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Depois de passar por São Paulo, Vaduz (capital de Liechtenstein), Bruxelas, Búzios e mais recentemente Guajiru e Fortaleza, o projeto “Bandeiras e Cores Entre Nós” chega ao Centro Cultural Correios, no Rio de Janeiro, onde vai reunir 36 bandeiras customizadas por artistas de várias procedências. Mantendo sua vocação itinerante, o evento tem como proposta levar as obras a galerias e espaços culturais que ultrapassam as fronteiras continentais, levantando bandeiras – literalmente – como mobilizadoras sociais e vitais em diferentes formatos, com temas atuais e de relevância para o país.
Selecionados através de uma convocatória, já estiveram presentes mais de 120 profissionais, residentes em diferentes regiões do Brasil do exterior. A realização é da Arte2 Produtora, representada pela artista plástica e curadora Angela de Oliveira junto com a galerista, fotógrafa e curadora Ana Arcioni, que assinam e dirigem o projeto. Nesta edição, elas contam com a colaboração da também artista plástica Renata Costa, que se une a elas na co-curadoria.
Sobre as obras
Cerca de 36 bandeiras em tecido de voal, medindo 2,50 por 1.,0 cm, ocuparão o espaço expositivo, impressas e costuradas em varão de madeira e fixadas nos perfis metálicos existentes no teto por fios de nylon, conferindo leveza e fluidez às obras, cujo tema é livre.
Entre os artistas confirmados, estão Acácio Pereira, Ara Vilela, Carla Barros, Carlos Sulian, Cati Alionis, Colenese, Cristhina Bastos, Cristina Pacheco, Deborah Netto, Emanuelle Calgaro, Francisco Ivo, Gray Portela, Gualton Remo, Gui Brescia, Henrique Diogo, Hermano Cananea, India Prado, Jansen Vichy, Josephine Di Giovanna, Ju Moraes, Justina D´Agostino, Lenny Lopes, Marcia Fontenelle, Mari Pereira, Miguel Nader, Miriam Gonçalves, Paula Loraine, Renata Costa, Ricardo Massolini, Roberto Vamos, Rose Maiorana, Silvana Ravena, Soraya Boechat, Simone Bellusci, Tarso Sarraf, Thais Moraes e Valéria Oliveira.
A exposição “Vinte Palavras Girando ao Redor do Sol”, individual de Luiz Hermano sob curadoria de Walter Arcela é o atual cartaz da Amparo 60, praia de Boa Viagem, no Recife, PE.
A palavra do curador
“Luiz Hermano @luizhermanof é um artista da síntese. As obras selecionadas nesta exposição estruturam-se a partir da seriação geométrica, do apinhamento e da reiteração de um mesmo elemento, deslizado da sua função original, mas nunca da sua forma. Os elementos combinados são entrelaçados por simples arames de cobre e, em algumas ocasiões, um mesmo fio é o elo do todo da estrutura. Essa delimitação consciente de materialidades e recursos da feitura nos rendeu o mote curatorial, a partir do qual friccionamos a poesia do pernambucano João Cabral de Melo Neto com a poética de Luiz Hermano, percebendo em ambos a tendência do que o primeiro escreveu no poema: “Falo somente com o que falo: / com as mesmas vinte palavras/ girando ao redor do sol.” (1961)”
Visitação: Até 30 de setembro
A Galeria Marcelo Guarnieri, Jardins, apresenta, entre 19 de agosto e 30 de setembro, “Quem tem medo do vermelho, amarelo, azul e de outras sessenta e três cores?”, segunda exposição de Marcus Vinicius no endereço de São Paulo. O título da mostra faz referência à icônica série “Who’s Afraid of Red, Yellow and Blue” de Barnett Newman, cujo trabalho com as cores primárias em estruturas sumárias também tem sido explorado por Marcus Vinicius em sua investigação na pintura desde os anos 1990.
“Quem tem medo do vermelho, amarelo e azul e de outras sessenta e três cores?” reúne 6 obras, sendo uma delas formada por um conjunto de 66 pinturas nomeadas pelo artista de “pinturas do avesso” que apresentam as cores utilizadas por ele ao longo de seus 25 anos de trabalho. Intitulada de “Catálogo” (2023), a obra segue uma ordem de funcionamento particular, cujos critérios de composição e display se estabelecem a partir de uma leitura analítica e retrospectiva de sua produção. As pinturas em tinta automotiva sob vidros, montadas com perfis de alumínio anodizado, são distribuídas em 6 fileiras horizontais, em quadros de 3 tamanhos diferentes: 50×50 cm, 50×70 cm e 50×100 cm. A variação das dimensões está associada à frequência do uso das cores ao longo da produção do artista. Elas estão distribuídas na parede não por um critério estético, mas pela ordem em que aparecem no catálogo de cores industriais.
Além de “Catálogo” (2023), obra que ocupa toda a extensão de uma das paredes da galeria, medindo 4,5 X 9 m, a mostra apresenta outros 5 trabalhos inéditos de uma nova série chamada “Aparelhos Analíticos”, sendo 4 deles de grandes dimensões, também realizados com tinta automotiva, técnica utilizada pelo artista pela primeira vez. Marcus Vinicius experimenta as possibilidades da pintura industrial para dar continuidade a sua pesquisa sobre a cor e os efeitos ópticos causados pela interação entre a superfície espelhada e transparente do vidro e a superfície opaca da madeira.
Marcus Vinicius é licenciado em Artes Plásticas pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo e inicia sua participação em exposições no Brasil no início dos anos 1990. A partir da ideia de “Estrutura quadro”, conjunto de regras criadas por ele mesmo para guiar o seu processo de produção, Marcus Vinicius explora as propriedades de materiais e cores industriais. Seus quadros dialogam com o universo da indústria, sem, no entanto, estarem de todo entregues a ele. Regidos pela ordem da produção modular em série, esses trabalhos podem se apresentar, inicialmente, impessoais e herméticos, mas, sob um olhar mais atento, revelam a complexa relação entre os seus elementos. Sua feitura é, desde o início, administrada por uma inteligência do sensível: as formas, combinações de cores e variação de materiais são cuidadosamente escolhidas e pensadas por Marcus Vinicius, que, em um tempo bem menos acelerado que o da indústria, os articula na busca pelo ajuste de uma química interna do quadro.
O vidro, por exemplo, é convocado por sua propriedade reflexiva e pela dúvida que seu efeito óptico pode gerar à visão do observador. Não se trata da transparência pura e simples, mas sim da opacidade, das artimanhas visuais. Por outro lado, o uso da tinta sobre madeira em cores tão frequentemente observadas no cotidiano da cidade criaria um terreno seguro para a visão – estaríamos certos do que nosso olho vê -, mas o atrito entre cores distintas acaba por gerar alguma vertigem, terceiras cores que são percebidas só virtualmente. Marcus Vinicius está interessado pela pintura, por aquilo que pode acontecer no espaço bidimensional, mas também por aquilo que pode ser gerado na terceira dimensão. Não somente seus efeitos ópticos, mas suas experiências físicas, através dos suportes geométricos em madeira ou alumínio construídos por ele mesmo em sua oficina.
O Centro Cultural Correios, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresenta até o dia 16 de setembro, a exposição “Fronteiras Abertas” que consiste em três exibições individuais simultâneas dos artistas Fábio Carvalho, Luiz Badia e Osvaldo Carvalho, com curadoria de Sonia Salcedo del Castillo. “Fronteiras Abertas” reuniu artistas que têm uma grande conexão de estilo e linguagem entre seus trabalhos. O elo de ligação é uma obra figurativa baseada em elementos simbólicos envolvidos numa abstração lírica e estilizada. Uma corrente da arte contemporânea que assimila aspectos da Pop Art e do Surrealismo, ao mesmo tempo flertando com a Urban Art.
A palavra da curadoria
Os três artistas em suas exposições abrem, literalmente, suas fronteiras numa simbiose que alarga sua conexão, criando assim um corpo só, falando de meio ambiente e brinquedos da infância, que promovem uma reflexão acerca da existência humana, a partir do confronto entre perene e efêmero. À maneira lúdica, tal abordagem – expandida em formas, palhetas, faturas, traços, suportes e meios diversos -, é carregada de valores simbólicos e alegóricos, através dos quais conduzem à indagações em torno da urgência de clareza e equidade à melhoria da condição humana. Embora cada artista se valha de recursos poéticos distintos, operam retóricas subjetivas de maneira coesa. Em todos eles, formas e imagens pré-existentes são reunidas em miríades de escritas possíveis. Relacionada ao conceito de cultura da imagem e seu poder manipulador da massa social, “Fronteiras Abertas” é uma exposição que flerta sonho e realidade por meio de montagens, nas quais se aplicam todos os procedimentos alegóricos, implicados no modus operandi da vida nos dias atuais.
Alexandre Murucci exibe, até 16 de setembro, “A floresta azul”, no Centro Cultural dos Correios SP, sob curadoria de Victor Gorgulho, onde reúne uma série de novos trabalhos que abordam questões fundamentais relacionadas ao patrimônio natural do Brasil, a importância dos povos originários, as ameaças enfrentadas pela Floresta Amazônica e o panorama sociopolítico que afeta o futuro do planeta. Através de uma abordagem conceitual, o público será convidado a refletir sobre a vida que flui na floresta, conferindo-lhe a tonalidade azul.
O questionamento central da exposição é expresso pelo próprio artista: “De que cor é uma floresta?” O título oferece uma resposta implícita a essa indagação, insinuando que a floresta é azul, em virtude da vitalidade que exala para o ambiente. Alexandre Murucci adentra o âmago da discussão sobre a Floresta Amazônica, utilizando diversos meios artísticos para examinar as complexidades da região e sua relação com a realidade geopolítica contemporânea.
Através de diferentes mídias e suportes, o artista aborda uma das questões mais urgentes da atualidade brasileira e do mundo contemporâneo: a preservação da Amazônia. Seja por meio de uma abordagem crítica e incisiva sobre o passado de descaso e projetos fracassados que marcaram a história da maior floresta tropical do mundo, ou através de um olhar poético que oferece uma visão panorâmica do passado e do presente da região e do Brasil, convida o público a embarcar em um percurso labiríntico que abrange os aspectos sociais, políticos e culturais desse território que se destaca pelo descaso e, ao mesmo tempo, pelo fascínio que desperta em todos os seres que compartilham este planeta, a nossa Terra. A Floresta Azul, representa a vida que flui no ar em forma líquida e vital, conferindo à floresta uma tonalidade azul, em contraste com as cores convencionais associadas a esse ecossistema. Com um enfoque conceitual marcante, Alexandre Murucci exibe trabalhos em diversos suportes, incluindo uma instalação que dará nome à exposição, intitulada “labirintos espaciais”. Essa imensa e delicada composição é construída a partir de bastidores de madeira e telas de seda sintética, criando uma paisagem flutuante inserida em uma figura concretista.
“Ora lançando mão de um olhar crítico e mordaz diante do passado historicamente conhecido de descaso e sucessivos projetos fadados ao fracasso na maior floresta tropical do mundo; ora nos apresentando um panorama do ontem-hoje da Amazônia e do Brasil através de um singular olhar poético, o artista convida o espectador a um percurso labiríntico – literal e metafórico – por entre os meandros da história social, política e cultural de um território a um só tempo fruto do descaso e do fascínio infindo dos olhos (e dos pulmões) de todos os seres que habitam este planeta que ainda chamamos de…Terra”, discorre Victor Gorgulho.
“De que cor é uma floresta? Verde como deveria? Amarela e seca? Vermelha como quando arde em chamas? Negra, após suas mortes? Para o artista ela é azul, pela vida que transpira pelo ar. Vida em forma líquida e vital!, diz Alexandre Murucci.
Sobre o artista
Alexandre Murucci nasceu no Rio de Janeiro, RJ, 1961. Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Artista plástico com formação pela Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV). Sua trajetória de mais de 30 anos inclui trabalhos com suportes múltiplos, com ênfase em escultura, fotografia, instalação, vídeo e arte digital (NFT). Suas obras, de cunho conceitual, abordam principalmente temas relacionados a identidades, inserções periféricas e polaridades dos fluxos de poder, sempre com um viés político-histórico e referências metalinguísticas no âmbito da arte. Obteve reconhecimento ao longo de sua carreira, participando de mais de 80 exposições em seu trajeto profissional. Em 2009, foi agraciado com o prêmio Bolsa Iberê Camargo e, no mesmo ano, recebeu o convite para participar da mostra coletiva “Las Américas Latinas – Fatigas Del Querer” em Milão, com curadoria de Philippe Daverio. Em 2011, recebeu o 2º prêmio da Fundação Thyssen-Bornemisza, de Viena, no projeto “The Morning Line” – TBA21. Entre suas exposições individuais de destaque estão “Cadeau”, na Galeria Mariantonia – USP, em 2022; “Arquipélago”, na Galeria de Arte Maria de Lourdes Mendes de Almeida, em 2019; “O Fio de Ariadne”, no Centro Cultural Correios, ambas no Rio de Janeiro, em 2021; “Las Américas Latinas” em Milão, Itália, em 2014; e a exposição “Nicho Contemporâneo” no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, em 2010. Além disso, suas obras já foram exibidas em diversos países, como EUA, Eslovênia, Cuba e Alemanha. Em 2011, representou o Brasil na Bienal da Áustria e, em 2019, na 13ª Bienal do Cairo. Em 2017, foi selecionado por meio de um open-call mundial para o Pavilhão de Grenada na 57ª Bienal de Veneza, com comissariado de Susan Mains e curadoria de Omar Donia. Também se destacou como um dos primeiros artistas a exibir suas obras em formato NFT durante a ARTRIO, feira presencial de arte, através da galeria Metaverse Agengy, uma participação inédita internacionalmente.
Sobre o curador
Victor Gorgulho nasceu no Rio de Janeiro, RJ, 1991. Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Curador, jornalista e pesquisador, é graduado em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ e atualmente mestrando em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio, com um profundo envolvimento no campo das artes visuais. Atuando como Curador-chefe do Instituto Inclusartiz, já esteve à frente de importantes exposições no cenário artístico contemporâneo. Entre suas curadorias notáveis estão “Vivemos na melhor cidade da América do Sul”, em colaboração com Bernardo José de Souza, realizada em Átomos, Rio de Janeiro, em 2016, e na Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, em 2017; “terceiro mundo pede a bênção e vai dormir”, realizada na Despina, Rio de Janeiro, em 2017; “Eu sempre sonhei com um incêndio no museu” – Laura Lima & Luiz Roque” no Teatro de Marionetes Carlos Werneck, no Rio de Janeiro, em 2018; e “Perdona que no te crea”, na Fortes D’Aloia & Gabriel, Rio de Janeiro, em 2019. Victor Gorgulho também co-curou a exposição “Escrito no Corpo” em parceria com Keyna Eleison, em exibição na Carpintaria, no Rio de Janeiro, até fevereiro de 2021. Desde 2019, atua como curador do MIRA, programa de videoarte da ArtRio. Integra o corpo curatorial da Despina, centro de pesquisa e residência artística no Rio de Janeiro, sob a direção de Consuelo Bassanesi. Com vasta experiência jornalística, foi editor assistente de cultura do Jornal do Brasil (2014-2017) e é colaborador de veículos como o El País Brasil. Coorganizou, juntamente com a crítica e curadora Luisa Duarte, o livro “No tremor do mundo – Ensaios e entrevistas à luz da pandemia” (Editora Cobogó, 2020).
A exposição “José Gamarra – Antologia”, originalmente apresentada no Museu Nacional de Artes Visuais do Uruguai (MNAV), atual cartaz até 22 de outubro na Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, cuja oraganização de Enrique Aguerre, Heber Perdigón e Gustavo Possamai, oferece um panorama de quase oito décadas da carreira de um dos mais importantes artistas nascidos na nação vizinha, referência incontornável nas artes plásticas, não apenas no seu país de origem, mas além das suas fronteiras.
José Gamarra foi aluno de Iberê Camargo no Instituto de Belas Artes do Rio de Janeiro em 1959 e, graças ao apoio que recebeu do mestre, foi nomeado professor de pintura na FAAP/Fundação Armando Álvares Penteado, em São Paulo. Sua obra desenvolveu-se principalmente na França, onde se estabeleceu definitivamente em 1963, e onde iniciou a produção de suas paisagens da selva amazônica.
Esta mostra, de caráter antológico, abrange seus principais períodos criativos, que se iniciam com os seus desenhos e pinturas precoces, criados na infância e juventude, atravessam a abstração de seus signos até chegarem às suas sempre reveladoras e surpreendentes selvas. As pinturas de Gamarra possuem raízes profundas na história da América Latina e, segundo o próprio artista, podem ser interpretadas como uma espécie de crônica. Suas selvas têm sido visitadas por novos conquistadores que, com seus lança-chamas, apagam o arco-íris e substituem o majestoso condor por helicópteros. “Dupla agressão, contra homens e contra a natureza”, afirma o artista. Assim, a política está sempre presente em sua obra, abordando temas como a guerra, a agressão à natureza, a condição dos indígenas, o passado, o presente e o destino da América Latina. Não se pode compreender a história da arte produzida no Uruguai sem a contribuição do mestre José Gamarra – opinião esta, unanimemente aceita.
Está marcada para o dia 15 de agosto a abertura da mostra “Siron Franco – Armadilha para capturar sonhos”, no Farol Santander, Porto Alegre, RS. Serão 63 pinturas, executadas de 1973 a 2023, selecionadas por Gabriel Perez Barreiro no acervo do colecionador Justo Werlang. Por seu caráter quase retrospectivo, viabiliza a imersão em seu universo visual e pensamento, tão ligados às realidades e desafios do país.
Além das pinturas, a mostra conta com: 7 pequenos vídeos de cerca de 3 minutos, dispostos junto aos núcleos em que se organiza a mostra, nos quais o artista traz elementos relativos a cada conjunto de obras; e, o documentário “Siron – Tempo Sobre Tela” (2019) de André Guerreiro Lopes e Rodrigo Campos, quase totalmente a partir do arquivo pessoal do artista, oferecendo transparência sobre sua vida e processo criativo. Diversas obras serão exibidas pela primeira vez nesta exposição. A última mostra de Siron Franco na capital gaúcha ocorreu há 22 anos.
Com curadoria de Gabriel Pérez-Barreiro, a mostra é composta por sete núcleos expositivos que agrupam as obras a partir dos temas Cosmos, Segredos, Mitos, Homem, Biomas, Violência e Césio. Cada núcleo apresenta também um breve vídeo com o próprio artista comentando cada um dos temas e seu processo de trabalho. Além das pinturas, a exposição exibe o documentário “Siron. Tempo Sobre Tela” (Brasil, 2019, 91 min), filme dirigido por André Guerreiro Lopes e Rodrigo Campos. Com foco no tempo que brota da interação de um arquivo pessoal inédito com novas filmagens, o documentário ilumina a personalidade inquieta e a mente criadora do artista, encadeando pensamentos e memórias em associações inusitadas e reveladoras.
“Para mim, será uma alegria ver essas obras todas juntas, reunidas em uma mesma mostra. Nesta seleção há um pouco da história recente do Brasil”, afirma Siron.
Muitas das obras que fazem parte da exposição serão mostradas pela primeira vez ao público, como A Grande Rede, pintura realizada em 2023. Elas fazem parte da coleção particular de arte contemporânea de Justo Werlang. Durante a exposição, será lançado o livro das obras de Siron Franco presentes na coleção, incluindo objetos, esculturas e pinturas, além de entrevistas e textos inéditos de Gabriel Pérez-Barreiro, Cauê Alves e Angel Calvo Ulloa. Com cerca de 250 páginas, a publicação da editora Cosac&Naify tem coordenação editorial de Charles Cosac, Fabiana Werneck e Gabriel Pérez-Barreiro.
“Apresentar a exposição Armadilha para Capturar Sonhos é uma homenagem que o Farol Santander Porto Alegre presta ao artista plástico goiano Siron Franco. A mostra encanta por nos fazer navegar pelos vários mundos que o artista transita, tanto na figuração quanto na abstração, mas sempre com o propósito de chamar a atenção para temas importantes para refletirmos”, afirma Maitê Leite, Vice-presidente Executiva Institucional Santander Brasil.
A linguagem visual de Siron oscila entre a figuração (em que as imagens são apresentadas com clareza) e as abstrações (em que a pintura não representa objetos do mundo, mas cria uma impressão geral e uma energia). Suas pinturas são frequentemente constituídas de muitas camadas que se sobrepõem, escondidas pela camada mais superficial e visível aos olhos do espectador. Pérez-Barreiro explica: “Desde a década de 1970, o trabalho de Siron tem abordado de forma sistemática quase todas as questões que são dominantes na arte brasileira e internacional dos dias de hoje: catástrofe ambiental, discriminação, violência, injustiça, corrupção, raça, gênero, classe e assim por diante. Mas, ao mesmo tempo, seu trabalho teimosamente não é sobre essas questões. Siron é um artista que constantemente confunde as expectativas”.
“Porto Alegre é, para mim, uma espécie de lugar onde eu nasci. Minha primeira exposição na cidade aconteceu em 1972, quando ainda era muito jovem. É um lugar onde tenho muitos amigos e colecionadores”, afirma Siron Franco. Dessa forma, a exposição é também uma oportunidade para o público porto-alegrense revisitar a obra de Siron Franco que, há 22 anos, não tinha um conjunto tão representativo de seu trabalho apresentado no Rio Grande do Sul (a sua última individual aconteceu em 2001, no extinto Centro Cultural Aplub, com a série de objetos escultóricos intitulada “Casulos”). Em 1999, o artista ganhou uma retrospectiva no MARGS.
Sobre a coleção e o colecionador
Justo Werlang é colecionador de arte há aproximadamente três décadas. Personalidade importante no meio artístico brasileiro, é um dos responsáveis pela criação da Bienal do Mercosul (da qual foi presidente na 1ª e na 6ª edição), da Fundação Iberê Camargo (na qual integra o Conselho desde 1995), além de ter participado ativamente na Fundação Bienal de São Paulo (2009-2018). Sua coleção está constituída, especialmente, de trabalhos de Iberê Camargo, Francisco Stockinger, Siron Franco, Nelson Felix, Daniel Senise, Karin Lambrecht, Mauro Fuke e Felix Bressan, além de obras dos escultores Vasco Prado e Gustavo Nakle. Na opinião de Gabriel Pérez-Barreiro, “Justo Werlang tomou uma decisão importante ao limitar o número de artistas em sua coleção, optando por profundidade ao invés de variedade. Assim, seu acervo é um conjunto de vários núcleos abrangentes, quase retrospectivos, de alguns artistas, entre eles, Siron Franco”. Sobre a exposição “Siron Franco – Armadilha para Capturar Sonhos”, Pérez-Barreiro ressalta que “a diferença dessa seleção para aquela que poderia ser feita para uma exposição retrospectiva de múltiplas fontes, organizada por um museu, é que cada obra passou por um processo de escolha rigoroso e profundamente pessoal do colecionador. Como resultado, a seleção não pressupõe abrangência nem pretende fazer justiça à carreira do artista, embora, curiosamente, passe por praticamente todos os grandes trabalhos e momentos importantes de sua trajetória”. Siron Franco afirma que é muito difícil um artista sobreviver de seu trabalho sem a contribuição do colecionador. E acrescenta: “Cada colecionador escolhe um Siron diferente a partir das obras que coleciona. Colecionar é uma forma de amor, e muitos colecionadores cuidam melhor das obras até mais do que alguns museus. O Justo me coleciona há praticamente 50 anos. Nesta exposição, ele empresta as obras para que elas sejam divididas com o público, o que é algo muito generoso”. Sobre a dimensão que esta coleção toma ao ser apresentada ao público, Justo Werlang declara: “mostrar a seleção realizada pela curadoria, da coleção de trabalhos de Siron, me parece ter potencial para trazer à luz elementos relevantes do pensamento e da obra desse importante artista brasileiro. Essa mostra tende a evidenciar a pesquisa permanente do artista, as invenções artísticas que gerou ao impor-se mudanças periódicas e, por que não, seu precoce e permanente posicionamento frente a questões que só recentemente parecem estar na agenda de governos, instituições, formadores de opinião, e pessoas comuns como eu”.
Sobre o artista
“Não consigo ficar sem pintar, sem criar, porque para mim não importa como a criação vem. Às vezes, eu me impulso só com uma frase. Não importa a forma que a pintura cobre, porque ela é meu grande rio, e os restantes das linguagens são afluentes.” (Siron Franco em entrevista para Angel Calvo Ulloa, curador espanhol. Pintor, escultor, ilustrador, desenhista, gravador e diretor de arte (nascido Gessiron Alves Franco, em Goiás Velho, Goiás, em 1947), Siron Franco tem uma produção artística de predominância pictórica, em que mescla ora num vocabulário surrealista, ora com abstrações ainda passíveis de identificação alegórica, comentários críticos sobre problemas sociais e personagens da cultura pop e do cerrado goiano. Em 1959, aos 12 anos, passa a frequentar como ouvinte as aulas do curso livre de artes da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-Goiás), onde permanece até 1964. Simultaneamente aos seus estudos informais, Siron executa diversos retratos e paisagens do cerrado para a elite de Goiânia, a fim de arcar com os custos do curso e auxiliar a vida doméstica, e investe numa figuração gráfica grotesca e criticamente caricatural. Em 1968 é contemplado com o Prêmio de Desenho da Bienal da Bahia, mudando-se no ano seguinte para São Paulo, onde reside até 1971. Em 1974 recebe o prêmio de melhor pintor nacional na 12ª Bienal Nacional de São Paulo, participa também da 13ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1975, com 13 telas da série “Fábulas do Horror”. A série mais conhecida do artista, e que desencadeia uma mudança paradigmática em sua produção, é o conjunto de obras ligadas ao acidente radioativo do Césio 137, em Goiânia, em setembro de 1987. Como resultado de seu estado de indignação pela demora no atendimento aos contaminados e na contenção dos danos causados pela radiação, o artista produz telas, desenhos e esculturas em que há uma economia de elementos de fundo e um destaque às pontuais imagens que funcionam como alegorias a tragédia radioativa, principalmente, o uso do amarelo fosforescente em menção à letalidade da substância e da terra retirada diretamente do entorno da cidade de Goiânia. Após esse evento trágico, sua produção toma um rumo de militância política. O artista passa a elaborar monumentos e ações poético-críticas, transitando desde os tópicos das violações aos direitos civis até os problemas ecológicos e o genocídio histórico das comunidades indígenas. Ainda que com predomínio da pintura em sua obra, a produção de Siron Franco tem uma variedade técnica e material bastante rica, coerente com seus temas, que seguem das crônicas do cotidiano à crítica às fissuras sociais, com enfoque considerável na contingência do entorno de Goiás, com sua população laboral e indígena.
Sobre o curador
Gabriel Pérez-Barreiro é curador e historiador de arte, doutor em História e Teoria da Arte pela Universidade de Essex/Reino Unido e mestre em Estudos Latino-Americanos e História da Arte pela Universidade de Aberdeen/Reino Unido. De 2008 a 2018 foi diretor e curador chefe da Coleção Patrícia Phelps Cisneros, Nova York/EUA, onde atualmente trabalha como conselheiro técnico e estratégico. De 2002 a 2008 foi curador de Arte Latino-Americana no Blanton Museum of Art, Universidade do Texas, em Austin/EUA. De 2000 a 2002 foi diretor de Artes Visuais no The Americas Society, Nova York/EUA. Foi também coordenador de projetos e exposições da Casa de América (Madri/Espanha), curador e fundador da Coleção Essex de Arte Latino-Americana da Universidade de Colchester/Reino Unido. Em 2007, sua exposição Geometry of Hope foi reconhecida como a melhor exposição nacional pela seção norte-americana da Associação Internacional dos Críticos de Arte (AICA). Tem publicado livros e artigos sobre a história da arte iberoamericana e profere conferências e palestras em diversas universidades. É membro do coletivo ESTAR(SER) – the Esthetic Society for Transcendental & Applied Realization. No Brasil, Pérez-Barreiro atuou como curador-chefe da 6ª Bienal do Mercosul em Porto Alegre (2007), curador-chefe da 33ª edição da Bienal Internacional de São Paulo (2017/2018) e curador da representação brasileira na 58ª Bienal de Veneza (Itália, 2019). Foi também conselheiro da Fundação Iberê Camargo.
Anita Schwartz Galeria de Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, lança o “Projeto GAS 2024 – Chamada Aberta de Verão”, que busca impulsionar a circulação de artistas jovens ou com até 20 anos de carreira, nas diversas linguagens da arte contemporânea. As inscrições vão até o dia 28 de agosto, em formulário online, de acordo com as instruções que estão no site www.anitaschwartz.com.br.
Um comitê irá selecionar até 30 artistas – ou coletivos artísticos – brasileiros, ou estrangeiros. O resultado será anunciado até 04 de novembro.
Os artistas selecionados participarão de uma exposição coletiva no próximo verão, entre fevereiro e março de 2024, que ocupará todo o espaço da Anita Schwartz Galeria de Arte.
O nome do projeto foi inspirado no fato de que Gás é a matéria em estado fluído, tem qualidade expansiva, e pode preencher totalmente um determinado espaço. Atendo-se à ideia da criação como uma materialidade formada por partículas que impulsionam o movimento do sistema das artes, o projeto, por meio da chamada aberta, tem o objetivo de ser uma espécie de força motriz para a escuta e a amplificação de novas vozes da arte contemporânea brasileira.
O Projeto Verão, inicialmente uma coletiva pensada a partir da própria programação do ano na galeria, foi lançado em 2020. Após duas edições neste formato, se tornou uma chamada pública, que resultou na exposição “Saravá”, em fevereiro de 2022, com obras de 39 artistas – desenhos, esculturas, pinturas, instalações e videoarte -, selecionados dentre os mais de 500 portfólios inscritos de todo o Brasil e do exterior. O Projeto GAS 2024 – Chamada Aberta de Verão é a quarta edição da iniciativa.