Amanhã [Tomorrow] | Art Basel Online Viewing Room “Um Estande Imaginário” [An imaginary Booth]

17/jun

 Bergamin & Gomide

 

Temos o prazer de apresentar o projeto “Um Estande Imaginário” criado especialmente para o Online Viewing Room da Art Basel, que acontece de 17 a 26 de junho de 2020.

 

Apresentaremos raras obras de arte de artistas como Abraham Palatinik, Alexander Calder, Amadeo Luciano Lorenzato, Amélia Toledo, Artur Barrio, Celso Renato, José Leonilson, José Resende, Lygia Clark, Manfredo de Souzanetto, Mira Schendel,  Sergio Camargo, Sol LeWitt, entre outros.

 

A seleção de obras tem foco nos materiais que transmitem organicidade, uma forma de despertar a memória coletiva ao dialogar, direta ou indiretamente, com os nossos ancestrais. Assim, ao integrar nas ambientações peças utilitárias de etnias indígenas do território brasileiro, reverenciamos os povos originários e sua cultura.

 

Na imagem destacamos a obra Sergio Camargo, Relevo nº 373 (1972), onde o branco aplicado sobre o relevo de madeira nos apresenta um tênue jogo de luz e sombra. Diante da ambiguidade de elementos que não se individualizam, os relevos sobre a superfície atingem uma complexidade de nuances e desafiam a lógica contrutivista a partir de sua aleatoriedade. Ao entrar em contato com a obra, o público é convidado para um momento de contemplação do silêncio e da escassez de cor.

 

Junto à obra está a peça de cerâmica utlilizada como panela pelo Povo Rikbaktsa, que vive na bacia do rio Juruena, no noroeste do Mato Grosso. Sua autodenominação – Rikbaktsa – significa “os seres humanos”. Regionalmente são chamados de “Canoeiros”, por referência à sua habilidade no uso de canoas ou, mais raramente, de “Orelhas de Pau”, pelo uso de enormes botoques feitos de caixeta e introduzidos nos lóbulos alargados das orelhas.

 

Foram considerados guerreiros ferozes e na década de 1960 enfrentaram um processo de depopulação que resultou na morte de 75% de seu povo. Recuperados, ainda hoje impõem respeito à população regional por sua persistência na defesa de seus direitos, território e modo de vida.

Para mais informações entre em contato conosco!

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We are pleased to present the project “An Imaginary Booth” created exclusively for Art Basel Online Viewing Room, which takes place from June 17th to 26th, 2020.

We will present rare works by artists such as Abraham Palatinik, Alexander Calder, Amadeo Luciano Lorenzato, Amélia Toledo, Artur Barrio, Celso Renato, José Leonilson, José Resende, Lygia Clark, Manfredo de Souzanetto, Mira Schendel, Sergio Camargo, Sol LeWitt, among others.

 

The selection of works focuses on materials that transmit organicity, a way to awaken collective memory when dialoguing, directly or indirectly, with our ancestors. Thus, when integrating utilitarian pieces of indigenous ethnic groups from the Brazilian territory, we honor our First peoples and their culture.

 

In the image is highlight the work by Sergio Camargo, Relief nº 373 (1972), where the white colour placed on the wooden relief presents us with a tenuous play of light and shadow. In face of the elements’ ambiguity that are not individualized, the reliefs on the surface reach a complexity of nuances and challenge the constructivist logic based on its randomness. Upon seeing this work, the audience is invited to a moment for contemplate the silence and scarcity of color.

 

Alongside the work is the ceramic piece used as a pot by the Rikbaktsa People, who live in the Juruena River whatershed, in northwest of Mato Grosso state. Its self-denomination – Rikbaktsa – means “human beings”. Locally they are called “Canoeiros”, as a reference to their skill on riding canoes or, more rarely, “Orelhas de Pau”, due to the usage of huge buttons made of wood and inserted in the enlarged ear lobes.

 

They were considered ferocious warriors and in the 1960s faced a depopulation process that resulted in the death of 75% of their people. Recovered, they still impose respect on the regional population for their persistence in defending their rights, territory and way of life.

For more information contact us!

not cancelled / Gabriela Machado – Galeria Marcelo Guanieri

09/jun

not cancelled (Gabriela Machado)

 

A Galeria Marcelo Guarnieri, São Paulo, SP, anuncia participação no “not cancelled Brazil”, evento de arte online com duração de 4 semanas que reunirá 57 galerias brasileiras de 9 diferentes cidades. Será apresentada uma seleção de pequenas pinturas e esculturas da artista brasileira Gabriela Machado.

 

O acesso so evento será de 10 de junho a 8 de julho de 2020. A galeria apresentará os trabalhos na terceira semana do evento em www.notcancelled.art/brazil

 

Iniciada na década de 90, a produção de Gabriela Machado ficou marcada pelas pinturas de grande escala em cores vibrantes, interessadas por elementos da paisagem que abarcavam desde florestas, praias e morros, a detalhes de um ramo de flores pousado na mesa de seu ateliê. A partir de 2013, Gabriela passou a concentrar-se na pintura de pequenas dimensões, rebaixando os tons de sua paleta de cores e compondo imagens menos festivas e mais silenciosas. Trabalhar em telas menores estimulava uma prática que ia além do espaço do ateliê: a mobilidade do material permitia à artista produzir em diferentes contextos, contaminando-se por eles. Foi o que aconteceu nos cinco anos seguintes, quando desenvolveu novas séries enquanto viajava para países como Portugal, Estados Unidos e regiões como a Patagônia, o sul de Minas Gerais e o litoral da Bahia.

 

Nas pinturas mais recentes, produzidas a partir de 2017, surgem os amarelos e verde-neons mergulhados em azuis escuros, vermelho-carmim misturados ao preto e ao laranja. Ainda se tratando da paisagem, das flores, dos bichos, do mar e da floresta, agora há uma especial fascinação pelas visões noturnas, pela lua e pelos efeitos da luz.

 

As esculturas da série “Vibrato” foram produzidas entre Portugal (em residência na fábrica de cerâmica São Bernardo) e Rio de Janeiro (apresentadas em 2016 no MAM-RJ), entre 2013 e 2015, período em que experimentou traduzir alguns procedimentos de suas pinturas para a escultura. As peças se configuram em materiais diversos tais quais porcelana, madeira, bronze, gesso, argila e pedras. Oscilam não só a partir dos materiais, mas também a partir dos formatos, das alturas que alcançam e das cores que incorporam, compondo, juntas, uma espécie de sinfonia.

 

A palavra de Ronaldo Brito

 

“Daí o modo coerente como se apresentam em exposição – dispostas meio aleatoriamente sobre uma mesa comprida, em bases provisórias, que pertencem e não pertencem às esculturas. Ora falam, conversam à vontade entre si, ora se distanciam, isoladas em sua unidade formal particular.”

 

Sobre a artista

 

Gabriela Machado (1960 – Santa Catarina, Brasil – Vive e trabalha no Rio de Janeiro, Brasil). Buscando nas formas da natureza e nos arranjos dos objetos que a rodeiam um ponto de partida para suas pinturas, desenhos e esculturas, Gabriela Machado escolhe a cor como porta-voz de seus trabalhos. Por vezes em telas de grandes dimensões que exigem do corpo o movimento de projetar-se numa espécie de vôo cego, ou até mesmo em telas pequeninas que nos remontam à relação intimista que possuímos com nossos cacarecos. O trabalho de Machado nos aproxima, por meio de pinceladas intensas e cores vivas, da experiência estética dos elementos de seu cotidiano; sejam eles as grandiosas montanhas do Rio de Janeiro ou os singelos cachos de bananas pendurados nas barracas da feira. A tinta, matéria de seus trabalhos bidimensionais, surge, em sua grande maioria, diluída em água ou entre as distintas cores que escolhe, nunca perdendo, no entanto, a capacidade de vibrar. O caráter gestual de sua pintura migra para os trabalhos tridimensionais que ganham corpos de porcelana, gesso ou bronze e que parecem alçar a condição de objetos-vivos quando elevados em altíssimos pedestais ou quando assumem grandes volumes desengonçados. Assim como suas pinturas, desenhos e como a própria natureza, esses objetos nos apontam para a beleza da matéria não-domesticada. Participou de inúmeras exposições individuais e coletivas, destacando-se: MAM – Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil; Centro Cultural Banco do Brasil, São Paulo, Brasil; Carpe Diem – Arte e Pesquisa, Palácio das Artes, Lisboa, Portugal; Paço Imperial, Rio de Janeiro, Brasil; Museu do Açude, Rio de Janeiro, Brasil; Museu Nacional de Soares dos Reis, Porto, Portugal; Casa de La Parra, Santiago de Compostela, Espanha; Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, Brasil; MUBE – Museu Brasileiro de Escultura, São Paulo, Brasil; Centro Cultural São Paulo, São Paulo, Brasil; Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, Brasil; Centro de Arte Hélio Oiticica, Rio de Janeiro, Brasil; Sacred Heart University, Fairfield, Califórnia, EUA; Oi Futuro Flamengo, Rio de Janeiro, Brasil; MAM-Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador, Brasil, entre outros.

 

Diálogos instigantes

03/jun

Como nasce uma obra de arte?

15/mai

No dia 18 de maio às 18h30, acontecerá um bate-papo via Zoom “Como nasce uma obra de arte?”, mediado pela Tamara Perlman, com as artistas Adriana Conti MeloBettina Vaz Guimarães e Brisa Noronha que fazem parte do Clube de Colecionadores Artsoul.
Inscrever-se
Vamos falar sobre a produção artística, como isso se dá normalmente e como tem sido em tempos de quarentena, assuntos e temas que rodeiam suas produções e muito mais!

Artistas Convidadas
Bettina Vaz Guimarães
Brisa Noronha
Adriana Conti Melo

Bate-papo com Alex Flemming

04/mai

Martin Kippenberger | Live sexta às 16h

30/abr

Martin Kippenberger | Live sexta às 16h com Thiago Gomide e Heinrich zu Hohenlohe

 

Esperamos que você e sua família estejam bem.

 

Dando seguimento à série de lives que estamos realizando semanalmente em nosso perfil no Instagram, na próxima sexta-feira, dia 1º de maio, às 16h (horário de Brasília), o sócio-diretor da galeria Thiago Gomide convida o galerista alemão Heinrich zu Hohenlohe para uma conversa sobre um dos artistas mais plurais do pós-guerra, enfant terrible da cena punk alemã, Martin Kippenberger.

 

Para conhecer um pouco mais sobre o artista, compartilhamos três vídeos: no primeiro, nosso convidado explica a importância dos quase 200 cartazes criados por Kippenberger ao longo de sua vida, preparado para a exposição que a Dickinson Londres fez em 2015. Dois anos depois, a Bergamin & Gomide, em parceria com a galeria, trouxe a exposição para o Brasil e é possível assistir à entrevista que Gomide deu ao site Amarello. Destacamos também um vídeo produzido pelo MoMA para a retrospectiva de Kippenberger em 2009.

 

Sobre o artista

 

Kippenberger nasceu em Dortmund, Alemanha em 1953 e morreu prematuramente de cirrose aos 44 anos, em 1997, em Viena. Viveu somente para a sua arte, tendo Joseph Beuys e Andy Warhol como alguns de seus modelos mais influentes. Criador onívoro, Kippenberger fez centenas de desenhos em papelaria de hotel, conjunto de obra que se traduz quase como um diário de viagem. Os artigos de papelaria se tornaram, como muitas coisas que ele encontrou, um material pronto para sua arte. Enquanto desenhos e esboços geralmente permitem que os artistas explorem idéias ou se preparem para uma pintura ou escultura maior, muitos dos desenhos de Kippenberger têm uma qualidade compulsiva, dando a impressão de que foram feitos por um sonhador que planeja e planeja, mas não consegue concluir um projeto. De fato, ele costumava fazer esses esboços depois ou no meio de uma pintura, escultura ou projeto maior, e cada obra é uma obra de arte independente e um fragmento ou extensão de uma narrativa em andamento. Os desenhos fazem parte da estratégia de Kippenberger de criar uma integração contínua entre sua vida e obra.

 

Sobre Heinrich zu Hohenlohe

 

Mestre em História da Arte pela University College London e trabalhou para a Christie’s, em Londres, onde chefiou o departamento de obras em papel e as vendas na Alemanha e Áustria. Ele deixou a casa de leilão para se juntar ao time da Dickinson, onde se tornou diretor regional da Alemanha. Em Berlim, foi responsável por diversas vendas de artistas expressionistas e do pós-guerra, como Gerhard Richter e Martin Kippenberger. Também foi curador e co-curador de exposições de artistas brasileiros dos grupos Concreto e Neoconcreto, auxiliando também na primeira exposição de Ivan Serpa em Nova York. Após 16 anos dedicados à Dickinson, monta seu próprio escritório de arte na capital alemã, cujo foco é pinturas, esculturas e obras em papel dos principais artistas europeus, americanos e latino-americanos dos séculos XX e XXI. Heinrich zu Hohenlohe fala seis idiomas e tem um cinturão verde no Jiu Jitsu.

Através deste link, você pode encontrar uma seleção de obras de Martin Kippenberger.

 

Para mais informações, entre em contato conosco.

Obrigado e até breve,

Equipe Bergamin & Gomide

 

MARTIN KIPPENBERGER VIDEOS
Martin Kippenberger: The Problem Perspective, on view at MoMA Martin Kippenberger: The Problem Perspective, on view at MoMA Martin Kippenberger: The Problem Perspective, on view at MoMA AMARELLO Visita: 

Claudio Tobinaga, Jimson Vilela e Yoko Nishio

29/abr

Na quinta e última semana da “Seleção de obras de arte” nas páginas digitais da galeria Simone Cadinelli Arte Contemporânea, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, o público verá trabalhos dos artistas Jimson Vilela, Yoko Nishio e Claudio Tobinaga.

 

As obras desta semana de 27 de abril a 1º de maio são: “Sem título” (“Distorção”), 2019, de Jimson Vilela; “Vista Pitoresca de Bertillon 2” (2019), de Yoko Nishio e “Viva Melhor” (2018), de Claudio Tobinaga.

 

“O sentido de deslocamento do que entendemos como realidade pode ser observado nas três obras selecionadas”, comenta Érika Nascimento, gestora artística da galeria. Em “Distorção” o papel do livro em branco na biblioteca, “Viva Melhor” com uma paisagem “bugada”, e “Vista Pitoresca de Bertillon”, onde o objeto capacete torna-se protagonista, ao invés do indivíduo.

 

São partes fundamentais da poética de Jimson Vilela a palavra, a linguagem e a gramática. Da mesma forma, os suportes que utiliza – o livro e o papel – integram sua pesquisa. “Distorção” – impressão com pigmento mineral sobre papel Photo Rag Baryta 315 – é uma relação direta com as folhas de papéis em branco de um livro, inseridas em seu ambiente usual de leitura.

 

A série de aquarelas “Vista Pitoresca de Bertillon”, de 40 x 30 cm, de Yoko Nishio, reverte o procedimento criado em 1879 por Alphonse Bertillon (1853-1914) – o Sistema de Identificação Criminal, que padronizou a imagem e ficha fotográfica policial – em que é o capacete o personagem ameaçador.

 

Na pintura em óleo sobre tela, de 140 x 100 cm, Claudio Tobinaga faz uma das raras paisagens em sua produção, em que usa elementos do cotidiano carioca. Em “Viva Melhor” (2018), estão presentes as listras, uma constante em seus trabalhos, que representam o “glitch” (erro) da imagem, uma paisagem em processamento, “bugada, como as falhas das imagens das barras de rolagem das redes sociais, em estado de quase desaparecimento”.


Eleonore Koch / Alfredo Volpi

13/mar

A Galeria Marcelo Guarnieri, Jardim Paulista, São Paulo, SP, apresenta até 09 de abril a primeira exposição do ano, que reúne obras de Eleonore Koch e Alfredo Volpi. Pinturas produzidas por Volpi nas décadas de 1950 e 1970 dividem o espaço das duas salas da galeria com pinturas que Eleonore Koch produziu nas mesmas épocas. Além destas, um dos cadernos de desenho da artista elaborado entre as décadas de 1950 e 1980 e um farto conjunto de estudos em gravura, pintura e desenho produzidos por ela entre as décadas de 1970 e 1990 também integram a mostra. O diálogo entre Volpi e Eleonore Koch nesta exposição ressoa a importante relação de trocas que tiveram ao longo dos anos – inicialmente como professor e aluna e depois como amigos e parceiros de profissão – dando continuidade ao programa iniciado pela galeria em 2019, que apresenta de maneira simultânea obras de artistas que possuíram um diálogo durante a sua trajetória ou que podem ser lidas a partir de aproximações conceituais e poéticas.

 

Naturezas-mortas, jardins ingleses, ambientes domésticos, marinhas e desertos. Ao longo de sua produção, Eleonore Koch (Berlim – Alemanha, 1926) explorou, através destes temas, o manejo de cores e formas que materiais como a têmpera, o pastel, o óleo, o grafite e o carvão lhe permitiam. Os campos de cores que preenchem os elementos de suas composições evidenciam sua estrutura através das pinceladas ou dos traços em paralelo que os compõem, transparência de um fazer que se traduz também no uso da perspectiva – quando a representação de alguns objetos mostra-se fiel a um ponto de fuga ao mesmo tempo em que a de outros ignora-o completamente, reduzindo-os a formas geométricas planificadas. Koch permite aos seus jarros de flores que flutuem no espaço e que o chão e o teto se distingam apenas pela cor. Seus estudos em grafite nos mostram que sua preocupação não centrava-se somente na cor, mas também no arranjo das geometrias – das linhas e superfícies – e no balanceamento de tons que o lápis lhe permitia explorar através das intensidades do traçado.

 

Frequentemente mencionada como discípula de Volpi, Eleonore Koch possuiu uma formação bastante diversa, através de professores artistas como Yolanda Mohalyi, Samson Flexor, Bruno Giorgi, Elisabeth Nobiling e Arpad Szenes e também de suas temporadas de estudo e trabalho fora do Brasil, em Paris entre 1949 e 1951 e em Londres entre 1968 e 1989. A maioria dos estudos e pinturas que integram a exposição foram produzidas justamente durante os vinte anos que viveu na Inglaterra, onde admitiu ter sofrido grande influência da pop art britânica, através do trabalho de artistas como David Hockney. Estão reunidos na mostra alguns conjuntos de estudos que permitem ao público observar o desenvolvimento de uma pintura ou de um pastel a partir de pequenas variações dos elementos que as compõem – como a composição de uma mesa e cadeira que em uma das versões se apresenta somente em traços esquemáticos e em outra já se soma outra cadeira à frente de um fundo negro em carvão, variando em mais três versões. O trabalho com texturas, presente no emprego da têmpera e do carvão, se completa no uso da colagem de papel cartão e papel jornal que dão forma e cor aos vasos, árvores, pétalas e até mesmo aos degraus das escadas dos seus jardins. Recortes do que parecem ser listas telefônicas dos residentes da cidade de Londres dão profundidade e ritmo às frondosas copas das árvores através dos grafismos dos números e das letras que os compõem.

 

Pertencente a uma geração anterior de imigrantes europeus que fixaram residência no Brasil, Alfredo Volpi (Lucca – Itália, 1896) estabelece-se em São Paulo ainda mais jovem que Eleonore, com apenas um ano de idade. O encontro com Koch se daria dali a 56 anos, em 1953, em seu ateliê no bairro do Cambuci, por intermediação do colecionador, crítico e psicanalista Theon Spanudis. Naquele mesmo ano, Volpi receberia o prêmio de Melhor Pintor Nacional conferido pela Bienal de São Paulo, onde havia apresentado suas “Casas”, representações de fachadas de casas populares sintetizadas em formas geométricas. A década de 1950 marcava um momento de maturação da pesquisa de Volpi sobre a simplificação formal de suas composições. Já distanciada de um certo figurativismo que havia guiado sua produção até então, empenhava-se na construção de um vocabulário de formas elementares que surgiam das portas, janelas, arcos e bandeirinhas que faziam parte de seu cotidiano e que lhe serviram para explorar as possibilidades da técnica e da composição.

 

Volpi inicia seu contato com a pintura em 1911, trabalhando como pintor decorativo de paredes, ofício que mantém até pelo menos a década de 1940. Sua expertise artesanal também lhe deu suporte quando trocou a tinta a óleo pela têmpera, indo na contramão do imaginário industrial da década de 1950. Foi com Volpi que Eleonore Koch aprendeu as técnicas de uso e preparo da têmpera e de pigmentos feitos a partir de terras naturais, e foi também a partir dali que passou a adotá-las frequentemente em suas pinturas, definindo seu estilo. Os debates figuração vs. abstração, formalismo vs. informalismo eram bastante intensos naqueles anos que Koch passou com Volpi em seu ateliê, entre os anos de 1953 e 1956.

 

Em 1953 o MAM/RJ organiza em Petrópolis a 1ª Exposição Nacional de Arte Abstrata, reunindo diversas tendências do abstracionismo no Brasil, do lírico ao geométrico, e em 1956 o grupo Ruptura organiza a I exposição Nacional de Arte Concreta no MAM/SP, que já explicitava divergências dentro do próprio movimento concreto. Apesar de ter sido um dos participantes desta última mostra – que também ocorreu no Rio de Janeiro no ano seguinte -, Volpi preferia abdicar da associação a grupos ou movimentos, optando pela liberdade de poder incorporar em suas obras elementos plásticos de variadas ordens. Tal posicionamento pode ser explicitado não somente pelos afrescos que produziu na capela de Nossa Senhora de Fátima em Brasília, mas também pela pintura da década de 1950 apresentada nesta exposição, na qual figura um anjo humanóide sobre um fundo de losangos verdes e azuis. Essa fluidez entre a figuração e a abstração ou entre o formal e o informal também pode ser encontrada nas pinturas da década de 1970, como “Fitas e Mastros”, por exemplo. Neste caso, a obra transita entre uns e outros através de uma composição ritmada formada pelo intercalamento de cores em uma malha geométrica irregular.

 

Como olhar para trás”, na Z42 Arte

A exposição – coletiva temática – “Como olhar para trás”, com obras inéditas das artistas Ilana Zisman, Maria Amélia Raeder, Mariana Sussekind e Priscila Rocha, ocupam todo o espaço expositivo da Z42 Arte, Cosme Velho, Rio de Janeiro, RJ. Com curadoria de Fernanda Lopes, a mostra traz o tema da memória, em diferentes aspectos, através de obras produzidas em diversos suportes, como fotografia, instalação, desenho, pintura e objeto. “A exposição apresenta possibilidades de estudo sobre a memória: memória como invenção, como tornar presente algo que está ausente, como reconstrução de algo que ficou, que é presença, e também o que sobrou da memória de algo que não se conhece. Muitas vezes a memória aparece como rastro, como pista, como insinuação”, diz a curadora Fernanda Lopes. A ideia da mostra surgiu a partir de um grupo de estudo das artistas com a curadora. Ao longo de seis meses, elas se encontraram para discutir seus trabalhos e questões relacionadas a eles e identificaram que todas vinham, mesmo que de formas diferentes, tratando sobre o tema da memória em suas produções.

 

Percurso da exposição

 

No hall de entrada do casarão de 1930 que abriga a Z42 Arte estará uma única obra: “Museu de História (Des)natural” (2019), da artista Priscila Rocha, composta por uma mesa de mármore com peças em gesso dispostas como se estivessem em uma vitrine de museu, inclusive com legendas descritivas. “A ideia da construção da memória está presente nesse trabalho, onde faço uma brincadeira entre a ficção e a realidade”, diz a artista. Nesta vitrine, estará um pedestal construído com imagens de soldadinhos, um brinquedo comum da infância, fundidos, quase irreconhecíveis; um retângulo de gesso que lembra um campo de batalha e pequenas peças, também com a imagem dos soldadinhos, muitas delas em pedaços, com a legenda “flashes”, como se fossem flashes de memória. “Pelo fato de serem facilmente reconhecidos e reproduzidos em diversas culturas, localidades e épocas, pensei nas imagens e significados destes brinquedos como memória de infância e a relação desta com o espaço. Inevitavelmente pensei na banalização da guerra, nas condecorações, nos motivos levianos, na relação com o consumo, nas indústrias que ela alimenta e é alimentada, chegando novamente na indústria do brinquedo e nos brinquedos de guerra e como a questão da memória e do esquecimento é articulada neste ciclo no qual a brincadeira se insere”, conta Priscila Rocha.

 

As quatro salas seguintes serão ocupadas cada uma por uma artista. Na primeira delas, à direita, estarão obras de Ilana Zisman, como “Arquivo 1”, da série Lavagem ou Taharah (ritual judaico pelo qual o corpo passa antes de ser enterrado, que respeita e dignifica o corpo), que mede 170cm X350cm e é composta por vários pedaços de papel de seda tingidos de tons de vermelho, colocados uns sobre os outros. “As unidades podem remeter à vida ou à morte”, explica a artista, que tinge cada um dos papéis manualmente. A curadora Fernanda Lopes ressalta que “os trabalhos têm uma forte presença física, mas, ao mesmo tempo, são feitos com materiais frágeis que nos remetem à ideia de sofrimento, por estarem amontoados e terem a cor vermelha, que nos lembra o sangue, a carne”. A pesquisa da artista parte de uma busca sobre a história de sua família, que viveu o holocausto, mas cujos registros são poucos, e seu trabalho fala sobre “aqueles que foram privados da sua história, que a tiveram eliminada pela violência e pelo esquecimento”. “Apesar do tema, a obra pode ser enquadrada no sofrimento de muitas minorias”, acrescenta a curadora.

 

Na parede oposta a essa grande obra estarão três pinturas feitas sobre camadas de papéis vegetais, que são transparentes. “Esses trabalhos trazem outro aspecto da minha pesquisa, que fala que o passado não pode ser olhado como foi. Ele é nebuloso e sua opacidade traz a não certeza ou evidência do que aconteceu. Utilizando um papel translucido e colocando-os sobrepostos, tento falar de como não se consegue ver as capas do tempo, porque parece uma coisa só. Coloco as formas em diálogo. Não se pode mudar o passado- no meu processo, recolho os restos e experimento como eles podem chegar no presente”, explica a artista.

 

Com trabalhos voltados, nos últimos anos, para o jornal como objeto central de investigação, Maria Amélia Raeder apresentará, na sala seguinte, a grande instalação “Estratégia para permanecer” (2019), com 320 desenhos feitos em nanquim sobre papel vegetal, “reproduzindo” uma imagem que foi publicada no jornal The New York Times. Os desenhos são feitos a partir de um método desenvolvido por ela que permite a criação de infinitos percursos dentro da mesma imagem. “Parece o percorrer de um labirinto, só que ao invés do objetivo do percurso ser encontrar uma saída, a intenção é manter-se nele o maior tempo possível”, explica a artista, que ressalta, ainda, que “o resultado desse exercício de permanência não pretende ampliar a visualidade da imagem nem sua comunicação; acaba, talvez, apenas por reforçar a invisibilidade das imagens jornalísticas – sua vocação ao esquecimento”, afirma a artista.

 

A folha de jornal onde a imagem foi publicada orginalmente estará exposta, mas com as imagens e os textos recortados, apenas deixando visível a legenda da foto. “Os desenhos resultantes deste processo contêm, cada um, o rastro de um percurso diferente. O mistério que há no rastro instiga um olhar mais atento e investigativo. Não mostro a imagem original porque a intenção é proporcionar ao espectador uma pausa investigativa, um alargamento do tempo de permanência no trabalho”, diz Maria Amélia Raeder. No corredor ao lado, a mesma pagina de jornal estará reproduzida quatro vezes, mas com as imagens cobertas pelas cores utilizadas na padronização da reprodução da imagem pelo jornal.

 

Seguindo o percurso da exposição, chega-se na sala com as obras de Priscila Rocha, que além da vitrine no hall de entrada da Z42, apresentará pinturas, objetos e instalações também partindo da imagem dos soldadinhos de brinquedo. Marcas de pegadas desses soldados aparecem na pintura “Valsa ensaiada” (2019) e bonecos e pedaços de mármore fragmentados estão em “Favor não brincar” (2019). Em sua pesquisa sobre os soldadinhos, Priscila Rocha chegou na folha de acanto e na memória histórica que ela carrega. “Há diversos significados ao longo do tempo, como se entrelaçou com o militarismo e como se disseminou como estética ornamental apagando seus significados históricos”, afirma. Com isso, serão expostos desenhos em que a folha de acanto aparece, além de um livro de artista com o contexto histórico, além de uma linha do tempo explicativa (como normalmente há em museus históricos). Por coincidência, as grades de ferro das portas de sala que será ocupada pela artista possuem folhas de acanto, assim como as sancas em gesso. A artista instalará, ainda, um papel de parede com imagens dessas folhas na sala.

 

No último salão expositivo, estarão os trabalhos de Mariana Sussekind que acompanhou, ao longo de nove meses, o desmonte de um apartamento após a morte de sua proprietária. Sessenta fotografias desse processo irão compor a instalação “No dia que tiraram os lustres”, uma “pesquisa sobre o processo de olhar para trás, reolhar, descartar e preservar”, conta a artista. “Mariana fotografou o apartamento compulsivamente, com luz natural, sem interferência. As fotos, de tomadas diferentes e até algumas repetidas, serão montadas de forma instalativa, como se estivesse montando um filme, destacando como a memória é montada”, afirma a curadora Fernanda Lopes.

 

A instalação conta com um áudio ambiente, que ajuda a construir a ideia de memória e de passado. “São tempos distintos e desorganizados que criam uma narrativa lacunar onde o espectador é convidado a construir sua própria montagem. Uma grande história em andamento, mas que nunca dará conta de traduzir o que foi”, afirma Mariana Sussekind.

 

Sobre as artistas

 

Ilana Zisman Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Formada em Psicologia na Universidade Santa Úrsula-RJ, fez cursos livres na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Filosofia e Arte Contemporânea na PUC-Rio, Processo Criativo com Charles Watson e curso de Especialização em saúde mental no Instituto de Psiquiatria da UFRJ. Desenvolve, desde 2015, uma pesquisa artística através do que chama “tecnologia do fragmento”, na tentativa de reconstruir uma memória do inenarrável e do silêncio. Investiga como materiais que remetem às histórias podem ser utilizados para acessar um passado fraturado no tempo.

 

Maria Amélia Raeder Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Possui Pós-graduação em Arte e Filosofia pela PUC-Rio, especialização em artes pelo The Art Institute of Houston-USA e graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Bennett-RJ. Fez cursos livres na The Glassell School of Art (Houston-USA), na Associacion Estimulo de Bellas Artes (Buenos Aires-AR), na EAV-Parque Lage, na Escola Sem Sitio, no Paço Imperial, no Ateliê Mundo Novo, de Charles Watson, e participou do Laboratório de Estudos em Arte Contemporânea de Frederico Carvalho – UFRJ (RJ-Brasil). Pesquisa as camadas de significação das imagens, em especial na produção de sentido das imagens nas mídias de comunicação.

 

Mariana Sussekind Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Formada em Comunicação Visual pela PUC-Rio, pós-graduada em Fotografia na UCAM e em Cinema Documentário na FGV, com mestrado em Comunicação e Estética na ECO-UFRJ. Desde 2001 trabalha com montagem de cinema e vídeo se aprofundando em vídeoarte e documentário e leciona teoria e prática de montagem em cursos de cinema. Através da experimentação, do descontrole das imagens, e de uma angustiante observância do tempo, a artista mergulha no território feminino, onde seu corpo é a medida, a forma justa de suas possibilidades no agora.

 

Priscila Rocha Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Pós-graduada em história da arte e da arquitetura pela PUC-Rio, frequentou durante sua formação cursos do Parque Lage, no Rio de Janeiro, no Instituto Tomie Othake e na FAAP, em São Paulo. Pesquisa as relações dos vestígios do tempo no espaço e como o homem se relaciona com eles. Busca encontrar nessa memória espacial, elementos que possam ser apreendidos e ressignificados artisticamente por técnicas distintas, sublimando a experiência desapropriada.

 

Sobre a curadora

 

Fernanda Lopes vive e trabalha no Rio de Janeiro. Doutora pelo Programa de Pós-Graduação da Escola de Belas Artes da UFRJ, Fernanda Lopes atua como Curadora Assistente do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. É organizadora, ao lado de Aristóteles A. Predebon, do livro Francisco Bittencourt: Arte-Dinamite (Tamanduá-Arte, 2016), e autora dos livros Área Experimental: Lugar, Espaço e Dimensão do Experimental na Arte Brasileira dos Anos 1970 (Bolsa de Estímulo à Produção Crítica, Minc/Funarte, 2012) e “Éramos o time do Rei” – A Experiência Rex (Prêmio de Artes Plásticas Marcantonio Vilaça, Funarte, 2006). Entre as curadorias que vem realizando desde 2008 está a Sala Especial do Grupo Rex na 29ª Bienal de São Paulo (2010). Em 2017 recebeu, ao lado de Fernando Cocchiarale, o Prêmio Maria Eugênia Franco da Associação Brasileira dos Críticos de Arte 2016 pela curadoria de exposição Em Polvorosa – Um panorama das coleções MAM-Rio.

 

De 12 de março a 11 de abril.

 

Josafá Neves e a Mitologia afro

10/mar

Exposição de Josafá Neves encontra-se em exibição no Museu Nacional da República, em Brasília, DF, trazendo reflexões sobre arte, religião e origens. Mostra inédita na capital do país, a exposição “Orixás” provoca o olhar do público em relação à História da Cultura Africana Brasileira, um convite para mergulhar na história do negro em nosso país, transformada em obra de arte através de esculturas, pinturas e instalações. O trabalho do artista transcende às últimas duas décadas e tem inspirado gerações, agregando grande valor à arte contemporânea. “Orixás: geometria, símbolos e cores” alude à última fase em que se encontra o trabalho do brasiliense Josafá Neves. Pesquisando a mitologia iorubana ele busca soluções estéticas, símbolos e cores pertinentes a cada um dos 16 orixás estudados à exercícios geométricos que permitam aproximações com uma dimensão simbólica. A curadoria da exposição é assinada por Marcus de Lontra Costa, crítico de arte e curador.

 

Segundo Nelson Inocêncio, professor de artes visuais da Universidade de Brasília, “…o trabalho de Josafá Neves nos remete às poéticas de outros artistas afro-brasileiros que produziram suas obras com base nas mitologias africanas”. Ele mesmo admite a influência de Rubem Valentim na elaboração de seus emblemas alusivos a várias divindades do panteão iorubano. A arte de Josafá não se restringe a este diálogo com o mestre, mas também se espraia, permitindo que estabeleçamos aproximações com as poéticas de outros de artistas como Emanoel Araújo, do mineiro Jorge dos Anjos e do carioca-brasiliense Olumello. Sua pintura tem como peculiaridade as pinceladas negras, as quais expressam com firmeza seus sentimentos em traços distintos. A prática da pintura para o artista é de um valor incontestável e efetivo. Preparando as telas de forma paternal e zelosa, peculiarmente pinceladas na cor preta, atinge as mais íntimas emoções dos expectadores em seus 24 anos de dedicação integral ao ofício das artes.

 

A palavra do curador

 

As obras produzidas por Josafá Neves para essa exposição revelam a potência de imagens desprezadas pelo discurso oficial. Aqui não há espaço para acomodações, discursos conciliatórios, não há a busca em criar uma falsa ideia de harmonia e integração social num país majoritariamente formado por mestiços, filhos do estupro de mulheres negras por parte do homem branco, afirma Marcus de Lontra Costa.

 

Sobre o artista

 

Artista autodidata nascido em Gama, Brasília – DF, em 1971. Josafá Neves começou a desenhar aos cinco anos de idade nas calçadas e ruas onde morava. Mudou-se para Goiânia com sua família aos sete anos e foi nesta cidade, desde 1996, que Josafá Neves passou a se dedicar integralmente às artes plásticas. Artista com trajetória e reconhecimento internacional, participou de diversas exposições individuais e coletivas, em Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Goiânia, Havana/Cuba, Caracas/Venezuela, Paris /França e USA.

Até 29 de março.