Acervo em Araraquara

03/out

 

A mostra “Ausente Manifesto” é uma parceria do Museu de Arte Moderna de São Paulo e o Sesc São Paulo, Araraquara, São Paulo, SP, permanecerá em cartaz até 11 de dezembro e reúne obras do acervo do MAM-SP e de seu clube de colecionadores. As obras escolhidas inspiram a premissa da ausência percebida, evidenciam o que não está presente ao espectador, remontando ao que está invisível e que pode ser imaginado, ganhando concretude a partir do olhar do público.

“Ausente Manifesto”, com curadoria de Cauê Alves – curador do MAM, e Pedro Nery – museólogo da instituição, traz o trabalho de artistas contemporâneos que transpõem as divisões sedimentadas das linguagens artísticas, trazendo à tona um jogo entre desenho e instalações, vídeo e imagem, fotografia e representação.

Os trabalhos selecionados ganham concretude a partir do olhar do público, como no caso da obra de Regina Silveira, que projeta uma sombra de um móbile de Alexander Calder esparramando pela parede, distorcendo a peça que está ausente; ou Mácula, de Nuno Ramos, que mostra uma foto tirada diretamente para o sol e que revela um halo de luz, com inscrições em braile, criando visualidade de uma experiência primordial de significação. No jogo irônico da obra Working Class Hero, da série The Illustration of Art, de Antonio Dias, o artista se filma comendo um prato de arroz e feijão e depois lava a louça usada, colocando em questão a idealização simbólica da produção artística e do museu. “Assim, é das próprias obras que temos a experiência de espectadores da produção simbólica, e de seu questionamento”, dizem os curadores. O telhado de Marepe faz uma miragem de uma casa completa, com janelas, paredes e portas, e na obra de Damasceno é possível ver um homem que olha um quadro feito do instrumento que permite desenhar, dessa forma, o olhar do público é que confirma e atribui essas condições.

Na exposição, sente-se a ausência do objeto e, ao mesmo tempo, é possível imaginá-lo pendurado ali. Esse preenchimento é justamente o universo simbólico pretendido. “Falar do que não está presente é, na verdade, o tema central do museu. Os objetos expostos, guardados e preservados, estão lá por seus valores simbólicos, por exemplo, um simples lápis quando entra para a coleção de um museu, deixa de servir à escrita e passa apenas a atender ao olhar do visitante”, comentam os curadores.

A exposição reforça um caráter inusitado e, por vezes irônico, da arte contemporânea em deturpar a lógica de representação dos objetos que são reconhecidos por suas utilidades, estabelecendo, dessa forma, uma ordem diferente entre o que é representar e criar. A arte é produtora do simbólico de nascença, ou seja, quando criada ela não tem uma utilidade prática.

Artistas que integram a mostra: Adriana Varejão, Angela Detanico, Anna Bella Geiger, Antonio Dias, Cao Guimarães, Carlito Carvalhosa, Cinthia Marcelle, Coletivo Garapa, Dora Longo Bahia, Ernesto Neto, Fabiano Marques, Fabrício Lopez, Gabriel Acevedo Velarde, Gilvan Barreto, Jonathas de Andrade, José Damasceno, José Patrício, Lenora de Barros, Lucia Koch, Marcius Galan, Marepe, Matheus Rocha Pitta, Mídia Ninja, Milton Machado, Milton Marques, Nelson Leirner, Nuno Ramos, Rafael Lain, Regina Silveira, Rivane Neuenschwander, Romy Pocztaruk, Sara Ramo, Tadeu Jungle, Thiago Bortolozzo, Thiago Honório e Waltercio Caldas.

 

Pinturas de Felipe Carnaúba na GEMA

29/set

 

 

O título da mostra é “Uma Pintura é Uma Bandeira, primeira exibição individual do multiartista Felipe Carnaúba até 30 de outubro em São Paulo na GEMA, Jardim América, sob a curadoria de Eduarda Freire. Com, aproximadamente, 40 trabalhos entre pinturas, desenhos, vídeos, NFTs, objetos e game, propor um ambiente social e informal de debate diante obras “ironicamente” políticas. Entre as telas, pode-se encontrar algumas representações artísticas feitas em conjunto com componentes do coletivo Palácio Guanabara. “Felipe propõe uma flexibilização dos limites do espectador, diante de seus excessos; provoca o público com postulados por vezes perigosos, não-lineares e pouco esclarecidos”, delibera a curadora.

Nos trabalhos do artista não há uma definição clara entre a busca pelo aplauso ou pela rejeição. Por vezes, pode-se até pensar Felipe Carnaúba como um advogado de causas próprias ao perceber o grau de “malicia” presente nas criações. “Hoje, sou obrigada a repensar essa figura. A presente produção me provoca mais questionamentos, do que conclusões. (…..) Como seria conviver com uma silenciosa tensão toda vez que receber alguém para conhecer a casa? Essa imagem de um metro de altura do rosto do presidente, feia, mal-pintada e bem representada, não é algo que se consiga explicar facilmente para alguém num primeiro encontro romântico. Agora, notem a beleza que é perceber a naturalidade como se pensa arte como algo para se colocar na parede da sala. Estes questionamentos estão imersos na minha visão circunstancial de quem tem uma pintura do Felipe na entrada de casa. É evidente que a polêmica é ingrediente da massa do trabalho. No entanto, não diria que isto é um foco, e sim um fato”, discorre Eduarda Freire. Definir como experimentação também seria um conceito muito vago visto que, seja em suas performances, vídeos, músicas, NFTs, textos ou pinturas, as intenções do artista são atuais. Uma Pintura é Uma Bandeira. Por que? Copos de Guaravita em pedaços de papelão, ou assentos de privada na parede expressam, na verdade, o Brasil por um carioca suburbano, subentendido e subestimado”, responde a curadora. “Felipe se caracteriza pelo acúmulo, excesso e desorganização. Sua produção incansável e/ou exaustiva, detestável e/ou divertida, desafia a se deparar com níveis baixos da realidade atual, a um alto grau de insolência e destemor. Em meio a frenéticos (senão épicos) aspectos antiglamurosos, gira uma ciranda do fracasso. Talvez seja essa a insinuação de que o veneno é o antídoto.” Eduarda Freire

Sobre o artista

Felipe Carnaúba nasceu no Rio de Janeiro em 1998. Artista e curador independente, bacharelando em Pintura na Escola de Belas Artes da UFRJ (EBA – UFRJ). Atua em diversas linguagens como artista entre a pintura, instalação, música, performance e videoarte. Sua pesquisa investiga sobre o acúmulo de elementos populares da indústria cultural como indagação de politizar o produto alienante; utiliza a linguagem dos memes pelo engajamento pós-irônico na era global. Suas obras remetem um trágico e humorado retrato da banalização da informação, como das redes sociais, a qual nossas relações de convívio exaustivamente, cada vez mais, fricciona entre o lazer à política.

Sobre a GEMA

GEMA, de Eduarda Freire e Clara Johannpeter, é um núcleo de arte contemporânea emergente, dedicado a fomentar a produção e divulgação de artistas que nunca foram representados por galerias. Funciona como uma ferramenta de consultoria de arte, com foco em artistas independentes. Reuniu um acervo em um espaço, em São Paulo, e até o presente momento atua em locais temporários que permitam exposições presenciais. No momento, trabalha com quinze artistas, mas também tem como foco incentivar artistas que estão fora de seu time, através de iniciativas como realizações de exposições individuais destes, ou inclusão em exposições coletivas. A GEMA se apresenta como uma nova opção de fomento ao circuito artístico, de modo alternativo ao convencional modelo de exposição em cubo branco.

 

 

 

Galatea apresenta Allan Weber na ArtRio

14/set

 

 

A apresentação solo de Allan Weber na ArtRio, Marina da Glória, Rio de Janeiro, RJ, entre os dias 14-18 de setembro, vai mostrar um grande conjunto de trabalhos da série “Traficando arte”, na qual o artista traduz e transpõe para objetos, instalações e fotografias, elementos, imagens, situações e narrativas do contexto em que nasceu e vive, a comunidade das 5 Bocas, na Zona Norte do Rio de Janeiro.

 

A realidade das comunidades no Rio de Janeiro é marcada pelo abismo da desigualdade social, pela violência policial e pelas lutas entre facções. Todas essas situações, porém, não devem ser tomadas como definidoras desses locais, mas sim como fatores constituintes. A produção cultural, artística, musical, literária e as manifestações estéticas da moda são potenciais que emergem dessas localidades e também as definem.

 

O tema principal da produção de Allan Weber é justamente essa complexidade, contraditória e em disputa – tanto material como simbólica – das comunidades cariocas e, segundo o artista, seus trabalhos são fotografias, objetos e ações que questionam e tensionam sua relação com elementos de uma classe social marginalizada e discriminada por sua cultura e comportamento.

 

Partindo desses pressupostos, o título da série “Traficando arte” propõe uma subversão da ideia negativa de tráfico de drogas para uma proposição positiva de tráfico de arte, pensada a partir da noção de troca, negócio e diálogo. Ou, nas palavras do artista: “Minha obra fala sobre a geopolítica carioca e a produzo desconstruindo objetos e códigos usados pelo tráfico de forma subjetiva para a criação de novos conceitos.”

 

Nesse sentido, diversos elementos desse cotidiano cercado pelo tráfico, como armas e embalagens para drogas, são transformados e ressignificados por Weber, tanto na série fotográfica “Traficando arte” como na série de armas construídas com câmeras fotográficas usadas ou na série “Endola”, em que a técnica e material utilizado para fazer pacotes com cargas de maconha se tornam objetos geométricos e conceituais.

 

Elementos da cultura visual e musical da favela também são articuladas em trabalhos pelo artista, como a estética dos cortes de cabelo, os chamados “cortes na régua” ou “cabelinho na régua”, que estão presentes de forma simbólica na série “Régua”, onde as lâminas utilizadas para esses cortes são organizadas de forma geometrizada e coladas em telas, criando composições que dialogam diretamente com a tradição construtiva da arte brasileira. Esse diálogo também é explorado por Weber em uma série de trabalhos feitos com colagens de retalhos das lonas utilizadas nas estruturas de coberturas dos bailes funk, normalmente coloridas e geometrizadas.

 

Também serão apresentados esboços do projeto “Dia de baile”, que surgiu a partir do incômodo do artista em sempre ver os bailes funk sendo retratados de forma marginalizada, como locais de violência, ignorando todo o conhecimento ali produzido, bem como a sua função social e cultural nas comunidades onde são realizados. A primeira edição do projeto aconteceu na exposição “Rebu”, em 2021, na piscina do Parque Lage, e levou para o interior de um palacete em estilo eclético do começo do século 20 uma lona típica dos bailes de favela junto com um paredão de caixas de som que foram ativados numa festa. Criou-se, assim, uma fricção estética e social com o ambiente elitista da zona sul carioca, ao mesmo tempo que se buscou apresentar e convidar o público a conhecer essa manifestação musical e cultural que é o baile funk.

 

Afinidades e contrastes em exposição

12/set

 

 

A exposição “Anima e Furor”, Galeria Mamute, Porto Alegre, RS, integrando o roteiro de mostras da 13ª Bienal do Mercosul, no projeto Portas para a Arte, reúne cinco artistas que participam da Bienal – Bruno Borne, Elias Maroso, Karola Braga e o duo Ío (Laura Cattani e Munir Klamt), apresentando obras inéditas. A mostra com a curadoria de Henrique Menezes multiplica as oportunidades de encontro do público com a produção de nomes em ascensão na arte nacional.

 

A palavra do curador

 

Operando na mediação entre a consciência e o mundo, a linguagem intervém como um universo de construção de sentidos e expressão do pensamento. Ao mesmo tempo que a opacidade da língua apresenta-se como um desafio para espelhar de forma cristalina o mundo, essa mesma característica é também a vocação mais fértil dos vocábulos: as palavras permitem a constante expansão de seus sentidos, tanto pela fricção de seus significados quanto pela soma ou repulsa de suas acepções.

 

Encarar a língua como uma entidade viva, talvez, seja uma das abstrações mais fascinantes da cultura: seja pela tradução, pelas migrações e trânsitos, ou puramente pela evolução natural dos signos a partir do seu exercício, há sempre uma intimidade essencial entre os indivíduos e as palavras.

 

Ferreira Gullar – exímio ao lapidar imagens através do vigor e do rigor das palavras – sugere: “Uma parte de mim é só vertigem; outra parte, linguagem”. Conjugar esses três conceitos aparentemente díspares – o Ser, a vertigem e a língua – é uma das possíveis provocação para adentrar Anima e Furor, uma exposição que oscila entre as afinidades e os contrastes evocados por tais termos.

 

Com origem no Latim, a palavra anima remete à imagem de sopro, ar ou brisa, assumindo ao longo do tempo os conceitos de princípio vital ou alma – este último, altamente combalido pelo misticismo e pela religiosidade. Recorrente na poesia, a expressão ganhou novos semblantes através da psicologia analítica de Carl Jung: anima é empregado como um dos componentes da psique ligado ao inconsciente coletivo, uma das estruturas que representam a característica contra-sexual de cada indivíduo. Se anima nos transmite uma aura de placidez, o emprego de furor, por sua vez, evoca estados de grande excitação, frenesi e inspiração. É um impulso incontrolável, igualmente impetuoso e inconsequente: percebemos aqui uma vibração intensa ora apontando à fúria e ora acercando-se da paixão desmedida.

 

A exposição Anima e Furor reúne obras inéditas de Bruno Borne, Elias Maroso, Karola Braga e o duo Ío (Laura Cattani e Munir Klamt), cinco artistas presentes na Bienal do Mercosul de 2022 – não é coincidência que o tema dessa mostra seja Trauma, sonho e fuga, remetendo a fenômenos que se manifestam no inconsciente. Sem buscar limitações ou similitudes entre as obras, o conjunto de trabalhos expande e aprofunda as pesquisas individuais de cada artista, entrelaçando a centralidade do indivíduo a sistemas simbólicos que trazem ecos da mitologia e da ótica, perpassando a percepção sensorial e espacial.

 

Transpor qualquer discurso em gesto artístico assume ritmos e tons imprevisíveis: Jung via o processo da anima como uma das fontes da potência criativa, aliada à sensibilidade e ao inconsciente. Em uma aproximação semântica e sintática, furor é também o sintoma de certos delírios, evocando a agitação violenta dos ânimos – manifestada por palavras, ações ou intenções.

 

Até 29 de outubro

 

Artista multifacetado

 

“Natureza torta – Renato Matos 70 anos” é o evento de abertura da exposição e visitação de 09 de setembro a 23 de outubro, de terça a domingo, das 10h às 20h, no Espaço Cultural Renato Russo – Praça Central, Sala Marco Antônio Guimarães, Brasília, DF.

Consagrado pelas frequentes aparições no Concerto Cabeças, baiano de Salvador,  Renato se mudou para Brasília e ajudou a desbravar a capital federal. Inventou o reggae tipicamente candango, onde mesclava romantismo e urbanismo, compôs a clássica canção Um telefone é muito pouco. Ainda assim, as obras do artista não se limitaram à musical, tendo visitado o cinema, o teatro e as artes visuais.

Desde 1970, o talento do artista brinda a cidade com obras em diversas linguagens. Diante disso, Renato se vê em uma relação de reciprocidade para com Brasília. “A própria Brasília, para mim, é uma grande influência. É um lugar contemporâneo, e eu já vim trabalhando a minha arte em cima do tropicalismo e da arte moderna. Brasília é um grande resultado disso”, afirma o autor. Ele explica que o propósito da exposição passa por aproximar o público das origens locais e da diversidade artística que realiza. “É uma mistura de tendências. Não tenho um perfil, é uma exposição de quase tudo o que eu faço”, complementa.

“Natureza Torta – Renato Matos 70 anos” expressa a identidade cultural dos brasilienses. Com a curadoria e a expografia do arquiteto, artista plástico, escritor e cineasta mineiro Luis Jungmann Girafa, a seleção das obras explora o que há de mais extraordinário em Renato. “Ele tem uma pintura irônica. É um cara ousado, que não tem medo de errar, então é um cara que faz”, comenta o curador. Para ele, cabe a cada pessoa presente interagir com o conteúdo trazido. “A narrativa é poética. As peças falam por si. Vai valer muito a vivência de cada espectador para absorver, da melhor forma possível, o trabalho que o Renato apresenta.”

A partir de um recorte muito significativo, a idealização da data comemorativa foi projetada para imergir o público nos trabalhos que expõem uma cidade de delírios, por meio de sons, palavras, cores e imagens percorridas por diferentes linguagens. Nesse cenário, a versatilidade da mostra também abrange o audiovisual, com a exibição dos filmes “Acaso” (2021), de Luis Jungmann Girafa, e “Ziriguidum Brasília – A arte e o sonho de Renato Matos” (2014), de André Luiz Oliveira, além do lançamento do catálogo e da videoarte “Ruidismos limítrofes”, com produção musical homônima.

Natureza torta – Renato Matos 70 anos

Os filmes serão exibidos toda quinta-feira, às 19h, entre 15 de setembro e 20 de outubro. O lançamento do catálogo ocorre em 25 de setembro, às 16h.

O espaço contará com monitores habilitados em Libras para guiar os visitantes que precisarem de auxílio. O projeto é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC).

Até 23 de outubro.

 

 

Universo vegetal

 

 

A exposição “Há céu por toda parte”, de Mercedes Lachmann, projeto curatorial de Marisa Flórido, em cartaz na Galeria Gaby Indio da Costa Arte Contemporânea, São Conrado, Rio de Janeiro, RJ, é uma investigação sobre o universo vegetal e suas potencialidades. A artista coleta plantas, árvores e folhas caídas pela cidade, e com elas elabora seu jardim particular. Os trabalhos irradiam a medicina das ervas, sugerem novos ciclos de vida para folhas maduras, e denunciam a derrubada das florestas.

 

Sobre a galeria

 

Gaby Indio da Costa atua no mercado de arte desde 2009 e desde então acompanha de perto a produção de vários artistas. Realizou diversas exposições, algumas em parcerias com instituições e a maioria com a curadoria de críticos e curadores renomados. Em 2017 cria a galeria Gaby Indio da Costa Arte Contemporânea que tem como objetivo principal, divulgar a produção dos artistas que representa e suas propostas, promover projetos e exposições e manter um diálogo constante com críticos, curadores e colecionadores, incentivando a formação de novas coleções e buscando fortalecer as que já existem. A galeria trabalha com artistas jovens e consagrados, alguns com trajetória consolidada, todos eles comprometidos com a experimentação, a ousadia no âmbito da linguagem que define a arte contemporânea. Prova disso são os convites constantes para compor exposições nacionais e internacionais, e o interesse crescente de jovens colecionadores, além de coleções estabelecidas, públicas e privadas.

 

Até 28 de outubro.

 

Novos sentidos e sonoridades

05/set

 

 

Anita Schwartz Galeria de Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a partir de 06 de setembro a exposição “Klangfarbenmelodie – Melodia de timbres”, com obras de Lenora de Barros, Rosana Palazyan, Waltercio Caldas, Augusto de Campos, Paulo Vivacqua, Yolanda Freyre, Cristiano Lenhardt e Antonio Manuel.

 

Os trabalhos gravitam em torno da ideia de melodia de timbres criada em 1911 pelo gênio Arnold Schoenberg (1874-1951), autor da revolução que introduziu um novo campo na música, a música atonal, que rompe com o sistema verticalizado da harmonia, e cria a música horizontal, serial. A melodia passeia entre os vários timbres dos instrumentos, e cada nota passa a ter igual valor no espaço e no tempo, como pontos que flutuam. A mostra antecipa a celebração de 70 anos de “Poetamenos” (1953), de Augusto de Campos, com poemas desenvolvidos a partir da ideia de Schoenberg, e que é apontada como obra precursora do concretismo brasileiro.

 

A exposição reúne trabalhos de artistas que pesquisam, em variadas formas, as poéticas da ressonância como lugar de encontro, seja na intimidade do próprio ser ou no desejo de encontro com o outro. As obras manifestam um espaço para que as vibrações, em suas múltiplas potências, possam se somar entre si, ecoando novas palavras, sentidos e sonoridades.

 

Mostra a dois na Carpintaria

02/set

 

 

A exposição “FALA COISA” na Carpintaria, Rio de Janeiro, RJ, a partir do dia 03 de setembro, é um diálogo entre trabalhos inéditos de Barrão, representado pela Fortes D’Aloia & Gabriel e Josh Callaghan, representado pela Night Gallery, de Los Angeles.

 

Com curadoria de Raul Mourão, a mostra suscita pontos de contato entre cada um dos artistas, cujas assemblages têm em comum um modo de crescimento vegetal, como se objetos banais ou de uso industrial pudessem brotar e crescer a partir da aglutinação de fragmentos heterogêneos. O título da exposição, “FALA COISA”, sugere um passo além da fisicalidade muda do objeto de arte e situa as obras no plano de uma cena dialógica envolvendo o espectador, o artista e os objetos eles próprios. Nessa interação, as identidades ou usos pré-atribuídos de cada coisa dão lugar a um regime relacional de comunicação semelhante a uma dramaturgia objetual, ressaltando os componentes teatrais e cenográficos da obra dos dois artistas.

 

 

A Percepção Cinética na América Latina 

29/ago

 

 

A galeria Simões de Assis, Curitiba, PR, anuncia a “A Percepção Cinética na América Latina”, mostra que reúne, pela primeira vez, quatro dos principais expoentes da produção cinética e óptica: Jesús Rafael Soto, Carlos Cruz-Diez, Antonio Asis e Abraham Palatnik.

 

Os quatro artistas têm muito em comum: suas raízes latinas, integram a mesma geração, e criaram arte abstrata de cunho concreto, mais precisamente arte cinética, que envolve luz e movimento, além de contar com a participação do espectador.

 

As primeiras obras de arte cinéticas desses artistas surgiram num período de forte modernização da América Latina, e o continente desempenhou papel fundamental nesse movimento, algo que só recentemente foi reconhecido pela história da arte, sempre eurocêntrica. A mostra, que conta com texto crítico de Pieter Tjabbes, apresenta trabalhos históricos de Palatnik, com dois Objetos Cinéticos da década de 1960, além de dois relevos em cartão e diversas peças da série “W”. Já Antonio Asis integra a exposição com suas icônicas grades, ou “Grilles”, trabalhos que realizou a partir de sua convivência com Jesús Rafael Soto. O argentino foi assistente do venezuelano quando ambos já estavam radicados em Paris. As obras Soto, por sua vez, fazem parte do vocabulário matérico do artista, com o uso do metal e da cor em interações que exploram o movimento real e percebido. Por fim, há três séries distintas – e amplamente conhecidas – de Cruz-Diez, exemplares notáveis das “Physichromies”, das “Colores Aditivas” e das “Cromointerferencias Espaciais”.

 

A obra cinética não quer apenas traduzir ou representar o movimento, busca realmente se movimentar. Algumas peças utilizam o deslocamento ótico, e a op art parece ser uma descrição adequada para todas as obras aqui reunidas: elas mostram um universo vibrante, com movimentos sutis e ritmos envolventes. Embora as obras sejam, na realidade, estáticas, nossa percepção é de um movimento real no caso de Soto, Cruz-Diez e Asis, e de um movimento temporariamente contido na obra de Palatnik.

 

Até 22 de Outubro.

 

Em cartaz no FAMA Museu

 

 

Sob a titulação “Desconstruções e Articulações Dinâmicas espaciais – Galáxias” a exposição de Marcos Amaro no FAMA Museu, Itu, São Paulo, SP, é apresentada e traz a assinatura do crítico de arte Fabio Magalhães em sua curadoria.

 

A palavra do curador

 

Em 2016, incentivado pelo artista Gilberto Salvador (1946), fui à cidade de Itu para conhecer a obra de Marcos Amaro (1984). Gilberto já me informara das qualidades do artista, do modo vigoroso de sua linguagem, do aproveitamento de sucata de aviões que depois de desmontadas as peças eram reaproveitadas para formar grandes esculturas. Ainda assim me surpreendi com o que vi.

 

Marcos Amaro instalou seu ateliê em dois imensos galpões industriais que pertenciam à Fábrica São Pedro, ambos com escala compatível com a dimensão de suas obras. Um dos espaços abrigava um denso conjunto de trabalhos já terminados e, assim, pude constatar que se tratava de um artista de grande força expressiva e de identidade pessoal. Nesse ano, como diretor cultural do MACS – Museu da Arte Contemporânea de Sorocaba – interessei-me em promover uma exposição individual do artista no museu. A exposição com o título de “Desconstruções e Articulações” também foi posteriormente exibida no Museu de Arte Contemporânea de Mato Grosso do Sul, em Campo Grande, e no MARGS – Museu de Arte de Arte do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre.

 

Hoje, além de artista, Marcos Amaro tornou-se um grande colecionador de artes plásticas e desde 2018 disponibilizou sua coleção à visitação pública. Para tanto, adquiriu todo o espaço da fábrica São Pedro (antiga fábrica têxtil) com 25 mil metros quadrados de área construída, e nela implantou um grande centro cultural que abriga o FAMA Museu.

 

Desconstruções e Articulações Dinâmicas espaciais – Galáxias

 

Quando nos defrontamos com uma nova poética, sempre procuramos estabelecer relações de linguagens para, desse modo, detectar com maior acuidade os aspectos daquela expressão em particular. Percebemos que Marcos Amaro incorporou elementos do dadaísmo em sua produção atual. Alguns exemplos me vêm à memória, entre eles, as colagens de Kurt Schwitters (1887-1948). Também, os readymade de Marcel Duchamp (1887-1968); as assemblages neodadaístas de Robert Rauschenberg (1925-2008), realizadas na década de 1960, com materiais considerados vulgares – trash, ou ainda, as esculturas com fragmentos de carrocerias de automóvel do escultor John Chamberlain (1927-2011). O espírito dadaísta tem forte presença na arte contemporânea e, sobretudo, na arte brasileira.

 

Marcos Amaro não trabalha apenas com sucata de aviões, apesar da aviação ter um forte significado na sua biografia e no seu imaginário. O artista incorpora também inúmeros outros objetos e materiais, todos eles vulgares (brutti, sporchi e cattivi), destituídos de prestígio social. Marcos procura coisas que foram descartadas, que foram afastadas do nosso convívio para revitalizá-las e reincorporá-las à sua obra, agregando a elas novos significados.

 

Marcos Amaro descontrói os objetos na forma e no significado para reinventá-los. Entretanto, os fragmentos incorporados e reordenados pelo artista, trazem consigo registros de seus significados anteriores, como, por exemplo, um pedaço de tecido, ou uma camisa, nos remetem aos personagens ocultos que as utilizou. Ou ainda, partes de uma porta de garagem, sugerem o passar do tempo (energias armazenadas) e vivências acumuladas. São, portanto, sinais de vida que ainda palpitam nos objetos descartados aparentemente sem nenhum valor. O artista, ao incorporá-los à sua obra, afere a eles um novo pulsar de vida e agrega expressiva e renovada força poética.

 

A presença desses vestígios (significados anteriores) não foi totalmente apagada pelo artista. Faz parte da sua linguagem manter, ainda que dissimulados, esses vínculos de experiências passadas, esses murmúrios do tempo. Os sinais de origem, atuam como memórias e, retrabalhados pelo artista, são testemunhos pulsantes e revigoram os conteúdos de seus trabalhos.

 

Ao preservar as vozes de tempos anteriores, o artista incorpora no seu trabalho uma sofisticada noção de tempo, da sua intensidade, da sua entropia. Discute ciclos de vida e sua escatologia (ideia de morte e ressurreição); questiona as crenças na tecnologia e no progresso contínuo.

 

Marcos Amaro desenvolve poéticas que articulam os opostos – desconstrução e construção – para ordenar é preciso desordenar. Não obstante, através de uma intervenção de lógica compositiva, que está presente em todos os seus trabalhos, o artista estabelece equilíbrio no aparente caos. Em algumas obras de parede, principalmente naquelas que utilizam chassis como suporte, encontramos princípios de ordem geométrica que são prevalentes. E, nesses trabalhos, não em outros, podemos estabelecer analogias com as linguagens contemporâneas de construção geométrica.

 

Vale ressaltar que a geometria, apesar de não ter protagonismo, está presente nas grandes esculturas de sucatas, de metal, de tecidos e materiais diversos. Nelas sentimos a presença de uma geometria disciplinadora que organiza e ordena o conjunto.

 

Marcos Amaro acrescenta em seus trabalhos dois elementos de grande força expressiva: a luz neon (cor) e as imagens gravadas em vídeos, de programas aleatórios de canais abertos de televisão. A luz de neon, no meu entender, é uma expressão de glamour, culturalmente vinculada à vida noturna, à sedução, mas também se refere aos sinais luminosos presentes no espaço urbano e em determinados códigos de navegação.

 

As imagens gravadas em vídeo trazem testemunhos e experiências de vida que acrescentam e aprofundam as narrativas das obras. Em alguns casos contrastam, noutros ajustam-se com os elementos de conteúdo materializados na plástica de Marcos Amaro.

 

Fabio Magalhães