Alan Fontes – Exposição Nacional

06/ago

Luciana Caravello Arte Contemporânea, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, inaugura, no dia 07 de agosto, a mostra “Exposição Nacional”, do artista Alan Fontes, com obras que abordam as transformações no espaço urbano da cidade do Rio de Janeiro. Para realizar os trabalhos, o artista mergulhou nos relatos documentais da “Exposição Nacional do Rio de Janeiro”, realizada em 1908, em comemoração ao 1º Centenário da Abertura dos Portos do Brasil, que tinha a intenção de mostrar a então nova capital federal – urbanizada pelo prefeito Francisco Pereira Passos e saneada por Oswaldo Cruz – para as autoridades nacionais e estrangeiras.

 

Serão apresentadas nove pinturas, em óleo e encáustica sobre tela, e quatro livros-objetos, em óleo e afresco sobre concreto, em que o artista dá continuidade ao projeto iniciado há três anos, em que pesquisa o espaço urbano do Rio de Janeiro, trabalhando nas lacunas de uma memória em constante mutação. “Uma pesquisa, entretanto, que não tem caráter documental e é aberta ao devaneio poético e o qual a pintura, com toda a imprecisão da mancha encarna com eficácia”, afirma o artista, que apresentou a primeira parte dessa pesquisa no CCBB Rio de Janeiro, em 2016, com o apoio do Prêmio CCBB Contemporâneo.

 

Na Luciana Caravello Arte Contemporânea, Alan Fontes apresentará obras inéditas, que serão divididas em três módulos. No primeiro, estarão pinturas que representam alguns dos palácios e pavilhões que fizeram parte da “Exposição Nacional”, de 1908, e dos quais só existem limitados registros fotográficos. As pinturas expressionistas reconstituem os prédios imersos em ruídos análogos aos que estão envoltos as lembranças e os documentos já desgastados pelo tempo.

 

O segundo módulo reúne pinturas da série “Black Lands”, que “situam os prédios da época em espécies de oceanos negros que simbolizariam um espaço poético da memória. Algo na fronteira da lembrança e do esquecimento”, conta Alan Fontes.  Algumas destas pinturas foram expostas este ano na semana de arte de Nova York, em projeto solo do artista na feira VOLTA.

 

O terceiro módulo é composto por livros-objeto de concreto, que servem como suporte para pequenas pinturas afresco compostas a partir de imagens do evento de 1908. “Tais objetos escultóricos relacionam simbolicamente as pinturas ao peso matérico que compõem as edificações que não existem mais”, ressalta o artista.

 

 

Sobre a Exposição Nacional de 1908

 

A Exposição Nacional foi realizada entre 28 de janeiro e 15 de novembro de 1908, no bairro da Urca, no Rio de Janeiro, foi organizada oficialmente para comemorar os 100 anos do Decreto de Abertura dos Portos às Nações Amigas, e para se fazer um inventário econômico do Brasil na época. Mas, na realidade, a intenção da exposição era mostrar a então nova capital federal – urbanizada pelo prefeito Francisco Pereira Passos e saneada por Oswaldo Cruz – para as autoridades nacionais e estrangeiras que visitavam a cidade.

 

Governos de estados, do Distrito Federal e de associações comerciais, agrícolas e industriais participaram do evento, que teve pavilhões para os estados mostrarem os seus principais produtos nas áreas agricultura, pastoril, indústrias e artes liberais. Além dos estados brasileiros, Portugal participou do evento, sendo a única participação estrangeira.

 

 

Sobre o artista

 

Alan Fontes nasceu em Ponte Nova, MG, 1980. Vive e trabalha em Belo Horizonte, MG. É Mestre em Artes Visuais pela Universidade Federal de Minas Gerais. Suas últimas exposições individuais foram “The Book of the Wind”, na Galeria Emma Thomas, Nova York (2016); “Poéticas de uma Paisagem – Memória em Mutação”, no Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro (2016); “Sobre Incertas Casas”, na Galeria Emma Thomas, São Paulo (2015); “Desconstruções”, na Baró Galeria, São Paulo (2014); “Sweet Lands” e “La Foule”, ambas na Galeria Laura Marsiaj, Rio de Janeiro (2012); “A Casa”, no Paço das Artes, São Paulo (2008), entre outras. Participou das mostras “Ao Amor do Público I”, no Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro (2016); Mostra Bolsa Pampulha do MAP, Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte (2014); Prêmio FOCO Bradesco/Art Rio, Rio de Janeiro (2013), entre outras. Realizou as residências Pintura Além da Pintura, do CEIA, Belo Horizonte (2006); 5ª Edição do Programa Bolsa Pampulha, Belo Horizonte (2013); e Residência Baró, São Paulo (2014). Dentre as últimas premiações recebidas estão Bolsa Pampulha 5ª edição (2014); 1º Prêmio Foco Bradesco/ArtRio (2013) e o I Prêmio CCBB Contemporâneo.

 

 

De 07 de agosto a 06 de setembro.

Dois na Cavalo

23/jul

Na próxima quinta, dia 26 de julho, a Cavalo inaugura as individuais ‘Batom’ de Daniel Albuquerque e “Shaka Sign” de Camila Oliveira Fairclough. As exposições dos artistas cariocas se dividem e se atravessam nas salas da galeria localizada no bairro de Botafogo.

 

Daniel Albuquerque exibe obras tridimensionais que fazem parte de sua produção recente. Os trabalhos utilizam materiais tradicionais da escultura como cerâmica e gesso moldados pelo artista em formas como cigarros, chicletes mastigados e línguas contorcidas, além de obras realizadas em tricô. “Batom”, título homônimo de uma peça presente na exposição, é segundo Daniel um signo que concilia sua pesquisa em questões cromáticas e representação com seu interesse em gestos íntimos. Esses rituais cotidianos e hábitos de prazer se relacionam com diversas vezes com o tabagismo como no caso da obra ‘Retoque’ com a qual o expectador se depara ao entrar na galeria. Em tons carnais e com as dimensões aproximadas de uma banheira doméstica, a escultura remete a algo entre uma prótese bucal e um enorme cinzeiro.

 

Carioca radicada em Paris, Camila Oliveira Fairclough apresenta uma série inédita de pinturas acrílica sobre poliéster baseadas em obras célebres de artistas como Hélio Oiticica, Lygia Clark e Willys de Castro. Camila reproduz composições geométricas e poesias do movimento Neoconcreto sobre as estampas de bermudas esticadas em chassi numa atitude de apropriação artística. “Shaka Sign” é a primeira individual de Camila Oliveira Fairclough no Brasil e faz referência ao gesto popularmente conhecido como hang loose, uma saudação havaiana incorporada pela cultura surfista. Na tradução e reinterpretação das obras em estampas praianas a artista parece refletir sobre a estereotipação da cultura de um país tropical. Acostumada desde criança a viver em diversos países, a artista possui uma investigação em pintura e instalações vibrantes que abordam linguagem e o emprego de composições já existentes. “Acredito que podemos ler imagens e formas. Eu não escolho entre os dois. É equivalente.” revela Fairclough.

 

‘Batom’ e ‘Shaka Sign’ é um encontro proposto pelos galeristas Ana Elisa Cohen e Felipe R Pena de dois artistas que desdobram a pintura e a tridimensionalidade em língua, tanto a corporal quanto a simbólica. São exposições que encontram nas práticas vistas como triviais uma forma de criar as camadas de um corpo que é, sobretudo, social.

 

 

Até 01 de setembro.

Rodrigo Torres na SIM SP

20/jul

 

A SIM galeria, Cerqueira César, São Paulo, SP, apresenta a série “Neolítico Express”.

 

Os trabalhos da série Neolítico Express, de Rodrigo Torres, estabelecem um diálogo curioso com a tradição: consagram, através de uma profanação minuciosa, a ambiguidade entre a obra intrínseca e extrínseca que marca nossa experiência com a arte contemporânea. No caso, a familiaridade com itens valiosos, num contexto decorativo ou museológico, é discutida em um processo de ruptura com o esperado ponto de vista reverente, aquele certo de encontrar ali algo de cujo núcleo emana uma verdade e beleza integral   , para ser problematizado quanto a um desenvolvimento particular da escultura no Brasil: o estremecimento das bases de uma autonomia, a partir da conclamação da cumplicidade diante de um estágio intermediário em que nada deveria ser visto como autêntico ou acabado de antemão.

 

Podemos pensar de início nosBólidesde Oiticica, no fato de que levam, desde o início da década de 1960, a uma relação renovada do público com o objeto, de outra forma, do participador com uma obra, que é simultaneamente um dispositivo sensorial e conceitual a ser acionado em um segundo estágio de aproximação. Ele participa no sentido de adensar a experiência ótica com uma camada de injunções às vezes precárias que culminam em significativas reconsiderações. E, principalmente, imagina que não há um único vetor construtivo que faz o artista produzir um objeto em uma totalidade que se mostra irredutível, mas um processo com idas e vindas que equaliza a posição de todos em um patamar. Nele o criador se constitui por um espelhamento instantâneo em uma criatura que reivindica seu lugar também como sujeito incompleto.

 

Mais recentemente, os Phanógrafos de projeção e deposição(2010), de Tunga, também se estruturaram a partir de um recipiente, vasos de cristal Baccarat, contidos por caixas articuladas que encerram sua gênese e seu funcionamento implícito. A origem desse fenômeno tange a compreensão de um princípio criativo que se afiança no onírico, superando embates voltados para a subtração de material, substituindo-os por encontros mágicos com o que está ali dado, como se aproveitasse o vácuo deixado pelo fato do ready-made ser, antes de mais nada, uma peça de cerâmica que surgiu no mundo da arte inadvertidamente. Nos Phanógrafos, a equação experimental se apresenta a partir do ficcional, estruturas que sempre comportam um segundo núcleo que irradia cor e materialidade furtiva, pois o objeto central também não se mostra integralmente, e sua cota obscura se preenche pela ansiedade de se conjugar delicadeza e brutalidade.

 

As ânforas de Rodrigo não contêm, não são recipiente, mas o conteúdo parcialmente embalado por um invólucro que se distanciaria no tempo do artefato encontrado pelo arqueólogo. Ali, a máxima minimalista em torno de um cubo anódino, de que “você vê o que você vê”, abre-se em um ciclo de perguntas e respostas bem menos tautológicas: não vemos tudo, e as partes nunca se equivalem, depondo o equilíbrio formal, calçando-o na gravidade, no equilíbrio real de um vaso sobre um balde, dentro de uma caixa ou sobre a mesa.

 

Produzidas e finalizadas em seu estúdio na Fábrica Bhering, no Rio de Janeiro, lugar onde doces eram industrializados, longe de seus ancestrais chineses e gregos, as ânforas demonstram não apenas quebrar a redoma que instaura a obra em uma temporalidade especial que se destaca da cotidiana, mas também eternizar o momento em que esses dois tempos se encontram, quando desembalamos ou embalamos algo, quando encontramos algo que vem, através de uma lição de Joseph Beuys, reforçar potencialidades metafísicas da matéria – títulos desmentidos por legendas induzem a uma manipulação virtual que ocorre, então, junto à observação atenta das propriedades de uma objectualidade que se instaura no provisório.

 

A argila primordial que amalgama o isopor, o papelão, a fita adesiva, resquícios de líquidos já vertidos ou a se verter, incorpora o mimetismo que engloba a pintura, que de fato reveste as peças  e o que parece ser o papelão areado esculpido escrupulosamente para que pareça ser aquilo em definitivo. Como se estivesse mesmo em trânsito, inviolada por alguém, acondicionada anonimamente por outro, cada uma delas se mostra em um pedestal neutro, na galeria, que sustenta outro suporte: a escultura como plataforma para o pensamento a respeito da preciosidade de sua incongruência e seu fascínio atual.

Rafael Vogt Maia Rosa

 

 

 

De 28 de julho até 25 de agosto.

Novíssimos 2018 no IBEU

18/jul

Identidade de gênero, sustentabilidade das práticas, passado de exploração e memória da guerra vinda com a imigração são alguns temas retratados nas obras de “Novíssimos 2018”, único Salão de Arte do Rio de Janeiro, que chega à 47ª edição no dia 18 dejulho, de 18h às 21h, na GALERIA DE ARTE IBEU, Gávea, Rio de Janeiro, RJ. Com curadoria de Cesar Kiraly, a exposição deste ano conta com trabalhos em pintura, instalação, objeto, fotografia e desenho de 12 artistas: Agrippina R. Manhattan (RJ), Danielle Cukierman (RJ), Daniela Paoliello (MG), Leka Mendes (SP), Letícia Pumar (RJ), Marc do Nascimento (SP), Marina Hachem (SP), Renata Nassur (RJ), Rodrigo Ferrarezi (SP), Samantha Canovas (SP), Sani Guerra (RJ) e Willy Reuter (RJ). O artista em destaque terá o nome divulgado na noite de abertura e será contemplado com uma exposição individual na Galeria de Arte Ibeu em 2019.

 

“Novíssimos” tem como proposta reconhecer e estimular a produção de novos artistas, e com isso apresentar um recorte do que vem sendo produzido no campo da arte contemporânea brasileira, em suas variadas vertentes. Até 2017, 621 artistas já haviam participado de Novíssimos, que teve sua primeira edição em 1962. Nesta 47ª edição, a proposta curatorial tematiza a necessidade, para além da preferência, da disponibilidade para a formação de um gosto pela arte contemporânea.

 

“Muito se conversa sobre gostar ou não gostar da arte contemporânea. É difícil encontrar quem não tenha uma posição sobre isso. A curadoria de Novíssimos 2018 debate o prazer na aquisição dos meios para se ver obras ainda não selecionadas pela história da arte e as diferenciar no concernente às suas intensidades”, afirma Cesar Kiraly.

 

“Trata-se menos de dizer ‘gostei ou não gostei’ e mais de se entregar à descrição dos elementos que nos levam a sentir, em nós mesmos, o que o artista parece ter sentido ou termos a nossa própria identidade desafiada pela experiência da arte nova a que nos expomos”, completa o curador da mostra, que teve recorde de submissões este ano.

 

Entre os destaques da exposição estão os trabalhos de Agrippina Manhattan, que consistem em poemas em plotter que serão colocados na parede externa da galeria, com trechos de palavras presentes na composição química de remédios para mudança de gênero, dando origem a um poema intitulado “A Mulher Química”. A artista também criou dois painéis de LED, gerando um diálogo. Em um deles está a frase “Eu é uma palavra”, enquanto o outro contém “Eu não sou palavra”. A passagem rápida das frases constrói uma relação de conflito entre as duas colocações, gerando uma investigação da linguagem enquanto matéria. Já no conjunto de trabalhos “Antropoceno”, a artista Leka Mendes utiliza uma série de foto-objetos que são pensados como objetos arqueológicos do nosso tempo, nossas ruínas achadas por futuras civilizações. Para isto, foram utilizados escombros urbanos achados nas ruas de São Paulo, restos de reformas e entulhos nos quais a artista transfere imagens de guerra achadas na internet. Danielle Cukierman utiliza resíduos, materiais precários, industriais e da vida urbana (embalagens, carpetes, plásticos, cobertores) para apresentar um olhar que valoriza o banal. Os trabalhos de Marc do Nascimento pretendem explorar sensações e significados espaciais associados aos aspectos materiais das coisas como textura, peso, rigidez, posição, densidade, forma e função na superfície do quadro.

 

O Salão de Artes Visuais Novíssimos 2018 fica disponível para o público 19 de julho a 24 de agosto de 2018, de segunda a quinta, de 13h às 19h (às sextas, de 12h às 18h).

 

 

 

Sobre os artistas

 

 

Agrippina Manhattan– É estudante de História da Arte (UFRJ) e trabalha como arte educadora no Museu de Arte Contemporânea de Niterói – RJ. Principais exposições: Art in Process, Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ (2018); PEGA: Encontro de estudantes do Rio de Janeiro, Centro Municipal de Artes Helio Oiticica (2017); BA PHOTO, Pavilhão expositivo de Buenos Aires (2017); Carpintaria para todos, Fortes D’Aloia e Gabriel (2017); Abraçaço Coletivo, Espaço Saracura (2017); Feira Urca, Ateliê da Imagem (2017); Livro Inventado, Ateliê Oriente (2017); Semana de Integração Acadêmica do Curso de Artes Visuais, EBA-UFRJ (2016); Mostra Arte ao Vivo, EAV-Parque Lage (2016); Sara-há, Mostra de performances realizado no espaço Saracura (2016); Mostra da Oficina intensiva de perfomance, EAV- Parque Lage (2015); Intervenções Urbanas, LabIt/PROURB (2015).

 

 

Danielle Cukierman- Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Na sua pesquisa, utiliza materiais industriais e cotidianos: embalagens, carpetes, plásticos, cobertores… O uso das coisas, a obsolescência e o banal são objetos de estudo da artista. Grande parte de sua formação foi realizada na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Recentemente, participou da exposição coletiva “Abre Alas’’, na Galeria A Gentil Carioca (RJ). Em 2017, participou da exposição coletiva “Abraço Coletivo’’, no Espaço Saracura (RJ), e em 2016 fez parte da coletiva “Extramuros Parque Lage”, no Solar dos Abacaxis (RJ).

 

 

Daniela Paoliello- É artista visual e faz doutorado em Processos Artísticos Contemporâneos na UERJ. Foi contemplada com o XIII Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia, em 2013, através do qual publicou seu livro “Exílio”. Participou de diversas exposições coletivas em espaços como o Museu de Arte de Ribeirão Preto, Museu de Arte da Pampulha, Festival de Fotografia de Tiradentes, Galeria Graphos: Brasil, Semana da Fotografia de Belo Horizonte, entre outros. Conta com publicações em plataformas nacionais e internacionais. Nos últimos anos, vem desenvolvendo sua pesquisa em torno da autoperformance feita exclusivamente para a câmera – fotografia e vídeo – e da produção de uma autoficção.

 

 

Leka MendesCom produção ancorada no fotográfico, o trabalho da artista utiliza tal linguagem desdobrada por formatos, meios e abordagens variadas. Um dos principais eixos é a investigação da paisagem, que pode ser vista por meio de instalações site specific, objetos, desenhos, colagens, livros de artista e, obviamente, pela própria fotografia. Em alguns momentos, realiza viagens de imersão com fins de destrinchar algumas temáticas e interesses, o que faz sua obra ter uma relação corporal com o espaço, aproximando tal faceta fotográfica de correntes e movimentos da contemporaneidade, como a land arte a arte conceitual, entre outros. Lança mão de procedimentos como a apropriação, a desconstrução de arquivos e a fotografia de campo, reforçando os elos de sua produção, feita tanto de modo analógico como digital.

 

 

Letícia Pumar- Possui formação na área de História. Atualmente, realiza pesquisa de pós-doutorado sobre a produção e uso de imagens na arte e na ciência no Programa de História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, e segue formação artística nos cursos de Pintura, de João Magalhães, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Tem procurado articular seus trabalhos de docência, pesquisa e de criação artística partindo da pergunta “afinal, o que é conhecer?”. Selecionada pela Robert Rauschenberg Foundation Archives Research Travel Fund 2018, a pesquisadora-artista fará pesquisa no acervo do artista Robert Rauschenberg em NY no final de 2018.

 

 

Marc do Nascimento– É artista visual, vive e trabalha em São Paulo. Em 2017 se formou na FAU-USP, além de ter estudado no departamento de artes plásticas da mesma universidade. Já expôs no centro cultural Maria Antônia, no MAC Ibirapuera e também no SESC Ribeirão Preto. De maneira geral, sua pesquisa consiste na exploração de sensações espaciais associadas à interação entre elementos, técnicas, e conceitos presentes no imaginário arquitetônico.

 

 

Marina Hachem  – Vive e trabalha em São Paulo. Formada em Artes Plásticas na FAAP- Fundação Armando Alvares Penteado. Em 2012, começou a trabalhar como assistente para a artista Marina Saleme. Em 2014, cursou um semestre na faculdade de arte Central Saint Martins, em Londres. Em 2015, ganhou o prêmio de 2º lugar na 47ª Anual de Arte FAAP. Em 2016, abriu sua primeira exposição individual “Entrelinhas”, com a curadoria de Maguy Etlin. No mesmo ano, participou da exposição coletiva “Um desassossego”, na Galeria Estação. Em 2018, participou da exposição “Et Tu,Arte Brute?”, na Galeria Andrew Edllin, em Nova Iorque. Entre outras exposições coletivas estão: Free Elective Exhibition, na Central Saint Martins, com curadoria de Claire Bishop (Londres, 2014), a ocupação artística “Corpoativo” (SP, 2016), Feira PARTE (SP, BR,2016), exposição “Metanóia”, na Galeria Airez (CTBA, BR, 2017), SP Arte (SP.BR,2017), 14º Salão  Nacional de Artes de Itajaí (SC,BR,2018).

 

 

Renata Nassur- É natural do Paraná. Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Transitando entre desenho e pintura, e trabalhando com técnicas diversas, do óleo à aquarela, sua prática de ateliê tem como foco principal o estudo de observação de objetos tornados invisíveis no universo cotidiano, tais como pedras portuguesas, anúncios de jornais e postais. Desta maneira, o trabalho tem o propósito de conferir um status de arte à objetos ordinários que regularmente passam despercebidos ao olhar comum.

 

 

Rodrigo Ferrarezi– É fotógrafo e artista visual, com formação profissional em Relações Internacionais pela Universidade Estadual Paulista e em Fotografia pela Escola Panamericana de Artes e Design. Em 2016, teve envolvimentos em workshops e seleção de projetos com a galerista e curadora Rosely Nakagawa. Integrou o grupo de criação e fabulação de poéticas visuais do curador e editor Eder Chiodetto e da pesquisadora Fabiana Bruno, com foco no desenvolvimento de processos de narrativa imagética. Foi um dos vencedores do 2º FAPA – Fine Art Photography Awards, promovido pela Lensculture, na categoria “conceitual”, com a série “Deserto Límbico” (anteriormente intitulada “Limbus”). Com a mesma série, foi um dos artistas selecionados no XI Salão Nacional Victor Meirelles, realizado em abril de 2017, e na 1ª Bienal Art Print – Incubadora de Artistas, no mesmo período. Integrou o catálogo de novos artistas no 12º International Contemporary Artists, da I.C.A Publishing, em julho de 2017, e da coletiva “METANOIA”, na Galeria AIREZ, durante a Bienal Internacional de Curitiba em outubro de 2017.

 

 

Samantha CanovasÉ natural de Brasília, vive e trabalha em São Paulo. Mestra em Poéticas Visuais pelo PPGAV/ECA USP, e bacharel em Artes Plásticas pela UnB, desenvolve sua pesquisa poética no âmbito da pintura, instalação e têxtil com enfoque em questões como materialidade, obsessão, método, deriva e ócio. Em 2017, participou da residência artística NES, em Skagaströnd, na Islândia, e em 2012 na School of Visual Arts em Nova York. Integra mostras coletivas e salões desde 2010 em cidades como Brasília, Goiânia, São Paulo, Uberlândia e Jataí.

 

 

Sani Guerra- É licenciada em Artes Visuais, frequentou cursos livres na EAV e Desenho Industrial na Faculdade da Cidade/RJ. Principais individuais: “Superfícies”, Sesc Nova Friburgo/RJ 2010 e “Memória e Impermanência” na Galeria do Lago, Museu da República, CIGA-ArtRio/RJ 2016. Desenvolve desde 2008 o Projeto Construção premiado em 2009 pela Funarte. Principais coletivas: “Desver a Arte”, na Galeria Emmathomas/SP 2018, em 2017 participou do 23º Salão Anapolino de Arte/GO e 45º Salão Luiz Sacilloto em Santo André/SP. Venceu o Concurso Garimpo da Revista Dasartes Brasil, em 2013.

 

 

Willy Reuter- É formado em arquitetura pela Universidade Santa Úrsula e  trabalha há 10 anos como Produtor de Arte na empresa Rede Globo. No Parque Lage estudou com Luis Ernesto, Charles Watson e Daniel Senise entre outros. Na Austrália fez as primeiras exposições coletivas e individuais. Ganhou primeiro lugar em um concurso de pintura patrocinado pela Anistia Internacional. De volta ao Rio de Janeiro, participou da coletiva “Posição 2004”, na EAV Parque Lage, MARP- Museu de Arte de Ribeirão Preto, 17° Salão de Praia Grande e 17° Salão UNAMA, em Belém do Pará. As últimas exposições individuais foram no Centro Cultural Correios, na Fundação de Artes de Niterói e na Galeria Coleção de Arte, com curadoria de Marcus Lontra. Tem trabalhos nas coleções de Chico Buarque de Holanda, Miguel Falabella e Renata Ceribelli, entre outros. Em coleção pública tem trabalhos no Centro Cultural Correios, Rio de Janeiro.

 

 

 

De 18 de julho a 24 de agosto.

art lab na Galeria Marcelo Guarnieri

05/jul

Distribuídos em um quadrado de setenta centímetros, vinte e quatro ponteiros vermelhos giram sem parar. Em outro quadrado de setenta centímetros, giram em tic tac outros vinte e quatro também ponteiros, também vermelhos. São os Relógios para perder a hora de Guto Lacaz, dois dos trabalhos que integram a exposição “art lab”, na Galeria Marcelo Guarnieri, Jardins, São Paulo, SP. As duas peças formam uma imagem clara do que se apresenta na mostra: objetos animados cumprindo funções absurdas, hipnóticas e humoradas que te convidam para uma dança sem hora pra acabar. O tempo nesta exposição seria algo semelhante ao tempo das crianças, um tempo tomado completamente pela brincadeira, em que a repetição e o delírio se fazem necessários no processo de aprendizagem.

 

Neste caso, uma desaprendizagem, pois aqui adentramos o universo dos objetos que deixaram de ser servos de seu próprio destino: a funcionalidade. Lacaz constrói com tais objetos uma relação tão íntima, que parece ouvir deles os seus desejos mais sórdidos, então retorce os seus sentidos e os liberta da chatice de serem úteis. Em alguns casos o artista vai além, dissecando suas objetidades de tal modo que acabam reduzidos a engrenagens de formas e cores e assim viram coisas: coisas ópticas, cinéticas, elétricas, lunáticas.

 

É o caso de Dauquad cinético, uma espécie de carrossel manipulável formado por quadrados de acrílico coloridos e de superfícies espelhadas que se refletem e projetam cores em diversos ângulos. Ou de Bossa Nova, um conjunto de peças quadradas e brancas que formam um painel também quadrado de dois metros e meio em lento e constante movimento, semelhante ao das ondas do mar. Os títulos dos trabalhos de Lacaz também são algo para se ter em conta, às vezes surgem como contraponto ao que se vê nas obras, às vezes funcionam como chaves de acesso.

 

Tudo o que for produto da criação humana, seja na ciência, na indústria ou na arte, pode virar assunto, em uma abordagem menos celebrativa e talvez mais crítica, certamente bem humorada. Há uma descrença não só pela ideia de progresso científico, mas também pelos grandes símbolos e certezas inventadas pela humanidade. Desse modo, Guto Lacaz convoca em alguns de seus trabalhos elementos clássicos das obras de figuras como Marcel Duchamp e Nam June Paik e os apresenta em novas situações, dando a eles o poder de performar a sua própria existência.

 

Paik Line, trabalho inédito, é constituído por uma torre de televisores modificados. A peça faz referência a Zen for TV, obra de 1963 do artista Nam June Paik, na qual reduz a imagem da tela a um feixe de luz, privando a televisão de sua própria forma e função. O desenho gerado pela linha que atravessa uma extremidade à outra do visor e a posição vertical do aparelho remetem a uma estrutura totêmica, reforçando o caráter contemplativo e imersivo da TV, agora de um jeito anormal. A partir daí Lacaz exagera e multiplica essa ação por seis, construindo um grande totem de mais de dois metros.

 

Em art lab tudo se movimenta e ainda que em curto-circuito, nos movimentamos também. A exposição é a primeira individual de Guto Lacaz na unidade São Paulo da Galeria Marcelo Guarnieri e marca os 40 anos de produção do artista. “Pra mim arte é energia. Importante distinguir arte de obra de arte. Arte é o que está entre a obra de arte e o espectador, algo meio fluido, um plasma. É isso que eu acho que é energia, quando você passa por uma obra de arte e essa obra te capta, é pura energia o que está acontecendo entre você e a obra de arte.”, conclui Guto.
 

Sobre o artista

 

Guto Lacaz, nasceu em
1948. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil. Artista multimídia, arquiteto, designer e cenógrafo, Guto Lacaz vem investigando, desde fins dos anos 70, as possibilidades da arte, da ciência e da tecnologia a partir de uma aproximação com os objetos de uso cotidiano. Bem humoradas e às vezes absurdas, suas obras buscam desestabilizar comportamentos e leituras automáticas comuns em nossa interação com a materialidade e a espacialidade. Sempre interessado na relação com o espectador, desenvolve seu trabalho em desenhos, objetos, performances, ilustrações, livros, instalações e intervenções em espaços públicos. Guto inventa um mundo torto e maravilhoso onde um batalhão de aspiradores de pó mantém bolas de isopor suspensas no ar e onde cadeiras enfileiradas de um auditório vazio flutuam silenciosas sobre as águas de um lago. Em 2017 ganhou o prêmio APCA na categoria “Fronteiras da Arquitetura”.

 

Membro da Alliance Graphic Internationalle  – AGI. Formado em arquitetura pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São José dos Campos em 1974. Em 1995 ganha a bolsa Gugenheim. Entre suas principais exposições individuais, intervenções urbanas e obras públicas, destacam-se: As Quatro Revoluções Industriais – 15 painéis na Av Paulista (2018); Adoraroda. Largo da Batata, Mostra 3M de Arte, São Paulo (2017); Ondas d’água. Sesc Belenzinho, São Paulo (2011); Eletro Livros. Maria Antonia USP, São Paulo (2012); Maquetes Reunidas. Capela do Morumbi – DPH, São Paulo (2008); Garoa Modernista e Pinacotrens. Octógono, Pinacoteca do Estado de São Paulo (2005); Recortes. Paço Imperial do Rio de Janeiro (1994); Periscópio. Arte Cidade II, São Paulo (1994); Auditório para Questões Delicadas – Lago do Ibirapuera, São Paulo (1989). Entre suas principais exposições coletivas, destacam-se: YOYO, tudo que vai volta. SESC Belenzinho, São Paulo (2018); Situações: a Instalação no Acervo da Pinacoteca do Estado, São Paulo (2017); As Margens dos Mares. SESC Pinheiros, São Paulo (2015); Invento | As Revoluções que nos Inventaram. Pavilhão da Oca – Parque Ibirapuera, São Paulo (2015); Diálogos com Palatnik. MAM-SP (2014); III Bienal da Bahia (2014); Trajetória da Luz na Arte Brasileira. Itaú Cultural, São Paulo (2001); 95 Gwangju Biennale, Coreia do Sul (1995); Brazil Projects, PS1 New York (1988); Modernidade – Arte Brasileira no século XX. MAM-SP (1988); A Trama do Gosto – Um Outro Olhar sobre o Cotidiano. Fundação Bienal, São Paulo (1987); 18ª Bienal Internacional de São Paulo (1985); Primeira Mostra do Móvel e do Objeto Inusitado. MIS, São Paulo (1978).

 

 

Até 21 de julho

Recorte contemporâneo

26/jun

A exposição que está em cartaz no Grande Hall do Santander Cultural, Porto Alegre, RS, denominada “RSXXI – o Rio Grande do Sul Experimental”, recebeu a assinatura de Paulo Herkenhoff na curadoria.

 

A exibição reúne 80 obras de 12 destacados artistas da nova cena contemporânea gaúcha.
Esta exposição, que parte de uma sigla de fácil memória e que provoca curiosidade, “RSXXI”, se propõe a articular a força do processo de criação contemporâneo de artistas locais. Ainda que sem a pretensão de um levantamento completo, a iniciativa se firma como um foro de reconhecimento com um relevante recorte: André Severo, Cristiano Lenhardt, Daniel Escobar, Laura Cattani e Munir Klamt (Ío), Isabel Ramil, Ismael Monticelli, Leandro Machado, Marina Camargo, Michel Zózimo, Rafael Pagatini, Romy Pocztaruk e Xadalu apresentam fotografias, livros, instalações, vídeos, objetos, esculturas, serigrafias e documentos.

 

 

Até 29 de julho.

Tony Camargo no MON

19/jun

O Museu Oscar Niemayer, MON, Curitiba, PR, apresenta na Sala 2, exposição panorâmica de Tony Camargo. “Seleta Crômica e Objetos”, contempla 20 anos de produção do artista reunindo pinturas, desenhos, fotografias, vídeos e objetos. “Seleta Crômica e Objetos” é acompanhada de catálogo com textos inéditos de Arthur do Carmo e Paulo Herkenhoff.

 

A produção de Tony Camargo sintetiza importantes questões poéticas da arte brasileira produzida a partir dos anos 2000. Conjugando o rigor visual da tradição construtiva com ações performáticas e o humor do gosto popular, o artista trabalha o confronto de sistemas poéticos aparentemente opostos, explorando os limites do espaço e da linguagem pictórica.

 

A cor é o elemento fundamental que alinha uma produção diversa e questiona, entre outros temas, as articulações entre a linguagem controlada das imagens comerciais e a irracionalidade do sujeito no caos mundano. Para o artista, suas fotos e vídeos pertencem a uma atmosfera poética que surge do embate entre o rigor plástico de suas pinturas geométricas de origem construtiva e o caos criativo de suas performances personalistas, diretamente conectadas à imprevisibilidade da vida. O resultado é uma profunda investigação sobre a espacialidade do mundo real.

 

A diretora-presidente do MON, Juliana Vosnika, destaca a singularidade da produção que compõe a mostra. “Manipulando formas e cores, Tony Camargo cria uma estética própria, reconhecível nas diferentes linguagens que explora. O Museu Oscar Niemeyer abriga em seu acervo grandes nomes da arte paranaense, e recebe com satisfação o trabalho deste artista contemporâneo do Paraná”.

 

A exposição “Seleta Crômica e Objetos” integra o projeto “Pintura Esférica”, realizado com o apoio do Programa Municipal de Incentivo à Cultura da Fundação Cultural de Curitiba e com incentivo do Banco do Brasil.

 

 

Sobre o artista

 

Nascido em 1979 no município de Paula Freitas, no Paraná, Tony Camargo concluiu o curso de Artes Visuais na Universidade Federal do Paraná em 2001. Ao longo de 20 anos tem produzido uma obra complexa e diversa, contemplando pinturas, desenhos, fotografias, vídeos e objetos. Participou de mostras coletivas como a X Bienal do Mercosul (Porto Alegre, 2015); PR/BR, no Museu Oscar Niemeyer (Curitiba, 2012); e Nova Arte Nova, no Centro Cultural Banco do Brasil (Rio de Janeiro e São Paulo, 2008 e 2009). Entre suas exposições individuais, destacam-se Novas Planopinturas, na Galeria SIM (Curitiba, 2016); Fotomódulos e Desenhos, na Galeria Casa Triângulo (São Paulo, 2010); e Fotomódulos, no Paço das Artes (São Paulo, 2008). Recebeu o Prêmio Funarte de Arte Contemporânea (2012), o Prêmio Rumos Itaú Cultural (2006) e foi nominado para o Prêmio Pipa (2010, 2011 e 2017). Tem peças em coleções como o Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu Oscar Niemeyer e Museu de Arte do Rio.

 

 

Até 1º de julho.

Denise Torbes no CC Correios

06/jun

A exposição “Denize Torbes  – Cerne”, ocupa duas grandes salas do Centro Culltural Correios, Centro, Rio de Janeiro, RJ, com obras recentes e inédita. A artista esteve por quase 10 anos sem fazer uma exibição indiviual no Rio de Janeiro

 

A exposição, traz pinturas, desenhos, objetos em cerâmica e uma instalação, que traçam um contraponto entre o ser humano moderno e o inserido em sua cultura milenar. Os trabalhos tratam da temática da cultura indígena e das queimadas, em trabalhos que se relacionam entre si.

 

O nome da exposição, “Cerne”, vem da parte do tronco que continua intacta após uma queimada. “O cerne na natureza é a parte da madeira queimada que não se destrói e a referência nesta série é o ressurgimento, em vestígios, de elementos próprios da cultura de povos antigos assim como a premência de regeneração, como um esforço de suportar as decorrências destrutivas da ação humana”, afirma a artista, que pesquisa a cultura indígena desde 1987, e cuja avó pertencia à tribo Guarani, localizada até hoje na fronteira entre o Rio Grande do Sul e o Uruguai.

 

No teto da primeira sala, a instalação “Tatuagem”, composta por uma imagem em espiral, símbolo da chuva para a tribo Guarani, pendurados, pedaços de carvão em formatos verticais, com inscrições em vermelho, comuns nas pinturas corporais de índios brasileiros. “Os desenhos constituem uma revelação daquilo que sobreviveu ao fogo. As inscrições, minuciosamente elaboradas com linhas vermelhas sobre o preto intenso do carvão, são como “vestígios de labaredas” que embora tenham alcançado o mais alto nível de destruição, são um apanágio àresistência”, conta a artista.

 

Divididas nesta sala e na seguinte, cerca de dez pinturas, em têmpera e óleo sobre tela, produzidas entre 2010 e 2018, com tamanhos que chegam a 2 m x 1,80 m. Todas elas possuem elementos da iconografia indígena.

 

Duas séries de desenhos inéditos, “Queimada” e “Queimada-cerne”, também estarão divididos por duas salas da exposição. Apesar de alguns terem elementos iconográficos, o foco desses trabalhos são as queimadas. Os trabalhos são feitos em têmpera, que a artista mesma produz, sobre papel. Eles são realizados sem um estudo prévio. “Existe um inicio de ideia, mas que se transforma durante o processo. Os desenhos possuem várias camadas de aguada que vão se modificando. Tem a parte da técnica, mas também o acaso”, conta.

 

Na série “Queimada”, as pinturas sobre papel têm como principais elementos corações, pés e pulmões. “Estes três elementos demonstram o caráter danoso de uma queimada e são, sobretudo, o resultado antagônicoao significado de cerne, que representa o renascimento, o ressurgimento. Simbolizam, portanto, a finitude absoluta, tudo o que se perdeu, que foi consumido pelas chamas, não somente físico, mas incorpóreo e emotivo”, explica a artista. Já na série “Queimada-cerne” as pinturas sobre papel e sobre tela possuem composições formais que fazem uma conexão com as imagens das queimadas, mas com a introdução de formas que remetem aos objetos e pinturas das culturas indígenas.

 

Ao se dirigir para a segunda sala, o visitante verá, na parede da antesala, que a artista chamou de “Cofre”, um conjunto com 100 peças em cerâmica, pintados de dourado, produzidas em 2017 e 2018, intitulado “100 onças”. Nelas, há a reprodução de um padrão de desenho que os índios Assurini criaram especialmente para pintura corporal. Os motivos (desenhos) e seus significados foram extraídos de uma tabela organizada pelo índio assurini Puraké, em 1984. Cada plaqueta contém, além do desenho, duas inscrições, o significado em guarani e a versão para o português. As placas serão colocadas lado a lado, formando uma linha contínua. “Elas são douradas para lembrarem o ouro, algo valioso. Além disso, a onça é a medida do peso do ouro, por isso elas têm esse nome”, diz a artista, que chamou o espaço de “cofre”, por abrigar “barras de ouro” indígenas.

 

Na segunda sala, desenhos e também um conjunto de dez cerâmicas, da série “Línguas”. Em cada uma delas, há um grafismo e uma frase, que são “sabedorias” dos índios brasileiros Pataxó, Yanomami e Kaiapó e estrangeiros, Sioux do Canadá e os norte-americanos Mohawk, Dakota e Ute.“O título possui dois significados: a língua usada para comunicar os aprendizados das nações indígenas e o aspecto formal/estético das peças”, explica a artista.

 

Tanto nas referências indígenas quanto nas obras sobre as queimadas, o que interessa à artista é a parte visual. “O que me encanta é a imagem, a parte gráfica. O meu trabalho acaba fortalecendo o registro dessas nações, mas a intenção é a potência gráfica”, ressalta Denize Torbes.

 

 

Sobre a artista

 

Denize Torbes nasceu no Rio de Janeiro, em 1959. É artista plástica, bacharel em Pintura pela Escola de Belas Artes da UFRJ.

 

Dentre suas exposições individuais destacam-se: “Kosmofonia – 3 sentidos – Verlerouvir” (2009), no Centro Cultural da Justiça Federal, no Rio de Janeiro; “Denize TORBES – LdeO&Co Mobilier et Ecodesign Brésiliens” (2008), em Paris, França;  “Das Origens” (2006), na Casa de Cultura Laura Alvim, no Rio de Janeiro; “Ícones Tribais – pinturas, cerâmicas e jóias” (2005), com  itinerância pela Casa França-Brasil, no Rio de Janeiro, e pelo Musée de la Halle Saint Pierre e pela Galerie Panamá, ambos em Paris, França, a mostra no Centro Cultural Banco do Brasil (1994), no Rio de Janeiro, entre outras. Dentre suas exposições coletivas estão: “Salve São Jorge 23” – 9ª edição, no Porto das Artes – Fábrica de Espetáculos, RJ, “Acervo Contemporâneo”, na Galeria Arte UFF, RJ, “Cubo além do cubo – DEZ”, em 2017; “Zona Oculta – 10 anos” (2015), ambas no Centro de Artes Calouste Gulbenkian, RJ; “1ª Bienal Sul-americana de Gravura e Arte Impressa Rio-Córdoba” (2014), no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro, e no Museu Emilio Caraffa, em Córdoba, Argentina; “Papel ao cubo” (2013), no Museu D. Diogo de Souza, Museu de Arqueologia, em Braga, Portugal, entre outras.Ao longo de sua trajetória, recebeu diversos prêmios, como: Prêmio CIER – Comissăo de Integraçăo Energética Regional (2004); Seleçăo Pręmio UNESCO – Jovem Arte Brasileira – Pinacoteca do Estado de Săo Paulo (1993); Projeto Beca Ciudad de Mexico (1991); Prêmio aquisição – Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco (1987); Salão de Artes Plásticas da Escola de Belas Artes da UFRJ (1984), entre outros. Possui obras em importantes acervos no Brasil e no exterior, como Companhia Vale do Rio Doce, Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco, Museu de Arte Moderna de Santa Catarina, Acervo Contemporâneo da Universidade Federal Fluminense, Galeria Lopez Velarde, México, Museu Nacional de Belas Artes, Society Printmakers of California, Galeria Cândido Mendes-RJ, SESC-RJ, Centro Cultural dos Correios-RJ, Josef-Krainer-Haus, Graz, Áustria, e Museu de Arte do Espírito Santo.

 

 

 

Até 18 de julho.

Wilson Piran, “ouro” no MNBA

04/jun

A primeira individual no Museu Nacional de Belas Artes, Cinelândia, Rio de Janeiro, RJ, foi em 1977. Agora, quatro décadas depois, o artista Wilson Piran retorna, para abrir a exposição “Nem tudo que brilha é ouro”, na qual apresenta 26 objetos e esculturas, de diferentes materiais, todos recobertos de falso ouro.

 

Artista com viés pop e que usa materiais pouco convencionais, antes eram os nomes dos artistas e suas obras que o inspiravam a produzir trabalhos que questionavam a arte e seu universo, agora são os objetos e os materiais que são explorados para indagar: o que é arte, onde está a arte?,  encontrando poesia e expressão nessa curiosa garimpagem. Do ponto de vista do artista “…se antes era a purpurina que resplandecia conceitos, agora é o brilho do falso ouro que pretende estimular prazerosamente o espectador”, afirma Wilson Piran.

 

 

Sobre o artista

 

Nascido em Nova Friburgo, RJ, a partir de 1969 Piran se transfere para o Rio de Janeiro e ingressa na antiga Escola Nacional de Belas Artes, frequentando o curso de pintura, tendo sido aluno de Abelardo Zaluar, Mário Barata e Quirino Campofiorito. Entre 1970 a 1984, trabalhou como decorador de vitrines de joalherias. Participou de salões de arte e exposições coletivas, com desenhos e colagens. Durante este período, obteve seus primeiros prêmios chamando a atenção da crítica especializada, pavimentando desse modo sua trajetória artística.

 

Realizou em 1977, sua primeira exposição individual no Museu Nacional de Belas Artes com a série de trabalhos, que o crítico Roberto Pontual denominou “Conceituais humorísticos”. Desde então, sua produção vai se caracterizar pela busca de uma forma de comunicação efetiva, aliando o conceito e a visualidade, para encontrar poesia nas dúvidas e incertezas do artista e da própria arte. (fotos: Luiz Carlos Lacerda/Divulgação).

 

 

Até 09 de setembro.

Ivens Machado na Carpintaria

23/maio

A Carpintaria, espaço da Fortes D’Aloia & Gabriel no Rio de Janeiro, exibe “Ivens Machado: Corpo e construção”, primeira exposição do artista em uma galeria após seu repentino falecimento em 2015. A mostra apresenta seis esculturas realizadas entre 1991 e 2005, um tríptico fotográfico a partir da “Performance com bandagens cirúrgicas”, de 1973, e uma série de fotos com registros inéditos da mesma performance, editado a partir da recuperação de negativos do artista.

 

Ivens Machado utilizava matérias-primas próprias da construção civil como concreto, vergalhões, vidro e madeira, manipulando estes materiais de modo a reorganizar os códigos da escultura convencional. Suas obras articulam tensões sociais e sexuais ao abordarem questões como a violência e a repressão, temáticas que revelaram-se controversas ao longo de sua carreira, especialmente durante o período da ditadura militar. Suas esculturas materializam uma sintaxe clara e objetiva que dá voz às formas em si, deixando que o concreto armado ou estilhaçado, telas aramadas e tijolos quebrados desvelem camadas de significação para além de suas superfícies.

 

Em “Sem título”, obra de 2005, na primeira sala expositiva, o concreto dilata-se em um ângulo superior a 90º, encerrando-se em robustas extremidades cravadas por estilhaços de telha. Parte de uma geração de artistas sucessora ao Neoconcretismo, Machado escolhe trilhar uma trajetória estética paralela ao circuito da arte dos anos 70, marcado pelas discussões políticas e afiliações a grupos e movimentos. A crueza de suas formas revela-se, portanto, como digestão da herança construtivista para uma terceira direção, de forte viés autoral e alta carga provocativa. O excesso e a exuberância de suas formas tecem relações entre corporeidade e construção, carne e cimento.

 

A obra “Sem título” de 2001, que ocupa um dos salões frontais do espaço expositivo, tem forte relação com a escultura pública originalmente produzida pelo artista para o entorno do Largo da Carioca, no Centro do Rio de Janeiro, em 1997. O arco de Ivens evidencia, já em um momento avançado de sua trajetória, a coerência e o rigor formal com que sua obra se desenrola ao longo de mais de quatro décadas. A série de fotografias “Sem título”, – Performance com bandagem cirúrgica – 1973 – 2018, também sublinha a articulação entre o corpo e a escultura. Ao recobrir partes do corpo, as bandagens brancas acentuam suas formas à medida em que recortam em partes o sujeito (o próprio artista). Braços e pernas aparecem despregados do corpo e o rosto, que em um momento está encoberto, em outro mira a câmera desafiadoramente. A performance remonta a um momento da arte em que a investigação de questões ligadas ao corpo no campo do vídeo, da fotografia e da performance aparece como elemento central na pesquisa de diversos artistas. Aqui, o artista forja seu corpo enquanto campo de experimentação, permitindo conotações de dor e privação. A escolha da gaze enquanto dispositivo performático possibilita diferentes chaves de leitura, remetendo a dor tanto em uma dimensão física, do autoflagelo, quanto em uma dimensão metafórica, aludindo à repressão militar e sexual.

 

 

Sobre o artista

 

Ivens Machado nasceu em Florianópolis, SC, em 1942 e faleceu em 2015 no Rio de Janeiro. Começou sua carreira na década de 1970, em uma produção que se desdobra entre desenho, escultura, pintura, e vídeo. Após um período de dificuldades relacionadas a problemas de saúde, o artista começa a trabalhar com a Fortes D’Aloia & Gabriel no ano de 2014 mas, infelizmente, acaba por não concretizar a tempo sua primeira individual com a galeria. A presente exposição, portanto, foi realizada em colaboração com o recém-criado Acervo Ivens Machado, coordenado por Mônica Grandchamp. Esta primeira exposição marca o início de uma trajetória de trabalho que busca dar continuidade ao legado deste grande artista de trajetória singular.

 

 

Até 28 de julho.