Beyond van Gogh no Brasil

17/mar

 

Exposição imersiva da obra monumental de Van Gogh chegou a São Paulo, SP, permanecendo em cartaz até 07 de julho no MorumbiShopping, Jardim das Acácias.

Vivida por milhões de pessoas ao redor do mundo, a experiência “Beyond van Gogh” vai mudar a maneira de ver e sentir a genialidade do artista, usando tecnologia de projeção de ponta para criar uma viagem sensorial extraordinária

Neste ano de 2022, em que o Brasil celebra o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, o público poderá vivenciar uma exposição multimídia do gênio holandês que é um Patrimônio Mundial da Arte

Ao longo de uma carreira surpreendentemente curta, Vincent van Gogh criou uma obra tão deslumbrante que o passar dos anos somente aumentou sua importância e magnitude. “Beyond van Gogh” é uma viagem envolvente, um misto de luz, arte, cor, música e formas, projetadas no chão e nas paredes, dando ao visitante a sensação de estar dentro das obras do pintor apresentando mais de 300 obras-primas do artista que, livres de molduras, ganham vida, aparecem e desaparecem, fluem por múltiplas superfícies, projetadas no chão e nas paredes que se envolvem em luz, cor e formas para revelar flores, cafés, paisagens.

Em uma enorme instalação moderna, que abraça e acolhe o espectador de todas as idades, as cores e as emoções impressas nas obras de Vincent van Gogh serão apresentadas de uma maneira pop e sensorial, em um pavilhão de mais de 2.000 metros quadrados especialmente construído no estacionamento do piso G4 do MorumbiShopping para abrigar a exposição.

Para isso, a configuração de projeção brilha por meio de 332.000 lumens – que determina a intensidade da luz – de 30 projetores, cada um classificado para 10.000 lumens. Cada projetor, por sua vez, se conecta a um dos 12 computadores com monitores utilizando a premiada tecnologia “Watchout” de várias telas. O sofisticado equipamento utiliza três distribuições completas que ultrapassam 100 amperes com 1000 metros de cabos e mais de 400 metros de estrutura suspensa e 500 metros quadrados de tecidos espalhados por todo o pavilhão, para transformá-lo em uma grande tela móvel. Embalada por uma trilha sonora contemporânea e usando os sonhos, pensamentos e palavras do artista, a exposição leva a uma nova apreciação do trabalho impressionante do gênio holandês.

 

 

Novidade da Gomide&Co

 

 

A galeria Gomide&Co, Jardins, São Paulo, SP, anuncia com grande entusiasmo a representação do artista português Tiago Mestre (1978). Radicado em São Paulo há cerca de doze anos, o artista desenvolve o seu trabalho entre a pintura, a escultura e a instalação, meios pelos quais explora questões que relacionam a sua formação inicial em arquitetura com a discursividade da arte contemporânea.

Valendo-se de materiais diversos, Mestre constrói um universo que responde, através da arte, à dimensão retórica dos projetos arquitetônicos e artísticos da modernidade (e seus desdobramentos em nossos dias). O carácter impreciso (e por vezes ambíguo) das suas esculturas e pinturas nos remetem frequentemente para um olhar que atravessa a relação primordial do homem com a natureza e toda a vasta cultura material que daí surge. Não raro, contudo, o seu trabalho se desdobra em especulações voltadas para as relações tensas – mas sempre lúdicas – entre fundo e forma, superfície e estrutura, possibilitando assim uma alternância constante entre questões relativas à especificidade dos meios artísticos (por vezes técnicas ou funcionais) e um exercício de manutenção da liberdade de uma poética mais ampla que evoca outras práticas (cinema, literatura, música…).

“É na exposição que meu trabalho realmente acontece” – sublinha Tiago Mestre, querendo com isso dizer ser ali que o espaço do ateliê realmente termina, contando que muito do raciocínio do artista se vale dessa organização e edição da obra no espaço de apresentação. A exposição torna-se, em si, uma disciplina.

Tiago Mestre formula os seus “comentários do mundo” a partir de trabalhos que não se fixam em um estilo definitivo – cada projeto pode se inscrever em um campo de pesquisa temática e formal particular. A partir do trabalho dessa mão “não especializada”, mas disponível, o artista visa promover o que chama de “descontinuidade/clivagem do estatuto” da obra, possibilitando uma troca mais livre e intuitiva entre disciplinas artísticas, temporalidades históricas, dispositivos de apresentação e narrativas, em contraponto a uma discursividade mais linear e normalizada.

Quatro artistas

 

 

Quatro artistas, sob a curadoria de Sonia Salcedo del Castillo, inauguram coletiva na Galeria Patricia Costa, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ. A partir do dia 24 de março Ana Durães, Ana Luiza Rego, Monica Barki e Nelly Gutmacher expõem seus trabalhos. A coletiva “As – Durães Rego Barki Gutmacher” apresenta pinturas, fotografia e objetos pictóricos no novo espaço da galeria, que dobrou de tamanho e agora ocupa 160m².

Sonia Salcedo del Castillo assinala que:

“No conjunto exposto há uma pulsão léxica, de convivialidade, que é ulterior à retórica feminina. Trata-se de uma dinâmica, possivelmente, legada de experimentações empreendidas entre as décadas de 60-80, da performance ao conceitual, passando pela ideia de objetualidade que nos conduz à percepção de certa carnalidade corpórea, quiçá emprestada da pintura. Sensualidade de corpos, curvas e formas sinuosas, de frestas ambíguas e imagens oníricas… de fragmentos míticos, ancestrais, eróticos, naturais…”.

“Isso se expressa na volúpia da arqueologia escultórica dos objetos de Nelly, na luminosidade pictórica dos planos arbóreos de Durães, na dramaturgia das imagens viris ensaiadas por Barki, na mítica pictural de vazios e cores construída por Rego.”.

 

Sobre as obras e as artistas

A paisagem, a presença de árvores e a natureza integram o campo narrativo que Ana Durães instala nas suas pinturas, fruto de uma pesquisa já realizada há alguns anos. Na coletiva, as pinturas apresentadas fazem parte da grande série “Natureza Alterada”, resultantes de um trabalho realizado a partir da vegetação observada em suas incursões pelo interior do Brasil. Segundo a artista, seria como olhar para o interior com uma visão mais profunda e investigativa.

Segundo Ana Luiza Rego, dentro de um mundo paralisado, no auge da pandemia, um coração acelerado ganhou espaço nas suas telas, como um avatar que viajava por tempos, momentos e espaços poéticos. Ele continua aí, como um pássaro que fugiu da gaiola, percorrendo sentimentos e questionamentos compondo suas “Crônicas do Devaneio”.

Monica Barki descortina o mundo fantasioso dos motéis cariocas. São ao todo três pinturas e uma fotografia da série “Desejo/Arquitetura do Secreto” (2014/2017), com performances realizadas em diversos motéis do Rio de Janeiro. Da Barra da Tijuca a São Gonçalo, passando por Botafogo, Lapa, Glória e Avenida Brasil, a artista frequentou as mais diversas suítes captando imagens com sua câmera. Na maioria das vezes, Barki age como protagonista da obra, elaborando e executando as ações. Ela cria nos quartos uma atmosfera quente, sensual e convidativa, utilizando a superposição de imagens, jogos de espelhos, máscaras, luzes, janelas, objetos eróticos e instrumentos de prazer.

Ao empregar seu próprio corpo para a moldagem inicial em gesso, que depois será transformada em cerâmica, Nelly Gutmacher pesquisa esta linguagem do corpo, linguagem não discursiva. Age um pouco como o médico legista que disseca as partes do corpo para melhor conhecê-lo: seios, ancas, ventre, pele, tímpano, hímen. E não contente em isolar estes fragmentos, recolhe neles, ou com eles, a lingerie, o sutiã, a calcinha, que são atributos de sedução, segunda pele ou corpo. Erotizados pelo corpo, estes objetos-fetiches são arqueologicamente parte dele, portadores de significados. Mais: Nelly pesquisa, no corpo, os símbolos da repressão (ou da libertação): incrustações de chaves e de ornamentos.

De 25 de março a 30 de abril.

 

Seminário para Magliani

15/mar

 

 

A trajetória e a obra da artista plástica, pintora, desenhista, escultora e gravadora Maria Lídia Magliani (1946 – 2012) serão temas de dois encontros, uma parceria entre o Instituto Ling e a Fundação Iberê Camargo, ambos em Porto Alegre, RS. A programação acontece entre os dias 19 e 21 de março, com transmissão pelos canais do YouTube das duas instituições. Foram convidados da exposição “MAGLIANI”, dentre outros, diversas personalidades da vida cultural local e nacional como palestrantes dos encontros como a curadora Denise Mattar, a jornalista cultural Angélica de Moraes, a artista plástica mineira Maria José Boaventura, os jornalistas Paulo Gasparotto, Juarez Fonseca, Omar Filho e Antônio Hohlfeldt, o marchand Renato Rosa, a pintora Romanita Disconzi, o diretor teatral Luís Artur Nunes e o dramaturgo Julio Zanotta Vieira. Este seminário faz parte da programação da exposição em homenagem à Magliani, em cartaz na Fundação Iberê Camargo em cartaz a partir do dia 19 de março.

 

Inéditos de Afonso Tostes

14/mar

 

 

 

A Mul.ti.plo Espaço Arte, Leblon, Rio de Janeiro, RJ, inaugurou no exposição individual de Afonso Tostes. Conhecido por suas esculturas em madeira descartada, na mostra “As coisas que ainda existem” Afonso Tostes apresenta cerca de 16 trabalhos inéditos, incluindo peças esculpidas sobre carvão, material extremamente instável. As novas obras, criadas durante a Pandemia, trazem reflexões sobre os impactos ambientais causados pelo homem, remetendo a queimadas, mudanças climáticas, extinção de espécies, etc. Nas peças apresentadas, além de madeira e carvão, entram também ferro e papel. A exposição permanecerá em cartaz até 29 de abril.

Sem apresentar-se individualmente no Rio de Janeiro desde 2015, na atual mostra da Mul.ti.plo, Afonso Tostes traz exibe três esculturas de grande formato, sete objetos de parede sobre tela e seis desenhos sobre folhas de dicionário, divididos em três séries. “Trabalho sobre o que já existe, coisas descartadas por aí, que sofreram a interferência da mão humana. Me interessa a relação do homem com seu entorno, com a natureza. Não falo apenas da relação com o meio ambiente, mas também das relações pessoais, das nossas expressões visíveis e invisíveis”, explica Afonso Tostes.

A série com carvão é composta de cerca de sete objetos de parede sobre tela, de 40x50cm cada um. O trabalho começou com a coleta de restos de árvores carbonizadas em uma queimada na região de Visconde de Mauá. Depois, ele encontrou numa rua de Copacabana um dicionário ilustrado da década de 1960. “Tinham várias reproduções de pinturas da natureza, uma catalogação das espécies. Comecei a confrontar essas duas ideias e daí nasceu a série, que junta carvão esculpido com ilustrações de borboletas, peixes, aves, roedores, insetos e mamíferos”, explicou o artista.

Em outra série, utiliza as folhas da enciclopédia como base para desenhos feitos com pigmentos de pó residual de madeira, recolhido em seu próprio ateliê. Essas obras medem entre 210x100cm e 60cmx40cm. Para completar a mostra, Afonso Tostes apresenta também esculturas feitas a partir de galhos, amarrados, de 202cmx60cm. “Com uma linguagem potente e singular, as obras de Afonso nessa exposição falam da precariedade humana. Os trabalhos são sofisticados, e carregam uma certa melancolia da hora, um sentimento de fragilidade da vida, dessa capacidade que temos de destruí-la mas também de transformá-la em poesia”, assinala Maneco Müller, sócio da galeria.

 

Sobre o artista

Afonso Tostes nasceu em 1965, na cidade de Belo Horizonte, MG. Sua trajetória artística teve início em sua cidade natal, onde cursou a Escola Guignard (UEMG). No final dos anos 1980, transferiu-se para o Rio de Janeiro, voltando-se para o estudo do suporte bidimensional – posteriormente acompanhado por uma vasta produção escultórica com madeiras encontradas nas ruas. O interesse do artista volta-se para o alcance de métodos simples a partir desses materiais descartados, desenvolvendo esculturas aparentemente despojadas de complexidade estrutural e que carregam no corpo os sulcos e as marcas dos usos anteriores. Em sua obra, opta quase sempre por materiais que já tenham passado por algum processo de utilização. Sua prática também propõe experiências sensíveis nascidas de um olhar crítico para o mundo. Afonso Tostes vive e trabalha no Rio de Janeiro.

A polissemia da arte

 

Sentidos - Midrash

 

 

Com o patrocínio e parceria institucional do Midrash Centro Cultural, o Centro Cultural dos Correios, Centro, Rio de Janeiro, RJ, inaugurou a mostra “SENTIDOS”.

A exposição, que reflete, experimenta a transversalidade e explora os sentidos polissêmicos da arte através das obras de Esther Bonder, Ana Coutinho, Flávia Fabbriziani, Márcio Atherino e Pry Oliveira, permanecerá em exibição até o dia 10 de abril. A curadoria é de Patricia Toscano.

A mostra é gratuita, livre para todas as idades.

 

Eleonore Koch no MAR

11/mar

 

 

A mostra “Eleonore Koch: Espaço Aberto”, no Museu de Arte do Rio, MAR, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresenta pela primeira um conjunto de quase 150 obras da pintora. O Rio de Janeiro foi a cidade que abrigou a artista alemã, de origem judaica, por quase uma década, desse modo a cidade ganha a sua primeira retrospectiva dedicada à artista.
Eleonore Koch (1926 – 2018) chegou ao Brasil com a família aos 10 anos, fugindo do nazismo. Aqui, se tornou a única discípula do pintor Alfredo Volpi, mas desenvolveu um estilo independente. Tendo vivido em São Paulo, Rio de Janeiro e Londres, deixou um legado expressivo ao país que primeiro a acolheu.
Com curadoria de Fernanda Pitta, da Pinacoteca do Estado de São Paulo, em colaboração com os curadores do MAR, Marcelo Campos e Amanda Bonan, a exposição reúne pinturas em têmpera – técnica que a pintora aprende com Volpi -, desenhos em pastel, carvão e guache, provenientes de diversas coleções.
Muitas haviam sido guardadas pela artista até sua morte e vieram a público com o leilão de suas obras, desejo que expressou em seu testamento. A seleção é completada por documentos, fotos e objetos, que ajudam o público a adentrar o universo de Eleonore Koch.“Na capital carioca, Eleonore Koch ganha características próprias, independentes de seu mestre Volpi, no que diz respeito aos seus temas e às suas estratégias artísticas. É também no Rio que Eleonore passa a trabalhar com a temática da paisagem, até então não muito explorada por ela”, diz a curadora Fernanda Pitta.
Artista ímpar, metódica e irreverente, perfeccionista e temperamental, mas sobretudo consciente de si e de sua prática, Eleonore Koch desenvolveu uma vasta produção ao longo de seus 93 anos. Menos de quatro anos após sua morte, suas obras começam a se tornar amplamente reconhecidas.
Até 1º de maio.

Para rever Portinari

 

 

A exposição “Portinari para todos” está em cartaz no MIS Experience e revisita a obra de um dos grandes ícones da arte do século 20 de uma forma inédita, proporcionando uma experiência imersiva no universo do artista.

A mostra é dividida em três áreas expositivas. A primeira traz sete instalações interativas para que o público conheça mais da vida e do legado do artista. Na sequência, o visitante ingressa na sala “Portinari imenso”, que possibilita a imersão nas obras, em escala monumental, de forma contemplativa e envolvente. O terceiro espaço contextualiza o acervo de Portinari e sua ligação com a cultura e história do país, reiterando a importância da preservação da memória do artista.

Com curadoria de Marcello Dantas, a exposição permite às novas gerações se envolverem com a potência, a diversidade e singularidade da obra de Portinari.

O MIS Experience fica na Rua Vladimir Herzog, 75 – Água Branca – São Paulo, SP. O local situa-se entre os bairros da Barra Funda e da Lapa. Para quem vem pela Marginal Tietê, o Museu está entre as pontes da Freguesia do Ó e Piqueri.

 

Até 10 de julho.

Magliani, restrospectiva na Fundação Iberê Camargo

10/mar

 

 

A artista visual Maria Lidia Magliani será homenageada pela Fundação Iberê Camargo com uma grande exposição que aborda 50 anos de produção.

“Não separo a artista da pessoa. Sou toda um mesmo nó – minha escolha é pintar, não saberia como ser de outro modo. Aparentemente fiz e faço muitas outras coisas, na verdade, todas partes de uma só, a pintura.” (1987)

No dia 19 de março, sábado, às 14h, a Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, inaugura uma grande e inédita exposição de Magliani (1946-2012). “Magliani” reunirá cerca de 200 obras provenientes de mais de 60 coleções, incluindo os principais museus do Brasil como Museu de Arte do Rio, Museu Afro Brasil, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de Arte Moderna de São Paulo, MAC-USP, MAC-RS, Museu de Arte de Santa Catarina, MARGS, Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (Pelotas) e Fundação Vera Chaves Barcellos (Viamão). Com curadoria de Denise Mattar (SP) e de Gustavo Possamai (RS), a mostra inclui trabalhos desde a época de estudante – início dos anos 1960 – até 2012, ano de seu falecimento.

“A obra de Magliani é um desafio. Não é uma arte fácil, é feita para incomodar, para fazer refletir. A artista estava interessada nas questões humanas, nas relações entre os seres, nos problemas e no sofrimento inerente à existência: o desencontro, o desamor, a hipocrisia da sociedade, o medo da solidão. A apresentação de seu trabalho na Fundação Iberê Camargo, torna inevitável o paralelo com o pintor. Em 1993, Iberê disse: “Eu não nasci para brincar com a figura, fazer berloques, enfeitar o mundo. Eu pinto porque a vida dói”. Uma frase que poderia ser de Magliani, que, em 1997, escreveu: “Eu gostaria de dizer às pessoas que veem os meus quadros: !Sinto muito senhores, não é agradável’”, destaca Denise Mattar, que conheceu Magliani em 1987 quando era diretora técnica do Museu de Arte Moderna de São Paulo, e a artista participara do Panorama de Arte Atual Brasileira. Mais tarde, em 2004, a curadora reencontrou a artista no Rio de Janeiro, onde fez a apresentação da exposição “Trabalho Manual”.

Como lembra Gustavo Possamai, responsável pelo acervo da Fundação Iberê Camargo: “Magliani foi uma artista rara e merece todo reconhecimento. Por isso, garimpamos e reunimos o máximo de obras possível, sem medir esforços. Promovemos a restauração de muitas delas, reunimos escritos e depoimentos seus e de quem escreveu sobre seu trabalho, revisamos e ampliamos sua cronologia. É nossa forma de contribuição para a redescoberta de seu trabalho.” Possamai conta que, durante o processo de pesquisa, foi encontrada uma carta de Iberê Camargo para Magliani, datada de 1992, na qual o pintor escreveu: “Nós dois temos a mesma meta, o mesmo ideal, a mesma devoção. Haveremos de deixar nossos rastros neste chão em que nascemos.” Um depoimento precioso que reitera a oportunidade dessa exposição.

“…pinto a solidão no meio da cidade… a solidão do consumo”

Nascida em 25 de janeiro de 1946, em Pelotas, RS, Magliani passa a residir com a família em Porto Alegre, com 4 anos de idade. As informações sobre a família são esparsas. Seu avô era italiano, decorador de paredes; o pai servidor público e a mãe era do lar. A artista, apesar das dificuldades financeiras enfrentadas pela família, desde a adolescência gostava de ler, ouvir música, cinema, teatro, desenhar e de pintar.

Magliani formou-se em Artes Plásticas pelo Instituto de Artes da UFRGS, mas se autodenominava pintora: “…artista plástico faz muita coisa; eu só pinto, desenho, gravo, tudo derivado da pintura”. Apesar da afirmação, ainda na década de 1960, trabalhou em teatro, ilustrando capas de programas, fazendo cenografia e atuando em peças, como “As Criadas” (1969), de Jean Genet, “A Celestina” (1970), de Fernando Rojas, e “O Negrinho do Pastoreio” (1970), de Delmar Mancuso, nesta última como protagonista. A artista também se interessava por moda, e apreciava customizar, costurar e tricotar o que vestia.

Outra área de atuação foram os jornais, onde trabalhou, nos anos 1970, como diagramadora e ilustradora, ofício retomado em algumas mudanças de cidade posteriormente. Os jornais foram Folha da Manhã, Diário de Notícias, Zero Hora e Folha de São Paulo, entre outras participações e ilustrações.

Magliani deixou de residir em Porto Alegre em 1980, morou em São Paulo, em Tiradentes, Cabo Frio e no Rio de Janeiro, mas nunca se desligou nem de Porto Alegre e nem de sua terra natal, Pelotas, realizando regularmente exposições nessas cidades.

Sua produção é intensa e vigorosa e a exposição apresenta um panorama bastante consistente de seus trabalhos. A mostra é complementada por uma publicação dividida em dois volumes: o primeiro concebido como um catálogo de obras, e o segundo reunindo entrevistas e textos de Magliani, cartas, textos sobre ela de autores como: Carlos Scarinci, Teniza Spinelli, Celso Marques, Angélica de Moraes, Maria Amélia Bulhões, entre outros.

Reunindo um volume significativo de obras, a exposição apresenta trabalhos de todo o percurso de Magliani, organizados de forma cronológica e mostrando as alterações que sua obra foi sofrendo ao longo dos anos. Para compartilhar com o público a instigante personalidade da artista e sua multiplicidade, o trajeto da mostra é complementado com algumas frases e fotos da artista em vários momentos de sua vida. Na sequência são apresentadas pinturas do início de sua carreira, de 1964 a 1967, caracterizadas por um clima melancólico e lírico, com a inserção das frases poéticas riscadas sobre a tinta: “A espera do canto”, “O mesmo corpo com som de primavera”, “Autoretrato na nuvem”, “Eu tenho a flor”, e “Eu sou a inútil pureza nascida de dois silêncios” são algumas delas.

Em 1968 há uma mudança significativa na obra da artista, na qual ela se descreve como uma “delatora do desencontro”. É uma fase de passagem, influenciada pela pop art com trabalhos, como “Segundo canto para o amigo triste” e “As portas fechadas da cidade”. Um período difícil da Ditadura militar e a convivência com a Censura nas redações influencia a obra de Magliani. Seu repertório torna-se mais drástico, e, em 1976, ela faz a exposição “Anotações para uma história”, no MARGS. Foi um choque! A sociedade gaúcha não estava preparada para o que viu. No ano seguinte, levou ainda mais longe sua proposta realizando a série “Ela”, com grotescas mulheres seminuas, imensamente gordas, que ela considerava uma espécie de retrato interior da humanidade, e dizia: “Minha intenção é fazer a figura sair da tela, se derramar por cima da gente, sufocando”. A série, muito bem representada na retrospectiva, chamou a atenção dos críticos Jacob Klintowitz e Marc Berkowitz e foi determinante para a mudança da artista para São Paulo. Antes de ir embora, realizou na Galeria Independência, em Porto Alegre, a exposição “Brinquedo de armar”, reunindo desenhos e pinturas, sobre as quais dizia: “Acho que a mulher é o brinquedo mais armado e desarmado constantemente. Mas considero que todo mundo é, ou pode ser, um brinquedo de armar.”

O período de 1980 a 1988, o mais marcante da carreira da artista, coincide com o tempo em que ela residiu em São Paulo. Lá produziria as séries “Retratos falados”, “Crônica do amanhecer” e “Discussões com Deus”. Abandonando os tons sépia, passa a usar cores vibrantes e ácidas; mescla lápis de cor, de cera, pastel, grafite e até materiais de maquiagem, como corretivo e delineador, e muda o tratamento da pintura, usando a tinta acrílica e adotando pinceladas ágeis e gestuais, como traços de desenho, num processo que imprime movimento ao trabalho. É um momento no qual a obra de Magliani conversa de perto com a de Francis Bacon, atingindo o ápice de contundência e visceralidade da pintora. Retorcidos e distorcidos, corpos e rostos se desfazem e refazem, em movimentos bruscos.

Seus trabalhos são apresentados no Panorama do Museu de Arte Moderna de São Paulo, Bienal Internacional de São Paulo, e, em 1987, Evelyn Ioschpe promove no MARGS uma mostra de caráter retrospectivo: “Auto-retrato dentro da jaula”. Dez anos depois Magliani foi acolhida pelo público de sua cidade como uma estrela, a mais importante artista gaúcha de sua geração. O público poderá ver novamente todas essas séries, hoje integrando coleções de museus como Pinacoteca do Estado de São Paulo, MAM-SP e MAC-USP.

Em 1989, ela já estava cansada da violência e da poluição e queria fazer pinturas em um lugar mais tranquilo. Escolheu a pequena e histórica Tiradentes, MG. Lá, suas pinturas revelaram a solidão das montanhas, retomando os tons terrosos, nas séries “Em Gerais”, “Madrugada insone” e “Acumulações”. A artista também desenvolve, nesse período, uma série de cabeças, que são esculturas em madeira e papier machê.

Em 1997, mais uma mudança, agora para o Rio de Janeiro, mais especificamente o bairro de Santa Tereza. Passou a frequentar o Estudio Dezenove, onde conhece o artista Julio Castro.

Em 1999, Magliani retornou a Porto Alegre, onde ministrou algumas aulas e oficinas de pintura e papier machê. A passagem pela capital gaúcha durou um ano. No ano 2000 voou para o Rio de Janeiro. Com tantas mudanças a produção de Magliani diminui, mas há séries marcantes nesse período: “Acumulações” e “Alfabeto”, trabalho que deriva para as figuras recortadas das séries “Retratos de Ninguém” e “Todos”. A partir de 2009 é intensa sua produção de gravuras, impressas no Estudio Dezenove. “Um dos sonhos”, “Fábula”, “Da noite” e “O poeta” são algumas delas. Curiosamente, ao lado desse mergulho no universo monocromático, denso e expressionista da gravura, Magliani desenvolve a série mais colorida e lúdica de toda a sua carreira. São pinturas realizadas em estridentes cores acrílicas, recortes em madeira e objetos. Uma parte desse conjunto, sob o título “My baby just cares for me”, apoiada em gravação da cantora Nina Simone, foi apresentada em exposição individual no Museu Imaginário, em Bruxelas, Bélgica.

Todos esses momentos, apresentados em conjunto, revelam com clareza a excelência da obra de Maria Lídia Magliani, que começa a ser redescoberta também internacionalmente.

Magliani humanista

Apesar de pessoalmente engajada na luta pelos direitos humanos, Magliani não admitia que sua obra fosse interpretada como política ou identitária. Era intransigente nessa questão. São muitas as declarações dela a esse respeito. “Meu interesse é pelo que as pessoas sentem, não pelo que elas pensam […] Tenho preocupação com a vida, com a humanidade em geral. Nada a ver com raça específica, religião, nada. Uma coisa que é comum a todo mundo. A essência humana é igual para todos. O que interessa é isso. Todos os outros acréscimos: nacionalidade, cor, ideologia, credo, preferência sexual, time de futebol, tudo isso é acessório.”

Dentro dessa atitude de defesa da autonomia da sua obra, acima de qualquer circunstância, está também a rejeição a todo tipo de abordagem referenciando seu trabalho à Negritude. “Por que sempre me perguntam como é ser negra e ser artista? Ora, é igual ao ser de qualquer outra cor. As tintas custam o mesmo preço, os moldureiros fazem os mesmos descontos e os pincéis acabam rápido do mesmo jeito para todo mundo.”  A posição de Magliani sempre foi candente nessa questão, e ela afirmava, desassombradamente, que era contrária a guetos. Na publicação da UFRGS, “Nós, os afro-gaúchos”, de 1997, fez a seguinte declaração, quase um manifesto: “Sou brasileira, nascida no Rio Grande do Sul. Isto é o bastante. Não quero escolher uma raça em função da cor da minha pele. Não quero ser fatiada, dividida em porções, me aceito como soma.”

Uma lutadora, sem medo de desafios, que, entre divertida e séria, dizia: “Minha mãe falava: ‘Não se pode dar um passo maior que as pernas.’ Então vou ficar sentada, não vale a pena caminhar? Qual é a graça? Dar um passo maior que as pernas sempre. Romper expectativas, e os estereótipos principalmente.” Maria Lídia Magliani faleceu em de 21 de dezembro de 2012, no Rio de Janeiro, vítima de uma parada cardíaca.

 

Uma celebração: Ser Mulher

 

 

A determinação e o espírito empreendedor de uma mulher são o coração da Art Lab Gallery, Jardins, São Paulo, SP. Firme no propósito de dedicar-se a expandir os limites da arte e dos artistas, possibilitando que suas criações cheguem aos mais diversos públicos, a galerista e curadora Juliana Mônaco abre a exposição “ARTE E MULHER” com, aproximadamente, 300 trabalhos criados por 100 artistas mulheres. Mulheres de diferentes idades e culturas trazendo suas próprias versões do feminino em suportes variados como pinturas, desenhos, esculturas, fotografias e objetos.

“Perspectivas e expressões diversas geradas pela potência do cerne feminino de mais de cem mulheres artistas, entre elas uma adolescente em sua primeira exposição, uma muçulmana, e também uma índia, em pares com as consagradas Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Lina Bo Bardi, Fayga Ostrower, Tomie Ohtake, entre outras como Noemia Mourão – 1° esposa de Di Cavalcanti, e Eleonore Kock – aluna do Volpi, mulheres intensas que nos convidam à adentrar em seus íntimos através da arte. Basta observar e sentir”, explica a curadora.

Entre essas artistas, que através de suas obras discutem os desafios e sensações do que é ser mulher em sociedade hoje, podemos citar nomes como Silvia Borini, artista convidada, que apresenta um recorte da série de 1985 sobre os estágios emocionais da gestação – a fase azul; Ana Goulart, Carol Moraes, Elis Regina Mancini, Graça Tirelli, Lu Gerodetti, Luiza Whitaker, Marcia Cavinati, Mariana Naves, Mariella Morrone, Rebeca Bedani, Renata Kandelman além de nomes como Eliana Minilo, Fayga Ostrower, Renina Katz, Lina Bo Bardi, Lucy Citti, Maria Helena Chartuni, Maria Leontina, Rosina Becker, Yolanda Mohalyi, entre muitas.

“Distribuídas por toda a extensão da galeria, as obras contemporâneas em multilinguagens, abordam manifestos particulares das mulheres artistas. Um espaço de inflexão para coexistir mulher. Através da ressignificação do feminino, honrar no sangue e no querer, a força e o amor de milhares que vieram antes de nós.” Juliana Mônaco

 

De 11 a 19 de março.