da Divisão Técnica do Museu Nacional de Belas Artes, Cláudia Rocha, falou – na abertura  – sobre a exposição. O evento foi organizado pela Associação dos Amigos do Museu de Artes do Rio Grande do Sul Ado Malagoli (AAMARGS). A coleção de obras de arte do artista Rossini Perez no Museu Nacional de Belas Artes/Ibram/MinC é composta de mais de 200 trabalhos, entre gravuras, pinturas e desenhos. O MARGS apresenta um recorte da coleção do museu carioca e do artista que apresenta sua trajetória entre os anos de 1950 e 1970.

 

 

A palavra da curadora sobre a trajetória do artista

 

Rossini Perez iniciou-se artisticamente no Rio de Janeiro entre os anos de 1945 e 1949, quando foi aluno de Luiz Almeida Junior que orientava um curso de pintura ao ar livre denominado Grupo Colméia. O artista aprendeu a misturar as tintas e, sobretudo, a realizar pinturas de paisagens da cidade. A partir de 1951, passou a frequentar a Associação Brasileira de Desenho e a ser aluno de Ado Malagoli iniciando efetivamente a sua trajetória artística. A década de 1950 foi um período marcado pelo avanço de processos de industrialização e desenvolvimento econômico brasileiro. O lema da campanha “50 anos em 5”, do Presidente da República Juscelino Kubitschek, estava embuído de um grande otimismo que caracterizou o final da década como um momento significativo em termos de mudanças de costumes com acessos a bens produzidos a partir dos setores automobilístico, de plásticos, borracha e vidro. No campo das artes, os chamados Anos Dourados foram marcados pela Bienal de São Paulo, Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), Companhia Cinematográfica Vera Cruz e a Bossa Nova.

 

Nesta época, Rossini Perez visitou as primeiras Bienais de São Paulo e conheceu as gravuras de Edward Munch que o fizeram escolher essa expressão como caminho. Frequentou os ateliês de Oswaldo Goeldi, Iberê Camargo e Fayga Ostrower. Em 1951 também participou da primeira Exposição de Arte Abstrata, realizada no Sesc Quitandinha em Petrópolis, e de diversas exposições nacionais e internacionais nesta época. O cenário brasileiro tanto para a arte contemporânea quanto para a gravura ainda era inicial. A cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, não dispunha de uma galeria de arte. Mas foi nesta década que se iniciou um mercado de arte principalmente com a criação da Petite Gallerie na Copacabana de 1954.

 

Os materiais ainda não especializados permitiram ao artista criar suas gravuras iniciais dentro das temáticas “favela”, “morro”, “barcos” e “cais”. Usando tintas não específicas para gravura e matrizes de latão e de placas de linóleo, suas criações eram impressas também sobre papel não especial, o chamado papel Fabriano. Em 1959 era assistente de Johnny Friedlaender no Atelier de gravura do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, aonde permaneceu até 1961. A década de 1960 trouxe mudanças significativas para sua arte pois tornou-se bolsista da Rijksakademie em Amsterdã aperfeiçoando-se na litografia. Com acesso a materiais especializados desenvolveu grande domínio das técnicas de gravura. Neste período suas obras tendiam para as composições abstratas e em meados dessa época surgiram as composições em relevo criadas em matrizes de cobre e zinco, iniciando também composições a partir de mais de uma matriz.

 

O uso de matrizes de cobre e zinco proporcionou uma nova interação com os materiais aonde o inesperado produzido pelas reações químicas produzia novos efeitos que se coadunavam com a expectativa do artista. Morou dez anos em Paris e percorreu diversos países europeus incorporando suas influências em suas obras de arte. Na década de 1970 colaborou na implantação de oficina de gravura em metal na Ecole Nationale des Beaux-Arts de Dacar, Senegal. Suas gravuras são fortemente influenciadas por formas de elementos do cotidiano africanos como trouxas, cintas, novelos e sinuosidades. Elas tornam-se mais complexas ao criar imagens a partir de matrizes compostas por várias partes. No final dos anos de 1970, voltou para o Brasil aonde lecionou em Brasília e, finalmente, no Atelier de Gravura do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

 

 

Até 28 de janeiro de 2018.

40 anos da geração 80 no Ingá

15/dez

A exposição “Experimentação e Método” comemora os 40 anos da Oficina de Gravura do Ingá e resgata a memória de sua importância em um momento de redemocratização do Brasil e de grande efervescência cultural em Niterói, RJ. Significa, sobretudo, uma homenagem à sua idealizadora, a artista Anna Letycia, que implantou uma coordenação inovadora preocupando-se em não alijar a gravura dos debates contemporâneos e interseções com outras linguagens. Com esse intuito, atraiu inúmeros professores de diferentes suportes das artes visuais, como Alair Gomes, Aluísio Carvão, Newton Cavalcanti, Rubem Grilo, Carlos Martins, Ronaldo do Rego Macedo, José Lima, entre outros. A oficina para Anna Letycia é um “…local de trabalho, um campo de pesquisa, troca de informações e experiências”. Esse pensamento de experimentação, mas também de rigor e método, priorizado pela artista tornou a Oficina do Ingá um polo central para a cena artística de Niterói e do Rio de Janeiro. “As oficinas do Ingá foram um dos berços artísticos dos anos 80. Uma geração que nasceu em ateliês, que não frequentou “aulas formais” ou universidades. Nesse sentido, o Parque Lage, o Museu do Ingá e o MAM representaram locais de formação artística prática”, afirma Marcus Lontra que assina a curadoria da exposição junto com Viviane Matesco.

 

“’Experimentação e Método” será o fio condutor da mostra que conta com obras da própria Anna Letycia, de seus professores Oswaldo Goeldi, Iberê Camargo e Darel Valença Lins, além de seus colaboradores e alguns dos seus ex-alunos que se destacam na arte contemporânea, como Analu Cunha, Marcus André, Felipe Barbosa, Rosana Ricalde, Ana Miguel, Fernando Lopes, Chang Chi Chai, Beatriz Pimenta, Armando Mattos, entre vários outros que produziram obras exclusivas para a exposição. Como uma comemoração do contexto artístico de Niterói, a exposição inclui também jovens artistas que nasceram ou atuam na cidade revelando seu vigor cultural.  “Essa exposição homenageia Anna Letycia e consolida a importância da gravura não só pelo papel da Oficina, mas também pela coleção do Museu, referencia em Goeldi e tantos outros gravadores consagrados”, complementa a curadora Viviane Matesco.

 

 

As oficinas do Ingá foram um dos berços artísticos dos anos 80

 

A exposição “Experimentação e Método” amplia a gravura em um campo híbrido contemporâneo. A discussão da reprodutibilidade de imagens com múltiplos processos e tecnologias inovadoras será um caminho para explicitar a gravura numa concepção ampliada e experimental. O deslocamento da gravura em direção a outras linguagens enfatiza os procedimentos de impressão na gravura. Essas questões perpassam os trabalhos de artistas contemporâneos presentes nesta mostra que certamente marcará o olhar de quem a visitar. Sob o comando da museóloga Mariana Varzea, o projeto educativo da exposição terá oficinas e atividades de arte-educação sobre as técnicas da gravura, para todas as idades realizadas de quarta a domingo, durante o horário de funcionamento do Museu.

 

 

A oficina criada por Anna Letycia

 

A oficina de Gravura do Museu do Ingá, espaço da Secretaria de Estado de Cultura/Funarj, iniciou atividades em caráter experimental em agosto de 1977, embora a inauguração oficial tenha ocorrido apenas em 14 de dezembro de 1977. Oferecia cursos de desenho (Aluísio Carvão) e diversas modalidades da gravura pela própria Anna Letycia, José Assumpção Souza e José Lima, Mario Doglio (ex-diretor de Gravura da Casa da Moeda), Isa Aderne e Newton Cavalcanti (xilogravura), Carlos Martins e Solange Oliveira (em 1978), e Edith Behring (em 1982). No ano seguinte, Anna Letycia recebe o prêmio estadual Golfinho de Ouro pela criação da oficina. A subsequente inauguração da oficina de escultura sob a coordenação de Haroldo Barroso imprimiu um clima efervescente ao Museu do Ingá, que se tornou polo de experimentação e contemporaneidade na cidade de Niterói. É importante destacar a participação de Rossini Perez, renomado gravador, que em meados da década de 1980 substitui a coordenação da oficina por alguns meses, período no qual Anna Letycia se afasta para organizar mostra de seu trabalho. Também é fundamental mencionar a participação de Ricardo Queiroz como principal colaborador, que continua até hoje o trabalho iniciado por Anna Letycia.

 

 

Sobre Anna Letycia

 

Anna Letycia Quadros nasceu em Teresópolis, Rio de Janeiro, 1929. Gravadora. Inicia estudos de desenho e pintura com Bustamante Sá, na Associação Brasileira de Desenho, no Rio de Janeiro. Na década de 1950, no Rio, frequenta o curso de André Lhote, estuda gravura com Darel, na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), e com Iberê Camargo, no Instituto Municipal de Belas Artes. Realiza curso de xilogravura com Oswaldo Goeldi, na Escolinha de Arte do Brasil, e de pintura com Ivan Serpa, com quem participa da criação do Grupo Frente. Em 1959, frequenta o ateliê do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), coordenado por Edith Behring. É convidada a lecionar gravura no ateliê desse museu, atividade que exerce entre 1960 e 1966. Dá aulas de gravura em Santiago, onde recebe o título de professor honoris causa da Pontifícia Universidade Católica do Chile, em 1961. Em 1977, instala em Niterói a Oficina de Gravura no Museu do Ingá, que coordena até 1998. Desenvolve ainda atividades de cenógrafa e figurinista, e atua principalmente em parceria com Maria Clara Machado. Em 1998, é publicado o livro Anna Letycia, de Angela Ancora da Luz, pela Editora da Universidade de São Paulo.

 

 

Sobre os curadores

 

Formado em Comunicação Social pela PUC-Rio, Marcus Lontra é crítico de arte e curador independente.  Curador da mostra “Como vai você, Geração 80”, assume em 1983, a diretoria da Escola de Artes Visuais do Parque Lage até 1987.  Antes, de 1975 a 1983, foi editor da revista Módulo, fundada por  Oscar Niemeyer,  em 1955. Crítico de arte dos Jornais O Globo (1983-1984), Tribuna da Imprensa (1986-1987) e Isto É (1986 -1987). Entre 1987 e 1989 foi assessor do Ministério da Cultura. Dirigiu os Museus de Arte Moderna, de Brasília (1989), do Rio de Janeiro (1990 -1997) e de Recife (1998 – 2001). Foi curador de diversas importantes exposições, entre elas: “Como vai você, geração 80?” (1984, junto com Sandra Magger e Paulo Roberto Leal); “Infância perversa”, no MAM- RJ (1995); “Onde está você geração 80?”, no CCBB, em 2004. É curador do prêmio CNI Sesi Senai Marcantonio Vilaça. Desde 1998 é diretor da Lontra Produções Culturais.

 

Viviane Matesco é Doutora em Artes Visuais (UFRJ), crítica e curadora, foi professora de História da Arte na Escola de Artes Visuais/Parque Lage (1998 a 2008) e atualmente leciona na Universidade Federal Fluminense (UFF) em Niterói. Trabalhou na Funarte, no Museu de Arte Moderna e no Projeto Rumos Visuais/Itaú Cultural.  Realizou diversas curadorias entre elas “Sala Especial de Amilcar de Castro” (Funarte), “Tehching Hsieh” no Centro Helio OIticica  e  “Corpo na Arte Brasileira” (junto com Fernando Cocchiarale no Itaú Cultural/SP). Publicou os livros “Corpo, Imagem e Representação” (Zahar, 2009), “Em torno do Corpo” (UFF, 2016).  Como curadora do Museu do Ingá (2009 – 10) realizou a exposição “A Paisagem no Acervo Banerj” e publicou o livro “Uma coleção em estudo – Acervo Banerj”.

 

 

 

Até 27 de maio de 2018.

Julio Le Parc: da Forma à Ação

13/dez

O Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, apresenta adaptada para seu espaço, a grande retrospectiva de Julio Le Parc, realizada em 2016 no Pérez Art Museum Miami (PAMM). Com a mesma curadoria de Estrellita B. Brodsky e consultoria artística de Yamil Le Parc, a mostra em São Paulo, com patrocínio do Bradesco, apresenta mais de 100 obras que trazem uma centelha de experiências físicas e visuais do consagrado artista. Ao incluir as principais instalações e trabalhos raramente vistos em papel e materiais de arquivo, “Julio Le Parc: da Forma à Ação” é uma exploração da figura central de Le Parc na História da Arte do Século XX.

 

“As investigações de Julio Le Parc sobre as maneiras de engajar e empoderar o público redefiniram e reinterpretaram a experiencia da arte”, afirma a curadora Estrellita B. Brodsky. “Movido por um sólido ethos utópico, Le Parc continua a olhar a arte como um laboratório social, capaz de produzir situações imprevisíveis e de ludicamente engajar o espectador de novas maneiras. Seu posicionamento radical continua cada vez mais relevante após seis décadas”.

 

O artista argentino logo após mudar-se para Paris, tornou-se, em 1960, membro fundador do coletivo de artistas Grupo de Pesquisa de Artes Visuais (GRAV). Ao enfatizar o poder social de objetos e situações de arte não mediados e desorientadores, Le Parc buscou limpar as estruturas e sistemas que separam espectador de obra. Sua inovação no campo da luz, movimento e percepção foi central para os movimentos da arte cinética e ótica da época, servindo suas teorias como veículo de mudança social e política, que continuaram a integrar a vanguarda parisiense de 1960 adiante.

 

Esse espírito da arte como ímpeto social move-se pela mostra em três secções temáticas. A primeira, “Da superfície ao objeto”, reúne trabalhos iniciais em papel e pinturas que mostram o uso de cor como meio de desestabilizar a superfície bidimensional. Estão expostas obras de 1958, com estudos do bidimensional com tinta e guache em papel, assim como pinturas de 1959 até hoje. Também consta nesse segmento, o monumental “A Longa Marcha”, um grupo de 10 pinturas vibrantes que flutuam ao redor de uma parede arredondada.

 

Em “Deslocamento”; “Contorções”; “Relevos”, estão os revolucionários labirintos-instalação, de Le Parc exibidos pela primeira vez como parte da participação da GRAV na Bienal de Paris de 1963, as caixas de luz e obras de contorção. A sequência de três cômodos imbuídos de luz oferece aos espectadores uma experiência sensorial poderosamente desorientadora.

 

Por fim, “Jogo & Política de participação” dissolve os muros físicos e ideológicos que separam espectador, obra de arte e instituição. Precursor do movimento de estética relacional, esse período da carreira de Le Parc considera como a arte pode encorajar uma nova consciência sobre o espaço social do indivíduo.

 

“Acredito que a exposição de Julio Le Parc despertará o mesmo interesse e encantamento do público causado pela mostra de Yayoi Kusama, que realizamos em 2014, por também provocar singular experiência sensorial aos espectadores”, diz Ricardo Ohtake, presidente do Instituto Tomie Ohtake.

 

O trabalho desenvolvido pela curadora Estrellita B. Brodsky é uma pesquisa retrospectiva da abrangente prática de Le Parc e uma análise de seu impacto tanto em seus contemporâneos na América Latina quanto na Europa vanguardista do pós-Guerra e subsequentes gerações de artistas. Apesar do âmbito histórico, a exposição conversa com força com o presente, demandando presença física e perceptiva do público. “Julio Le Parc: da Forma à Ação” apresenta o artista à nova geração, permitindo que cada visitante reaja de forma direta e pessoalmente ao trabalho.

 

 

Até 25 de fevereiro de 2018.