Gerentes de novas ansiedades

13/mar

A Galeria Marcelo Guarnieri tem o prazer de apresentar, entre 18 de março e 22 de abril, “Gerentes de novas ansiedades”, primeira exposição individual de RAU no mezanino de nosso espaço em São Paulo. A mostra, que marca a estreia do artista no circuito comercial, reúne cerca de dez pinturas em tela e vinte em papel produzidas durante os anos de 2021 e 2023. O artista nasceu em Ribeirão Preto em 1997 e em 2017 iniciou sua graduação em Arquitetura e Urbanismo. Em suas pinturas, incorpora aspectos da linguagem cinematográfica, e influenciado por diretores como Koji Wakamatsu, Hisayasu Satô e Takashi Ishii, explora enquadramentos cênicos e associações entre texto e imagem para representar situações de tensão e mistério.

“Gerentes de novas ansiedades”, título da mostra, faz referência ao conto “Night Picnic” da escritora Izumi Suzuki (1949-1986), ícone da contracultura e pioneira da ficção científica japonesa. “Night Picnic” é a história de um grupo, supostamente o último sobrevivente em um planeta pós-apocalíptico, que tenta performar a dinâmica de uma família humana a partir dos vestígios da cultura “terráquea”. Eles se inspiram em romances e anúncios populares, reencenando clichês de seriados de televisão. Em sua obra, RAU segue o tom da crítica à cultura de massa explorada por Izumi Suzuki na década de 1970 para situá-la no contexto dos dramas de homens e mulheres comuns, habitantes de qualquer grande cidade dos tempos de agora. Cenas intimistas de personagens frente ao espelho, fumando um cigarro enquanto pintam as unhas ou falando ao telefone dentro de um apartamento pequeno misturam-se a outras cenas onde parece haver algum conflito em ação, insinuado pela postura dos corpos, troca de olhares e figuras de poder tal como policiais e juízes. Uma atmosfera desencantada e cínica preenche as pinturas de RAU, que se assentam em tons pastéis e vez ou outra nos assustam com seus vermelhos.

Para compor suas cenas, RAU parte de sua enorme coleção de imagens e textos, stills de filmes e citações, elementos visuais e literários que lhe permitem sobrepor referências a um ritmo de prática pictórica que ele define como veloz. Suas ágeis pinceladas, mais preocupadas em definir os contrastes entre luzes e sombras, dão a dimensão de uma pintura que, por mais que seja figurativa, não pretende descrever a imagem em detalhes. Interessado em provocar leituras ambíguas de suas composições, RAU se utiliza do espaço do título da obra ou mesmo da tela para explorar o poder da palavra e causar algum ruído entre texto e imagem, incorporando, para isto, referências tão diversas como a literatura de Susan Sontag e frases de Twitter. A dissociação que busca RAU em sua pintura se manifesta também nas escolhas dos enquadramentos, deslocando com alguma frequência algum de seus personagens para fora de quadro, evidenciando assim o seu interesse por aquilo que não é imediatamente percebido e convidando o público a imaginar o que veio antes e o que pode vir depois daquele tempo em suspensão.

 

O Bastardo na Galatea

A Galatea tem o prazer de anunciar a representação do artista O Bastardo. O Bastardo (1997, Rio de Janeiro, Brasil) nasceu e cresceu em Mesquita, município da Baixada Fluminense, periferia do Rio de Janeiro. Atuando, inicialmente, com linguagens como o grafitti, o artista elabora um diálogo estreito entre questões autobiográficas e o pensamento pictórico, fruto de vivências familiares e passagens por escolas de arte, como a EAV – Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, e a Beaux-Arts de Paris, na França. Hoje, O Bastardo vive e trabalha em São Paulo.

Os temas trazidos em suas obras abordam o cruzamento entre práticas cotidianas do empoderamento de pessoas negras e gestos de pertencimento a grupos sociais, como a religiosidade ou a descoloração do cabelo. Nos retratos, em séries como Pretos de griffe (2021-2023) e Só Lazer (2021-2023), consumo, lazer e autoestima são algumas das identificações exibidas por grupos que, a princípio, estão ausentes desse tipo de representação. Como aponta Lilia Schwarcz em comentário sobre O Bastardo, “Lazer e consumo configuram assuntos cada vez mais recorrentes em obras de artistas racializados, já que a história evidenciou os gestos de violência e sobrevivência como modo de inserção e denúncia às atrocidades perpetradas à maioria da população brasileira. O Bastardo faz de seu próprio nome, precedido por artigo definido, um vínculo de subversão de sua própria história, mantendo a palavra classificatória que, nas cenas das artes, passa a redirecionar o assunto e alertar para a prática de exotizar as margens.”

Em 2023, O Bastardo tornou-se membro da comissão curatorial da Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Entre as suas principais exposições, estão a individual: O Bastardo: o retrato do Brasil é Preto, Museu de Arte do Rio – MAR, Rio de Janeiro, 2023; e as coletivas: Brasil Futuro: as formas da democracia, Museu Nacional da República, Brasília, 2023; Quilombo: vida, problemas e aspirações do negro, Instituto Inhotim, Brumadinho, Minas Gerais, 2022; Histórias Brasileiras, Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand – MASP, São Paulo, 2022; Brasil Coleção MAR + Enciclopédia Negra; Contramemoria, Theatro Municipal de São Paulo, São Paulo, 2022; Crônicas Cariocas, Museu de Arte do Rio – MAR, Rio de Janeiro, 2021.

Suas obras fazem parte de coleções públicas nacionais e internacionais, tais como: Museu de Arte do Rio – MAR, Rio de Janeiro, Brasil; Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil; Xiao Museum of Contemporary Art, Rizhao, China.

 

Celebrando Martinho de Haro e Florianópolis

Mestre da composição, o pintor e desenhista Martinho de Haro (1907-1985) é um dos mais importantes artistas de Santa Catarina e uma forte representação do modernismo brasileiro. Homem e trajetórias qualitativas, ele ganha um tributo em Florianópolis, SC, com a exposição “Indivisível Substância: Martinho de Haro e Florianópolis” que abre no dia 15 de março, no Instituto Collaço Paulo – Centro de Arte e Educação. Aberta até julho, a mostra pode ser visitada gratuitamente de segunda a sábado, entre 13h30 e 18h30.

A curadoria de Francine Goudel e Ylmar Corrêa Neto reúne 46 trabalhos de Martinho de Haro que ajudam a traçar novas análises sobre uma criação pictórica amalgamada com Florianópolis, lugar que o artista nascido em São Joaquim escolheu para viver a partir de 1942 e onde morreu em 1985. A mostra tem ainda um Bruggemann (1825-1894), um Eduardo Dias (1872-1945) e um Othon Friesz (1879-1949), todas obras integrantes da Coleção Collaço Paulo, pertencente ao casal Jeanine e Marcelo Collaço Paulo. Para os curadores, Martinho de Haro “revolucionou a representação da cidade, valorizou os costumes, o casario, o mar, o céu, as baías, as auroras e os ocasos, com cores suaves, enquadramentos cinematográficos, ângulos e motivos novos que resultam em uma potente imagem da Ilha de Santa Catarina”.

Produto cultural totalmente patrocinado pela Prefeitura de Florianópolis por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura (modalidade doação), a exposição conta com o apoio das empresas Dígitro e Ibagy. Trata-se do segundo projeto expositivo do Instituto Collaço Paulo, inaugurado no bairro Coqueiros em julho de 2022. Entidade privada, sem fins lucrativos, além de salvaguardar a Coleção Collaço Paulo, promove a arte e a cultura por meio de programas de cunho educativo. O casal dedica-se há cerca de 40 anos à aquisição e conservação de um acervo que se concentra na representatividade dos artistas brasileiros do século 19 e dos catarinenses do século 20, abrangendo trabalhos de distintos períodos históricos, diferentes escolas, movimentos e estilos.

Quase sem perceber, no contato com Martinho de Haro, sob a sua influência, Marcelo Collaço Paulo começou a coleção na juventude. Com o passar dos anos, tornou-se um dos principais colecionadores das obras do artista, adquirindo quadros de todas as fases e temáticas peculiares como nus, carnaval, naturezas-mortas, paisagens, casarios e retratos. “Conheci Martinho nos anos 1970, quando era estudante de medicina. Fui levado à sua casa na Altamiro Guimarães, no centro de Florianópolis, pelo seu filho Martin Afonso de Haro. Tive o privilégio de contar com a sua amizade e vê-lo pintar inúmeros quadros no seu ateliê. O meu primeiro Martinho é desta época. Desde então, sempre aproveitei as oportunidades e fui multiplicando o seu olhar na coleção. Até hoje quando vejo um Martinho, me sensibilizo e me emociono. É o maior pintor modernista de Santa Catarina e aquele que expressou a Ilha da forma mais sublime”, situa o colecionador que busca homenagear Florianópolis no seu aniversário, abrindo o núcleo do Martinho da Coleção Collaço Paulo. “Convidamos todos a ver e desfrutar a cidade através dos olhos do mestre Martinho de Haro”, diz ele.

A exposição “Indivisível Substância: Martinho de Haro e Florianópolis” alcança relevância pelo valor do artista, pelo pictórico e pelas representações de uma ilha que se transformou radicalmente ao longo dos anos. Jeanine e Marcelo Collaço Paulo são colecionadores interessados no conjunto de obras de um mesmo artista que, lado a lado, ganham um peso maior já que possibilitam estudos mais aprofundados sobre uma trajetória e, no caso, uma reflexão sobre o passado de Florianópolis, vista em céus, festas, gente, mares e barcos eternizados de modo significativo.

 

Sobre o artista

Natural de São Joaquim (SC), Martinho de Haro nasceu em 1907. Viveu por dez anos no Rio de Janeiro, onde integrou o Grupo Bernardelli e trabalhou como auxiliar de João Timótheo da Costa (1878-1932) na decoração da Igreja Nossa Senhora da Pompéia, e de Eliseo Visconti (1866-1944) na criação do panneau do Teatro Municipal. Realizou na mesma cidade, em 1977, sua última exposição. Em 1937, viaja a Paris, de onde volta cerca de um ano depois em razão da Segunda Guerra. Engajado nos assuntos da cidade, participou em 1949 da criação do Museu de Arte de Santa Catarina (MASC) que ele dirigiu entre 1955 e 1958. Nos 20 anos de morte, Walmir Ayala escreveu: “O diálogo agora é de uma pintura soberana e completa, com um universo de olhares necessitados de justiça e esclarecimento. A Ilha ganha agora sua luz, sua verdadeira luz, porque a obra viva de Martinho de Haro encontra seu continente exato; é um bem público destinado a valorizar a vida comunitária”. No centenário em 2007, uma comissão presidida por Marcelo Collaço Paulo, organizou uma vasta programação com exposição, livros, discussões, convidados ilustres e a produção de um documentário. A iniciativa reuniu o melhor da produção de Martinho de Haro, segundo João Evangelista Andrade Filho, secretário da comissão, na época administrador do MASC. O legado de Martinho de Haro recebeu a atenção de estudiosos e críticos, entre eles Fábio Magalhães, João Evangelista Andrade Filho, Roberto Teixeira Leite e Walmir Ayala, que se debruçaram sobre as obras e indicaram novas perspectivas de entendimento e avaliação. Ao morrer em 1985, em Florianópolis, Martinho de Haro deixa um expressivo legado que ajuda a compreender a cidade sob diferentes abordagens. Parte desta contribuição está na exposição “Indivisível Substância: Martinho de Haro e Florianópolis”. O pintor era pai do também artista plástico e muralista Rodrigo de Haro.

 

Sobre os curadores

Francine Goudel – doutora em artes visuais – teoria e história, pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), mestre em estudos avançados em história da arte pela Universidade de Barcelona, Espanha, pós-graduada em Gestão Cultural pela Universidade Nacional de Córdoba, Argentina. É pesquisadora, curadora, produtora cultural e professora. Atualmente é curadora-chefe do Instituto Collaço Paulo – Centro de Arte e Educação.

Ylmar Corrêa Neto – neurologista e professor associado da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Coleciona arte relacionada com Santa Catarina. Já organizou e escreveu livros sobre Martinho de Haro (1907-1985), Eli Heil (1929-2017) e Paulo Gaiad (1953-2016) e fez a curadoria de exposições de Eli Heil, Rodrigo de Haro (1939-2021), Carlos Asp, Paulo Gaiad e do acervo do Museu de Arte de Santa Catarina (MASC). É coordenador do recém-criado Clube de Colecionadores de Arte de Coqueiros no Instituto Collaço Paulo.

O período expositivo entre março e julho configura uma agenda que busca ampliar o conhecimento sobre a marcante produção de Martinho de Haro. Iniciativas, de linhas diferenciadas, convergem para reflexões que reúnem nomes e temas significativos que ajudarão a modular um novo pensamento a respeito do artista. Já no dia 15 de março, às 19h30, o curador Ylmar Corrêa Neto faz um Instituto Conversa, compartilhando a conferência “Ocasos Raros em Martinho de Haro”, em que abordará a formação, as técnicas, a evolução e as exibições do pintor modernista, além de suas representações da paisagem, da cultura e do casario florianopolitanos.

Em abril, no dia 24, às 19h30, ocorre o primeiro de um conjunto de encontros idealizados pelo conferencista, pesquisador, professor, autor de livros, uma referência internacional no campo da literatura e das artes visuais, Raúl Antelo. Ele movimentará o Instituto Collaço Paulo para estabelecer o intercâmbio pessoal e a partilha de conhecimento sobre arte, arquivos e exposições na perspectiva de alargar sensibilidades e conexões com amplo público. O evento “Retroprojetor: Encontros do Olhar”, composto de seis conferências entre abril e setembro, duas proferidas por ele mesmo e por pesquisadores que receberam o seu convite, como Ivo Mesquita e Rosângela Miranda Cherem.

No dia 25, às 19h30, o programa Instituto Conversa recebe uma autoridade nas relações entre as artes visuais e a cidade de Florianópolis. Doutora e professora, Sandra Makowiecky fará a abordagem “Florianópolis em Tempos Diversos: Martinho de Haro entre Artistas” em que expõe parte de sua análise apresentada sobre o artista em um dos artigos do livro “A Representação da Cidade de Florianópolis na Visão de Artistas Plásticos”. A fala no Instituto Collaço Paulo, antecipa Sandra Makowiecky, se concentrará nas obras de Martinho de Haro, tecendo considerações e aproximações entre seus trabalhos e outros artistas que, ao longo do tempo, elegeram a cidade como objeto de paixão e poética artística.

A agenda prevê ainda reuniões do Clube de Colecionadores de Arte de Coqueiros (CCAC), o Instituto Homenagem que marca o centenário do crítico de arte catarinense Harry Laus (1922-1992) e os Sábados com Arte, ações desenvolvidas pelo núcleo educativo do Instituto Collaço Paulo.

 

Sábados com Arte

Os sete encontros – “Sábados com Arte” – planejados para o primeiro semestre convidam a participar de uma visita mediada com a equipe do educativo. Previstos para os dias 25 de março, 15 e 19 de abril, 13 e 27 de maio e 10 e 24 de junho, sempre às 15h, a cada sábado as atividades diferenciadas vão além da mediação que dura cerca de uma hora e meia e buscam ampliar o conhecimento em torno das obras reunidas na exposição “Indivisível Substância: Martinho de Haro e Florianópolis”. Com vagas limitadas, 30 pessoas no máximo, as inscrições são por ordem de chegada, mediante manifestação do interesse na recepção do instituto. Menores de 14 anos devem estar acompanhados de seus responsáveis.

As ações propõem o diálogo e a participação. A partir das leituras, imagens, do repertório e das subjetividades de cada visitante, a proposta é construir juntos um percurso singular pela arte de Martinho de Haro. A idade mínima é de sete anos.

 

Equipe Técnica

Curadoria, expografia e textos: Francine Goudel e Ylmar Corrêa Neto – Revisão e edição de textos: Néri Pedroso – Coordenação de montagem: Cristina Maria Dalla Nora – Montagem: Flávio Xanxa Brunetto – Material educativo: Ana Martins e Joana Amarante – Material gráfico: Lorena Galery – Fotografia: Eduardo Marques.

 

 

A arte mural em Tatuí

09/mar

O artista Diego Dedablio é natural de Tatuí, cidade localizada a 140 km de São Paulo e conhecida por ser a capital da música. Isso se deve ao fato de sediar o Conservatório Dramático e Musical Dr. Carlos de Campos – o maior do gênero na América Latina -, ou apenas Conservatório de Tatuí, como é conhecido internacionalmente.

O tema musical está presente na obra de Dedablio há muito tempo. A iconografia do músico é um personagem recorrente junto com a música popular, o sambista, o caboclo do Maracatu e o congado de Minas Gerais. Esses elementos fazem parte da pesquisa do artista que, revelou ser muito influenciado pelo Jazz, ritmo musical que começou a ouvir por causa dos professores do Conservatório da cidade.

Apesar da música ter forte apelo, a cidade também é berço de uma das maiores atrizes do país, a tatuiana Vera Holtz. A atriz é referência para todos que aspiram a uma carreira de sucesso e prestígio nas artes cênicas.

Em uma visita à cidade, Vera se deparou com alguns trabalhos de Dedablio, que se aventurava na street art. Curiosa por saber quem estaria por trás dos sprays nos muros, a atriz foi até a casa do conterrâneo. Além de ter adquirido algumas obras, Vera foi responsável por financiar a temporada que o artista passou em São Paulo para estudar na Panamericana Escola de Arte e Design. Dedablio comenta sobre o período: “Não terminei os estudos lá porque a escola começou a influenciar demais o meu estilo. Decidi sair por causa de modulação pedagógica. Estava numa fase em que a influência era um risco para mim. Aí eu decidi sair e fui fazer cursos livres lá em São Paulo mesmo”.

No bairro da Santa Cecília, onde morava, Dedablio passou a pintar pela região e foi estudar gravura, xilogravura e litogravura no Museu Lasar Segall. Com os cursos livres, pôde desenvolver seu estilo próprio, sem interferências. Nessas experimentações, aprimorou sua prática rapidamente. Entre as características do trabalho do artista está a mistura de técnicas do grafite para a fine art e vice-versa. “Há pouco tempo, fiz um mural com spray e tinta óleo juntos, que é muito incomum, né? Eu não vi ninguém fazer ainda. Normalmente, o pessoal pinta de látex”. Um dos motivos de fazer esse intercâmbio de estilos é levar a técnica das telas, como a pintura a óleo, para as ruas. “É superdifícil fazer porque é pequenininho, aí você fica lá com o pincelzinho em um muro gigante. É um martírio, mas vale muito a pena. O resultado é ótimo”.

De volta a Tatuí, Diego Dedablio sempre procurou manter contato com a capital. Para ele, a falta da efervescência em uma cidade pequena faz falta. Nas idas até São Paulo, realiza trabalhos independentes e, assim, recebeu seus primeiros convites internacionais. Em 2012, foi até Amsterdã, onde foi convidado a fazer uma intervenção na fachada de um prédio. Cinco anos depois, foi chamado pela embaixada brasileira na Bielorrússia para pintar um mural em grande escala em Minsk, capital do país. Somente dez anos depois do primeiro convite internacional é que surgiu a oportunidade de realizar um trabalho tão grande no Brasil. Em 2022, o Conservatório de Tatuí encomendou a pintura de um mural para a instituição. “Só agora, com uma nova gestão no Conservatório, uma gestão mais abrangente, com a cabeça mais arejada, é que eles fizeram esse convite. Eu achei superimportante para mim, por ser a primeira vez no Brasil pintando em grande escala”.

A ligação de Diego Dedablio com o Conservatório de Tatuí vai além da conterraneidade. O artista atribui grande parte da sua educação indireta ao contato que sempre manteve com os professores da instituição e com as referências musicais que constituem o seu trabalho: “Eu fiquei supercontente, porque meu trabalho já tem muito conceito musical dentro da parte teórica e, até da prática, de sinestesia, da questão da composição, de semiótica, de escala tonal dentro do trabalho de arte, e por aí vai. (O mural) é uma retribuição àquilo que eu aprendi, ao que as artes representam. Porque são coisas bem distantes a música instrumental, a música erudita e o grafite, né? Um negócio que é muito difícil de ver”.

Para o futuro, Diego Dedablio tem o desejo de criar o neografite: “Eu já tenho um monte de escritos teóricos aqui e eu tenho esse plano de fazer uma formalização desse neografite que abrange todas as técnicas ao mesmo tempo. É uma pesquisa que eu tenho de antropologia e sociologia com arte contemporânea, que é uma das minhas pretensões”. Apesar disso, o artista disse que não procura ter muitas ambições. “O mundo da arte é meio estranho, tem um negócio meio austero, com que eu não me identifico muito. Mas é necessário estar pontuando o espaço, estar presente. Acho que a minha ambição é estar vivo e presente no trabalho. Não eu, como pessoa, mas dar a vida ao trabalho, fazer o trabalho respirar na percepção do próximo, assim. Não chega nem a ser pretensão, acho que é uma obrigação mesmo”.  (Fonte: Arte!Brasileiros)

 

Mostra no SESC Niterói

Ativismo feminino é tema da exposição individual inédita – até 31 de maio – da artista visual, muralista e ilustradora Priscila Barbosa no Sesc Niterói, Rio de Janeiro, RJ. Retratos de mulheres mesclados a elementos vinculados aos afazeres domésticos com símbolos de insubordinação. Priscila Barbosa constrói a narrativa que compõe suas pinturas sobre tela, objetos pintados à mão e um mural de 15m² em “Ofensiva”, a partir do dia 18 de março. O intuito é provocar o espectador através da oposição: seus trabalhos refletem a pesquisa sobre a qual tem se debruçado nos últimos anos, acerca das fronteiras entre vida doméstica e pública, “dilema” que vem sendo incutido há séculos às mulheres.

“Criei imagens que à primeira vista sugerem a docilidade esperada do gênero feminino, reforçadas pelos tons rosados, uma característica da minha produção, mas que revelam atividades de insurgência e rebeldia. Pintar elementos da vida doméstica aliados a atividades revolucionárias sugere um diálogo entre a vida privada e a vida pública, uma forma de repensar os territórios que nos são oferecidos”, diz a artista. “A ideia é justamente burlar a separação entre o pessoal e o político, reafirmada pelo isolamento que sofremos quando relegadas à particularidade do interior de uma casa cuja manutenção nos drena há gerações”.

Pintar o doméstico, os utensílios de cozinha, a decoração artesanal em meio a afazeres que sugerem ações táticas revolucionárias e bélicas vislumbra um cenário em que a casa seja colocada como centro de atividade comunitária, de sociabilização e, principalmente, de coletivização do trabalho reprodutivo. Além dos trabalhos apresentados dentro da sala de exposições, será realizado um mural na parede externa, de maneira que a temática abordada rompa as fronteiras arquitetônicas e mantenha a discussão sobre o privado e o público. O muralismo é um dos pilares da carreira de Priscila Barbosa, que atua na arte urbana brasileira honrando as tradições do muralismo latino e levando discussões políticas para as ruas e espaços abertos.

 

Murais no “Le Colors Festival Paris” e “Les3Murs”

A iconografia da mulher revolucionária contemporânea com foco na América Latina é objeto de investigação da artista visual paulistana Priscila Barbosa há algum tempo. Em fevereiro, Priscila Barbosa, viu seu mural intitulado “Levante-se” repercutir no “Le Colors Festival Paris”, um dos maiores de arte urbana, que este ano ocupou 4.500m², reunindo cerca de 80 artistas do segmento. O trabalho permanece em exposição até dezembro de 2023 e propõe uma reflexão sobre a relação entre as mulheres do cotidiano na construção do feminismo e da postura revolucionária. Ela acaba de participar de outro grande projeto na França – o “Les3murs” -, que busca dar visibilidade a artistas latino americanos. Em “Latinas Fervilhando” a artista criou seu autorretrato em uma perspectiva de ataque, como se pudesse ser seguida pelos espectadores.

 

Sobre a artista

Priscila Barbosa é artista visual, muralista e ilustradora paulistana, graduada em Artes Visuais pela Belas Artes. Possui extensões em Masculinidades Contemporâneas, Feminismo Pós-colonial na América Latina e O Estado e o Corpo, todos pela PUC/SP. A artista é agenciada pela Aborda, a única plataforma brasileira de gestão de carreiras de artistas visuais no Brasil. Entre festivais que participou recentemente, vale destacar o Colors Festival (2023, Paris), Nalata Festival Internacional de Arte Urbana (2020, São Paulo), Jaguar Parade (2022, Nova Iorque) e Artecore – MAM (2018, Rio de Janeiro).

 

Artista egípcio na Bahia

08/mar

 

O egípcio de origem judaica Leo Laniado migrou com a família do Cairo para o Brasil em 1953, aos oito anos. Parte desse contato com o país, principalmente com a Bahia, resultou em uma história de 50 anos muito bem vividos, que virou a exposição “BAHIA… MINHA”, com estreia marcada para 14 de março, na Galeria Hugo França, dentro da programação em torno do Festival de Música de Trancoso.

A mostra – até 29 de abril – reúne mais de 40 obras, selecionadas dos seus últimos sete anos intensos de produção, impressas com alta tecnologia em papel de algodão. Nas produções, o artista, que chama a Bahia de “a casa fora da casa”, o artista questiona as semânticas da cor em desenhos em tons ocres, carregados de história e permeados por “coisas que estavam lá atrás e estão ressurgindo”, como explica.

Segundo o artista, as obras foram, instintivamente, trazendo elementos do cotidiano baiano, como o mar, côco e velas, não com o objetivo pré-definido de fazerem parte de uma exposição, mas porque são memórias saudosas e genuínas. “Maré Alta”, “Luz ao Entardecer”, “Pescadores”, “Namorados”, “Mesa Posta”, “Sábado”, “Contemplação” e “Praia do Itaipe” são algumas das obras com nomes autoexplicativos.

 

Design de superfície em Portugal

07/mar

 

A Mercedes-Benz Retail e o artista plástico brasileiro/português Renato Rodyner convidam a conhecer entre os dias 09, 10 e 11 de março na Sociedade Nacional de Belas Artes de Lisboa o Novo Mercedes -Benz Elétrico EQS SUV. Este é o primeiro SUV de Luxo 100% elétrico, que passou por interferência artística inspirado na eletricidade e na origem da marca – a “Estrela de Três Pontas” – que representa o domínio da marca em Terra, Água e Ar.

Dia 09, às 18.30 o artista – nascido em Porto Alegre, RS – estará presente para brindar com admiradores da Mercedes-Benz e da arte com um bom vinho alentejano, o Courelas de Torres.

 

Nova artista no elenco da Galatea

06/mar

 

A Galatea tem o prazer de anunciar a representação da artista Carolina Cordeiro, nascida em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 1983. Formou-se em Desenho pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, em 2008. Concluiu, em 2014, o mestrado em Linguagens Visuais pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, e, em 2021, seu doutorado no departamento de Artes da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo – USP, com período sanduíche no Chelsea College of Art and Design, em Londres. Atualmente, vive e trabalha em São Paulo.

A sua relação com o fazer artístico partiu do desenho, técnica que explorou desde cedo e estudou formalmente. Hoje, em seu processo criativo, ele opera a passagem de um projeto do papel ao mundo e às diferentes linguagens experimentadas pela artista. Já em sua primeira individual, Quase é um lugar que existe (2006), Carolina Cordeiro reúne desenho, fotografia e objeto em um diálogo amarrado e em uma relação de complementaridade. De lá para cá, a sua produção mostrou-se cada vez mais plural em termos de suporte e cada vez mais interessada em se desenvolver a partir da influência e dos recursos que o ambiente onde se dá pode oferecer.

Sendo a sua pesquisa baseada em processos imersivos, Cordeiro defende uma relação de contaminação com a paisagem. O seu trabalho não apresenta, portanto, simples intervenções no espaço, mas também o quanto o espaço e os elementos que o compõem atuam sobre a artista e se desdobram em sua obra. Uma noite a 550km daqui (2010-2017), instalação com feltro e carrapicho, demonstra bem esse princípio. Seu título se refere à distância entre o Ateliê Fidalga, um dos lugares onde a obra foi exposta, e um município de Minas Gerais, no Brasil, onde a artista recolheu as sementes de Xanthium cavanillesii, popularmente conhecidas como carrapichos. Com essas sementes, que têm o poder de se dispersar por se agarrarem nos pelos dos animais, criou um céu estrelado fixando-as em feltro azul escuro. O título do trabalho marca, ao mesmo tempo, a distância e a conexão que ele opera entre dois espaços, podendo variar de acordo com o local em que é montado, sempre tendo como referência a sua origem – uma cidade em Minas Gerais.

Os títulos, a propósito, são de grande importância na obra de Carolina Cordeiro. O seu interesse pela poesia e pela música popular brasileira seriam responsáveis por isso. América do Sal (2021) e As impurezas do branco (2019), por exemplo, fazem referência a dois poetas brasileiros consagrados, respectivamente, Oswald de Andrade e Carlos Drummond de Andrade. A relação com o cancioneiro popular influencia até mesmo a escolha de materiais, como ocorre com o zinco nos trabalhos Sem título (2019), que consiste em placas de zinco cortadas como cartas de baralho com as quais se fazem castelos, e Dizem que há um silêncio todo negro (2019), instalação feita com uma placa de zinco perfurada que joga tanto com a passagem da luz quanto com o imaginário da violência.

O aspecto coeso da pesquisa de Carolina Cordeiro se mostra na interpenetração dos temas e materiais e em como um projeto não implica no abandono do outro, mas se estende no outro. Entre o trabalho das assadeiras (Sem título), de 2009, que segue sendo montado, e Paisagem, de 2019, pode-se estabelecer diversas conexões, como a economia de linguagem, o interesse geométrico e um grande fundo simbólico – como a vida doméstica ou a terra vermelha da cidade da natal.

Em 2021, Carolina Cordeiro fundou, junto com os artistas Bruno Baptistelli, Frederico Filippi e Maíra Dietrich, a Galeria de Artistas, projeto criado por e para artistas como meio de experimentar novas forma de inserção no mercado. Em 2020, foi indicada ao prêmio PIPA. A artista participou de diversas residências artísticas nacionais e internacionais, entre elas: CASCO: Programa de integração arte e comunidade, Rio Grande do Sul, Brasil, 2020; Pivô Arte e Pesquisa, São Paulo, Brasil, 2019; Red Bull Station, São Paulo, Brasil, 2016; Homesession, Barcelona, Espanha, 2011; GlogauAIR Art Residency Berlin, Berlim, Alemanha, 2009.

Entre suas exposições, destacam-se as individuais: América do Sal, Galeria de Artistas – GDA, São Paulo, 2021; Dizem que há um silêncio todo negro, Auroras, São Paulo, 2019; Una nit a 8360 km d’aquí, Àngels Barcelona, Espanha, 2018; Carolina Cordeiro, Ciclón, Santiago de Compostela, Espanha, 2018; Entre, Memorial Minas Gerais Vale, Belo Horizonte, 2013; Carolina Cordeiro, Homesession, Barcelona, Espanha, 2011. E as coletivas: Semana sim, semana não, Casa Zalszupin, São Paulo, 2022; Lenta explosión de una semilla, OTR. Espacio de arte, Madri, Espanha, 2020; I remember earth, Le Magasin des horizons, Grenoble, França, 2019; Estratégias do Feminino, Farol Santander, Porto Alegre, 2019; Agora somos mais de mil, Parque Lage, Rio de Janeiro, 2016; Blind Field, Krannert Art Museum, Champaign, Illinois, EUA, 2013.

Em agosto de 2023, a artista abrirá a sua exposição individual na Galatea. Em breve, mais detalhes serão compartilhados.

Novo espaço expositivo da Millan

“Pintura nasce de pintura”, diz Paulo Pasta sobre a nova série de trabalhos que desenvolveu de maneira sistemática nos últimos dois anos e que inaugura, no dia 16 de março, a partir das 18h, o novo espaço expositivo da Millan em Pinheiros, São Paulo, SP. São 90 telas, medindo 10 x 15 centímetros, nas quais revisita questões caras a sua produção nas últimas quatro décadas e, a partir desse processo de síntese e pesquisa, abre novas possibilidades de experimentação. Como diz o escritor e crítico literário Davi Arrigucci Jr. em texto – também conciso e preciso – publicado no livro que acompanha a exposição, a busca de todo artista é que “o ilimitado caiba no mínimo”. As pinturinhas que Pasta vem realizando têm exatamente essa capacidade de condensação entre a desmesura e a concisão.

A nova exposição coincide com um marco importante na trajetória de Paulo Pasta: foi há exatos 50 anos que ele iniciou – na prática – a sua relação com a pintura, aos treze anos de idade. “Desde criança sempre quis ser pintor e prometi para mim mesmo que seguiria esse caminho. E o que fiz desde então foi cumprir essa promessa. O adulto que me tornei presta contas a esse menino que fui, exatamente como acontece com um dos personagens de (Jean-Paul) Sartre no livro Idade da Razão.” Em 2024, completam-se 40 anos da sua primeira mostra individual.

Trabalhando em paralelo às pinturas de grandes dimensões, que mostrou recentemente em Londres e Nova York – respectivamente em junho e novembro do ano passado – e que algumas vezes chegam a consumir três meses de trabalho, Paulo Pasta encontrou no espaço reduzido uma forma de revisitar as principais questões de seu trabalho em pouco tempo e em quantidade. “Tenho uma certa obsessão em me mapear”, confessa.

Em “Pintura de Bolso” o artista ampliou meios e repertórios, encontrou novas formas de organização espacial e cromática, ousou deixar pedaços da tela em branco, adotou em diversos momentos uma pincelada mais fluída e contrastes de cores um tanto inusuais. A adesão ao pequeno formato tem uma forte dose de acaso. “Vi as telinhas, achei bonitas e comprei”, conta. “Percebi que poderia resolver as questões muito rapidamente, adotando caminhos diferentes”, complementa. Você nunca faz duas pinturas iguais, diz o pintor parafraseando Heráclito, e sublinhando que há sempre uma diferença mínima que aparece no aparentemente igual, testemunhando assim o valor do tempo.

“Nessas pequenas telas, Pasta resolve imensuráveis problemas da pintura que não se limitam à questão do tamanho: continuariam a seguir o pintor caso ele fosse escrever um pequeno poema ou um longo romance. Centra-se em questões estruturais, como luz, cor, tempo, memória, atmosfera, síntese e indeterminação, pontos que independem das dimensões da plataforma”, afirma o pesquisador e curador Mateus Nunes em texto crítico sobre a nova série.

A montagem da exposição deverá evidenciar a força individual desses trabalhos ao mostrá-los isoladamente ou em pequenos agrupamentos, como manchas de cor distribuídas no ambiente da galeria, evocando conversas ou notações musicais.

O novo espaço que a galeria inaugura agora tem, como as pinturas de bolso, uma vocação mais intimista. Somando-se ao anexo aberto pela Millan em 2015 – também com uma mostra de inéditos de Paulo Pasta -, a nova área foi reformada para abrigar mostras experimentais e esporádicas, sem a obrigação de seguir o calendário fixo de eventos. A terceira casa da galeria na rua Fradique Coutinho viabilizou uma ampliação das áreas de trabalho, com novos escritórios no segundo andar do prédio, e a expansão da praça que conecta o espaço da rua à área interna da galeria. O projeto ficou à cargo do trio de arquitetos Tomás Millan, Victor Oliveira e Clara Werneck. O imóvel tem 180 m², sendo 71 m² a área para as exposições.

No dia da abertura, também será lançada uma publicação com o mesmo nome da exposição, “Pintura de Bolso”. O livro traz reproduções das obras que compõem a mostra, além do texto de Davi Arrigucci Jr.

 

Diálogos com cor e luz

“Diálogos com cor e luz” é uma exposição voltada para a difusão da coleção do Museu de Arte Moderna de São Paulo, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, que apresenta exclusivamente trabalhos desse acervo. Aqui, reunimos um pequeno recorte de obras com ênfase nas relações entre a cor e a luz na arte brasileira da segunda metade do século 20. Vale destacar que, no século passado, o MAM São Paulo desempenhou um papel significativo na introdução e na propagação das tendências abstracionistas no Brasil. Dois exemplos merecem ser citados: a mostra inaugural do museu, Do Figurativismo ao Abstracionismo, realizada em março de 1949 por Léon Degand (1907-1958), e a exposição Ruptura, em dezembro de 1952, que deu início ao movimento concretista na arte brasileira, com a publicação de seu manifesto.

Agrupamos no espaço várias gerações de artistas, sem privilegiar tendências nem estabelecer uma ordem cronológica. Misturamos tempos e linguagens, para incentivar nosso olhar à percepção de semelhanças e diferenças entre as várias poéticas visuais nos diversos tratamentos da luz e da cor. A museografia distribuiu no espaço os painéis radiais, numa referência ao disco de cores – ou seja, ao experimento óptico de Isaac Newton (1643-1727), publicado em 1707 em seu livro Opticks. Nele, o físico inglês demonstra, por meio de um disco de sete cores (vermelho, violeta, azul índigo, azul ciano, verde, amarelo e laranja), sua teoria de que a luz branca do Sol é formada pelos matizes do arco-íris. Ao girarmos o disco com velocidade, as cores se sobrepõem em nossa retina e nos fazem enxergar o branco.

A seleção de obras, ao enfatizar os diálogos com a cor e a luz em diversos suportes, chama atenção para a luz como elemento fundante da percepção. Trabalhar com a luz significa que temos de lidar também com a sombra, a escuridão ou a ausência de luz. E nos interessa justamente o primeiro contato que temos com a cor, anterior às teorizações e aos sentidos que acrescentamos a ela. A cor é indissociável daquilo que ela expressa. Ela mesma já é expressão, não apenas a tradução de uma ideia ou sentido preconcebido.

Fundamental é nos livrarmos dos sentidos já instituídos e sedimentados no campo da cultura, de conceitos anteriores ao vivido, para aí podermos ter a experiência com a duração da cor. Em vez de pensarmos a cor e a luz como elementos idealizados, o contato direto com a arte nos ajuda a restituir o vínculo originário com o mundo. Os diálogos entre luz e cor na arte nos mostram que o mundo pode ser surpreendente e nossa relação com ele, inesgotável.

 

Fábio Magalhães e Cauê Alves

Curadores

Diálogos com cor e luz

Coletiva com Abraham Palatnik, Alfredo Volpi, Almir Mavignier, Amelia Toledo, Arthur Luiz Piza, Cássio Michalany, Hermelindo Fiaminghi, Lothar Charoux, Luiz Aquila, Lygia Clark, Manabu Mabe, Marco Giannotti, Maria Leontina, Maurício Nogueira Lima, Mira Schendel, Paulo Pasta, Rubem Valentim, Sérgio Sister, Takashi Fukushima, Thomaz Ianelli, Tomie Ohtake, Wega Nery e Yolanda Mohalyi.

Até 28 de maio.