Na Bahia

26/mar

 

A Paulo Darzé Galeria, Salvador, Bahia, apresenta a partir do dia 28 de março, com temporada até 26 de abril, a exposição individual de Fábio Magalhães, com o título “Espectador da vida”, uma série de objetos que reproduzem miniaturas de cômodos, ambientes ou espaços internos residenciais atemporais. Para a curadora da mostra Thais Darzé, “…através de mensagens simbólicas, cifradas, subliminares, as emoções nesses ambientes são reveladas e vem à tona como avalanches. É justamente nesse momento de revelação, quando algo se torna visível, que o Ser no seu mais íntimo perde totalmente o controle. Magalhães tenta congelar no tempo através de seus objetos, uma realidade hermeticamente fechada e separada da vida real, criando assim um precipício intransponível”.

 

Artista da nova geração baiana, para a curadora Thais Darzé, no catálogo da mostra, Fábio vem criando uma obra que “…transita por emoções complexas e profundas que fazem parte do cotidiano soturno da experiência humana – memórias, dores, frustrações, perdas, traumas e medos, onde o trabalho constrói narrativas ficcionais, numa obra que materializa e tornam explícitas sensações e sentimentos socialmente encobertos, aqueles que frequentemente nos torna pequenos, vulneráveis e “humanos”, uma inquietude agonizante de um Ser que não se conforma com a escravidão das próprias emoções, e escancara e evidencia tais emoções através de uma estética dura, sádica e angustiante, como caminho da libertação. Aquele sentimento de que algo precisa ser vivido ao extremo, o chegar ao fundo do poço, para que possa retornar a luz e a clareza de consciência. Num rasgo dos disfarces e aparências impostos pela sociedade atual em que parecer é mais importante do que ser, suas vísceras soam como um grito de socorro, um chamado para dentro, um convite para além da superfície. Num mundo de imagens tratadas, e de “stories” perfeitos, deflagra-se na sua obra a real natureza humana e as diversas camadas a serem reveladas”.

 

 

Sobre o artista

 

Fábio Magalhães nasceu em Tanque Novo, Bahia, em 1982. Vive e trabalha em Salvador. A maior parte da sua produção artística está voltada para a pintura, que surge de um ato fotográfico planejado. A obra de Fábio Magalhães causa fascínio e repúdio, jamais indiferença. Ela resulta de um processo de concepção e efetivação que passa pela cenografia e pela ficção até chegar ao produto final, imagens e objetos. Para o artista, suas obras são o fator delimitador entre condições psíquicas e o imaginário. Assim, o artista apresenta encenações meticulosamente planejadas, capazes de borrar os limites da percepção, configuradas em distorções da realidade e contornos perturbadores. Desse modo, seu trabalho reúne um conjunto de operações, em que sua obra ultrapassa as barreiras do Eu até encontrar o Outro, o Ser.

 

Em sua trajetória, Fábio Magalhães realizou exposições individuais, iniciada em 2008, na Galeria de Arte da Aliança Francesa – Salvador/BA. Em 2009, “Jogos de Significados”, na Galeria do Conselho – Salvador/BA. Em 2011, “O Grande Corpo”, Prêmio Matilde Mattos/FUNCEB, Galeria do Conselho – Salvador/BA. Em 2013, “Retratos Íntimos”, Galeria Laura Marsiaj – Rio de Janeiro/RJ. Em 2016, “Além do visível, aquém do intangível”, Museu de Arte da Bahia, curadoria de Alejandra Muñoz, mostra também apresentada na Caixa Cultural São Paulo (2017) e Caixa Cultural Brasília (2018). Em 2019, “Espectador da vida”, Paulo Darzé Galeria, curadoria de Thaís Darzé.

 

Entre as mostras coletivas: Em 2008, “XV Salão da Bahia”, Museu de Arte Moderna, Salvador/BA. Em 2009, “60º Salão de Abril” em Fortaleza/CE; e “63º Salão Paranaense” em Curitiba/PR. Em 2012 “Convite à Viagem – Rumos Artes Visuais 2011/2013”, no Itaú Cultural – São Paulo/SP, curadoria de Agnaldo Farias; “O Fio do Abismo – Rumos Artes Visuais, 2011/2013” – Belém/PA, curadoria de Gabriela Motta; “Territórios”, na Sala FUNARTE/Nordeste, Recife/PE, curadoria de Bitu Cassundé; “Espelho Refletido”,  Centro Cultural Hélio Oiticica – Rio de Janeiro/RJ, curadoria de Marcus Lontra. Em 2013, “Crê em fantasmas: territórios da pintura contemporânea”, Caixa Cultural Brasília, curadoria de Marcelo Campos. Em 2017, “Contraponto” – Coleção Sérgio Carvalho, Museu Nacional de Brasília/DF. Em 2018, São Paulo, e 2019, Brasília, Centro Cultural Banco do Brasil, curadoria de Tereza de Arruda, exposição itinerante “50 anos do Realismo: do fotorrealismo à realidade virtual”. Fábio Magalhães recebeu em 2010 o Prêmio Aquisição e Prêmio Júri Popular no I Salão Semear de Arte Contemporânea em Aracaju/SE; Prêmio Fundação Cultural do Estado, Vitória da Conquista/BA. Em 2011, o Prêmio FUNARTE – Arte Contemporânea/Sala Nordeste. Foi selecionado para o “Rumos Itaú Cultural 2011/2013”. Em 2015 foi indicado ao Prêmio PIPA, Museu de Arte Moderna/Rio de Janeiro.

Macaparana, formas e suportes

25/mar

A exposição “formas / suportes”, individual de Macaparana é o cartaz da Dan Galeria, Jardim América, São Paulo, SP, até o dia 30 de abril.

 

Em exibição mais de 30 trabalhos do artista pernambucano reconhecido por uma obra que une o rigor geométrico e a informalidade da abstração; um recorte de sua coleção pessoal e do acervo da galeria com trabalhos produzidos desde os anos 1970 até os dias atuais, obras realizadas em suportes variados: tela, papel, madeira, acrílico, vidro e cerâmica, entre outros. Entre os trabalhos apresentados, uma escultura em aço inoxidável, sem título, que traz duas formas ovais combinadas, materialização em três dimensões de duas telas de formato semelhante, sem título, cobertas por pigmentos e tinta acrílica.

 

De 1983, uma pintura sobre tela que parece figurar tocos de madeira sobrepostos. Dois anos depois, em 1985, Macaparana (José de Souza Oliveira Filho) criou um trabalho semelhante, desta vez fazendo uso de pedaços de madeira de tipos diversos. “Cada trabalho tem uma dinâmica própria. No meu caso, todos geralmente começam no papel, quase como um rascunho livre. Aos poucos, ele vai se materializando, ganhando corpo e pedindo suportes específicos. Tenho séries que nascem em um formato e ganham outro com o tempo. Os resultados são completamente distintos. No que diz respeito, inclusive, na relação que estabelecem com o público”, afirma o artista.

Pesquisas de Miro PS

19/mar

O artista Miro PS inaugura “Metamorfose”, no Espaço Cultural Correios, Niterói, RJ. Em quatro grandes salas, a mostra reúne cerca de 50 obras do artista visual, que vão de instalações a pinturas. O nome da exposição refere-se à profunda transformação no modo de vida do homem frente aos avanços tecnológicos, e como essas mudanças interferem em seus hábitos e comportamentos. A mostra fica em cartaz de 23 de março a 25 de maio de 2019, com curadoria de Lia do Rio.

 

Em suas obras, Miro PS utiliza códigos binários, placas e componentes eletrônicos, que o acompanharam em sua experiência profissional na área de tecnologia da informação. Partindo de intrincados sistemas de criptografia ou obsoletos cartões perfurados, passando por deep web e inteligência artificial, Miro PS aborda temas como identidade, linguagem, fragilidade, obsolescência…Numa área de 320 m2, a mostra é composta de duas instalações, objetos, fotografias, gravuras digitais, pinturas, além de vídeo arte e colagens.

 

“Miro reflete sobre a condição humana no mundo tecnológico, no qual a linguagem das máquinas conduz e controla silenciosamente as regras, numa velocidade vertiginosa e incontrolável. Seus trabalhos falam dos prazeres, angústias e idiossincrasias do indivíduo contemporâneo ao coabitar dois mundos, o virtual e o físico”, explica Lia do Rio. Todas as obras possuem identificação em braile e a exposição contará com visitas guiadas para cegos.

 

Sobre o artista e a curadora

 

Miro PS: Nasceu em São Paulo, vive e trabalha no Rio de Janeiro. Bacharel em Sistemas e informações, com MBA em Gestão de Projetos pelo PMI (USA). Aos 20 anos começou a trabalhar na área de tecnologia da informação, que no futuro lhe daria base para as artes plásticas. Desde 2010, desenvolve trabalhos de arte contemporânea, nos quais apresenta a necessidade e dependência da sociedade na tecnologia. Participou de exposições coletivas e individuais no Brasil e no exterior. Em 2015, criou com outros dois artistas um grupo de arte pública.

 

Lia do Rio: Nasceu em São Paulo, vive e trabalha no Rio de Janeiro. É Bacharel pela Escola Nacional de Belas Artes da UFRJ; tem Pós-Graduação em Arte e Filosofia, e Pós-Graduação em Filosofia Antiga, PUC-RIO. Participou de exposições individuais, coletivas, palestras e trabalhos em acervos, no Brasil e exterior. Coordena exposições, workshops e palestras. É professora de arte. Seu livro “Lia do Rio: Sobre a Natureza do Tempo” foi editado, em 2015, pela editora Fase 10, e lançado na Livraria Argumento no RJ e SP.

Tàpies na Bergamin & Gomide

18/mar

Obras do artista catalão Antoni Tàpies (1923 – 2012) encontram-se em exibição na primeira exposição do ano da Galeria Bergamin & Gomide, Jardim Paulista, São Paulo, SP. O surrealismo foi a primeira influência estética na obra de Tàpies, que desenvolveu seu estilo com a pintura matéria a partir do uso de materiais não-artísticos e técnicas mistas. Com sólida formação intelectual, se inspirou numa diversidade de temas como Literatura, Ciência, Filosofia e Arte Oriental e Primitiva. Sendo precursor de linguagens e formas, Tápies é considerado um dos artistas mais revolucionários do Século XX. Composta de cerca de 13 obras criadas pelo artista a partir da década de 1970, a exposição constitui-se na segunda vez que o trabalho do artista é apresentado no Brasil. A primeira e única vez foi em 1995. Tàpies também fez parte da segunda Bienal de São Paulo, uma das exposições mais importantes da arte do século XX na época, que trouxe para o país 65 obras de Paul Klee, mais de 50 obras – pinturas e gravuras – de Edvard Munch, 20 obras de Mondrian, uma sala especial dedicada a Alexander Calder e o MoMA enviou a “Guernica” de Picasso.

 

Até 27 de abril.

Coletiva na Simone Cadinelli

A Simone Cadinelli Arte Contemporânea reúne em exibição coletiva artistas mulheres de diferentes gerações, estilos e trajetórias.  “Passeata”, que inaugura no dia 18 de março, na galeria Simone Cadinelli Arte Contemporânea, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, é uma exposição que convida o público a vivenciar as plataformas poéticas de 15 artistas mulheres do panorama da arte contemporânea brasileira. Desde a consagrada Anna Bella Geiger a novos nomes como Ana Hortides e Marcela Cantuária, a curadora Isabel Sanson Portella propõe um passeio por várias gerações, estilos e gênero, como é o caso da artista “gender fluid” (não-binária) Lyz Parayzo.

 

“São diferentes vozes e mídias de expressão, mas o que predomina é o pulsar da liberdade conquistada, do direito de levantar bandeiras e mostrar a que vieram. Longe está o tempo em que o espaço artístico, cultural e social era ocupado exclusivamente por artistas homens. Preconceitos de gênero e ausência de reconhecimento mantiveram as mulheres fora do cenário artístico por séculos. Mas a trajetória das conquistas femininas no decorrer dos últimos 100 anos foi marcada por lutas e crescentes vitórias. Não é o fator gênero que define os atributos artístico-estéticos das obras, mas sim o potencial criativo de quem as executa”, afirma Isabel Sanson Portella.

 

Amanda Baroni, Fernanda Sattamini, Helena Trindade, Laura Gorski, Leandra Espírito Santo, Livia Flores, Patrizia D’Angello, Renata Cruz, Roberta Carvalho, Sani Guerra e Ursula Tautz completam a coletiva que fica em cartaz até o dia 29 de maio. No dia da abertura, a artista visual Roberta Carvalho fará uma exibição de vídeo mapping, com imagens de ribeirinhos da floresta amazônica, pesquisadas desde 2007 pela artista, no jardim da vila que faz parte do imóvel que abriga a galeria, que no mês de março inaugura um novo espaço dedicado a palestras e encontros com colecionadores, críticos, artistas, arquitetos e pesquisadores. A programação é bastante diversificada e ainda abrange visitas guiadas.

 

“Nosso objetivo, com essa coletiva, é lançar o olhar sobre a produção das mulheres na arte contemporânea. A proposta aqui é conduzir o visitante em um passeio por diferentes suportes, experiências profissionais e fases variadas de criação, evidenciando as potencialidades de cada artista selecionada”, analisa Simone Cadinelli.

 

 

Descrições das obras e algumas curiosidades

 

Amanda Baroni – Série “Elementos da Natureza” -Fotografia.Moradora da Maré, a jovem fotógrafa Amanda Baroni, desenvolveu a série fotográfica “Elementos da Minha Natureza” buscando inter-relacionar arte, danças urbanas e natureza com o espaço de favelas cariocas (Complexo da Maré, Mangueirinha e Morro da Providência). Este projeto conecta os quatro elementos, fogo, terra, água e ar, com os dançarinos Felipe e Thamires Cândida, do Passinho, Luana Luara, do Hip Hop Dance, Agatha Alves, do Dance Hall e Hugo Oliveira, do House Dance, todos oriundos da periferia.

 

Anna Bella Geiger – “Orbis Discriptio n.33”, 1999. Gaveta de arquivo de ferro, encáustica, folha de flandres, fios de cobre, metais e gesso. A partir da década de 1990, a premiada Anna Bella Geiger emprega novos materiais e produz formas cartográficas vazadas em metal, dentro de caixas de ferro ou gavetas, preenchidas por encáustica. Suas obras situam-se no limite entre pintura, objeto e gravura.

 

Ana Hortides – “Cor de pele”, 2017. 78 bebês compostos da combinação de 12 gizes de cera de cores de pele. Ed. 3/5. Ana Hortides descobriu a existência de uma caixa de giz de cera de cores de pele produzida por uma ONG brasileira, a UneAfro, que propõe 12 cores. A partir disso, a artista derreteu os lápis, sempre combinando uns com os outros e colocou-os em moldes de bebês. A partir das misturas foram criados 78 bebês com cores e tons de pele diversos.

 

Fernanda Sattamini – Sem título, 2018. Série “Das marés e correntezas”. Cianotipia em linho e bordado. Edição única. Sem título, 2018. Série “Das marés e correntezas”. Cianotipia em linho e bordado. Edição única. Na série “Das marés e correntezas”, Fernanda Sattamini usa a técnica de cianotipia em linho desfiado, um processo artesanal de impressão fotográfica em tons azuis, que produz uma imagem em ciano. Foi descoberto em 1842 e utilizado até o século XX, é também conhecido como blueprints. O processo utiliza dois produtos químicos: Citrato de amônio e ferro (III) e Ferricianeto de potássio, que ao serem misturados se torna fotossensível e reage à luz ultravioleta. A exposição à luz provoca mudanças na cor do composto final resultando no azul da Prússia.

 

Helena Trindade – “VÍRUS (de chão)”. Escultura de teclas de máquinas de escrever e suas hastes. “Vírus” são estruturas orgânicas articuladas que se assemelham a uma espinha dorsal em movimento, criadas a partir de teclas de máquinas de escrever pelas mãos de Helena Trindade. Como a própria artista afirma privilegiar a materialidade da letra em detrimento do sentido, fazendo um jogo poético. Seu trabalho aborda diferentes aspectos do funcionamento da linguagem no tocante à sua perpétua rearticulação.

 

Laura Gorski e Renata Cruz – Sem título, da série “Dias úteis”, 2016. Fotografia. A dupla de artistas Laura Gorski e Renata Cruz apresenta um trabalho que aborda as relações entre o tempo interno e o pessoal de cada pessoa em relação ao tempo organizado pelo calendário oficial de dias considerados úteis ou não. O calendário de 21 dias úteis apresenta, por um lado, objetos ambíguos que são utilizados em momentos em que as pessoas escolhem o que fazer com o tempo ocioso. Ao lado dos objetos estão espaços internos de uma casa, submersos em um líquido escuro que também está presente na banheira em que estão as artistas. Nela, Laura e Renata compartilham um tempo poético que conseguem habitar juntas.

 

Lenadra Espírito Santo – Série “Registro”. Placas de gesso. A instalação “Registro” aborda o tema da auto-representação: é feita a partir de um mesmo molde do rosto da artista Leandra Espírito Santo, com um semi-sorriso. A partir deste molde, ela retira algumas réplicas do próprio rosto em gesso e faz placas com o mesmo material, que são reproduzidas de modo a preencher a parede da galeria, criando uma relação com a arquitetura, tanto por conta do material usado nelas (o gesso), quanto pela maneira como ocupa o espaço. Na exposição, são cerca de 30 placas.

 

Lívia Flores – “Trabalho de greve”, 2012. Escultura em tecido e gesso. Dimensões variáveis. Nessa série, a artista Lívia Flores retoma o interesse pela pesquisa de materiais e processos, desdobrando-os em sua relação com o tempo, com a história e com o trabalho coletivo ao utilizar um material (cobertor cinza/feltro) que acumula muitos usos e sentidos, tanto na vida quanto na arte. A artista acredita que este material é portador de história e condensa de forma espectral uma história de todos e de ninguém, anônima e comum, constituída pelos muitos fios das infinitas peças de roupa que algum dia já tocaram nossos corpos. Os cobertores em cinza são matéria escultórica em tensão com elementos construtivos moldados em gesso. Oscilando entre vontade construtiva, entropia e ruína, essas peças erigem-se como “contramonumentos”, cujo gesto se completa no momento de sua instalação no espaço de exibição.

 

Lyz Parayzo – Série “Slut Terrorist”. Vídeo. Flyers de prostituição (site specific) com números telefônicos e endereços de instituições de arte. “Gargantilha Lança”, 2018. Alumínio. “Top Dentado”, 2018. Alumínio. “Braceletes lança, 2018 Alumínio.  Uma das poucas artistas não-binárias presentes em coleções de museus brasileiros – está no Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC) e no Museu de Arte do Rio (MAR) -, Lyz Parayzo tem o corpo como principal suporte de trabalho. Em “Passeata”, a artista expõe um vídeo da performance “Slut Terrorist #5”, além dos objetos escultóricos denominados “joias bélicas”.

 

Marcela Cantuária – “Gigantes Pela Própria Natureza”, 2018. Óleo, acrílica e spray s/ tela. “Maria Bonita”, 2018. Óleo e acrílica s/ tela. Marcela Cantuária se interessa por reimaginar episódios de importância histórica através da perspectiva das mulheres, onde elas estavam nos conflitos por terras, nas guerrilhas, disputas por ideologia, no campo da estratégia, como se estivesse construindo outra versão. Assim, ela acredita que está encorajando as mulheres através de figuras femininas que em algum momento tiveram importância. Isso se reflete também nas cores vivas de seu trabalho.

 

Patrizia D´Angello – “Dramalhão”. Através do bom humor, as obras de Patrizia D’Angello inserem a questão do feminino no mundo contemporâneo, explorando a estética kitsch do exagero, do colorido exuberante, dos temas que confrontam diretamente outras formas de dominação. A mulher guerreira é também aquela que enfrenta forno e fogão, que levanta bandeiras assim como vassouras e aspiradores de pó, mas que não esquece a sua natureza e seus desejos.

 

Roberta Carvalho – Sua instalação é composta por uma imagem fotográfica e por um outro elemento, que é uma garrafa (com imagem projetada). A fotografia proposta é da série “submersos”. Seguindo a linha do trabalho desenvolvido por Roberta Carvalho, a fotografia trará o rosto de uma mulher ribeirinha projetada nas margens do rio. Seu rosto estará metade dentro d’água, metade na floresta. A garrafa, que pende ao lado da imagem, será preenchida de água: barrenta amazônica, água que pela sua opacidade funciona como tela. Nesta garrafa preenchida de água uma projeção mapeada dialoga com a imagem fotográfica.

 

Sani Guerra – “Três Picos”, 2016. Óleo e folha de ouro sobre tela. “Floresta dos cervos”, 2018. Óleo sobre tela. Em março de 2018, Sani Guerra começou uma residência artística de sete meses no Rio de Janeiro, explorando espaços que abrigam parte da Mata Atlântica, tais como a Escola de Artes Visuais do Parque Lage, a Colônia Juliano Moreira (onde funciona o Museu de Arte Contemporânea Arthur Bispo do Rosário) e o Campus da Fiocruz Mata Atlântica, entre outros espaços públicos que se relacionam com a mata. Partindo dessa pesquisa, seu material histórico e o seu entorno, a artista deu início a uma série de pinturas e três delas podem ser vistas em Passeata.

 

Ursula Tautz – Sem título, 2019. Móvel em madeira, rádica, lentes redoma de vido, prumo dourado, bola de vidro. Sem título, 2019. Móvel em madeira, rádica, redoma de vidro, funil de vidro, balão de vidro, arame dourado, prumos dourados, lente. Temas recorrentes no trabalho de Ursula Tautz, antropologia, história e memória se desdobram aqui em um novo estudo que ela apresenta em criações permeadas pelo tempo e materializadas na madeira que é a base para os dois móveis em exposição. A partir do objeto-balanço desenvolveram-se duas pesquisas: do movimento pendular e do material, a madeira. A madeira remete à casa, acolhe, aconchega e protege. A rádica é um corte da raiz da árvore, já tem em si uma cartografia intrínseca. São mapas de enraizamento, de pertencimento, são também camadas de tempo, história. Os móveis-objetos oferecem o lugar almejado, imaginado, ouvido nas histórias. Indicado com um prumo, protegido na redoma, bolas de neve.

 

 

Sobre as artistas

 

Amanda Baroni teve seu primeiro contato com fotografia através do Hip Hop, do qual é participante desde 2007. Em 2012, formou-se pela Escola Popular de Fotógrafos, do Observatório de Favelas, Complexo da Maré, Rio de Janeiro. Após a formação, começou fotografando o movimento Hip Hop e se dedicou a realizar trabalhos artísticos e comerciais. Atualmente, segue documentando o Hip Hop, produzindo ensaios fotográficos e coberturas de espetáculos de dança, além de desenvolver seus projetos autorais como o “Ensaio Draw”, “Baixa Velocidade – Altas Luzes”, “B.Woman,  B.Girl”,   “ Minha imagem e semelhança” e “‘Elementos da minha natureza”. Expôs seu trabalho “B.Woman, B.Girl”, sobre as mulheres no Hip Hop, no Largo das Artes, Rio de Janeiro, e no evento Batom Battle, em Brasília. Outras atividades no campo das artes e exposições envolvem a formação em Design de Exposição no Parque Lage, em 2014, em impressão Fine Art e montagem de molduras no estúdio Barracāo de Imagens.

 

Anna Bella Geiger (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1933). Estudou Letras Anglo-Germânicas na Faculdade Nacional de Filosofia (UFRJ) e Sociologia da Arte com Hanna Levy Deinhardt na New York University e na New School for Social Research (anos 50). Realizou exposições individuais e participou de coletivas no Brasil e no Exterior, como nas Bienais Internacionais de São Paulo, Veneza e de Liverpool. Seus trabalhos integram coleções como a do MoMA (Nova York), do Centre Georges Pompidou (Paris), Tate Modern e Victoria and Albert Museum (Londres), Getty Institute (Los Angeles), The FOGG Collection (Boston) entre outras. Em 2004, Anna Bella recebeu a insígnia da Ordem do Cruzeiro do Sul, do Ministério das Relações Exteriores, e em 2010, recebeu a insígnia da Ordem do Mérito Cultural por representar a tradição, a vanguarda e as diferentes correntes de criação cultural e artística do País.

 

Ana Hortides. Nasceu em 1989 no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha. Artista visual e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos Contemporâneos das Artes da Universidade Federal Fluminense (UFF – RJ) na qual se Graduou em Produção Cultural. Estudou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV). Caracterizado pela delicadeza, o seu trabalho permeia o corpo, a intimidade e a vulnerabilidade das relações.

 

Fernanda Sattamini. Sua produção explora processos experimentais e alternativos, transitando entre fotografia, gravura e objetos. Tomando como ponto de partida imagens apropriadas e suas próprias fotografias, a pesquisa que desenvolve aborda questões acerca da memória, intimidade, afetos e controle.

 

Helena Trindade. Cores vivas e formas geométricas são as principais características do trabalho de Helena Trindade. Formada em arquitetura e urbanismo pela Universidade de Brasília em 2013, Helena optou por continuar os estudos com um Mestrado de Arquitetura em Oxford, lá Helena desenvolveu projetos de instalações espaciais, como o seu projeto final, exposto na St. John’s College ao final do curso, e de esculturas abstratas, feitas com o uso do corte a laser. No ano seguinte à conclusão do curso, em 2016, a arquiteta mudou-se para a Holanda a trabalho, onde entrou em contato com o design gráfico e aprofundou a sua experiência com projetos arquitetônicos e instalações espaciais. Dentre os trabalhos mais importantes desse período estão os projetos dos espaços elaborados para receber as exposições dos Dutch Invertuals na Semana de Design da Holanda em 2016, na Semana de Design de Milão em 2017, e no Festival D’Days em Paris, no mesmo ano. De volta ao Brasil, Helena se divide entre a arquitetura e o design. Além dos projetos arquitetônicos, ela dedica o seu tempo aos objetos confeccionados com o corte a laser, que compõem a sua marca HT.

 

Laura Gorski e Renata Cruz. Laura Gorski é nascida em São Paulo em 1982. Formada em Desenho Industrial pelo Centro Universitário Belas Artes, realizou as exposições individuais “Paragem”, na Zipper Galeria, em 2011; “Arquipélago de lugares imaginários”, no Estúdio Buck, em 2013, e “Dias úteis”, com Renata Cruz, no 20º Cultura Inglesa Festival, em 2016. Participou de residências na Alemanha e em Portugal e tem obras em coleções em Brasília, Bahia, São Paulo e Porto Alegre. Já expôs em Ribeirão Preto, Santo André, Santos, Goiás, Salvador, Campinas, Porto Alegre, Jundiaí, Rio de Janeiro, Brasília, além de Cazaquistão, Portugal, Japão e Alemanha.

 

Renata Cruz, em seu trabalho, explora as relações entre textos literários e imagens, valendo-se muitas vezes do envolvimento de diversas pessoas com suas histórias e lugares onde habitam. Em suas instalações propõe a criação de narrativas abertas no espaço, que se constroem enquanto se caminha. Formada em Comunicação Visual, UNESP, Bauru SP; Educação Artística, UNAERP, Ribeirão Preto, SP, com cursos como aluna estrangera na Facultad de Bellas Artes de la Universidad Complutense de Madrid, Espanha, atualmente participa de grupos de estudos como no Ateliê Fidalga em São Paulo.

 

Leandra Espírito Santo. Mestre e doutoranda em Artes Visuais pela Escola de Comunicações e Artes da USP, São Paulo, SP. Graduada em Comunicação Social pela Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, RJ. Seu trabalho artístico transcorre por diversas mídias, como performance, fotografia, vídeo, escultura, intervenção urbana. Por meio de linguagem cômica e irônica, a artista faz reflexões sobre nossos procedimentos cotidianos, dos mais complexos aos mais comuns, investigando a relação entre a arte e as diversas técnicas e tecnologias, relativizando seus usos e pensando na relação que mantemos com elas em nível de corpo e comportamento. Em 2017, iniciou pesquisa focada nas relações entre identidade, corpo e máquina, série de trabalhos em que pensa a auto representação dentro das redes sociais. Em 2016, foi indicada ao Prêmio Pipa MAM-RJ, tendo sido finalista do Pipa Online. Em 2014, recebeu o Prêmio Estímulo no 42º Salão de Arte Contemporânea Luiz Sacilotto e ganhou a Chamada Artes Visuais da Secretaria de Cultura de Niterói. Entre suas principais exposições, prêmios e eventos estão: “Instauração”- Sesc Belenzinho (SP, 2017); “Agora somos mais de mil” – EAV Parque Lage (RJ, 2016); “Quando o tempo aperta” – Palácio das Artes (BH, 2016) e Museu Histórico Nacional (RJ, 2016); “Novíssimos” – Galeria Ibeu (RJ); 37° Salão de Artes de Ribeirão Preto (SP, 2013); 2º Prêmio EDP nas Artes (SP, 2010).

 

Marcela Cantuária. A artista nasceu em 1991, vive e trabalha no Rio de Janeiro. É graduada em pintura pela Escola de Belas Artes da UFRJ. Atualmente, leciona em seu ateliê questões práticas da pintura contemporânea. Considera o viés filosófico materialista histórico-dialético como ponto de partida de sua investigação, observando, assim, o mundo e os fatos. A artista usa desde referências de arquivos digitais que gravita entre passagens históricas, frame de documentários até fotos autorais do cotidiano desigual do Rio de Janeiro. Em seu processo, muitas vezes trabalha a composição a partir do conflito entre as referências e a oposição entre as cores.

 

Lívia Flores (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1959). Pintora, escultora, videoartista. Participa do ateliê de xilogravura da Escolinha de Arte do Brasil, com José Altino (1946), entre 1974 e 1976, e estuda também com Maria Luíza Saddi (1952), em 1976. Em 1978, faz o Curso Intensivo de Arte Educação (Ciae), além de iniciar sua graduação na Escola Superior de Desenho Industrial da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Esdi/Uerj), concluída em 1981. Entre 1979 e 1980, frequenta ateliê livre da Armação Oficinas de Arte (artes plásticas), com Marília Rodrigues (1937-2009) e Ana Cristina Pereira de Almeida. Participa de curso teórico sobre arte contemporânea com Anna Bella Geiger (1933) em 1981 e, no ano seguinte, assiste a outro curso teórico, sobre arte brasileira, com Fernando Cocchiarale. Contemplada, em 1984, com uma bolsa de estudo para a Alemanha, estuda na Academia de Artes de Düsseldorf de 1985 e 1990 e vive em Colônia até 1993. Recebe o título de mestre em comunicação e tecnologia da imagem na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 1998.

 

Lyz Parayzo.Iniciou seus estudos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e começou a invadir galerias de arte com intervenções estético políticas. Como um vírus subverteu os protocolos de poder dos espaços institucionais borrando as fronteiras do que é oficial. Tem o corpo como principal suporte de trabalho e sua performance diária como plataforma de pesquisa. Suas bombas-plásticas desestabilizam as tecnologias heteronormativas e coloniais, são projeções anabolizadas da sua existência. Vem desenvolvendo videoinstalações com conteúdo pós-pornográfico, joias bélicas e atualmente está pesquisando as performances de gênero e classe a partir da cor em seu “Salão Parayzo”, dispositivo itinerante onde atua como manicure.

 

Patrizia D’Angello. Formada em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – Unirio, também estudou na Escola de Moda da Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro. Participou de cursos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e foi aluna de nomes como Charles Watson, Fernando Cocchiarale, Luiz Ernesto, Franz Manata, Pedro França e Fred Carvalho. Em 2012, foi contemplada com projeto de exposição individual do Ibeu. Indicada ao Prêmio PIPA 2012. Desde 2008 Patrizia D’Angello tem trabalhado o cruzamento da fotografia com os cinco gêneros existentes da pintura: retrato, autorretrato, natureza-morta, paisagem e nu. Porém, em algumas obras é possível encontrar a interseção destes gêneros, com as quais a artista nos revela que esta formalidade pode ser subvertida. A sua preferência pela pintura a óleo, pastel seco e aquarela se dá pela possibilidade de manuseio e alterações durante o período em que está elaborando imagens com irônico realismo, a partir de referências de seus registros fotográficos ou apropriados de terceiros. Cenas corriqueiras adquirem uma determinada sofisticação com o olhar protagonista da artista, que aponta para os detalhes banais de algum canto de sua residência ou até mesmo as sobras de um prato de comida em uma churrascaria.

 

Roberta Carvalho é artista visual nascida em Belém do Pará. Estudou artes visuais na Universidade Federal do Pará (UFPA). Desenvolve trabalhos na área de imagem, intervenção urbana e videoarte. Já participou de várias exposições, coletivas e individuais, no Brasil, França, Espanha e Martinica. Foi vencedora de diversos prêmios, entre eles, o Prêmio FUNARTE Mulheres nas Artes Visuais (2014), Prêmio Diário Contemporâneo (2011) e Prêmio FUNARTE Microprojetos da Amazônia Legal (2010). Foi bolsista de pesquisa e criação artística do Instituto de Artes do Pará, por duas vezes, em 2006 e 2015. Suas obras integram acervos como o do Museu de Arte Contemporânea Casa das 11 Janelas (PA) e Museu da Universidade Federal do Pará. Dentre as exposições coletivas e festivais de arte que já participou, em destaque estão: Periscópio – zipper Galeria (São Paulo, 2016), 7ª Mostra SP de Fotografia (São Paulo, 2016), Visualismo – Arte, Tecnologia, Cidade (Rio de Janeiro, 2015), SP ARTE/FOTO (2014), Grande Área Funarte (São Paulo 2014), Pigments (Martinica, 2013), Festival Paraty em Foco (Paraty, 2012), Tierra Prometida (Barcelona, 2012), e Vivo Art.Mov (Belém, 2011).

 

Sani Guerra transita pela fotografia, escultura, instalação e pintura. As atmosferas irreais criadas pela artista revelam as estranhezas criadas por gestos não coincidentes, ângulos improváveis e estampas exageradas. Sani provoca atrito na relação entre tempo e espaço. Retrata figuras fragmentadas, organizadas a partir do universo particular da artista. Venceu o Prêmio Interações Estéticas da Funarte em 2009 e o concurso Garimpo da Revista Dasartes em 2013. Em 2008, a artista iniciou o Projeto Construção, criando peças escultóricas tendo como molde monumentos históricos e arquitetônicos. As intervenções foram exibidas no MAM, no Parque Lage e outros espaços, no Rio.

 

Ursula Tautz nasceu no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha. Utiliza diversos suportes em seu trabalho como fotografia, vídeo, objetos e instalações. Cursou a ESPM, além de ter frequentado oficinas da “School of Visual Arts /NY”, e a partir de 2005 a Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Em 2013 integrou o Programa Projeto de Pesquisa, coordenado por Glória Ferreira e Luiz Ernesto. Participou de várias exposições coletivas, como “Intervenções Urbanas Bradesco ArtRio 2015” e e “Aquilo que nos une” no Centro Cultural da Caixa Federal com curadoria de Isabel Portella. Além das individuais “Frestas por onde Muros escoam” reinaugurando o Jardim da Reitoria da Universidade Federal Fluminense/RJ; “Lugar familiar” no projeto Zip’Up na Zipper Galeria/SP e “Fluidostática” na Galeria do Lago (Museu da República/RJ). Foi também selecionada pelo crítico Fernando Cocchiarale para o “Programa Olheiro da Arte” e finalista do Prêmio Mercosul das Artes Visuais Fundação Nacional de Arte – FUNARTE, com seleção de Luiza Interlenghi, Jorge Luiz Miguel e Izabel Machado da Costa.

Artes visuais e teatro na Carpintaria

20/fev

 

“Perdona que no te crea” investiga o cruzamento entre os campos das artes visuais e do teatro, em suas interseções e particularidades, reforçando a vocação da Carpintaria, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ, na proposição de diálogos entre artistas, linguagens e disciplinas. O título da exposição inspira-se no bolero “Puro Teatro”, do compositor porto-riquenho Tite Curet Alonso, composto em 1970.

 

“Como em um cenário, finges sua dor barata”, anunciam os primeiros versos da canção, famosa na versão da cantora cubana La Lupe. Logo na entrada, a ideia de espaço expositivo funde-se a uma atmosfera cênica à medida em que produções contemporâneas compartilham o ambiente com registros fotográficos históricos. As colagens em tecido, linha e papel de Sara Ramo operam como cortinas que abrem-se e revelam “Marionete” (2018) de Marina Rheingantz e “Cruzeiro” (2018) de Leda Catunda, obras que empregam materialidades quase teatrais, apresentadas ao lado de fotografias de espetáculos como “Melodrama” (1995) da Cia. dos Atores e “Otelo”, de Shakespeare, encenada pelo Teatro Experimental do Negro, de Abdias do Nascimento, em 1946. Em conversa, travam relações entre aparatos e encenação, materiais e drama, representação e farsa.

 

Pensar uma dimensão da teatralidade na arte remonta ao Barroco, ainda no século XVI, quando pintura e escultura são tomadas por expressividade e exagero, através do uso de jogos de luz e da reprodução realista de gestos e encenações. Se “o espaço barroco é o da superabundância”, nas palavras do poeta e crítico Severo Sarduy, a “Ruína Modernista” (2018) de Adriana Varejão bebe desta herança ao realizar uma encenação da carne, dando corpo a uma matéria que não se quer verossímil mas sim teatral. Ao lado da obra, as pinturas de natureza naïf de Surubim Feliciano da Paixão arquitetam uma dinâmica de encenação ao passo em que o pintor autodidata – zelador e cenotécnico do Teatro Oficina, em São Paulo, na década de 80 – documenta sua vivência dos ensaios da peça “Mistérios Gozosos”, montada em 1984 pela companhia.

 

Na parede oposta, são apresentadas práticas artísticas que se instauram em território limítrofe entre teatro e arte. “Jussaras” (2019) de Cristiano Lenhardt são vestimentas que tridimensionalizam o pensamento geométrico desenvolvido pelo artista há cerca de uma década em suas gravuras, funcionando com presença escultórica e também performática, sendo ativada – vestida – ao redor do espaço expositivo. Na mesma parede, estão as máscaras de alumínio de autoria de Flávio de Carvalho, feitas originalmente para “O Bailado do Deus Morto”, texto de autoria do próprio levado aos palcos em 1933, junto do seu grupo “Teatro de Experiência”. Flávio de Carvalho, cuja atuação se deu em diversas esferas da arte, transitou pelos dois campos ao longo de sua trajetória, realizando experiências que turvam fronteiras entre o teatro e a performance, como em seus famosos new looks – blusas e saias vestidas em happenings na década de 1950. Ao fundo da sala, “Ghosts” (2017) de Ana Mazzei reúne um conjunto escultórico de presença teatral, em que cada peça – ou atores – confrontam o espectador. Quem assiste a quem, afinal?

 

Na sala da frente da Carpintaria, a fisicalidade das formas da pintura “Blue Violet Eckout” (2019), de Rodolpho Parigi, trava um duelo com a bidimensionalidade ao passo em que parecem querer exceder o plano, transbordá-lo. É o que parece estar em jogo também na engenhosa composição de “Chat and Drinks” (2018), de Yuli Yamagata, em que a artista costura tecidos como lycra e fibra de silicone, sem deixar de ter como ponto de partida um pensamento pictórico. Esta espécie de blefe dos materiais também aparece nas pequenas esculturas em cerâmica de Daniel Albuquerque, que levam ao extremo a vontade mimética da forma ao reproduzirem em escala humana trechos de um corpo fragmentado, ausente.

 

A voz trôpega que paira sobre o ambiente expositivo (cênico?) vem de “Carta” (2019), obra em que o artista português Tiago Cadete lê a íntegra do relato de Pero Vaz de Caminha quando de sua chegada em terras brasileiras. Velada em um dos armários da Carpintaria, a voz distorce e satiriza o texto do navegador português, que relata com a arrogância eurocêntrica de então o primeiro encontro entre portugueses e indígenas. A eloquência das palavras de Caminha, na voz de Cadete, permite leituras dúbias acerca do contraditório encontro. “Perdona que no te crea… me parece que es teatro?”

 

Artistas participantes

Adriana Varejão | Ana Mazzei | Cia. dos Atores | Cristiano Lenhardt | Daniel Albuquerque | Erika Verzutti | Flávio de Carvalho | Francesco Vezzoli | João Maria Gusmão & Pedro Paiva | Leda Catunda | Luiz Roque | Marina Rheingantz | Mauro Restiffe | Nuno Ramos | Rodolpho Parigi | Sara Ramo | Surubim Feliciano da Paixão | Teatro Experimental do Negro | Teatro Oficina Uzyna Uzona | Tiago Cadete | Tiago Carneiro da Cunha | Valeska Soares | Vania Toledo | Yuli Yamagata

 

Até 09 de março.

Obras de Paul Klee no Brasil

O Centro Cultural Banco do Brasil, CCBB, Centro, São Paulo, deu início a temporada brasileira da exposição “Paul Klee – Equilíbrio Instável”, artista cuja obra possui ligações com diversos movimentos artísticos do século passado, como o Cubismo, o Expressionismo, o Construtivismo e o Surrealismo. Esta é a primeira vez da exibição retrospectiva de sua obra na América Latina, totalizando mais de 100 peças. Ao todo, são 16 pinturas, 39 papéis, cinco gravuras, cinco fantoches – que criou, por uma década, para seu filho Felix, com carretéis de linha, tomadas e ossos de boi fervidos -, 58 desenhos e objetos pessoais do artista, todos selecionados pela curadora Fabienne Eggelhöfer, do Zentrum Paul Klee, de Berna, na Suíça. Sediada na cidade onde Klee nasceu, viveu a infância e parte significativa da vida adulta, o museu mantém atualmente sob sua guarda mais de 4 mil obras produzidas pelo artista.

 

Saliente-se em sua biografia que além de Picasso, Paul Klee cruzou, durante sua vida, com outras personalidades de renome, como Kandinsky. Klee e Kandinsky tornaram-se colegas na Bauhaus, a escola fechada pelo governo nazista – o mesmo regime autoritário que classificou como “degenerado” o trabalho do pintor suíço. Dado a explorar os recônditos da mente e das emoções, Klee buscou sempre franquear a liberdade de suas expressões – seja ao não desistir das artes plásticas, ao prosseguir em seu processo formativo mesmo tendo sua inscrição na academia rejeitada na Alemanha, seja ao questionar tendências da arte pictórica, acolhendo o que qualificasse pertinente para o que entendia como equilíbrio.

 

“Ele é um artista super importante, que deu origem a vários movimentos, mas que nunca recebeu um rótulo, uma sigla com a qual tenha se identificado. É uma espécie de pai de todos, um artista fundamental para a arte moderna no mundo”, diz Roberta, destacando a natureza independente de Klee. “É a primeira vez que ele, tão fundamental, chega aqui de fato com uma retrospectiva. Quem visitar (a exposição) vai saber quem ele é, qual o seu percurso.”

 

Viabilizada pela Lei Rouanet, a exposição terá nas três unidades do CCBB – São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

 

Exposição “Paul Klee – Equilíbrio Instável”

CCBB São Paulo: até 29 de abril

CCBB Rio de Janeiro: de 15 de maio a 12 de agosto

CCBB Belo Horizonte: de 28 de agosto a 18 de novembro

Leonilson: obras inéditas na Fiesp

18/fev

Leonilson ganha exposição em São Paulo. A mostra, em cartaz na Galeria de Arte do Centro Cultural Fiesp, denominada “Leonilson: Arquivo e Memória vivos”, reúne mais de 120 obras entre pinturas, desenhos e borados. A curadoria é de Ricardo Resende. Algumas de suas obras estiveram restritas por décadas em coleções particulares particulares e institucionais e foram pouco ou nunca antes exibidas na cidade. Leonilson faleceu jovem, aos 36 anos de idade.

Suas obras e memória são preservadas pelo Projeto Leonilson, cuidado por seus familiares.

 

A família do artista cataloga cada uma de suas obras e promove exposições em parceria com diversas instituições. Durante o período de duração da exposição, a FIESP montou um espaço educativo dedicado ao bordado, técnica bastante utilizada por Leonilson em sua trajetória para que o público possa interagir.

 

Até 19 de maio.

My Way

11/jan

Atravancando meu caminho,

Eles passarão…

Eu passarinho!”

Mario Quintana

 

Em seu “Poeminho do Contra” Mario Quintana faz troça, nada circunstancial, do fato de ter sido rejeitado (novamente) como membro da Academia Brasileira de Letras (assim reza a lenda), e de maneira sarcástica, dentro de seu linguajar direto e sem pompa, característica do poeta que acabou por deixar uma marca indelével na literatura brasileira, nos fala do eterno embate entre permanência e efemeridade. Para Hannah Arendt a permanência de uma obra de arte dá à Humanidade uma sensação de imortalidade pelo que é criado por meros mortais, uma constância que se sobrepõe ao tempo.

 

Reunidos em torno da ideia de apresentar o seu mundo particular tanto das ideias quanto das imagens, os artistas da mostra “My Way” abrem o ano expositivo da Casa França-Brasil, Centro, Rio de Janeiro, RJ, com liberdade de apresentarem novos trabalhos ou revisitarem questões que entendam ainda em voga de processos anteriores e que precisem ser novamente evocados pelo olhar do outro, pelo público que, como dizia Marcel Duchamp, “…mais tarde se transforma na posteridade (…), estabelece o contato entre a obra de arte e o mundo exterior”.

 

A exposição pretende ressaltar a diversidade de pensamentos, e de como é possível estarem lado a lado, conviverem pacífica e harmoniosamente linguagens as mais variadas, que se apresentam não como um impedimento ao diálogo, ao contrário, como motor que faz girar a engrenagem do saber, da curiosidade, do despertamento e do deslumbramento. Cada um faz a sua jornada íntima. Como diz a música: “eu vivi uma vida plena, viajei por todos os caminhos, mas mais do que isso, eu fiz do meu jeito”.

 

Osvaldo Carvalho (curador)

 

 

 

Artistas: Angela Od, Bet Katona, Cesar Coelho, Eduardo Mariz, Fábio Carvalho, Gabriel Grecco, Helena Trindade, Hugo Houayek, Jozias Benedicto, Leonardo Videla, Lia do Rio, Marcia Clayton, Osvaldo Carvalho, Osvaldo Gaia, Otavio Avancini, Patrizia D’Angello, Paulo Jorge Gonçalves, Rafael Vicente, Raimundo Rodriguez, Rodrigo Pedrosa, Stella Margarita, Suely Farhi, Viviane Teixeira.

 

 

 

 

Até 11 de fevereiro.

 

Antonio Dias – O ilusionista

22/dez

A exposição presta uma homenagem ao grande artista falecido recentemente, reunindo trabalhos pertencentes aos acervos do Museu – a coleção própria e a de Gilberto Chateaubriand, em comodato na instituição desde 1993. Com curadoria de Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes, a mostra reúne perto de 60 obras do artista. O público poderá ver o percurso do artista nas décadas de 1960, 70 e 80, em trabalhos feitos em diversos suportes e materiais. Completa a exposição um retrato do artista feito por Ivan Cardoso (1952).

 
“Antonio Dias é um dos mais relevantes artistas brasileiros contemporâneos”, destacam os curadores no texto que acompanha a exposição. Eles explicam que a exposição não buscou “qualquer mediação que não aquela do sequenciamento visual e das relações objetivadas na montagem”, que “confronta o visitante de maneira direta com a maioria as obras”. Dos trabalhos expostos, doze não estão datados.

 
Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes assinalam que desde o início de sua trajetória, Antonio Dias “encontrou no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro uma instituição sintonizada com as questões que contribuíram de modo decisivo para a renovação da produção artística brasileira”. “Definitivamente não é possível contar nossa história sem falar de Antonio Dias, assim como nossas coleções não teriam a mesma força sem as quase 60 obras do artista que delas fazem parte e que agora podem ser vistas pelo público do Museu”, afirmam.

 

 
A seguir, uma minibiografia do artista, em texto dos curadores.

 

Nascido em Campina Grande, na Paraíba, Antonio Dias mudou-se para o Rio de Janeiro em 1958, aos 14 anos de idade. No Rio, trabalhou como desenhista, ilustrador e artista gráfico, e frequentou as aulas de Oswaldo Goeldi (1895-1961) no Atelier Livre de Gravura da Escola Nacional de Belas Artes – período em que conheceu artistas ligados ao neoconcretismo carioca, com os quais estabeleceu contato.

 

 
Reconhecimento no Brasil e no exterior

 
Foi, no entanto, a sua participação em exposições como “Opinião 65” e “Propostas 65” – que reuniram em 1965 no MAM Rio e na FAAP, em São Paulo, tanto artistas brasileiros como de outros países; e a Bienal de Paris, em 1969, que despontou com destaque o jovem Dias, tanto nacional quanto internacionalmente. Os jovens integrantes dessas mostras tinham em comum o desejo de ultrapassar as poéticas abstrato-concretas em nome da aproximação da realidade social e política dos anos 1960. Tal tendência já estava em curso desde o final da década de 1950 quando ocorreu a reorientação mundial do foco nas sintaxes formais do abstracionismo, para as possibilidades semânticas sinalizadas pela volta a uma nova figuração. Nessas seis décadas de intensa atividade produtiva, em que viveu em Paris, Milão, Berlim, Colônia e no Rio de Janeiro, Antonio tornou-se uma referência inequívoca da arte contemporânea brasileira, e internacional.

 
Dias nunca parou de produzir ativa e renovadoramente uma obra cujo valor e importância podem ser resumidos com base neste escrito de Giulio Argan: “… uma obra é vista como obra de arte quando tem importância na história da arte e contribuiu para a formação e desenvolvimento de uma cultura artística. Enfim: o juízo que reconhece a qualidade artística de uma obra, dela também reconhece a historicidade”.

 

 

Até 24 de março de 2019.