Frenhofer Retratado

07/out

 

O artista visual Carlos Matuck exibe até 12 de novembro no Atelier Galeria Priscila Mainieri, Vila Madalena, São Paulo, SP, série de pinturas e desenhos sob a títulação geral de “Frenhofer Retratado”.

Labirinto evoca o aflitivo sem saída. Os labirintos propostos pelas pinturas e desenhos de Carlos Matuck, porém, invertem essa noção: neles o difícil é entrar e, uma vez lá dentro, não se quer sair. O prazer do passeio por suas galerias e câmaras é semelhante ao proporcionado por uma história bem escrita. O que faz sentido, pois Frenhofer, retratado em todos os 63 trabalhos da exposição, é personagem central da novela A Obra-Prima Ignorada (Le chef-d’oeuvre inconnu), de Honoré de Balzac, publicada em 1831 e revisada em 1837, edição em que Frenhofer, ao final…

O fictício Mestre Frenhofer, alma romântica deslocada por Balzac para o início do século XVII, ecoa Pigmaleão e prenuncia Gepetto: apaixona-se perdidamente por Catherine Lescault, musa-mulher-quadro jamais concluído que pinta às escondidas ao longo de dez anos, sempre angustiado. O pintor inventado é discípulo do existido Mabuse (1478-1535) e contracena com seus colegas, também reais, Poussin (1594-1665) e Porbus (1570-1622).

As questões sobre arte e pintura por eles discutidas atingem o ápice quando, após muitas negociações, Frenhofer finalmente permite que Porbus e Poussin conheçam Catherine, que não existe a não ser na pintura A linda pentelha – assim intitulada pelo próprio Mestre. Para supresa dos dois, no quadro não conseguem ver nada além de “cores confusamente espalhadas umas sobre as outras, contidas por uma multidão de linhas bizarras que formam uma muralha de pintura”. Identificam apenas, num dos cantos, um pé, um delicioso pé, um pé vivo que emerge da caótica neblina, preservado da destruição. Como enuncia Teixeira Coelho, “Balzac escrevia uma alegoria ambígua e indecisa, por isso fascinante, do surgimento se não da arte moderna e contemporânea, pelo menos do artista moderno e contemporâneo.”

Tais questões refletem o que muitos artistas investigavam na pintura e na literatura produzidas na primeira metade do século XIX e, anacronismos à parte, muitas delas adiantando-se as que serão tratadas por Monet, Manet, Cézanne, Picasso, e ainda rondarão as pinturas abstracionistas-expressionistas e neoexpressionistas da segunda metade do século XX. Esse manancial de referências visuais, somado a ensaios filosóficos, literários e à reclusão pandêmica orientaram os três últimos anos de pesquisa e produção de Carlos Matuck, inaugurando, muito provavelmente, a fase madura de um trabalho iniciado há 50 anos.

Os quadros, feitos com tintas acrílicas sobre papel – utilizando penas de metal, de vidro, de madeira, pincéis de variados tipos e procedências, esponjas etc. – posteriormente montados em telas de acordo com rigorosos padrões de conservação, seguem procedimentos sui generis que combinam paradoxalmente jorros de pintura e controle técnico.

As referências, pontos de partida anteriormente fotográficas, são agora obras de pintores mencionados na novela e por seus inúmeros comentaristas – entre outros Adão e Eva, de Mabuse; Ninphe Surprise, de Manet; Estudo para Maria Magdalena, de Rubens. Tais imagens são trabalhadas de maneira tal que, restando vagamente aludidas, trazem, em sua carne, possíveis retratos de Frenhofer e, em sua pele, Catherine Lescault e Gillete, outra personagem-chave da novela. E, não raro, um pé.

Em relação às fases anteriores do percurso de Carlos Matuck essas pinturas abandonam um certo quê caricatural, mas de forma alguma renegam o humor. Também guardam a produção seriada (a seleção para a exposição foi feita a partir de acervo de aproximadamente 150 obras), evocando, em paralelo ao que escreve Barthes sobre fotografia, a ideia de linhagem, a busca, pela insistência, de uma alegoria da persistência da espécie. Ao mesmo tempo, há o comum entre os elementos constituintes das séries, o que oferece ao vedor o prazer da busca de enigmáticas diferenças entre iguais, acirrando a disputa entre o olhar e o ver. Ainda outros movimentos derrogatórios podem ser observados na série de desenhos e aguadas monocromáticas também exposta em Frenhofer Retratado.

São feitos em papéis impressos, uns sobre páginas de enciclopédias antigas, outros sobre mapas. O que não mudou foram os cuidados de conservação, desde o tratamento de limpeza e prevenção de fungos dos papéis antigos até a aplicação de vernizes protetores. Mudou sim a seleção das páginas e mapas a serem combinadas entre si, que agora foram escolhidas em função do que nelas houvesse para estruturar visualmente os retratos de Frenhofer, e para combinar ou gerar conflitos entre significados. Em um mapa uma ilha surgere uma boca, em outro uma península parece um bigode… Carlos Matuck os vai justapondo de modo a estruturar um rosto. Sobre essa estrutura lança traços e manchas de modo aparentemente aleatório, sempre tendo em mente e à vista referências pertinentes ao universo frenhoferiano: Rembrandt, por exemplo, está presente em vários dos trabalhos. Mais uma vez, são simultâneas as alusões ao próprio retratado, à Catherine e à Gillete, que compõem juntamente com arquipélagos, besouros e outros que tais rostos que olham profundamente de volta a quem se der ao trabalho de os ver. Assim são os labirintos de Frenhofer Retratado. Quem quiser neles penetrar ganhará, de brinde, um brinde com o Minotauro.

 

 

Exposição de Diogo Santos

06/out

 

A galeria samba arte contemporânea, São Conrado, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a primeira exposição individual do artista carioca Diogo Santos no Rio de Janeiro, “Vigésima terceira carta”. Em sua primeira exposição individual na cidade, o artista apresenta pinturas, esculturas, gravuras, desenhos e uma instalação, que partem de elementos das fábulas infantis, dos games e dos quadrinhos para retratar um mundo imaginário melhor. Serão apresentadas 25 obras inéditas, produzidas entre 2018 e 2022. Os trabalhos partem da inquietação do artista diante da percepção de um mundo, com uma sociedade desigual, que parece caminhar para a autodestruição, e retratam um ambiente utópico mágico, mais justo e igualitário. Anna Bella Geiger e Victor Arruda assinam os textos críticos da exposição.

Diogo Santos se apropria de elementos das fábulas infantis, do imaginário acerca dos games e dos quadrinhos, do ambiente da casa, do lar, criando uma atmosfera lírica e acolhedora. Seres fantásticos, utopias, armas místicas, elementos do imaginário brasileiro, mesclados a personagens de fotografias que o artista adquiriu em feiras de antiguidades, estão presentes nos trabalhos. “Aceito todas as referências, sem julgamento, para formar esse mundo lírico, mágico, que passa pelo universo da casa, do aconchego, do lar e da família”, conta o artista. Curiosamente, assim como eu, Diogo Santos teve uma formação acadêmica na área da literatura. Destaco esse aspecto em comum porque percebo questões de narrativa em suas obras, refletidas também nos próprios títulos, que promovem um diálogo entre texto e imagem, e levam a uma inquietação e uma busca de significados, afirma a artista Anna Bella Geiger no texto que acompanha a exposição.

Obras em exposição

 

Um dos destaques da mostra é a instalação “Voltar ao lugar de origem” (2018), composta por 300 pequenas latas, com 0,5cm de diâmetro cada, dentro das quais estão pinturas, desenhos, esculturas e fotos. “São pequenas memórias, que formam um mapa da cultura, o que somos, falam sobre os afetos, as esperanças, os pequenos rastros que nos constituem enquanto indivíduo e nossa posição diante da sociedade, do poder e do medo”, conta o artista, que acrescenta que esta instalação “tende ao infinito, pois sempre será possível acrescentar mais elementos”. A instalação será colocada propositalmente no chão, para que as pessoas precisem se abaixar para ver, aproximando-as do mundo infantil. Pinturas em grandes dimensões, estarão lado a lado com obras de menor tamanho. Vestígios e símbolos que transitam silenciados em sonhos, jogos, brincadeiras infantis e ficção são apresentados em obras como “Labirintos de utopia”, construindo um jogo poético com diversas influências, que vão desde os quadrinhos e o videogame até a filosofia e a literatura. Da série “As bandeiras de meu País”, produzida em 2022, são apresentadas três pinturas sobre tecido, que ressignificam as fantasias advindas do imaginário medieval, apontando para novos mundos utópicos. Também fazem parte da exposição cerca de 25 desenhos da série “Levar o Monstro para Casa”, produzidos entre 2019 e 2020; com líricos traços em nanquim e aquarela, nos quais são mostrados a perplexidade do mundo infantil diante do atual momento histórico em que as opressões políticas, sociais e ambientais se contrastam com sonhos, promessas e lutas. Completam a mostra três pinturas em grande formato (1,90m X 1,60m) da série “Mais do que apenas desejar o Infinito”, ganhadoras do 3º prêmio do 13º Salão dos Artistas Sem Galeria (2022), duas linóleogravuras únicas e duas esculturas inéditas em bronze e cerâmica, que representam seres quiméricos que jogam luz sobre a dicotomia entre as forças do mágico e do real, o passado e o presente, a opressão e a esperança. Haverá, ainda, a obra “Tomei Morada em Anor Londo”, um conjunto constituído por um altar e peças que dialogam com os arquétipos do tarô e o zine, com poemas da série “Glória ao Sol e ao Deus Sombrio”, gravado em uma chapa de latão de 29cm x 42cm. O título da exposição, “a vigésima terceira carta”, tem a ver com o jogo de tarot, mas em referência a uma carta imaginária e que não existe no jogo tradicional.

Eventos em torno da exposição

 

Ao longo do período da mostra, serão realizados diversos eventos relacionados:

No dia 15 de outubro, Diogo Santos fará o workshop de desenho “A poética da criação”, na galeria samba.

No dia 22 de outubro, haverá uma conversa na galeria entre os artistas Diogo Santos e Victor Arruda.

No dia 29 de outubro, será realizado o finissage da exposição com o lançamento do “Livro de artista”, um fac-símile dos cadernos de estudo de Diogo Santos, que virão acompanhados de uma gravura, uma história em quadrinhos original e uma cópia impressa do poema gravado em latão.

Sobre o artista

 

Diogo Santos é multiartista visual, poeta e educador. Doutor em Poética pela UFRJ (2011), graduado em Letras Português/Literaturas (2004), e Mestre em Literatura Comparada (2007) pela mesma instituição. Paralelamente, desenvolveu seus estudos na área de artes visuais com passagens por instituições como: IART-UERJ, Sesc, Centro Cultural Calouste Gulbenkian e EAV – Parque Lage. Foi coordenador do festival online Parada Fotográfica: Cartografias Insurgentes (2021) e curador da exposição 100tenário Fayga Ostrower (Galeria Candido Portinari, 2022). Dentre suas exposições estão as individuais Memórias Transeuntes (Sesc – 2019) e Até a Última Sílaba do tempo (FAN Niterói -2016) e as coletivas Festival Internacional de Arte Urbana – Paratissima, Lisboa (2016), Gravura – Novos Rumos (Sesc, 2020) e do 13º salão dos Artistas Sem Galeria, organizado pelo Mapas das Artes e realizado nas galerias Zipper e Lona, em São Paulo (2022), entre outras.

Até 29 de outubro.

 

 

Na Galeria São Paulo Flutuante

 

Ter um olhar atento para novos artistas sempre foi uma marca de Regina Boni desde a sua época na Galeria São Paulo. Desde que abriu a S P Flutuante em fevereiro de 2021, não foi diferente. Já se foram cinco exposições e, agora, o amplo galpão na Barra Funda recebe dois jovens nomes. O paulistano do Capão Redondo R.Trompaz e a sergipana Fabiana Wolf. Primeira individual de ambos em galerias, eles se identificam nas linhas, na intensidade de preencher os espaços de suas plataformas, as intersecções das ideias entre o social, a periferia, o feminino e a urbe. Enquanto R.Trompaz, de 33 anos, explora a cidade andando quilômetros a pé, Fabiana deixou Aracaju aos 18 anos para tentar a vida de artista na capital paulista. Ele se formou em Design Gráfico na Belas Artes. Fabiana começou e deixou cerca de seis faculdades.

Admirador de Lívio Abramo e Artur Barrios, R.Trompaz produziu muito em PB, mas para a exposição que seguirá até 24 de novembro ele colocou cores nas obras. Serão 20 no total, de desenhos com caneta ponta de feltro  a pintura em acrílica e verniz acrílico com pigmento em pó, processos de reprodução negativados nos quais usa  uma técnica de guache sobrepondo com nanquim. R.Trompaz utiliza a arte como meio de expressão e crítica social, principalmente por meio do projeto Segregação Social Geograficamente Escancarada (SSGE). “É a minha concepção de um fazer sobre a condição de vida das periferias e suas contradições”, comenta.

Com 26 anos, Fabiana realiza seus trabalhos em um ateliê no bairro do Cambuci e exerce o seu fazer artístico e político em grandes telas que chegam a 5 metros utilizando técnica mista, giz, pastel oleoso, seco e tinta acrílica. Para essa mostra na São Paulo Flutuante ela pretende levar de 10 a 12 trabalhos, todos realizados ao longo de 2022, portanto inéditos.

A palavra dos curadores

Para Regina Boni, curadora e proprietária da SP Flutuante, o trabalho de Fabiana emociona: “Já comecei a redigir o texto curatorial algumas vezes, mas me deparo muito mais com uma emoção profunda do que qualquer categorização ou análise teórica”. “Acho o trabalho da Fabiana extremamente maduro para uma jovem artista. Não tenho dúvida sobre o caminho promissor que ela terá. Para mim, é muito claro”, complementa Regina.

Já para Manu Maltez, artista visual, músico e co-curador da galeria, o trabalho de R.Trompaz é quase uma síncopa de notas sobre a pauliceia e suas discrepâncias: “R.Trompaz cria um abcdário próprio. Usa dos signos para produzir um dialeto das ruas, sobrepondo elementos gráficos. É uma partitura. Quando olho para os seus quadros é como se sentisse ruídos saindo deles”, analisa. “Quando estava elaborando o material gráfico a ligação poética entre os dois artistas ficou evidente. São artistas densos, trabalham com o excesso, ambos têm a denúncia presente em suas obras mas trazem ao mesmo tempo um primor estético,  uma inesperada leveza; alcançam uma beleza inusitada. São as contradições da arte, por isso ela existe, resiste”, afirma Manu Maltez.

A palavra dos artistas

“Conheci o trabalho da Fabiana agora no momento da produção e fiquei feliz, pois a linguagem conversa bastante comigo quando você foca nos detalhes, no preenchimento. Tenho horror a espaços vazios. Acho que ela também”, diz R.Trompaz.

“Meu trabalho reflete muito da minha busca interna e política. A política é importante na minha vida. Ela se apresenta na obra. Sobretudo uma revolta muito presente. Fiquei feliz de imediato quando vi o trabalho do R.Trompaz. Se as nossas linhas se cruzam nos processos de intersecção, nossa poética fala alto dentro de um viés de insurgência”, avalia Fabiana.

 

 

Relatos, Retalhos e profecias

05/out

 

A multiartista Clara Pechansky exibe sua mais recente série de trabalhos que obedece a titulação geral de “Relatos, Retalhos e profecia”, depoimento visual memorialístico até 29 de outubro na Galeria Gravura, Porto Alegre, RS. O evento de abertura, na verdade, traz  duas exposições. A Sala Branca da galeria receberá a colorida exposição “Relatos, retalhos e profecias”, com 19 desenhos inéditos com temas judaicos.  A Sala Negra vai expor a edição 43 – MINIARTE MAGIA – do tradicional projeto criado e coordenado por Clara Pechansky. Desta vez, trazendo 192 artistas de 12 países: Argentina, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Espanha, Equador, Estados Unidos, índia, Irã, México e Portugal.

Um novo olhar sobre a tradição

por Cíntia Moscovich

Nesta que é sua primeira exposição com temática judaica, Clarita relembra as origens de sua família materna e paterna. Em 19 desenhos nos quais a música se faz presente, em que predominam a expressividade dos traços, a exuberância da cor e a graça das colagens, Clarita festeja suas origens e o fato de pertencer a uma das 10 gerações de descendentes abençoados pelo rabi Levi Itzhak – ela pertence à sexta geração. Com suavidade, com cor, com brilho, mas também com amor pelas lembranças e com fé na bênção recebida: aqui está Relatos, Retalhos e Profecias e nossa Clara Pechansky em sua melhor forma a nos abençoar com vida e com beleza.

A palavra da artista

Uma forma bem humorada de traduzir o judaismo

Das lojas do meu pai e do meu avô, ficou a lembrança do papel de embrulho onde eu desenhava. Dos retalhos de seda e de brocado, e dos botões que me fascinavam, recolhi a matéria para esta exposição. Cresci ouvindo histórias sobre o Rabino de Berdichev, meu antepassado. Os relatos se mesclam com a cantoria da noite de Pessach, com o Profeta Elias para quem eu abria a porta da casa, com o Rei David e sua música, com minhas próprias fantasias infantis, com as fábulas da Bíblia e com as lendas da família. O resultado é uma exposição em que retalhos e relatos se aproximam de profecias, num tempo que não existe, mas que perdura dentro de mim. Minhas raízes se situam na região da cidade histórica de Berdichev, no norte da Ucrânia. Lá viveu e compôs canções o Rabino Levi Itzhak (1740 – 1809), que era uma espécie de santo, e que benzeu as 10 gerações posteriores a ele. Pertenço à 6ª geração bendita pelo Rabino de Berdichev, e portanto minhas próximas gerações também estão abençoadas. Da Ucrânia imigraram meus avós paternos e maternos, meu pai e minha mâe. Ao produzir esta exposição, movida pela situação que a Ucrânia está vivendo, senti necessidade de localizar a cidade de Korets, onde nasceu em 1840 e viveu até 1934 meu ancestral Jukah Scaletzky, bem como as cidades de Lipovets, Novokontantinov e Voronovitza. Todas estes pequenos povoados (shtetls) de onde a família é originária orbitam a província de Zhitomyr, na região de Kiev. Os amuletos contra o mau olhado, como a hamsa, o olho grego, a estrela de David, estão presentes na maioria das obras, mas a ambientação é brasileira, com nossa floresta e nossas cidades, numa maneira muito pessoal de representar as tradições judaicas. Para criar estes desenhos, usei nanquim, lápis de cor, pastel, tecido e tinta acrílica, em técnicas combinadas de pintura, desenho a traço e colagem. É uma exposição que evoca o passado mas que prevê o futuro, como fazia o Rabino. Uma forma bem humorada de festejar a vida, as mulheres e a tradição.

Sobre a artista

Clara Pechansky nasceu em Pelotas, RS, 1936. Vive e trabalha em Porto Alegre, RS. Diplomou-se Bacharel em Pintura aos 19 anos, com Medalha de Ouro, pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL, 1956). Começou sua carreira profissional em Porto Alegre em 1957, trabalhando para jornais e agências de publicidade. Produziu mais de 100 capas de livros e ilustrações para diversos fins. Licenciada em Desenho e História da Arte, e especializada em Educação Audiovisual pela UFRGS, criou o Atelier Clara Pechansky em 2001, onde orienta grupos de Desenho e Pintura. Trabalha em diferentes técnicas, como desenho, gravura em metal, litografia e pintura. Realizou 75 exposições individuais em galerias e museus da Alemanha, Brasil, Bélgica, Colômbia, Espanha, Estados Unidos, Holanda, México e Portugal. Selecionada e convidada para mais de 200 exposições coletivas, premiada e homenageada em muitos países, atua também como gestora social e cultural no Brasil e América Latina. Criou em 2003 o Projeto Miniarte Internacional, que depois de 45 edições já percorreu 5 continentes. Em 2018, criou o Projeto Fiesta de Paz Brasil, que está em sua 5ª edição. Homenageada em 2022 pela Gravura Galeria de Arte com a Sala Clara Pechansky.

Sobre Cintia Moscovich

Cintia Moscovich é escritora, jornalista e mestre em Teoria Literária, com especialização na área de oficinas de criação literária. Autora de oito livros individuais, tem publicações nos Estados Unidos, Alemanha, Suécia, Espanha, Portugal, Itália, França, Argentina e Uruguai. Recebeu os prêmios Açorianos (Secretaria Municipal da Cultura), Jabuti (Câmara Brasileira do Livro), Portugal Telecom e Clarice Lispector, da Fundação Biblioteca Nacional. Foi patrona da 62ª Feira do Livro de Porto Alegre. Escreve uma coluna semanal no jornal Zero Hora em Porto Alegre, cidade onde vive.

 

 

A técnica singular de Jeane Terra

 

 

O Centro Cultural dos Correios, Centro, Rio de Janeiro, RJ, exibe até 19 de novembro, a exposição “Territórios, rupturas e suas memórias”, com um conjunto de mais de 20 obras inéditas da artista Jeane Terra, resultantes de sua vivência no final de 2021 nas cidades baianas de Sobradinho, Remanso, Casa Nova, Pilão Arcado e Sento Sé, durante a seca do Rio São Francisco.  Essas cidades foram inundadas para a construção da barragem Sobradinho e da Usina Luiz Gonzaga, na década de 1970. A exposição tem curadoria de Patricia Toscano.

Além da sua aclamada pesquisa com “pele de tinta”, que resulta em pinturas que se assemelham a “pixels analógicos”, Jeane Terra criou esculturas de vidro soprado, acopladas em uma base feita a partir de fragmentos de escombros de cidades visitadas, algumas contendo água do Rio São Francisco. E as monotipias com que vem trabalhando desde o ano passado, sobre pele de tinta, agora estão também em esculturas de vidro e estruturas de pau-a-pique, feitas com galhos e cipós da Bahia e de Minas.

Assim, igrejas, hospitais, casarios, barcos e uma grande caixa d’água foram exaustivamente registrados pela artista, e originaram pinturas em sua técnica singular, já patenteada, esculturas em vários materiais, e videoinstalações.  As obras ocuparão duas grandes salas do prédio dos Correios, e dois ambientes para as videoinstalações.

 

 

O processo criativo de Alice Quaresma

04/out

 

A primeira exposição individual de Alice Quaresma – “Origens” – acontece na Galeria Silvia Cintra + Box 4, Gávea, Rio de Janeiro, RJ. A mostra é o resultado de um arquivo fotográfico de mais de 18 anos da cidade natal da artista, o Rio de Janeiro.

Origens é uma exposição que começa com vestígios fotográficos de um passado, rastros de tinta sobre a imagem de um corpo presente e uma janela para o futuro com a pintura que renasce no processo criativo da artista. Ao entrar na galeria, a narrativa se inicia pelas fotografias que, caminhando para o fundo, passam a pertencer a tela de algodão.

Ao final, na última parede, a pintura prevalece por si só. As marcas nas pinturas são referências das formas registradas nas imagens do Rio. Essa é uma exposição que oferece uma visão completa: de onde começou a pesquisa com fotografias do Rio de Janeiro sobre memória e identidade e os próximos atos de experimentos na pintura.

Aos 18 anos de idade, Alice saiu do Brasil e desde então fotografa a cidade, de forma afetiva, como uma maneira de se sentir perto de suas raízes. No entanto, em 2014, percebeu que não se tratava apenas de um registro afetivo. Ao fazer o movimento de trazer para seu trabalho essas imagens despretensiosas de qualquer valor técnico ou conceitual, mas cheio de memorias, surpresas e valor sentimental, a artista constatou que estava explorando a ideia de identidade e pertencimento como imigrante.

Ao longo desse processo, é possível observar a admiração de Alice pelo movimento de arte carioca Neoconcretista. Através de pesquisas sobre Hélio Oiticica e Lygia Clark, como no livro “Cartas”, manifestou-se cada vez mais o interesse pela arte experimental e o poder da arte como ativação da mente e do pensamento e, não como resposta concreta. E assim surgiram as marcas geométricas imperfeitas, linhas coloridas pintadas a mão sobre fotografias do Rio de Janeiro, para criar obras que existem na interseção entre a memória e o campo imaginário, onde os fatos e as certezas são anulados. Cada obra, através de sua composição, cria espaço para imaginação do espectador. Os trabalhos falam de passado e presente usando pintura sobre a fotografia, questionando o limite de cada formato como um só.

“Na minha exposição Origens, mostro como a evolução da minha procura através das minhas imagens do Rio me levaram de volta a pintura, por si só, chegando de volta não só a minha Origem que é o Rio, mas também a minha origem na pintura, onde comecei nas artes plásticas. Meu olhar de fascínio e questionamento nas artes, começou na pintura com a obra “Quattro Stagioni” de Cy Twombly quando eu tinha 13 anos”, comenta a artista.

Até 05 de novembro.

 

Acervo em Araraquara

03/out

 

A mostra “Ausente Manifesto” é uma parceria do Museu de Arte Moderna de São Paulo e o Sesc São Paulo, Araraquara, São Paulo, SP, permanecerá em cartaz até 11 de dezembro e reúne obras do acervo do MAM-SP e de seu clube de colecionadores. As obras escolhidas inspiram a premissa da ausência percebida, evidenciam o que não está presente ao espectador, remontando ao que está invisível e que pode ser imaginado, ganhando concretude a partir do olhar do público.

“Ausente Manifesto”, com curadoria de Cauê Alves – curador do MAM, e Pedro Nery – museólogo da instituição, traz o trabalho de artistas contemporâneos que transpõem as divisões sedimentadas das linguagens artísticas, trazendo à tona um jogo entre desenho e instalações, vídeo e imagem, fotografia e representação.

Os trabalhos selecionados ganham concretude a partir do olhar do público, como no caso da obra de Regina Silveira, que projeta uma sombra de um móbile de Alexander Calder esparramando pela parede, distorcendo a peça que está ausente; ou Mácula, de Nuno Ramos, que mostra uma foto tirada diretamente para o sol e que revela um halo de luz, com inscrições em braile, criando visualidade de uma experiência primordial de significação. No jogo irônico da obra Working Class Hero, da série The Illustration of Art, de Antonio Dias, o artista se filma comendo um prato de arroz e feijão e depois lava a louça usada, colocando em questão a idealização simbólica da produção artística e do museu. “Assim, é das próprias obras que temos a experiência de espectadores da produção simbólica, e de seu questionamento”, dizem os curadores. O telhado de Marepe faz uma miragem de uma casa completa, com janelas, paredes e portas, e na obra de Damasceno é possível ver um homem que olha um quadro feito do instrumento que permite desenhar, dessa forma, o olhar do público é que confirma e atribui essas condições.

Na exposição, sente-se a ausência do objeto e, ao mesmo tempo, é possível imaginá-lo pendurado ali. Esse preenchimento é justamente o universo simbólico pretendido. “Falar do que não está presente é, na verdade, o tema central do museu. Os objetos expostos, guardados e preservados, estão lá por seus valores simbólicos, por exemplo, um simples lápis quando entra para a coleção de um museu, deixa de servir à escrita e passa apenas a atender ao olhar do visitante”, comentam os curadores.

A exposição reforça um caráter inusitado e, por vezes irônico, da arte contemporânea em deturpar a lógica de representação dos objetos que são reconhecidos por suas utilidades, estabelecendo, dessa forma, uma ordem diferente entre o que é representar e criar. A arte é produtora do simbólico de nascença, ou seja, quando criada ela não tem uma utilidade prática.

Artistas que integram a mostra: Adriana Varejão, Angela Detanico, Anna Bella Geiger, Antonio Dias, Cao Guimarães, Carlito Carvalhosa, Cinthia Marcelle, Coletivo Garapa, Dora Longo Bahia, Ernesto Neto, Fabiano Marques, Fabrício Lopez, Gabriel Acevedo Velarde, Gilvan Barreto, Jonathas de Andrade, José Damasceno, José Patrício, Lenora de Barros, Lucia Koch, Marcius Galan, Marepe, Matheus Rocha Pitta, Mídia Ninja, Milton Machado, Milton Marques, Nelson Leirner, Nuno Ramos, Rafael Lain, Regina Silveira, Rivane Neuenschwander, Romy Pocztaruk, Sara Ramo, Tadeu Jungle, Thiago Bortolozzo, Thiago Honório e Waltercio Caldas.

 

Na Galeria Raquel Arnaud São Paulo

 

Encontra-se em cartaz até 05 de novembro duas exposições na Galeria Raquel Arnaud, Vila Madalena, São Paulo, SP. São elas: Shirley Paes Leme e Nuno Sousa Vieira.

“Suspiro em vão” de Shirley Paes Leme exibe obras poéticas que relacionam o tempo, o ar e o caos da cidade grande, enquanto “Um entre nós” de Nuno Sousa Vieira tensiona as hierarquias entre o espaço e o espectador.

As obras de Shirley Paes Leme que compõem a mostra “Suspiro em vão”, reúne cerca de 20 obras, a curadoria tem como eixo-central duas séries bastante conhecidas da artista, que têm sido trabalhadas há anos. A primeira consiste em composições geométricas feitas a partir de filtros de ar-condicionado de automóveis. Estes, tingidos com a poluição da cidade, são meticulosamente trabalhados através da extração de resíduos, adquirindo múltiplos tons de cinza e fazendo alusão aos arranha-céus das grandes metrópoles. Já na segunda, frases como “O invisível mais longe”, “Respiração”, “O ar uma miragem”, “Tempo” e “O pó habita” são extraídas de seu caderno de poemas e anotações, materializando-se em relevos de bronze e pátina preta feitos a partir de sua própria caligrafia. Todas as frases em forma de obra também foram incluídas no texto crítico de Paula Borghi. A cidade, o tempo, os resíduos, a fumaça, o pó, o ar, a respiração. São todos temas recorrentes na produção de Shirley Paes Leme e o ponto de encontro entre as duas séries da exposição. São obras que nascem de experiências e reflexões da artista a partir das coisas mais simples, e ao mesmo tempo complexas, da vida.

A exibição individual “Um entre nós” de Nuno Sousa Vieira, conta com texto crítico de Jacopo Crivelli Visconti. Com uma série de desenhos, uma pintura e uma escultura, montada no jardim, que se conecta de forma intrínseca com as obras do espaço expositivo interno, esta exposição reforça a relação entre o dentro e o fora, a frente e o verso. Nuno propõe uma “desierarquização” entre as obras em si, mas também entre a obra e o público que, como diz o artista, também assume o seu lugar, visto que é parte da sua condição não apenas justificar a existência da obra, como também lhe conferir posteridade. O artista comenta: “No meu trabalho, as obras são o resultado de uma ação politicamente igualitária na qual as hierarquias, por um lado, se dissipam, mas, por outro, são questionadas; e o raso está em pé de igualdade com o que se encontra numa conta mais elevada; o interior está empatado com o exterior; a frente e o verso são simultaneamente a mesma face de um mesmo plano, até porque nenhum dos demais pode existir sem o outro”.

 

Marcelo Guarnieri exibe Iolanda Gollo Mazzotti

30/set

 

A Galeria Marcelo Guarnieri, Jardins, São Paulo, SP, apresenta até 03 de novembro, “Luz que emana”, primeira mostra na unidade de São Paulo da artista Iolanda Gollo Mazzotti. A exposição reúne pinturas, esculturas e frotagens produzidas durante os anos de 2021 e 2022 e conta com texto crítico do curador Ricardo Resende.

Iolanda Gollo Mazzotti nasceu em 1952, em Caxias do Sul, RS, einiciou sua produção ainda na década de 1990, exibindo seu trabalho em museus como MAM São Paulo; MAM Rio de Janeiro; Paço Imperial do Rio de Janeiro; MAC Paraná; MAC Rio Grande do Sul e Itaú Cultural de São Paulo. Em sua pesquisa, a artista investiga questões relacionadas à luz e ao poder da imagem, através de uma aproximação com o universo da estatuária religiosa e da experimentação com a técnica da gravura em um campo expandido.

Filha e neta de artesãos marceneiros de altares e santos, Iolanda Gollo Mazzotti cresceu rodeada de figuras religiosas, que, ao seu olhar, pareciam sempre perfeitas e inalcançáveis, distanciadas do plano terreno. Movida por essa inquietação e interessada pelos aspectos plásticos daqueles objetos escultóricos, a artista deu início a um trabalho – que já dura mais de vinte anos – de distorção e desmanche da Nossa Senhora da Luz, uma santa da Igreja Católica tradicionalmente invocada por pessoas com deficiência visual, que em sua imagem original carrega uma lamparina.

Sua curiosidade pelas questões do invisível a levou a associar a sua pesquisa sobre a imagética religiosa ao campo das percepções sensoriais, questionando a importância que havia sido socialmente atribuída ao sentido da visão para a experiência humana. Em meados da década de 90, Iolanda Gollo Mazzotti acompanhou de perto o trabalho da APADEV – Associação dos Pais e Amigos dos Deficientes Visuais de Caxias do Sul, trocando experiências e reflexões com os associados em torno das potencialidades e limitações das pessoas videntes e das pessoas não-videntes. Essa vivência permitiu à artista refletir que nem sempre a luz possibilita uma apreensão da realidade, já que pode inibir outros sentidos e, quando em excesso, pode cegar. Retirando a lamparina das mãos da santa em seu trabalho, Iolanda Gollo Mazzotti ressignifica a imagem da Nossa Senhora da Luz como uma maneira de explorar questões não somente filosóficas, como também plásticas. “Em meu trabalho, essa imagem tem a mão vazia porque a luz agora se apresenta de diferentes formas. Modelando, delimitando e se diluindo para gerar diferentes intensidades de sombras.”, diz Iolanda.

Iolanda Gollo Mazzotti apresenta esculturas, pinturas e objetos que se constroem por meio de técnicas como a frotagem, a moldagem e a costura, e materiais como o carvão, a seda e o gesso. Todas essas obras são provenientes de uma única matriz: a escultura de uma Nossa Senhora da Luz. Para produzir um dos trabalhos, são retiradas dessa matriz impressões frotadas em seda com carvão e gesso que geram imagens fragmentadas da santa, como se fossem registros imperfeitos de um corpo sagrado, suspensos pelo teto. Outro conjunto de peças apresentadas se aproxima um pouco mais do campo tridimensional, embora ainda se relacionem com o ato de gravar e com o interesse da artista pela linguagem da gravura. Moldadas sobre tecido, compõem corpos deformados da santa cujos aspectos podem ser percebidos através de um efeito de drapeado. A artista explica que “a santa nunca se reconstrói totalmente, apenas dá indícios de sua totalidade”.

Indo além no exercício de desmanchar tal figura, Iolanda Gollo Mazzotti exibe também os moldes de silicone e as camas de gesso, não mais suspensas e aéreas, mas dispostas no chão, em contato com o solo: “As camas que acolhem os moldes contém a força de uma forma impregnada de conceitos e limitações, mas agora descansam sob uma luz tênue que se desprende da estrutura rígida da matéria.” Outros moldes menores feitos de gesso, resina e cera são apresentados, mas o que se vê são apenas suas cavidades interiores iluminadas por pequenas lâmpadas de baixa voltagem. Duas máquinas em paredes opostas riscam a superfície com carvão – uma linha na horizontal e outra na vertical – e compõem uma cruz desmembrada, deixando também no chão o registro da ação em forma de Galeria Marcelo Guarnieri.

 

 

Pinturas de Felipe Carnaúba na GEMA

29/set

 

 

O título da mostra é “Uma Pintura é Uma Bandeira, primeira exibição individual do multiartista Felipe Carnaúba até 30 de outubro em São Paulo na GEMA, Jardim América, sob a curadoria de Eduarda Freire. Com, aproximadamente, 40 trabalhos entre pinturas, desenhos, vídeos, NFTs, objetos e game, propor um ambiente social e informal de debate diante obras “ironicamente” políticas. Entre as telas, pode-se encontrar algumas representações artísticas feitas em conjunto com componentes do coletivo Palácio Guanabara. “Felipe propõe uma flexibilização dos limites do espectador, diante de seus excessos; provoca o público com postulados por vezes perigosos, não-lineares e pouco esclarecidos”, delibera a curadora.

Nos trabalhos do artista não há uma definição clara entre a busca pelo aplauso ou pela rejeição. Por vezes, pode-se até pensar Felipe Carnaúba como um advogado de causas próprias ao perceber o grau de “malicia” presente nas criações. “Hoje, sou obrigada a repensar essa figura. A presente produção me provoca mais questionamentos, do que conclusões. (…..) Como seria conviver com uma silenciosa tensão toda vez que receber alguém para conhecer a casa? Essa imagem de um metro de altura do rosto do presidente, feia, mal-pintada e bem representada, não é algo que se consiga explicar facilmente para alguém num primeiro encontro romântico. Agora, notem a beleza que é perceber a naturalidade como se pensa arte como algo para se colocar na parede da sala. Estes questionamentos estão imersos na minha visão circunstancial de quem tem uma pintura do Felipe na entrada de casa. É evidente que a polêmica é ingrediente da massa do trabalho. No entanto, não diria que isto é um foco, e sim um fato”, discorre Eduarda Freire. Definir como experimentação também seria um conceito muito vago visto que, seja em suas performances, vídeos, músicas, NFTs, textos ou pinturas, as intenções do artista são atuais. Uma Pintura é Uma Bandeira. Por que? Copos de Guaravita em pedaços de papelão, ou assentos de privada na parede expressam, na verdade, o Brasil por um carioca suburbano, subentendido e subestimado”, responde a curadora. “Felipe se caracteriza pelo acúmulo, excesso e desorganização. Sua produção incansável e/ou exaustiva, detestável e/ou divertida, desafia a se deparar com níveis baixos da realidade atual, a um alto grau de insolência e destemor. Em meio a frenéticos (senão épicos) aspectos antiglamurosos, gira uma ciranda do fracasso. Talvez seja essa a insinuação de que o veneno é o antídoto.” Eduarda Freire

Sobre o artista

Felipe Carnaúba nasceu no Rio de Janeiro em 1998. Artista e curador independente, bacharelando em Pintura na Escola de Belas Artes da UFRJ (EBA – UFRJ). Atua em diversas linguagens como artista entre a pintura, instalação, música, performance e videoarte. Sua pesquisa investiga sobre o acúmulo de elementos populares da indústria cultural como indagação de politizar o produto alienante; utiliza a linguagem dos memes pelo engajamento pós-irônico na era global. Suas obras remetem um trágico e humorado retrato da banalização da informação, como das redes sociais, a qual nossas relações de convívio exaustivamente, cada vez mais, fricciona entre o lazer à política.

Sobre a GEMA

GEMA, de Eduarda Freire e Clara Johannpeter, é um núcleo de arte contemporânea emergente, dedicado a fomentar a produção e divulgação de artistas que nunca foram representados por galerias. Funciona como uma ferramenta de consultoria de arte, com foco em artistas independentes. Reuniu um acervo em um espaço, em São Paulo, e até o presente momento atua em locais temporários que permitam exposições presenciais. No momento, trabalha com quinze artistas, mas também tem como foco incentivar artistas que estão fora de seu time, através de iniciativas como realizações de exposições individuais destes, ou inclusão em exposições coletivas. A GEMA se apresenta como uma nova opção de fomento ao circuito artístico, de modo alternativo ao convencional modelo de exposição em cubo branco.