Duo na Kogan Amaro

08/jan

A galeria Kogan Amaro, Jardim Paulista, São Paulo, SP, exibe de 13 de janeiro a 08 de fevereiro a exposição “Tangerina Bruno: Estados Cotidianos, dos irmãos gêmeos Cirillo e Leticia Tangerina Bruno.

 

Tangerina Bruno: Estados cotidianos

 

Na obra mais traduzida de Sigmund Freud, Sobre a Psicopatologia da Vida Cotidiana, o psicanalista debate como o inconsciente se expressa na nossa rotina por meio de sentimentos comuns, como medo, desconforto, surpresa e atenção. Seu desejo é demonstrar que a psicanálise não se limita ao estudo da anormalidade, mas se dedica a descrever e compreender a mente humana e a transformação que vivenciamos fisicamente mesmo por meio daquilo que apenas sentimos. Nas pinturas do duo Tangerina Bruno, situações rotineiras, enquadradas de forma precisa como frames de uma produção cinematográfica, evidenciam esses sentimentos vulgares, mas que nem por isso são menos relevantes no entendimento da psique humana.

 

A captura desses instantes pelos irmãos gêmeos Cirillo e Leticia Tangerina Bruno, de 26 anos, retratam o momento de ação da figura que habita a tela. Estão congeladas, sim, mas também em movimento. Passam roupa, gritam em cima de uma cadeira, tomam banho, costuram. É possível receber as vibrações dos gestos dos personagens não só pelo que a cena nos induz, mas também ao nos debruçarmos nas micronarrativas que acontecem em detalhes da tela, pintadas em uma colcha de cama desarrumada ou num móvel que compõem a sala. As situações realistas retratadas em cores vibrantes nos remetem diretamente às pinturas de David Hockney, Alex Katz, Alfred Leslie ou até Edward Hopper. Tais cenas ganham seus epílogos em títulos certeiros, que brincam com provérbios populares, insinuando certo humor e ironia ao reconhecermos (e também desdenharmos) as emoções expostas ali.

 

Cada obra recebe meses ou até ano das mentes e punhos da dupla nascida em Porto Ferreira, interior de São Paulo. Debruçados ora simultaneamente ora alternados na tela, fortalecem sua própria história em uma mistura inebriante de funções e talentos. Se Leticia traz nas mãos a precisão do hiperrealismo em retratos e autorretratos dos próprios irmãos, Cirillo trabalha a estamparia da produção, que reverberam e atestam as ideias centrais das obras. A empreitada exige as quatro mãos e as duas mentes dos artistas que se transformam em um terceiro elemento, vivo, dono de novas ideias, que produz, pinta e reconta as experiências vividas pela dupla.

 

Ana Carolina Ralston

Curadora

 

 

 

 

Antonio Bandeira no MAM/SP

06/jan

Com visitação até 01 de março de 2020, o Museu de Arte Moderna de São Paulo, Parque Ibirapuera, Portões 1 e 3, exibe retrospectiva de Antonio Bandeira com curadoria assinada por Regina Teixeira de Barros e Giancarlo Hannud.

 

Sobre a mostra e o artista

 

Nascido em Fortaleza no dia 26 de maio de 1922, Antonio Bandeira logrou trilhar um caminho incomum no âmbito da arte brasileira. Artista independente em meio às influências locais de seu tempo – mesmo que extremamente ativo em seu ambiente social – não foi em busca dos regionalismos estilísticos e geográficos que por vezes alimentaram artistas de sua geração. Permaneceu à margem de escolas e estilos, jamais emprestando seu nome às declarações de fé estética tão em voga naquele momento.

 

Exigente e metódico, definido por seus pares como artista sério, lacônico e de uma “casmurrice monacal”, trabalhou diligentemente durante toda a vida, legando-nos uma produção surpreendente não só pela qualidade e sensibilidade, mas também pelo volume. Para além disso, dedicou especial atenção à sua própria persona, ao alimentar mitos e narrativas acerca de sua biografia e cultivar sua imagem, criando assim um personagem que muitas vezes suscitou tanto interesse quanto sua obra.

 

Traços, cores, tramas, manchas e respingos aparentemente abstratos efetivamente estampam, nas palavras do artista, “paisagens, marinhas, árvores, portos marítimos, cidades, enfim, apontamentos de viagem. Parto do realismo e, depois, vou aparando a ramaria até chegar ao ponto que minha sensibilidade exige. […] A natureza foi e será, sempre, o meu celeiro”. Esse compromisso alegre com a vida pautou sua aproximação e assimilação da linguagem internacional da arte abstrata. Como resumiria Ferreira Gullar, Bandeira “valeu-se das possibilidades da nova linguagem para expressar sua relação amorosa com a realidade que vivia e a realidade que vivera”.

 

A presente mostra reúne um conjunto de cerca de 70 obras – telas, guaches e aquarelas -, abarcando diferentes momentos de sua produção artística, das primeiras pinturas figurativas às grandes telas de densas tramas e gotejamentos dos últimos anos, e tem sua gênese na mostra “Antonio Bandeira: um abstracionista amigo da vida”, realizada no Espaço Cultural Unifor, Fortaleza, de agosto a dezembro de 2017.

 

Regina Teixeira de Barros e Giancarlo Hannud
Curadores

 

Na Anita Schwartz

19/dez

Termina no próximo dia 06 de janeiro de 2020 a exposição “Sobre como as coisas caem”, com mais de 20 obras inéditas da artista Daisy Xavier, que ocupam todos os espaços expositivos da Anita Schwartz Galeria de Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ. Com curadoria de Ulisses Carrilho, as obras que integram esta que é a maior individual da artista na galeria são pinturas em grande formato, em pó de ferrugem, folha e fios de latão, ácido, petróleo e ecoline sobre tela, desenhos com diversos materiais (muitas vezes os mesmos usados nas pinturas), monotipias, e 100 esculturas em metal, articuladas, que junto com uma casa de vespa formam uma grande instalação que leva o nome da exposição.

 

Galeria do Lago, no Museu da República

13/dez

No dia 14 de dezembro, a Galeria do Lago, no Museu da República, Catete, Rio de Janeiro, RJ, inaugura a exposição “Jardim do Éden”, da artista Patrizia D’Angello, com curadoria de Isabel Portella. A exposição apresenta 25 pinturas recentes e inéditas e o conceito foi pensado a partir dos muitos banquetes realizados no Palácio do Catete, sede do Governo Federal entre 1896 e 1960 e que hoje abriga o Museu da República

 

“Numa narrativa bem humorada, mas repleta de sutis paralelos, a artista se debruça sobre os grandes temas da pintura figurativa, o retrato, a paisagem e a natureza morta. Em seus trabalhos, Patrizia procura discutir os limites do real, da mímesis e as implicações no mundo contemporâneo”, afirma a curadora Isabel Portella.

 

Para realizar a exposição, a artista mergulhou no acervo do Museu, em documentos relacionados ao tema, como uma bela coleção de convites e menus das muitas recepções ocorridas ali, bem como fotos, vasos, pratarias, sancas e mobiliário pertencentes ao Palácio do Catete, que aparecem nas obras mesclados a seu repertório poético.

 

De família italiana, Patrizia D’Angello cresceu rodeada por encontros em volta da mesa, com comida farta. Para ela, “comer junto é uma maneira de se compartilhar afeto”. Desta forma, seu trabalho sempre esteve atravessado pela comida, que, em suas naturezas mortas, ganham outras camadas de sentido. Movida por um humor dionisíaco e tendo como norte a Pop Art e a Tropicália, os trabalhos de Patrizia D’Angello estão sempre reverberando questões do feminino/feminismo. Em uma operação ambivalente de afirmação e crítica, a artista desloca sentidos e, com humor, joga luz sobre a pretensa “normalidade” do patriarcado e suas práticas predatórias. “A abordagem desse espaço tão representativo do poder, do patriarcado, da ordem vigente, se dá através do campo relegado desde sempre ao domínio das mulheres, a cozinha, a mesa, a decoração, o enfeite, o bordado, o doce, o belo… Um universo, segundo essa lógica dominante, menor, secundário, fútil e frívolo, por isso mesmo entregue de bom grado às mãos que vieram pra servir”, ressalta a artista.

 

A grande pintura “Jardim do Éden”, que dá nome à exposição, retrata um piquenique realizado sobre uma canga com a imagem da famosa pintura do renascimento, “O nascimento da Vênus”, de Sandro Botticelli (Itália, 1445 – 1510). “Também queria falar da área externa do museu, do lindo parque e dos convescotes que ali aconteceram no passado de forma reservada e que seguem acontecendo hoje com o espaço convertido em museu, de forma pública e democrática”, explica a artista, que em suas pesquisas encontrou imagens da família de Pereira Passos (1836-1913), prefeito do então Distrito Federal entre 1902 e 1906, nos jardins do Palácio do Catete.

 

A imagem da Vênus de Botticelli, uma das tantas idealizações da mulher presentes na História da Arte, serve de leito para um piquenique, onde, junto ao seu peito, repousa uma faca e sobre seu corpo é servida a comida. O trabalho se chama “Jardim do Éden” e, a um só tempo, a artista relaciona a idealização, a objetificação, a exploração e toda uma narrativa milenar escrita por homens sobre o que foi e qual deve ser o papel da mulher.

 

O pensamento crítico aparece sempre de forma sutil, quando a sobreposição do título à imagem produz um ruído desconsertante. “O título dos trabalhos é parte indissociável da obra, pois é através do deslocamento de sentido engendradado nessa operação de nomear que desenvolvo a narrativa que me interessa explorar”, conta Patrizia D’Angello. Muitas vezes, os nomes das obras remetem a questões que não estão retratadas diretamente na pintura. Um exemplo disso é a obra “Canavial”, com a imagem de um açucareiro de prata. A figura bonita, que remete à riqueza, é quebrada com a lembrança do título, que imediatamente remete à exploração e à escravidão. No entanto, tudo é feito de forma leve, quase imperceptível e, a um primeiro olhar, o que se vê são belas e sedutoras imagens. “Se o feminismo, a sensualidade erótico-sensorial, o patriarcado, a exploração são questões que interessam à artista explorar, ela o faz com humor, numa crítica que expõe engrenagens perversas e desnuda atitudes machistas, sem perder a doçura”, afirma a curadora Isabel Portella.

 

“Retrato mulheres insurgentes e empoderadas a debochar desse mundo constituído sob valores alheios e desfavoráveis, piqueniques, mesas, comidas, doces, vasos e ornamentos onde tudo parece estar onde deveria estar exceto pelo fato de que essa afirmação resvala numa bem humorada crítica”, diz a artista.

 

Sobre a artista

 

Patrizia D’Angello nasceu em São Paulo, mas vive e trabalha no Rio de Janeiro. Formada em Artes Cênicas pela Uni-Rio e em Moda pela Candido Mendes, a partir de 2008, cessou todas as atividades em outras áreas pra se dedicar exclusivamente à arte. Desde então, desenvolve uma poética que, através de artifícios da narrativa do cotidiano, incorpora e comenta a vida em suas grandezas e pequenesas, em seus potenciais de estranhamento e em suas banalidades, espelhando e refletindo aquilo que diz respeito à vida. Transita pela produção de objetos, performance, fotografia, video e, mais assiduamente, pela pintura. Frequentou a Escola de Artes Visuais no Parque Lage, onde realizou diversos cursos. De setembro de 2014 a Março de 2015 esteve no programa de bolsa residência-intercâmbio com a École Nationale Superieure des Beaux Arts de Paris. Foi indicada ao prêmio PIPA em 2012. Dentre suas principais exposições individuais estão: “Lush” (2018), no Centro Cultural Municipal Sergio Porto, no Rio de Janeiro; “Assim é se lhe parece – Casa, Comida e Roupa Lavada” (2016), no Centro Cultural da Justiça Federal, no Rio de Janeiro; “Kitinete” (2016), no Ateliê da Imagem, no Rio de Janeiro; “No Embalo das Minhas Paixões”, na Galeria de Arte IBEU, no Rio de Janeiro, entre outras. Dentre suas últimas exposições coletivas estão: “Primeiro salão de Arte Degenerada”, no Ateliê Sanitário, “Rios do Rio”, no Museu Histórico Nacional, “Passeata”, na Galeria Simone Cadinelli, “My Way”, na Casa França-Brasil, todas este ano, no Rio de Janeiro; “Futebol Meta Linguagem” (2018), no Centro de Artes Calouste Gulbenkian, no Rio de Janeiro; “Poesia do Dia a Dia” (2017), no Centro Cultural Sergio Porto, no Rio de Janeiro; “Quero que Você me Aqueça nesse Inverno” (2016), no Centro Cultural Elefente, em Brasília; “Attentif Ensemble” (2015), no Jour et Nuit Culture, em Paris; “Portage” (2014), no ENSBA, em Paris; “Como Se Não Houvesse Espera” (2014), no Centro Cultural da Justiça Federal, no Rio de Janeiro, entre outras.

 

Sobre a Galeria do Lago

 

A Galeria do Lago apresenta programas contínuos de exposições de arte contemporânea, que visam a discutir aspectos da produção da arte atual, com obras que de alguma maneira se relacionem com o Museu da República.

 

De 14 de dezembro de 2019 a 15 de março de 2020.

 

Arte e som nas coleções MAM Rio

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, apresenta de 1º de dezembro de 2019 a 1º de março de 2020 a exposição “Canção Enigmática: relações entre arte e som nas coleções MAM Rio”. Com curadoria de Chico Dub, a exposição se insere no programa Curador Convidado, criado em 2018 pelo Museu, e se relaciona com a 9ª edição do Festival Novas Frequências.

 

A exposição reúne obras de Hélio Oiticica, Carlos Vergara, Waltercio Caldas, Daniela Dalcorso, Claudio Tozzi, Carlos Scliar, José Damasceno, Chelpa Ferro, Cildo Meireles, Cinthia Marcelle, Manata Laudares, MarciusGalan, Paulo Nenflidio, Paulo Vivacqua, entre outros. São pinturas, fotografias, desenhos, vídeo, objetos sonoros, instrumentos musicais, partituras gráficas, esculturas, instalações e discos de artista presentes na coleção do Museu. Estão programadas ações performáticas para janeiro de 2020.

 

O título da exposição é retirado do nome da obra de José Damasceno (Rio de Janeiro, 1968), feita em 1997. Ao lado de cada obra haverá um QR Code, que permitirá ao público acessar pelo seu celular mais informações sobre o artista no site do MAM Rio.

 

“Canção Enigmática” irá ocupar dois espaços no terceiro andar do Museu, destinado a mostras do acervo, e tem uma complementação com mais duas obras no Foyer dos artistas suíços Martina Lussie e Luigi Archetti, pertencentes aos próprios artistas.

 

A exposição procura inserir o MAM Rio na chamada “virada sônica”(“sonicturn”), termo cunhado para designar a mudança gradual de foco do visual para o auditivo, que vem ocorrendo nas práticas artísticas e nos estudos acadêmicos nos últimos anos, graças a implementos tecnológicos. “E também pela busca em estabelecer novos parâmetros artísticos, o som passou a ser reconhecido e exibido como uma forma de arte em si mesmo”, explica o curador Chico Dub. “Ainda que não seja uma mostra exclusiva de arte sonora – prática surgida na obscura zona entre música composta, instalação, performance e arte conceitual, e que tem o áudio como componente principal ou que silenciosamente reflete sobre o som -, abraça todo o acervo dessa disciplina artística no museu, reunindo trabalhos de Chelpa Ferro, Cildo Meireles, Cinthia Marcelle, Manata Laudares, Marcius Galan, Paulo Nenflidio, Paulo Vivacqua e Siri”.

 

Chico Dub diz que “as obras reunidas mostram basicamente cenas musicais tiradas do cotidiano, como nas pinturas modernistas de Di Cavalcanti e Djanira, manifestações folclóricas nas quais a música possui caráter essencial, como nas fotografias de Bárbara Wagner inspiradas no maracatu, rituais religiosos afro-brasileiros tal qual em Pierre Verger e no candomblé, e associações diretas com gêneros musicais, como nos retratos de Daniela Dacorso em bailes funk, na influência do samba nos “Parangolés” de Hélio Oiticica e nas fotografias de Carlos Vergara no desfile do Cacique de Ramos, ou em ícones do porte de Tom Jobim (Cabelo e Márcia X) e Beethoven (Waltercio Caldas). Trabalhos realizados durante a ditadura militar no Brasil, como os de Cláudio Tozzi e Waltercio Caldas, gritam contra a situação opressiva que se instalava naquele momento no país e, infelizmente, soam mais atuais do que nunca”. Ele complementa dizendo que “há ainda um destaque especial para as chamadas partituras gráficas, trabalhos com origem no contexto da música e apreciados por artistas visuais em função de sua característica libertária que vai além da notação musical convencional. Paulo Garcez, Carlos Scliar, Chiara Banfi e, de certa forma, José Damasceno possuem trabalhos nesse contexto”.

 

Está programado para os domingos de janeiro de 2020 uma série de ações performáticas que buscam se relacionar com procedimentos da música experimental, da arte sonora e de outras linguagens, como as artes visuais, a dança e performance. Essa programação complementar reafirma a ideia da ocupação do espaço público como ato estético e político, questão presente nos encontros realizados por Frederico Morais no início dos anos 1970, quando a área externa do MAM e o Aterro do Flamengo foram incorporados como extensão natural do Museu.

 

“É notório pensar hoje em dia que 4’33” não é simplesmente uma ‘peça silenciosa’, mas, sim, uma obra cujo objetivo é a escuta do mundo. Em outras palavras, o trabalho mais famoso de John Cage, ao emoldurar sons ambientes e não intencionais, nos revela através de uma escuta profunda que a música está em todos os lugares; que todos os sons são música”, observa Chico Dub.

 

“Partindo de Cage, os sons que ecoam pelo MAM são música. Uma canção enigmática formada por todos os sons ao redor combinados, dentre outros, com batidas do coração, berimbaus high tech, gadgets eletrônicos, sons artificiais, bandas fora de ritmo, orquestras tocando músicas diferentes ao mesmo tempo, o som da chuva e uma ordem em italiano para se fazer um café”.

 

Até 1º de março de 2020.

 

O livro: 7 X ARTISTAS

10/dez

Lançamentos: 10 /12 no Museu Oscar Niemeyer (Curitiba) e 12 de dezembro no Paço Imperial (Rio) Textos de Marcelo Campos, Cesar Kiraly, Efrain Almeida e Wilson Lazaro.

 

“7 X ARTISTAS – As Novas Pinceladas” apresenta a produção de sete pintores da arte contemporânea brasileira. O livro, que é organizado por Wilson Lazaro e conta com a direção de arte de Felipe Taborda, mostra a vivência dos artistas no atelier e seus processos de produção e as obras que credenciam sua produção na última década.
Os artistas que terão suas obras destrinchadas são: Alvaro Seixas, Daniel Lannes, Elvis Almeida, Felipe Fernandes, Gilson Rodrigues, Livia Moura e Maria Fernanda Lucena.

 

Alvaro Seixas foi indicado para o prêmio Pipa 2018, e desenvolve, ao longo de sua carreira, trabalhos que exploram a abstração na pintura e como essa linguagem se relaciona com o panorama artístico-cultural atual.

 

Lívia Moura é uma artista que vem desenvolvendo um trabalho de pesquisa das questões femininas atuais, participando atualmente uma residência na ilha de Chipre, com uma pintura desenhada que é totalmente feminina.

 

Gilson Rodrigues é artista mineiro, promove intensa pesquisa sobre o próprio fazer pictórico e é recorrente sua investigação sobre questões ligadas ao tempo, à memória e à paisagem.

 

Felipe Fernandes vem ocupando um lugar entre a figuração e a abstração, a pintura que desenvolve é fusionada a delicadas pétalas de papel, pedaços de fita crepe e imprevistas camadas de cola conferidoras de brilho à tinta.

 

A pintura de Daniel Lannes tem cenas documentais ou imaginadas, históricas ou banais que são mescladas sem hierarquia – personagens (heróicos ou não, reais ou não) do século passado convivem na mesma cena contemporâneas, em que tempos diferentes coexistem e as composições surreais são uma constante. Foi um dos vencedores da 6ª edição do Prêmio Marcantonio Vilaça para as Artes Plásticas 2017/2018.

 

Elvis Almeida, com uma pintura bem conhecida por sua paleta de cores elétricas e vocabulário visual bem definido, usa formas orgânicas em uma figuração que apenas se insinua, ao mesmo tempo em que faz referência ao imaginário popular dos grandes centros urbanos.

Maria Fernanda Lucena, é carioca, no currículo várias exposições individuais com Paisagens emocionais na C. Galeria – Rio de Janeiro em 2016; A Intimidade é uma escolha na Galeria do IBEU – Rio de Janeiro em 2017; Melancolia da Paisagem na Galeria Sem Título – Fortaleza entre outras.

 

“Sete estilos, sete registros de um pouco da trajetória da pintura contemporânea, focando os artistas, seus processos e obras. Mais do que nunca, em tempos de efemeridade de redes sociais, parece ser necessário fixar a história em um produto que possa refletir a produção de artistas que estão construindo a arte brasileira do século XXI” diz Wilson Lazaro, organizador do livro.

 

Ficha Tecnica:
Organizador – Wilson Lazaro
Artistas – Alvaro Seixas, Daniel Lannes, Elvis Almeida, Felipe Fernandes, Gilson Rodrigues, Lívia Moura e Maria Fernanda Lucena
Coordenadora executiva – Bia Gross
Coordenador financeiro – Rafael Bezerra
Direção de arte – Felipe Taborda
Design – Augusto Erthal
Registro fotográfico de atelier – Carla Bordin
Fotos das obras – Rafal Adorján
Revisão – A Portuguesa
Tradução – Regina Alfarano
Assessoria de imprensa – Flávia Tenório
CTP e Impressão -Walprint Gráfica e Editora
Agradecimentos – Claudia Saldanha, Juliana Vellozo Almeida Vosnika, Maria Helena Bahmed, Leila Gontijo, Luciano Augusto, Marcio Felipe, Isaque Furtunato, Ricardo Kugelmas, Fátima Lazaro, Pedro Saturnino Braga e Waldéres Gross
Agradecimentos especiais – Carla Bordin e Rodrigo Pinheiro
Patrocínio- Banco Bari

 

Lançamento: 7 X ARTISTAS – As Novas Pinceladas – 10 de dezembro, 19h30
Museu Oscar Niemeyer – Curitiba
Rua Mal. Hermes, 999 – Centro Cívico, Curitiba – PR – (41) 3350-4400

 

12 de dezembro, 18h
Paço Imperial no Rio

ArtRio 2020

Estão abertas as inscrições para a ArtRio 2020. A ArtRio completará sua 10ª edição em 2020 e reforça seu foco na arte brasileira e latino-americana. O evento acontecerá de 09 a 13 de setembro de 2020 na Marina da Glória.

As inscrições são para os programas PANORAMA, VISTA e BRASIL CONTEMPORÂNEO.

Os programas SOLO, PALAVRA e MIRA terão seus participantes selecionados pelos respectivos curadores.

 

A ArtRio chegará nesta 10ª edição com uma importante história de valorização da arte brasileira e latino-americana. Mais do que uma feira de arte de reconhecimento internacional, a ArtRio é uma plataforma com um calendário ativo ao logo de todo o ano, realizando diferentes programas sempre com o intuito de aproximar artistas e galerias de seu público, estimular o conhecimento e valorizar a produção de novos artistas, incentivar a criação de novo público para a arte e disseminar o conhecimento da arte em projetos de acessibilidade e educação.

 

A feira, é um importante momento do calendário artístico profissional, com a reunião das mais importantes galerias do país e também de outros países da América Latina.

 

As inscrições serão avaliadas pelo Comitê de Seleção da ArtRio, que analisa diversos pontos como proposta expositiva para o evento, relevância em seu mercado de atuação, artistas representados – com exclusividade ou não -, número de exposições realizadas ao ano e participação em eventos e/ou feiras.

 

O Comitê 2020 é formado pelos galeristas:

 

Alexandre Roesler (Galeria Nara Roesler) – Rio de Janeiro, São Paulo, Nova Iorque – Antonia Bergamin (Bergamin & Gomide) – São Paulo – Filipe Masini e Eduardo Masini (Galeria Athena) -Rio de Janeiro – Gustavo Rebello (Gustavo Rebello Arte) – Rio de Janeiro – Juliana Cintra (Silvia Cintra + Box 4) – Rio de Janeiro

Nos últimos anos, atraídos pela expressiva presença de arte brasileira na ArtRio, tanto com obras de artistas consagrados como as jovens descobertas, importantes colecionadores e curadores internacionais vieram para o Rio de Janeiro, incluindo curadores e membros de conselhos de aquisições de importantes museus e fundações como Solomon R. Guggenheim, Tate Modern, Dia Art Foundation e SAM Art Projects, entre outros.

 

Programas

 

PANORAMA Programa destinado às galerias já estabelecidas no mercado de arte, tanto em esfera nacional quanto internacional.

 

VISTA Programa destinado às galerias com até dez anos de existência, que apresentam projetos com foco curatorial mais experimental.

 

BRASIL CONTEMPORÂNEO Pelo terceiro ano consecutivo, o programa reunirá projetos individuais de artistas e galerias baseados nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sul.

 

SOLO Programa destinado a projetos expositivos com foco em importantes coleções de arte. O programa contará com projetos que apresentem uma visão mais aprofundada sobre a obra de um único artista.

 

MIRA O programa MIRA convidará o público a explorar narrativas visuais de artistas consagrados e novos nomes que usam a vídeo arte como plataforma.

 

PALAVRA O programa propõe a palavra como peça fundamental na arte, promovendo conversas, leituras e performances de poetas e artistas que trabalham com a temática.

 

A seleção dos três últimos programas, SOLO, MIRA e PALAVRA será definida pelos respectivos curadores nos próximos meses.

Artistas GLC

03/dez

Luciana Caravello Arte Contemporânea, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, apresenta, a partir do dia 02 de dezembro, a exposição “Artistas GLC”, que reúne cerca de 50 obras, recentes e inéditas, dos 29 artistas representados pela galeria: Adrianna Eu, Afonso Tostes, Alan Fontes, Alexandre Mazza, Alexandre Serqueira, Almandrade, Armando Queiroz, Bruno Miguel, Daniel Escobar, Daniel Lannes, Delson Uchôa, Eduardo Kac, Élle de Bernardini, Fernando Lindote, Gê Orthof, Gisele Camargo, Güler Ates, Igor Vidor, Ivan Grilo, JeaneteMusatti, João Louro, Lucas Simões, Marcelo Macedo, Marcelo Solá, Marina Camargo, Nazareno, Pedro Varela, Ricardo Villa e Sergio Allevato.

 

Em exibição trabalhos em diversos suportes, como pintura, colagem, desenho, fotografia, vídeo, escultura e instalação. Muitas obras nesta mostra são inéditas, como é o caso da pintura “Sundae Ilusões”, de Daniel Lannes, que, de acordo com o artista, mostra que “…o amor colado às costas da musa garante ou não a ilusão da promessa afetiva”.

 

Outras obras de igual ineditismo são “Todos os nossos desejos”, de Daniel Escobar, série de colagens onde confetes recortados de cartazes publicitários proporcionam uma paisagem pictórica de ilusórios fogos de artificio, e uma nova obra da série “Pseudônimo”, de Bruno Miguel, pintura onde o artista questiona os dogmas da linguagem a partir da substituição dos elementos tradicionais e históricos da pintura por processos, materiais e ferramentas de um mundo pós-industrializado, globalizado e conectado.

 

Recesso entre 21 de dezembro de 2018 e 05 de janeiro de 2020.

Até 01 de fevereiro de 2020.

 

Dois na Galeria Evandro Carneiro

28/nov

A Galeria Evandro Carneiro Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, apresenta de 30 de novembro de 2019 a 04 de janeiro de 2020 a “Exposição Ira Etz e Uziel”. A mostra reúne 15 telas e 43 objetos de ambos os artistas.

 

Ira Etz e Uziel

 

Ira e Uziel são dois artistas talentosos na sua expressão, cada qual com as suas características. Assim os apresentamos, como unidades heterogêneas, mantendo as suas diferenças, mas evidenciando aproximações. A curadoria da exposição, mérito de Evandro Carneiro, escolheu as peças em meio ao conjunto da obra de cada artista e, ao mesmo tempo, pensando uma composição harmônica no todo porque, de alguma maneira, há um diálogo entre eles. Por isso, a mim coube resgatar uma metodologia historiadora sugerida por Walter Benjamin: a “dialética sem síntese” para organizar esse texto.

 

Ira Etz nasceu em 1937, no coração de Ipanema, Rio de Janeiro. Filha e neta de alemães, sua família inteira era afeita às artes, destacando-se o avô materno Arthur Kaufmann, pintor importante do expressionismo alemão e professor da Academia de Belas Artes de Düsseldorf até 1933. Judeu, Kaufmann migrou com o filho e a esposa para os EUA nos anos de ascensão nazista na Europa, ali refazendo sua vida e desenvolvendo uma exitosa carreira artística. Enquanto sua filha, mãe de Ira, já era casada e escolheu o Brasil para viver, juntamente com o marido. Assim, seus pais vieram morar no bucólico Arpoador, onde Ira cresceu com a brisa da praia sempre a lhe inspirar e a liberdade da criação afetuosa e vanguardista de uma família alemã, boêmia e amiga de intelectuais e artistas frequentadores de Ipanema. Essa marca libertária se expressa na sua identidade e no seu trabalho artístico.

 

Ira começou a experimentar a arte com a fotografia. Desde muito jovem fotografava e, ao casar-se, montou um estúdio com o marido que também se dedicava ao hobby. Até hoje o casal está junto e ela segue fotografando. Porém, tornou-se também pintora após a perda de seu filho querido. A dor dilacerante que sentiu fez o tempo parar no ano 1988 e ela precisou reinventar-se. Sua catarse foi a tinta jogada e trabalhada na tela, as cores fortes e expressivas, carregadas de emoção. Sublimação na arte, foi assim que surgiu essa artista corajosa e livre que foi organizando a sua linha de trabalho e procurando, então, aperfeiçoar sua técnica, primeiramente com Arthur Kaufmann, pintor importante do expressionismo alemão e professor da Academia de Belas Artes de Düsseldorf até 1933. Hoje, com 82 anos, Ira é pura potência e está no auge de sua carreira, em plena produção e em fase de expansão, como ela mesma diz (entrevista oral, 2019). Observemos esse percurso em suas obras aqui apresentadas, sendo nove telas e 23 objetos de diferentes momentos de sua trajetória.

 

Paralelamente a esta história, igualmente nos anos 1930, uma outra família europeia chegou ao Brasil fugindo do Nazismo. Os judeus poloneses Rozenwajn instalaram-se primeiramente em Natal – RN, onde chegaram com uma carta de recomendação para trabalhar com os Palatnik, em empreendimento comercial. Ali Uziel nasceu, em 1945. Porém, mudaram-se para Belo Horizonte cinco anos depois. Lá ele se criou e estudou arquitetura na UFMG. Ainda na faculdade iniciou seus desenhos com guache e nanquim e, ao final do curso, já tendo participado de alguns salões universitários, foi fazer uma residência em Haifa, Israel. Nesse tempo, produziu bastante e realizou a sua primeira exposição individual (Dany Art Gallery, 1972). No retorno ao Brasil, um ano depois, Uziel passou a se dedicar à arquitetura em escritórios e no serviço público. Contudo, jamais deixou de desenhar e aos poucos foi substituindo o nanquim pelo lápis de cor e incluindo o pastel oleoso no seu repertório.

 

Uziel mudou-se para Ouro Preto e começou a pintar suas telas com tinta acrílica, sempre tendo a linha e o traçado arquitetônico como referências, fosse no cálculo, fosse na estruturação das composições ou mesmo na técnica que usava a “régua T” e espátulas para raspar texturas, numa determinada ocasião. Nessa charmosa cidade mineira, conheceu vários artistas e quadros da cultura que o encorajaram a pintar mais e mais: Carlos Bracher, Scliar, Angelo Oswaldo, Murilo Marcondes… Foi se afirmando artisticamente e desenvolvendo seu estilo, chegando a expor individualmente na Galeria Bonino (1992), dentre outras mostras individuais e coletivas presentes em seu currículo. Mas o grande pulo do gato para a sua arte foi o ano de 2015, quando se aposentou como arquiteto da Federal de Ouro Preto. Libertou-se, então, de uma dicotomia inconsciente que o atrapalhava a liberdade artística. Enfim podia viver de sua arte! Porém, curiosamente ficou dois anos sem pintar, embora maquinasse outro tipo de construção criativa. Em um Festival de Inverno da cidade, apresentou suas novas criações: objetos feitos em metal e madeira que aproveitavam miçangas, ripas e materiais afins para criar espécies de bonecos “feiticeiros” como ele denominou inicialmente e não à toa. Embora tenha me contado (entrevista oral, 2019) que as referências por trás dos objetos sejam intuitivas, é evidente uma ancestralidade africana, indígena e oriental nessas montagens, conforme se pode observar nos seus 20 objetos que compõem esta mostra. Quanto às suas seis telas expostas na Galeria, me parece que por trás das composições harmônicas há sempre o traço do arquiteto, alinhavando com cores e cálculos as suas construções de equilíbrio espontâneo. Assim, lembrei-me da frase de Paul Klee sobre sua própria obra: “a linha aparece como elemento pictórico autônomo.” Ou seja, ela está ali o tempo todo, traçada, mas se supera dialeticamente pela autonomia da composição em si.

 

Ira e Uziel, dois artistas singulares que não se conheciam até esta exposição, mas que começaram a trocar experiências desde que os apresentamos e resolvemos expor seus trabalhos conjuntamente. O que os une, além da origem europeia, é certamente a qualidade artística, notada por Evandro Carneiro que, pela ousadia de seu notório saber, resolveu reunir diferentes. Tal como propôs Walter Benjamin, nem sempre há a necessidade da síntese para pensarmos aproximações.

 

Laura Olivieri Carneiro
Novembro 2019

O Grupo de Bagé na Fundação Iberê Camargo

Ocupando dois andares da Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, estarão na mostra “Os 4 – Grupo de Bagé”, desde 30 de novembro até 01 de março de 2010, cerca de 180 trabalhos oriundos de 24 instituições e acervos particulares. Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli (Porto Alegre), Pinacoteca Aldo Locatelli da Prefeitura de Porto Alegre, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu da Gravura Brasileira/FAT/Urcamp (Bagé) e Instituto Carlos Scliar (Cabo Frio, RJ) são algumas das instituições a emprestarem obras; além de peças do espólio de Danúbio Gonçalves, Glênio Bianchetti e Glauco Rodrigues, emprestadas por suas famílias. Esta é a constituição da grande mostra retrospectiva, feita a partir de uma ampla pesquisa de documentação, reportagens de jornais e cartas que, tanto o grande público, quanto os entusiastas e conhecedores do Grupo serão agraciados com uma nova e generosa visão sobre o tema.

 

A palavra da curadoria

 

Uma espontânea, mas bem executada mistura de temas universais e modernos, elaborados a partir da experiência e da representação de aspectos regionais, é o que caracteriza e une o trabalho dos quatro artistas, que, mais por sua proximidade e camaradagem, do que propriamente por um desejo de formar um movimento com uniformidade estética, ficou conhecido como Grupo de Bagé. Um grupo de pessoas muito talentosas que o acaso uniu, criou um trabalho tão sólido que a passagem do tempo apenas renova seu interesse.

 

Na Bagé da metade da década de 1940, longe do agito dos principais centros urbanos, os jovens amigos Glauco Rodrigues e Glênio Bianchetti descobriram uma atividade diferente para passar o tempo nas férias de verão. Começaram ali seus exercícios de pintura e desenho e, a partir de 1948, junto com o já iniciado nas artes Danúbio Gonçalves, e outros curiosos, como Clóvis Chagas, Deny Bonorino e Julio Meirelles, passaram a aprofundar seus interesses nas técnicas e teorias clássicas. Na cidade, ainda morava Pedro Wayne, escritor politicamente engajado, que desde os anos 1930 produzia romances, poemas, peças de teatro e folhetins em formato moderno. Wayne se correspondia com Erico Verissimo e Jorge Amado, além de ter relações com o pintor moderno José Moraes e, por conta disso, tornou-se o mentor intelectual daqueles tão interessados meninos. O círculo se fechou com a chegada de Carlos Scliar, que voltava de sua estada na Europa e participação na II Guerra Mundial, com uma recheada bagagem intelectual e contatos de artistas atuantes no conturbado cenário mundial.

 

O mais importante e profícuo contato de Scliar foi com Leopoldo Mendez, do Taller de Grafica Popular (TGP) do México, cujo trabalho influenciou o grupo de Bagé, especialmente na divulgação de causas políticas a favor da paz, da liberdade, dos direitos dos trabalhadores e da justa distribuição das riquezas. As técnicas de gravura, que facilitam a reprodução em grande escala, possibilitaram que as obras chegassem ao público de maneiras distintas, seja na forma de ilustração de artigos na revista Horizonte, ou em materiais publicitários e panfletos do Partido Comunista. Por outro lado, a produção do grupo complementava a obra de Wayne, ilustrando as descrições das condições miseráveis nas quais viviam – e as humilhações a que eram submetidos os trabalhadores da região, nas estâncias, charqueadas e nas minas de carvão. A junção desses dois aspectos fez com que o trabalho do Grupo delineasse características estéticas e temáticas próprias bastante particulares, que impedem ainda hoje sua classificação dentro de categorias como o Realismo Socialista, por exemplo.

 

Na década de 1950, foram criados o Clube de Gravura de Porto Alegre (1950) e o Clube de Gravura de Bagé (1951), os quais mais tarde se uniram e criaram um importante e independente sistema de divulgação dos artistas regionais, tomado como modelo até a atualidade. A participação nos clubes foi essencial para a consolidação da carreira dos quatro artistas, criando oportunidades que acabaram por separá-los. No ano de 1956, com o encerramento das atividades dos clubes, cada um seguiu uma trajetória distinta, porém, sempre carregaram características de seus anos de formação, na produção de material gráfico e ilustrações para a Revista Senhor (no caso de Carlos Scliar e Glauco Rodrigues), e na constante volta aos temas regionais, em sua maior parte com um viés de crítica social. Em 1976, os quatro artistas voltaram a produzir juntos em Bagé, em um encontro que resultou na criação do Museu da Gravura Brasileira e em obras que retomaram a temática regional, porém refletindo as mudanças e diferentes caminhos que cada um deles traçara após a separação.

 

Contar essa história é o objetivo principal da exposição Os quatro; mas com uma nova e ampliada abordagem. Novas leituras e percepções acerca do trabalho do Grupo, frutos de estudos e documentários realizados por diversos pesquisadores em nosso Estado, estarão refletidos no cenário da exposição. Não apenas trabalhos de Scliar, Danúbio, Glauco e Glênio estarão expostos, mas nomes como Lila Ripoll, Pedro Wayne e Clovis Assumpção aparecerão para contar mais sobre a trajetória e influências desses artistas de Bagé. Nas paredes da FIC, não haverá apenas gravuras, mas quadros, aquarelas e capas de revistas, que mostrarão a versatilidade e rica produção dos quatro artistas.

 

Carolina Grippa e Caroline Hädrich

 

Curadoras

 

Imagem: da esquerda para a direita Glênio Bianchetti, Glauco Rodrigues, Carlos Scliar e Danúbio Gonçalves.