O uso da madeira

22/jun

 

 

A Fortes D’Aloia & Gabriel anuncia “I’ve seen one of those” para o dia 25 de junho como a primeira exposição – no Galpão – de Anderson Borba no Brasil, na qual exibe um conjunto de cerca de vinte obras. Brasileiro radicado em Londres há duas décadas, o artista mudou-se temporariamente para São Paulo onde dedicou-se à produção de esculturas e relevos de parede que evidenciam sua singular abordagem do uso da madeira como matéria-prima de sua prática. Suas peças passam por lapidações, queimas e perfurações conduzidas manualmente pelo artista com o uso de serrotes, goivas e maçarico. Uma camada pictórica encobre parcialmente as superfícies em um processo peculiar de pintura e colagem que emprega recortes de imagens diversas, da cultura queer à etnografia, da mídia mainstream à arquivos pessoais. Victor Gorgulho assina o ensaio crítico que acompanha a mostra no Galpão, Rua James Holland 71, em São Paulo, SP.

Mundo fantástico

 

A Art Lab Gallery, Jardins, São Paulo, SP, apresenta até 09 de julho, “O Fantástico Visceral”, primeira mostra individual do artista plástico e skatista VIRI com série inédita de 23 pinturas e jóias autorais, uma collab com Reeeskate99 com sofisticadas técnicas de upcycling. A curadoria é de Juliana Mônaco.

As telas da nova série impactam à primeira vista. Seu fundo colorido, em tons sólidos e vivos, despertam a curiosidade do olhar e instigam uma observação mais detalhada. A aproximação oferece os detalhes: em linhas delicadas e precisas, estão exemplares da flora e fauna brasileira. Plantas, animais, pássaros, podem ser observados em sua precisão, acrescidos da identidade pessoal do artista, onde percebe-se a aderência do “mundo natural com o fantástico, o surreal, onde seus detalhes e traços se harmonizam com o contraste de cores vivas”, define a curadora.

VIRI desafia o público a questionar a imagem da tela, se está dentro ou fora, já que a paridade entre cores que não complementares se justapõem permitindo uma ampla análise de tons e contrastes. Propositalmente, essa diferença de tonalidades destaca e dá corpo aos traços, destacando a técnica original utilizada. Com suas jóias autorais, o upcycling dos fragmentos de skate é utilizado para perpetuar a história uma vez que a collab VIRI e Reeskate99 pensam o design juntos, para “dar continuidade à arte do skate”. O processo de criação é artesanal, resultando em itens únicos que, com o devido cuidado, tornam-se perenes.

“O Fantástico Visceral” permite que VIRI apresente o resultado de seu mergulho interior aos valores, memórias e sonhos de uma trajetória. O artista registra, com originalidade, técnica e detalhamento minucioso, exemplares da flora e da fauna, embalados por cores que lhes dão uma nova identidade. O esportista, aprimora sua técnica de detalhamento de onde nascem peças de joalheria que carregam história de uma prática que incute sensação de liberdade…como nos animais!

Arte urbana no Museu de Arte Sacra de São Paulo

20/jun

 

 

À primeira vista, o padre Júlio Lancellotti e o grafiteiro Enivo podem parecer figuras distantes. Não são. Enivo, profundo admirador do padre, passou a acompanhar sua atuação cada vez mais de perto para criar as telas que compõem a exposição “Afeto”, nova mostra em cartaz até 07 de agosto no Museu de Arte Sacra de São Paulo – MAS/SP, instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, sob curadoria de Simon Watson. As 17 telas têm por tema as populações humildes que habitam nas calçadas, ocupações e abrigos de São Paulo. Por isso que “Afeto” é sobre ligações afetivas mas também sobre aquilo que nos afeta, explica o artista, citando ações beneficentes e o engajamento do padre no combate à aparofobia – hostilidade contra moradores de rua (e contra pessoas pobres de maneira geral) que se manifesta por meio de ações do poder público e privado. Algumas das telas reproduzem cenas do Parde Lancelotti oferecendo água e comida, cuidando de crianças e conversando com os desabrigados; outras são retratos dos próprios moradores, numa narrativa que alterna desalento e esperança. Para ambientação, Enivo foi convidado a desenhar cenas da cidade diretamente nas paredes do museu, numa espécie de afresco contemporâneo. Em cima desses desenhos em carvão, de grandes dimensões, estarão penduradas as telas a óleo e spray. “A expografia que imaginamos se relaciona diretamente com seu método de trabalho nas ruas: quando ele vê uma parede nua, ele começa fazendo um esboço preparatório que depois ele sobrepõe tornando a imagem cada vez mais aparente”, explica Simon Watson. Ao contrário de seu trabalho nas ruas, no museu o toque final é colocar telas prontas nas paredes do museu.

 

Origens da pesquisa

 

Seguidor do Padre Júlio Lancelotti nas redes sociais, Enivo viu-se cada vez mais comovido com sua denúncia diária das condições precárias da vida na rua e motivado por sua postura e engajamento. Primeiro, se aproximou dos fotógrafos que o acompanham – Daniel Kfouri, Lukas Juhler e Victor Angelo – e, aos poucos, passou a acompanhar algumas ações na paróquia de São Miguel Arcanjo, no bairro da Mooca. Para o artista, o padre Lancellotti atua como um elo entre a rua e a instituição, seja ela a igreja ou o museu. “Ele está o tempo inteiro confrontando um monte de gente, de órgãos, denunciando situações, e até sendo ameaçado. É o papel do grafiteiro também”, compara Enivo. Outro paralelo importante é feito pelo curador ao comparar as obras contemporâneas e multicoloridas do artista com algumas peças da coleção permanente do museu, em especial com alguns oratórios dos séculos XVIII e XIX. “Peças como o Oratório de Santa Isabel, feito por Benedito Amaro de Oliveira (1848-1923) claramente trazem a mão de pintores e artistas populares, pinturas à mão livre de um mundo de árvores e flores, morros e casas”, sugere Simon Watson, que não hesita em recuperar o espírito inventivo presente nas duas produções.
Projeto LUZ Contemporânea

 

LUZ Contemporânea é um programa de exposições de arte contemporânea que se desdobra em eventos e ações culturais diversas, públicas e privadas. Desenvolvido pelo curador Simon Watson, o projeto, atualmente, encontra-se baseado no Museu de Arte Sacra de São Paulo. Nesse espaço, LUZ Contemporânea apresenta exposições temáticas de artistas convidados, de modo a estabelecer diálogos conceituais e materiais com obras do acervo histórico da instituição. Embora fortemente focada no cenário artístico brasileiro atual, LUZ Contemporânea está comprometida com uma variedade de práticas, cultivando parcerias com artistas performáticos e organizações que produzem eventos de arte.

 

Sobre o artista

 

Enivo nasceu em São Paulo, SP 1986. Marcos Ramos, AKA Enivo, é um muralista de rua que passou a abraçar também uma prática ativa de ateliê. Iniciou sua carreira artística aos 12 anos fazendo grafite no bairro do Grajaú, em São Paulo. Já pintou murais em todo o Brasil, bem como nos Estados Unidos, México, Alemanha, Holanda, França, Áustria, Espanha, Chile e Argentina. Participou dos Festivais “Stroke Art Fair” em Munique; Festival Urbano “City Leaks” em Köln, Alemanha; “CALLE LIBRE” na Universidade de Belas Artes de Viena; e Wynwood Art District-Miami e colaborou em campanhas para grandes marcas como NIKE, Adidas, Samsung, Bradesco, Natura e Ellus. Durante dez anos trabalhou com educação artística em escolas e ONGs, com foco na partilha de conhecimentos, formação e sensibilização de centenas de jovens da periferia. Reconhecendo que o Brasil carecia de espaços culturais para hospedar e comercializar arte urbana, fundou junto com um grupo de artistas afins a Galeria A7MA, na Vila Madalena, onde já foi curador de mais de 70 exposições. As obras de Enivo participaram de diversas mostras, individuais e coletivas, em galerias e instituições, como a Pinacoteca do Estado de São Paulo e o Museu de Arte Sacra de São Paulo.

 

Sobre o curador

 

Simon Watson nasceu no Canadá e foi criado entre a Inglaterra e os Estados Unidos. Baseado em Nova York e São Paulo é curador independente e especialista em eventos culturais. Veterano com trinta e cinco anos de experiencia na cena cultural de três continentes, Simon Watson concebeu e assinou a curadoria de mais de 250 exposições de arte para galerias e museus, e coordenou programas de consultoria em colecionismo de arte para inúmeros clientes institucionais e particulares. Nas últimas três décadas, Watson trabalhou com artistas emergentes e os pouco reconhecidos, trazendo-os para a atenção de novos públicos. Sua área de especialização curatorial é identificar artistas visuais com potencial excepcional, muitos dos quais agora são reconhecidos internacionalmente na categoria blue-chip e são representados por algumas das galerias mais famosas e respeitadas do mundo.

 

Obras de Jarbas Lopes no MAR

 

 

A Gentil Carioca, Rio de Janeiro, RJ, anuncia “Gira”, exposição individual de Jarbas Lopes, com curadoria de Amanda Bonan e Marcelo Campos, que permancerá em cartaz no Museu de Arte do Rio, Praça Mauá, Centro, até 16 de outubro.

 

Em “Gira”, onde o ver e o entender são aliados, Jarbas Lopes traz à tona a circularidade dos processos artísticos, da vida humana e dos objetos. Ao reutilizar materiais, o artista manifesta, para além da suma importância ecológica, a possibilidade de tudo ser matéria; movimentando ideias, arquitetando magias e ampliando, a partir de suas obras, o conceito de utopias possíveis.

 

Na mostra, serão apresentados projetos inéditos, concebidos especialmente para a exposição, exibindo ainda parte dos trabalhos produzidos ao longo de sua trajetória, em diferentes linguagens. Suas esculturas e pinturas interativas fazem uma fusão equilibrada entre tempo, espaço e circunstâncias práticas e ideológicas como participação coletiva, sociabilidade para espaços públicos e usos compartilhados da cidade.

 

 

Arte e atividades multidisciplinares

15/jun

 

 

Neste sábado, dia 18 de junho, das 13h às 18h, será inaugurada a “Mostra Vagalumes 21”, que ocupará três pavimentos do Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro, espaço inserido na exuberante Mata Atlântica, no alto da Gávea. A mostra une arte e atividades multidisciplinares de frequências sonoras de cura, meditação e arte educação. A entrada é gratuita!

 

Com curadoria do artista Sergio Mauricio Manon e da antropóloga Ana Amado, e produção do empresário e músico Pedro Borges, serão apresentadas obras de 12 artistas visuais brasileiros do século 21: Antônio Bokel, Bruno Vilela, Danielle Carcav, Ilan Kelson, Marcos Correa, Marcos Prado, Pedro Varela, Rodolpho Parigi, Rogério Reis, Sergio Mauricio Manon, Smael Vagner e Talita Hoffmann.

 

Lugar de beleza extraordinária, de história, cultura e arte, recebe em seus pavilhões recém-inaugurados uma mostra conectada com o espírito de nosso tempo, multidisciplinar.

 

Como parte da mostra, serão realizadas atividades multidisciplinares de meditação e arte educação. Mario Moura fará vibrar as frequências sonoras de cura; Nanda Jank ficará responsável pela coordenação das meditações guiadas; e Aline Froza, coordenará as visitas guiadas e oficinas de arte. “O objetivo é facilitar o acesso à arte contemporânea, criando condições para que um público diversificado viva experiências significativas ao se relacionar com as obras e participar das atividades multidisciplinares, expandindo seu conceito de arte e ampliando sua própria visão de mundo”, afirma Pedro Borges.

 

 

Carlito Carvalhosa, um tributo

 

 

O Instituto Ling, Porto Alegre, RS, apresenta até o dia 10 de setembro a exposição “Linhas do Espaço Tempo: Carlito Carvalhosa” resultando em um verdadeiro tributo ao artista – e obra – através de um conjunto de expressivos trabalhos do consagrado multiartista contemporâneo. A curadoria traz a assinatura de Daniel Rangel.

 

Caminhos circulares

 

Linhas do Espaço Tempo reúne fragmentos cronológicos da trajetória artística de Carlito Carvalhosa. Pinturas, esculturas e instalações que remontam a mais de trinta e cinco anos de produção marcados por elaboradas conexões plásticas, históricas, mentais e sensitivas. A mostra é a primeira no Brasil desde que o artista nos deixou em maio de 2021, motivo central do enfoque retrospectivo e prospectivo. Estruturada por obras-símbolos de diferentes fases, a exposição abarca um recorte compacto, que demonstra a coerência da pesquisa do artista. Registros do seu processo de criação, de reflexões e de memórias marcantes de sua trajetória, além de uma inédita instalação site-specific com postes de madeira, desenhada em um de seus caderninhos para um espaço imaginado com características arquitetônicas similares às da galeria do Instituto Ling. Passado pensado para o futuro, realizado no presente. Pensar, refletir e observar por meio de traços, rabiscos, desenhos, anotações, escritos e achados – em sua maioria guardados em cadernos de bolso – era uma prática comum no dia a dia de Carlito. Um processo típico de pesquisador, mas que, no caso dele, estava conectado a uma personalidade efusivamente curiosa e naturalmente disciplinada. Era um sedento pelo conhecimento; aprendia e ensinava com a mesma generosidade, recorrendo à sensibilidade e à formação privilegiadas para estabelecer profundos intercâmbios com entornos díspares – uma prática que foi marcada por conscientes (des)conexões com a historicidade da arte, sobretudo relacionada a uma constante pesquisa de materiais e suportes. Carlito não seguia um caminho reto e linear; preferia o trânsito circular entre espaços e tempos, suportes e materiais, o branco e as cores, o erudito e o popular, ciências e religiões. Opostos atraíam o artista, que explorava com frequência relações entre transparência, opacidade e reflexividade, criando uma espécie de “trialética” que viria a caracterizar sua produção. Tudo junto e, ao mesmo tempo, separado; uma amálgama de elementos díspares que se encontravam por meio do gesto do artista, tornando o diálogo quase eterno, assim como sua obra, assim como ele.

 

Daniel Rangel

 

Curador

 

Sobre o artista

 

Carlito Carvalhosa, (1961 – 2021). A obra de Carlito Carvalhosa envolve predominantemente as linguagens da instalação, pintura e escultura. Nos anos 1980, integrou o Grupo Casa 7, em São Paulo, do qual faziam parte também Rodrigo Andrade, Fábio Miguez, Nuno Ramos e Paulo Monteiro. As tendências do neoexpressionismo eram visíveis na produção desses artistas, sobretudo a utilização de superfícies de grandes dimensões e a ênfase no gesto pictórico. No fim dessa década, após a dissolução do grupo e alguns experimentos com encáustica, Carvalhosa concebeu quadros com cera pura ou misturada a pigmentos. Nos anos 1990, dedicou-se à produção de esculturas de aparência orgânica e maleável, utilizando materiais diversos, caso das “ceras perdidas”. Ainda em meados dessa década, fez também esculturas em porcelana. Carvalhosa atribui profunda eloquência à materialidade do suporte, mas a transcende e aborda questões mais amplas, relativas às transformações do espaço e do tempo. Deparamo-nos, em sua prática, com a tensão entre forma e matéria, explicitada na disjunção entre o visível e o tátil. Aquilo que vemos não é o que tocamos, assim como o que se toca não é o que se vê. A partir do início dos anos 2000, o artista começou a realizar pinturas sobre superfícies espelhadas que, nas palavras do curador Paulo Venâncio Filho, “colocam nossa presença dentro delas”. Não raro, Carvalhosa realizou instalações em que, além de técnicas usuais, faz uso de materiais como tecidos e lâmpadas.

 

Sobre o curador

 

Daniel Rangel é curador, produtor e gestor cultural. Mestre e Doutorando em Poéticas Visuais da Escola de Comunicações e Artes da USP, graduado em comunicação social em Salvador, Bahia. Atualmente é curador geral do Museu de Arte Moderna da Bahia. Foi diretor-artístico e curador do Instituto de Cultura Contemporânea (ICCo) em São Paulo (2011-16), diretor de Museus do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, da Secretaria de Cultura do Governo do Estado (2008 a 2011) e atuou como assessor de direção do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA) na gestão de Solange Farkas (2007-08). Em curadoria, dentre os principais projetos realizados, destacam-se a mostra REVER_Augusto de Campos, (2016); Ready Made in Brasil (2017); Quiet in the Land (2000), uma parceria entre o Museum of Modern Art (MoMA) de Nova York, o MAM-BA e o Projeto Axé, em Salvador. Desenvolveu projetos curatoriais para a 8ª Bienal de Curitiba, Brasil (2015), a 16ª Bienal de Cerveira, Portugal (2013) e a II Trienal de Luanda, Angola (2010). Realizou ainda curadorias de mostras individuais de importantes artistas brasileiros, como Tunga, Waltercio Caldas, José Resende, Ana Maria Tavares, Carlito Carvalhosa, Eder Santos, Marcos Chaves, Marcelo Silveira, Rodrigo Braga, e Arnaldo Antunes, e com este último recebeu pela mostra “Palavra em Movimento” o prêmio APCA 2015, de Melhor Exposição de Artes Gráficas. É pesquisador associado do Fórum Permanente do IEA-USP.

 

Esta programação é uma realização do Instituto Ling e Ministério do Turismo/Governo Federal, com patrocínio da Crown Embalagens e Fitesa.

 

 

MAC Paraná, Clube de Colecionadores do museu

14/jun

 

 

O Museu de Arte Contemporânea do Paraná exibe até 31 de julho a exposição “Insólitos”. Com a curadoria de Pollyanna Quintella, a exposição, aborda o incomum, o anormal, o que não é habitual, o infrequente e o raro na visão de cinco artistas convidados: Daniel Acosta, Mano Penalva, Maya Weishof, Tony Camargo e Washington Silvera e outros artistas importantes do acervo do MAC Paraná. Junto aos cinco artistas convidados, encontram-se em exposição importantes obras históricas de António Manuel, Cybele Varela, Henrique Fuhro, Pietrina Checcacci, Vera Chaves Barcellos, Solange Escosteguy e Ubi Bava, produzidas nos anos 1960 e 1970 e que fazem parte do acervo do MAC Paraná. Artes que trazem produções revolucionárias e um grande papel de experimentação no campo artístico em uma época de luta sociopolítica.
O MAC está funcionando atualmente nas salas 8 e 9 no Museu Oscar Niemeyer. “Insólitos” fica em exibição até 31 de julho.

 

Clube de Colecionadores

 

Além de dar continuidade ao projeto de remixar obras do acervo do MAC Paraná com artistas convidados, “Insólitos” traz em si uma potente novidade: os artistas convidados nesta exposição inauguram o Clube de Colecionadores do MAC Paraná, que visa incentivar o colecionismo de arte contemporânea e a arrecadação de fundos para novas aquisições de obras que serão, futuramente, incorporadas ao acervo da instituição. Essa é a primeira ação da Associação de Amigos do MAC (AAMAC), uma organização sem fins lucrativos criada exclusivamente para arrecadar fundos para a preservação do acervo do MAC Paraná.

Historicamente, o Museu de Arte Contemporânea do Paraná é um espaço de fomento e preservação da arte produzida no Brasil desde a década de 1940. Para Ana Rocha, diretora do museu, “o Clube de Colecionadores reforça ainda mais profundamente essa vocação do museu e fortalece a preservação da memória artística contemporânea que é salvaguardada aqui”.

 

Sobre as obras

 

As obras evidenciam uma visão de outro ponto de vista, a tradução do invisível, a interpretação fora do padrão e da obviedade daquilo que a imagem e um objeto representam. O artista baiano Mano Penalva utiliza a dualidade de significados por meio de obras feitas em materiais e utensílios presentes nos mercados populares, nos afazeres domésticos e na vida cotidiana. Entre elas, a intitulada “Namoradeira,Tramas”, exemplifica esse olhar além do óbvio. “As duas cadeiras unidas por uma única faixa de nylon representam o encontro dos corpos frente a frente”, explica ele. A visão do oposto também é traduzida pelo artista Washington Silvera, que exibe nas esculturas a linguagem surrealista e a poética hercúlea. Em sua obra “Luva e Espelho”, ele revela o reflexo, a dualidade entre o leve e o pesado da luva e a direita e a esquerda das mãos. Já a artista curitibana Maya Weishof, com o fascínio por imagens antigas, traz em suas pinturas a adaptação para a atualidade com traçados coloridos, delirantes, deformados e inusitados. Em “Noite Estrelada”, a artista debruça-se sobre a releitura do corpo da mulher, e relata que traz “erotismo e humor para uma imagem a princípio asséptica”. Nas “Fotoplanopinturas” do artista paranaense Tony Camargo, há a captura através de luz e movimento, a marcação de um momento performático por meio da fotografia e sua passagem para o suporte tridimensional. Para ele, busca nesses trabalhos “reencarnar” vistas. “Talvez o sentido desses objetos, como arte, está na vontade de recombinar compactando imagens ou lugares narrativos”, explica. O escultor gaúcho Daniel Acosta também visa dinamismo. Na mistura de arquitetura e design, trabalha com cores vibrantes, inspirado na arte oriental e traçando linhas em objetos. Segundo ele, “…nos trabalhos a sobreposição dos elementos ornamentais sintéticos, que cruzam da direita para a esquerda e vice-versa, criam um dinamismo por contraposição”.

 

Obras inéditas de Antonio Asis no Brasil

13/jun

 

 

A Galeria Simões de Assis, em seu módulo de Curitiba, PR, apresenta uma seleta de obras do artista argentino Antonio Asis. A exposição obedece ao título geral de “Antonio Asis: Partículas Mentais – Obras de 1960 a 2019”.

 

Texto de Matthieu Poirier

 

Esta primeira exposição de Antonio Asis (Buenos Aires, 1932 – Paris, 2019) no Brasil reúne um conjunto de importantes obras de seu espólio. Ela pretende mostrar, ao longo de uma trajetória de quase 60 anos, a singularidade de um dos inventores e personagens essenciais da arte óptica e cinética. Durante a primeira metade dos anos 1950, Asis teve sua formação na Escuela de Bellas Artes de Buenos Aires – como seu compatriota Julio Le Parc – onde foi iniciado na arte geométrica do Construtivismo e da Bauhaus, bem como na lógica perceptiva da teoria da Gestalt por Héctor Cartier. Este também o introduziu à arte cinética, cuja aparição se deu na exposição “Le Mouvement” (O Movimento), em 1955, na Galeria Denise René em Paris, o que levou Asis a se estabelecer nessa capital em 1956, no coração de sua efervescência estética. Foi-lhe necessário reformar a abstração do pós-guerra, ainda tributária de valores e padrões de composição ultrapassados. Desse modo, ele explorou, durante certo tempo, o gesto circular “livre” e natural da mão, projeções luminosas e gráficas, mas também a geometria colorida de Albers. Isso o levou a criar, entre 1956 e 1960, um sistema estético singular, que excluiu peremptoriamente a pintura de cavalete. Afastou-se, assim, da aura da tela têxtil, esticada no chassis, privilegiando suportes deliberadamente modestos, como o papel, a cartolina ou, por vezes, a madeira, mais adaptados à elevada precisão do traço do compasso e do tira-linhas – privilégio de arquitetos e designers gráficos – assim como aos matizes lisos, planos e regulares da superfície pictórica. Asis usa as boas formas da Gestalt (o círculo e o quadrado) como ponto de partida. Traduz intuitivamente a concepção moderna da realidade micro e macroscópica como um continuum vibrante de partículas, um sfumato atmosférico. A energia dessas partículas pintadas, minúsculos elementos que formam a camada pictórica, desdobra-se não tanto no suporte inerte, mas na mente do espectador, nos recônditos de seu cérebro. A forma geométrica rigorosa, multiplicada e potencializada em uma miríade de signos, desintegra-se ali mesmo, in vivo, num fenômeno vibrante e instável. O conjunto da obra de Asis é, assim, constituído por séries contendo combinações matemáticas potencialmente infinitas, cada obra distinguindo-se por sua estrutura, ou seu “código”, absolutamente únicos, e pelos seus micro-acidentes pictóricos (transbordamentos, empastamentos, marcas do ateliê e outras rebarbas) detectáveis a olho nu. À luz da teoria da informação e da ciência cognitiva, sua linguagem reúne a frontalidade de Mondrian e as “grades ébrias” de Moholy-Nagy. Essa lógica da tremulação emerge em Asis de arranjos mais mecânico. Porém, como sempre, o diabo mora nos detalhes: é se aproximando de cada elemento, distinguindo os múltiplos pequenos acidentes e irregularidades no traçado dos contornos e na aplicação da cor com a ajuda de finíssimos pincéis, que a ação sempre manual do artista aparece. Essa recusa da expressividade (das paixões, que tradicionalmente se liga à policromia), bem como a adoção de uma combinatória que rege a forma, são então associadas à arte programmata, teorizada em 1962 por Umberto Eco, e encontram suas fontes em Jean Arp e Sophie Tauber-Arp. Até sua morte, em 2019, Asis aplicou esse método com excepcional constância, até formar o que aparenta ser – após cerca de sete décadas e com exceção de um punhado de múltiplos – uma imensa mandala budista: diagramas geométricos feitos por monges tibetanos com areia de várias cores diretamente no chão. Na era da serigrafia e da reprodutibilidade mecânica, então adotada por Vasarely ou mesmo Warhol, Asis optou, portanto, pela ação manual, apenas com leve emprego de ferramentas, e, assim, antimoderna. Porém, a história agora lhe dá razão: as primeiras produções dessa gigantesca e sistemática palheta de cores, já desde 1958, foram pintadas em rigorosos matizes lisos, planos, em quadrados ou discos. Elas prefiguram certos capítulos da pintura conceitual e pós-conceitual que viriam mais tarde: por um lado, as pinturas da série Farben de Gerhard Richter (a partir de 1972) e, por outro lado, as Spot Paintings de Damien Hirst (a partir de 1986). Considerando as mundanidades do mercado incompatíveis com a concentração monástica exigida pela sua arte, Asis exerce incansavelmente sua prática no refúgio de seu ateliê parisiense. A esse respeito, a atual organização de um catálogo raisonné, de um comitê científico e da reestruturação do seu espólio e dos seus arquivos, em articulação com várias instituições museológicas, convidam hoje a uma melhor compreensão de sua obra, da qual o próprio artista, com grande modéstia, mas também escaldado pelos anos de esquecimento que a arte cinética conheceu, não quis participar. O exame da obra, tanto na sua totalidade como no detalhe, leva-nos a pensar que a verdadeira singularidade de Asis foi mal compreendida: ele foi também um proponente da arte programada e um precursor da arte conceitual, na medida em que parte da sua prática foi tecida em paralelo à teoria da informação – que se tornaria a “informática”, na qual os dados digitais são exibidos no plano, em grade, de acordo com abcissas e ordenadas, a fim de serem mais bem integrados pelo sujeito. Da mesma forma, ele foi, como Bridget Riley ainda é, um defensor da policromia pictórica, um herdeiro das nuvens neoimpressionistas de Seurat, das teorias das cores de Chevreul e dos “contrastes simultâneos” de cores teorizados pelo casal Delaunay. Asis criou, simultaneamente, “pinturas” autênticas e fenômenos em si. Elas não têm a finalidade de ajudar a apreender melhor o objeto visto; ao contrário, ao recusar a percepção “plena”, jogam contra o olho e não a favor dele. Assim, os padrões de círculos concêntricos – alvos -, sozinhos ou às vezes dispostos em uma grade, abundantes na arte perceptiva de Asis, são tanto visuais quanto antivisuais. Em Interférences (Interferências), por exemplo, anéis concêntricos se sobrepõem como as ondas produzidas por gotas de chuva caindo em uma superfície de água. Mas não nos enganemos, de uma obra a outra, de uma nuvem a uma constelação, de um tabuleiro de xadrez a essa forma-chave aparentemente simples, composta de finos círculos coloridos e concêntricos, e que o artista realizou de 1968 até sua morte: foi o próprio olho que se tornou o alvo.

 

Até 23 de julho.

 

Novas formas geométricas de Michelle Rosset

10/jun

 

A BELIZARIO Galeria, Pinheiros, São Paulo, SP, exibe até 09 de julho a mostra “A Extensão do Hiato”, da artista plástica Michelle Rosset onde são exibidas séries de trabalhos inéditos criados durante o período da pandemia que abrangem suportes e técnicas diversas como colagens, fotografias e esculturas onde, “através da manipulação e dos movimentos destes materiais, observo as novas formas geométricas e trabalho nas possibilidades e arranjos possíveis entre elas”, explica a artista. O texto crítico é de Shannon Botelho e a curadoria de Orlando Lemos.

Durante o período de afastamento social a que todos foram submetidos, a artista começou a observar, com mais atenção, os objetos de sua casa e as novas formas que surgiam no espaço quando tocadas pelos raios de sol; as sombras projetadas nos espaços se transmutam em contornos estéticos oferecendo novas formas artísticas que possibilitavam novos significados. Mente inquieta, a artista começa a questionar as distâncias e o próprio espaço ação que vem a servir como base para o título da mostra – “A Extensão do Hiato” – já que, aos olhos de Michelle Rosset, “extensão” pode se referir à distância entre as pessoas enquanto “hiato” sugere separação. Isolada em seu processo de criação, a artista busca compreender fatores como o tempo, o lugar e as distâncias, criando pontes entre o local de confinamento, o lar feminino e o universo fragilizado; integrando o lar feminino ao mundo masculino através da utilização da trena de madeira, objeto característico do mundo masculino da construção civil. “Com um ponto de partida de apenas um objeto, procuro transformar através da dobra e do corte as múltiplas possibilidades de visualização”, diz a artista. O resultado da pesquisa gera obras com uma forte relação entre geometria e cor, onde a forma triangular dos reflexos da luz solar decompõe a luz branca em um espectro de cores.

Nas palavras de Shannon Botelho, “…a cor, como estrutura e instância do tempo, tornou-se a própria coesão da poética formulada por Michelle. Mas como falar da pujança das cores e não situar a sua função estrutural nas formas geométricas? Pois, há algo despontando na pesquisa da artista, que é a noção construtiva da cor que formula engates e áreas de jogo, onde as experiências visuais tecem seu sentido não narrativo, mas puramente abstrato”. Michelle Rosset faz com que o público busque por novas formas de comunicação onde o “falar” não seja necessariamente a principal. Através dos grafismos, a artista desconstrói as cifras de comunicação para redefinir um novo formato de fala! “A Extensão do Hiato” é, portanto, a face palpável de uma duração que se configura como resultado da experiência de Michelle Rosset, seu embate com a percepção do tempo – e do espaço – no ato criador”.  afirma Shannon Botelho.

Nova exposição de Tatiana Blass

 

A Galeria Milan, Pinheiros, São Paulo, SP, exibe de 11 de junho a 08 de julho trabalhos recentes de Tatiana Blass sob curadoria de Camila Bechelany.

Há um movimento dúbio de apagamento e revelação, de construção e desconstrução, de intervalo e continuidade na atual produção da artista Tatiana Blass que leva o espectador a duvidar do que realmente se passa diante de si mesmo. A reflexão da curadora e crítica Camila Bechelany sintetiza a nova exposição de Blass.

Em O fim continua (2022), nova instalação construída pela artista para o espaço da galeria, uma mangueira de ferro que se encontra no interior da Galeria Millan goteja água que, então, escorre pelo piso até o andar inferior da construção, atravessando a arquitetura e marcando o espaço com um rastro de ferrugem.

“O encontro com a obra de Tatiana Blass nos leva a um lugar de risco, onde a certeza nos escapa. Em uma perspectiva ampla, o trabalho mais recente da artista parece querer lidar com uma leitura e uma reflexão recorrentes a respeito do tempo, criando materialidades para um elemento ocultado, que aparece tanto em suas pinturas quanto nas obras tridimensionais”, escreve Bechelany no texto que acompanha a exposição.

A partir de um procedimento similar ao da instalação, Blass realizou um conjunto de esculturas intituladas Reviravolta (2022), criadas com mangueiras de borracha e de ferro entrelaçadas em formato de uma fita de Möbius. Trata-se de uma investigação sobre o espaço topológico infinito que atravessa a história da arte no Brasil desde a segunda metade do século XX. É uma alegoria da continuidade do fim que não diz respeito ao término, aniquilação ou encerramento, mas sim da reconfiguração formal e material de modos de existência no espaço e no tempo. Continuidade e fim, maleabilidade e rigidez, forma e conteúdo, são contrastes dissolvidos e espelhados em toda a exposição.

“A produção de Tatiana Blass é marcada pela prática constante da pintura e por um experimentalismo em torno da matéria. Seja a obra uma escultura, um objeto, uma instalação ou um vídeo, ela é sempre atravessada pela problematização pictórica – que evidencia questões de volume, enquadramento e encaixe – e pela presença da linha na composição”, pontua Bechelany.

Além das esculturas centrais, a exposição traz o que Blass descreve como  “três esculturas em ação” – obras feitas em cera e contendo elementos condutores de calor que paulatinamente deformam a figura esculpida – e três conjuntos inéditos de pintura: a série Os sentados (2022) e Os de pé (2022), inspiradas em fotografias de cenas de teatro; a série de pinturas Bagunça (2022); bem como Pintura que derrete (2022), realizadas com tinta e cera sobre metal que se desfaz lentamente a partir de um mecanismo de condução de calor ativado pela presença do espectador.

No decorrer do período expositivo, a Galeria vai lançar uma brochura com fotografias e poemas inéditos realizados pela artista durante os últimos dois anos. É uma publicação que reverbera as pesquisas poéticas de Tatiana Blass em torno do esgarçamento da linguagem visual e simbólica, e da continuidade do fim como produtor de modos de existência no espaço e no tempo. Como afirma a artista em trecho de O fim continua,  um dos poemas que compõem a publicação, “Nada se acaba, só muda de superfície”. Além da brochura, a Galeria Millan também vai lançar um catálogo da exposição com texto curatorial assinado por Camila Bechelany.