Arquiperiscópio no Oi Futuro

28/out

 

Com curadoria de Paulo Herkenhoff, o Oi Futuro apresenta, pela primeira vez, no dia 03 de novembro, um panorama da múltipla produção do artista André Severo, com obras que buscam referências na História da Arte para falar sobre as relações humanas, a natureza e a imagem

 

O Oi Futuro inaugura, no dia 03 de novembro, a exposição “André Severo – Arquiperiscópio”, com seis obras inéditas do artista gaúcho, compostas por mais de 150 trabalhos, e seis vídeos, que ocuparão o pátio externo, o hall e os níveis 2, 3 e 4 do centro cultural. Com curadoria de Paulo Herkenhoff, a mostra apresenta um panorama da obra de André Severo, artista múltiplo que começou sua trajetória há 27 anos e realiza sua primeira exposição individual no Rio de Janeiro.

A exposição apresenta diferentes vertentes do trabalho do artista que estarão reunidas pela primeira vez em uma exposição. Em comum, todas buscam referências na História da Arte para falar sobre as relações humanas, a natureza e a imagem.

 

“A obra de André Severo é sobre a circulação da arte-imagem. Sua despojada presença em vídeos, fotografias, livros e exposições escamoteia a complexidade desse desafio. Nem sempre o público tem consciência de que se depara com uma proposta de arte e que é um alvo deste projeto. Para o artista, toda circulação cultural é uma forma de contrato social com a recepção”, diz o curador Paulo Herkenhoff, que vem planejando esta exposição há cerca de três anos.

 

A exposição terá obras que trazem elementos chaves da produção de André Severo, mostrando ao público um panorama de seu pensamento. “Minha produção é cíclica; a maneira como os trabalhos estão articulados no espaço, em “Arquiperiscópio”, traz referências da minha produção ao longo dos últimos 20 anos, ao mesmo tempo em que revelam o ponto de pensamento em que estou no momento”, diz o artista.

 

O nome da exposição, “Arquiperiscópio”, faz uma alusão ao objeto ótico – cujo funcionamento é baseado na associação de dois espelhos, permitindo uma visão ampliada e de longa distância – para dar conta da obra e trajetória múltipla de André Severo, que também é curador e produtor. “Entendo tudo o que faço como uma coisa só. Trabalho compulsivamente e cada trabalho é uma parte do todo, do que sou, que me ajuda a entender os processos poéticos, mas também de busca e questionamento existencial”, diz.

 

“Seu modelo óptico é o arquiperiscópio, com um regime polissêmico, múltiplo, errante, plurívoco, heterotópico. Iconógrafo, devorador de Cronos, Severo é onívoro. O arquiperiscópio não se prende a espelhamentos nem à geometria rasa, sendo, pois, anticaleidoscópio”, ressalta o curador Paulo Herkenhoff. “Em resumo, o artista considera arte toda e qualquer ação sua que faça no sistema de arte, como ainda a curadoria da XXX Bienal de São Paulo, como uma dimensão poética de sua própria arte, as propostas que faz aos curadores de suas mostras pessoais, a direção de instituições culturais, palestras, entre outras. Isto é seu arquiperiscópio”, ressalta.

 

Obras em exposição

 

Rastro (Gustave Le Grey) – No pátio do Centro Cultural Oi Futuro estará uma grande instalação, de 14mX2m, feita a partir de uma imagem de Gustave Le Grey, um dos mais importantes fotógrafos franceses do século XIX. Severo ampliou essa imagem em formato de cartaz lambe-lambe e colou nas ruas. Tempos depois, esses cartazes foram retirados, trazendo todos os elementos que estavam atrás, e também tudo o que foi sobreposto, além das interferências climáticas, como sol e chuva, aos quais os trabalhos foram expostos. “São quatro imagens, que, como já passaram pela rua, tiveram diversas interferências. É quase como um palimpsesto ao contrário, com camadas que vão se sobrepondo de trás para frente”, diz o artista, que, ao longo de sua trajetória, realizou diversas ações na rua.

 

A Onda – Série de pinturas inéditas nas quais André Severo reproduz uma série de trabalhos de Gustave Courbet (França, 1819 – 1877), pioneiro do realismo francês. “Entre os anos de 1850 e 1872, Courbet produziu uma grande série de pinturas que ele intitulou “A onda”.  Em um mundo desprovido da figura humana, estas ondas estão entre as pinturas mais abstratas de Courbet, e muitas parecem ter sido inventadas em vez de observadas. Essas obras não somente deram início às tendências modernas de Manet e dos impressionistas, mas também ao expressionismo abstrato americano dos anos 1940 e 1950” afirma. Segundo Severo, as suas pinturas não pretendem ser uma releitura de Courbet e estão mais para um ato performativo de busca de entendimento de sua obra. “Eu poderia falar, ler ou escrever sobre as pinturas, mas, dentro de meu processo, para entender, de fato, as transformações inauguradas por Courbet, preciso fazer com que essas pinturas ganhem corpo, preciso entender pelo gesto”, diz o artista, que, para esse projeto, estudou a técnica que Courbet usava e criou obras em escalas maiores do que as originais – em uma escala que faz referência aos expressionistas abstratos que foram influenciados por Courbet. “Eu tento reproduzir as obras, e elas acabam tendo uma semelhança bem impressionante com as originas; mas o ponto mais interessante para mim é quando erro, quando não consigo copiar o gesto e alguma outra coisa aparece na pintura”, ressalta. Atrás das pinturas, há o nome do Courbet, deixando marcado de onde vem a referência.

 

Academia – série com 12 trabalhos, compostos por cerca de 50 desenhos cada, na qual o artista faz uma referência às academias do século XVIII e XIX, onde os artistas aprendiam a desenhar copiando obras de outros artistas. Os trabalhos são feitos em grandes formatos, medindo 2,15m X 1,60m cada e, juntos, formam um enorme painel de desenhos justapostos e sobrepostos. “Cada um dos desenhos que compõem esta série foi produzido a partir de releituras que realizei de artistas de diferentes nacionalidades, contextos e tempos. A ideia básica era a de tentar aprender a “linguagem” que cada um destes criou para produzir sua poética pessoal. Estão, para mim, em jogo aqui, ideários que me levam a ponderar que nossa relação com o sensível não é passiva; que em nossa relação com as imagens sempre está em jogo algo além da aquisição de conhecimento; e que a apropriação do sensível não acontece somente através da percepção. Assim, o ato de desenhar, de produzir uma releitura de outrem, por exemplo, aparece aqui como uma forma de incorporar um sensível distante e fazê-lo existir, de outra forma, aqui e agora – uma possibilidade de adquirir esse sensível e incorporá-lo à minha própria esfera poética”, afirma Severo.

 

Inventário – Inventário é um trabalho em aberto, composto por milhares de pequenas colagens que trazem relacionadas, em cada uma delas, uma imagem, uma palavra e uma gota de sangue do artista, que é diabético e precisa fazer a medição de glicose diariamente. Na mostra, serão apresentados 120 desses trabalhos, escolhidos entre milhares. “É um trabalho sobre vínculos, que associa imagem, palavra e corpo”, ressalta o artista.

 

El Mensajero – série de textos produzidos a partir de uma colagem de trechos de diversos livros do poeta mexicano Octávio Paz (1914 – 1998). Na exposição, serão apresentados 12 desses textos, alguns espalhados pelos andares do prédio do Oi Futuro. “Produzidos originalmente no contexto de uma trilogia de exposições que realizei entre os anos de 2015 e 2021, os textos aparecem aqui como uma espécie de condutor poético/conceitual para a visitação e funcionarão como pontuações para as obras que iremos apresentar na mostra”, afirma o artista.

 

Passagem – videoinstalação composta por 14 vídeos elaborados a partir da animação de uma seleção de fotografias dos estudos de movimentos realizados por Eadweard Muybridge entre os anos de 1883 e 1887. Para a realização desta instalação, o artista selecionou 56 pranchas dos mais de 700 estudos realizados por Myubridge. Para a confecção de cada vídeo, em que vemos homens e mulheres (de diversas idades e etnias) caminhando da esquerda para a direita, nus e enfileirados, foram selecionadas e animadas (a partir da sequência fotográfica original) quatro pranchas – resultando, ao final, em uma espécie de procissão em que 56 pessoas caminham sem sair do lugar. Tendo como possível leitura uma espécie de passagem entre a morte e a ressurreição, a instalação retrata indivíduos isolados, fora do tempo e advindos de distintos setores da vida, marchando na mesma direção, cada um viajando a seu próprio ritmo e de sua própria maneira. “Não há começo ou fim para a procissão de indivíduos; e o fluxo constante de pessoas não sugere ordem ou sequência aparente. Não há retorno. Como viajantes, eles se movem em um espaço intermediário entre dois mundos rumo a um destino desconhecido”, pondera o artista. “É a culminância da exposição. Ao longo da mostra, o público vai experimentar o corpo, a direção do movimento e as diversas formas de caminhar, uma vez que o prédio é uma subida”, diz o curador Paulo Herkenhoff.

 

Completam a mostra o vídeo “Ensaios para o fim”, que mostra explosões de bombas atômicas, que será exibido nas TVs do térreo do Centro Cultural Oi Futuro, e a obra “Arquiperiscópio TV”, com uma edição de diversos filmes do artista, que estará no videowall, também no térreo.  Os vídeos “Meridional” e “Estada” estarão no Nível 4 e a intervenção “Isto fala”, nos painéis do Museu das Comunicações e Humanidades (Musehum). Também farão parte da exposição livros editados por André Severo, ampliando o panorama sobre o artista. A mostra será acompanhada de um catálogo, a ser lançado ao longo do período da exposição, com texto do curador Paulo Herkenhoff e imagens das obras em exposição no Centro Cultural Oi Futuro e de outras obras do artista, expandindo, ainda mais, o panorama sobre a obra de André Severo.

 

Sobre o artista

 

André Severo nasceu em Porto Alegre, RS, 1974. Vive e trabalha em Porto Alegre. Mestre em Poéticas visuais pelo Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Artista visual, curador, produtor, atualmente é diretor do Farol Santander Porto Alegre. Realizou diversos filmes e instalações audiovisuais e participou de inúmeras exposições no Brasil e no exterior. Em 2018, com Marília Panitz, foi o curador da exposição “100 anos de Athos Bulcão”. Entre os anos de 2015 e 2017 realizou “Metáfora”, em parceria com Paula Krause, e “Espelho”, as duas primeiras partes da trilogia de exposições “El Mensajero”, concluída este ano com a exposição “Labirinto”. Com Luis Pérez-Oramas, foi responsável pela curadoria da representação brasileira na 55ª Bienal de Veneza, em 2013, e da XXX Bienal de São Paulo – “A iminência das poéticas”, em 2012, mesmo ano em que publicou o livro “Deriva de sentidos”. Em 2010, foi responsável pela curadoria da mostra “Horizonte expandido”, junto com Maria Helena Bernardes, com quem iniciou, em 2000, as atividades de “Areal”, projeto que se define como uma ação de arte deslocada, que aposta em situações transitórias capazes de desvincular a ocorrência do pensamento contemporâneo dos grandes centros urbanos e de suas instituições culturais. Publicou, entre outros, os livros “Consciência errante”, “Soma e Deriva de sentidos” e “Artes Visuais – Ensaios Brasileiros Contemporâneos” (Funarte). Dentre suas principais premiações destacam-se o Programa Petrobrás Artes Visuais – ano 2001 -; o Prêmio Funarte Conexões Artes Visuais, em 2007; o Projeto Arte e Patrimônio 2007; o Programa Rede Nacional Funarte Artes Visuais 2009; o V Prêmio Açorianos de Artes Plásticas, em 2010; o Prêmio de Artes Plásticas Marcantonio Vilaça – 6ª Edição, em 2013; o Prêmio Funarte de Arte Contemporânea 2014; o XV Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia 2015; e o Prêmio Sérgio Milliet da ABCA, em 2018 pelo livro “Artes Visuais – Ensaios Brasileiros Contemporâneos”.

 

Sobre o Oi Futuro

 

O Oi Futuro, instituto de inovação e criatividade da Oi para impacto social, atua como um laboratório para cocriação de projetos transformadores nas áreas de Educação, Cultura e Inovação Social. Por meio de iniciativas e parcerias em todo o Brasil, estimulamos e conectamos indivíduos, organizações e redes para a construção de um futuro mais potente, com mais inclusão e diversidade. Na Cultura, o Oi Futuro mantém um centro cultural no Rio de Janeiro, com uma programação que valoriza a convergência entre arte contemporânea e tecnologia. O espaço também abriga o MUSEHUM – Museu das Comunicações e Humanidades, com acervo de mais 130 mil peças. Há 18 anos o Oi Futuro gerencia o “Programa Oi de Patrocínios Culturais Incentivados”, que seleciona projetos em todas as regiões do país por meio de edital público. Desde 2003, foram mais de 2.500 projetos culturais apoiados pelo Oi Futuro, que beneficiaram milhões de espectadores. Apostando no potencial cultural, social, de público e de inovação dos festivais, o Oi Futuro vem impulsionando festivais de diversas linguagens artísticas em todas as regiões do Brasil. Em 2020, 23 festivais foram apoiados pelo instituto por meio do “Programa Oi de Patrocínios Culturais Incentivados” e do “Programa Pontes”, desenvolvido em parceria com o British Council. O instituto também criou e mantém o “LabSonica”, laboratório de experimentação sonora e musical, sediado no Lab Oi Futuro, o “Oi Kabum! Lab”, que promove a formação de jovens de periferia no campo da arte e tecnologia e a curadoria de projetos de intervenção artística urbana.

 

Até 16 de janeiro de 2022.

Ursula Tautz no Paço Imperial

01/set

 

No dia 09 de setembro, o Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ, inaugura a exposição “O Som do Tempo ou tudo que se dá a ouvir”, com uma grande instalação inédita da artista carioca Ursula Tautz, com curadoria de Ivair Reinaldim. Resultado de cinco anos de pesquisa, a instalação aborda o tempo e a memória. Composta por nove toneladas de terra negra, em formato de pirâmide, que soterram uma cadeira com braços e alto espaldar, além de areia dourada e badalos de sinos, a instalação de dois metros de altura é envolta por três filmes, que são projetados pelo ambiente. Por meio de uma obra imersiva, integrada ao espaço e ao entorno, cada visitante terá uma experiência única na mostra, que irá se transformar ao longo do tempo, com o germinar da terra que integra a instalação. Um desdobramento do trabalho será apresentado na ArtRio, de 08 a 12 de setembro.

 

 

“A exposição nos trará a oportunidade de presenciar não apenas um trabalho instalativo de arte contemporânea, mas a apreensão de uma experiência singular de montagem de imagens, sons e tempos, num jogo entre memórias pessoais e coletivas, realidade e ficção. Para além do visual ou do sonoro, a mostra é uma experiência para o corpo. Um convite para a vivência não virtualizada do mundo”, afirma o curador Ivair Reinaldim.

 

A exposição tem uma forte carga histórica e foi pensada especialmente para o Paço Imperial, palco de importantes acontecimentos da história do Brasil, como o Dia do Fico, a Abolição da Escravidão e a Proclamação da Independência do Brasil. “A obra tem relação com o nosso País. O trono soterrado pela terra faz alusão à colonização. E, após a pandemia da Covid-19, não foi mais possível desvincular o monte de terra das cenas que vimos todos os dias em consequência das inúmeras mortes causadas pelo vírus. Mas a terra é forte, preta e fértil, enquanto a areia dourada é uma referência às nossas riquezas, revelando a dicotomia do nosso país”, conta a artista Ursula Tautz.

 

Sobre a montanha de terra, estarão diversos badalos de sinos quebrados, “badalos mudos, parados, que trazem memórias de um tempo congelado, uma tentativa de unir passado e presente”, diz a artista. No entanto, é possível ouvir, de dentro do Paço Imperial, o badalar dos sinos das diversas igrejas ao seu redor, que marcam as horas. O som destes sinos estará sincronizado com os filmes, comandando sua projeção. Quando as badaladas que marcam a meia hora tocarem, os filmes serão paralisados. Quando as badaladas das horas inteiras tocarem, os filmes apagarão e retornarão após o término das badaladas, repetindo o processo ao longo de todo o dia.

 

 

“São vários tempos conversando ao mesmo tempo: o tempo do agora, marcado pelas badaladas dos sinos, o tempo passado dos filmes, o tempo histórico do Paço Imperial e das igrejas. São diversas maneiras de ver e sentir e cada um terá uma experiência única, particular”, diz a artista, cuja intenção foi criar um ambiente imersivo para os visitantes. “Estamos tão saturados de imagens, que a arte tem que te capturar, te transportar para outro lugar”, ressalta.

 

 

Os filmes têm a exata duração do tempo que o Paço Imperial fica aberto diariamente, seis horas. Desta forma, cada visitante terá uma experiência distinta. “Ou ele verá um trecho diferente do filme, ou não verá imagem nenhuma, ficará apenas diante do grande soterramento com seus cheiros e texturas”, diz a artista. Além disso, a instalação irá se transformar durante o período da exposição. Da terra negra, que é fértil, com certeza germinarão plantas.

 

 

“Trata-se de uma instalação impossível de ser narrada e/ou fotografada na sua totalidade, uma vez que nem relatos nem registros são capazes de dar conta das sequências e simultaneidades promovidas pela vivência da matéria, sons e visualidades no ambiente expositivo – fragmentos que, em conjunto, extrapolam aquilo que separadamente evocam”, diz o curador.

 

 

Filmes sobre a Memória

 

 

Projetados na parede, ao redor da instalação, estarão três vídeos produzidos pela artista, que falam sobre memória, sobre diferentes memórias. No primeiro, estão imagens da viagem da artista para a Polônia, onde foi à cidade da avó materna, Uldersdorf an der Biele, aldeia alemã localizada na baixa Silésia, que hoje não existe mais, pois o território foi devolvido à Polônia após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Neste filme estão diversos tipos de memória, a que ela ouviu e testemunhou da avó alemã, a memória do local e dos moradores, além de imagens da viagem que a mãe dela fez 20 anos antes para o mesmo lugar.

 

No segundo filme, também na Polônia, está a imagem de um estábulo onde passarinhos fizeram seus ninhos, e que se relaciona arquitetonicamente com o Terreirinho (espaço no Paço Imperial onde a exposição será apresentada). “São imagens de um transe, os pássaros voando, os sinos tocando, pois quando visitei a cidade era feriado de Corpus Christi e os sinos estavam por todos os lados, nos conventos, nas igrejas, nas procissões e nas ruas”, conta Ursula Tautz.

 

 

O terceiro tem como base o filme “No Paiz das Amazonas”, de Silvino Santos, com imagens da cidade de Manaus no início do século XX. Ele foi o primeiro cinegrafista brasileiro e fez o filme para os seringueiros, com o objetivo de livrá-los de acusações de extermínio étnico. Mesmo filmando uma realidade “maquiada”, é uma documentação fundamental, que aos olhos de hoje causa indignação. Para a exposição, este filme foi mesclado a vídeos enviados por 18 artistas, com imagens oníricas, a fim de se construir uma memória coletiva. “É como se fosse um sonho, com diversas imagens que não necessariamente têm relação umas com as outras, mas que me ajudam a construir uma memória de minha avó manauara, sobre a qual eu nada sei”, afirma a artista. Os artistas que participam do filme são: Analu Cunha, Ariana Schrank, Bel Lobo, Bianca Madruga, Carlos Vergara, Claudia Lundgren, Denise Adams, Jozias Benedicto, Juliane Peixoto, Laura Gorski, Letícia Tandeta, Marcos Bonisson, Patrícia Gouvea, Pedro Gandra, Rafael Adorján, Raphael Couto, Renata Solci Cruz e Vitor Mizael.

 

 

Cinco anos depesquisa

 

 

Para realizar o projeto, a artista fez uma longa pesquisa, que incluiu a viagem para a Polônia, além de estudos sobre os sinos, sua história, visitação às artesanais fábricas e entrevistas, como, por exemplo, com Manoel dos Sinos, o último sineiro do Rio de Janeiro. “Os sinos são símbolos universais, objetos solenes, marcam as horas, os ofícios e o cotidiano, ele são sinais sonoros de nossa humanidade comum. Os sinos nos acompanham há tempos, eles fazem parte da história humana e de nossos rituais desde o Egito Antigo; na Idade Média, a Igreja o fixou em suas torres e em nosso cotidiano, os sinos eram marca de poder, controle territorial e celestial, eram vistos como a manifestação concreta da voz de Deus”, escreveu a historiadora Luciana Muniz Sousa no texto que acompanha a exposição.

 

 

O Paço Imperial está adaptado às regras sanitárias, com medição de temperatura, uso obrigatório de máscara e monitoramento do fluxo de visitantes em todos os ambientes para garantir o distanciamento social recomendado de dois metros.

 

 

ArtRio

 

 

Como desdobramento da exposição, a artista apresentará na ArtRio deste ano, de 08 a 12 de setembro, um projeto solo no stand da galeria FASAM, onde apresentará o vídeo “Tudo que se dá a ouvir” e trabalhos que sintetizam o conceito da exposição no Paço Imperial.

 

 

O vídeo traz o registro de uma performance inédita na qual, vestindo calça e camisa de algodão cru e luvas brancas – em referencia ao filme-propaganda “No Paíz das Amazonas”, de Silvino Santos – a artista lançará doze badalos de sinos antigos e quebrados (que posteriormente serão expostos no Paço Imperial) contra as paredes do espaço, fazendo toda a caixa metálica ressoar, libertando o som do tempo.

 

 

Logo à frente do vídeo estará a memória da performance: a roupa utilizada, um badalo e as luvas. Estarão expostas, ainda, fotografias do filme “No Paíz das Amazonas” e dois trabalhos compostos por redomas e badalos em diferentes dimensões, areia, cordas e arames dourados, que resumem o conceito desenvolvido.

 

 

Sobre a artista

 

Por proposições multimídia, Ursula Tautz desenvolve experiências artísticas que buscam perverter o tempo cronológico através de sua contínua transformação, gerando novas memórias e narrativas. Identidades culturais e históricas são muitas vezes evocadas através do tempo percebido pelo movimento pendular, seja um som, um balanço ou pelos badalos. Pesquisando as relações que envolvem o habitar, o pertencer, a artista utiliza a (re)significação do espaço para o desenvolvimento de suas questões. As ocupações tendem ao uso da instalação. Destes trabalhos de grandes dimensões derivam estudos, desenhos, fotografias, objetos, vídeos. Nos últimos anos o som vem se apresentando como uma nova forma de experimentação. A artista foi finalista do Prêmio Mercosul das Artes Visuais Fundação Nacional de Arte – FUNARTE e participou da Siart Bienal 2018 – Bienal Internacional de Arte da Bolívia em La Paz, e da residência artística Echangeur22, que resultou na exposição “Mobilité, Immobilité”, La Chartreusse, Villeneuve-lez-Avignon, França. Além de ter sido selecionada para a Bienal de Bahia Blanca. Suas obras integram o acervo do Museu de Arte do Rio (MAR).

 

 

Até 21 de Novembro.

 

 

Carlos Mélo na Galeria Kogan Amaro

16/ago

 

 

O artista multimídia Carlos Mélo reflete sobre o Nordeste em exposição inédita na Galeria Kogan Amaro. Obras em diferentes suportes utilizam-se de jogos de imagens e palavras para desmontar o estereótipo da região brasileira. As flexões semânticas são características marcantes no trabalho processual de Carlos Mélo. É a partir delas que o artista articula e ativa determinados assuntos, como a questão do lugar, especificamente o Agreste e o Nordeste, locais investigados pelo artista na exposição “Transes, rituais e substâncias”, cartaz da Galeria Kogan Amaro, Jardim Paulistano, São Paulo, SP.

 

 

Pinturas, fotografias, esculturas, desenhos e painel de neon são alguns dos suportes do conjunto de 16 obras inéditas exibidas na mostra. Em comum, elas buscam desfazer a ideia de nordeste, construindo um novo campo simbólico. “Todo meu trabalho artístico em torno das questões do nordeste tem como objetivo desmontar o estereótipo do Nordeste como o lugar com determinada comida, um sotaque determinado e com o chão rachado. A minha perspectiva é de uma região contemporânea, industrial e tecnológica, aonde as questões se dão a partir de uma realidade que não depende necessariamente da localização geográfica, mas sim de um campo simbólico.”, explica o artista.

 

 

Três esculturas têxtis da série “Overlock”, apontam para a forte produção da indústria de jeans no Agreste do Pernambuco. As obras são produzidas com diversos tecidos produzidos artesanalmente por uma cooperativa de costureiras que utilizam resíduos de fabricas de confecções. As esculturas criam uma forte referência às golas do maracatu, a mantos cerimoniais, e trazem uma reflexão em torno da modelagem e customização (paetês e spikes) das confecções de jeans na indústria no interior do estado.

 

 

Durante o período em que se aprofundava sobre a indústria têxtil, Carlos constatou o número crescente de motos com a finalidade de transporte de mercadoria, tanto no agreste, como no interior do Brasil, além do grande número de motoboys na cidade devido à pandemia. O resultado é a escultura com capacetes “Cascos”, produzidas com resíduos de capacetes em desuso pelos motoboys de Itu onde o artista residiu e coletou em cooperação com a Associação de Motoboys da cidade.

 

A série “Abismos” apresenta três autorretratos que carregam referências ao Nordeste. Em um deles, a figura com cabeça de carranca, cria uma forte relação com as mitologias do Rio São Francisco e seus projetos de transposição representado com a cabeça de uma carranca, em outro desenho o homem parece flutuar coberto de ossos bovinos carregando entres as mãos um ramalhete de flores, e a terceira imagem traz um corpo barroco onde é possível notar um conjunto de ossos, capacete e flores sobre parte do corpo vestido com uma calça jeans.

 

 

Uma série de fotografias e um backlight, advindos de uma performance de longa duração compõem a série “Sapukaia” (ave que grita ou galinha, no vocabulário tupi). Nela, o artista aparece vestido com um paletó em meio a uma paisagem com galinhas vivas sobre o seu corpo. “Os meus trabalhos artísticos ocorrem a partir do ritual e do transe. Eles surgem a partir da ativação deste lugar, deste território. No caso, este trabalho ativa novos campos simbolistas em meio ao impacto cultural e ambiental causado pela presença das indústrias na região.”, pontua Carlos Mélo.

 

 

Texto curatorial

 

 

Carlos Melo é uma invenção de si mesmo. Artista, humanista, escritor e poeta. Pernambucano, estudioso, de fala branda. Carlos é uma fera! Conquistou prêmios, bolsas e reconhecimentos públicos. Seu trabalho fala com as vísceras. Essa exposição revela uma parte da sua obra. Desenhos, pinturas, fotografias, esculturas, vídeos e performance. Tudo para nos fazer sentir o gosto da sua terra. Carlos incorpora mitos e tradições religiosas em sua poética visual. Retomando ritos e costumes dos povos originários. Carlos é um pesquisador e desbravador da nossa língua. Expandindo significados e interpretações. Carlos Melo é um artista completo. Dos pés a cabeça. Seu legado é uma esfinge. Tenho muito orgulho e admiração pelo seu trabalho e pela nossa amizade.

 

 

Marcos Amaro – julho de 2021

 

 

Sobre o artista

 

Riacho das Almas, Pernambuco – Brasil, 1969.
Carlos Mélo é um artista plástico brasileiro, nascido em Permanbuco, uma região formada por uma cultura complexa vista por várias nações africanas, algumas tribos indígenas e europeias de origem Moura. Seus trabalhos passam por vídeo, fotografia, desenhos, instalação, escultura e performance, em uma investigação do lugar que o corpo ocupa no mundo. Através de anagramas e ações de performance, o artista aborda imagens e palavras praticando o contorcionismo semântico. Busca convergir o corpo em situações de interação com o ambiente e imagens conceituais que sugerem que seja definido de forma relacional, operando simultaneamente um resgate de aspectos da formação cultural brasileira. Para Suely Rolnik, “a obra de Carlos demarca um território, ou melhor, o estabelece. Como nos animais, isso é feito por meio de dispositivos sempre ritualizados, que são, sobretudo, ritmos. No entanto, diferentemente dos animais. Aqui, o ritual e seu ritmo mudam constantemente; são inventados a cada vez, dependendo do ambiente em que são feitos e do campo problemático que procuram enfrentar, para isso o artista se instala na imanência do mundo, aos pés do real vivo, apenas apreensível pelo carinho.”

 

 

Idealizou e realizou a 1ª Bienal do Barro do Brasil, Caruaru (2014). Participou de exposições coletivas como a 3ª Bienal da Bahia, Salvador (2014); No Krannert Art Museum, Universidade de Illinois, Champaign, EUA. (2013); No Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, Recife (2010 e 1999); No Itaú Cultural, São Paulo (2008, 2005, 2002 e 1999); Entre outras. Exposições individuais foram realizadas na Galeria 3 + 1, Lisboa, Portugal (2010); No Paço das Artes, São Paulo (2004); E na Fundação Joaquim Nabuco (Recife, Brasil, 2000). Foi vencedor do Prêmio CNI SESI Marcantonio Vilaça de Artes Plásticas (2006). Vive e trabalha em Recife.

 

 

Exposição virtual de Floriano Romano

11/ago

 

 

 

Foi inaugurada no dia 10 de agosto a exposição virtual “Cidade Labirinto”, com obras inéditas do artista Floriano Romano, pioneiro na criação de trabalhos que combinam instalação, performance e som. Totalmente digital, a mostra será apresentada na plataforma www.cidadelabirinto.art, de fácil navegação e inteiramente acessível a deficientes visuais e auditivos. A exposição é apresentada pelo Governo Federal, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, através da Lei Aldir Blanc.

 

 

“’Cidade Labirinto’ é sobre construir uma cidade imaginária a partir da escuta e da memória coletiva das ruas. Quantos são os inúmeros mapas afetivos que existem na cidade, que estão contidos em sua extensão? Quem são as pessoas que vivem ali e quais suas histórias? Quais são os territórios demarcados por suas escolhas e quem os construiu? Escutar a cidade nos faz enxergar o outro. Suas ruas e becos nos levam a locais de encontro onde convivemos com a diferença”, diz o artista Floriano Romano.

 

A exposição apresenta uma experiência sonora para o público, através de obras inéditas, produzidas este ano. “Tablado número 30” é uma instalação sonora composta por um grande tablado amarelo, com diversas caixas de som e um grande nicho preto redondo no centro, de onde é possível ouvir gravações de sons das ruas do Rio de Janeiro. A fim de ser documentada para a exposição digital “Cidade Labirinto”, a obra foi montada no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica em maio deste ano e será apresentada pela primeira vez. No vídeo, Floriano Romano interage com o trabalho, deitando na obra, entrando no nicho e vestindo uma máscara de gás, que possui uma caixa de som no bocal. O público poderá acompanhar essa experiência, vendo o artista vivenciar a obra e ouvindo os sons, que são mesclados com um áudio no qual Romano declama um texto de sua autoria sobre a cidade.

 

 

Já a obra “Cidade Sensível” será inteiramente sonora e estará dividida em três partes. Com microfones acoplados ao corpo, de forma invisível para não chamar a atenção, o artista percorreu três locais históricos da cidade do Rio de Janeiro: a Praça Mauá, a Cinelândia e a Pedra do Sal, gravando os sons ambientes, que são sobrepostos a uma narrativa ficcional em que o artista reflete enquanto caminha pelas ruas vazias do centro da cidade durante a pandemia da Covid-19. Para vivenciar esta obra sonora, Romano sugere que se feche os olhos e coloque um fone de ouvido, para que se possa imergir na obra, absorvendo de forma total os sons gravados nestes três locais.

 

 

Além de estarem acessíveis na plataforma da exposição, as três partes da obra “Cidade Sensível” também estarão disponíveis em formato podcast nas maiores plataformas de streaming de música. “A cidade tem camadas: sonoras, históricas, de experiência vivida. Caminhar pelas ruas é o exercício de absorver essas camadas pela escuta e imaginar a cidade que queremos, conhecer nosso passado e nos engajarmos em um presente melhor”, ressalta o artista.

 

 

Além da exposição

 

 

A mostra será acompanhada de um catálogo bilíngue (português e inglês), também digital, que poderá ser baixado gratuitamente na plataforma da exposição. Com 23 páginas, ele trará imagens e áudios das obras “Tablado número 30” e das três partes de “Cidade Sensível” – Praça Mauá, Cinelândia e Pedra do Sal -, que compõem a exposição, além de textos informativos sobre os trabalhos.

 

A fim de enriquecer a experiência e traçar um panorama da trajetória de Floriano Romano e de suas obras sonoras, também integram o catálogo informações sobre outras três mostras de destaque da trajetória do artista: “Muro de Som” (2016), no Centro Cultural Municipal Parque das Ruínas; “Errância” (2016), no Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro e “Sonar” (2013), na Casa de Cultura Laura Alvim, acompanhados de textos dos curadores Guilherme Bueno, João Paulo Quintella e Gloria Ferreira, respectivamente.

 

 

Também está prevista uma live, aberta ao público, com o artista em setembro, na qual ele falará sobre o projeto, sobre as obras apresentadas e sobre o seu percurso na arte.

 

 

Sobre o artista

 

 

Floriano Romano nasceu no Rio de Janeiro, 1969. Vive e trabalha no Rio de Janeiro, artista e radioartista contemporâneo que utiliza o som em suas instalações, objetos e ações urbanas desde 2002. Sua produção parte do imaginário e do texto para diversas abordagens sobre o som nas artes visuais. Seus trabalhos abrangem a radioarte, a poesia sonora e a performance. A cidade e a memória são recorrentes na sua obra assim como o ato de caminhar e sua experiência sensível. Produz programas de rádio como esculturas sonoras no espaço urbano desde o ano de 2002. Ganhou, entre outros, o Prêmio CCBB Arte Contemporânea, Prêmio Marcantonio Vilaça, da Fundação Nacional de Artes, com a obra “Chuveiros Sonoros”, realizada para a 9ª Bienal do Mercosul/Grito e Escuta e o Prêmio Projéteis de Arte Contemporânea, com a exposição “A Cidade Sonora”. Foi artista residente no “Programa dos Ateliers da Lada”, na Cidade do Porto, em Portugal, e na Residência HOBRA, Brasil-Holanda. É professor do curso de Artes Visuais da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

 

 

Até 10 de Outubro.

 

 

Nuno Ramos no Instituto Ling

21/jun

 

 

Em cartaz até 18 de setembro, Nuno Ramos apresenta no Instituto Ling, Três Figueiras, Porto Alegre, RS, a performance “Dito e Feito – Aos Vivos, em Porto Alegre”.

 

 

Em 2018, Nuno Ramos iniciou a série de performances Aos Vivos. Através dela, articulou temas constantes em sua obra: a palavra, o tempo presente e todas as contradições envolvidas na relação entre esses dois elementos. Embora existam modificações de trabalho para trabalho, o procedimento é mais ou menos o mesmo: atrizes e atores escutam, ao vivo, com um fone de ouvido, determinada programação da televisão e, depois, repetem o que escutaram, em outra situação cênica. Embora não seja preciso arremedar todas as falas e sons, o elenco deve pronunciar apenas o que escuta. Sem adicionar nada nem comentar de maneira explícita o que escutou. A ideia é replicar as falas de um contexto em outro.

 

 

Como o texto é dobrado com pouca diferença de tempo em relação ao som original, o que acontece no palco é quase simultâneo ao que é transmitido pela TV. É como um presente que se repete com poucos segundos de defasagem. Esse presente é duplicado, como uma versão transplantada da outra transmissão, como um reflexo pálido. Talvez esteja para a televisão como as serigrafias sem cor, em alto contraste, de Andy Warhol estão para as fotografias. As falas fora da televisão tornam-se despidas dos bastidores que lhe conferem inteligibilidade. A réplica mostra-se ligeiramente diferente do original, é um eco dissonante e isolado da transmissão televisiva.

 

 

A programação contínua, ou a transmissão ao vivo, como matéria de trabalho também é um marcador de tempo. Ela garante que as ações reproduzam algo que acontece em horário muito similar. É a garantia de que estamos vendo algo que acontece naquele agora.

 

 

Para esta exposição no Instituto Ling, Nuno Ramos resolveu dar mais uma volta no assunto. Elaborou a performance “Dito e feito”, a se realizar entre os dias 15 e 18 de junho de 2021. Aqui, as atrizes e o ator em palco reproduzirão não as falas mais protocolares e editadas da TV, mas o que for capturado por uma equipe nas ruas de Porto Alegre.

 

 

Depois de tentar fazer o eco desencontrado da voz da televisão, que chamou, em seu livro Cujo (2008), de “o verdadeiro ventríloquo, cuspidor de imagens e de vozes”, o artista agora nos traz, pelo YouTube, uma repetição desencontrada dos acontecimentos que os repórteres da exposição encontram. O que é dito no palco não se acerta totalmente com o que é feito na rua. Há alguma interferência na transmissão. Vemos o que sobra dessa vida; um resíduo que não se apaga, mesmo neste período particularmente trágico.

 

 

Tiago Mesquita, curador

 

 

Sobre o artista

Nuno Ramos nasceu em 1960, em São Paulo, onde vive e trabalha. Formado em filosofia pela Universidade de São Paulo, é pintor, desenhista, escultor, escritor, cineasta, cenógrafo e compositor. Começou a pintar em 1984, quando passou a fazer parte do grupo de artistas do ateliê Casa 7. Desde então tem exposto regularmente no Brasil e no exterior. Participou da Bienal de Veneza de 1995, onde foi o artista representante do pavilhão brasileiro, e das Bienais Internacionais de São Paulo de 1985, 1989, 1994 e 2010. Em 2006, recebeu, pelo conjunto da obra, o Grant Award da Barnett and Annalee Newman Foundation. Dentre as exposições individuais que fez, destacam-se, em 2010, as produzidas na Gallery 32, em Londres, Inglaterra; no Galpão Fortes Vilaça, em São Paulo, Brasil; e no MAM – Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil. Publicou “O mau vidraceiro” (2010), “Ó” (2008), “Ensaio geral” (2007), “O pão do corvo” (2001) e “Cujo” (1993). Como cineasta, roteirizou e codirigiu com Clima, em 2002, os curtas-metragens “Luz negra” e “Duas horas”. Em 2004, roteirizou e dirigiu o curta “Alvorada”. Roteirizou e codirigiu com Clima e Gustavo Moura o curta “Casco”, também em 2004, e “Iluminai os terreiros”, em 2006. Recebeu em 2009, o Prêmio Portugal Telecom (hoje Prêmio Oceanos) de Literatura por “Ó”. Em 2006, ganhou o Grant Award da Bernett and Annalee Newman Foundation; o 2º Prêmio Bravo! Prime de Cultura, Artes Plásticas – Exposição; e o Prêmio Mário Pedrosa – ABCA – Associação Brasileira de Críticos de Arte. Em 2000, venceu o concurso El Olimpo – Parque de La memoria, para a construção, em Buenos Aires, de monumento em memória aos desaparecidos durante a ditadura militar argentina. Em 1987, recebeu a 1ª Bolsa Émile Eddé de Artes Plásticas do MAC/USP. E, em 1986, o Painting Prize da 6th New Delhi Triennial, Nova Delhi, Índia.

 

 

As performances da exposição “Dito e Feito: Aos Vivos, Porto Alegre” aconteceram ao vivo pelo canal do Instituto Ling no YouTube nos dias 15, 16, 17 e 18 de junho.

 

 

“Relicto”, por Fernando Limberger.

15/jan

 

 

 
O Museu da Cidade, Sé, São Paulo, SP, convida até 14 de junho para a exibição de “RELICTO”, uma exposição orquestrada pelo talentoso artista visual Fernando Limberger dividida em dois espaços, a saber: Casa da Imagem e Beco do Pinto. 


Para a visitação é solicitado o uso de máscara, higiene das mãos e distanciamento social.

Homenagem para Lygia Clark

13/mar

O centenário de Lygia Clark (1920-1988) será comemorado com uma série de atividades culturais de 13 a 22 de março, no Vale das Videiras, Petrópolis, RJ. A homenagem inclui peça de teatro, debate com o crítico de arte Paulo Sergio Duarte, exposição de réplicas de obras e atividades educativas em torno da pintora e escultora que desestabilizou os cânones da representação estética modernista, ao lado de Hélio Oiticica. A iniciativa é um projeto da Galeria A2 + Mul.ti.plo, em parceria com a atriz Carolyna Aguiar e as diretoras Bel Kutner e Maria Clara Mattos, tendo a colaboração de Walter Carvalho, da Associação Cultural Lygia Clark, do Estúdio Mameluca e da Fazenda Cachoeira.
“Queremos rebatizar o Vale das Videiras como Vale do Pensamento. Há alguns anos, artistas e pessoas ligadas à cultura que frequentam o local se uniram para fomentar um polo de arte e pensamento na região serrana. A ideia é fazer do Vale um espaço de convivência entre os artistas e a comunidade local. A série de atividades em torno de Lygia Clark vem consolidar esse trabalho”, explica o fotógrafo e cineasta Walter Carvalho. O ponto alto da programação é o espetáculo teatral “Lygia.”, monólogo protagonizado pela atriz Carolyna Aguiar, baseado nos diários da genial artista. Com direção de Bel Kutner e Maria Clara Mattos, o espetáculo será encenado em única apresentação, no dia 14 de março, sábado, às 19h.
“Com um trabalho que une arte e psicanálise, Lygia acabou tornando-se figura outsider tanto para psicoterapeutas como para artistas. Por meio da voz da própria Lygia Clark, a peça de teatro deixa claro e acessível o caminho para o entendimento de sua obra”, explica a atriz Carolyna Aguiar, que conduz o espetáculo, utilizando réplicas dos objetos artísticos e investigativos criados pela artista. “A ideia é mostrar quem é a pessoa Lygia, revelando o profundo vínculo de sua obra com seu universo psico-afetivo e sua vivência pessoal”, explica Maria Clara, responsável pelo texto final.
“Rompendo barreiras como toda a obra da artista, a peça será apresentada sobre o gramado, ao ar livre, sem o comprometimento do palco, sem a rigidez do teatro”, explica Bel Kutner, sobre o local da encenação, o jardim da Fazenda Cachoeira, uma das mais antigas do Vale do Paraíba, de 1750. Depois do espetáculo, o crítico de arte Paulo Sergio Duarte falará sobre a obra da artista. Outra novidade é o próprio cenário da peça, como explica Durcésio Mello, proprietário da Fazenda Cachoeira: “Construído com tijolo, cimento e ferro, baseado nas pinturas neoconcretistas de Lygia Clark, o trabalho se transformará em um módulo ativo do pensamento poético da artista e ficará permanentemente no jardim da fazenda para visitação de alunos das escolas da região e do público em geral. É importante frisar o caráter comunitário desse projeto”.
Nos dias 13, 14, 15, 20, 21 e 22 de março, a A2 + Mul.ti.plo, única galeria de arte contemporânea de Petrópolis, apresenta uma exposição com réplicas de obras de Lygia Clark. Estarão lá peças emblemáticas como objetos criados com fins artísticos e sensoriais; exemplares da série “Bichos”, esculturas geométricas e interativas em metal na qual cada parte se move por meio de dobradiças; o Livro-obra; entre outras. A entrada é franca.
“Comemorar o centenário de Lygia Clark no Vale das Videiras é um privilégio sem medidas. Lygia é a artista brasileira mais celebrada nos grandes meios de arte internacionais e precisa ser mais conhecida e compreendida no Brasil”, diz Maneco Müller, sócio da A2 + Mul.ti.plo. “Lygia Clark explorou e expandiu as fronteiras da modernidade. Ela fez a passagem do moderno ao contemporâneo, do moderno ao pós-moderno, do moderno ao hipermoderno, seja lá o nome que queremos dar a esse momento que estamos vivendo agora. Na poética da obra de Lygia Clark assistimos a essa passagem histórica”, explica Paulo Sergio Duarte.

 

Sobre Lygia Clark

 

Lygia Pimentel Lins (Belo Horizonte, MG, 23 de outubro de 1920 – Rio de Janeiro, RJ, 25 de abril de 1988). Pintora, escultora. Muda-se para o Rio de Janeiro, em 1947, e inicia aprendizado artístico com Burle Marx (1909-1994). Entre 1950 e 1952, vive em Paris (França), onde estuda com Fernand Léger (1881-1955), Arpad Szenes (1897-1985) e Isaac Dobrinsky (1891-1973). Em 1952, realiza sua primeira exposição, no L’Institute Endoplastique, em Paris. De volta ao Brasil, integra o Grupo Frente, liderado por Ivan Serpa (1923-1973), expõe no Salão do Ministério da Educação e é uma das fundadoras do Grupo Neoconcreto. Gradualmente, troca a pintura pela experiência com objetos tridimensionais. Em 1960, com a série “Bichos”, abre um diálogo entre obra e pessoa, a partir de construções metálicas geométricas que se articulam por meio de dobradiças que buscam a coparticipação do espectador. Nesse ano, leciona artes plásticas no Instituto Nacional de Educação dos Surdos, no Rio de Janeiro. Dedica-se à exploração sensorial em trabalhos como “A Casa É o Corpo”, de 1968. Participa das exposições “Opinião 66” e “Nova Objetividade Brasileira”, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ). De meados de 1960 até 1976, reside em Paris, lecionando Comunicação Gestual, a partir de 1970, na Faculté d´Arts Plastiques St. Charles, na Sorbonne. Nesse período, sua atividade se afasta da produção de objetos estéticos e volta-se sobretudo para experiências corporais em que materiais quaisquer estabelecem relação entre os participantes. Retorna ao Brasil em 1976, dedicando-se ao estudo da memória do corpo, a partir de experiências sensoriais e terapêuticas. Sua prática fará com que, no final da vida, a artista considere seu trabalho definitivamente alheio à arte e próximo à psicanálise. A partir dos anos 1980, sua obra ganha reconhecimento internacional, com retrospectivas em capitais de vários países e em mostras antológicas da arte internacional do pós-guerra.

 

Sobre a A2 + Mul.ti.plo

 

Única galeria de arte contemporânea em Petrópolis, a A2 + Mul.ti.plo é um projeto de expansão da Mul.ti.plo Espaço Arte em parceria com a A2. A ideia é levar até a região serrana do estado do Rio de Janeiro uma seleção de obras de grandes nomes da arte contemporânea brasileira e estrangeira que fazem parte do acervo da Mul.ti.plo. É uma oportunidade para o público da região de Petrópolis ver de perto trabalhos de artistas como Tunga, Georg Baselitz, José Pedro Croft, Derek Sullivan, Ross Bleckner, Jannis Kounellis, Eduardo Sued, Maria-Carmen Perlingeiro, Daniela Antonelli, Daniel Feingold e Mariana Manhães. A galeria fica no Armazém das Videiras – Estrada Almirante Paulo Meira, 8.400, loja 5- Petrópolis.

 

Sobre a Associação Lygia Clark

 

A Associação Cultural “O Mundo de Lygia Clark” é uma entidade sem fins lucrativos fundada em maio de 2001 para organizar todo o material documental referente à trajetória da artista. Tem como principal objetivo disseminar a vida e a obra de Lygia Clark no mundo, promovendo e organizando junto a parceiros, eventos, publicações e exposições sobre a artista. Também realiza o processo de certificação de obras de Lygia Clark. Hoje, existe atualmente um acervo de 6000 imagens e 15000 laudas de documentos. Esse acervo funciona, acima de tudo, como um arquivo dinâmico, que é atualizado à medida em que novos documentos são pesquisados ou criados pelo campo da crítica de arte ou por acadêmicos. O acervo concentra a ideia de um estudo amplo sobre a atividade artística de Lygia, tornando a associação cultural uma referência para o estudo da arte contemporânea brasileira, disponível para pesquisadores no Brasil e no mundo.

 

Programação

 

Dia 14 de março (sábado), às 19h / Apresentação da peça “Lygia.” / Ingresso: R$ 50,00 / Classificação indicativa: 12 anos / Local: Fazenda Cachoeira / End.: Estrada Almirante Paulo Meira, s/n (logo depois do Condomínio Morro do Cuca)
Dias 13, 14, 15, 20, 21 e 22 de março, de 11h às 16h
Exposição de réplicas de Lygia Clark / Local: Galeria A2 + Mul.ti.plo / Entrada franca / End.: Armazém das Videiras – Estrada Almirante Paulo Meira, 8.400, loja 5 – Petrópolis / Tel.: +55 24 2225-8802
Dias 13 e 20 de março
Atividades educativas na Galeria A2 + Mul.ti.plo com alunos da Escola Municipal Vale das Videiras / End.: Armazém das Videiras – Estrada Almirante Paulo Meira, 8.400, loja 5 – Petrópolis / Tel.: +55 24 2225-8802

Milanesa na Anita Schwartz

10/fev

Será aberta no dia 12 de fevereiro, às 19h, no segundo andar da galeria Anita Schwartz Galeria de Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, a exposição “Milanesa”, composta de seis pinturas de Felipe Barsuglia, artista nascido em 1989, Rio de Janeiro, RJ. Felipe Barsuglia é um jovem artista conhecido por transitar por várias mídias. O texto que acompanhará a mostra é de Germano Dushá. A mostra integra o “Projeto Verão#1”, que segue até o dia 14 de março de 2020, com entrada gratuita, e uma programação intensa: performances diversas, com música, poesia, acrobacia, instalações sonoras, exposições-cápsulas, cinema, aula de modelo vivo e bar temático. A exposição permanecerá em exibição até 14 de março.

Projeto Verão #1

23/jan

Anita Schwartz Galeria, Baixo Gávea, Rio de Janeiro, RJ, realiza o “Projeto Verão #1”, com uma programação intensa desde 22 de janeiro a 14 de março, das 19h às 22h: performances diversas, com música, poesia, acrobacia, instalações sonoras, exposições-cápsulas, cinema, aula de modelo vivo e bar temático, com entrada gratuita.

 

Participarão do projeto mais de 20 artistas, como Alexandre Vogler e Cadu, representados pela galeria, Botika, Paulo Tiefenthaler, Amora Pera, Guga Ferraz, e outros artistas visuais, bailarinos, músicos, poetas e cineastas. O escritor Nilton Bonder fará uma conversa aberta após a exibição do documentário “A Alma Imoral”, de Silvio Tendler, e durante todas as noites do período funcionará no terraço o Bar Pinkontolgy, de Gabriela Davies, curadora da Vila Aymoré, com drinques criados especialmente para o Projeto Verão #1,

 

Enquanto o “cubão branco” no térreo, com seus sete metros de altura, receberá às quartas-feiras uma programação de performances, o último andar abrigará duas exposições: “Bebendo Água no Saara”, com trabalhos de Laís Amaral (até 08 de fevereiro), e “Milanesa”, de Felipe Barsuglia.

 

As performances no grande espaço térreo são:

 

22 de janeiro, das 19h às 21h – “Onda (sonata de|s|encontro)”, com Jéssica Senra. Nesta instalação-performance, o corpo é o centro de uma experiência que busca em sonhos a construção de múltiplas temporalidades, em que a “onda” é vista como água, estado utópico, caminho de abertura, para uma construção – imagética e sonora – em expansão, em que cria sua própria realidade.

 

29 de janeiro, das 19h às 21h – Encontrão de poetas, com curadoria de Ítalo Diblasi, e coordenação de Bianca Madruga e Letícia Tandeta, do coletivo MESA. A ação busca transformar a palavra falada em obra de arte, deixar que a poesia encontre o espaço em branco e o ocupe. Criada pelas artistas em 2015, no Morro da Conceição, a MESA é integrada também pela curadora Pollyana Quintella e a pesquisadora e doutoranda em filosofia Jessica Di Chiara. Participarão os poetas Guilherme Zarvos, Julia de Souza, Laura Liuzzi, Marcelo Reis de Mello, Mariano Marovatto, Nina Zur e Rita Isadora Pessoa.

 

5 de fevereiro, das 19h às 21h – Aplique de Carne, de Alexandre Vogler, Botika e Paulo Tiefenthaler. Projeto multidisciplinar que reúne artes plásticas, cinema, performance e rock and roll, construído sob estrutura literária – a fábula de Aplique de Carne.

 

Elenco: Aplique de Carne – Nana Carneiro da Cunha; Apliquete – Amora Pera; Apliquete – Botika; Apliquete – Flavia Belchior; Namorado – Guga Ferraz

 

Músicos: Bernardo Botkay, Emiliano 7, Flavia Belchior, Nana Carneiro

 

12 de fevereiro, das 19h às 20h-– “Repertório N.1”, com Davi Pontes e Wallace Ferreira – Indicação etária: 18 anos – A obra nomeia uma trilogia de práticas coreográficas que investem na ideia de dança como um treino de autodefesa. O movimento pode ativar a memória dos corpos subalternos que foram enterrados sob códigos hegemônicos? O movimento visto como um dilema da modernidade, de que maneira se pode reivindicar uma outra temporalidade dançada, menos contaminada pelos cacos da “história da dança”? A assistência de dramaturgia é de Bruno Reis.

 

19 de fevereiro, das 19h às 21h – Aula aberta de modelo vivo, com Cadu. Material sugerido: bloco de papel e lápis. Inscrições prévias pelo email: galeria@anitaschwartz.com.br ou pelo telefone: 2540.6446.

 

7 de março (sábado), “Mão – translação da casa sobre a paisagem” (75’), com os bailarinos Adelly Costantini, Camila Moura, Carolina Cony, Fernando Nicolini, Daniel Poittevin e Fábio Freitas. Performance de rua em que se construirá na frente do público uma estrutura de sete metros de altura, em ferro e madeira. Movimentos ordinários de uma construção, tais como aparafusar, carregar e encaixar, se misturam aos equilíbrios em pêndulo, às escorregadas acrobáticas em uma enorme rampa de madeira, aos saltos e giros durante a edificação da própria estrutura. Inspirado na mão de obra de construções no espaço público e na força de trabalho que ergue lonas e estruturas de circo, “Mão” é a sua própria construção.

 

Músicos: Ricardo Dias Gomes e Marcelo Callado

Direção: Renato Linhares

Direção técnica: Daniel Elias

Cenografia: Estúdio Chão (Adriano Carneiro de Mendonça e Antonio Pedro Coutinho)

Trilha sonora: Ricardo Dias Gomes

 

11 de março, das 19h às 21h – Exibição do documentário “A Alma Imoral” (1h58’), de Silvio Tendler, seguida de conversa aberta com Nilton Bonder, autor do livro homônimo – Indicação etária: maiores de 14 anos – Silvio Tendler aborda questões sobre a possibilidade de se impulsionar a própria vida; as diferenças entre a concepção científica e a concepção bíblica na interpretação da vida; o que é alma e corpo? Apoio: LZ Studio (móveis) – Para Nilton Bonder, a “transgressão é o elemento capaz de renovar a vida, de impulsioná-la a um novo horizonte de possibilidades”. “Essa transgressão está localizada na alma”. “Alma Imoral” é um projeto instigador, poético e filosófico, com a direção de Silvio Tendler, trazendo o best-seller do Rabino Nilton Bonder para as telas. Bonder, personagem condutor, partirá numa jornada na busca da Alma Imoral pelo Brasil, EUA e Israel, entrevistando destacados transgressores do pensamento e da atualidade em sua própria “tribo”. Tratando o particular como modelo para o universal, como o fez no sucesso da obra teatral, Bonder parte de seu próprio mundo e tribo para abordar adultério, ateísmo, homossexualidade, traição, rompimento e inovação na diversidade da política, religião, arte e ciência. As entrevistas são entremeadas por coreografias da Cia de Danças Debora Colker. Passagens e mitos bíblicos revelam a arte de transitar no território da interdição e da transgressão e trazem uma nova reflexão sobre o que é lícito e apropriado, sobre o tabu e sua quebra. Um filme sobre a importância da transgressão para impulsionar a vida. Entre os entrevistados estão: Frans Krajcberg, Michael Lerner, Rebbeca Goldstein, Etgar Keret, Uri Avneri, Reb Zalman Schachter, Rabino Steven Greenberg, Noam Chomsky, e os irmãos Rosenberg.

 

Exposições-Cápsulas

 

No espaço expositivo do segundo andar, ao lado do terraço, foi inaugurada no dia 22 de janeiro “Bebendo Água no Saara”, com seis pinturas de Laís Amaral, que ficará em cartaz até 08 de fevereiro. O texto que acompanha a exposição é de Agrippina Manhattan. A artista parte de processos de desertificação e embranquecimento da natureza para fazer um paralelo com o ser humano, “dada a imposição de um sistema de organização de mundo moderno-colonial”. Para ela, “Bebendo água no Saara” se revela como uma busca de expandir possibilidades de existir e comunicar, um processo de fertilização subjetiva, onde umedecer acontece pelo gesto da manifestação plástica”. “Tal experiência está diretamente conectada a mistérios de uma realidade sensível que permeia a memória e o agora”, afirma.

 

No dia 12 de fevereiro, será aberta no segundo andar a exposição “Milanesa”, com seis pinturas de Felipe Barsuglia, artista conhecido por transitar por várias mídias. O texto que acompanhará a mostra é de Germano Dushá, e a exposição permanecerá em cartaz até 14 de março.

Mostra inédita de No Martins

01/nov

A Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea, Gamboa, Rio de Janeiro, RJ, exibe a exposição “Aos que foram, aos que aqui estão e aos que virão”, do artista visual paulistano, No Martins, curadoria de Marco Antonio Teobaldo. O artista aponta o seu interesse para as questões vividas pela população negra no Brasil, cuja perspectiva da desigualdade torna-se material fértil para a sua produção artística. Segundo análise do curador da mostra, “…a violência contra o povo negro que parece nunca ter cessado, é evidenciada na poética de No Martins, que emociona com a força de seu grito silencioso”.

 

Em recente viagem para África, para o programa de residência artística Angola Air, No Martins deu continuidade à pintura dos retratos iniciados no Brasil, da “série Pretos Novos”, em pequenos formatos e que remetem às fotografias 3×4, com rostos de pessoas que ele conheceu e fotografou, cujos ancestrais bantos foram brutalmente mortos e sepultados no Cemitério dos Pretos Novos (1789 – 1830). No Martins desenvolveu uma pesquisa sobre a rota escravocrata a partir do porto de Luanda, que resultou na performance que dá o título desta mostra, “Aos que foram, aos que aqui estão e aos que virão”, na qual ele acende três velas com 1,70 de altura e mais de 50 quilos cada uma, na praia do Museu da Escravatura. Este trabalho é apresentado em vídeo e propõe uma reflexão sobre o passado, presente e futuro, em que nesta linha tênue do tempo, a partida daquelas pessoas escravizadas para as Américas, ainda afeta a vida de seus descendentes nos dois continentes.

 

Na noite da abertura da exposição, ocorreu o debate “Arte Contemporânea de Angola a Diáspora”, que se propõe a gerar um diálogo intergeracional sobre arte contemporânea africana e afrodescendente, no qual foi tratada a relação entre decolonialidade ética e estética. Este recorte atravessa tempo espaço e as próprias lutas, com a participação do artista angolano Kapela Paulo, considerado o papa da Arte Contemporânea em seu país, da artista afro-escocesa Sekai Machache e de No Martins, mediado por Ana Beatriz Almeida, colaboradora da 01.01 Art Platform.