Espaços domésticos por Ana Hortides

04/maio

 

A exposição “Dona”, de Ana Hortides, amplia pesquisa em torno da potência política e poética dos espaços domésticos, na Arte Fasam Galeria & Galpão Cru, Barra Funda, São Paulo. Esta é a primeira mostra individual da artista Ana Hortides na cidade e aborda de forma poética a questão da propriedade como afirmação pessoal e política. Com conceitos que vão do même à playlist, “Dona” ainda convida o público para uma conversa e visita guiada.

A Arte Fasam Galeria e o Galpão Cru realizam uma conversa e visita guiada à exposição “Dona”, de Ana Hortides, com a presença da artista e da curadora, Ludimilla Fonseca, na quinta-feira, 11 de maio, às 19h, no espaço expositivo, onde será discutido o processo artístico que resultou na mostra. Nascida e criada no bairro de Vila Valqueire, Zona Oeste do Rio de Janeiro, Ana Hortides desenvolve uma ampla pesquisa em torno da potência política e poética dos espaços domésticos, que se expande a partir de uma prática focada nos materiais como meios de explorações formais. A mostra seguirá em cartaz até o dia 13 de maio.

A artista exibe pela primeira vez séries de trabalhos desenvolvidas exclusivamente para a mostra, discutindo e refletindo sobre os conceitos contemporâneos de “dona”, “proprietária”, “a patroa tá on” e “ela faz o corre dela”, expressões que podemos dizer que nos dias de hoje, vão além dos memes, sendo, acima de tudo,  afirmações pessoais e políticas. Além disso, foi elaborada uma playlist com hits que vão dos anos 1970 aos 2000 e que emplacaram nas paradas de sucesso nas rádios da época, e, que, decerto modo, abordam questões implicadas no processo artístico e curatorial que culminou em “Dona”.

A mostra traz o conjunto de esculturas “O Coro”, da série “Outsiders”, desenvolvidas com concreto e azulejos: peças únicas e numeradas que a artista garimpa e adquire em armazéns e fábricas antigas do Rio de Janeiro: “Como esses pisos estavam nas casas de tantas pessoas, a artista considera que eles ressoam como um grande coro inaudível, entoando um mesmo murmurinho nostálgico que conta e canta o passado”, conta a curadora.

A artista também mostra uma série de telas inéditas, produzidas com cortinas sobre chassi. Ao mesmo tempo em que jogam com a noção histórica das “pinturas como janelas para o mundo”, essas obras nos lembram das cortinas como “esconderijos”. Ao ficar atrás delas, nossos corpos infantis perdiam seus relevos humanos, adquirindo os  contornos do tecido. E, assim como o verso das pinturas, nos tornávamos invisíveis.

Além de uma obra instalativa, o projeto exibe o vídeo inédito “Cômodo”, para o qual Hortides desenvolveu um maquinário mecânico específico, cujo objetivo era despertar a casa. As máquinas simulam as batidas de coração e o movimento da respiração, evidenciando a existência autônoma dos objetos caseiros. “Nas casas onde crescemos, também havia um cantarolar baixinho, mas onipresente. Era a trilha sonora das mães e avós responsáveis pelas tarefas domésticas: enquanto passavam roupas e lavavam as louças, elas cantarolavam para si mesmas. Os cômodos eram suas plateias silenciosas, mas sempre presentes” – conta a artista.

Segundo a curadora Ludmilla Fonseca – “Neste espaço expositivo, não houve tentativa de forjar um ambiente de galeria. As características arquitetônicas, com destaque para o vidro e o cimento, são absorvidas, criando a ficção de um espaço em que nada funciona, exceto pela luz natural que entra através das janelas. Hortides se apropria desse contexto desenvolvendo um trabalho site-specific. Construído com azulejos, esculturas de caquinhos e uma samambaia, “Daydreamer” explicita que qualquer uso dado a qualquer lugar é sempre temporário. Passado e futuro ficam justapostos nesta instalação que também vai desaparecer.”

A mostra “Dona” sugere que a gente se retire das nossas lembranças e imagine os espaços afetivos do passado sem a nossa presença. Temos a tendência de achar que nada  acontece sem a interferência humana. No entanto, as coisas que nos cercam têm vida  própria: elas também envelhecem e, ao serem abandonadas ou descartadas, descobrem  como viver sozinhas.

 

Sobre a artista

Ana Hortides tem formação em Artes pela Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro. Participou da Residência Pivô Arte Pesquisa, São Paulo, 2022. Artista indicada ao Prêmio PIPA, 2021. Finalista do Concurso Garimpo da Revista DASartes, 2018. Recebeu o prêmio aquisição do 36º Salão de  Artes  Plásticas  de  Jacarezinho, Paraná, 2021, e do 1º Salão de Artes em Pequenos Formatos do Museu de Arte de Britânia, Goiás, 2019. O seu trabalho integra a coleção do Museu de Arte do Rio e de coleções particulares.

 

 

O Museu Afro Brasil Emanoel Araujo anuncia

28/abr

 

Em exposição e encontro com o artista, Andrey Guaianá  Zignnatto que fará revisão sobre os  movimentos da história da arte brasileira, reafirmando elementos das  culturas indígenas, reapropriados, no dia 29 de abril, a partir das 13h. O Museu Afro Brasil Emanoel Araujo, Parque do Ibirapuera, Portâo 10, São Paulo, SP, instituição da Secretaria da Cultura  e Economia Criativa do Estado de São Paulo, inaugura no próximo dia 29 de  abril, a exposição individual “Alicerce” do artista indígena Andrey Guaianá  Zignnatto, que apresentará ao público um total de 10 trabalhos produzidos  em diversas plataformas e técnicas (vídeo, objeto, instalação, serigrafia,  pintura). A mostra conta com a curadoria do próprio artista e tem como  destaque a instalação de mesmo nome, “Alicerce”, a maior já produzida por  Zignnatto – uma casa pré-moldada de concreto, apoiada sobre um conjunto  de dezenas de grandes vasos cerâmicos indígenas. O texto curatorial traz a assinatura de Sandra Ará Rete Benites.

O conjunto de trabalhos expostos propõe uma revisão sobre o processo de  desenvolvimento dos movimentos modernistas e contemporâneos da História  da Arte Brasileira, no qual Zignnatto identifica uma constante apropriação de  elementos das culturas indígenas por parte dos artistas na produção de seus  trabalhos, que dele excluíram, no entanto, os povos indígenas, o que  Zignnatto chama de “processo de grilagem cultural”.

Outro trabalho de destaque da mostra é o conjunto de 5 pinturas denominado “Espelho dos Juruás”. Nele, o artista retrata, em cada tela, sua boca, num gesto  que apresenta sua arcada dentária, semelhante à forma por meio da qual  escravos negros e indígenas eram avaliados por seus colonizadores. Abaixo  das imagens, encontram-se algumas das muitas frases de preconceito  dirigidas constantemente ao artista.

No dia da abertura, será realizada uma conversa entre o artista e Luiz Canê  Mingué, o Kenké (chefe) do povo Dofurêm Guaianá, povo originário da cidade  de São Paulo. A conversa será aberta ao público interessado e gratuita.

As obras da produção artística de Andrey Guaianá Zignnatto são consideradas  pelo próprio artista uma forma de buscar o equilíbrio entre as muitas e  diferentes forças dos universos urbanos e dos povos originários, de sua vida  em ambientes urbanos, inclusive de sua experiência na juventude como  pedreiro, com a ancestralidade indígena de sua família.

O projeto, contemplado no Edital Proac Expresso Direto nº 038/2021, conta  com o apoio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São  Paulo. Conta igualmente com o apoio da Alphaz Concept, cerâmica Gresca e Desaya  revestimentos.

 

Encontro com o artista Andrey Guaianá Zignnatto

O encontro será em torno da exposição “Alicerce” e contará com a presença  de Luiz Canê Minguê Guaianá, Chefe e líder espiritual do povo Indígena  Dofurêm Guaianá de São Paulo, para dialogar com Andrey que irá abordar na  conversa aspectos da montagem da mostra, de modo a que o público  participante conheça os bastidores do processo e tenha um encontro  privilegiado com o artista no dia da abertura.

 

Sobre o artista

Autodidata, professor de artes visuais e ativista de projetos sociais.  Trabalhou como ajudante de pedreiro dos 10 aos 14 anos de idade. Indígena  das etnias Dofurêm Guaianá e Guarani M’bya. Estas memórias afetivas e  ancestrais são a base para o desenvolvimento conceitual e dos métodos  usados na sua produção artística. Participou de exposições, entre individuais e coletivas, em museus, centros  culturais e galerias de arte no Brasil, Estados Unidos, Emirados Árabes,  França, Colômbia, Inglaterra, Itália, Peru e Argentina. Contemplado com 2  prêmios do Ministério da Cultura, sendo 1 pela Funarte e 1 pelo IPHAN (2014  e 2015); 5 prêmios da Secretaria de Estado da Cultura de SP pelo PROAC  (2014, 2015, 2017, 2021, e 2022); prêmio do 18º Festival Cultura Inglesa,  e indicado para o prêmio Jameel Art Prize do Victória & Albert Museum da  Inglaterra (2017). Possui obras em acervos importantes de instituições  públicas e privadas, como Perez Art Museum Miami – EUA, Bunker Artspace – EUA, Museu de Arte do Rio – Brasil, coleção Diane Solomon – EUA, coleção  Alfredo Setúbal (CEO Itaúsa) – Brasil, coleção família Marsano – Peru, coleção família Marinho -Brasil, entre outras. Desde 2002, realiza oficinas de arte para projetos humanitários que apoiam  pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade social, para refugiados da  guerra civil na Síria e Líbano, refugiados da Venezuela, crianças órfãs do  Abrigo Nossa Casa, Casa da Fonte, Centro de Referência do Idoso, Centro de  Referência da Assistência Social, Centro de Apoio Psicossocial adulto e  infantil, moradores da Rua Helvetia (região da Cracolândia SP), prostitutas  e ex-prostitutas atendidas pela Associação Magdala, Centro de Detenção  Provisória Bandeirantes entre outros.

 

Sobre o Museu Afro Brasil Emanoel Araujo

O Museu Afro Brasil Emanoel Araujo é uma instituição da Secretaria de  Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo administrada pela  Associação Museu Afro Brasil – Organização Social de Cultura. Inaugurado em  2004, a partir da coleção particular do seu diretor curador, Emanoel Araujo,  o museu é um espaço de história, memória e arte. Localizado no Pavilhão Padre Manoel da Nóbrega, dentro do mais famoso  parque de São Paulo, o Parque Ibirapuera, o Museu Afro Brasil Emanoel  Araujo conserva, em cerca de 12 mil m2, um acervo museológico com mais  de 8 mil obras, apresentando diversos aspectos dos universos culturais  africanos e afro-brasileiro e abordando temas como religiosidade, arte e  história, a partir das contribuições da população negra para a construção da  sociedade brasileira e da cultura nacional. O museu exibe parte deste acervo  na exposição de longa duração e realiza exposições temporárias, atividades  educativas, além de uma ampla programação

 

Conexões Transcendentes de Heitor Bergamini

26/abr

Exposição com fotos, esculturas e interação entre materiais será inaugurada no dia 27 de abril. A arte sustentável de Heitor Bergamini ocupará o Espaço Cultural Correios, a partir de 27 de abril. “Conexões Transcendentes” tem curadoria de Fábio André Rheinheimer e permanecerá em cartaz até o dia 03 de junho, o Espaço Cultural Correios está localizado na Avenida 7 de Setembro, 1020, Centro Histórico, Porto Alegre, RS. O artista exibe mais de cem obras entre esculturas, imagens e integração de materiais, compondo as “Conexões Transcendentes”.

A exposição “Conexões Transcendentes” de Heitor Bergamini apresenta fragmentos desses projetos, obras recentes, cuja criatividade expressa, por meio de técnicas e suportes diversos, as aproximam do conceito upcycling (processo de utilização de resíduos para criação de outros objetos ou produtos). Nesta atual produção se destacam as séries: “Guerreiros Perdidos” e “Dança do Mangue”, que já estiveram em exposições individuais do artista e ganham uma nova montagem. Nas fotos, Heitor Bergamini apresenta, pela primeira vez, sua pesquisa de pigmentos em escala tonal a partir de um mesmo tema: o pôr do sol. São 50 imagens compondo um grande painel formando uma nova obra. Também a série “Relevos” integra a exposição, com registros fotográficos de superfícies diversas como metal, pedra, madeira, que se transformam em novas paisagens, ganhando um ressignificado a partir da própria fotografia.

 

A palavra da curadoria

“Em sua trajetória, Heitor Bergamini percorre cenários distintos, seja numa paisagem paradisíaca, usualmente à beira-mar, ou simplesmente observando resíduos de descarte encontrados no contexto urbano. Em diferentes cenários, muitas vezes diametralmente opostos, o artista interage com elementos de origens diversas que lhe inspiram novos projetos”, observa o curador Fábio André Rheinheimer.

“A exposição Conexões Transcendentes apresenta a produção recente de Heitor Bergamini, a qual se caracteriza por acurada pesquisa, seja na técnica fotográfica (mediante exercício continuado de observação e registro da ação do tempo); seja na seleção de materiais inertes (pedras, metais, ou madeiras retorcidas e inanimadas provenientes do manguezal), que, depois de habilmente “resgatados” pelo artista, são ressignificados em objetos tridimensionais e esculturas”.

A arte de Bergamini é resultado de um exercício continuado, que se desenvolve a partir de diferentes suportes e técnicas com uma linha em comum, que é o reaproveitamento de materiais e das próprias imagens. “Com isso, em sua obra, o artista instiga uma pontual reflexão sobre o meio ambiente, a qual se faz urgente e oportuna e transcende a própria arte”.

 

Até 03 de junho.

 

Boneca de papel no Paço Imperial

18/abr

 

A exposição individual de Maria Fernanda Lucena permanecerá exposta no Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ,  até 20 de maio, quando a artista apresenta “Boneca de papel”, sua nova série de trabalhos. As obras exibidas começaram a ser pensadas através de práticas comuns à artista, o recorte e a colagem, fazeres que ela considera lúdicos por rememorarem modos de brincar, além de gestos costumeiros ao universo da moda, um dos pilares da sua produção. Frequentadora da feira de antiguidades da Praça XV, no Centro do Rio de Janeiro, garimpa fotografias 3×4 e, partindo delas, elabora imagens sobrepostas. Sutura os rostos desconhecidos com figurinos de artistas da cultura pop e de suas referências musicais.

As pinturas de tinta a óleo sobre papelão são sustentadas por molduras em escala humana, medindo 1,80 metros de altura. O ornamento de madeira, que geralmente delimita, se transforma em parte integrante dos trabalhos, utilizado como um anteparo que divide e compartimenta, mas também possibilita frestas, além de impulsionar a construção de ambientes vazios e ecos, em uma narrativa labiríntica.

“Lucena cria um jogo de identidades. Há em suas pinturas humor e uma certa nostalgia, fruto das memórias que escolheu revolver. Suas figuras ganham corpo no modo que criou para exibi-las, são passantes, mas nos entregam algo”, ressalta Bruna Araújo, que responde pela curadoria da exibição.

 

Sobre a artista

Maria Fernanda Lucena nasceu em 1968 no Rio de Janeiro. Depois de estudar e trabalhar com indumentária e design de moda, ingressou na EAV- Parque Lage – frequentando diversos cursos onde passa a se dedicar ao desenho e à pintura. Suas exposições individuais foram curadas por Efrain Almeida, na C. galeria, e na galeria Sem título, e por Cesar Kiraly “A intimidade é uma escolha”, na galeria de Arte Ibeu, em 2017, no ano anterior foi vencedora do prêmio “Novíssimos”. Em projetos coletivos expôs a convite dos curadores Brígida Baltar, Isabel Portella e Marcelo Campos. Integra coleções particulares e o acervo do Mar – Museu de Arte do Rio.

 

A arte cinética de Soto

 

Pioneiro da arte cinética, o artista visual venezuelano Jesús Rafael Soto teve como foco em sua criação a busca pelo movimento em suas obras.  O artista inovou criando peças que pareciam ter vida própria e que instigavam a mobilidade, a dinâmica e a vibração. Celebrando o centenário do artista, a DAN Galeria, Jardim América, São Paulo, SP, que comemora 50 anos de trajetória e representa Soto desde a década de 1990, ocupa até 30 de junho, as suas duas unidades na capital paulista com a mostra “Jesús Soto – Cor, Forma, Vibração”, com curadoria assinada por Franck James Marlot.

A música fez parte da vida artística de Soto no mundo das artes. Ele inicialmente se inspirou nas estruturas concretas de Mondrian e assumiu o desfio de criar uma obra que fosse além da síntese estética alcançada pelo artista, agregando uma nova dimensão, que é o movimento na arte. Soto percebeu na música o jogo com duas camadas compostas pela linha rítmica constante e pela linha melódica variável, com relações entre as duas ao longo das composições. Foi assim, unindo pintura e música, que Soto por meio da exploração da vertente da pintura abstrata, primeiro com sobreposições usando a transparência do plexiglass, e depois referindo-se às sobreposições de sons e ritmos, concebeu a técnica de arte cinética em seus trabalhos.

Sua obra desafia a fronteira entre arte e investigação científica, habilitando uma nova interação entre o sujeito e a obra. A individual apresentada pela DAN destaca 30 obras do artista produzidas entre as décadas de 1960 e de 2000. A mostra inclui dois trabalhos de dimensões arquitetônicas, expostas pela primeira vez em galeria: “Paralelas” (1990), e “Penetrável BBL Jaune” (1999). Além destas, algumas obras da série “Paralelas Vibrantes”, outras da série “Sínteses”, e uma seleção de esculturas em aço, alumínio, nylon, pvc, plexiglass e pintura sobre madeira, também ocupam o espaço expositivo. Esta é a primeira exposição individual realizada na unidade da DAN Contemporânea.

Sobre as obras do artista, comenta o curador Franck James Marlot “O deslocamento do espectador provoca efeitos visuais de “moiré” que dão a ilusão de um movimento rotativo rápido da espiral. O movimento aparece sem motorização. Com esta demonstração, Soto introduz a noção de espaço-tempo na sua obra, ativada pelo olho do espectador, que desenvolve não só uma dinâmica espacial, mas também temporal. É neste momento singular de diálogo em que a experiência entre o espectador e a obra, o objeto cinético, em sua singularidade, permite a multiplicação infinita de pontos de vista e cria uma imagem vibrante e em movimento, implicando experiências visuais mais amplas”.

 

 

Novo espaço de arte

13/abr

 

O Ateliê 31, é o novo espaço de arte contemporânea que anuncia sua inauguração à rua México, 31, (próximo à Cinelândia), Centro, Rio de Janeiro. Sua abertura promete ser pomposa pois traz um elenco categorizado formado por 29 artistas através da exibição coletiva “Quadrantes da Miragem”.

Quando: 22 de abril (sábado), das 11h às 17h, com curadoria de Shannon Botelho e a participação de 29 artistas contemporâneos.

 

Artistas participantes

Alexandre DaCosta, Alexandre Magno, Alexandre Murucci, Alexandre Rangel, Ana Durães, Andy Garcia, Beto Fame (foto), Bhagavan David, Carolina Amorim, Chico Fortunato (foto), Esther Barki (foto), Felipe Bardy, Fernanda Lago, Herbert de Paz, Kika Diniz, Laura Lydia, Lia do Rio, Marcelo Lago, Max Olivete, Myriam Glatt, Patrizia D’Angello, Paulo Campinho, Pedro Paulo Domingues, Pedro Varella, Raimundo Rodriguez, Renata Pedrosa, Suzana Queiroga (foto), Vera Schueler e Vinícius Carvas.

 

O jogo conceitual de Mano Penalva

A exposição individual de pinturas, objetos e esculturas de Mano Peralva encontra-se em exibição até 29 de abril na Simões de Assis, Jardins, São Paulo, SP.

Em Cumeeira, Mano Penalva permanece atento ao que constituiu suas pesquisas e seus interesses. O mercado de pulgas, os mercados populares e, sobretudo, o comportamento sociocultural que dota de sentidos e afetos o que se encontra em desuso. O próprio termo “cumeeira” define interesses de épocas remotas, nas quais festas e rituais de inauguração das casas eram noticiados pela imprensa. O rito, de outros modos, ainda é feito ao se erigir a parte mais alta dos telhados. A festa da cumeeira, cantada internacionalmente por Tom Jobim, não é senão o churrasco da laje, o cozido, o mocotó, que muitas vezes acompanham a ação coletiva (os mutirões) e que caracterizam as autoconstruções (método de edificar casas com a ajuda da família, dos amigos, da vizinhança). De modo ampliado, também entregamos as cumeeiras a santos protetores e orixás.

Na exposição, Penalva observa e compõe tramas, as mais variadas. Achas e varetas de madeira se empilham em construções, couros de tambores são costurados lado a lado, palhinhas são arrematadas por um tecido de crochê de juta. A casa prevalece ao ambiente externo, à própria rua e, nos detalhes, vai nos conduzindo aos sinais de um trabalho inútil. Na arte, a chamada “vontade construtiva” também se dedicou a pensar esses gestos – a junção de planos, o equilíbrio de matérias -, muito mais pautada pelos módulos industriais que regiam a ideia de progresso. O Brasil gerou, com isso, uma perigosa limpeza étnica em obras que, muitas vezes abstratas, abriram mão justamente das culturas populares de tradições negras, indígenas e caboclas que Mano Penalva reinstaura. Por outro lado, não seria propriamente a ideia de popular que estaria em jogo. Antes, pensemos que lugares conceituais vão mantendo os gestos do artista como um pensamento que invoca outras sensações, outros sentimentos.

Em “Afinados” (2018), dois machados de madeira quase coincidem, como no amor, na dualidade nem sempre correspondente a um tempo partilhado. “Quebra sol” (2022) e “Arrimo” (2023) já nos colocam diante da multicultural tradição dos muxarabis árabes, reelaborados pelos brises e cobogós da arquitetura moderna, mantidos por peneiras das tradições da cestaria indígena. Ali, o que pode parecer obstáculo se organiza de modo malemolente, se mexe, dança com o vento ou com a interação humana. Ainda assim, o exercício geométrico se mantém em franco diálogo com a história da escultura brasileira, com os aprendizados concretos e neoconcretos.

Para além dos interesses pelos gestos populares, pelas manufaturas em desuso e pelos ornamentos da casa, vemos, em Cumeeira, um uso elaborado, quase literário, de metáforas visuais. Os couros redondos dos tambores são chamados de “Pérolas” (2022). A paisagem, por exemplo, se mostra como mote associativo quando um tecido azul com duas argolas pendentes ganha o título de “Chuva” (2023). Um molde de palhinha em formato aproximado a um chapéu, acrescido de pingentes de cortina é nomeado: “Arlequim” (2022). Aqui, o tom da poesia de Mano Penalva nos coloca em sensações de nostalgia e reminiscência, em um jogo conceitual romântico que convoca as memórias deixadas em pedaços nas casas vazias – memórias que ganham vitalidade ao enfrentarmos os vazios das mudanças.

Marcelo Campos

 

Esculturas de Ascânio MMM

11/abr

 

No dia 16 de março, será inaugurada a primeira exposição individual de Ascânio MMM na galeria Silvia Cintra + Box4, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, abrindo o calendário expositivo de 2023. Com texto crítico de Diego Matos, a mostra exibirá 7 trabalhos inéditos do artista – seis obras de parede e uma grande escultura – que contemplam a sua mais recente produção artística.

Uma das séries que integram a exposição é “Quacors” – um neologismo criado pelo artista que une as palavras quadrado e cor. Estamos diante de híbridos de esculturas e pinturas. Parte da longa pesquisa de Ascânio sobre as possibilidades do alumínio, os “Quacors” surgem como espécies de blocos nos quais uma sucessão de módulos quadrados – ora vazados, ora preenchidos – são articulados por parafusos dotados de certa folga, de tal forma que as composições sejam a um só tempo tensas e fluidas.

Em cinco décadas dedicadas à escultura, Ascânio construiu uma minuciosa obra – transparente em sua poética e firme em sua lógica construtiva – que lhe garante um lugar histórico na trajetória da abstração geométrica da América Latina. Esta foi sua práxis exclusiva. Ascânio nunca fez uma obra figurativa. A gênese particular do artista está ancorada em sua origem portuguesa e no contexto cultural brasileiro, mais especificamente o do Rio de Janeiro, cidade fecundada pela revolução neoconcretista e seus desdobramentos.

 

Sobre o artista

Nasceu em Fão, Portugal, em 1941, vive e trabalha no Rio de Janeiro desde 1959. Sua formação inclui passagem pela Escola Nacional de Belas Artes entre 1963 e 1964, e pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FAU/UFRJ), entre 1965 e 1969, onde se graduou. Atuou como arquiteto até 1976. Começou a desenvolver seu trabalho artístico a partir de 1966 ainda na FAU e posteriormente em paralelo com a prática de arquiteto. A produção artística de Ascânio foi objeto de estudo e análise crítica por Paulo Herkenhoff no livro Ascânio MMM: Poética da Razão (BE? Editora, 2012). Em 2005 foi publicado o livro Ascânio MMM (Editora Andrea Jakobsson, 2005), com textos de Paulo Sergio Duarte, Lauro Cavalcanti, Fernando Cocchiarale e Marcio Doctors.

 

Formatos inovadores de participação

23/mar

NONADA, galeria de arte contemporânea carioca, visita São Paulo em espaço próprio, mas temporário, para estar presente no circuito cultural paulistano durante o período da principal feira de arte do hemisfério sul – SP-Arte – e, apresentar de uma forma coerente com seu conceito raiz, artistas comprometidos com seu compromisso de atuar ativamente do mercado criativo brasileiro mas também buscando formatos inovadores de participar.

A NONADA estará no térreo do Edifício Madalena, na Praça da Bandeira, região central de São Paulo, em um prédio Art Déco recentemente restaurado, embaixo do Viaduto do Chá. Usar ícones urbanos como referência é uma das formas que a galeria carioca entrar com respeito e coerência em São Paulo, marcando presença no maior centro cultural da América Latina, mas entendendo a necessidade de levar essas iniciativas para lugares importantes e, às vezes, externos ao circuito convencional de galerias e museus.

NONADA não é aqui – Superfície Matéria | Densidade Identitária, é uma mostra coletiva com 25 obras de 18 artistas, nomes com alcance já internacional como Miguel Afa e Melissa de Oliveira, representados pela galeria, e outros que participarão pela primeira vez de um projeto da NONADA como Tadaskia e Loren Minzu. A curadoria é de Paulo Azeco.

Pelo período de nove dias – de 25 de março a 02 de abril -, a jovem galeria, com um DNA que inclui sua presença no não lugar para sua existência e pertinência, exibe um projeto expositivo que reúne dois elementos imperativos em sua linha curatorial atual: “a ressonância da matéria nas pesquisas de jovens artistas percebida como ponto comum em muitas delas; além do moto primeiro da galeria que é a pesquisa de talentos periféricos à medida que muitos ainda estão fora de um circuito de arte convencional, com o foco maior em artistas LGBTQUIA+, questões identitárias, raciais e sociológicas. Deslocando o lugar da arte periférica para um sentido amplificado e que de fato faz sentido no pensamento contemporâneo”, como define Paulo Azeco.

 

Sobre a galeria

NONADA, um neologismo que remete ao não lugar e a não existência, também abre “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa e a união desses conceitos representa o pensamento basilar desse projeto. Como o próprio significado de NONADA diz, ela surge com o intuito de suprir lacunas momentâneas ou permanentes acerca de um novo conceito. A galeria, inclusiva e não sectária, como agente promotor de encontros e descobertas com anseio pela experimentação, ilustra possibilidades de distanciar-se de rótulos enquanto amplia diálogos. “NONADA é um híbrido que pesquisa, acolhe, expõe e dialoga. Deixa de ser nada e passa a ser essência por acreditar que o mundo precisa de arte… e arte por si só já é lugar”, definem João Paulo, Ludwig, Luiz e Paulo.

A NONADA mostrou-se necessária após a constatação, por seus criadores, da imensa quantidade de trabalhos de boa qualidade de artistas estranhos aos circuitos formais e que trabalham com os temas do hoje, sem receio nem temor em abordar temas políticos, identitários, de gênero ou qualquer outro assunto que esteja na agenda do dia; que seja importante no hoje. “Queremos apresentar de forma plural novos talentos, visões e força criativa”. O processo de maturação do projeto da NONADA foi orgânico e plural pois “abrangeu desde nossa experiência como também indicações de artistas, curadores, e de buscas onde fosse possível achar o que aguardava para ser descoberto”, diz Paulo Azeco. Ludwig Danielian acrescenta: “…não queremos levantar bandeiras, rótulos, e sim valorizar a arte boa, que independe de estereótipos. Queremos ter esta proposta de galeria em Copacabana, bairro popular, e no subúrbio, na periferia do circuito de arte, para que se leve excelentes trabalhos a todos. Pretendemos promover discussões livres, contemporâneas, abertas, sem julgamentos prévios.”

Artistas: Miguel Afa, Melissa de Oliveira, Tadaskia, Loren Minzu, Alan Oju, André Barion, Emerson Freitas, Siwaju e outros.

 

 

Obras de Anna Braga no Paço Imperial

16/mar

 

O Paço Imperial inaugura na próxima quarta-feira, dia 22 de março, a exposição “Anna Braga – Submersões”, com um panorama da obra da artista multimídia, que há 20 anos não faz uma exposição individual em uma instituição no Rio de Janeiro. Com curadoria de Fernando Cocchiarale, serão apresentadas 36 obras, entre instalações, pinturas, desenhos, fotografias, vídeos e objetos inéditos, pertencentes a três séries distintas: “Ternas Peles”, “Memória Submersa” e “Puro Álibi”. Os trabalhos, que ocuparão três salões do Paço Imperial, trazem como temas centrais a ecologia, a violência e questões de gênero. Até 21 de maio.

“Todos os trabalhos são em técnica mista, nos quais utilizo pintura, desenho, colagem, vídeo e fotografia na mesma obra. Faço interferências sobre o que encontro visualmente, dando outros significados para a imagem, transformando-a em algo completamente diferente”, conta a artista, nascida em Campos do Goytacazes, radicada no Rio de Janeiro, após ter passado um longo período no exterior, principalmente no Uruguai.

“As obras realizadas por Anna Braga nos colocam diante de imagens impregnadas de nexos que, como rastros, desenham um percurso de relações ao redor de temas como a destruição ambiental, a degradação urbana e a violência social, contextos encadeados em diversas situações nos trabalhos da artista. As três séries aqui reunidas – Memória Submersa, Ternas Peles e Puro Álibi – abarcam indagações entrecruzadas pelo próprio enredamento que caracteriza as sociedades contemporâneas e seus conflitos de identidade, classe, gênero, cor e grupo étnico”, afirma o curador Fernando Cocchiarale.

Na primeira sala estará a série “Memória Submersa”, que reflete, de forma poética, sobre ecologia, a partir do distrito de Atafona, em São João da Barra, no litoral campista, que está desaparecendo após sucessivas ressacas do mar. Através deste trabalho a artista faz uma veemente crítica à destruição da natureza, partindo de um exemplo local para falar globalmente sobre a questão da ecologia. Esta obra foi exposta originalmente no Museu Nacional de Brasília, em 2017. No Paço Imperial, no entanto, ela será acrescida de novos elementos, sendo composta por 17 trabalhos, entre obras bidimensionais, que estarão penduradas na parede, esculturas-objetos, instalações, um vídeo 3D e uma animação. Assim que entrar na exposição o público verá os vídeos, que ocuparão todas as paredes, fazendo uma imersão dos espectadores na obra.

“O que retorna à superfície, em poesia faz lembrar coisas que submergiram. A memória afetiva posta à prova vem contrariar o fenômeno natural das marés – quando arte não deixa apagar da memoria aquilo que se foi para sempre. Embora com isso não se reduza o sentido trágico da desaparição, a arte vem traduzir em metáforas essa melancolia e inexorável realidade”, afirma a artista.

Seguindo o percurso da exposição, na segunda sala estará a série “Ternas peles”, composta por sete trabalhos nos quais a artista cria interseções entre o nu artístico das estátuas gregas e imagens femininas presentes em antigos classificados de jornais da seção de termas e massagens. Anna Braga intervém manualmente nos periódicos, com pintura ou desenho e os fotografa, exibindo-os de três formas diferentes: como se fossem filmes usados para a impressão; impressos, mostrando a aproximação com a estatuária grega, e em uma instalação que se assemelha à cabeça da Medusa, com longas faixas feitas a partir da página em negativo, como fios de filmes. Com esta instalação, a artista pretende falar sobre o silêncio imposto sobre as mulheres e sobre os corpos trans. O resultado é uma potente reflexão sobre questões de gênero, a partir de corpos dissidentes, marginalizados e transexuais. “Neste trabalho destaco a luta social do ser humano para ter suas próprias opções sexuais e fazer delas o que bem entender. É mais um problema estrutural que a sociedade acumula”, ressalta.

Na terceira e última sala, estará a série “Puro Álibi”, composta por 12 trabalhos produzidos a partir do detalhe de uma fotografia publicada em um jornal de grande circulação, que mostra uma fila humana em um presídio. Nesta série, a artista destaca as sombras, transformando-as em novas figuras, dando um novo significado para a imagem para falar sobre o tema da violência. “A obra pertence a uma série na qual desenvolvo inúmeras metáforas forjadas em dorsos e posições de intimidação do homem em situações de ameaça. Neste caso específico trata-se de uma fila humana no pátio de uma prisão cujas sombras rastejantes sugerem outras verdades. Verdades que estão sendo realizadas nas imagens criadas pelo poeta entre a realidade, sonhos, temores e perplexidades do homem entre si e o outro, na vida e no tempo”, conta a artista.

 

Sobre a artista

Nascida em Campos dos Goytacazes, RJ, Anna Braga é formada em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com mestrado em Sociologia pela UFRJ e extensão em Filosofia e Arte Contemporânea pela PUC-Rio. Frequentou o ateliê da artista Anna Bella Geiger e os ateliês de Elena Molinari, Maria Freire e Hilda Lopes em Montevidéu, no Uruguai. Fez curso de Arte e Filosofia e Arte Crítica na EAV Parque Lage entre 2000 e 2001 e especialização em Arte e Filosofia na PUC Rio em 2008. Ao longo de sua trajetória, realizou diversas exposições, no Brasil e no exterior. Dentre as coletivas destacam-se: “Obranome”, no Mosteiro de Alcobaça, em Portugal, em 2013, e na EAV Parque Lage, em 2009, “30 anos de videoarte”, na EAV Parque Lage, em 2004, “Questões Diversas”, no Centro Cultural Correios, em 1998, entre outras. Dentre as principais exposições individuais destacam-se: “Visitando Ternas Peles” (2022), no Estúdio Dezenove, “Memória Submersa” (2017), no Museu Nacional da República, em Brasília, “Ternas Peles” (2003), no Palácio do Catete, Museu da República, “Transobjetos” (1996), na Caixa Cultural em Brasília, entre outras. Possui obras em importantes acervos, como Museo de Arte Contemporanea do Uruguai; Centro Cultural da Caixa Econômica Federal, Brasília, DF; Centro Cultural dos Correios e Telégrafos, Museu Postal, Rio de Janeiro e Museo Nacional da República (MUN), em Brasília.