Os anéis de tecidos de Lidia Lisbôa

14/jun

A artista Lidia Lisbôa apresenta sua nova individual no Museu de Arte do Rio – MAR, Praça Mauá, Centro, Rio de Janeiro, RJ, até 08 de Setembro.

A exposição “Têta”, apresenta cerca de trinta obras, em sua maioria inéditas, abarcando diferentes aspectos e técnicas que constituem a produção de Lidia Lisbôa (1970, Terra Roxa, PR, Brasil). O ponto de partida da seleção são as obras “Tetas que deram de mamar ao mundo”, série iniciada em 2011, nas quais Lidia Lisbôa crocheta e sobrepõe anéis de tecidos, formando esculturas de grandes dimensões que pendem do teto até próximo ao chão.

Uma gestualidade semelhante é constituinte das esculturas Cupinzeiros, outra longeva série da artista que integra a mostra. Além desses, são apresentados trabalhos comissionados especialmente para a ocasião.

A curadoria é de Amanda Bonan, Marcelo Campos, Thayná Trindade e Jean Carlos Azuos.

A arte de Tadáskia

13/jun

Ave preta mística de Tadáskía alça voo e chega ao MoMA de Nova York

Uma vigorosa composição de desenhos coloridos em movimentos expansivos, que tomou as paredes de uma sala circular na edição da Bienal de São Paulo no ano passado, ganhou um novo pano de fundo em exposição no Museu de Arte Moderna (MoMA), em Nova York. A obra ave preta mística mystical black bird (2022), da artista carioca Tadáskía (1993), foi recentemente adquirida pela instituição nova iorquina, uma das mais relevantes dedicadas à arte moderna e contemporânea no mundo.

Muitas vezes localizada entre as canônicas definições formais abstrato e figurativo, a prática artística de Tadáskía não cabe somente nesse tipo de parâmetro. A tenuidade evocada pela artista ao produzir é encontrada também em uma dança entre o visível e invisível, o místico e o mundano, o inteligível e o indecifrável. Formada em Artes Visuais e Licenciatura pela UERJ (2012-2016) e mestra em Educação pela UFRJ (2019-2021), a artista já realizou individuais em São Paulo, Lisboa e Barcelona, e participou de coletivas em Amsterdam, Marselha e Nova York, além de sua cidade natal, Rio de Janeiro. A obra ave preta mística mystical black bird (2022) é composta por 61 páginas soltas de um livro bilíngue, com uma poética que se materializa em desenho e escrita. Quando exposta, é acompanhada por desenhos expandidos – e intuitivos – que envolvem o ambiente no qual é instalada. Em proposição site-specific – criada especialmente para cada ambiente expositivo -, os desenhos feitos com carvão e pastel seco adaptam-se ao espaço e surgem a partir de uma relação criada entre o corpo da artista com o espaço.

Na 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível, Tadáskía também incluiu um grupo de esculturas feitas de bambu, palha e taboa, postas em bases circulares e acompanhadas de elementos como frutas, cascas de ovos costurados e pintados, e pó facial. Segundo declaração da artista, “a ave preta mística é uma população negra reunida além do tempo-espaço conhecido. Livre interpretação de Sankofa, um pássaro preto olhando para trás com um ovo em seu bico. Mística, a ave preta se transforma, tal como na ampliação de seus voos, nos mostrando um desejo incansável de liberdade”. Em participação no Em obras, podcast produzido pela Bienal de São Paulo, a artista relatou como o processo de produção do desenho nas paredes da Bienal exigiu de forma intensa uma entrega do seu corpo ao longo de 15 dias. Sem um projeto prévio para ocupar a sala circular, a artista se entregou a um processo orgânico, sem um ponto de partida e chegada pré-definido, desenhando de olhos fechados em muitos momentos, o que ela chama de “desenho cega”, buscando um estado meditativo e aberto ao inesperado.

Projects: Tadáskía

A aquisição da obra de Tadáskía para o acervo do MoMA é seguida por sua exibição a partir do The Elaine Dannheisser Projects Series, um programa criado pela instituição em 1971 com o intuito de apresentar artistas contemporâneos em ascensão. Atualmente, o projeto acontece em parceria com o the Studio Museum in Harlem, iniciativa que tem como missão o suporte e difusão de artistas afrodescendentes. À frente do the Studio Museum, a Diretora e Curadora Chefe Thelma Golden celebra a presença de Tadáskía enquanto representante da arte brasileira no exterior: “há e sempre houve uma arte incrível vindo do Brasil e estou emocionada que Tadáskía, com seus desenhos e esculturas imaginativas, irá transpor esse dinamismo criativo e fundamentá-lo em uma instalação site-specific para o espaço de projetos do MoMA. Esta colaboração especial é uma oportunidade notável para defender uma voz emergente na arte contemporânea e promove o compromisso do the Studio Museum com artistas de ascendência africana em todo o mundo. Sou infinitamente grata a Glenn Lowry e ao Museum of Modern Art pela parceria, que durante cinco anos garantiu a continuação do trabalho fundamental do the Studio Museum”. Com sua primeira exposição individual ocorrendo em Nova York, Tadáskía se junta a Ernesto Neto, Lygia Clark, Roberto Burle Marx e Tarsila do Amaral, o seleto grupo de artistas brasileiros que já tiveram suas obras expostas em individuais no museu. Em comunicado à imprensa, a artista revela a sensação de estar apresentando sua obra em Nova York: “é como se eu tivesse em um desenho animado, indo para uma terra estrangeira em que nunca estive e realizando um sonho de expor em um dos maiores e mais importantes museus do mundo, o MoMA”.

A relação com a ideia de estrangeiro está fortemente presente nas pesquisas da artista que, a partir de elementos familiares e íntimos, elabora sobre a diáspora negra. Artista negra e trans, Tadáskía utiliza as linguagens do desenho, fotografia, instalação e matéria têxtil, para desdobrar uma poética que dança nas esferas micro e macro, partindo muitas vezes de elementos particulares e íntimos, como sua família, todavia com capacidade de abordar questões mais amplas e coletivas.  Tanto nos poemas e desenhos presentes no livro, como nas esculturas e na instalação site-specific, os conceitos de mudança e efemeridade pavimentam a poética de Tadáskía. A múltipla narrativa em torno da ave preta mística, por exemplo, acompanha as mudanças vividas pela ave, seja pela influência de outras aves em convívio, seja através de adornos por ela utilizados, e sua forma, que se aproxima de outros elementos como estrelas e montanhas. Com uma visão bem resolvida sobre a importância do erro no processo artístico, bem como uma relação menos impositiva com as expectativas de finalização da obra, Tadáskía abre espaço para deixar fluir o pensamento em ação. Seus desenhos e materiais orgânicos escolhidos refletem um estado de espírito buscado pela artista.

Diogo Barros é curador, arte educador e crítico, formado em História da Arte, Crítica e Curadoria pela PUC SP.

Os 91 anos de Anna Bella Geiger

03/jun

O Sesc RJ, apresenta (até 08 de Setembro) na Galeria do Sesc Copacabana – 1° andar a exposição “Anna Bella Geiger – Entre o relevo e o recorte”. Mostra inédita que celebra os 75 anos de carreira da artista, que também completa 91 anos. A mostra inédita mergulha no universo multifacetado de Anna Bella Geiger, uma das mais influentes artistas brasileiras do século XX. A individual é realizada pela Agência Dellas e produzida pela Atelier Produtora, e conta com a curadoria de Ana Hortides. A mostra foi contemplada pelo Edital de Cultura Sesc RJ Pulsar 2024.

A mostra apresentará 29 trabalhos fundamentais que datam da década de 1960, especificamente no período entre 1960 e 1966. Destacando-se a obra Sem título, de 1961, vencedora do 1º Concurso Interamericano de Grabado, na Casa de las Americas, em Havana, Cuba, no ano de 1962.  “Anna Bella Geiger – Entre o Relevo e o Recorte” destaca especificamente a fase inicial da artista como gravadora, revelando a sua ousadia ao desafiar as convenções do meio. Um aspecto crucial da exposição é a exploração da técnica de recorte da chapa de metal da gravura, uma prática não usual na época, que sinalizava a direção de suas futuras experimentações.

Uma iniciação

Lembro-me bem de quando cheguei a uma compreensão mais plena e profunda dos princípios abstracionistas na minha própria obra em meados do ano de 1952. Estávamos num momento cultural em que alguns e algumas de nós, artistas, vínhamos buscando, individualmente, radicalizar essas  transformações, fosse aqui no Brasil, como internacionalmente. Isso após uma longa iniciação, desde 1949, no ateliê da artista Fayga Ostrower, através de incansáveis estudos e pesquisas baseados nos princípios cubistas de Pablo Picasso e Georges Braque, assim como nos exercícios propostos nos Notebooks de Paul Klee na Bauhaus. Incluiria aí também estudos sobre o uso da cor e da composição estrutural na gravura japonesa do século XVIII e na complexidade da escultura africana em suas diversas regiões. Naquele turbilhão de ideias, comecei a encontrar soluções próprias, individuais, em meus desenhos, guaches e gravuras abstratas. Nessa época, alguns de nossos pioneiros na área gráfica, como Osvaldo Goeldi, Lasar Segall, Lívio Abramo, inclusive a própria Fayga Ostrower (até 1952), eram artistas figurativos, não viam o mundo somente do ponto de vista estético, mas sim sob os seus aspectos sociais e humanos. Havia um conflito, um verdadeiro tabu, na questão da eliminação da figura humana na Arte. As desavenças eram profundas, e, no Brasil, ainda tínhamos uma questão extra-artística, como a do regionalismo ou do realismo. As questões desenvolvidas na minha obra, eram denominadas no vocabulário internacional como abstração informal ou lírica, com certa identidade com os pintores da Escola de Nova Iorque e de Paris, bem como as  levantadas pela  Fayga,  Iberê Camargo, Yolanda Mohalyi, entre outros. Desses artistas internacionais, podem ser citados, por exemplo, Franz Kline, Willem De Kooning, Robert Motherwell, Philip Guston, Jackson Pollock, assim como o franco-alemão Hans Hartung e o espanhol Antoni Tàpies. Em 1965, a minha própria concepção sobre a arte abstrata começa a se radicalizar, assumindo recortes e relevos na sua composição. É o caso de duas gravuras sem título, que diferem das outras anteriores porque recorto uma forma trapezóide na própria placa de latão, e assim, o relevo surge impresso no papel branco, vazio. É interessante notar que, apesar de não termos tido contato naqueles mesmos anos com os artistas abstratos internacionais, principalmente os da Escola de Nova Iorque, ocorreu uma certa concomitância com a obra internacional numa identidade de princípios, por exemplo, por certas posições políticas semelhantes do pós-guerra, culminando numa semelhança formal. Não devemos nos esquecer que a arte abstrata surge também em consequência da 2ª Guerra Mundial e adota um pensamento baseado na filosofia existencialista, do individualismo, do conceito de liberdade individual em Jean-Paul Sartre. Em fevereiro de 1953, organizou-se a Primeira Exposição Nacional de Arte Abstrata, no Hotel Quitandinha, em Petrópolis, da qual participei com três obras. Podemos dizer que ali, pela primeira vez no Brasil, os artistas abstratos marcariam posição contra as principais tendências da arte no país, compreendidas pela primeira vez do ponto de vista plástico-formal e não a partir de questões extra-artísticas, como o regionalismo e o realismo social. Já sobre o abstracionismo na minha obra, ele se desenvolveu até 1965, período em que participei de inúmeras Bienais Internacionais, como a de São Paulo (de 1961,1963,1965 até o ano de 1967), quando eu aderi ao boicote contra o AI-5. Ao longo de 1962 a 1966, integrei exposições, como o 1º Concurso Interamericano de Grabado, em Havana, Cuba, 1962, onde recebi o primeiro e único Prêmio “Casa de Las Américas”; o Brazilian Art Today, no Royal College of Art, Londres, em 1965; a 1ª Bienal Latino-Americana de Grabado, Santiago do Chile, em 1966, da qual recebi menção honrosa; a 1ª Exposição Jovem Gravura Nacional, do programa Jovem Arte Contemporânea (JAC), do Museu de Arte Contemporânea (MAC) de São Paulo no qual ganhei o 1º Prêmio de gravura. Além dessas, participei de exposições   individuais e coletivas, como a EL ARTE en America y España, em 1963, no Instituto de Cultura Hispânica, Madrid, entre outras. Em 1978, fui convidada por Paulo Sérgio Duarte, da recém-criada FUNARTE, para escrever uma publicação sobre o Abstracionismo no Brasil, que intitulei de Abstracionismo geométrico e informal: a vanguarda brasileira nos anos 50, publicada em 1987. Na ocasião, convidei o crítico de arte Fernando Cocchiarale para colaborar no livro. O Abstracionismo é considerado internacionalmente o último “ismo” da história da Arte Moderna.

Anna Bella Geiger.

O Ato Institucional Número Cinco (AI-5) foi o quinto de dezessete grandes decretos emitidos pela Ditadura militar nos anos que se seguiram ao golpe de estado de 1964 no Brasil, promovendo inúmeras ações arbitrárias que reforçaram a censura e a tortura como práticas da ditadura.

Texto curatorial

A mostra propõe uma viagem no tempo para o início da produção de uma das maiores artistas brasileiras, a carioca Anna Bella Geiger. Apresentando, pela primeira vez ao público, um recorte considerável dos seus primeiros trabalhos abstratos realizados em gravura e desenho ao longo da década de 1960, sendo muitos deles nunca expostos anteriormente. Anna Bella, ainda uma jovem artista com os seus 16 anos, em 1949 e ao longo dos primeiros anos da década de 1950, inicia os estudos em arte frequentando o ateliê da artista Fayga Ostrower no Rio de Janeiro, de quem Lygia Pape também fora aluna no mesmo período. Ambiente que lhe proporcionou uma aproximação com a produção de arte brasileira e estrangeira por meio de exercícios práticos e discussões teóricas. Já em 1953, participou com grandes nomes da época, como Lygia Clark, Antônio Bandeira, Abraham Palatnik e Ivan Serpa, da 1ª Exposição Nacional de Arte Abstrata, que se deu no Hotel Quitandinha, em Petrópolis, reunindo a vanguarda dos artistas das mais diversas tendências do abstracionismo brasileiro. Ao longo dos anos 1960, a artista começa a frequentar o ateliê de gravura do Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro, quando se detém à produção, aprofundamento e experimentação plástica e conceitual em torno do processo de produção das suas gravuras abstratas. Radicalizando, por volta de 1965, o seu processo criativo por meio do corte da chapa de metal da gravura e assumindo nas suas composições a ideia do relevo e do recorte de forma expressiva e experimental. Logo, podemos observar que o espaço vazio, predominantemente o do recorte, se faz presente na sua impressão gráfica. Apontando, assim, para um processo artístico arrojado, de uma artista que, já no início de sua trajetória, explora a técnica e a subverte. Uma pioneira nos campos da gravura e, também, da videoarte brasileiras por sua ousadia e experimentalismo da época. Além de uma educadora fundamental que esteve sempre em companhia e colaboração com os seus estudantes ao longo dos processos artísticos e educacionais que propunha e desenvolvia. Anna Bella contribuiu para a formação das gerações mais recentes de artistas e curadores da cena contemporânea carioca. Ministrou aulas como professora e compôs o conselho administrativo do MAM Rio nos anos 1970, promovendo cursos, encontros e acompanhamentos com artistas dentro e fora da instituição. Posteriormente, nas últimas décadas e até hoje, promove encontros e cursos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e no Hoger Instituut Voor Schone Kunsten, na Bélgica. A artista é autora e responsável pela organização da mais relevante publicação sobre arte abstrata que conhecemos até a atualidade. O livro “Abstracionismo Geométrico e Informal: a Vanguarda Brasileira nos anos 50” foi realizado em pesquisa conjuntamente com o curador e crítico de arte Fernando Cocchiarale e lançado pela editora da Funarte em 1987. Traçando um panorama dos primórdios da vanguarda abstrata geométrica e informal no Brasil, do pós-guerra até a retomada da figuração com a Nova Objetividade, a publicação se estrutura por meio de uma introdução, entrevistas e textos selecionados. Contribuindo, desse modo, por seu teor histórico e didático para a difusão e fortalecimento das questões fundamentais do debate em torno do abstracionismo no período. Feita essa nossa viagem no tempo, pudemos percorrer parte da sua produção em gravura e desenho, nos surpreender com o seu processo de trabalho e pesquisa, vislumbrar a sua atitude audaz e empírica. Hoje, com seus 75 anos de carreira e ativa no campo da arte e da educação, celebramos o legado da artista Anna Bella Geiger, que com sua genialidade e coragem, transformou os rumos da arte e se tornou uma inspiração para todos nós.

Ana Hortides.

A arte introspectiva de Eleonore Koch

27/maio

O silêncio e a elegância na obra de Eleonore Koch

Cadeiras, xícaras, uma máquina de costura, flores. Esses são alguns dos elementos que aparecem com frequência nos quadros de Eleonore Koch, artista que viu o início do reconhecimento de sua obra poucos anos antes de falecer, em 2018. Hoje, 6 anos depois de sua morte, essa valorização só cresce e tem alcançado cifras milionárias no mercado de arte, além de exposições e documentários. No Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP), 190 pinturas estão expostas em sua primeira grande retrospectiva. Com curadoria de Fernanda Pitta e obras de coleções públicas e privadas,  “Eleonore Koch: Em cena” reúne décadas de produção da artista, incluindo trabalhos nunca antes exibidos. Abordando os gêneros tradicionais da pintura explorados por ela (paisagens, naturezas-mortas e interiores), a mostra evidencia a simplicidade, o silêncio e a elegância retratados por meio de suas telas.

O início de tudo

Eleonore Koch nasceu em Berlim, em 1926, e veio para o Brasil ainda criança, aos 12 anos de idade. Imigrantes judeus-alemães, seus familiares fugiam do regime nazista. Desde cedo ela sonhava em trabalhar com arte, mas seu desejo era visto como uma ambição distante, já que todos os seus parentes levavam a vida difícil de quem precisa escapar do próprio país e se estabelecer em um novo local. Mesmo assim, Eleonore manteve sua vontade e recebeu apoio da família.

Em meados de 1940, ela frequentou os ateliês de personalidades como Yolanda Mohalyi, Elizabeth Nobiling, Samson Flexor e Bruno Giorgi. Depois, viajou à Europa e teve aulas com o pintor húngaro Arpad Szenes e o escultor francês Roberto Coutin. De volta ao país tropical, Eleonore viveu períodos nas capitais de São Paulo e do Rio de Janeiro e experimentou diferentes métodos artísticos. Foi somente em 1953, quando conheceu Alfredo Volpi, que ela começou a desenvolver a técnica da têmpera a ovo. Ao conviver com o mestre visitando seu ateliê, discutindo arte e observando sua forma de produzir, Eleonore incorporou a têmpera em seu processo criativo e passou a se preocupar cada vez mais com as cores e composições. Embora não tenha aprendido exatamente a “receita” empregada pelo artista, ficou conhecida como sua única discípula. O conjunto de pigmentos utilizados por ela – minerais, vegetais e alguns poucos sintéticos, alguns herdados de Volpi – hoje integra a coleção do Núcleo de Conservação e Restauro da Pinacoteca de São Paulo. No arquivo do MAC USP, há diários da artista com breves anotações sobre sua prática de pintura. Em seus estudos, ela registrava os pigmentos e misturas realizadas para conseguir os matizes de seu interesse.

Na década de 1950, também conviveu com grandes nomes do movimento concretista, dentre eles o paulista Geraldo de Barros, e observou o diálogo de Volpi com esses artistas. Apesar disso, não abandonou a figuração para se tornar “abstrata”, como muitos de sua geração fizeram. Sua predileção por objetos fez com que sua obra avançasse nos gêneros pictóricos da natureza-morta e dos interiores.

Certa de que deveria se dedicar ao ofício, Eleonore optou por não casar e nem ter filhos. Para garantir sua independência financeira enquanto a arte não lhe rendia tantos frutos, Koch trabalhou como vendedora de livros, assistente de cenógrafa, secretária e tradutora. Foi apenas em 1968, ao se mudar para Londres, que conseguiu viver da pintura. Na cidade nova, o empresário e colecionador Alistair McAlpine, tocado pelas obras, passou a ser seu mecenas. Antes de partir para a capital inglesa, Eleonore conquistou, sim, espaços importantes no circuito da arte brasileira. Em 1961, por exemplo, teve seu trabalho aceito pela Bienal de São Paulo, depois de muitas recusas. Mas de forma geral, a inserção no mercado de arte foi custosa para uma mulher que não seguia as vertentes daquele momento – nem a arte concreta, nem a pintura figurativa de caráter social.

Em cena

No MAC USP, os quadros de paisagens aparecem com certo destaque. Eles foram feitos depois de visitas da artista a parques de Londres, Versailles e outras localidades da Europa. Combinando observações, fotografias e uma mistura de realidade e fantasia, Eleonore criou algo de encenado – daí o título da exposição. Como explica o texto curatorial, “essas paisagens se assemelham a cenários ou imagens do pensamento, […] nas quais se “intrometem” elementos da memória e do afeto: a cadeira predileta, plantas azuis, um chão como a superfície do mar”. A sensibilidade de Koch é expressa principalmente pelos objetos colocados nas telas. Mais do que pela combinação minuciosa de cores, é por meio dos cômodos e das praças vazias que ela se comunica com o público. São os elementos da memória e do afeto – os cafés, os brinquedos, a casca da laranja e as cadeiras desocupadas – que fazem o observador se identificar com a introspecção da artista. Não se trata da mera figuração por ela mesma, mas da abertura às sensações que ela provoca.

Na mostra do MAC USP, é possível conhecer, ainda, todo o processo criativo de Eleonore, que documentava cada um de seus trabalhos. Em grandes vitrines, estão expostos os registros fotográficos de suas pinturas finalizadas – este era um modo de documentar e inventariar sua produção de forma independente. Entre os negativos, estão algumas das trinta pinturas de propriedade do Barão Alistar McAlpine, que se perderam em um incêndio na West Green House, na Inglaterra.  Além da mostra que permanece em cartaz até 17 de julho, o trabalho de Eleonore Koch tem ganhado destaque também em outros meios. Em abril deste ano, o festival de cinema “É tudo verdade” fez quatro exibições do documentário “As cores e os amores de Lore”, sobre a vida íntima e a trajetória profissional da artista. Com 80 minutos, o filme dirigido pelo cineasta Jorge Bodanzky apresenta um retrato dos últimos anos da artista, que faleceu aos 92 anos. Em breve, a película deverá chegar aos cinemas. Para o segundo semestre, está previsto, ainda, o lançamento de um livro sobre sua obra, com imagens e textos críticos.

Publicado por  Victoria Louise

Fonte: Artsoul.

A arte da Xadalu no MNBA

23/maio

Artista indígena Xadalu conseguiu sair de Porto Alegre para realizar a residência artística no Museu Nacional de Belas Artes, Centro, Rio de Janeiro, RJ, que será aberta ao público, a partir desta quinta-feira, 23 de maio. Está em cima da hora, mas Xadalu quase não chega por causa da tragédia no Rio Grande do Sul. Ele mora em Porto Alegre, a casa dele inundou e só conseguiu chegar ao Rio, porque o presidente da Associação de Amigos do MNBA foi até lá de carro levar doações e trouxe o artista para a residência no museu. A residência está aberta à visita pública e tem roda de conversa no sábado, dia 25, com Xadalu, Carlos Vergara e a curadora Sandra Benites. O artista Xadalu Tupã Jekupé fará uma residência artística em uma das salas do museu e, o trabalho que resultar desta residência, será doado ao Museu Nacional.

O ateliê temporário estará aberto à visitação do público, nos dias 23, 24, 28 e 29 de maio, das 15 às 17h. O número permitido é de até 15 pessoas, em razão de o Museu seguir em obras de restauração. Devido ao alagamento da casa e ateliê de Xadalu em Porto Alegre, foi preciso remarcar o evento, que aconteceria, a partir de 16 de maio, coincidindo com a Semana Nacional de Museus.

Como artista indígena, nascido no leste do pampa gaúcho, Xadalu descreve seu trabalho como questionador da História, buscando sua releitura decolonial, mas usando o suporte das imagens coloniais que estão disponíveis em livros e nas pinturas da coleção do Museu Nacional de Belas Artes.

– Para mim é um privilégio imenso e um sonho trabalhar dentro do MNBA, para fazer esse trabalho e contar a história do meu povo em uma narrativa que ainda não foi vista, e trazer o pensamento do povo da terra para dentro do museu, para espaços educativos e outros, diz o artista.

Xadalu propõe o questionamento do processo de catequização imposta pelo invasor com uma releitura em pintura, a “arte indígena contemporânea”, como ele descreve. Durante a residência no museu, a intenção do artista é fazer uma ligação entre o espírito do homem e os objetos coloniais, pelos quais havia apego sentimental e de fé. “É o barroco jesuíta guarani agora com roupagem de pintura indígena contemporânea”, define Xadalu. O artista avalia, porém, que sendo uma residência, é preciso deixar a linha de pensamento aberta, porque haverá modificações a todo momento.

Para a diretora Daniela Matera, a residência artística de Xadalu, com a possibilidade de visitação pública, “é um prelúdio para reabertura do Museu Nacional de Belas Artes, que terá uma exposição individual do artista”. Matera prevê para o futuro próximo uma atualização “da importância do Museu Nacional de Belas Artes no cenário cultural do Brasil, tornando-o uma instituição mais aberta, engajada socialmente, plural e porosa, ampliando seu alcance para a cultura dos séculos XX e XXI, para acolher as múltiplas histórias contadas e manifestadas através da Arte”.

Roda de conversa

No sábado, 25 de maio, de 11h às 13h, acontece uma roda de conversa entre Xadalu, o artista Carlos Vergara e a curadora Sandra Benites. A mediação é de Simone Bibian, técnica em Assuntos Educacionais do Museu Nacional de Belas Artes. Serão distribuídas 30 senhas meia hora antes do início do evento.

Sobre o arista

Xadalu Tupã Jekupé é um artista indígena. Nascido em Alegrete (RS), no pampa gaúcho, tem sua origem ligada aos indígenas que historicamente habitavam as margens do Rio Ibirapuitã, na antiga terra Ararenguá: os Guarani Mbyá, Charrua, Minuano, Jaros e Mbone.  O artista trabalha com serigrafia, pintura, fotografia e diversos objetos para abordar a tensão entre a cultura indígena e ocidental nas cidades, tendo sua pesquisa voltada aos processos coloniais de catequização dos povos nativos.  Xadalu tem obras nos acervos do Museu Nacional de Belas Artes (RJ), Museu de Arte Moderna de São Paulo (SP) e Museu Nacional (RJ), entre outros. Como artista residente, já esteve na França, Espanha, Itália e no território Mapuche, no Chile, pela 35ª Bienal de São Paulo (2023), entre outros.

Artistas brasileiros em Viena

21/maio

 

O Desacordo: Um Teatro de Declarações, no Neuer Kunstverein, Viena, Áustria, com ação de Maurício Ianês.

Artistas participantes

Vivian Caccuri | Andressa Cantergiani | Maurício Ianês | Daniel Lannes | Cinthia Marcelle e Tiago Mata Machado | Ana Mazzei | Ventura Profana | Luís Roque | Tadáskia | Allan Weber com curadoria de Bernardo José de Souza.

A palavra do curador

A discordância: um teatro de declarações reúne onze artistas brasileiros contemporâneos cujas práticas artísticas provêm de uma ampla variedade de origens culturais e, portanto, apontam para um amplo espectro de preocupações estéticas e políticas. O conjunto de obras desta exposição aborda, portanto, não apenas a sociedade estratificada e sincrética do Brasil, mas também as contradições ideológicas inerentes às práticas artísticas contemporâneas a partir de uma perspectiva transcultural.

Esta exposição coletiva é composta por obras criadas em diversos suportes – escultura, instalação, colagem, vídeo, pintura e performance – e confronta narrativas que refletem sobre a impossibilidade de encontrar um léxico comum. Um léxico para discutir questões políticas inevitáveis, como a luta de classes, as alterações climáticas, as políticas de identidade, os sistemas de crenças heterogêneas, o legado da cultura simbólica e material e outras questões prementes do presente.

Porque vivemos num mundo onde as narrativas hegemónicas foram historicamente forjadas para manter o status quo da desigualdade – tanto étnica, cultural e socioeconómica – o país hoje conhecido como Brasil é apresentado aqui como um palco político no qual as forças capitalistas criaram zonas de extrema desigualdade social. Ex-colónia portuguesa, o Brasil transformou-se num império monárquico independente, cujas enormes ambições desencadearam mais tarde um impulso de modernização para construir uma economia global imbuída de noções positivistas de progresso tecnológico, apesar das infra-estruturas sociais precárias e do empobrecimento massivo da população.

Embora não seja uma exposição que examine a história ou a produção artística brasileira, O Desacordo parte das contradições inerentes a este país – e a qualquer outro país ex-colonizado – para explorar o cultural e exacerbar os conflitos políticos que moldam indiscriminadamente a contemporaneidade. manifestações políticas, artísticas ou não.

Bernardo José de Souza

O Rio e os 120 anos de um patrono

20/maio

Uma exposição abrangente que traz como destaque imagens da cidade do Rio de Janeiro é o cartaz atual de exposições na Casa Roberto Marinho, Cosme Velho, Rio de Janeiro, RJ.

Rio: desejo de uma cidade

Rio: desejo de uma cidade (1904-2024) celebra os 120 anos de nascimento de nosso patrono Roberto Marinho e antecipa as comemorações dos 460 anos de fundação da cidade em 2025.

Raros homens amaram, produziram e promoveram com tal intensidade sua terra natal. Como jornalista e empresário seus veículos produziram um vocabulário visual que exprime o século XX carioca. Sua contribuição perenizada por meio das novas gerações nas empresas de comunicação e, numa escala íntima, no compartilhamento de sua coleção de arte e na transformação da sua residência em espaço público do carioca.

Esta exposição – curada por Marcia Mello, Victor Burton e eu – reúne fotografias, pinturas, desenhos, gravuras e esculturas que, nesses 120 anos, tiveram o Rio de Janeiro como tema ou principal inspiração. Dela emerge uma cidade dinâmica e vital que se nutre das suas qualidades e, não raro, de suas vicissitudes.

A resiliência criativa sempre foi, desde o início, uma característica nossa. Parecia inviável implantar um aglomerado humano num terreno insalubre, ainda que deslumbrante. Seguidos esforços de engenharia permitiram inventar um núcleo urbano ao incorporar, valorizar e, nada é perfeito, ferir a natureza bela. Como dizia Paulo Mendes da Rocha: “O Rio é uma teimosia tornada possível pela mecânica dos fluxos”…

Depois de se tomar pelo todo, enunciar o país enquanto falava-se do Rio de Janeiro, estamos fadados a olhar o que restou de único: a inesgotável capacidade carioca de produzir imagens e inventar memórias de si mesmo e de seu papel para o Brasil.

Uma cidade que se experimenta reforçando uma identidade própria, com suas qualidades e agruras, sem jamais querer parecer outra.

O urbano se une aqui entremeando topografias e comunidades contrastantes. A recusa de se deixar partida a faz escavar túneis para obter uma síntese que põe em contacto a orla arejada com o avesso das montanhas sem brisa.

Quando quase nada parece restar, nos refugiamos na produção das imagens e sons que ecoam o desejo da beleza que se nutre, também, das desigualdades produzidas pela tragédia perene da desigualdade preconceituosa.

Uma vez Roberto Marinho recebeu uma figura pública, da qual tinha significativas discordâncias, em seu escritório panorâmico no topo do prédio do Jardim Botânico. Não se sabe, ao certo, o que foi conversado. Ficou do encontro apenas o comentário, entre surpreso e tristonho, do jornalista: “Ele não olhou uma vez sequer a paisagem”… Mais carioca, impossível.

Lauro Cavalcanti – Diretor da Casa Roberto Marinho

Maio de 2024

Feira de Artes Gráficas

A 5ª edição do MAB Margens – Feira de Artes Gráficas acontece dia 18 de maio no Museu Afro Brasil Emanoel Araujo. O Museu celebra o sucesso do evento que reúne artistas e coletivos sob sua marquise, diante do lago do Parque Ibirapuera, em meio à 22ª Semana Nacional de Museus.

O Museu Afro Brasil Emanoel Araujo, instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, reúne artistas e coletivos para celebrar um evento que já se tornou tradição no calendário cultural de São Paulo. Com gratuidade no Museu durante todo o dia 18 de maio (sábado), a 5ª edição da feira de artes gráficas MAB – MARGENS ocorre das 12h às 18h. Venha conhecer e refletir sobre “as margens” enquanto espaço-fronteira de produções, com artistas e coletivos que nem sempre são visibilizados no cenário das artes visuais.

Como um manifesto vivo, o Museu oferece sua bela marquise diante do lago do Parque Ibirapuera às produções de artistas inovadores, visando o diálogo e as trocas com o público, possibilitando o fomento da diversidade e a valorização. O objetivo é lhes oferecer espaço privilegiado de divulgação e venda de suas produções gráficas. Para esta 5ª  edição, foi lançado um chamamento público, divulgado via redes sociais e site do Museu, por meio do qual foram selecionados 14 artistas e coletivos pela Comissão de Seleção formada por profissionais de diferentes núcleos de trabalho do Museu. Foram também convidados 5 artistas, cujos portfólios retratam a diversidade social brasileira.

Segundo Guinho Nascimento, um dos artistas que irão expor na feira, participar da MAB Margens é uma possibilidade de encontro. “É estar em comunidade pra ser e fazer mercado, entendendo a feira numa perspectiva que Exu apresenta: um lugar de movimentação, comunicação, prosperidade e caminhos. Assim, vai além de estar à margem do museu, é estar dentro. Não é a parede que nos distancia, porque a MAB é o quintal do Museu, aberto para comer, dançar, enfeitar, apreciar, rezar e celebrar”. Para a artista Neia Martins, a importância é, “estar no espaço do Museu Afro Brasil Emanuel Araujo e no coletivo de artistas que representam esse cenário cada vez mais inclusivo”.

Haverá ainda uma oficina que convida os visitantes à reflexão sobre articulações comunitárias em torno da cultura e do direito à cidade. Será realizada com mediação de Izabel Gomes, educadora popular e artista que divide suas histórias com as pessoas na região do Jardim Miriam, no JAMAC – Jardim Miriam Arte Clube. O evento contará com a venda de bebidas e de quitutes do tabuleiro baiano do Alcides.

A 5ª MAB – MARGENS acontecerá na marquise do Museu, localizada na área externa do pavilhão Padre Manoel da Nóbrega no Parque Ibirapuera, próximo ao Portão 10. O acesso será livre e sem a necessidade de inscrição prévia, lembrando que no dia da feira a entrada do Museu Afro Brasil Emanoel Araujo será gratuita.

Artistas e coletivos selecionados:

CaiOshima – De um lado, o mundo da ginga; do outro, o equilíbrio. De família metade pernambucana, metade japonesa, o artista visual CaiOshima nasceu e cresceu nas duas culturas. Instagram: @Cai0shima

Cauã Bertoldo – Artista visual autodidata, produz imagens a fim de discutir o mundo estético que tange às questões das pessoas negras em sua pluralidade e subjetividades. Instagram: @cauabertoldo

Daiely Gonçalves – Artista visual mineira, articula narrativas que se lançam sobre a representação do corpo e território em temas de raça e gênero por meio da pintura, desenho e gravura. Instagram: @daielygoncalvesart

Guinho Nascimento – Educador e multi-artista, graduado em Artes Visuais pela Universidade Cruzeiro do Sul e em Dança pela Escola Viva. Instagram: @guinhonascimento @galopretoatelie

Hanna Gomes – Artista visual e designer de Salvador, explora visualmente os questionamentos sobre o ato revolucionário de sonhar, utilizando cores primárias e cenários tropicais ou desérticos. Instagram: @the.hannag

Juliana Mota – Designer gráfica paulistana, trabalha com ilustração digital, pintura, bordado e a experimentação disso tudo junto. É inspirada pela mistura da natureza com retratos femininos. Instagram:@julianamotabordado

Katarina Martins – Artista plástica e arte educadora paulistana, investiga o campo botânico e de manchas orgânicas, com ênfase na busca da beleza cotidiana, com diferentes técnicas da gravura e fotografia. Instagram: @katarinamartins_

Mayara Smith – Mestre em Artes Visuais pela Universidade Federal de Minas Gerais (2024), é artista visual, designer gráfica e pesquisadora. Em seu trabalho aborda identidade e corpo negro, principalmente feminino. Instagram: @mayarasmith_

Neia Martins – Trabalha com escultura, pintura, desenho, calcogravura e seus segmentos.Instagram@neia.vancatarina

ÒRÚ – Artista da zona leste de São Paulo, possui trabalhos voltados à ilustração e colagem digital. Instagram: @oru.artista

Pixote Mushi – Artista visual, trabalha com muralismo, arte 3D, xilogravura, pintura e educação artística. Iniciou sua carreira no graffiti e tem explorado temas como raça, sociedade e espiritualidade. Instagram: @pixote_mushi

Rodrigo Abdo  – Designer, ilustrador e artista preto. Seu trabalho observa o cotidiano e organiza coisas que estão no ar. Busca representar a rua, a juventude e questões sociais diversas.  Instagram: @vbdx_

Thiago Vaz – Artista visual e arte-educador, faz um recorte especial sobre a arte urbana: graffiti e street art; pesquisa sobre os modos de ocupação com arte nos espaços públicos: zonas e territórios. Instagram: @thiagovaz.arts

Artistas e coletivos convidados:

Coletivo Anansi Lab – Laboratório de experiências transmídia que promove o letramento racial por meio de livros, revistas, papelaria, eventos, cursos, exposições e produtos digitais. Instagram: @anansi.La

Gejo Tapuya – Reúnem-se via editora especializada em prints, toy art, gravuras e street art. Buscam criar renda para artistas originários, negros e periféricos da cultura hip-hop, graffiti, pixação e outras manifestações culturais marginais. Instagram: @editora.marginal

JAMAC – Artista popular autodidata, autora de estampas exibidas em diversas exposições, cujas inspirações relembram as memórias da sua infância, banhadas pelas belezas do Rio São Francisco.  Instagram: @izabel._gomes – @jardim.miriam.arte.clube

Nei Vital – Baiano que cresceu em São Paulo, se inspira em suas origens do cordel, em seus traços que mesclam o sertão com a metrópole. Instagram: @cordelurbano

Coletivo Xiloceasa – Coletivo formado por integrantes periféricos que buscam por meio da arte, manifestar suas ideias e desejos do cotidiano. Instagram: @xiloceasa

Na atividade, serão apresentadas técnicas de estamparia em tecido com os artistas do JAMAC (Jardim Miriam Arte Clube). A Educadora Izabel Gomes utiliza materiais simples e acessíveis para criação de padrões únicos e personalizados em panos de prato – uma superfície para contar histórias e ensinar a técnica de estêncil, criando desenhos a partir de memórias pessoais e coletivas. Não é necessário ter experiência prévia para participar, mas as vagas são limitadas! As inscrições podem ser feitas via site do Museu.

Doação de obras de Samico para o MAC

08/maio

O MAC incorpora a seu acervo trabalhos de um dos principais gravadores do País, Gilvan Samico, um artista que uniu o popular ao erudito. Literatura de cordel e temas populares nordestinos serviram de inspiração para os trabalhos de Samico e tornaram-se indissociáveis da memória de sua obra.

Dragões, pássaros de fogo, demônios e serpentes estão no Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP. O motivo para a chegada dessa fauna fantástica é a doação que o museu acaba de receber. Trata-se de 45 obras do gravador e pintor pernambucano Gilvan Samico (1928-2013), famoso por seu universo imagético inspirado na literatura de cordel e nas mitologias de vários povos do planeta. As 45 obras recebidas pelo MAC são uma doação de Joaquim e Vivianne Falcão, que foram amigos próximos do artista. Joaquim Falcão é jurista, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), fundador e ex-diretor da Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getúlio Vargas (FGV) enquanto Vivianne Falcão é advogada e conselheira da Humanitas 360.

A coleção que o casal entrega agora aos cuidados do MAC foi construída ao longo de décadas e comporta diversos presentes oferecidos por Samico. São estudos, pequenas gravuras e rascunhos, alguns deles ainda conservando as dedicatórias, como é o caso da prova do artista de “Cena campestre”, xilogravura de 1957. A obra foi recebida pelo museu acompanhada de um pequeno recorte, onde se lê “Para Vivianne, a primeira xilo. Samico E Célida Olinda, 7 janeiro 2006”. Célida era a esposa do artista.

É um acontecimento para o MAC, que vê sua coleção de obras de Samico saltar de duas para quarenta e sete, além de tornar geograficamente mais plural o acervo do museu, concentrado no eixo Rio-São Paulo. “Samico está entre os grandes gravadores brasileiros”, comenta a professora Ana Magalhães, diretora do MAC. “Ele tem importância fundamental porque está ligado ao Movimento Armorial, junto de Ariano Suassuna e outros artistas e intelectuais, com um papel decisivo na divulgação dessa cultura local.”

Fonte: Jornal da USP/Luiz Prado

Xilogravuras e pinturas de Santídio Pereira

O Museu de Arte Moderna de São Paulo, Parque do Ibirapuera, apresenta até 1º de setembro uma exposição inédita do artista Santídio Pereira. Com curadoria de Cauê Alves, curador-chefe do MAM, a exposição “Santídio Pereira: paisagens férteis” reúne na Sala Paulo Figueiredo mais de 30 obras – algumas, inéditas -, entre gravuras, pinturas e objetos produzidos pelo artista em um período entre 2017 e 2024.

Nascido em Isaías Coelho, no interior do Piauí, Santídio Pereira se mudou com a família para São Paulo ainda criança e, aos oito anos de idade, foi matriculado pela mãe no Instituto Acaia, uma organização criada pela artista Elisa Bracher. Lá, ele entrou em contato com uma grande variedade de técnicas artísticas e, mais tarde, aprofundou-se na gravura no Xiloceasa, idealizado pelos artistas Fabrício Lopez e Flávio Capi.

Com uma trajetória profícua em instituições brasileiras e mundo afora, Santídio apresenta em “Paisagens férteis” sua pesquisa em torno das imagens de biomas brasileiros, da Amazônia à Mata Atlântica, passando por paisagens que fizeram parte de suas vivências e carregando especialmente as observações que faz em meio à natureza.

O curador Cauê Alves selecionou gravuras, objetos e pinturas de Santídio Pereira que trazem imagens de paisagens montanhosas e de plantas como bromélias e mandacarus. Esses motivos nas obras do artista derivam de suas experiências imersivas nos biomas brasileiros, durante viagens em que se dispõe a observar a geografia e a vegetação com atenção. Parte delas também são fruto das memórias da infância no Piauí que ele carrega consigo.

As imagens, porém, não são apenas reproduções do que Santídio Pereira enxerga, mas criações. O curador explica que “a referência a uma espécie de planta específica, que está disponível aos seus olhos, não se opõe à imaginação, ou seja, à mentalização de algo que não está presente. É como se ele interpretasse o que viu e o que lembra do que viu, mas de modo diferente, novo, já que vai além do que se passou e do que se recorda”.

Conhecido inicialmente por seus trabalhos com xilogravura, Santídio Pereira começou a se dedicar também à pintura com guache e à feitura de objetos nos últimos anos. A exposição no MAM será a primeira a exibir, no Brasil,  esses objetos e as guaches. Santídio Pereira comenta que, a partir dessas experimentações, passou a criar objetos que podem ser impressos, e não mais matrizes.

Já as pinturas surgem a partir da vontade que ele teve em trabalhar com a materialidade do guache. “São trabalhos relativamente menores que as xilogravuras, mas são trabalhos que levam para um lugar completamente distinto. Não pelo tema, mas pela materialidade, porque a materialidade da tinta da gravura é um tanto brilhante, é um pouco oleosa, enquanto a materialidade da guache, do jeito que trabalho, é mais opaca”, explica o artista. Para ele, essa característica opaca da pintura à guache transmite uma maior profundidade no trabalho, “como se o trabalho em guache abraçasse e o trabalho em gravura tomasse uma certa distância”.

Em seu texto curatorial, Cauê Alves destaca o olhar atento e a sensibilidade rara de Santídio Pereira, enfatizando o modo com que ele se relaciona com o mundo. “Sua história de vida é uma exceção, e a visibilidade que seu trabalho alcançou é atípica no meio da arte. Ele soube relacionar sua liberdade com aquilo que era, de fato, necessário para ele, apostando na invenção, mas sem renunciar ao trabalho ou abandonar suas origens”, comenta o curador.

Sobre o artista

Nascido em 1996 em Isaías Coelho, no Piauí, Santídio Pereira vive e trabalha em São Paulo. Estudou História da Arte com o crítico e curador Rodrigo Naves, e é graduado em Artes Visuais pela Fundação Armando Álvares Penteado, em São Paulo. A trajetória de Santídio Pereira tem sido permeada pela experimentação e estudo constante sobre os preceitos artísticos, impulsionando um desejo de criação e inovação dos padrões pré-estabelecidos, tanto no aspecto formal, quanto conceitual das linguagens artísticas. Seu trabalho já foi exibido em instituições brasileiras como Fundação Iberê Camargo (Porto Alegre), Centro Cultural São Paulo, Paço das Artes, MuBE – Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia, e MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo (todos em São Paulo) em exposições de espaços e instituições internacionais como a Galería Xippas (Punta del Este, Uruguay),  b[x] Gallery (Nova York, EUA), Bortolami Gallery (Nova York, EUA), Fondation Cartier pour l’Art Contemporain – Triennale di Milano (Milão, Itália) Fondation Cartier pour l’Art Contemporain (Paris, França), Power Station of Art (Xangai, China), dentre outros. Seu trabalho integra coleções importantes, como Pinacoteca do Estado de São Paulo (Brasil), Coleção Cisneros (EUA), Acervo Sesc de Artes (Brasil), Museu de Arte do Rio – MAR (Brasil) e Fondation Cartier pour l’Art Contemporain (França). Santídio Pereira também foi contemplado com o Prêmio Piza (2021, Paris, França), além de ter participado da AnnexB Residência Artística (2019, Nova York, EUA).

Sobre o MAM São Paulo

Fundado em 1948, o Museu de Arte Moderna de São Paulo é uma sociedade civil de interesse público, sem fins lucrativos. Sua coleção conta com mais de 5 mil obras produzidas pelos mais representativos nomes da arte moderna e contemporânea, principalmente brasileira. Tanto o acervo quanto as exposições privilegiam o experimentalismo, abrindo-se para a pluralidade da produção artística mundial e a diversidade de interesses das sociedades contemporâneas. O Museu mantém uma ampla grade de atividades que inclui cursos, seminários, palestras, performances, espetáculos musicais, peças de teatro, sessões de filmes  e práticas artísticas. O conteúdo das exposições e das atividades é acessível a todos os públicos por meio de visitas mediadas em libras, audiodescrição das obras e videoguias em Libras. O acervo de livros, periódicos, documentos e material audiovisual é formado por 65 mil títulos. O intercâmbio com bibliotecas de museus de vários países mantém o acervo vivo. Localizado no Parque Ibirapuera, a mais importante área verde de São Paulo, o edifício do MAM foi adaptado por Lina Bo Bardi e conta, além das salas de exposição, com ateliê, biblioteca, auditório, restaurante e uma loja onde os visitantes encontram produtos de design, livros de arte e uma linha de objetos com a marca MAM. Os espaços do Museu se integram visualmente ao Jardim de Esculturas, projetado por Roberto Burle Marx para abrigar obras da coleção.Todas as dependências são acessíveis a visitantes com necessidades especiais.