Tarsila na Espanha.

17/mar

O Museu Guggenheim Bilbao, Espanha, em colaboração com grandes coleções internacionais, inaugurou em fevereiro uma exposição inédita de Tarsila do Amaral. O foco da mostra é a formação de Tarsila do Amaral no Cubismo e a transição para um estilo único, profundamente influenciado pela cultura brasileira.

A exposição no Guggenheim, que vai até 1º de junho, inclui um raro exemplar de “Nu cubista”, da década de 1920 – existem apenas três, todos em coleções privadas e de difícil acesso. A obra integra um conjunto da exposição sobre a formação de Tarsila do Amaral no Cubismo enquanto “escola de invenção”, fundamental para um estilo pessoal classificado pela própria artista como “brasileiro” e “moderno”.

O público, no entanto, nota na mostra a ausência de “A Negra”, uma das obras mais emblemáticas de Tarsila do Amaral, que esteve na exposição “Pintando o Brasil moderno”, no Museu de Luxemburgo, em Paris, entre outubro de 2024 e fevereiro, mas não seguiu para o Guggenheim de Bilbao.

O Guggenheim informa que “A Negra” é uma tela muito requisitada em mostras nacionais e internacionais e está no centro do novo esquema de apresentação da exposição permanente do Museu de Arte Contemporânea da USP. A mostra foca a representação do negro na arte moderna. Em novembro de 2024, enquanto esteve na capital francesa, a icônica obra de Tarsila do Amaral foi tema de dois dias de estudos sobre sua história e recepção desde a década de 1920 até aos dias de hoje.

Fonte: O Globo.

Sérgio Ferro no MAC USP.

14/mar

A produção de Sérgio Ferro documenta e desafia as estruturas de poder, evidenciando as tensões entre criação e opressão. A mostra propõe um olhar aprofundado sobre sua trajetória e as formas como sua obra dialoga com as lutas políticas e sociais; o público terá a oportunidade de explorar a produção do arquiteto por meio de documentos, maquetes, filmes e registros históricos que compõem um retrato profundo de sua trajetória. A mostra realizada no MAC USP até 15 de junho intitulada Sérgio Ferro – Trabalho Livre, mergulha na trajetória e no pensamento crítico do arquiteto, pintor e teórico cuja obra desafia as relações entre arte, arquitetura e sociedade.

Com curadoria de Fabio Magalhães, Maristela Almeida e Pedro Fiori Arantes, a exposição investiga como Sérgio Ferro desenvolveu um pensamento único sobre o trabalho, a produção artística e a arquitetura, pautado na resistência à opressão e na busca por uma prática verdadeiramente emancipada. A intersecção entre arte e política permeia sua obra, revelando a construção de uma visão crítica que atravessa diferentes campos de atuação. Desde sua participação no movimento Arquitetura Nova, ao lado de Flávio Império e Rodrigo Lefèvre, Sérgio Ferro reformulou as bases da crítica arquitetônica. Sua abordagem denuncia a exploração dos trabalhadores da construção civil e propõe uma revisão estrutural da disciplina, indo além da estética e das formas para analisar a materialidade e a organização do trabalho. Fotografias cedidas pelo Instituto Moreira Salles ilustram e ajudam a contextualizar a crítica do arquiteto ao modelo de produção vigente.

O discurso do novo representado.

 

A galeria A Gentil Carioca, São Paulo e Rio de Janeiro, anuncia a representação do artista Miguel Afa. O artista vive e trabalha no Rio de Janeiro. Começou sua trajetória por meio do graffiti em 2001, nas ruas e becos do Complexo do Alemão, e estudou na Escola de Belas Artes – UFRJ. Seu trabalho reflete sobre o corpo periférico, contrapondo suas adversidades e propondo uma nova leitura imagética que potencializa e valoriza o afeto. Suas obras alternam entre a sensibilidade poética e mensagens políticas diretas.

O olhar do artista transforma o que captura, dando-lhe uma aura própria por meio das cores que utiliza. Sua paleta amena não é mero recurso estético: é essencial à composição, ampliando a complexidade do que é representado. Longe de neutra, a cor é discurso e um posicionamento diante das cenas retratadas. Esmaecer não é apenas um gesto pictórico, mas um ato de lembrança e questionamento, revelando tanto o visível quanto o invisibilizado.

Em 2025, o artista apresenta uma exposição solo no Paço Imperial, no Rio de Janeiro, Brasil. Em 2024, participou das coletivas “Dos Brasis”, no Sesc Quitandinha, Petrópolis (itinerância da mostra apresentada no Sesc Belenzinho, São Paulo) e “O que te faz olhar para o céu?”, no Centro Cultural Correios Rio de Janeiro. No mesmo ano, realizou a individual “ENTRA PRA DENTRO”, na galeria A Gentil Carioca. Em 2023, realiza nova exibição individual “Em Construção” e participou da coletiva “Da Avenida à Harmonia”, ambas no Instituto Inclusartiz no Rio de Janeiro, Brasil. Suas obras fazem parte de coleções de destaque, como a Jorge M. Pérez Collection.

Galeria Paulo Kuczynski inaugura nova sede.

13/mar

A Galeria Paulo Kuczynski, referência no mercado de arte brasileira desde sua fundação em 1973, anuncia uma nova fase com a abertura de sua sede ampliada e modernizada. Projetada pelo escritório Reinach Mendonça Arquitetos – RMAA, a nova galeria foi erguida no mesmo local onde o marchand Paulo Kuczynski atuou por cinco décadas com seu Paulo Kuczynski Escritório de Arte. Para marcar essa transição histórica, a galeria apresenta uma exposição inédita dedicada à obra da pintora de origem alemã Eleonore Koch (1926-2018), artista que figurou em algumas edições da Bienal de São Paulo, e única discípula do mestre Alfredo Volpi. Intitulada Não são coisas do cotidiano, só parecem, a exposição promete ser um marco na trajetória da galeria e um tributo à obra desta artista singular, cuja genialidade continua a encantar colecionadores e admiradores em todo o mundo.

Segundo o historiador de arte Giancarlo Hannud, a mostra reúne um conjunto representativo de obras que traçam um panorama da trajetória de Eleonore Koch, desde seus primeiros trabalhos até suas últimas criações. “Mais de cinquenta anos separam o óleo Natureza-morta (1949) dos primeiros trabalhos sobreviventes de Eleonore Koch, da têmpera Despedida com tulipas (2001), possivelmente sua última obra”, destaca Giancarlo Hannud. “Se em 1949 vemos os passos iniciais da jovem estudante de escultura, já em 2001 testemunhamos o refinamento máximo de sua sensibilidade técnica e emocional, lentamente depurada ao longo de ausências e solidões. Ambas as pinturas destacam sua incessante busca pelo ordenar das coisas do mundo, possivelmente como resposta à desordem ao seu redor. Enigmáticas e distantes, elas nos provocam curiosidade e reflexão sem nunca se entregarem completamente na manipulação de suas cenografias do humano.”

A relação entre Paulo Kuczynski e Eleonore Koch remonta ao final dos anos 1970, quando o galerista adquiriu sua primeira obra da artista: uma tela marcante com uma cadeira vazia e solitária, num cômodo igualmente vazio. “Tive a sorte de comprar minha primeira obra de Eleonore Koch no final dos anos 1970”, relembra Paulo Kuczynski. “A cadeira, a única protagonista da cena. Desde então, sempre que olho para a obra, me pergunto a quem essa cadeira aguardava. Quem nela sentaria?”.

Ao longo dos anos, a amizade entre eles cresceu, assim como o interesse de Paulo Kuczynski pela obra de Eleonore Koch. Entre 2013 e 2015, já debilitada, a artista fez um pedido surpreendente ao galerista: que ele “herdasse” suas pinturas e arquivos pessoais, incluindo cerca de doze telas e centenas de estudos preparatórios. Esse legado agora ganha vida na exposição que inaugura a nova galeria, celebrando a memória e o impacto duradouro de uma das figuras mais enigmáticas da arte brasileira.

Um capítulo especial desta homenagem é a parceria com a colecionadora Clara Sancovsky, cujo olhar precursor foi fundamental para difundir e valorizar a obra de Eleonore Koch. “Se há alguém que difundiu, valorizou e abriu os olhos dos colecionadores para a pintura de Lore, essa pessoa é Clara Sancovsky. Seu olhar precursor flagrou e compreendeu a delicadeza da obra da artista”, escreve Paulo Kuczynski no catálogo da exposição. É um prazer imenso contar com obras de sua coleção, possivelmente as melhores, somadas às da galeria para esta mostra-homenagem a Eleonore Koch.”.

A mostra também resgata parte significativa da história de Eleonore Koch, incluindo sua amizade com Volpi, seus anos em Londres como tradutora na Scotland Yard e sua relação com o aristocrata Alistair McAlpine, mecenas que colecionou várias de suas obras. Infelizmente, grande parte dessa produção foi perdida em um incêndio na casa de campo de McAlpine, em 1990.

A nova sede da Galeria Paulo Kuczynski não apenas celebra meio século de dedicação à arte, mas também projeta o futuro, oferecendo um espaço moderno e acolhedor para artistas e colecionadores. O projeto arquitetônico de Reinach Mendonça une funcionalidade e elegância, criando um ambiente ideal para experiências imersivas com a arte.

Os 4 de Bagé em Brasília.

11/mar

A Caixa Cultural Brasília e a Fundação Iberê Camargo apresentam o legado do Grupo de Bagé. Mostra com mais de 180 obras de Carlos Scliar, Danúbio Gonçalves, Glauco Rodrigues e Glênio Bianchetti, abre no dia 18 de março e permanecerá em cartaz até 29 de junho.

Uma trincheira em defesa da liberdade na arte e na vida, cavada com as armas da inteligência e do bom humor na região sul do Rio Grande do Sul e conectada com os principais polos culturais do país. É o que caracteriza o legado de Pedro Wayne (1904-1951), escritor, poeta e jornalista e agitador cultural com enorme capacidade de articulação, inclusive nacional. Baiano que passou a infância em Pelotas, na metade sul do Rio Grande do Sul, chegou em Bagé em 1927, e lá exerceu uma extensa gama de atividades. Carlos Scliar (1920-2001), que tinha parentes morando em Bagé e ideias semelhantes às de Pedro Wayne, frequentava sua casa e o tinha como bom amigo.

Foi em torno deste importante personagem da cultura local que, na metade da década de 1940, Glauco Rodrigues (1929-2004) e Glênio Bianchetti (1928-2014), com 16 e 17 anos respectivamente, começaram a desenhar e a pintar. Pedro Wayne “adotou os guris” e mostrou a eles o que havia de mais avançado nas artes visuais na Europa. Mais tarde, o escritor introduziu Danúbio Gonçalves (1925-2019) ao “ateliê”, que trouxe para o Grupo, a partir de sua experiência na França. Já a influência da pintura moderna veio com a passagem do artista carioca José Moraes, que ficou um período na cidade quando ganhou uma bolsa de viagem de estudos.

Carlos Scliar, quando voltou de sua estada na Europa e participação na II Guerra Mundial, se interessou pelo movimento daqueles jovens e passou a frequentar, e praticamente liderar as atividades do Grupo interessados em realizar uma crítica social, levando-os a se envolver, na década de 1950, na criação do Clube de Gravura de Porto Alegre (1950) e do Clube de Gravura de Bagé (1951).

Inspirados no movimento do Taller de Gráfica Popular do México, os Clubes (que posteriormente foram unidos) criaram um importante e independente sistema de divulgação dos artistas regionais. Contar essa história é o objetivo principal da exposição. A versatilidade e a rica produção dos quatro artistas serão exibidas através de gravuras, pinturas, aquarelas e capas de revistas, a partir de novas leituras e percepções acerca do trabalho do Grupo. Com curadoria de Carolina Grippa e Caroline Hädrich, a exposição reúne mais de 180 itens como obras, ilustrações dos clubes de gravura de Bagé e de Porto Alegre, além de exemplares raros das revistas Horizonte, Senhor.

Sobre os artistas.

Carlos Scliar (1920-2001) – Nasceu em Santa Maria, interior do Rio Grande do Sul, e foi ainda pequeno para Porto Alegre, onde, com 11 anos, colaborou com as seções infanto-juvenis de jornais locais e, mais tarde, frequentou o departamento gráfico da Revista do Globo. Em 1940, foi para São Paulo e começou a fazer parte da Família Artística Paulista, mas após quatro anos foi para a Itália a serviço da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Segunda Guerra Mundial, entre 1958 e 1961, trabalhou como diretor artístico na Revista Senhor. Comprou, em 1964, um sobrando em Cabo Frio, RJ, onde morou e trabalhou por quarenta anos. No ano de seu falecimento, foi criado o Instituto Cultural Carlos Scliar, na cidade de Cabo Frio, e seu acervo se encontra atualmente tombado pela municipalidade.

Danúbio Gonçalves (1925-2019) – Nasceu em Bagé, fazendo parte de uma tradicional família de estancieiros da campanha. Aos sete anos, partiu para o Rio de Janeiro onde mais tarde teve aulas no ateliê de Cândido Portinari, manteve contato com outros pintores modernistas e participou de diversas edições do Salão Nacional de Belas Artes, recebendo prêmios e menções honrosas. Em 1950, foi estudar em Paris. Com um espírito imbuído dos ideais revolucionários e uma ligação com o Partido Comunista, Danúbio Gonçalves voltou ao Brasil e se juntou a Carlos Scliar, Glênio Bianchetti e Glauco Rodrigues, formando o Clube de Gravura de Porto Alegre e, posteriormente, o de Bagé. A partir de 1962, a convite do escultor Francisco Stockinger, passou a trabalhar no Ateliê Livre da Prefeitura de Porto Alegre, chegando a ser diretor. Lá, durante trinta anos ensinou litografia (técnica que aprendeu com Marcelo Grassmann, em 1962) e formou muitos artistas gravadores, atualmente reconhecidos no âmbito regional e nacional.

Glaudo Rodrigues (1929-2004) – Nasceu em Bagé e foi colega de escola de Glênio Bianchetti, com quem dividiu o interesse pela pintura. Recebeu ensinamentos sobre pintura de José Moraes e aproximou-se da gravura e, junto com Glênio, Danúbio e Scliar fundou, em 1951, o Clube de Gravura de Bagé e iniciaram suas viagens de estudos a estâncias da região. Com a união do Clube de Bagé ao de Porto Alegre, Glauco mudou-se para a capital gaúcha e, depois, em 1958, seguiu para o Rio de Janeiro.  Glauco Rodrigues participou da primeira Bienal de São Paulo, entrou na equipe da revista Senhor e começou a sua produção abstrata, que perdurou por 10 anos. Em 1962, viajou a Roma a convite do embaixador Hugo Gouthier para trabalhar no setor gráfico da embaixada brasileira, e ficou alguns anos na Itália. Nesse período, participou da delegação brasileira na Bienal de Veneza (1964), no mesmo ano em que os estadunidenses chamaram atenção pela sua produção pop. Retornou ao Brasil em 1966 e, aos poucos, a figuração voltou à sua obra, que seguiu até a sua morte.

Glênio Bianchetti (1928-2014) – Nasceu em Bagé, oriundo de uma família ligada ao comércio na cidade. Foi a mãe de sua namorada, Ailema (com quem posteriormente casou-se), que passou ensinamentos iniciais de pintura para ele e Glauco Rodrigues, que depois foram aperfeiçoados com a chegada de José Moraes a Bagé. Interessado pela pintura, ingressou no Instituto de Belas Artes em Porto Alegre no ano seguinte – mas não chegou a finalizar o curso.   Fundou, em 1951, ao lado de Glauco Rodrigues, Danúbio Gonçalves e Carlos Scliar, o Clube de Gravura de Bagé, tendo Bianchetti a maior produção de gravuras da época. Na década de 1960, mudou-se com sua família para Brasília (cidade onde viveu o resto de sua vida), devido ao convite de Darcy Ribeiro para lecionar na recém-inaugurada Universidade de Brasília, mas sendo afastado devido à perseguição na ditadura militar, sendo reintegrado apenas em 1988. Atualmente, sua casa-ateliê, com seu grande acervo, é mantida por sua família.

Encontros entre arte e design.

“Afinidades ancestrais” é uma ativação-exposição que interroga e celebra o vocabulário herdado de nossa situação afro-atlântica.

Na Semana de Design de São Paulo, a ProArte Galeria, Jardim América, São Paulo, SP, recebe o lançamento da coleção de vasos de cerâmica chinesa Serengeti, inspirada na riqueza cultural e paisagística da África Oriental. A idealização é de Marcelo Felmanas que, junto a J. Wair de Paula Jr., tenta produzir um diálogo entre os objetos de design e a arte brasileira – notoriamente donatária da cultura afro-brasileira.

Serengeti, que significa “lugar infinito” ou “planície sem fim”, remete à majestosa região que abriga o Parque Nacional de Serengeti, santuário natural de beleza inigualável. Assim como a paisagem da região africana, os vasos da coleção evocam uma estética orgânica e atemporal, refletindo a grandiosidade da fauna, o brilho das estrelas no céu do continente e as tradicionais cercas das aldeias Maasai. Referência na importação de móveis e objetos de design, a 6F Decorações coloca em destaque nesta mostra peças feitas à mão que dialogam com as expressões artísticas brasileiras ligadas às matrizes africanas. A pequena ativação-exposição, feita para a Semana de Design, acontece até 14 de março.

Esta pequena mostra procura traçar um paralelo entre as culturas dos povos africanos e a arte brasileira, explicitada através de nomes como Di Cavalcanti, Heitor dos Prazeres, Emanoel Araújo, Franz Krajcberg e outros. Busca-se demonstrar visualmente as possíveis ligações (assumidas ou não) entre estes grandes criadores e as culturas africanas.

Ars, Artis. Techne, Digitalis.

10/mar

O marchand Sergio Gonçalves abre exposição coletiva que aborda mídias digitais nos trabalhos de artistas brasileiros e estrangeiros. Vem do latim o nome da mostra que será apresentada a partir do dia 11 de março na Sergio Gonçalves Galeria, em uma casa na Alameda Gabriel Monteiro, Jardim América, São Paulo, SP.

“Ars, Artis. Techne, Digitalis.” segue o tema da edição deste ano da DW – Design Week de São Paulo,  “Mãos x Máquina”, destacando a interação entre tecnologia e criatividade na produção artística e no design contemporâneo. Nessa exposição, o marchand Sergio Gonçalves reúne artistas cujas obras provocam a reflexão sobre o impacto das mídias digitais nos tempos atuais. Em sua primeira participação na DW, a galeria reforça sua posição como um espaço de experimento na Arte Contemporânea, abrindo as portas para novas narrativas visuais, sempre em busca de inovação. Nesta curadoria, ele selecionou artistas que experimentaram e que ainda experimentam novas maneiras de expressão, unindo arte e tecnologia e criando um diálogo entre o toque humano e a precisão das máquinas. Nomes como Abraham Palatnik, Cruz-Diez e Martha Boto, por exemplo, que foram pioneiros com o uso de inovações, fazem parte desta seleção apurada, que conta ainda com Bruce Maclean, Julian Opie, Michael Craig-Martin, Vik Muniz e Toyota.

A palavrado curador.

Nosso objetivo é mostrar que, longe de substituir o artista, a tecnologia poder ser uma extensão da criativadade humana, ampliando possibilidades e transformando a maneira como percebemos a Arte e o Design, por exemplo.

Artistas participantes.

Abraham Palatnik, Alexandre Mazza, Bernard Pras, Bernardo Mora, Bruce Mclean, Catherine Yass, Cruz-Diez, Duda Rosa, Iván Navarro, Jê Américo, Julian Opie, Julio Le Parc, Martha Boto, Marcelo Magnani, Michael Craig-Martin, Sarah Morris, Vik Muniz, Yutaka Toyota.

Até 22 de março.

Um convite ao silêncio.

27/fev

A exposição de pinturas de Felipe Suzuki “E se a Lua for embora, o céu entenderá” encontra-se em seus últimos dias de exibição da Simões de Assis, Jardim Paulista, São Paulo, SP.

E se a Lua for embora, o céu entenderá

Conduzindo o olhar por um grupo de trabalhos que flertam com o gênero da paisagem e da natureza-morta, Felipe Suzuki impõe um estado de suspensão temporal onde memória e atualidade se dissolvem. Paira sobre a pele aveludada dos pêssegos, das pétalas de suas flores e do campo aberto de terrenos a esmo uma fina camada leitosa que dilata a apreensão da cena enquanto convida o olho a passear pelas rachaduras e caminhos da tinta. Se outrora a semelhante técnica do sfumato fora utilizada por mestres renascentistas para criar o artifício de uma “perspectiva aérea”, replicando as qualidades físicas da paisagem que se perde no horizonte, o uso adensado proposto por Suzuki inverte o sentido do realismo ótico para propor, em seu lugar, cenas movediças, onde a instabilidade da representação do objeto no meio pictórico mais se assemelha a sonho ou miragem. Produzidas mediante os usos de uma paleta de cores reduzida, em que o preto de marfim, o branco de titânio, o amarelo ocre e o vermelho sienna queimado são misturados e revirados ao avesso para a investigação de seus semitons e combinações, o artista produz um sistema que deriva de uma estrutura inicial. No cosmos que rege a sua produção, cria uma ordem de mônada, conceito-chave sugerido pelo matemático e filósofo alemão Gottfried Wilhelm Leibniz.

A sinestesia do silêncio

Suzuki explora a pintura a partir do instante e das múltiplas relações que ela estabelece com o espectador, criando profundidade e intensidade a partir do gênero da natureza-morta. A delicadeza se revela na sofisticação cromática e na representação dos objetos, enquanto a brutalidade surge na resolução prática de molduras feitas de pregos, unindo elementos antagônicos. Essa fusão captura as sutilezas do cotidiano, cristalizando-as em uma linguagem pictórica que transforma cenas comuns em representações carregadas de sensibilidade e nuances. Mesmo que, por vezes, figurativas, suas pinturas flertam com o abstrato devido ao jogo de cores que emplaca. A diversidade cromática que enxergamos em cada tela é, na verdade, resultado de um domínio técnico, permitindo que o artista manipule nossa retina ao fazer misturas com somente quatro tons. É nessa busca em expressar profundidade e contemplação que o artista pratica um resgate técnico clássico, em que a cor é uma sugestão e a singularidade é caracterizada por uma abordagem introspectiva e minimalista. Sua pintura é um convite ao silêncio, ao tempo pausado, onde cada elemento parece ser colocado com uma precisão pensada, dando ao espectador a chance de se perder nas sutilezas de suas composições. Ao mesmo tempo, carregam uma intensidade que emerge da simplicidade, convidando o público a contemplar o impacto do momento e da percepção, características tão presentes em sua produção.

Lucas Albuquerque e Luana Rosiello

Croquis carnavalescos.

26/fev

 

A Fundação Iberê Camargo, Bairro Cristal, Porto Alegre, RS, terá entrada gratuita neste final de semana de carnaval. O público poderá visitar as exposições que ocupam os quatro andares: Iberê 110 Anos – Minha Restinga Sêca, Iberê Camargo – Território das Águas e 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível – Itinerância Porto Alegre.

No domingo (02 de março), o Programa Educativo ministrará a oficina Croquis Carnavalescos, em diálogo com os desenhos criados por Iberê Camargo para peças de teatro e balé, entre eles a série de estudos de figurinos para o balé “As Icamiabas”, criada em 1959.

Oficina Croquis Carnavalescos

Quando: 02 de março | Domingo | 15h às 17h.

Número de participantes: 15 pessoas.

Faixa etária: a partir de 07 anos.

Lugares na pintura de Emeric Marcier.

A Galeria Evandro Carneiro Arte apresenta a exposição Lugares na pintura de Emeric Marcier que estará aberta ao público de 11 a 29 de março no Shopping Gávea Trade Center, salas 108 e 109.

Esta exibição traz 22 obras distribuídas em pinturas a óleo e aquarelas de Emeric Marcier que é considerado um dos mais importantes pintores modernos no Brasil. Artista romeno naturalizado brasileiro, esteve radicado no Brasil por quase meio século; dedicou grande parte de sua vida e obra à produção de pinturas de arte sacra, retratos, paisagens mineiras e aquarelas de paisagens europeias. A curadoria da exposição é de Evandro Carneiro.

Sobre o artista.

Emeric Marcier (Cluj 1916 – Paris 1990), um dos mais importantes pintores modernos do Brasil, nasceu em 21 de novembro de 1916, na Romênia. Judeu de origem, converteu-se ao catolicismo já no Brasil, por influência de seus amigos, Murilo Mendes, Jorge de Lima e Lucio Cardoso, que foi seu padrinho de batismo. De personalidade intensa, na primeira página de sua autobiografia, Deportado para a Vida (escrita entre 1988-1990 e publicada em 2004 pela Francisco Alves) se declara humanista e algo anarquista. Sua história confirma que a liberdade e a vocação artística sempre o guiaram. Aos 20 anos deixou Bucareste para estudar em Milão – na Academia de Belas Artes de Brera, onde após realizar a graduação, defendeu sua tese de final de curso sobre Picasso, em plena ascensão fascista. Com a deterioração das condições políticas na Itália, foi para a França, em 1939, onde montou um ateliê na Cité Falguière e cursou uma cadeira na Escola Nacional Superior de Belas Artes de Paris. Nesta cidade, conheceu e conviveu com muitos artistas, alguns dos quais continuaram amigos pela vida inteira, tais como os conterrâneos e surrealistas, Victor Brauner, Jacques Herold, Arpad Szenes, bem como a mulher deste, Maria Helena Vieira da Silva, portuguesa de origem. Quando a França entrou na guerra, foi para Lisboa, hospedando-se na casa de Arpad Szenes e Vieira da Silva, com a intenção de seguir para os EUA, destino de muitos judeus naquele momento. Em Lisboa trabalhou no ateliê do também surrealista António Da Costa. Relacionou-se com os escritores portugueses da época e ilustrou alguns números da Revista Presença, importante veículo de expressão dos intelectuais naquele momento. Com a negativa do visto para os Estados Unidos, resolveu partir para o Brasil. Em sua chegada ao Rio de Janeiro, em 1940, trouxe cartas de apresentação para José Lins do Rego, Mario de Andrade e Portinari. Logo nos primeiros momentos conheceu também Jorge de Lima e Lucio Cardoso que juntamente com José Lins do Rego, tornaram-se seus grandes amigos e o introduziram na vida intelectual carioca e teve a chance de realizar sua primeira exposição individual, no tradicional Salão do Palace Hotel, sede da Associação de Artistas Brasileiros. Guignard desistira de apresentar-se por ter tido uma de suas telas censuradas, retratando um fuzileiro naval negro. Assim, a sorte abriu-se para Marcier. A crítica foi muito favorável ao seu talento. Ainda um jovem artista surrealista europeu, mas já com prenúncios paisagísticos, como relata seu filho Matias (Depoimento oral à autora, em 2018): “em uma carta dirigida ao casal Arpad Szenes e Maria Helena Vieira da Silva (apelidada de “Bicho” por papai), na maneira como ele relata a viagem ao Brasil transparece o futuro paisagista…”.

Em 1942, o artista foi contratado pela Revista O Cruzeiro para fazer uma viagem às cidades históricas mineiras e compor uma reportagem ilustrada com suas telas. Uma edição histórica, com textos de Drummond, Aires da Matta Machado e outros.  Desde então, retratou o Brasil, a sua gente e seus costumes. As paisagens de Minas, Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro foram diversas vezes pintadas por ele e a expressão de nosso barroco o marcou desde a primeira viagem a Minas. Ainda segundo Matias, “Marcier era o típico pintor viajante”, tendo representado muitos lugares da Europa, com foco especial para Itália, França e Portugal. Trazia sempre com ele sua caixa de aquarelas e seus blocos de papel especial para ir retratando os lugares e as pessoas que o marcavam pelo mundo afora. Retornou várias vezes aos mesmos lugares, para repintá-los em diversas épocas, como por exemplo a Toscana e a Normandia, que são muito recorrentes em sua obra, como demonstram as aquarelas ora expostas.

Em 1948, o artista fixou residência no sítio de Barbacena, onde criou, com Julita, os seus sete filhos. Tempos felizes com a família na casa que construiu para acalmar as dores do exílio e dedicar-se à sua arte. No ateliê rural de grandes proporções, investiu com todo o empenho em telas de grandes dimensões, com temas sacros, à luz do sofrimento da humanidade e realizou as suas espetaculares “Paixões de Cristo” e “Via Sacra”. Experimentou de forma ainda mais efetiva os seus estudos sobre a luz na obra de arte: “Tinha aplicado uma técnica onde procurava separar o branco do resto, tratando-o simplesmente como luz. Preparava tudo com um branco que eu mesmo triturava, conforme uma fórmula do tempo de Rembrandt. Perdi mais de 15 anos com essas pesquisas, onde o impulso criador sempre ficava entravado por uma ideia fixa. Pintar escuro, mas luminoso. (…)” (Marcier, 2004, p. 134). Uma luz que ele buscava incansavelmente e sempre o acompanhou, tal qual um típico renascentista. Segundo Affonso Romano de Sant’Anna: “Na verdade, nessas telas aí há um ponto de luz, que só os mestres sabem produzir.” (Sant’Anna, 1983, p.46). Ainda nas palavras de Affonso Romano, a Paixão tão pintada por Marcier é a sua e não somente a de Cristo. “Pois ele também está no tempo. Estar no tempo ou no templo é estar na axis da história, no coração do ser. No tempo estamos crucificados. No tempo estamos esquartejados pela paixão”. (Sant’Anna, 1983, p. 29-30). Como humanista declarado, os horrores da Segunda Guerra o afligiam e a confluência entre a história sagrada e a profana em sua pintura revelam “as mágoas de um exílio” (Marcier, 2004, p.97) e os “traços sumários exprimindo a dor” (Idem, p.105). Há algo demasiadamente humano que se expressa em meio às cenas bíblicas pintadas, como os aviões da Segunda Guerra Mundial na obra Torre de Babel (1947) da Capela de Mauá (SP) e os capacetes modernos – lembrando os de soldados fascistas – dos guardas que prendem Jesus Cristo. Ou, ainda, quando ele mesmo surge retratado em seu Ecce Homo (1982/1983). Ao longo dos anos, Marcier fez dezenas de exposições individuais no Brasil e no mundo, mas destacamos aqui a mostra inaugural da Galeria Relevo, em 1961, com a temática dos 25 anos de seus desenhos. Famoso por suas pinturas sacras (Marcier é considerado o mais importante pintor sacro do Brasil), o artista foi um grande paisagista. Além de pintar em suportes de grandes dimensões, ele também aquarelava as paisagens por onde passava, em formatos menores. A exposição que ora se realiza pela Galeria Evandro Carneiro Arte selecionou um conjunto dessas aquarelas, além de alguns óleos importantes de paisagens típicas do pintor.

Laura Olivieri Carneiro, fevereiro de 2025.