Individual de Marina Saleme

06/out

 

A Mul.ti.plo Espaço Arte, Leblon, inaugura a exposição “Partes”, da artista paulistana Marina Saleme. A mostra traz cerca de 60 obras em pequenos formatos pinçadas de uma numerosa série de desenhos e pinturas feitas ao longo dos últimos três anos. Por conta da pandemia, a inauguração da mostra será feita em dois dias: 07 e 08 de outubro (quinta e sexta-feira). O encerramento está marcado para 03 de dezembro.

 

A série de desenhos de Marina Saleme é o resultado de um obsessivo esforço de investigação da artista sobre uma mesma imagem: uma mulher sentada, encolhida, de cabeça baixa, numa atitude profundamente ensimesmada e impactante. De 2019 a 2021, a artista desenhou a mesma figura mais de 1.500 vezes, com tintas, cores, traços e suportes diferentes. A mostra da Mul.ti.plo reúne parte desse trabalho.

 

“Partes” apresenta-se também como um recorte intimista da grande instalação que Marina Saleme apresenta no CCBB do Rio, no mesmo período, chamada “Apartamentos”. Os nomes remetem tanto a um espaço físico como a um espaço emocional: o sentimento de estar sozinho, apartado, sensação intensificada pela pandemia. Com dimensão máxima de 25cm X 35cm, os desenhos exibidos na Mul.ti.plo utilizam materiais como giz de cera, tinta a óleo, tinta acrílica e caneta sobre papel e tela. Segundo Marina Saleme, as duas mostras são complementares e propõem formas diferentes de ver o mesmo trabalho. “A instalação no CCBB faz um olhar panorâmico sobre a solidão escondida na cidade. A multidão de pessoas sozinhas nos apartamentos. A montagem na Mul.ti.plo, ao contrário, convida ao particular, a um olhar mais concentrado, mais intimista, mais próximo e acolhedor”, explica a artista. A última exposição dela na Mul.ti.plo foi em 2016 e 2017, também como uma paralela de uma grande mostra no Paço Imperial, no mesmo período.

 

 

Sobre a artista

 

 

Marina Saleme nasceu em São Paulo, 1958. Concluiu a licenciatura em Artes Plásticas na Fundação Armando Álvares Penteado, em 1982. Nos primeiros anos, a artista trabalhava principalmente com manchas tonais, sem referência à figura humana, utilizando formas compostas por linhas ou grids. No entanto, como afirma a artista: “Meus trabalhos nunca são totalmente abstratos”. Já a partir da metade da década de 1990, sua produção passa a ganhar alusões figurativas a pessoas, chuva, flores, nuvens, muitas vezes indicadas nos próprios títulos. Na década seguinte, sua linha se torna sinuosa e se curva desenhando arabescos que por vezes estão parcialmente encobertos por outras imagens, em outros momentos são evidenciados na camada mais superficial. Destacam-se as exposições individuais e coletivas no Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto (2019); Paço Imperial, Rio de Janeiro (2017); Museu de Arte Contemporânea de São Paulo (2008); Paço das Artes, São Paulo (2003); Centro Universitário Maria Antônia, São Paulo (2001); Centre D’Art Contemporain de Baie-Saint-Paul, Canadá (2004); Palácio das Artes, Belo Horizonte (1996); Embaixada do Brasil na França, Paris (1989); entre outras. Coleções das quais seus trabalhos fazem parte incluem: Coleção Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto; Embaixada do Brasil em Roma; Instituto Cultural Itaú, São Paulo; Pinacoteca do Estado de São Paulo; Museu de Arte Moderna de São Paulo e do Rio de Janeiro.

 

 

Até 03 de dezembro.

 

 

 

Com Millan & Raquel Arnaud

 

 

A Galeria Millan e a Galeria Raquel Arnaud, São Paulo, SP, apresentam a exposição coletiva “Vício impune: o artista colecionador”, com curadoria de Gabriel Pérez-Barreiro. A mostra reunirá, nos espaços das duas galerias, uma seleção de nove artistas representados, ao redor do diálogo entre seus trabalhos e coleções. Dentre os artistas colecionadores, estão: Artur Barrio (Porto, Portugal, 1945), Iole de Freitas (Belo Horizonte, MG, 1945), Paulo Pasta (Ariranha, SP, 1959), Sérgio Camargo (Rio de Janeiro, RJ, 1930 – 1990), Tatiana Blass (São Paulo, SP, 1979), Thiago Martins de Melo (São Luís, MA, 1981), Tunga (Palmares, PE, 1952 – Rio de Janeiro, RJ, 2016), Waltercio Caldas (Rio de Janeiro, RJ, 1946) e Willys de Castro (Uberlândia, MG, 1926 – São Paulo, SP, 1988).

 

 

Desenvolvida ao longo dos últimos anos, a pesquisa de Pérez-Barreiro sobre o colecionismo encontra no contexto desta mostra um campo de análise, em que o espectador é convidado a compreender as nuances de diferentes relações entre artistas colecionadores e suas coleções. Em seus mais diversos modelos, as práticas de coletar e colecionar mostram-se singulares em cada um dos nove casos apresentados e essenciais para a compreensão de cada produção artística em sua complexidade. Segundo o curador, “as coleções dos artistas podem nos dizer não apenas sobre sua própria prática: o que eles vêem no trabalho de outros que os impacta, mas também estão frequentemente na vanguarda de reconhecer e valorizar fenômenos antes subestimados”. Foi com esse propósito que as galerias decidiram realizar a exposição.

 

 

Esculturas e relevos de Sérgio Camargo são expostas ao lado de parte de sua vasta coleção de pinturas de Hélio Melo (Vila Antinari, AC, 1926 – Goiânia, GO, 2001), seringueiro, artista e compositor autodidata. O contraste entre as pinturas fantásticas de Melo e a estética construtiva de Camargo traz à tona uma nova abordagem sobre este artista já consolidado na história da arte brasileira, assim como revela a permeabilidade entre movimentos e tendências.

 

 

Duas esculturas (ambas Objetos ativos) de Willys de Castro – cuja frase publicada em artigo empresta título à exposição – são exibidas ao lado de uma coleção de arte indígena, uma dentre tantas que o artista preservou e estudou. Com trabalhos de arte plumária e cestarias amazônicas, o conjunto montado nos anos 1970 e 1980 revela um outro lado de seu fascínio pelas formas e padrões geométricos, desdobrados em diversos níveis da percepção ao longo de sua produção.

 

 

Em diversos contextos, as coleções evidenciam interesses e obsessões singulares, como é o caso de Waltercio Caldas e sua afeição pelo formato do livro e seus desdobramentos em uma coleção de livros de artistas, trabalhos que discutem possibilidades a partir desta formação primária. Em paralelo, o interesse de Artur Barrio pelo mergulho foi a razão que impulsionou sua coleção de 3 mil grãos de areia, iniciada em 1983, em que cada grão é o registro de um mergulho realizado. A busca pelo registro de cada situação vivida é não somente essencial, para Barrio, mas também para o desenvolvimento de sua produção artística – daí figuram suas séries “Situações e Registros”. Cada grão de areia que compõe esta coleção demonstra, entretanto, que a busca pelo registro da experiência extrapola, em Barrio, o trabalho de arte e está presente em outras esferas de sua vida.

 

 

Conjuntos criados por artistas colecionadores podem, em muitos casos, representar rastros afetivos de suas relações pessoais. A coleção de Tatiana Blass, composta por trabalhos de seu tio-avô, Rico Blass (Breslau, Alemanha, 1908 – ?), desafia-nos a questionar em que medida essas relações se estabelecem como intercâmbios diretos ou indiretos. O mesmo ocorre à vista do trabalho inédito e instalativo de Thiago Martins de Melo e de sua coleção de desenhos de amigos também artistas. Os conjuntos de Martins de Melo e Blass fazem saltar aos olhos a potência afetiva do ato de guardar e os desdobramentos subjetivos deste ato em suas escolhas formais.

 

 

As pinturas de Paulo Pasta estão em diálogo com uma coleção de alguns de seus mestres: Mira Schendel (Zurique, Suíça, 1919 – São Paulo, SP, 1988), Alfredo Volpi (Lucca, Itália, 1896 – São Paulo, SP, 1988) e Amilcar de Castro (Paraisópolis, MG,1920 – Belo Horizonte, MG, 2002), em uma troca potente entre grandes nomes da arte brasileira. De maneira semelhante, opera a relação entre Iole de Freitas e sua guarda de desenhos e decalques inéditos de Tarsila do Amaral, em que se delineiam os caminhos metodológicos das célebres pinturas da segunda artista. Processo e método estabelecem-se aqui em seus rastros, passíveis de serem compartilhados entre práticas de diferentes gerações.

 

 

A coleção de um artista é capaz de revelar traços de reflexões latentes que conduziram a suas práticas e a poéticas. Nesse sentido, as obras de Tunga apresentam-se neste eixo de interlocução com sua coleção de trabalhos dadaístas e surrealistas franceses – entre eles, quatro gravuras de Marcel Duchamp (Blainville-Crevon, França, 1887 – Neuilly-sur-Seine, França, 1968). Dentre os trabalhos de Tunga, além de seus desenhos, está também a instalação “Evolution” (2007), realizada a partir do emprego da mesma linguagem da instalação/performance “Laminated Souls”, exibida entre 2007 e 2008 no MoMA P.S. 1, em Nova York.

 

 

Até 30 de outubro.

 

Rodrigo Andrade na Paulo Darzé Galeria

30/set

 

 

“Variações sobre paisagem” é o título da exposição de pinturas de Rodrigo Andrade, na Paulo Darzé Galeria, Salvador, BA, a partir do dia 07 de outubro, com temporada até o dia 06 de novembro, podendo ser visitada, sem agendamento, no horário de funcionamento da galeria, de segunda à sexta, de 9h às 19h, e aos sábados de 9h às 13h.

 

 

A mostra pode também ser vista virtualmente, acessando o endereço @paulodarzegaleria nas redes sociais Facebook e Instagram, ou o site www.paulodarzegaleria.com.br, onde serão encontradas todas as imagens das obras e o catálogo da exposição.

 

 

Quanto ao dia do lançamento, 07 de outubro, a visitação do público será das 17 às 21 horas, seguindo o protocolo do uso obrigatório de máscara, sem serviço de bebidas alcoólicas, e estará aberta das 17 às 21 horas.

 

 

A exposição “Variações sobre paisagem”, de Rodrigo Andrade, é composta de 33 trabalhos em óleo sobre tela, sobre mdf, ou em óleo sobre cartão, em dimensões variadas, tem como apresentação texto do crítico José Bento Ferreira:

 

 

“O rápido desenvolvimento dos centros urbanos e o impacto dos avanços tecnocientíficos a partir da segunda metade do século dezenove alteraram os posicionamentos dos artistas acerca das relações produtivas e da interação humana com o meio ambiente. Nas primeiras décadas do século 21, enfrentamos uma situação análoga, não apenas pela intensificação da exploração do trabalho e da natureza, mas também devido à acelerada difusão dos meios eletrônicos de comunicação. Ao impor determinados formatos de socialização e monitoramento, os dispositivos digitais reconfiguram a mobilidade, os relacionamentos, a memória e o próprio modo de se estar presente em algum lugar”.

 

 

“As imagens surgiram como presenças que demarcam ausências e que, em determinados lugares, promovem trocas de olhares com os que já não estão. Conforme passamos os dedos pelas telas dos dispositivos eletrônicos, os rostos sem olhar, que aparecem momentaneamente por meio de mensagens e notificações, distraem a atenção para longe de onde estamos para outro lugar. Ao contrário das imagens físicas, que necessariamente estão em algum lugar, as imagens digitalizadas estão em toda e em nenhuma parte, pois habitam, nas nuvens do ciberespaço, um “não-lugar”, conforme os antropólogos denominam os locais de passagem, caracterizados pela hipervisibilidade e pela ausência de signos identitários relevantes, como aeroportos e terminais viários, por exemplo. Submetidos a um regime sob o qual somos convocados a responder aos chamados das telas a cada minuto, fomos condenados a nunca estar atentos onde estamos. As paisagens de Rodrigo Andrade exercem um contraponto a essa desterritorialização automatizada. Não apenas convidam, como toda obra de arte, a uma contemplação duradoura e a uma imersão reflexiva, cada vez mais rara na época da avaliação visual instantânea, mas também proporcionam uma experiência de fruição que se configura como acontecimento, uma vez que muda o modo como vemos a própria pintura. Rodrigo Andrade faz da pintura de observação a reafirmação de uma modalidade de presença que a cultura digital agride”.

 

 

Trajetória

 

 

Rodrigo Andrade nasceu em 1962, São Paulo, SP. Vive e trabalha em sua cidade natal. A materialidade da tinta e referências sobre a história da pintura permeia o trabalho de Rodrigo Andrade. Sua gestualidade vibrante manifesta-se, sobretudo na pintura, mas também transita por suportes como desenho, gravura e objetos. Nos anos 1980, o artista integrou o grupo Casa 7 e, sob a influência do neo-expressionismo alemão, sua obra é apresentada em grandes formatos, com pinceladas expressivas e cores fortes. Na década seguinte, alternou trabalhos figurativos e abstratos e, a partir de 1999, passou a criar obras em que espessas massas de tinta a óleo, em formas geométricas, são aplicadas sobre a tela. Ele instalou suas pinturas matéricas de cor e forma em espaços públicos de São Paulo, e em seu contato com esses entornos é que reside sua potência: há uma permeabilidade entre a concentração e a contenção dos elementos presentes nos trabalhos do artista e nos ambientes nos quais foram instalados.

 

 

 

Sobre o artista

 

 

 

Rodrigo Andrade realizou mostras em importantes instituições nacionais e internacionais. Entre as individuais recentes, destacam-se: Pinturas da era do absurdo, Galeria Millan, São Paulo (2020); Diálogo cromático, Galeria Simões de Assis, Curitiba, PR (2019); Pintura e Matéria (1983-2014), Estação Pinacoteca, São Paulo, SP (2017); Pinturas de Estrada, Centro Universitário Maria Antonia, São Paulo, SP (2013); Pinturas: Seleção 99-06, Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, MG (2006); e Paredes da Caixa, Museu da Caixa Cultural, São Paulo, SP (2006). Entre suas participações em exposições coletivas, estão: 1981/2021: Arte Contemporânea Brasileira na Coleção Andrea e José Olympio Pereira, Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro, RJ; Já estava assim quando eu cheguei, Galerie Ron Mandos, Amsterdam, Holanda (2020); Oito décadas de abstração informal, Museu de Arte Moderna de São Paulo, SP e Cependant, la peinture: Rodrigo Andrade, Fabio Miguez, Paulo Monteiro, Sérgio Sister, Galerie Emmanuel Hervé, Paris, França (2018); Troposphere, Beijing Minsheng Art Museum, Pequim, China (2017); Pequenas Pinturas, Auroras, São Paulo, SP (2016); Pivô, São Paulo, SP (2015); Deserto-Modelo “As Above, So Below”, Harold St., Londres, Reino Unido (2015); Iberê Camargo: Século XXI, Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS (2014); Lugar Nenhum, Instituto Moreira Salles, Rio de Janeiro, RJ (2013); 30 x Bienal, Pavilhão da Bienal, São Paulo, SP (2013); e 29ª Bienal de São Paulo, SP (2010). Em 2008, foi publicado o livro monográfico Rodrigo Andrade, que reúne seus trabalhos desde 1983 (Editora Cosac Naify). Sua obra integra importantes coleções públicas, como do Museu de Arte de Brasília, DF; Instituto Cultural Itaú, São Paulo, SP; Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, MG; Museu de Arte Moderna de São Paulo, SP; Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP; Museu de Arte Contemporânea de Niterói, RJ; além de coleções particulares.

 

 

Texto de José Bento Ferreira

 

 

O rápido desenvolvimento dos centros urbanos e o impacto dos avanços tecnocientíficos a partir da segunda metade do século dezenove alteraram os posicionamentos dos artistas acerca das relações produtivas e da interação humana com o meio ambiente. Nas primeiras décadas do século 21, enfrentamos uma situação análoga, não apenas pela intensificação da exploração do trabalho e da natureza, mas também devido à acelerada difusão dos meios eletrônicos de comunicação. Ao impor determinados formatos de socialização e monitoramento, os dispositivos digitais reconfiguram a mobilidade, os relacionamentos, a memória e o próprio modo de se estar presente em algum lugar.

 

 

As imagens surgiram como presenças que demarcam ausências e que, em determinados lugares, promovem trocas de olhares com os que já não estão. Conforme passamos os dedos pelas telas dos dispositivos eletrônicos, os rostos sem olhar, que aparecem momentaneamente por meio de mensagens e notificações, distraem a atenção para longe de onde estamos para outro lugar. Ao contrário das imagens físicas, que necessariamente estão em algum lugar, as imagens digitalizadas estão em toda e em nenhuma parte, pois habitam, nas nuvens do ciberespaço, um “não-lugar”, conforme os antropólogos denominam os locais de passagem, caracterizados pela hipervisibilidade e pela ausência de signos identitários relevantes, como aeroportos e terminais viários, por exemplo. Submetidos a um regime sob o qual somos convocados a responder aos chamados das telas a cada minuto, fomos condenados a nunca estar atentos onde estamos. As paisagens de Rodrigo Andrade exercem um contraponto a essa desterritorialização automatizada. Não apenas convidam, como toda obra de arte, a uma contemplação duradoura e a uma imersão reflexiva, cada vez mais rara na época da avaliação visual instantânea, mas também proporcionam uma experiência de fruição que se configura como acontecimento, uma vez que muda o modo como vemos a própria pintura. Rodrigo Andrade faz da pintura de observação a reafirmação de uma modalidade de presença que a cultura digital agride.

 

Frequente na pintura antiga e oriental, a natureza ressurge como pano de fundo de ações na pintura italiana. Na Legenda de São Francisco (Giotto di Bondone, 1300), a paisagem urbana aparece como lugar da futilidade, onde todos estão fora de si mesmos e a cidade está infestada por demônios. No ermo da paisagem rural, porém, ocorrem gestos milagrosos e encontros com o divino. Na Alegoria do bom e do mau governo (Ambrogio Lorenzetti, 1338), por sua vez, invertem-se os sinais dos enunciados produzidos pelas pinturas sobre a cidade e o campo. Uma cidade bem administrada apresenta atividades econômicas pulsantes. Homens e mulheres circulam livremente para dentro e fora das fronteiras. A paisagem rural estende-se, não como um lugar ermo onde ocorre o milagre, mas como consequência de políticas públicas salutares. Tanto a mobilidade e a vivacidade que caracterizam o bom governo quanto à violência e o medo que predominam no outro lado da Alegoria apenas remotamente se devem a fatores teológicos. Os afrescos do Palácio Público de Siena confrontam os da Basílica de Assis com uma versão secular do contraste entre a cidade e o campo.

 

Tão atento ao elitismo do mundo da arte quanto às referências históricas da pintura, Rodrigo Andrade participou do projeto Ali Leste de ensino de artes em Cidade Tiradentes, no extremo leste da capital paulista, e produziu a exposição Um lugar, lugar nenhum (Galeria Marília Razuk, 2021), com pinturas de paisagens e observações feitas por artistas do centro e da periferia na região onde atua a “escola nômade”. Desde Courbet, Monet, Cézanne e Van Gogh, a atitude de pintar ao livre para captar uma pura sensação visual reafirma a autonomia do artista em relação ao meio de arte e torna a pintura capaz de registrar uma visão pré-reflexiva, inacessível no interior do estúdio, onde o desenho dos objetos representados tende a ser enquadrado por categorias, ao passo que, no calor da hora, sob a intempérie e com uma paleta restrita, o contato direto com a natureza produz uma experiência intuitiva do espaço. A própria pintura abstrata, da qual Rodrigo Andrade também é contumaz praticante, é devedora da revolução impressionista, uma vez que as relações entre formas e campos de cor também resultam da dimensão pré-reflexiva desbravada pela pintura ao ar livre.

 

 

Os lugares visitados por Rodrigo Andrade e seu grupo para a retomada dessa prática artística moderna estão entre a cidade e o campo. Centros urbanos modernos possuem “zonas de vazio”, conforme os antropólogos denominam certos correlatos dos “não-lugares”, áreas ermas incrustadas na cidade. No Brasil, a urbanização ao mesmo tempo precária e acelerada provocou um descompasso entre a estruturação do tecido urbano e o afluxo de imigrantes, de modo que apenas para perfis socioeconômicos privilegiados é possível atribuir a condição de sociedade propriamente urbanizada. Em São Paulo, populações inteiras não deixam as regiões periféricas onde residem senão a trabalho e somente participam da urbanização exercendo funções subalternas.

 

 

Rodrigo Andrade encontrou no mato e na quebrada da zona leste paulistana as paisagens que faziam sentido para o seu trabalho. As especificidades desses lugares e a colaboração com o artista urbano Link Museu impactam sua pintura. O artista já havia se deixado levar pelas pinceladas de um outro ao produzir versões para as pinturas de Ranchinho, o “Van Gogh de Assis”, em 2012. A troca com Link Museu, porém, é diversa, pois se trata de caminhar juntos e não seguir os passos de alguém. Em incursões para a pintura de observação ao ar livre, parcerias em galerias e ateliê, a dupla reata o apuro técnico à capacidade de encontrar valores pictóricos no tecido urbano.

 

 

Essa “partilha do sensível” entre o artista culto e o artista urbano transparece nas paisagens de Rodrigo Andrade que descobrem a riqueza visual das zonas vazias paulistanas e a vitalidade de regiões aparentemente áridas do cerrado brasileiro, confundindo os valores estabelecidos pelas referências de Giotto e Ambrogio. Não há encontros com o divino, mas uma tonalidade ígnea em contraste com a obscuridade dominante. Em monturos, poças e córregos, a pintura descobre uma consistência de magma que arde e pulsa em meio ao verde turvo e noturno do matagal em Terreno baldio e Terreno baldio II. Nestas pinturas é possível observar o uso de compactas massas de tinta que marca a obra de Rodrigo Andrade, utilizadas com apuro e parcimônia, formando figuras semelhantes a arabescos e ornamentos em contraste com as formas regulares das janelas com luzes acesas que salpicam a escuridão da região desprovida de iluminação pública. Uma área abandonada e negligenciada pelo poder público foi transformada em “horta urbana” por Link Museu e seus companheiros. O lugar tornou-se um ponto de encontro e convivência improvisado. A Vista da horta urbana de Rodrigo Andrade explora a irregularidade do terreno, caracteriza um mundo sem planos, linhas,  nem retas. A presença difusa de torres de eletricidade e fiação elétrica põe-se em contraste com o verde vivo da folhagem, como se o progresso tecnológico apenas passasse por esse espaço a serviço de outras paragens, secando as árvores por onde passa.

 

 

Ainda assim, apesar dessa recusa do desenvolvimento urbano como algo distante da comunidade, os lugares mostrados nas paisagens de Rodrigo Andrade resultam do trabalho humano, seja a horta, os blocos de construção, ruínas ou as vistas da quebrada. O mundo humano está sempre por se fazer, por toda parte há “espaço em obra”. A irregularidade e a profusão de formas da natureza observadas em Desfiladeiro, Paredão rochoso, Despenhadeiro, Arbusto com paisagem rochosa, Rochedo e Cavernas contaminam as paisagens urbanas com uma titanomaquia entre o mineral e o vegetal encenada por pinceladas eletrizantes e as massas volumosas de tinta que, por sua vez, insinuam na pintura um flerte com a antiga linguagem do relevo. As massas constituem uma verticalidade hierática que se inclina sobre o espectador. O aparente desmoronamento dessas massas em As ondas verdes do mar sinaliza a fragilidade humana em face da resistência das coisas. No título da pintura ressoa o canto épico das Canções praieiras (Dorival Caymmi, 1954) sobre a trágica e “doce” morte que assola uma comunidade de pescadores. O que demarca as paisagens de Rodrigo Andrade não é o trabalho alienado que se configura na sociedade industrial e que a revolução digital conduz ao ápice da alienação sob o manto da autonomia. Uma solidariedade tácita reúne as vistas observadas pelos ocupantes pré-históricos da Serra da Capivara, cujas pinturas Rodrigo Andrade não apenas visitou, mas estuda com afinco, aos artistas modernos que recusam o progresso tecnológico em proveito da “segunda técnica” de práticas artísticas que favorecem vínculos comunitários e reconstituem a nossa atenção ao lugar onde estamos, como, por exemplo, a pintura de observação.

 

 

Nas duas Cavernas, áreas planas e escuras aparecem rodeadas pelas formas rochosas, barrentas, aquosas, ígneas e aéreas que compõem, com galhos retorcidos e gramíneos, um vocabulário pictórico constituído por Rodrigo Andrade em seu contato vivo com a paisagem semiárida. Nas pinturas de zonas vazias, a relação se inverte. Carros estacionados sobre aclives, moradias precárias, a cintilação das luzes domésticas e a própria constituição do espaço como mundo da vida possuem a dignidade do trabalho coletivo e da comunidade que se forma, vive e, apesar de ter sido marginalizada pelo sistema econômico, sustenta-se em meio à obscuridade que permeia. Se a experiência de expressão pictórica proporciona ao artista uma visão privilegiada, intuitiva ou pré-reflexiva, nas pinturas de Rodrigo Andrade esta visão não se transmite sem a consciência da “responsabilidade de ter olhos quando os outros perderam”, conforme a formulação do Ensaio sobre a cegueira (José Saramago, 1995). Cara à pintura italiana do trezentos e à pintura holandesa do quinhentos, a figura do anacoreta, emulada por Rodrigo Andrade no estudo O ermitão, traduz o sentimento de responsabilidade que impele o artista à partilha do sensível. O anacoreta que se retira para o ermo não vive necessariamente sozinho, mas funda uma comunidade que se quer à parte do Império. Nas pinturas de observação que revisitam o gênero da paisagem, Rodrigo Andrade propõe exercícios de “ascese desespiritualizada” para uma forma de vida resistente ao enquadramento narcísico que nos distrai do espaço ao redor e fecha nossa atenção, assim como o “mal branco” prefigurado pelo escritor português.

 

 

Bruno Passos na Kogan Amaro SP

28/set

 

 

O pintor e escultor Bruno Passos apresenta até o dia 30 de outubro na Galeria Kogan Amaro São Paulo, Alameda Franca, 1054, Jardim Paulista, a exposição “Há coisas entre nós que não dizemos em voz alta.

 

 

A arte e o “real”

 

 

“Que quadro lindo! Parece uma fotografia…” O elogio é frequente nas conversas do público em museus e exposições. É fácil atacar a visão naïf no campo da estética. Mesmo sincera e válida para o indivíduo que a emite, a opinião que aproxima arte da semelhança com o “real” é a morte da arte em si. Reduzida à função de mimesis, a representação artística, a rigor, estaria condenada a um papel subalterno, já que hoje, mais do que nunca, poderia ser substituída por bons recursos de fotografia digital retocada por programas que aproximam ainda mais a imagem do real (ou daquilo que se supõe que ele seja). Pior, a ideia ignora que a fotografia também é uma interpretação, assim como quaisquer arroubos hiper-realistas que, de quando em vez, encontramos pelas estradas da vida.

 

 

Entre dois polos, o figurativo e o abstracionismo, estaria uma parte do debate no campo artístico. Claro que as questões são mais complexas. Caravaggio e Ingres, por exemplo, são pintores figurativos, ambos, e, de muitas formas, opostos em método e objetivos.

 

 

Quando Monteiro Lobato atacou Anita Malfatti em artigo famoso, nada mais fez do que apostar no abismo suposto entre os que faziam “arte pura” (como Praxíteles e Rodin) e aqueles cuja produção se aproximava da dos internados em manicômios. Sim, muitos indicaram que a irritação do escritor era com a subserviência a vanguardas estrangeiras, mais do que com os traços modernistas da exposição de 1917. O fato é que ele colocou o escultor grego da famosa Afrodite de Cnido e o escultor francês da estátua de Balzac como integrantes de um time unido por ideais artísticos similares. O que Praxíteles diria de Rodin? Impossível saber, porém seria lógico imaginar que seria uma crítica pior do que a de Lobato. O time da “arte pura” teria dificuldades em atuar em conjunto no campo.

 

Acho que nunca será dito o suficiente: toda arte é interpretação e a figuração é um dos muitos aspectos da subjetividade possível. Escultores clássicos gregos e idealizadores de móbiles voadores milionários são intérpretes subjetivos de um mundo e de um olhar. A visão do estilo do artista também deve levar em conta a apreciação mutante do público.  Mudam os estilos de cada criador e muda a percepção sobre ele. A arte clássica helênica que Lobato e sua tribo admiravam era, na época do seu apogeu, coberta de cores berrantes. Muitas camadas estéticas seriam removidas, para que o branco do mármore do Monte Pentélico pudesse assumir a sobriedade clássica hoje louvada. Toda arte é interpretação e todo olhar possui história.

 

 

Os Passos de Bruno

 

 

O artista Bruno Passos nasceu em 1985, em Marília, São Paulo. A partir de um início no mundo da moda e do design, dedicou-se ao campo da pintura e da escultura. Um ponto fundamental foi ter trabalhado ao lado do pintor escandinavo Odd Nerdrum (1944), cuja influência foi decisiva em seu trabalho. Contudo, Bruno sempre invocou a ascendência de outros mestres além do nórdico. Honoré Daumier (1808-1879) traz o interesse pelo humano fora da beleza acadêmica ou do decorativo dos salões. Tal como Daumier, Bruno não deseja que sua obra exista apenas para combinar com a cortina. O fauvismo criativo de Henri Matisse (1869-1954) também paira sobre a inspiração de Bruno, com um toque mais rebaixado e reflexivo. Talvez seja possível também a ideia de Matisse, em dia tenso, admirando a grande onda de Hokusai (1760-1849) que tenta submergir barquinhos frágeis. Fragilidade, elemento água e narrativa trágica encoberta na paz são linhas fortes da arte de Bruno Passos.

 

 

As obras ou… as coisas entre as coisas

 

Como ele próprio declara, Bruno é o pintor de “entrecoisas”. Entre o visível/banal do mundo e algo que o olhar do artista capta existe o fluxo sutil das “entrecoisas”. Estas surgem com muitos suportes, desde o óleo sobre a tela até o compensado naval. Bruno experimenta. O cinzel pode ser substituído, em algumas esculturas, pela faca. Acha forte? Serão notados golpes de machado em outras pinturas. Há um barbarismo estetizante e cheio de energia. A tinta acrílica, com suas fronteiras fortes, deve dialogar com o oriental e sóbrio nanquim. Nada fica muito fixo como método porque, afinal, ele não está trabalhando com as coisas, porém com o fluxo contínuo “entrecoisas”.

 

 

O autor viaja pelo Brasil “profundo” em busca de novas fontes. Ele difere do projeto “povo e nação” porque não é um antropólogo do folclore. O país de Bruno está imerso no que o artista denominou: “universalidade brutal dos sentidos”. Suas obras gritam contra a padronização atual, contra o “chapamento” do real pelos discursos de marketing pessoal. Ele deseja o que pulsa, o que repulsa, o que atrai e choca. Bruno é seduzido pelo ser. Os quadros tornam as stories do Instagram ainda mais pastiches de Dorian Gray. O que a rede social oculta, ele traz à tona. Funciona como a lição de anatomia do Dr. Tulp, de outro mestre que influencia nosso artista: Rembrandt (1606-1669). Se o doutor Nicolaes Tulp mostrava a seus alunos flamengos cada fibra muscular e nervo, Bruno exibe, em seus quadros, o pulsar cru da vida, uma lição de anatomia vibrante e não o mundo lido por filtros de melhora, como em redes sociais. Tudo iluminado por uma luz que não é a simples e costumeira adição de branco. A luminosidade vem de um tom qualquer que dialogue com o denso-áspero da sombra.

 

 

Sabemos que pintores neoclássicos passavam um longo tempo disfarçando a irregularidade da superfície, para que, no liso absoluto do quadro, brilhasse uma ordem matemática e ideal. Bruno está em outro lugar. Sua obra atualmente apresenta mais irregularidades intencionais do que há alguns anos. Sobreposição de tintas e de intervenções mecânicas criam um aspecto de alto-relevo e de tridimensionalidade, como outra forma de ampliar a percepção do quadro. Bruno mostra o prédio e os andaimes do possível da sua concepção. Arquiteto/pedreiro que gosta do revelar e odeia o velar.

 

 

Não procure uma zona de conforto decorativa. Os títulos colaboram ainda mais para desinstalar. Querem um bom exemplo? Bruno retratou a companheira com uma centralização quase rafaelesca e delicada e nomeou ao quadro como ”Harpia”, o monstro mitológico que roubava comida e atacava pessoas com suas garras de águia e rosto de mulher.

 

 

A natureza ocupa um novo espaço na etapa atual de produção do criador. “Eu já não estou mais aqui” faz a água fluir sobre um quase fantasma que se dilui nela sem perder o medo instintivo. É uma cachoeira poderosa e original, uma hemorragia hídrica que tenta irrigar um ser incapaz de produzir o famoso “sentimento oceânico de S. Freud” (1856-1939), a plena diluição da consciência em um todo maior. Sim, “Há coisas entre nós que não dizemos em voz alta”, como mostra outro quadro. A solidão contemporânea talvez seja a mais dramática de todas.

 

 

Todas as esculturas trazem o traço da humanidade olhada sem romantismo, sem crueldade, perfectíveis sem perfeição. A metáfora líquida, frequente nos quadros, atinge o rosto que emerge da maré. São instantâneos realistas sem Photoshop. Parecem novas versões dos schiavi de Michelângelo (1475-1564). Lá, o escultor queria fazer o ser humano emergir da matéria bruta e adquirir sua posição no mundo. Aqui, cada pessoa já se libertou da matéria e adquiriu uma dimensão calma, quase resignada. Intuo que tenha surgido, ali, em materiais diversos, o humano pós-tudo: pós-pandemia, pós-modernidade líquida e pós-humano. Existe um brutalismo formal e uma delicadeza insuspeitada nas posições propostas para as figuras tridimensionais. Enquanto Caravaggio quis mostrar a Medusa que chocasse o observador em um escudo, Bernini (1598-1680) esculpiu uma Alma Danada para eternizar o terror de um condenado ao inferno e Camille Claudel (1864-1943) materializou o desalento do abandono, Bruno Passos não pretende nada catequético, dramático ou sedutor. Como seríamos se não fôssemos para os outros, se fôssemos para nós e em nós? As esculturas dele ajudam na pergunta.

 

 

Enfim, Bruno desconfia da racionalidade e não chega a formular uma alternativa romântica ao domínio da razão. Funciona, nas artes, como Blaise Pascal na filosofia, desconfiando da magnitude cerebral e falando da inconstância das aparências.

 

 

Em décadas passadas, o desafio era escandalizar a burguesia, chocá-la e conseguir um lugar ao sol da publicidade pelo escândalo. O grito de “épater la bourgeoisie” é substituído por “escandalizem a suas convicções ordenadas e aparentes, sendo você proletário ou burguês”. Retire as máscaras, lave o rosto, ignore as dimensões construídas e observe. Se você ficar incomodado, não é porque você é um burguês, é porque você é um humano em uma galeria de espelhos. Ouse observar! Arrisque ver-se. Tente ser.

 

 

Final

 

 

Seria curioso registrar como encontrei Bruno Passos. Como quase toda semana, estava entrando em um concerto na Sala São Paulo. Bruno interrompeu meu trajeto e me convidou para ver a exposição dele ali ao lado. Fiquei impactado pelas obras, em particular pela imagem de um senhor negro, austero e solene, com fundo vermelho.

 

 

O retrato que ele desejava fazer de mim começou algumas semanas depois. Bruno sentado ao chão e eu em uma bergère. Litros de café fluíram em tardes de sábado, em meio a conversas sobre arte e figurativismo.

 

 

De repente, após muitas sessões, Bruno “empacou”. Não estava satisfeito com o que via. Talvez não tenha conseguido captar a “maldade” que o tinha movido inicialmente. Quem sabe, meu traço luciferino tenha sido diluído nos cafés. O quadro não foi adiante.

 

 

A sociabilidade cresceu. Frequentei o universo de Bruno e Camila no apartamento deles. Houve saraus na minha casa. Depois, mudaram-se para a Serra da Mantiqueira. Por fim, fui visitá-los no novo endereço, em Itu. Lá, estava sendo gestada a coleção que agora se apresenta ao público. O quadro permanece inacabado, assim como minha maldade. A amizade sobreviveu aos dois fatos.

 

 

Leandro Karnal (Professor da UNICAMP / Escritor).

 

 

Sobre o artista

 

 

Estilista de formação (UEL), Bruno teve seu trabalho reconhecido como um dos participantes da identidade visual do SPFW (2009), exposto posteriormente na Bienal de Veneza, também foi selecionado para a Bienal do Design Brasileiro (2013) e, como estilista, fez aparições na Folha de São Paulo, Vogue e Valor Econômico. Bruno teve seu primeiro contato com a pintura tardiamente, aos 27 anos, após uma epifania, foi quando se retirou da Moda e começou a se dedicar integralmente a pintura onde, de modo precoce, colecionou premiações e seleções nos mais tradicionais salões de pintura clássica nacional: SBA de Piracicaba, SAV de Vinhedo, SBA de Limeira, entre outros. Na sequência, foi o primeiro brasileiro aceito para ser aprendiz do pintor sueco Odd Nerdrum (MET-NY, National Gallery-Oslo, Museu de Gotemburgo), sua residência artística (Noruega 2016) foi bem sucedida e, em 2017, recebeu novo convite para retornar e ser o assistente de Nerdrum em sua maior obra física, “Opening of the Prisons”. A vivência escandinávia lhe abriu novos rumos, dos quais se destacam o convite para uma Exposição Individual na Secretaria de Cultura de São Paulo (2018) e a atual residência artística de um ano no museu FAMA, em Itu. Bruno realiza expedições sazonais aos rincões do Brasil, de onde extrai insumo para seus quadros de Brasilidades latentes e não óbvias. Seu foco é subverter a técnica acadêmica para que ela se torne uma fonte de estímulo sensorial ao espectador, estimulando emoções ao examinar o que é ser brasileiro e quais são as características que constituem esta identificação. Suas obras fazem parte de coleções na França, EUA, China e Brasil e, no ano passado, foi considerado pela revista Norueguesa Sivilisasjonen um dos três maiores pintores clássicos atuais.

 

 

 

Homenageando Esmeraldo

15/set

 

 

Sérvulo Esmeraldo foi artista plural que explorou, ao longo de sua carreira, as diversas linguagens plásticas, sendo considerado escultor, gravador, ilustrador e pintor. Para homenagear seu legado, a Pinakotheke São Paulo abriu, dia 13 de setembro, a exposição “Sérvulo Esmeraldo 1929-2017”.

 

 

No espaço estarão reunidas pinturas, desenhos, gravuras, esculturas, objetos e excitáveis criados pelo artista cearense durante o período, com curadoria assinada por Hans-Michael Herzog. A exposição seguirá aberta para visitação até o dia 16 de outubro.

 

Alice Shintani, Mata À VENDA

 

 

 

A Galeria Marcelo Guarnieri, Jardins, São Paulo, SP, anuncia “Mata À VENDA”, proposição imersiva de Alice Shintani que surge como um desdobramento de “Mata”, série de guaches em papel que integra a Bienal de São Paulo, Faz Escuro Mas Eu Canto.

 

 

“Mata À VENDA” é composta por dezessete pinturas em grande formato que atravessam as instalações físicas da galeria, entre quinas, portas, colunas e paredes. Metaforicamente, das dezessete obras propostas, nem todas são totalmente visíveis e, algumas, completamente invisíveis. Independentemente do tamanho ou visibilidade, todas as pinturas serão comercializadas pelo mesmo valor. Essa possibilidade faz das pinturas um instrumento de reflexão sobre os limites de nossa percepção estética e política no conhecido contexto de intensa mercantilização da linguagem pictórica.

 

 

Como observado no texto curatorial de “Vento”, mostra antecipatória da 34ª Bienal, “Mata trata-se de uma série produzida a partir de uma leitura livre de imagens da flora e fauna brasileira, sobretudo amazônica. A escolha de um sujeito pictórico clássico e a iconografia convidativa e plana parecem sugerir um trabalho autorreferenciado e pacificado, mas a maioria dos elementos explícita ou implicitamente retratados está em risco de extinção. O fundo intensamente negro, nesse sentido, contribui para ressaltar a luminosidade das cores empregadas pela artista para representar a vivacidade de algo, mas também pode ser lido como uma metáfora do estágio de incerteza e opacidade que caracteriza os dias atuais, de um ponto de vista ecológico, social e político”. Mata À VENDA propõe uma reflexão complementar, ética e econômica, sobre o atual estágio das relações entre espaços ditos comerciais e institucionais de arte, a autodeterminação de seus atores e as possibilidades de resiliência da prática artística.

 

 

Na antessala da galeria, Alice Shintani apresenta um ambiente de escuridão total com duas interferências: “Perus, 31 de março” (2019) é um vídeo em loop que captura uma cena de melancolia e ternura do dia 31 de março de 2019, no terreno de um cemitério que compõe um dos capítulos mais tenebrosos da nossa história. O áudio original captado na cena talvez nos recorde que, inaugurado em 1970, o Cemitério Municipal Dom Bosco foi utilizado como local de desova de corpos de vítimas da repressão da ditadura cívico-militar; em diálogo, um segundo pequeno vídeo, também em loop: “Zika” (2015), precursora da presente série Mata, é uma animação em gif de um dos exercícios em guache realizados a partir do entrecruzamento entre as leituras da artista sobre o Brasil de 2015 e as leituras de “Thought Forms” da escritora, teósofa e ativista Annie Besant. Em “Thought Forms”, livro de 1905 que teve grande influência sobre artistas como Kandinsky e Klee, Besant defende a ideia de que os pensamentos emitem vibrações dotados de cores e formas que podem ser apreendidos por meio de intensa consciência, meditação e atenção. Na antessala, por meio de sons, formas e cores em movimento, somos convidados a pensar sobre as possibilidades de percepção da passagem do tempo, das imagens e narrativas históricas, suas repetições e apagamentos em meio à atual onda de mercantilização da produção artística de explícita crítica social e política. Os dois vídeos da antessala seguem disponíveis gratuitamente nas redes sociais da artista, além de via QR code no local.

 

 

Alice Shintani opera na intersecção entre o fazer artístico e a vida cotidiana, por vezes questionando práticas naturalizadas nessa relação. Como observado em Faz Escuro Mas Eu Canto, “não se trata da arte que comenta as notícias dos jornais, nem da arte que se impõe no tecido urbano como monumento inerte, e sim a vivência próxima dos afetos e violência diários que têm como contraponto o fazer gradual que envolve cores, formas e luminosidades”.

 

Sobre a artista 

 

 

Alice Shintani nasceu em 1971, São Paulo, SP cidade onde vive e trabalha. Alice Shintani desenvolve em seu trabalho exercícios de aproximação com o outro a partir da pintura e de seus desdobramentos. A pesquisa, motivada pelas possibilidades da experiência estética, explora a ideia da “pintura expandida” e se desenvolve em ações que vão desde o preenchimento total do espaço pela cor e pela luz, criando ambientes imersivos, até a proposição de refeições coletivas em que receitas, texturas, sabores, talheres, pratos e bandejas produzem significados e instigam camadas da percepção. Por meio da fricção entre questões formais, conceituais, sociais e mercadológicas, Shintani se debruça sobre as noções de visualidade e visibilidade de maneira a problematizá-las, quando se utiliza, por exemplo, de tons rebaixados de cor e formas abstratas para dar vida à pinturas que abordam narrativas de fantasmas, sombras e camuflagens, originárias da cultura japonesa; ou até mesmo quando infiltra em seus trabalhos elementos das comunidades de imigrantes no Brasil, invisibilizadas em sua maioria. A artista dialoga com a tradição da pintura e da história da arte, situando-as na experiência do presente e do espaço para além do circuito especializado.

 

 

Alice Shintani foi incluída na publicação “100 painters of tomorrow”, da editora Thames & Hudson (2014) e contemplada com o prêmio-aquisição no “II Prêmio Itamaraty de Arte Contemporânea” (2013). Participou de diversas exposições individuais e coletivas, destacando-se as seguintes instituições: Museu de Arte Contemporânea da USP, São Paulo, Brasil; Paço Imperial, Rio de Janeiro, Brasil; Centrum Sztuki Wspólczesnej, Poznán, Polônia; Centro Cultural São Paulo, Brasil; Instituto Itaú Cultural, São Paulo, Brasil; Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, Brasil; Museu Rodin, Salvador, Brasil; Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, Brasil; Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil; Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, Brasil. Durante a edição da sp-arte/2017, Alice Shintani foi vencedora do Prêmio de Residência com a instalação “Menas” e passou três meses na Delfina Foundation, em Londres (Reino Unido). Atualmente a artista é uma das convidadas para integrar a 34ª Bienal de São Paulo – Faz Escuro Mas Eu Canto, 2021.

 

 

Período de exposição:  18 de Setembro à 16 de Outubro.

 

 

 

 

 

 

 

Oskar Metsavaht no MAC Niterói

08/set

 

 

No salão principal do MAC Niterói, RJ, a exposição “Ícones e arquétipos”, de Oskar Metsavaht, traz um conjunto de obras – fotografias, pinturas e vídeos – que estabelece uma correlação entre os dois monumentos construídos em concreto armado, símbolos das cidades do Rio de Janeiro e de Niterói. Um dos eventos que celebram os 90 anos do Cristo Redentor e os 25 anos de inauguração do Museu de Arte Contemporânea de Niterói. Curadoria de Marcus de Lontra Costa.

 

 

A palavra do artista

 

 

Nesta exposição, eu apresento as analogias estéticas que vejo na construção tanto do MAC quanto do Cristo Redentor. Tive o prazer de poder mergulhar no olhar de ambos, na sensibilidade para desenhar as suas linhas, curvas e retas. E, com isso, compartilhar com o espectador que venha conhecer a exposição, o meu olhar de detalhes que fazem desta obra do Niemeyer um dos símbolos da arquitetura modernista brasileira, junto à estátua do Cristo Redentor.

 

 

De 08 de Setembro a 15 de Dezembro.

 

Pinturas de Elian Almeida

 

 

 

A Galeria Nara Roesler, Ipanema, Rio de Janeiro, exibe “Antes – agora – o que há de vir”*, primeira exposição individual do artista carioca Elian Almeida. Com curadoria de Luis Pérez-Oramas, a mostra traz ao público os mais recentes desdobramentos de sua já icônica série “Vogue”. A exposição fica em cartaz até o dia 23 de outubro.

 

 

Segundo o curador Luis Pérez-Oramas: “A obra de Elian Almeida – principalmente a série Vogue, que constitui o corpo principal desta exposição – enfatiza, através de retratos singulares, o retorno do que foi ocultado, e não apenas esquecido: a pintura que acende o apagado, retratação do que foi velado.” Nos trabalhos inéditos da série “Vogue” presentes em “Antes – agora – o que há de vir”, Almeida se apropria dos signos da visibilidade instituídos pela famosa revista de moda para compor suas pinturas. O artista atua simultaneamente no sentido de uma reparação e da resistência da memória de indivíduos que se viram apagados pelas narrativas históricas.

 

 

Nesta exposição, Almeida apresenta dezesseis retratos de mulheres negras, entre elas encontram-se personalidades como Conceição Evaristo, que empresta os versos de um de seus poemas para o título da exposição, assim como intelectuais como Lélia Gonzalez. O artista não se baseia apenas em figuras contemporâneas, mas se lança no passado, trazendo à tona as imagens de Esperança Garcia (século XVIII) e Luísa Mahin (século XIX). É inegável que a atuação dessas mulheres na cultura é fundamental, tanto que Almeida também nos apresenta as efígies de Mercedes Baptista, a primeira bailarina negra do Theatro Municipal, além da atriz Ruth de Souza, e de Tia Maria do Jongo, entre outras “donas”, “mães” e “tias” que contribuíram para o surgimento do samba e a continuidade de diversas expressões culturais diaspóricas no Rio de Janeiro.

 

 

Para elaborar os cenários, vestimentas e adereços que compõem suas pinturas, Almeida mergulha na história das figuras retratadas, revisando arquivos e documentos, em uma prática que ele qualifica como uma verdadeira arqueologia da memória. Contudo, a ausência de face nos aponta tanto para o apagamento desses indivíduos pela narrativa oficial, ao mesmo tempo em que representam um corpo coletivo, uma miríade de rostos possíveis, de todos que sofreram e ainda sofrem os efeitos do racismo estrutural. Para Pérez-Oramas: “São, pois, os retratos que Elian Almeida nos apresenta, a rigor, imagens fúnebres, necroretratos, emergentes: nos olham, sem olhos, a partir do seu esconderijo, e de lá retornam à certeza melancólica de que o que não nos esquece não pode, por sua vez, voltar plenamente, na plenitude da presença da qual foi amputado.”

 

 

Pinturas da série “Vogue” fazem parte da “Enciclopédia negra”, empreendimento editorial da historiografia afro-brasileira encabeçado por Lilia M. Schwarcz, Flávio Gomes e Jaime Lauriano, que se coaduna com os esforços do artista de recuperação dessas figuras históricas. Para a publicação, 36 artistas foram convidados a elaborar retratos das personalidades apresentadas. Esses trabalhos, incluindo os de Elian Almeida, encontram-se em exibição em mostra homônima na Pinacoteca de São Paulo.

 

 

Sobre o artista

 

 

Nascido no Rio de Janeiro e criado na Baixada Fluminense, com passagem pelos cursos de Artes Visuais na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), e de Cinema e Audiovisual na Université Sorbonne Nouvelle – Paris 3, Almeida baseia sua prática na pintura, realizando também experimentações nos âmbitos da fotografia, do vídeo e da instalação. Com uma abordagem decolonial, seu trabalho se debruça sobre a experiência e performatividade do corpo negro na sociedade brasileira contemporânea. Para isso, ele recupera elementos do passado, imagens, narrativas e personagens – oficiais e extraoficiais -, de modo a contribuir para o fortalecimento e divulgação da historiografia afro-brasileira.

 

 

*o título da exposição foi extraído do poema “Eu-mulher” de Conceição Evaristo.

 

 

Programação ArtRio 2021 | Preview

 

 

8 de setembro | quarta-feira

 

 

13h – Abertura do Preview

 

 

17h – Anna Bella Geiger faz escultura ao vivo
VARANDA ARTRIO | Estande do Canal Curta!

 

 

18h – Sunset Beck’s  – Pôr do sol com a melhor vista do Rio
VARANDA ARTRIO | Mezanino Beck’s

 

 

20h – Beck’s apresenta MIRA videoarte – Abertura da programação:

 

 

VARANDA ARTRIO | Exibição no telão

Delirar o Racial (Davi Pontes & Wallace Ferreira)

Swinguerra (Bárbara Wagner & Benjamin de Burca)

Curadoria Victor Gorgulho

 

 

21h – Encerramento do Preview

 

 

Conheça as obras selecionadas pelo curador Victor Gorgulho para a abertura da MIRA:

 

 

Davi Pontes & Wallace Ferreira
Delirar o racial, 2021, 32’

 

 

Delirar o racial é uma imagem para pensar espacialidade sem as ficções formais (espaço e tempo). A partir da equação: racial ↔ ️não-local, os artistas Davi Pontes e Wallace Ferreira coreografam um experimento artístico que pensa a diferença sem separabilidade e que oferece uma equação para anular o espaçotempo como descritores de tudo que existe neste mundo.

 

No universo apresentado pelo princípio da não-localidade, o deslocamento e a relação não descrevem o que acontece, porque todas as partículas estão implicadas, isto é, todas as partículas existem umas com as outras, sem espaçotempo. A não-localidade expõe uma realidade mais complexa na qual tudo possui uma existência atual (espaçotempo) e virtual (não-local). Uma das características do pensamento pós-iluminista se encontra na
capacidade de determinação que podemos notar observando duas estruturas lógicas: condicional e silogismo. A escolha do ↔ (bicondicional) para expor essa imagem aponta sua capacidade de retirar a determinação de ambos os lados.

 

 

Em busca de uma coreografia que não solicite os pilares ontoepistemológicos, os artistas se aproximam do pensamento da artista e filósofa Denise Ferreira da Silva para pensar um filme sem o fantasma da linearidade. O efeito é uma obra experimental, no qual utilizam os mesmos procedimentos que elaboram suas coreografias, uma série de ações que lidam com a incerteza, a desordem e o provisório para pensar uma ética fora do tempo para vidas negras.

 

 

Ficha técnica:

 

 

Direção: Davi Pontes e Wallace Ferreira
Câmera e edição: Matheus Freitas
Trilha Musical e Sound

 

Design: PODESERDESLIGADO
Voz: Davi Pontes
3D: Gabriel Junqueira
Som: Nuno Q Ramalho
Produção de set: Idra Maria Mamba Negra
Apoio de set: Gabe Arnaudin
Direção de Arte e luz: Iagor Peres
Styling: Iah Bahia

 

 

Bárbara Wagner e Benjamin de Burca

 

 

Swinguerra, 2019, 23”

 

Em Swinguerra, a dupla Bárbara Wagner e Benjamin de Busca apresenta o resultado de sua pesquisa iniciada em 2015, em torno da swingueira pernambucana. Fenômeno cultural periférico, a swingueira pode ser definida como uma singular deglutição de elementos e signos oriundos do brega pernambucano, do axé baiano, do funk carioca e mesmo do pop norte-americano. Para o filme, Wagner e de Burca escolheram trabalhar em parceria com três companhias de dança – Cia. Extremo, La Máfia e O Passinho dos Maloka. Em comum, as três compartilham seu método de trabalho: ensaiam seus números rigorosamente, ao longo do ano, para apresentá-los em competições locais e intermunicipais, nos arredores de Recife.

 

 

Suas pesquisas desdobram-se em filmes e fotografias que investigam fenômenos que vão do brega-funk a indústria musical do gospel na Zona da Mata de Pernambuco. São curta-metragens híbridos, cuja peculiaridade de linguagem é tamanha que facilmente escapam às definições usuais de gênero. Trabalhando em regime colaborativo com seus retratados – e junto deles tomando as decisões que definem os rumos e o próprio resultado final da obra – Wagner e de Burca instauram um terceiro lugar entre o ficcional e o documental, convidando o espectador a se colocar diante de corpos e subjetividades usualmente marginalizadas ou arquetipadas pelos discursos hegemônicos.

 

 

Ficha Técnica
Direção: Bárbara Wagner, Benjamin de Burca
Roteiro: Bárbara Wagner, Benjamin de Burca
Produção: Dora Amorim, Julia Machado, Thaís Vidal
Fotografia: Pedro Sotero
Montagem: Eduardo Serrano
Arte e Figurino: André Antonio, Rita Azevedo
Som: Lucas Caminha, Catherine Pimentel, Nicolau Domingues, Caio Domingues
Trilha Sonora Original: Carlos Sá
Elenco Principal: Eduarda Lemos, Clara Santos, Diego Matarazzo, Edlys Rodrigues,
Henrique Sena (MC Fininho), Clara Damasceno, Kinha do Tamburete
Empresa Produtora: Ponte Produtoras

 

 

Sobre a curadoria do MIRA:

 

 

MIRA 2021

 

 

Curadoria Victor Gorgulho

 

 

A quinta edição do MIRA, programa de vídeo-arte da ArtRio, reforça sua missão dos últimos anos: exibir, durante o período de realização da feira, trabalhos audiovisuais de jovens e consagrados artistas de diferentes gerações.

 

 

Se entre as décadas de 1960 e 1980, os novos suportes de gravação em vídeo operaram uma verdadeira revolução no campo da arte, hoje a produção de imagens se dá em um mundo saturado por elas, rodeado por estímulos de toda sorte disparados por telas de tamanhos e resoluções cada vez mais vertiginosos.

 

 

Atrelada às nossas vidas cotidianas, no entanto, a produção de imagens instaura-se hoje em um campo mais horizontal e democrático, permitindo, no campo da arte, a emergência de narrativas e sujeitos antes condicionados à meios de produção pouco acessíveis e custosos.

 

 

A seleção de vídeos e filmes do MIRA 2021 busca dar conta de produções de ontem e de hoje, instaurando territórios híbridos: entre o cinema e as artes visuais, entre a narrativa e o filme-performance. Em um mundo povoado por imagens, são obras que investigam as infindas possibilidades do audiovisual como meio. Como radares atentos, perscrutam os sinais difusos do presente para instaurar outras possibilidades de futuro – e inaugurar novos amanhãs.

 

 

 

 

 

 

Paulo Pasta: LUZ

03/set

 

 

O Museu de Arte Sacra de São Paulo – MAS / SP, instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, abre “Paulo Pasta: Luz”, exposição do artista plástico Paulo Pasta, sob curadoria de Simon Watson. A mostra apresenta 19 telas dos últimos 10 anos, com dimensões que oscilam entre mural e laptop. “Pasta cria pinturas que são meditações físicas sobre a metafísica e mais palavras e emoções quando sabemos o que estamos mostrando …”, define o curador.

 

 

“Paulo Pasta: Luz” é a vigésima mostra individual institucional do artista e a primeira após a “Projeto e Destino”, no Instituto Tomie Ohtake de 2018, com curadoria de Paulo Miyada. Desde a sua primeira individual em 1983, Paulo Pasta faz exposições continuamente e suas obras são aceitas e abraçadas por instituições públicas e coleções privadas. Ao longo dos anos, sua prática de pintura evoluiu para uma meditação silenciosa sobre cor, espaço e luz. Poucas opções de cor – de três a seis matizes por tela, todos com valores tonais semelhantes – seus campos de composição sugerem um enquadramento com pilares arquitetônicos, entablamentos e vigas. Os contrastes sutis entre cores semelhantes fazem com que vibrem e se movam sutilmente para a frente e para trás no espaço. Eles sugerem elegantemente a captura de luz e alude às formas como a luz muda suas características ao longo do dia.

 

O aspecto formal das telas de Paulo Pasta sugere um diálogo permanente com Giorgio Morandi e Alfredo Volpi, bem como com Old Masters onde, de uma forma semelhante, possuem uma consciência populista. Eles nos levam para a rua. Eles nos convidam a conhecer o mundo ao nosso redor, de paredes e fachadas pintadas em cores vivas que podem ser encontradas no dia a dia e em todos os locais no Brasil. Exuberantes em cores e serenas em estrutura, as pinturas de Paulo Pasta são profundamente meditativas e afirmativas da vida.

 

 

Destacada por uma instalação mínima e iluminação dramática, a exposição “Paulo Pasta: Luz” é composta por quatro grandes pinturas em escala muralista (duas verticais e duas horizontais), cada uma ladeada por pinturas de tamanho médio que dialogam com suas cores e composições. A segunda, no espaço do claustro, são instalações do próprio estúdio do artista, onde em uma parede corrida você encontra um salão de meditação que interage de forma alegre a íntima.

 

“As pinturas de Paulo Pasta são uma manifestação física da presença da luz, como em um reflexo durante um passeio matinal. São também etéreas, sugerindo a imaterialidade da luz. Luz do espírito e da imaginação, luz que irradia e eleva.”

 

 

Simon Watson

 

 

Projeto LUZ Contemporânea

 

 

LUZ Contemporânea é um programa de exposições de arte contemporânea que se desdobra em eventos e ações culturais diversas, públicas e privadas. Desenvolvido pelo curador Simon Watson, o projeto, atualmente, encontra-se baseado no Museu de Arte Sacra de São Paulo. Nesse espaço, LUZ Contemporânea apresenta exposições temáticas de artistas convidados, de modo a estabelecer diálogos conceituais e materiais com obras do acervo histórico da instituição. Embora fortemente focada no cenário artístico brasileiro atual, LUZ Contemporânea está comprometida com uma variedade de práticas, cultivando parcerias com artistas performáticos e organizações que produzem eventos de arte.

 

 

O primeiro ano de programação de LUZ Contemporânea, no Museu de Arte Sacra, foi concebido como uma trilogia que visa responder à pandemia. O ciclo teve início com João Trevisan: Corpo e Alma, sendo seguida por Esperança, coletiva com 12 artistas, e culmina com Paulo Pasta: Luz. A trilogia vai do escuro ao claro, dos noturnos de João Trevisan à meditação de Paulo Pasta sobre a luz.

 

 

Sobre o artista  

 

 

Paulo Pasta nasceu em Ariranha/SP, 1959.  Doutor em artes visuais pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – ECA / USP (SP). Recebeu a Bolsa Emile Eddé de Artes Plásticas do MAC/USP (SP) em 1988. Dentre as exposições realizadas, destaque para individual na no Centro Cultural Maria Antonia, em 2011, para o Panorama dos Panoramas, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 2008, e para individual na Pinacoteca do Estado de São Paulo, em 2006. Como professor, lecionou pintura na Faculdade Santa Marcelina – FASM, entre 1987 e 1999, e desenho na Universidade Presbiteriana Mackenzie, entre 1995 e 2002. É professor da USP desde 2011 e, da FAAP, desde 1998. Realizou exposições individuais em diversos espaços, como Instituto Tomie Ohtake e Galeria Millan, São Paulo, SP (2018); Galeria Carbono, São Paulo, SP, e Paulo Darzé, Salvador, BA (2017); Embaixada do Brasil, Roma, Itália (2016); Galeria Millan e Museu Afro Brasil, São Paulo, SP (2015); SESC Belenzinho, São Paulo, SP (2014); Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS (2013); Centro Cultural Maria Antonia, São Paulo, SP (2011); Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, RJ (2008); e Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP (2006), entre outros. Também participou de importantes exposições coletivas, entre elas: MAC-USP no Século XXI – A Era dos Artistas, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, SP (2017); Clube de Gravura – 30 Anos, Museu de Arte Moderna de São Paulo, SP, e Os Muitos e o Um, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, SP (2016); 30 x Bienal, Pavilhão da Bienal, São Paulo, SP (2013); Europalia, International Art Festival, Bruxelas, Bélgica (2011); Matisse Hoje, Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP (2009); Panorama dos Panoramas, MAM-SP, SP (2008); MAM(na)Oca, Oca, São Paulo, SP (2006); Arte por Toda Parte, 3ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre, RS (2001); Brasil + 500 – Mostra do Redescobrimento, Pavilhão da Bienal, São Paulo, SP (2000); e III Bienal de Cuenca, Equador (1991), entre outras. Suas obras integram diversas coleções, entre as quais: Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP; Museu de Arte Moderna de São Paulo, SP; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, RJ; Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, SP; Museu de Belas-Artes do Rio de Janeiro, RJ; Colección Patricia Phelps de Cisneros, Nova York, EUA; e Kunsthalle, Berlim, Alemanha.

 

 

Sobre o curador

 

 

Simon Watson, nascido no Canadá e criado entre Inglaterra e Estados Unidos, Simon Watson é curador independente e especialista em eventos culturais baseado em Nova York e São Paulo. Um veterano com trinta e cinco anos de experiencia na cena cultural de três continentes, Watson concebeu e assinou a curadoria de mais de 250 exposições de arte para galerias e museus, e coordenou programas de consultoria em colecionismo de arte para inúmeros clientes institucionais e particulares. Nas últimas três décadas, Watson trabalhou com artistas emergentes e os pouco reconhecidos, trazendo-os para a atenção de novos públicos. Sua área de especialização curatorial é identificar artistas visuais com potencial excepcional, muitos dos quais agora são reconhecidos internacionalmente na categoria blue-chip e são representados por algumas das galerias mais famosas e respeitadas do mundo.

 

 

Sobre o museu

 

 

 

O Museu de Arte Sacra de São Paulo, instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, é uma das mais importantes do gênero no país. É fruto de um convênio celebrado entre o Governo do Estado e a Mitra Arquidiocesana de São Paulo, em 28 de outubro de 1969, e sua instalação data de 29 de junho de 1970. Desde então, o Museu de Arte Sacra de São Paulo passou a ocupar ala do Mosteiro de Nossa Senhora da Imaculada Conceição da Luz, na avenida Tiradentes, centro da capital paulista. A edificação é um dos mais importantes monumentos da arquitetura colonial paulista, construído em taipa de pilão, raro exemplar remanescente na cidade, última chácara conventual da cidade. Foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em 1943, e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Arquitetônico do Estado de São Paulo, em 1979. Tem grande parte de seu acervo também tombado pelo IPHAN, desde 1969, cujo inestimável patrimônio compreende relíquias das histórias do Brasil e mundial. O Museu de Arte Sacra de São Paulo detém uma vasta coleção de obras criadas entre os séculos 16 e 20, contando com exemplares raros e significativos. São mais de 10 mil itens no acervo. Possui obras de nomes reconhecidos, como Frei Agostinho da Piedade, Frei Agostinho de Jesus, Antônio Francisco de Lisboa, o “Aleijadinho” e Benedito Calixto de Jesus, entre tantos, anônimos ou não. Destacam-se também as coleções de presépios, prataria e ourivesaria, lampadários, mobiliário, retábulos, altares, vestimentas, livros litúrgicos e numismática.

 

 

Até 08 de Novembro.