Domingo no MASP

07/abr

A cidade é um bem comum e todos os seus habitantes têm direito de usá-la, ocupá-la e produzí-la de forma democrática, justa e sustentável. Assim pressupõe o Direito à Cidade. Em outras palavras, trata-se do direito que todo cidadão e cidadã tem de, não só ter atendidas suas necessidades de saúde, educação, moradia, mobilidade, cultura, dentre diversas outras, mas também de participar ativamente da construção e do uso da cidade. Nessa perspectiva, o Direito à Cidade se molda como um direito coletivo, onde a sociedade se encontra para transformar os espaços e os processos urbanos.

 

Mas, como se dá o Direito à Cidade hoje? Em qual nível temos esses direitos atendidos? Quantas São Paulos diferentes existem hoje? Como o espaço urbano interage com as diversidades culturais, raciais, sexuais e sociais? Qual é a leitura e o uso que essas diversidades fazem da cidade?

 

Para provocar essas reflexões, o Instituto Pólis e o MASP convidam a todos e todas a participarem da aula pública “A Cidade de Todas as Cores”, uma intervenção urbana que trará questionamentos sobre as diversas faces do Direito à Cidade. Realizada na tarde do domingo, dia 9 de abril, na Avenida Paulista em frente ao MASP, a aula pretende ser um ambiente interativo, onde participantes poderão dialogar, explorar e questionar, por meio de jogos e outras linguagens, o significado do Direito à Cidade e as diferenças na sua efetivação na vida de cada pessoa de acordo com sua identidade de gênero, raça, orientação sexual, classe social, dentre outros elementos.

 

A atividade ajudará na compreensão do contexto da cidade abordada nas obras expostas no MASP: a mostra de Agostinho Batista de Freitas, que retrata diferentes espaços da cidade entre 1950 e 1990; e a exposição Avenida Paulista, que reúne obras de diversos artistas, com diferentes visões sobre esse local, que é ao mesmo tempo cartão-postal e palco de disputas.

 

A aula pública “A Cidade de Todas as Cores” marca o início de uma série de atividades em comemoração aos 30 anos do Instituto Pólis.

 

 

Domingo, 9 de abril, às 15hs. Avenida Paulista, em frente ao MASP

Nelson Felix no MAM-Rio

04/abr

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, inaugura no próximo dia 08 de abril a exposição “Trilha para 2 lugares e trilha para 2 lugares”, com trabalho homônimo inédito de Nelson Felix – a quarta e última parte da série “O Método Poético para Descontrole de Localidade”, iniciada em 1984. A obra reúne a vivência do artista em dois locais distintos: Citera, uma ilha na Grécia, e a cidade de Santa Rosa, no pampa argentino.  A palavra trilha, repetida duas vezes no título da exposição, tem duplo significado: o percurso percorrido pelo artista e a presença sonora. Um cabo de aço atravessará o espaço do MAM, em tensão máxima, a ponto de emitir um som que será captado e amplificado. Com um total de 270 metros – 35 metros estirados a 60 centímetros do chão e o restante tensionado em volta de pilastras do Museu – o cabo de aço aponta para duas direções: Citera e Santa Rosa.  

 

Em uma pequena sala fechada e toda forrada por espuma, haverá três monitores onde serão exibidos vídeos que registram a vivência do artista em cada um dos locais. As imagens foram feitas por Guilherme Begué e Cristiano Burlan, este último  há quatro anos se dedica a fazer um filme sobre o artista. Caixas de som irão reproduzir o som emitido pela tensão do cabo de aço, que se somará ao som ambiente dos vídeos, constituindo assim, a sua trilha sonora. A estrutura de edição das imagens, que ora se duplicam ora se alternam nos monitores, se assemelha a uma composição musical para três instrumentos.

 

O trabalho de Nelson Felix torna assim o museu dúbio instrumento: musical e uma espécie de bússola, formalizada na direção que indica o cabo de aço no espaço expositivo, a mesma percorrida pelo artista no globo terrestre.

 

A série “O Método Poético para Descontrole de Localidade” sempre teve na poesia seu ponto de partida. No trabalho apresentado no MAM Rio, foi a obra do poeta francês Mallarmé, principalmente seu poema “Um lance de dado jamais abolirá o acaso”, que determinou o início do processo. Nelson Felix lançou sobre um mapa-múndi um dado com o número seis em todas as faces, em data e hora estabelecidas, e em local incidental do curso de uma estrada. Daí surgiram os dois locais-eixo do trabalho: Citera e Santa Rosa (pampa argentino).  Em Citera, lançou o dado ao mar, em Santa Rosa, o enterrou. Nesses lugares, o artista desenhou compulsivamente, durante várias horas, impregnado do ambiente e ao mesmo tempo deixando sua marca nele, como se fundisse à paisagem.

 

Depois de estar em Citera, Nelson Felix observou que “vários artistas realizaram obras sobre a peregrinação a esta ilha: Watteau, Gerard de Nerval, Verlaine, Victor Hugo, Debussy, mais recentemente Theo Angelopoulos, e principalmente Baudelaire, grande influência de Mallarmé”. E descobriu ainda outro fato curioso em comum a esses artistas: com exceção de Watteau, todos haviam frequentado o café-restaurante Closerie des Lilas, em Paris, fundado em 1847. Nelson Felix se sentiu impelido a ir, ele mesmo ao local, e de lá acrescenta algumas imagens aos vídeos da exposição.

 

 

A palavra da curadoria

 

 

Trilha para 2 lugares e trilha para 2 lugares, de Nelson Felix, inscreve-se com destaque na programação do MAM de 2017. Tal destaque, entretanto, não se restringe ao reconhecimento da importância inegável de sua obra para a produção contemporânea brasileira. Ao acolher esse projeto da série Método poético para descontrole de localidade (iniciada com o projeto 4 cantos feito pelo artista, a convite da Fundação Serralves, em 2007, na cidade do Porto, em Portugal, o museu também reitera sua vocação experimental e vincula, uma vez mais, seu nome a outras mostras emblemáticas de artistas e movimentos artísticos brasileiros aqui realizadas. Finalmente, Trilha para 2 lugares e trilha para 2 lugares soma-se ao nosso programa de exposições temporárias, cuja dinâmica é complementar àquela das mostras do acervo – ou seja, revelar outros pontos de vista da produção de artistas que fazem parte de nossa coleção.

 

De acordo com Felix os trabalhos dessa série “visam traduzir uma ideia de espaço simultâneo, de construção poética que amalgamam locais por meio do desenho […]. Nesse sentido, esculturas, desenhos, ações, fotografias, vídeos e deslocamentos ilustram um texto formando uma noção de lugar que se submete a um desenho no globo terrestre.” A confluência desses espaços diversos, fundamentados experiencialmente, só pode fazer sentido e ser produzida com base num “método poético para descontrole de localidade” marco que separa a ambiguidade poética característica da arte da experimentação cientificamente regulada.

Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes

 

 

Sobre o artista

 

Nascido no Rio de Janeiro, em 1954, Nelson Felix ocupa lugar de destaque na cena contemporânea desde 1978, quando integrou a exposição “Artistas Cariocas”, na Fundação Bienal de São Paulo, até a recente mostra individual “O Oco” (2015), na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Com diversos prêmios, residências e exposições no Brasil e no exterior, o artista participou ainda de várias bienais, como a III Trienal de Desenho (1986), no Germanishes National museum, em Nuremberg, Alemanha; XXIII Bienal Internacional de São Paulo (1996); Bienal do Barro (1998), no Centro Cultural de Maracaibo, Venezuela; II Bienal do Mercosul (1999), em Porto Alegre; Brasil + 500 anos, Mostra do Redescobrimento, Bienal de São Paulo (2000); V Bienal do Mercosul (2005), em Porto Alegre; Bienal no Instituto Tomie Ohtake (2010), em São Paulo; Bienal do Vento Sul (2011), em Curitiba.

 

 

 

De 08 de abril a 04 de junho.

Lygia Pape em NY

24/mar

Lygia Pape ganha primeira grande retrospectiva nos EUA

 

POR MARCELO BERNARDES

 

Os mais importantes museus de Nova York estão vivendo um verdadeiro caso de amor com o movimento neoconcretista, originado no Rio de Janeiro em 1959.

 

Depois de uma abrangente exposição do trabalho de Lygia Clark (1920-1988), organizada pelo Museu de Arte Moderna, o MoMA, em 2014, e antes de uma superlativa examinação da obra de Hélio Oiticica (1937-1980), que o museu Whitney inaugura em julho, o MetBreuer (anexo do Metropolitan especializado em arte moderna) lança,dia 21, a exposição “A Multitude of Forms”, primeira grande retrospectiva dedicada ao trabalho da artista Lygia Pape (1927-2004) a ser montada nos Estados Unidos.

 

Organizada pela curadora espanhola Iria Candela, expert do Metropolitan em arte latino-americana contemporânea, a mostra de Lygia Pape não supera, em número de trabalhos expostos, a da abrangente exposição “Espaços Imantados”, organizada no museu Rainha Sofia, em Madri, em 2011. Mas Nova York pode ver duas obras não apresentadas na Espanha: a tela “O Livro dos Caminhos” (1963-1976) e as esculturas “Amazoninos” (1991-1992).

 

O fato de a retrospectiva de Pape ter sido organizada no museu MetBreuer tem caráter bastante especial. A artista carioca era grande fã do prédio modernista criado pelo arquiteto húngaro baseado em Nova York, Marcel Breuer (1902 -1981), em 1966. “Lembro-me que, em nossa primeira visita ao local, quando o prédio pertencia ao museu Whitney, Lygia ficou olhando o piso, o teto, as janelas, as formas generosas do museu, e disse que seria fantástico poder exibir aqui um dia”, diz Paula Pape, filha da artista, em entrevista ao blog, na manhã de hoje (20).

 

A curadora Candela contextualiza o diálogo entre as obras de Pape com a arquitetura de Breuer. “Trata-se de uma conexão muito clara, pois é uma ligação histórica. O trabalho de ambos cresceu a partir dos legados do avant-garde europeu”, explica a curadora ao blog. “O neoplasticismo, o suprematismo, a Bauhaus, Mondrian e Kazimir Malevich foram abraçados por ambos”, prossegue. “Lygia foi uma grande herdeira daquele movimento, não só criando um vocabulário universal de cores e formas, mas como também guiando todas aquelas influências em direção completamente inédita”.

 

Como o nome didaticamente oferece, a mostra “A Multitude of Forms” reúne o trabalho de Pape em diversas mídias experimentadas ao longo de sua carreira, iniciada com o concretismo na década de 50, e que incluiu pintura, gravura, escultura, dança, filme, performance e instalação. “Lygia costumava dizer que o grande termômetro de uma exposição vem das pessoas que tomam conta das galerias dos museus”, diz Paula. “E o pessoal responsável pela segurança que encontrei por aqui parece instigado, reagindo com grande interesse pelas obras. É como se estivessem felizes com o que vêem”, conclui.

 

A obra mais representativa do trabalho de Pape, e que serve de pôster da exposição, é “Divisor” (1968), uma performance em que várias pessoas enfiam as cabeças em buracos abertos num gigantesco lençol branco, trabalho que a carioca explicou ser tanto uma celebração do corpo, espaço e tempo (como boa parte de sua obra), mas também uma crítica à burocracia moderna.

 

No sábado (25), como uma espécie de complemento para a instalação em vídeo, o MetBreuer vai apresentar, em alguns quarteirões do Upper East Side (onde está localizado o museu), uma “peregrinação” baseada na obra. Paula Pape, que é fotógrafa, vai filmar a performance. “Divisor” foi o primeiro trabalho de Pape que a curadora Candela tomou conhecimento. “Ao fazer minha dissertação em arte pública, rapidamente me interessei pelo trabalho de Pape”, explica. “Ela foi a pioneira em trabalhos em espaços públicos, mudando a face das performances”.

 

Também chama a atenção a monumental obra “Ttéia, C1” (1976-2004), que encerra a exposição com chave, ou melhor, fios de ouro. A obra é feita por uma sucessão de fios dourados que atravessam o ambiente, dando a sensação de uma tempestade de linhas ou feixes de luz. Onde quer que seja montada, a instalação parece sempre ganhar nova leitura, uma vez que os fios precisam se adequar aos novos espaços ou mudanças na iluminação.

 

Não poderia ser diferente no MetBreuer. “O teto aqui não é plano, mas sim de módulos vazados, então foi-se criada toda uma estrutura para afixar as placas que sustentam os fios no teto”, explicou ao blog o engenheiro e artista plástico Ricardo Forte, genro de Lygia Pape. Por questão de segurança, o MetBreuer vetou que “Ttéia” ficasse muito rente ao chão. “Isso nos obrigou a montar a peça numa plataforma de 30 centímetros de altura, quando o normal é 5 centímetros”, explica Forte.

 

A exposição de Pape reúne cinco décadas do trabalho da artista carioca. Paula Pape disse ter ficado “emocionada” já na primeira galeria, onde as séries “Pintura” “Relevo” e “Tarugo”, da fase concretista, foram montadas de maneira criativa. Há galerias especiais para o manifesto neoconcreto, criado por artistas e poetas cariocas, entre as Lygias e Oiticica, também Ferreira Gullar, Amílcar de Castro e Reynaldo Jardim – e para filmes do Cinema Novo, em alguns dos quais Pape colaborou no projeto gráfico.

 

A proposta do movimento neoconcretista, de favorecer relações mais interativas entre artes e espectadores, é semi-obstruída na exposição do MetBreuer por questões de preservação. As séries “Livro de Arquitetura” e “Poema-Objeto”, livros com elementos arquitetônicos semi-abstratos que as pessoas eram encorajadas a manusear, agora ficam inacessíveis ao tato, trancadas numa caixa de vidro. Mas ainda é possível experimentar, com o auxílio de conta-gotas descartáveis, os sabores da instalação “Roda dos Prazeres” (1967), com vasilhas de porcelana carregadas de líquidos multicoloridos.

 

A retrospectiva Pape é uma das exposições que comemoram o primeiro ano de funcionamento do MetBreuer. A diretora do museu, a inglesa Sheena Wagstaff, que veio do Tate Modern, de Londres, apontou na manhã de hoje que, em 12 meses de funcionamento, o museu teve quatro grandes exposições de mulheres artistas. Começou com a pintora indiana Nasreen Mahamedi (1937-1990), seguida da fotógrafa americana Diane Arbus (1923-1971), da escultora e pintora italiana Marisa Merz, 91, (essa ainda em cartaz até maio) e agora Pape.

 

Candela ressalta que a igualdade de gêneros, tão discutida hoje nas narrativas artísticas, nunca foi problema no Brasil. “Na verdade, o Brasil sempre foi muito inclusivo nas artes plásticas”, explica. “Mulheres sempre destacaram-se muito cedo, como Tarsila do Amaral (1886-1973), por exemplo. Até hoje essa representação é muito igual, com grandes artistas saídas do Rio, São Paulo e mais recentemente de Belo Horizonte também”.

Gaudi no MAM Rio

10/mar

O MAM Rio, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ,inaugura no próximo dia 16 de março a exposição “Gaudí: Barcelona, 1900”, que reúne maquetes, algumas delas em escala monumental, e peças de design, entre objetos e mobiliário, criados pelo genial arquiteto catalão, conhecido mundialmente por seu estilo único. Completam a mostra cerca de 40 trabalhos de outros artistas e artesãos que compunham a cena avançada de Barcelona da época. Todas as peças pertencem aos acervos do Museu Nacional de Arte da Catalunha, Museu do Templo Expiatório da Sagrada Família e da Fundação Catalunya-La Pedrera, em Barcelona, que apoiaram a exposição. A idealização e realização do projeto foram do Instituto Tomie Ohtake, com coordenação geral da Chizhi – Organización Proyecto Cultural Internacional. A curadoria é de Raimon Ramis e Pepe Serra Villalba, especialistas em Gaudí.

 

 

Até 30 de abril.

Mercado de Arte Moderna

03/fev

O MAM-SP, Museu de Arte Moderna, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, comemorando 70 anos da abertura da Galeria Domus em 5 de fevereiro de 1947, apresenta a exposição “O Mercado de Arte Moderna em São Paulo: 1947-51”,  exibindo obras do acervo cujos autores frequentaram a galeria. Em cinco anos, a Domus organizou 91 exposições, sendo pioneira em privilegiar artistas do modernismo brasileiro e da geração que os sucedeu, como indicava sua exposição inaugural.

 

Transformada em ponto de reunião de intelectuais e artistas, favoreceu a mobilização da classe na divulgação da produção artística, estimulando estratégias de publicidade e foco da crítica, como o lançamento da revista Artes Plásticas. Na exposição “Pintura Paulista” no Rio de Janeiro em 1949, mobilizou 188 obras, postas à apreciação da imprensa e do público carioca – iniciativa destinada a levar os artistas para fora de seu território e ampliar o mercado. Dos participantes dessas exposições, a maioria voltou a se apresentar em individuais ou em grupos, como ocorreu com Alfredo Volpi, Mario Zanini, Rebolo Gonsales e Paulo Rossi Osir.

 

 

Estrangeiros em trânsito ou vindos definitivamente para o Brasil, como Danilo Di Prete, Gerda Brentani, Samson Flexor e Anatol Wladyslaw, buscaram na Domus o primeiro contato com o público paulistano. Raphael Galvez e Emídio de Souza tiveram na galeria suas primeiras exposições individuais; Lívio Abramo, foi frequente e próximo da casa desde a primeira exposição; Oswaldo Goeldi lá mostrou seu primeiro conjunto de obras em São Paulo.

 

 

Em homenagem aos críticos atuantes nesse período, Sérgio Milliet é mostrado na faceta menos conhecida de pintor. As iniciativas da Domus lograram conjugar o propósito comercial com a repercussão crítica, tornando mais conhecidos seus artistas e provocando a discussão das características da arte paulista naquele período. Esta exposição, recolocando em perspectiva histórica esse conjunto de obras, estimula a análise de sua significação e potência no panorama da arte brasileira.

 

 

De 08 de fevereiro a 30 de abril.

Lugares do delírio

31/jan

Num momento de desafios cotidianos ao que outrora pode ter parecido uma ideia inquestionável de racionalidade – como nos episódios recentes de intolerância que têm produzido violências inadmissíveis em escala local e global -, o MAR, Museu de Arte do Rio, Centro, Praça Mauá, Rio de Janeiro, RJ, inaugura em 07 de fevereiro, seu programa de exposições de 2017, com uma mostra dedicada ao delírio, força criadora que concerne a todos em sua capacidade política de reposicionar a razão. Se o século XXI tem nos impelido a rever o senso (em especial, o “bom senso” e o “senso comum”), não poderíamos fazê-lo sem reconsiderar também o “dissenso” e o nonsense, aquilo que hipoteticamente não possuiria laços de sentido. A partir dessas indagações, “Lugares do delírio” foi idealizada há mais de dois anos por seu primeiro diretor cultural, Paulo Herkenhoff. A seu convite, a curadora Tania Rivera propôs uma delicada trama de experiências, obras e projetos que dão a ver formas de resistência e de agenciamento de forças inconformes a modelos de racionalidade.
“Lugares do delírio” reúne trabalhos e práticas significativas em torno do delírio e da dimensão produtiva da loucura. Apresenta uma trama de experiências e artistas que atuaram no território da saúde mental no Brasil, especialmente a partir dos anos 1940, com o trabalho da dra. Nise da Silveira no Centro Psiquiátrico Pedro I. Curadoria de Tânia Rivera.

 

Local: 2º andar do Pavilhão de Exposições

 

No dia da abertura, 07 de fevereiro, às 16h, haverá Conversa de Galeria e performance “In Atto”, de Anna Maria Maiolino. Parte da programação da exposição “Lugares do delírio – Programa arte e sociedade no Brasil III”, a performance liga e se desenvolve entre as duas personagens: uma jovem, outra anciã e com o público circunstante. A obra se reveste de alguns aspectos de rituais e proporciona a afirmação da vida sobre a morte.
“In ATTO”: é uma obra, uma linguagem que expressa afecções. A performance liga e se desenvolve entre as duas personagens: uma jovem, outra anciã e com o público circunstante. A obra se reveste de alguns aspectos de rituais e proporciona a afirmação da vida sobre a morte. Sandra realiza uma paisagem sonora e corporal composta de vocalizações, cantos e fala. Temos voz e um corpo que se movem com grande dose de improvisação. Anna, a mulher anciã está por perto, atenta e solicita. Ela metaforicamente e simbolicamente é mestre e serva da jovem para a volta à vida.
A performance in ATTO foi apresentada primeiramente na galeria Raffaella Cortese na exposição individual da artista: CIOè em Milão, em abril de 2015. A seguir foi realizado um vídeo-documento da mesma.
Local: Térreo do Pavilhão de Exposições do MAR.

MAM 2017 com Anita Malfatti

27/jan


Com curadoria de Regina Teixeira de Barros, mostra celebra centenário da primeira mostra de arte moderna no Brasil. Cerca de 70 obras, entre desenhos e pinturas de retratos, nus e paisagens, ilustram três fases da carreira de Anita Malfatti.
O Museu de Arte Moderna de São Paulo, Grande Sala, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, abre, no dia 07 de fevereiro, a exposição “Anita Malfatti: 100 anos de arte moderna”, apresentando obras representativas da trajetória de um dos mais importantes nomes da arte brasileira do século XX. Para retratar a vasta produção da pintora, desenhista, gravadora e professora Anita Malfatti (São Paulo – SP, 1889 – 1964), a curadora Regina Teixeira de Barros concebeu a mostra como uma homenagem ao centenário da exposição inaugural do modernismo brasileiro, uma individual de Anita aberta em dezembro de 1917, e que recebeu severa crítica do conservador Monteiro Lobato na ocasião. A mostra do MAM exibe desenhos e pinturas que ilustram retratos, paisagens e nus de três fases distintas da trajetória artística, expostas ao lado de fotografias e documentos da época como cartas, convites e catálogos, com patrocínio Master: Bradesco, PWC.

 
Cem anos se passaram desde que a Exposição de arte moderna Anita Malfatti alterou os rumos da história da arte no Brasil, por ser a primeira mostra reconhecidamente moderna realizada no país e considerada o estopim para a realização da Semana de Arte Moderna de 1922. Realizada no centro de São Paulo, entre 12 de dezembro de 1917 e 10 de janeiro de 1918, a individual da artista exibia 53 obras, sendo 28 pinturas de paisagem e retratos, 10 gravuras, cinco aquarelas, além de desenhos e caricaturas. O conjunto representava um consistente resumo de seis anos de produção da artista, compreendidos pelos anos de aprendizado na Alemanha (1910-1913) e nos Estados Unidos (1914-1916), além de trabalhos realizados no regresso a São Paulo. Até então, a cidade de São Paulo só havia sediado mostras de arte de cunho acadêmico. Segundo a curadora, a mostra de Anita foi recebida com assombro e curiosidade, tendo visitação intensa e venda de oito quadros expostos, mas após a publicação da crítica de Monteiro Lobato intitulada “A propósito da exposição Malfatti”, no jornal O Estado de S. Paulo de 20 de dezembro de 1917, boa parte do público concordou com as ideias do renomado autor, fazendo com que cinco obras compradas fossem devolvidas. Regina explica que desde então, o nome de Anita ficou associado ao de Lobato. “Adepto fervoroso da arte naturalista, Lobato desdenhou dos ismos da arte moderna (como expressionismo e cubismo), mas não deixou de reconhecer a competência de Anita elogiando o talento fora do comum e as qualidades latentes da jovem artista”, explica a curadora.

 
No MAM, a mostra Anita Malfatti: 100 anos de arte moderna conta com obras que abrangem diversos aspectos da produção, apresentando uma artista sensível às tendências e discussões em pauta ao longo da primeira metade do século XX. A exposição tem como finalidade apresentar um recorte da trajetória de Anita, dividindo em três momentos: os anos iniciais que a consagraram como o “estopim do modernismo brasileiro”; a época de estudos em Paris e a produção naturalista; e, por fim, as pinturas com temas populares. A exposição inicia com um conjunto de trabalhos realizados na Alemanha, seguido de retratos e paisagens expressionistas exibidos em 1917, que causaram grande impacto no, até então, tradicional meio paulistano, entre as quais os óleos sobre tela “O japonês” (1915/16), “Uma estudante” (1915/16), “O farol” (1915) e “Paisagem (amarela) Monhegan” (1915). Desse período também consta um conjunto de desenhos a carvão, composto de nus masculinos e retratos.

 
Entre a primeira e a segunda parte da mostra, sobressai o interesse pela temática nacional, onde figuram trabalhos famosos como “Tropical” (c.1916), “O homem de sete cores” (1915/16) e “Figura feminina” (1921/22). Além desses, constam obras realizadas a partir do convívio com os modernistas como o pastel “Retrato de Tarsila” (1919/20), a pintura “As margaridas de Mário” (1922) e o célebre desenho “O grupo dos cinco” (1922), que retrata os modernistas Tarsila do Amaral, Mario de Andrade, Menotti del Picchia, Oswald de Andrade e a própria Anita Malfatti.

 
No segundo nicho são apresentados os frutos dos anos de estudo em Paris, que representam uma fase mais naturalista em que são produzidas paisagens europeias como nas pinturas a óleo “Porto de Mônaco” (c. 1925) e “Paisagem de Pirineus, Cauterets” (1926), e nas aquarelas “Veneza, Canal” (c.1924), “Vista do Fort Antoine” em Mônaco (c. 1925), somados a desenhos de nus feitos com linhas finas e suaves na década de 1920. São desse período também pinturas singulares como “Interior de Mônaco” (c. 1925) e “Chanson de Montmartre” (1926).

 
Para finalizar, a terceira parte engloba trabalhos realizados nos anos 1930-40, época em que a artista se dedicou a retratar familiares, amigos e membros da elite, além de temas populares. Destacam-se as obras “Liliana Maria” (1935-1937) e “Retrato de A.M.G.” (c. 1933), em que figuram sua sobrinha e o amigo Antônio Marino Gouveia, ambas com tratamento naturalista. Na primeira, o fundo neutro é substituído por uma paisagem à maneira renascentista; na segunda registra uma de suas pinturas que pertencia à coleção do retratado. Nessa fase, apresentam-se ainda paisagens interioranas e temáticas populares como em “Trenzinho” (déc. 1940), “O Samba” (c. 1945), “Na porta da venda” (déc. 1940-50). A mostra se encerra com pinturas aparentemente naïf e reveladores da habitual ousadia da artista, em que utiliza cores fortes para criar espaços mais achatados como em “Composição” (c.1955) e “Vida na roça” (c.1956).

 

 

Sobre a curadora

 
Regina Teixeira de Barros é curadora independente e historiadora da arte especializada em arte brasileira moderna. Possui Mestrado em Estética e História da Arte pela ECA-USP e é doutoranda do Programa de Pós-graduação Interunidades em Estética e História da Arte da USP. É professora de História da Arte Moderna e Contemporânea na Faculdade Santa Marcelina desde 2002. Ministra a disciplina de Curadoria de Exposições de Arte na pós-graduação em Museologia, Colecionismo e Curadoria do Centro Universitário Belas Artes. Entre 2003 e 2015, trabalhou na Pinacoteca do Estado de São Paulo, onde realizou diversas curadorias como Tarsila viajante, Arte no Brasil: uma história do Modernismo na Pinacoteca de São Paulo e Arte construtiva na Pinacoteca. Como curadora independente, destacam-se Antônio Maluf (Centro Universitário Maria Antônia da USP, 2002), Tarsila e o Brasil dos modernistas (Casa Fiat, BH, 2011) e Arte moderna na Coleção da Fundação Edson Queiroz (Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, e Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, 2016).

 

 
De 07 de fevereiro até 30 de abril.

Limberger na Pinacoteca

23/jan

A Pinacoteca do Estado de São Paulo, Praça da Luz, São Paulo, SP,museu da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo -, apresenta dois trabalhos do artista Fernando Limberger no Pátio 1, térreo do museu. Os trabalhos exploram o uso de diferentes espécies de arbustos, árvores e sementes a fim de propor a reflexão sobre a relação entre Natureza e Cultura. A mostra tem apoio da Regatec para o sistema de irrigação.

 

“Contenção Verde” é o primeiro trabalho, uma espécie de reprodução mimética de um jardim urbano, com terra, plantas adultas de até oito metros de altura, e, ao mesmo tempo, mureta de concreto e grades. São espécies arbóreas, arbustivas herbáceas, nativas e exóticas colocadas juntas em um mesmo espaço, formando um grande volume verde cercado por grades de ferro, como aquelas presentes nos parques da cidade de São Paulo. A luz é natural e a irrigação sustentável e projetada.

 

O jardim, de formato octogonal, ocupa o centro da sala, com circulação para o público na área externa a ele. A ironia em “Contenção Verde” são as grades que estão ali para definir dois espaços distintos, um com vegetação e sem pessoas, e outro sem vegetação e com pessoas. “Quando o visitante passar pela passarela verá a copa das árvores e esse volume verde confinado. As grades segregam as plantas das pessoas, ao mesmo tempo que retém a sua expansão. Uma realidade antagônica que fala sobre a imposição de certa racionalidade aos espaços, vista também nos jardins urbanos. Ao mesmo tempo em que coloca o homem como a figura central no manejo da vegetação”, explica Pedro Nery, curador da exposição.

 

“Botânica SP” também encontra-seexposta no Pátio 1 e trata-se de uma sementeira gigante que contém 150 espécies diferentes de sementes coletadas em ruas, praças e parques da cidade, todas catalogadas e acompanhadas de placas informativas. Ali elas são irrigadas e brotarão livremente em tempos distintos. “A ideia é que durante os três meses de exposição haja uma transformação que possibilite o visitante acompanhar o crescimento dos brotos”, completa Nery.

 

 

 

Até 20 de fevereiro.

Agostinho no MASP

19/jan

O pintor primitivo Agostinho Batista de Freitas recebeu especial atenção do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, MASP, Avenida Paulista, São Paulo, SP, através de amplo trabalho de campo e a realização de um esmerado catálogo do qual participam críticos especialmente convidados para uma nova reflexão sobre a obra do artista.

 
Esta exposição reúne 74 pinturas realizadas entre as décadas de 1950 e 1990, incluindo cinco telas recentemente doadas ao acervo do MASP, fazendo com que, pela primeira vez, a obra de Agostinho Batista de Freitas (1927-1997) esteja presente na coleção do Museu, corrigindo uma lacuna histórica.

 
Instalada na arquitetura franca e direta de Lina Bo Bardi (1914-1992), com suas transparências e aberturas para a paisagem urbana, a obra de Batista de Freitas convida a uma visão ativa sobre São Paulo, com suas complexas dinâmicas urbanas, histórias e diferenças sociais.
Agostinho Batista de Freitas, São Paulo faz parte de um importante eixo da direção artística do MASP, que pretende questionar os conceitos de arte erudita e popular, dedicando mostras a artistas autodidatas, frequentemente de origem humilde ou reclusos, operando fora dos circuitos tradicionais do sistema da arte.

 
Essas estratégias hoje comportam ainda a reencenação de “A mão do povo brasileiro”, uma das mais célebres e polêmicas exposições organizadas pelo Museu, e a realização de mostras que privilegiam a leitura de temas populares no modernismo brasileiro, como Portinari popular. A ideia é construir um museu aberto, múltiplo e plural, que seja permeável a diversas culturas.

 
As histórias de Batista de Freitas e do MASP se misturam. O diretor fundador do MASP, Pietro Maria Bardi (1900-1999), introduziu o trabalho do artista no circuito de arte ao realizar sua primeira individual, em 1952. Ele tinha apenas 25 anos de idade, morava no bairro do Imirim, na Zona Norte de São Paulo, pintava e mostrava suas obras nas ruas do centro de São Paulo, onde Bardi o conheceu. Parte fundamental deste projeto é a publicação de um extenso catálogo, com reproduções de todas as obras em exibição, documentos raros e fotografias de época, além de seis ensaios inéditos dos curadores e de críticos especialmente convidados a produzir novas reflexões sobre um artista até então marginalizado pela história da arte o­ficial. (Fernando Oliva, Curador, MASP / Rodrigo Moura, Curador adjunto de Arte Brasileira, MASP).

 

 

 
Até 09 de abril.

Crítica de arte

09/dez

Um dos mais importantes e atuantes críticos de arte do Brasil na década de 1970, Francisco Bittencourt (1933 – 1997), terá sua produção reunida pela primeira vez no livro “Francisco Bittencourt: Arte-Dinamite” (Editora Tamanduá Arte), organizado pela curadora e crítica de arte Fernanda Lopes e pelo escritor Aristóteles Angheben Predebon, detentor dos direitos de publicação da obra do crítico. Com cerca de 550 páginas, o livro apresentará um amplo panorama da produção de Francisco Bittencourt, que escreveu no Jornal do Brasil e na Tribuna da Imprensa, no Rio de Janeiro, e no Correio do Povo, no Rio Grande do Sul. Haverá, ainda, uma entrevista concedida ao crítico a António Celestino, em 1975, publicada no jornal Tribuna da Imprensa. O lançamento será no dia 10 de dezembro, no Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, e será seguido de debate com os organizadores e o crítico de arte Frederico de Morais. O livro tem patrocínio da Secretaria Municipal de Cultura, através do edital Viva a Arte!
Francisco Bittencourt foi um dos principais nomes da crítica de arte no Brasil, mais especificamente no Rio de Janeiro, durante os anos 1970. Foi um dos mais importantes defensores e divulgadores da geração de artistas plásticos que surgia e se consolidava naquela época, como Antonio Manuel, Anna Bella Geiger, Artur Barrio, Ascanio MMM, Cildo Meireles, Ivald Granato, Lygia Pape, Raymundo Colares, entre outros. É dele uma das expressões mais marcantes usadas até hoje para se pensar a produção artística brasileira nos anos 1970: “Geração Tranca-Ruas”.
“Os textos de Francisco Bittencourt são resultado do esforço, do exercício de pensar para além das convenções e dos modelos até então instituídos e compartilhados pelo cenário artístico brasileiro, contribuindo de maneira definitiva para o debate mais efervescente da arte brasileira, naquele momento e ainda hoje”, diz Fernanda Lopes. “É impressionante (e muito revelador) como os temas tratados por Bittencourt há mais de quatro décadas permanecem extremamente atuais”, ressalta.
O livro revela um rico panorama de sua obra, além de parte importante da história da arte e da crítica de arte no Brasil. Os organizadores realizaram uma ampla pesquisa de textos nos veículos de comunicação onde Francisco atuou e selecionaram cerca de 130 publicações que mostram os diferentes aspectos de sua produção crítica. No jornal Tribuna da Imprensa, ele escreveu a coluna semanal “Artes Plásticas”, entre 1974 e 1979. No Correio do Povo, colaborou com textos semanais entre 1975 e 1979. Ainda na década de 1970, trabalhou como interino no Jornal do Brasil.
“Sua postura generosa, atenta a atitudes novas, procura se opor não só ao que se faz de convencional em termos de arte, mas também em termos de crítica. É comum encontrarmos depoimentos de artistas sobre suas obras, discursos referidos, tentativas de elaboração e aprimoramento de caminhos próprios“, conta Aristóteles Angheben Predebon. Dono de um texto forte e envolvente, Francisco Bittencourt escrevia sobre os artistas contemporâneos da época e também sobre as Bienais, os Salões de Artes Plásticas e as instituições, principalmente o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e o Museu Nacional de Belas Artes. Bittencourt destacava não somente a programação dos museus e centros culturais, mas também suas precariedades e sua administração, criticando também a ausência de alguns artistas em certas exposições. Alguns textos, inclusive, atacam a própria imprensa, dizendo que alguns fatos surpreendentemente não ganharam o merecido espaço na mídia.
“Esses textos, em sua maioria publicados na imprensa diária, alternam-se entre discussões sobre o sistema de arte, o fazer artístico e da crítica de arte, além de perfis de artistas. (…) Em comum todos eles têm um olhar urgente e inconformado sobre os anos 1970 do Brasil, partindo do contexto artístico, mas que a ele não se limitam. E é isso que essa organização procurou enfatizar”, afirma Fernanda Lopes, que diz, ainda, que esses textos em conjunto “revelam um crítico comprometido, que não desassocia ética e estética, e que com seu humor ácido dedica-se a pensar não só a produção artística, mas também a produção da crítica de arte”.
O título do livro foi retirado de um texto de Francisco Bittencourt sobre a exposição de Artur Barrio, na Pinacoteca do Estado de São Paulo, publicado no jornal Correio do Povo, em 3 de dezembro de 1978, onde ele destaca os “Cadernos livros” do artista. Ele termina a crítica sugerindo que aquela seria uma boa exposição para ser apresentada no Museu de Arte do Rio Grande do Sul, uma sugestão ousada, inimaginável nas críticas de arte publicadas atualmente nos jornais.
Aristóteles Angheben Predebon ressalta que Francisco deixou inéditos livros de poemas, um romance, contos, duas peças de teatro. Ele diz que “Francisco Bittencourt: Arte-Dinamite” “trata-se do primeiro passo de um projeto maior: pretende-se, a partir daqui, publicar toda a sua obra inédita”.

 

 

Sobre Francisco Bittencourt
Francisco Badaró Bittencourt Filho nasceu em Itaqui, RS, 1933. Mudou-se com a mãe para Porto Alegre em 1948. Lá publica, em 1952, o livro de poemas “Vinho para Nós”. Passa a contribuir com revistas como a “Província de São Pedro”, da Editora Globo, e em suplementos literários. Aos vinte anos, muda-se para o Rio de Janeiro. Lança seu segundo livro de poemas, “Jaula Aberta”, em 1957. Vive no exterior durante quatro anos, de 1964 a 1968, contratado pela Rádio do Cairo. Volta ao Brasil e passa a exercer a atividade de crítico de arte, além de estar empregado pela Embaixada da Inglaterra durante os dez anos seguintes. Escreve semanalmente, durante a década de 1970, para jornais como a Tribuna da Imprensa e Correio do Povo e contribui como interino no Jornal do Brasil, escrevendo eventualmente também para revistas como a Vozes. Publica artesanalmente dois números do “Budum”, com a colaboração de Artur Barrio, Caio F. Abreu e outros. Trabalha como tradutor do francês e do inglês; é sua a primeira tradução em língua portuguesa de “Germinal”, de Émile Zola. Em 1978, ao lado de Agnaldo Silva e de outros intelectuais homossexuais, funda o “Lampião de Esquina”, jornal dedicado sobretudo às questões de sexualidade, mas que também procura abarcar questões feministas, raciais, indígenas e ligadas às minorias de modo abrangente, além de questões artísticas e culturais. Sua atividade como crítico de arte é interrompida em 1980, ano em que também se debela um inócuo processo contra o “Lampião de Esquina”. Durante toda sua vida foi poeta, tendo publicado ainda outros livros, como “Pequenos deuses”, em 1995, “A vida inédita”, em 1996, e “Aquela mulher”, também em 1996. Faleceu em 1997, deixando diversos livros de poemas ainda inéditos, duas peças de teatro e o romance memorialista “O Homem dos Outros” ou “Bico!”, gíria que significa “cale-se!”.

 

Resgate
Francisco Bittencourt: Arte-Dinamite” é o primeiro volume de uma série que será lançada pela editora Tamanduá Arte, que se baseia na pesquisa e no resgate da memória da critica de arte no Brasil, com a edição da obra de importantes nomes desde a década de 1950. O próximo volume a ser lançado no ano que vem será sobre o crítico Walmir Ayala, com organização de Carlos Newton Junior, professor da Universidade Federal de Pernambuco, e de Andre Seffrin, crítico literário. Parte da tiragem de 1000 exemplares será distribuída para instituições, centros de pesquisa, fundações, museus, bibliotecas públicas, bibliotecas de universidades com cursos de graduação e/ou pós-graduação na área de Artes Visuais, garantindo assim o amplo acesso a essa produção.