Um artista e sua coleção

09/mar

A Ricardo Camargo Galeria, Jardim Paulistano, São Paulo, SP, expõe a mostra “Coleção de um Artista” com 31 obras de 9 artistas – Alfredo Volpi, Amélia Toledo, Antonio Dias, Claudio Tozzi, Hércules Barsotti, Mira Schendel, Rubens Gerchman, Tuneu e Willys de Castro – datadas entre 1958 e 2008. O inovador marchand faz uma exposição Pop-Up, com duração de nove dias, resultado de um reencontro entre amigos com mais de cinco décadas de relacionamento estabelecido em bases sólidas e confiança. Ricardo Camargo e Tuneu se reencontram após um longo período o que só reavivou o relacionamento construído pela admiração e respeito mútuos e de ambos pela arte brasileira e seus artistas.

 

“Na Art-Art conheci Ricardo Camargo que começava sua própria carreira com o irmão. Passaram-se cinquenta e dois anos. Aqui estamos numa exposição da coleção de um artista (Eu). O conjunto de obras que foi possível por meu interesse e amizade com alguns artistas que mantive contato desde o final da década de 1960”, declara Tuneu.

No início da segunda década do milênio, Ricardo Camargo seleciona 29 obras da coleção pessoal de Tuneu, inéditas em quase sua totalidade, com exceção de um Volpi e um Barsotti já com participação em retrospectivas em museus, para a montagem afetuosa de uma exposição.

Trabalhos de Willys de Castro e Hércules Barsotti compõe grande parte da exposição e são artistas com quem Ricardo compartilhou almoços aos sábados no Restaurante Gigetto, onde ouviu, de fonte primária, opiniões, características e conceitos dos grandes mestres da arte brasileira contemporânea. Com sua visão experiente, Ricardo Camargo, juntou à essa seleção duas obras de autoria do próprio Tuneu, de uma pequena série não exibida até o momento.

“Estou lisonjeado por ele ter me dado essa oportunidade de apresentar um conjunto de obras significativas.”, define Ricardo Camargo.

“Acredito que o impacto que a obra de um artista gera em nós, artistas, é nossa afinidade estética e logo vem a pergunta: como fez isto? Nosso primeiro interesse é o diálogo com os colegas. Assim a coleção de um artista tenta manter consigo um diálogo em sua parede e, diariamente, estabelece laços muito particulares com este universo”, conclui Tuneu.

 

Sobre Ricardo Camargo

 

Ricardo Camargo começou sua trajetória aos 15 anos de idade, por intermédio de seu irmão, o marchand Ralph Camargo, com quem trabalhou na galeria Art-Art, que em São Paulo foi a pioneira no lançamento dos artistas da geração 1960. A partir daquele momento e ao longo dos 48 anos seguintes de sua carreira firmou parcerias e conheceu várias pessoas que se tornaram importantes para a arte brasileira, como Pietro Maria Bardi (Diretor do MASP por 45 anos), Volpi, Wesley Duke Lee e Flávio de Carvalho. Em meio a tantos anos de profissão se destacou o momento em que recebeu o convite para ser o curador de Anita Malfatti, Lygia Clark e Tarsila do Amaral na exposição “Latin American Women”, em março de 1995, organizada pelo Milwaukee Art Museum em Wisconsin, e que percorreu posteriormente os Museus de Phoenix, Arizona, Denver, Colorado, finalizando em Washington D.C., Estados Unidos. Um traço marcante de sua carreira é a diversidade de estilos, evidente nas mais de 90 exposições que realizou – de exposição de Arte Pré-Colombiana à Vanguarda Tropical, de obras modernistas às contemporâneas. Ricardo Camargo é hoje um dos poucos donos de galeria em São Paulo que atua no mercado de arte desde a década de 1960 e que continua ativo em sua Galeria, que, em 2020, comemora 25 anos de atividades profissionais. Dentre as características próprias da Ricardo Camargo Galeria está o ineditismo de suas exposições “Mercado de Arte”, que reúne a cada edição pelo menos 20 obras inéditas ou que estejam há mais de duas décadas fora do mercado e “Recortes de Coleções”, que capta e comercializa obras das coleções de colecionadores de arte.

 

Abertura: 18 de março, quarta-feira, às 19h.

Período: 19 a 27 de março.

 

Ivan Serpa no CCBB/Rio

05/mar

O Centro Cultural Banco do Brasil, Centro, Rio de Janeiro, RJ, inaugurou a exposição “Ivan Serpa: a expressão do concreto”, uma ampla retrospectiva de um dos mais importantes artistas da História da Arte Brasileira. Reunindo cerca de mais de 200 trabalhos, a mostra exibe diversas fases de suas obras que abrangem uma grande diversidade de tendências, utilizando várias técnicas, tornando-se uma referência para novos caminhos na arte visual no país. A exposição percorre a rica trajetória do artista, expoente do modernismo brasileiro através de obras de grande relevância selecionadas em diversos acervos públicos e privados.

Os curadores Marcus de Lontra Costa e de Hélio Márcio Dias Ferreira selecionaram uma ampla gama de trabalhos situados entre a figuração e o concretismo, além de desenhos e objetos.

Sobre o artista

Ivan Ferreira Serpa, Rio de Janeiro, RJ, 1923 – 1973. Pintor, gravador, desenhista. Artista plástico e professor. A partir de 1946 inicia seus estudos em arte com o gravador Axel Leskoschek e em 1947 expõe na divisão moderna do Salão Nacional de Belas Artes. No início da década de 1950, seu trabalho já se identifica com a abstração geométrica e sua participação na I Bienal Internacional de São Paulo, realizada em 1951, exibe essa tendência e recebe o Prêmio Jovem Pintor Nacional. A partir de 1952 passa a dedicar-se também a atividades didáticas em cursos de pintura realizados no Museu de Arte Moderna. Em 1953 participa da I Exposição Nacional de Arte Abstrata realizada na cidade de Petrópolis, RJ. No ano seguinte, juntamente com outros artistas, cria o Grupo Frente, assumindo sua liderança. Participa em 1957 da I Exposição Nacional de Arte Concreta no Rio de Janeiro, quando recebe o Prêmio de Viagem ao Exterior do Salão Nacional de Arte Moderna. Viveu na Europa entre os anos de 1958 e 1959, quando volta ao Brasil e participa, no Rio de Janeiro, da I Exposição de Arte Neoconcreta. No início dos anos 1960 realiza algumas experiências no campo da figuração, entre as quais a “Fase negra”, de tendência expressionista, que se desenvolve num momento de crise política, que culmina com o golpe militar de março de 1964. A partir de 1965 retorna o Abstracionismo geométrico, introduzindo elementos ligados à sensualidade das formas. Participou das mais importantes exposições ocorridas ao longo da década de 1960 como “Opinião 65”, “Opinião 66” e “Nova Objetividade Brasileira”. Nas décadas de 1960 e no início de 1970 desenvolve trabalhos com Lygia Pape, Antonio Manuel e Dionísio del Santo. Recebeu diversos prêmios no Brasil e participou de diversas edições da Bienal de São Paulo, além da Bienal de Veneza, em 1952,1954, 1962, e Zurique, 1960, onde recebeu premiação. O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro realizou algumas retrospectivas de sua obra nos anos 1965, 1971 e 1974.

 

Acontece no MAR

18/fev

O Museu de Arte do Rio, MAR, Centro, Rio de Janeiro, RJ, conquistou, – em seis anos de existência -, um lugar ímpar na programação cultural carioca.

 

O Rio dos Navegantes

 

A exposição faz uma abordagem transversal da história do Rio de Janeiro como cidade portuária, apresentando as diversas vozes dos povos que desde o século XVI passaram, aportaram e aqui viveram. A mostra apresenta cerca de 550 obras de artista como Ailton Krenak, Antonio Dias, Arjan Martins, Carybé, Floriano Romano, Guignard, Kurt Klagsbrunn, Rosana Paulino e Virginia de Medeiros. Evandro Salles é o idealizador e curador e Francisco Carlos Teixeira, o consultor histórico. Também assinam a curadoria e a pesquisa Fernanda Terra, Marcelo Campos e Pollyana Quintella.

Até março de 2020

 

Pardo é Papel

 

A individual do artista Maxwell Alexandre reafirma a vocação que o Museu de Arte do Rio conquistou em seis anos de existência: enfrentar o espelho, se reconhecer, escutar, afirmar o que interessa e prosseguir. Aos 29 anos, o jovem carioca retrata em sua obra uma poética urbana que passa pela construção de narrativas e cenas estruturadas a partir de sua vivência cotidiana pela cidade e na Rocinha, onde nasceu, trabalha e reside. Com obras no acervo do MAR, Pinacoteca de São Paulo, MASP, MAM-RJ e Perez Museu, Maxwell apresenta “Pardo é Papel” no Brasil após levar sua primeira exposição ao Museu de Arte Contemporânea de Lyon, na França.
Até maio de 2020

 

UÓHOL, de RAFAEL BQUEER

 

Interessado em questões que perpassam o corpo e as discussões de decolonialidade, gênero e sexualidade, o jovem artista transita entre linguagens como a performance, o vídeo e a fotografia. A mostra, em cartaz na Biblioteca MAR, joga com o sobrenome do ícone pop norte-americano Andy Warhol (1928-1987) e o termo “Uó” – gíria queer e popular para designar algo ou alguém irritante ou de mau gosto.
Até abril de 2020.

Cine Desejo

10/fev

O Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, Praça Tiradentes, Cenro, Rio de Janeiro, RJ, inaugura no próximo dia 15 de fevereiro, às 12h, a exposição “Cine Desejo”, com obras da artista Caroline Valansi que investigam o universo iconográfico da indústria do cinema pornô e a relação do corpo feminino com o sexo. Com curadoria de Pollyana Quintella, a mostra ocupará todo o andar térreo da instituição. Dentre as obras inéditas, estão algumas sendo criadas pela artista especialmente para a exposição. Alguns trabalhos emblemáticos desta pesquisa iniciada em 2015 também serão mostrados. Em exibição até o dia 28 de março.

 

“Cine Desejo” é uma antologia do interesse de Caroline Valansi sobre os cinemas de rua que passaram a exibir filmes pornôs. A subjetividade construída pelas imagens do cinema, que moldaram a imaginação sexual de várias gerações, e ainda o desdobramento desse universo do ponto de vista feminino, integram também sua investigação. As obras reunidas são intervenções da artista em cartazes históricos, cartografias, fotografias, letreiros, LEDs, colagens e serigrafias. “Cine Desejo” também discute o cinema como espaço de subversão, onde o “escurinho” é situação propícia para “namoricos e intimidades não autorizadas”. Com humor e ironia, a artista constrói espécies de contraimagens para o olhar masculino, também buscando “desierarquizar” o desejo a partir de uma perspectiva feminina e pós-pornô, onde as fronteiras estão esgarçadas.

 

Sobre a artista

 

Caroline Valansi nasceu em 1979 no Rio de Janeiro, RJ, é artista visual, professora e também trabalha com saúde mental na Casa Jangada. Graduada em Cinema na Universidade Estácio de Sá, com pós-graduação em Artes e Filosofia pela PUC-Rio. Completou seus estudos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e Ateliê da Imagem. Sua produção artística transita entre a palavra, o espaço e a ficção. Suas obras sempre foram enraizadas em seu forte interesse em traços coletivos e histórias íntimas. Caroline utiliza materiais familiares em sua pesquisa: fotos de salas de cinemas, velhos filmes pornográficos, imagens encontradas da internet e suas próprias fotografias e desenhos e, juntos, somam uma ampla exploração de representações da sexualidade feminina contemporânea.

 

Entre suas exposições individuais se destacam: “Corpo Cinético” (CCSP – Centro Cultural São Paulo, SP, 2019), “Carne Viva” (Espaço Subsolo, Campinas, SP 2019) e Memórias Inventadas em Costuras Simples (CCJE – Centro Cultural Justiça Eleitoral, RJ, 2009). Participou de exposições coletivas no Brasil, Cuba, Portugal, França, Colômbia e Argentina. Tem duas publicações lançadas: Sempre um bom Filme e o álbum de figurinhas Boa Para ambos de 2015. Organizou os eventos {|}XANADONA{|} (2016, A Galeria Gentil Carioca) e Feminismo e Feijoada (2015, CAPACETE). Faz parte da Cooperativa de Mulheres Artistas e participou do coletivo OPAVIVARÁ! de 2007 a 2014. Caroline Valansi tem obras em importantes coleções públicas e privadas, como a Biblioteca do Instituto Moreira Salles, em São Paulo; Gilberto Chateaubriand / MAM Rio, Museu de Arte do Rio (MAR), Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro; Museu Nacional de Brasília; Bienal de La Havana; Hillel Brasil, no Rio de Janeiro; Mr. and Mrs. Richard Sandor, Chicago, EUA; e Mr. and. Mrs. Simon Biddle, Londres.

Sobreposições cromáticas de Tiago Tebet

03/fev

Em sua quarta exposição individual na Galeria Luciana Brito, Bela Vista, São Paulo, SP, Tiago Tebet apresenta “From Here to Eternity…But Not”.

 

Texto de Gabriel Lima

 

“…uma série marcante de quinze telas, cada uma delas caracterizada por variações de padrões atraentes, ressonantes, que se desenvolvem através de superfícies cromáticas delicadamente sobrepostas. Os arranjos visuais aqui ultrapassam seus limites próprios de tal forma que podemos dizer que estas obras têm como intenção irradiar suas formas particulares através da interação entre experiência sensorial e percepção significante. A configuração de relações resultante recria o efeito de uma espécie de emissão– caracterizada como simultaneamente uníssona e dissonante, que alude à qualidade totalizante desta outra fonte primária da experiência sensorial: o som em todas as suas modalidades– audível, inaudível, musical. Nestas pinturas, os pulsantes motivos visuais remetem tanto à ornamentação e decoração artesanal como à representação ondulante da vibração acústica. A questão da expressão artesanal é tema persistente na obra do artista, mas nunca se manifestou tão intimamente relacionada a um correlativo externo. Esta confluência leva o espectador a estabelecer uma rede de relações entre a logística interna que atribuímos à pintura com a logística externa do nosso entorno perceptível. A combinação de estratégias na pintura de Tebet expande a intersecção entre a experiência representada e a experiência vivida. Em nosso contexto latino americano, o artesanal raramente se dá como uma espécie de recurso excêntrico, ele é de fato fértil em associações e co-extensivo com as dimensões temporais múltiplas de nossa topografia cultural e da nossa experiência. No entrelaçar de cores, superfícies e formas nestes trabalhos nos defrontamos com o paradoxo de um impacto perceptual imediato construído por meio da experiência de duplicação e justaposição temporal de motivos ou padrões: a junção das dimensões permanentes e efêmeras ou transitivas da forma e da visão como uma metáfora de nossa própria condição enquanto criaturas do tempo e do significado, ambos, tempo e significado, ao mesmo tempo limitados e ilimitados. O titulo da exposição remete a uma frase inscrita na obra Spaghettivollmond (1984) do artista alemão Martin Kippenberger. Nesta pintura, braços estendidos para o alto evocam a concepção de rendição e principalmente expiação, ou o desejo de transcendência do mundano, isto é, a fuga improvável da história tal qual expressa na citação “From Here to Eternity but Not”. As sinuosas linhas de espaguete da obra de Kippenberger, dispostas na forma nuclear de uma lua cheia (vollmond), reverberam de modo manifesto junto aos padrões ou motivos visuais das obras do artista brasileiro. Além de suas evidentes diferenças formais e contextuais, uma mesma temática poética ou conceito central inclui os dois artistas: a relação entre a percepção e a elaboração da experiência do tempo, isto é, da razoavelmente explícita e efetiva imbricação e reverberação do tempo histórico, condição de possibilidade dos significados culturais, e a procura pela disseminação ou libertação no tempo. Tiago Tebet redimensiona esta relação e a distribui pelo espaço expositivo. Cada tela nos apresenta os componentes de uma possível experiência sinestésica, o encontro material e perceptivo dos sentidos que alude à transmissão de uma desejada e impossível libertação do tempo no interior do próprio tempo.”

 

De 01 de fevereiro a 03 de março.

 

29 artistas na Luciana Caravello

29/jan

Luciana Caravello Arte Contemporânea, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, apresenta até 20 de fevereiro, a exposição “Artistas GLC”, que reúne cerca de 50 obras, recentes e inéditas, dos 29 artistas representados pela galeria: Adrianna Eu, Afonso Tostes, Alan Fontes, Alexandre Mazza, Alexandre Serqueira, Almandrade, Armando Queiroz, Bruno Miguel, Daniel Escobar, Daniel Lannes, Delson Uchôa, Eduardo Kac, Élle de Bernardini, Fernando Lindote, Gê Orthof, Gisele Camargo, Güler Ates, Igor Vidor, Ivan Grilo, Jeanete Musatti, João Louro, Lucas Simões, Marcelo Macedo, Marcelo Solá, Marina Camargo, Nazareno, Pedro Varela, Ricardo Villa e Sergio Allevato.

 

A exposição reúne trabalhos em diversos suportes, como pintura, colagem, desenho, fotografia, vídeo, escultura e instalação. Muitas obras são inéditas e estão sendo apresentadas pela primeira vez na mostra, como é o caso da pintura “Sundae Ilusões”, de Daniel Lannes, que, de acordo com o artista, mostra que “o amor colado às costas da musa garante ou não a ilusão da promessa afetiva”.

 

Outras obras nunca vista antes são “Todos os nossos desejos”, de Daniel Escobar, uma série de colagens onde confetes recortados de cartazes publicitários proporcionam uma paisagem pictórica de ilusórios fogos de artificio, e uma nova obra da série “Pseudônimo”, de Bruno Miguel, uma pintura onde o artista questiona os dogmas da linguagem a partir da substituição dos elementos tradicionais e históricos da pintura por processos, materiais e ferramentas de um mundo pós-industrializado, globalizado e conectado.

 

Evandro Carneiro apresenta

21/jan

 

A Galeria Evandro Carneiro Arte, Gávea, Shopping Gávea Trade Center, lojas 108 e 109, apresenta de 25 de janeiro a 29 de fevereiro de 2020 a Exposição Helenice Dornelles e Ronaldo Miranda. A mostra reúne cerca de 40 obras, entre telas grandes e trabalhos menores de ambos os artistas.

 

Texto de Laura Olivieri Carneiro

 

Helenice Dornelles nasceu em Santa Maria, RS, em 1959. Cursou Educação Artística, Artes Plásticas e Comunicação Visual na Universidade Federal desta cidade, mas mudou-se pouco tempo depois para Belo Horizonte, em função de seu gosto por Minas Gerais e embalada pelos Festivais de Inverno de Ouro Preto. Desde sempre posava de modelo para pintores, o que continuou fazendo na Escola Guignard, abrindo-lhe uma série de contatos com artistas que ali estudavam e desenvolviam trabalhos. Foram anos de muitos aprendizados e de concretizações, na medida em que expôs em alguns salões, tendo como ápice desta fase a participação no Salão da Pampulha (1985), onde uma visita de Claudio Valério Teixeira e Carlos Roberto Maciel Levy redefiniu os caminhos da artista, trazendo-a para o Rio de Janeiro. Primeiramente, a dupla indicou uma obra sua para o acervo do Museu Nacional de Belas Artes, em 1986. Em seguida, ela chegou na cidade maravilhosa, mas preferiu instalar-se em Niterói, entre outros motivos, devido à amizade que estabeleceu com Claudio Valério, Tânia e o círculo de amigos que frequentavam o ateliê do artista, restaurador e professor.

 

Helenice, desde criança, é inquieta e criativa, bordava, desenhava, fazia bonecas de crochê, roupinhas e etc. (entrevista oral com a artista, 2019). Este talento a levou também para rotas de interseção com a publicidade e a moda. Foi então residir em Nova York, trabalhando no escritório do designer brasileiro Carlos Falchi, cuja inserção na moda glamourosa daquela metrópole fazia enorme sucesso. Foram 14 anos criando coleções de bolsas, gravatas, lenços e roupas com tecidos pintados à mão pela artista. Os estilistas da empresa espantavam-se com a rapidez e a inventividade de suas criações. Esta estamparia encontra-se presente em seu trabalho pictórico. Quase sempre vemos manequ ins e tecidos expressivamente coloridos em seus quadros. O tema segue corriqueiro até hoje, conforme nos conta a crítica Maria Elizabete Santos Peixoto (catálogo da exposição individual da artista na Galeria Multiarte, Fortaleza, 1989):
“O universo temático de sua pintura é a casa, o interior e todo o clima subjetivo e solitário implícito neste ambiente intimista por excelência. E dos elementos mais singelos que compõem este cenário peculiar, a artista obtém, através de seu talento, vasta e rica transfiguração de seu cotidiano. São bules, plantas, panos, latas de tinta, roupas, entre outros elementos e objetos que, a cada tela, sob cada diferente ângulo ou perspectiva, adquirem múltiplas conotações.”

 

Não é preciso dizer mais nada, a não ser que durante a sua estada em Nova York, a artista expôs em galerias de Manhattan, India e Japão.

 

Vinte anos antes de Helenice, em 1939, Niterói, RJ, nascia o pintor Ronaldo Miranda. Quando criança “estava sempre com os olhos pregados na paisagem vista de Icaraí”, me contou em entrevista oral, 2019. As cores e o horizonte o fascinavam. Talvez já fosse pintor, mas não experimentava esse talento ainda. Queria ser cientista e bem jovenzinho foi trabalhar no laboratório químico Vital Brasil. Ali, as cores o encantavam mais do que tudo e seus experimentos giravam entorno da apreciação cromática. Igualmente se interessava pela humanidade porque sabia que “somente a subjetividade purificava a cor” (entrevista oral, 2019). Assim, cursou psicologia e trabalhou com atendimento clínico a vida inteira. Paralelamente, tornou -se um excelente pintor autodidata, desde 1964, quando aflorou a sua “pulsão artística”, conforme me disse, e alugou um ateliê à beira mar, em Icaraí. Pintava contemplativo da janela o mar batendo na praia, o horizonte, sempre tão presente no seu trabalho. Fazia pequenos quadros, desenhados primeiramente a carvão, o céu alaranjado, o mar azul… Depois pintou as naturezas mortas, em que reinava a melancia, mas também bules e frutas organizados sobre mesas ou janelas com vistas para o mar. Então vieram as paisagens observadas do ateliê. E a primeira exposição, na Galeria Angelus, Belém do Pará (1968). Logo em seguida ganhou o prêmio do Salão do Mar (1971), entre outros marcos de sua rica carreira artística. Decidiu viajar pelo Brasil, sobretudo Nordeste, sempre notando o colorido das paisagens. Expôs em São Paulo, Brasília e na Petite Galerie, no Rio de Janeiro, agradando os críticos do naipe de Walmir Ayala. Até que em 1974 houve o que ele considera um marco em sua trajetória: ter exposto no Museu Nacional de Belas Artes, ainda jovem e na casa que era cânone na pintura brasileira. Até hoje repetiu duas vezes o mérito de expor neste museu.

 

Para Abelardo Zaluar (1983), “Suavidade e leveza, Claridade e clareza, Tranquilidade e quietude. Simplicidade e síntese” caracterizam a obra de Ronaldo Miranda. Nas palavras do próprio artista isso se traduz em minimalismo, naturalidade e prazer, porque não há sofrimento em pintar, contou-me. Sem dúvida, notam-se placidez e sabedoria por meio de formas e cores observadas em contemplação. Sua pintura é quase meditativa.

 

Hoje com 80 anos, Ronaldo segue uma rotina ativa de produzir em seu ateliê, em Santa Teresa, bairro bucólico e atemporal no Rio de Janeiro. Fica lá com seu gato Jorge. Enquanto Helenice produz na féerica Copacabana, também rodeadas de felinos.
Nesse ponto os dois artistas se aproximam. Ronaldo e Helenice têm em comum uma certa solitude para pintar que transparece na pintura de ambos que quase não possui a figura humana. Embora com cenários e paisagens bem diferentes, as cores se expressam fortemente, mas organizadas de maneiras distintas: ele de forma plácida, ela de maneira inquieta. Ao conhecer a história de vida dos dois, vemos que seus trabalhos têm a ver com as características pessoais de cada um. Mas o que os une, além de Niterói e o gosto por felinos, é certamente a qualidade artística, notada por Evandro Carneiro que organizou esta exposição.
Laura Olivieri Carneiro
Janeiro 2020.

 

 

Júlio Paraty no MNBA

17/jan

Com uma representativa seleção de 40 trabalhos (em acrílico sobre tela e guache) dentre as mais de 3.000 obras produzidas em cinquenta anos de carreira, o Museu Nacional de Belas Artes/Ibram exibe – entre 21 de janeiro e 21 de março de 2020 – nas Salas Clarival Valadares e Ubi Bava, Cinelândia, Rio de Janeiro, RJ, a exposição “O mundo paradisíaco de Júlio Paraty”.

 

Dono de uma robusta carreira artística, com inúmeras individuais, e sendo um dos mais importantes artistas da histórica e colonial cidade fluminense de Paraty, o pintor popular Júlio Paraty é agora homenageado num momento muito oportuno pois recentemente sua cidade foi reconhecida como Patrimônio Mundial pela UNESCO.

 

Na exuberância de suas cores e rigor de sua composição, a obra de Júlio desde sempre teve como inspiração e temas o patrimônio cultural de sua Paraty natal: suas tradições, as festas religiosas, os modos de viver, as brincadeiras, a pesca e os barcos, os personagens, santos e bandeiras da localidade em meio a luxuriante natureza.

 

Para o curador da mostra “O mundo paradisíaco de Júlio Paraty”, o cineasta Luis Carlos Lacerda, o Bigode, “…esta retrospectiva nos permitirá acompanhar a evolução de seu percurso, dos primeiros trabalhos onde a presença de blocos compactos forma a narrativa da tela, ao povoamento riquíssimo de seus espaços por uma multidão de personagens coadjuvantes, ações paralelas ao tema principal, pequenas telas dentro daquilo que retrata, numa inquietação que habita o mundo e o atelier dos grandes artistas”.

 

Em sua longa trajetória, Júlio realizou cerca de trinta exposições individuais, a primeira em 1971, em São Paulo, no Antiquário Chafariz e ainda na capital paulista ele expôs também em 1984, no Centro Cultural São Paulo, e no Rio de Janeiro, na Funarte, em 1979 e 1981. Participou de exposições internacionais coletivas, em 1980 – Naifes Internacionais – na Galeria do Bonfim de Amsterdam e na Galeria do Bonfim de Bonn, Alemanha.

 

Conjugado à exposição haverá também a exibição permanente do filme que faz parte da série “Atelier do Artista”, com fotografia de Alisson Prodlik e direção de Luiz Carlos Lacerda, curador da exposição.

 

A mostra “O mundo paradisíaco de Júlio Paraty” conta com o apoio da Secretaria de Cultura de Paraty.

 

Floresta negra na Paulo Darzé

13/jan

A Paulo Darzé Galeria, Rua Chrysippo de Aguiar 8, Corredor da Vitória, Salvador, Bahia, abre sua programação 2020, no dia 30 de janeiro, das 19 às 22 horas, com a exposição do artista baiano Anderson Santos, tendo por título “Floresta negra”, com curadoria do professor Danillo Barata, permanecendo em temporada até o dia 19 de fevereiro.

 

Texto do curador

 

A singularidade dessa mostra está estruturada em um processo sensível de como as técnicas de pintura tradicional são renovadas no encontro com as novas mídias. Os aspectos conceituais abordados remetem à instauração de uma problemática cada vez mais constante na contemporaneidade que diz respeito ao fluxo de imagens, sua fruição e a cultura remix. É, segundo o filósofo Philippe Dubois, na incrustação – textura vazada e na espessura da imagem – que, de certa maneira, os espaços de produção da imagem são reorientados.

 

Anderson Santos se irmana a uma nova tendência de autores que ao utilizar o digital como dissolução da imagem tem como imperativo conhecê-la para finalmente desintegrá-la. Essa transição poética da pintura a óleo para o digital não passa por um aperfeiçoamento, mas sim por uma licença que permite ao artista se reautorizar como pintor, pois isola a pintura para desfigurá-la, sem hierarquia ou convenção de gosto. Desse modo, compreende uma visão mais polissêmica do que entendemos como pintura contemporânea. Cria ao modo do que preconiza Gilles Deleuze em “A lógica da sensação”, para tratar das obras de Francis Bacon, uma fuga em direção a uma forma pura, por abstração; ou em direção a um puro figural, por extração ou isolamento, obtido numa equação de tentativa e erro, própria do fazer artístico.

 

“Floresta Negra” é um divisor de águas na poética de Anderson. Nela, ele amadurece, se encontra com sua família e seus filhos nos contos e fábulas dos irmãos Grimm, envolto na dualidade, no obscuro e o sombrio. Se no passado sua pintura tentava neutralizar a narração e a figuração, nesse momento as micronarrativas invadem o seu cotidiano traçando novas visões de futuro ou de afro futurismo.

 

A exposição pelo artista

 

Tenho dois filhos, um de um ano e outro de quatro, quase cinco anos. Quando do preparo para esta exposição e tendo o costume de contar histórias para eles dormirem, um dia me dei conta que quase todas as histórias infantis se passam em florestas, selvas, ou lugares com uma densa vegetação. Comecei então a relacionar esta descoberta, do protagonismo da floresta como lugar onde surgem as histórias, com o momento de agora, dessa era antropocênica que vivemos e do obscurantismo político mundial, e em particular, com o cenário local.

 

Quando voltei da Itália no início de 2019, encontrei Salvador em luto, parecia pra mim que uma noite negra tinha encoberto a cidade, os amigos ansiosos, com muito medo do que estava por vir, e, para culminar, no fim de abril perdi minha irmã. Como sou um otimista e tenho dois filhos pra brincar, descobri com eles que de dentro do escuro podem surgir monstros, lobos ferozes, mas também tapetes mágicos, cavalos alados e outras histórias. E que é por isso que a floresta é negra, não ousamos conhecê-la de verdade e nem podemos, porque ela é território da nossa imaginação…

 

E se hoje muitos ouvidos se voltam para as vozes que vem de dentro do escuro das florestas do mundo, tentando criar novos tipos de relação com os saberes dos povos que de alguma maneira ao longo dos séculos cultivaram um modo de viver diverso do modelo em que vivemos, é porque parece que o modelo vigente está afundando, como a cidade de Veneza.

 

Muitos acreditam que a cura para todo o mal dessa era, milagrosamente surgirá de dentro do escuro da floresta, ou dos laboratórios do vale do Silício, o grande problema que se apresenta é que “não tem pra trás”. Nós não existiremos para toda a eternidade, mas o planeta continuará sem nós, apesar do nosso rastro. Se não dá pra voltar e consertar o que fizemos, o que nos resta é imaginar Wakandas dentro do escuro da floresta, lá onde o Google Earth não alcança, e onde utopicamente as novas tecnologias e os saberes tradicionais se encontram e produzem maravilhas.

 

Esta exposição integra meu mestrado na Escola de Belas Artes da UFBa, e trata do encontro da pintura a óleo com o digital. Entendo que o uso por pintores de tablets e smartphones para a prática da pintura digital está transformando a maneira como a pintura de cavalete é pensada e realizada. O meu objetivo com essa exposição é criar um espaço de encontro onde a pintura, a realidade aumentada e o vídeo convivam sem atritos, nem choques. E que pessoas de todas as idades se divirtam olhando através dos seus smartphones as coisas estranhas que encontrei na floresta que imagino. Para isso construí junto com a startup Ripensarte, um aplicativo para que as pessoas possam acessar ao conteúdo em realidade aumentada contido em várias imagens ao longo da mostra. O app se chama Eosliber e já está disponível gratuitamente para quem quiser baixar nas lojas IOS e Android, mas a experiência de visualização só se dará, estando diante das obras que serão expostas.

 

Sobre o artista

 

Anderson Santos nasceu em Salvador, Bahia, 1973, É pintor, trabalhando principalmente com o óleo sobre tela, cartão, madeira, e desenhista, utilizando o grafite ou o carvão sobre papel, e destes dois caminhos desenvolvendo pintura e desenho digital no iPad, adaptando a técnica tradicional para esta nova realidade digital, com isto realizando experimentos em vídeo, cartazes e storyboards para cinema. Graduado em Artes Plásticas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), expôs nas principais capitais brasileiras. Participou na Itália da Expoarte em Milão, em ocasião da Expo 2015 e da Esposizione Triennale delle Arti Visive em Roma. Possui obras em coleções particulares e fundações no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos. Entre suas atuações se destaca a de professor, ministrando oficinas de pintura digital com tablet é voltada àqueles que desejam aprender a desenhar e pintar com os novos aplicativos que simulam a pintura tradicional para IPad e tabletes, com foco no aplicativo artrage disponível para os sistemas operacionais iOS e Android. Anderson foi um dos membros do coletivo internacional responsável pela publicação da revista online Boardilla, na qual se ocupava da editoração gráfica e curadoria, além de produzir e dirigir artisticamente as exposições de artes visuais da revista. Atualmente é Diretor Artístico de Ripensarte e um dos responsáveis pela publicação da revista online Magazzino. Divide seu atelier entre Salvador e Milão.