Um Diálogo Artístico Inovador

08/dez

 

 A NONADA ZN, encerrando sua agenda expositiva de 2023, exibe duas mostras distintas que convergem em um espaço de exploração artística único. A exposição coletiva “Caos Primordial”, sob curadoria de Carolina Carreteiro, e a individual “Nada mais disse”, de Raphael Medeiros, estarão em exibição nas três salas expositivas e no Galpão, respectivamente, no térreo da fábrica da Penha, Rio de Janeiro.

“Caos Primordial” é uma exposição coletiva que reúne mais de 40 artistas notáveis, cada um contribuindo para uma narrativa coletiva que se desdobra sob o novo paradigma estético apresentado por Félix Guattari em “Caosmose”. As cerca de 80 obras, entre pintura, escultura, instalação, fotografia e vídeo arte, são assinadas por nomes como Alexandre Canônico, Allan Pinheiro, Amorí, Ana Matheus Abbade, André Barion, Andy Villela, Anna Bella Geiger, Bruno Alves, Bruno Novelli, Camila Lacerda, Chacha Barja, Cipriano, Daniel Mello, David Zink Yi, Ernesto Neto, Fabíola Trinca, Iah Bahia, Lucas Almeida, Luisa Brandelli, Mariano Barone, Marta Supernova, Melissa de Oliveira, Miguel Afa, Nati Canto, Olav Alexander, R. Trompaz, Rafael D’Aló, Rafael Plaisant, Raphael Medeiros, Rena Machado, Richard Serra, Rubens Gerchman, Samara Paiva, Siwaju, Tatiana Dalla Bona, Thiago Rocha Pitta, Tiago Carneiro da Cunha, Túlio Costa,Tunga, Varone e Zé Bezerra que participam deste diálogo artístico sob uma curadoria perspicaz. A abstração radical emerge como uma ruptura profunda com as tradicionais concepções de arte e pensamento, baseadas no paradigma da separação. Esta mesma abstração convida-nos a explorar as dobras entre o caos e a ordem, transformando a estética em um terreno de experimentação que desafia categorias pré-estabelecidas. A curadora Carolina Carreteiro destaca que, “…sob essa perspectiva, a estética se torna uma ferramenta para experimentação e pesquisa, transcendendo os limites da compreensão convencional e criando a partir do próprio caos criativo. “Caos Primordial” é um evento multifacetado, representando uma abordagem diversificada e inovadora no cenário artístico contemporâneo”.

 

“Nada mais disse” de Raphael Medeiros

No Galpão da NONADA ZN, em exibição “Nada mais disse”, a primeira exposição individual de Raphael Medeiros. Este trabalho híbrido transcende as definições convencionais de um filme, apresentando uma instalação cinematográfica composta por pinturas, esculturas e um roteiro. Medeiros faz anotações sobre a linguagem do cinema para além da moldura do plano, convidando os espectadores a explorar a linguagem cinematográfica em sua totalidade. 

Obs: Para uma experiência ideal, recomenda-se visitar o Galpão ao anoitecer, quando a condição de luz oferece a atmosfera perfeita para apreciar a instalação em toda a sua profundidade.

 

A galeria

NONADA, um neologismo que remete ao não lugar e a não existência, também abre “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa e a união desses conceitos representa o pensamento basilar desse projeto. Como o próprio significado de NONADA diz, ela surge com o intuito de suprir lacunas momentâneas ou permanentes acerca de um novo conceito. A galeria, inclusiva e não sectária, enquanto agente promotor de encontros e descobertas com anseio pela experimentação, ilustra possibilidades de distanciar-se de rótulos enquanto amplia diálogos. “NONADA é um híbrido que pesquisa, acolhe, expõe e dialoga. Deixa de ser nada e passa a ser essência por acreditar que o mundo precisa de arte… e arte por si só já é lugar”, definem João Paulo, Ludwig, Luiz e Paulo. A NONADA mostrou-se necessária após a constatação, por seus criadores, da imensa quantidade de trabalhos de boa qualidade de artistas estranhos aos circuitos formais e que trabalham com os temas do hoje, sem receio nem temor em abordar temas políticos, identitários, de gênero ou qualquer outro assunto que esteja na agenda do dia; que seja importante no hoje. “Queremos apresentar de forma plural novos talentos, visões e força criativa”. O processo de maturação do projeto da NONADA foi orgânico e plural pois “abrangeu desde nossa experiência como também indicações de artistas, curadores, e de buscas onde fosse possível achar o que aguardava para ser descoberto”, diz Paulo Azeco. 

 

Museu da República exibe Yoko Nishio

 

A Galeria do Lago, no Museu da República, Catete, Rio de Janeiro, RJ, exibe – até 10 de março de 2024 – a exposição “Corpo Formoso”, com 11 pinturas inéditas da artista carioca Yoko Nishio, que faz sua primeira exposição individual, depois de ter participado de diversas coletivas no próprio Museu da República, no Centro Cultural Correios de Niterói e no Sesc Teresópolis, entre outros reconhecidos museus e galerias.

Com cores fortes e vibrantes, em tinta a óleo sobre tela, as pinturas, têm como tema a relação entre o corpo e a cidade, destacando os ornamentos que a artista vê nas pessoas e nos lugares, combinados às suas memórias e fabulações. Estão retratados nas obras a feirante de Vila Isabel, com sua tatuagem no braço; pai e filho arrumados para uma festa em Cabuçu, em Nova Iguaçu; corpos que caminham na multidão de Calolé, na Bahia; as senhoras que conversam no bairro do Encantado, no Rio de Janeiro, com estampas combinando com os ornamentos das fachadas; o bar em Madureira, cujos azulejos ornam com as roupas dos frequentadores; o homem que mostra orgulhoso a tatuagem com nome de seu filho no pescoço, entre muitos outros.

“O olhar interessado e atento de Yoko encontra nos anônimos que percorrem as ruas de cidades também sem identificação alguma, o objeto de seu interesse. O corpo se faz formoso porque é essencial. É necessário que a beleza e o cuidado prevaleçam sobre tudo que pode nos derrotar. Encontrar o prazer de enfeitar muros, casas, corpos ou vestimentas é uma maneira de dizer ao empobrecimento, às perdas diárias que sofremos, às muitas faltas na vida, que nada é mais forte do que a vontade de superar. Procurar a alegria das cores e estampas faz parte de uma cultura de sobrevivência que o olhar da artista captura e compartilha com a mesma alegria”, afirma a curadora Isabel Portella.

Yoko Nishio sempre teve na vida urbana, nas cidades e nas pessoas a inspiração para o seu trabalho artístico. “Minha pesquisa tem esse aspecto de campo, de andar, procurar, fotografar, conversar, o ateliê é só mais uma etapa de uma construção que começa muito antes”, conta a artista, que também é professora e pesquisadora. Desta forma, os trabalhos sempre surgem na rua. E não foi diferente com esta nova série. Em Belém do Pará, ao ver uma pessoa ornamentada com diversas estampas, iniciou a pesquisa que deu origem aos trabalhos que são apresentados na atual exposição. Apesar de ter começado a partir de uma estampa, a série fala sobre os ornamentos de forma geral. “Não é só estampa, também está na pele, na tatuagem, nos acessórios, como brincos, colares, pulseiras, e também nas cidades, nas superfícies das casas, dos bares, nos pisos, nas grades”, explica a artista, que completa: “São muito corpos, é o meu corpo, o corpo do outro e o corpo da cidade”.

Os títulos das obras são os nomes dos locais onde os ornamentos foram encontrados, que inclui muitos bairros do Rio de Janeiro e vários outros estados brasileiros, mostrando a diversidade dos corpos, das cores, dos ornamentos, nas pessoas e nas cidades. Para realizar os trabalhos, a artista vai para as ruas de diversas cidades, fotografa o que chama a sua atenção, tanto de maneira mais posada, como também colocando a câmera mais baixa, na altura do seu corpo, de forma a mostrar o que seu corpo está vendo. “As faces nem sempre me interessam tanto, mas sim estar entre os corpos, por isso às vezes há alguns cortes, pois coloco a câmera mais baixa, de maneira que não pareça uma fotografia e sim meu corpo andando e captando todos aqueles ornamentos”, diz.

Durante a pesquisa, a artista lembrou do famoso livro “Ornamento e crime”, escrito em 1908 pelo arquiteto austríaco do início do século XX Adolf Loos, que afirmava que a ornamentação era uma prática de povos primitivos, de criminosos e de outros degenerados. Nos seus termos, as sociedades mais desenvolvidas e modernas deveriam rejeitar os usos da ornamentação na produção de suas roupas, casas e instrumentos. “Hoje, seu argumento é compreendido como uma fala impregnada por preconceitos social-darwinistas, racistas e coloniais. Ornar nos faz ver profundamente o cotidiano e onde está a resistência a ele; ornar desobedece a essas normatizações; ornar é in.corporar o agir. E essa expressão do movimento do corpo atravessa a cidade. Eis um convite: azulejos, grades, tatuagens, vestidos florais, enfeites, chão, piso, pele. A cidade também é corpo e caminhar pelas ruas faz com que o corpo ganhe contornos, já que a vida urbana é feita das relações corpo-cidade”, afirma Yoko Nishio. Para não associar seus trabalhos à teoria de Loos, de quem discorda totalmente, a artista optou por usar no título da mostra a palavra “formoso” ao invés de ornamento. “Quando comecei a pensar o que seria este corpo ornamentado, entendi que é um corpo que quer sorrir e cheguei na palavra formoso, um adjetivo que está na boca das pessoas mais velhas e está associado à beleza, a estar bem, a estar feliz. O corpo formoso é um corpo que sorri, que vibra, decora, para produzir alegria, felicidade. Isso não quer dizer que não tenha precariedade, dificuldade, luta, tristeza, mas apesar disso tudo a gente vai botar o ornamento para tentar sorrir”, diz a artista.

 

Sobre a artista

Yoko Nishio vive em Vila Isabel, leciona na Escola de Belas Artes da UFRJ e no seu ateliê, no Santo Cristo, zona portuária do Rio de Janeiro. Suas pinturas discutem cidade e violência e suas últimas exposições coletivas incluem “Nem Sempre Dias Iguais”, no Museu da República (Rio de Janeiro, 2022), “No (Entre) Tempo das Imagens”, no Sesc Teresópolis (Rio de Janeiro, 2022), “Brasil Delivery” e “Primavera Tua”, ambas no Espaço Travessia, do Instituto Municipal Nise da Silveira (Rio de Janeiro, 2022), “Salão Ver-Ão”, na Galeria Oasis, (Rio de Janeiro, 2022), “Nas águas que se escondem”, no Espaço Cultural dos Correios Niterói (Rio de Janeiro, 2019), “9º Salão dos Artistas Sem Galeria”, nas galerias Zipper e Sankovsky (São Paulo, 2018) e Orlando Lemos (Minas Gerais, 2018), “Abre Alas 14”, na galeria A Gentil Carioca (Rio de Janeiro, 2018). Atualmente é representada pela Diáspora Galeria, localizada em São Paulo.

 

Sobre a curadora

Isabel Sanson Portella é graduada em museologia pela UNI-RIO (1989-1992), com especialização em História e Arquitetura do Brasil pela PUC-RJ (1995-1996), Mestrado (1998-2000) e Doutorado (2006-2010) em Crítica e História da Arte pela Escola de Belas-Artes/UFRJ. Atualmente é Coordenadora e curadora da Galeria do Lago Arte Contemporânea do Museu da República (IBRAM). Crítica e curadora independente desde 2005, com textos e entrevistas em várias publicações (catálogos, periódicos e livros), elaborou textos de diversas exposições, entre elas: Intervenções Urbanas Bradesco ArtRio 2015 e 2016 e da exposição “Aquilo que nos une”, no Centro Cultural da Caixa Federal-SP. Em 2022, foi co-curadora do Projeto Decorporeidade: poéticas artísticas da deficiência selecionado no apoio às artes da DGArtes, Portugal e 2023 foi autora de um artigo sobre acessibilidade no livro “Hackeando o Poder”, de Pamnella Castro.

 

Acessibilidade 

Com o objetivo de promover a acessibilidade, a exposição contará com mediação acessível e todas as obras terão audiodescrição, disponibilizada através de QR Code. A ideia é proporcionar uma paisagem sonora e uma vivência com a obra para todos os públicos. A produção é de Camilia Oliveira e da antropóloga Bárbara Copque, com narração de Ana Paula Conde e Yoko Nishio.

 

Deserto e sertão de Heloísa Maia

Enquanto visitava o Marrocos, a artista plástica paraibana Heloísa Maia teve uma epifania. Ela viu o Marrocos no sertão nordestino, e o sertão no Marrocos. Dessa sua percepção, que envolve fisionomias, paisagens, flores, bichos, nuanças de cores, silêncios e uma incrível luminosidade, nasceu sua exposição “Deserto. (De)sertão, Sertão… Ancestral”, na galeria da Igreja São Francisco, em João Pessoa. Uma obra que magnetiza. 

Tal inspiração de Heloísa brotou de memórias familiares, relatos de seu pai que em uma viagem identificou-se afetivamente com o Marrocos. Para materializar em quadros seu sentimento de vínculo àquele país, a artista trouxe de lá pigmentos minerais e materiais orgânicos, que misturou aos do nosso sertão. “A mostra é muito bonita. Eu a apreciei ainda mais por ter ouvido, na véspera, da própria Heloísa o que a motivou e inspirou. As fotos são do pátio interno azulejado da Igreja São Francisco”. 

Fonte: Hildegarde Angel Jones.

 

 

As formas expansivas de Diambe

A Simões de Assis, São Paulo, Curitiba, anuncia a representação de Diambe (Rio de Janeiro, 1993). Sua prática expande as noções de coreografia e escultura, desdobrando em instalações que também incorporam pinturas, filmes, têxteis e performances. Diambe explora possibilidades fabulativas de novos seres, elevando aspectos estéticos e ornamentais da natureza. Trata da materialidade ao lidar com o bronze e com formas reconhecíveis de povos diaspóricos, agora em novos arranjos, mimetizando outros seres ou criando novos integrantes de seu ambiente criado. Seu trabalho faz parte de relevantes coleções particulares e figura no acervo de importantes instituições, como: Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de Arte do Rio (MAR), entre outros.  

 

Destaque para Anna Bella Geiger

07/dez

A artista plástica Anna Bella Geiger ganha mostra especial de seu trabalho com pinturas e “macios” e integra coletiva “Abstrações Utópicas”, na Danielian Galeria, Gávea, Rio de Janeiro, RJ.

Ativa aos 90 anos, Anna Bella Geiger é a única artista remanescente da histórica “1ª Exposição de Arte Abstrata”, no Brasil, em 1953, no Quitandinha, em Petrópolis, RJ. Por isso, ela ganha uma homenagem especial na Danielian Galeria, com uma mostra dedicada a sua produção de telas e “Macios”, em que vem desenvolvendo suas experiências no campo da pintura nos últimos 30 anos. A exposição de Anna Bella Geiger inaugura o segundo andar do pavilhão recém-construído atrás da casa principal na Danielian Galeria.

Anna Bella Geiger também é consultora e integra a exposição “Abstrações Utópicas”, que a Danielian Galeria apresenta em sua casa principal, com aproximadamente 80 obras de mais de 50 importantes artistas, que exploraram o universo da abstração e criaram as bases desta vertente artística, presente até hoje em nosso cenário cultural, e berço da arte contemporânea brasileira.

A curadoria das duas mostras é de Marcus de Lontra Costa e Rafael Fortes Peixoto. As exposições ficarão em cartaz até 17 de fevereiro de 2024.

Diversas premiações

06/dez

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, venceu duas categorias do Prêmio Açorianos de Artes Plásticas: Destaque Instituição e Destaque Publicações, com o catálogo “Magliani”. 

Realizado pela Coordenação de Artes Visuais da Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa, a cerimônia ocorreu no Teatro Renascença. Também foram entregues os prêmios concedidos por parcerias. Carolina Grippa, curadora da exposição “Trama: Arte Têxtil no Rio Grande do Sul”, realizada em dezembro do ano passado pela Fundação Iberê Camargo e Ministério da Cultura/Governo Federal, com patrocínio da Petrobras, levou o prêmio de Jovem Curador(a), oferecido pela Aliança Francesa de Porto Alegre. Já Mauro Espíndola venceu o Prêmio de Residência Artística no Ateliê de Gravura, oferecido pela Fundação.

A Fundação Iberê Camargo tem o patrocínio do Grupo Gerdau, Itaú, Grupo Savar, Renner Coatings, Grupo GPS, Grupo IESA, CMPC, Savarauto Perto, Ventos do Sul, DLL Group, Lojas Pompéia e DLL Financial Solutions Partner; apoio da Renner, Dell Technologies, Pontal Shopping, Laghetto Hotéis, Coasa Auditoria, Syscom e Isend, e realização do Ministério da Cultura/ Governo Federal. 

 

Conversas entre Coleções

Em “Conversas entre Coleções” contamos com seis dos mais importantes acervos particulares. Propusemos-lhes o desafio de estabelecer conexões entre suas obras e aquelas da Coleção Roberto Marinho.

Além da qualidade dos trabalhos apresentados temos a oportunidade de observar seus critérios de reunião: diálogos em duplas; estabelecimento de parentescos e entornos de artistas reconhecidos com outros ainda em pouca evidência; diálogos de tempos diversos, intencionais ou reunidos pelo acaso; a trajetória brasileira de dois artistas judeus com migração provocada pela eclosão de guerras e perseguições na Europa da primeira metade do século XX; paisagens, geografias, mapas, ações afirmativas e questionamentos étnicos.

Uma rara reunião que é um convite ao prazer, à educação visual e à reflexão. Um momento mágico no qual produções de tempos e geografias tão díspares vivem juntas em nossa presença e sensibilidade. Tesouros e incentivos na construção diária de nossas vidas: um hoje composto de pretérito e futuro.

Lauro Cavalcanti

Diretor-Executivo da Casa Roberto Marinho

 

Uma seleção especial

A Gentil Carioca tem o prazer de apresentar para a Art Basel Miami 2023 (Stand C23) uma seleção especial de obras que traduzem a essência poética da galeria e o atual contexto mundial a partir da produção dos nossos artistas: Agrade Camíz, Ana Linnemann, Arjan Martins, Denilson Baniwa, O Bastardo, Jarbas Lopes, João Modé, Laura Lima, Marcela Cantuária, Maria Nepomuceno, Novíssimo Edgar, Renata Lucas, Rodrigo Torres, Vinicius Gerheim e Vivian Caccuri. Também apresentaremos um kabinett com obras de Sallisa Rosa.

 

Conjunto ímpar na Art Basel Miami Beach

Para a feira Art Basel Miami Beach 2023, entre 06 – 10 dezembro, no Miami Beach Convention Center 1901, Convention Center Drive Miami Beach, FL, a Simões de Assis reuniu um conjunto ímpar de artistas que se conectam e se aproximam por suas relações com a abstração espiritual ou intuitiva. Ainda que saibamos que as abordagens mais comuns na arte brasileira e latino-americana sejam concretistas, racionalistas, cartesianas ou mesmo matemáticas, a abstração também pode ser igualmente associada ao metafísico, ao etéreo e ao intuitivo. A seleção inclui obras de Abraham Palatnik, Ascânio MMM, Ayrson Heráclito, Carmelo Arden Quin, Emanoel Araujo, Gabriel de la Mora, Gonçalo Ivo, Heitor dos Prazeres, Ione Saldanha, Lygia Clark, Mano Penalva, Mestre Didi, Rodrigo Torres, Rubem Valentim, Serge Attukwei Clottey, Sergio Camargo e Zéh Palito – trabalhos que são articulados por suas naturezas ritualísticas, espirituais, mitológicas, folclóricas e cosmológicas. Mesmo nos tensionamentos entre a abstração informal, geométrica e a figuração, este conjunto enfatiza como diferentes materiais e meios contribuem para a expansão das possibilidades da abstração entre artistas de diferentes origens, gerações e suportes.

Exposição comemorativa no Quitandinha

30/nov

“Da Kutanda ao Quitandinha – 80 anos”, no Centro Cultural Sesc Quitandinha, revela fatos e artistas apagados da história oficial. O Sesc Rio de Janeiro tem o prazer de convidar, no dia 1º de dezembro de 2023, a partir das 10h, para a inauguração da exposição “Da Kutanda ao Quitandinha – 80 anos”, que abre as celebrações dos 80 anos do espaço inaugurado em 1944 como hotel-cassino, e que hoje sedia o Centro Cultural Sesc Quitandinha. A grandiosa exposição tem curadoria geral de Marcelo Campos, e é composta por seis núcleos. O público é recebido por um mapa do século 18, e pelas primeiras referências da presença de negros na Freguesia de Nossa Senhora de Inhomirim, base do povoamento da região, por meio da navegação do rio Piabanha e das fazendas que exploravam o trabalho escravizado, que deu origem à cidade que hoje conhecemos como Petrópolis. A mostra será acompanhada por uma programação cultural gratuita.

“Da Kutanda ao Quitandinha – 80 anos” irá destacar inicialmente as tecnologias trazidas pelos africanos, suas lideranças, e a quitanda-assentada no local onde está o Quitandinha – operada por mulheres pretas, e responsável por parte expressiva da economia do século 19. A palavra é derivada de kitanda, “feira”, e kutanda,”ir para longe”, no idioma quimbundo, falado em Angola, origem de muitos africanos que formam a grande população afro-brasileira.Vários artistas contemporâneos participam deste núcleo. Em outro segmento, Anna Bella Geiger (1933) ocupa um lugar central, com um documentário sobre ela feito especialmente para a exposição, e com obras que participaram da 1ª Exposição de Arte Abstrata, em 1953. Para se ter uma ideia do ambiente glamuroso do local em sua época de cassino, de 1944 a 1946, vários itens do mobiliário e da decoração foram recriados, além de uma galeria com reproduções de fotografias de época, pertencentes ao Instituto Moreira Salles. Bailes Black, de carnaval, funk, jambetes, Furacão 2000, nos anos 1970, também terão registros na exposição.

Dois importantes artistas negros, que tiveram forte presença no antigo hotel-cassino, ganham visibilidade e são homenageados. Tomás Santa Rosa (1909-1956), pintor, ilustrador, responsável pela inovação no design de capas de livros – “Cacau” (1934), de Jorge Amado, e “Caetés” (1933), de Graciliano Ramos, são exemplos – e importante cenógrafo – a peça “Vestido de Noiva” (1943), de Nelson Rodrigues, em 1943, marco no teatro brasileiro – e autor dos murais da piscina e do café-concerto, e da pintura decorativa de biombos do Quitandinha. Em outros dois espaços do CCSQ serão reproduzidas as decorações de carnaval do Rio, feitas por ele em 1954. Ativista dos movimentos étnico-raciais, trabalhou de 1947 a 1949 no Teatro Experimental do Negro, fundado por Abdias Nascimento (1914-2011). Já o gaúcho Wilson Tibério (1920-2005) fez nos salões do Quitandinha, em 1946, uma exposição com cerca de 130 obras. Militante político e antirracista, foi viver na França, fez constantes viagens à África, onde pesquisou o cotidiano das populações e ritos afro-brasileiros, criando várias pinturas, e participando de eventos sobre artes negras, como o 1º Congresso de escritores e artistas negros na Universidade de Sorbonne, Paris, em 1951, e do 1º Festival Mundial de Artes Negra, em Dacar, em 1966, hoje em dia um evento emblemático.

“Pensar e celebrar os 80 anos do Quitandinha, focando em arte e cultura, é rever uma história, sublinhar fatos, em sua maioria, desconhecidos, e cuidar para que uma sociedade desigual não permaneça”, afirma Marcelo Campos. “O Quitandinha foi protagonista nas relações da paz mundial, com a assinatura, em 1947, do tratado que se tornaria, anos depois, na Organização dos Estados Americanos, a OEA. Dois importantes artistas brasileiros, Tomás Santa Rosa e Wilson Tibério, realizaram murais e exposições neste local. A primeira mostra de arte abstrata do Brasil aconteceu lá. Portanto, a exposição “Da Kutanda ao Quitandinha” atravessará parte dessa história sob um olhar atual. Levantamos imagens de imprensa importantes e raras. Entrevistamos Anna Bella Geiger, uma das participantes da exposição de Arte abstrata”, assinala. “Realizar esta exposição é evidenciar a centralidade do Quitandinha, hoje, Centro Cultural Sesc, na realização de ações culturais”.

Até 25 de fevereiro de 2024.