COMUNICADO

10/maio

Diversas premiações

06/dez

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, venceu duas categorias do Prêmio Açorianos de Artes Plásticas: Destaque Instituição e Destaque Publicações, com o catálogo “Magliani”. 

Realizado pela Coordenação de Artes Visuais da Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa, a cerimônia ocorreu no Teatro Renascença. Também foram entregues os prêmios concedidos por parcerias. Carolina Grippa, curadora da exposição “Trama: Arte Têxtil no Rio Grande do Sul”, realizada em dezembro do ano passado pela Fundação Iberê Camargo e Ministério da Cultura/Governo Federal, com patrocínio da Petrobras, levou o prêmio de Jovem Curador(a), oferecido pela Aliança Francesa de Porto Alegre. Já Mauro Espíndola venceu o Prêmio de Residência Artística no Ateliê de Gravura, oferecido pela Fundação.

A Fundação Iberê Camargo tem o patrocínio do Grupo Gerdau, Itaú, Grupo Savar, Renner Coatings, Grupo GPS, Grupo IESA, CMPC, Savarauto Perto, Ventos do Sul, DLL Group, Lojas Pompéia e DLL Financial Solutions Partner; apoio da Renner, Dell Technologies, Pontal Shopping, Laghetto Hotéis, Coasa Auditoria, Syscom e Isend, e realização do Ministério da Cultura/ Governo Federal. 

 

The Speed of Grace

06/out

Nominada como “The Speed of Grace” é a exposição em cartaz com a curadoria de Larry Ossei-Mensah na Simões de Assis Galeria, Jardins, São Paulo, SP. Até 21 de outubro.

Sobre a exposição

“The Speed of Grace” é uma exposição coletiva que examina detalhadamente como os artistas visuais que representam o espectro da diáspora africana usam sua prática artística como uma plataforma para aprofundar e expor estruturas críticas que moldam a cultura contemporânea. Esses artistas produzem obras que revigoram caminhos inventivos de expressão cultural e provocam questionamentos, promovendo diversas formas de criatividade que utilizam materiais como fibras de palmeira, durags, sherpa, miçangas e papel de arroz para criar pinturas, esculturas e colagens que desafiam as definições convencionais de arte. Ao ampliar estas perspectivas afroatlânticas e ao dissipar estereótipos que muitas vezes rotularam injustamente os artistas negros (black and brown) como pouco sofisticados ou naifs, esta exposição presta homenagem à profundidade e complexidade da produção cultural proveniente da diáspora africana. Isto é especialmente digno de nota dados os esforços históricos para obscurecer as suas contribuições inestimáveis para a narrativa da história da arte.

“The Speed of Grace” aventura-se em um campo onde os artistas exploram a consciência coletiva da diáspora, filtrando as suas perspectivas por meio dos prismas do mito, folclore, história, imaginação e experiências pessoais. Cada artista apresentado nesta exposição incorpora o espírito de indivíduos que aproveitaram a sua arte para estabelecer uma contra-narrativa que abrange a autoconsciência, a intimidade e a desenvoltura. A construção deste conjunto de artistas situa a mostra como uma plataforma para pensar coletivamente sobre ideias pan-africanas e imaginar novos futuros encarnados e animados por vozes para aqueles que historicamente existiram à margem. Através da ação coletiva, as comunidades diaspóricas são empoderadas e podem exercer a sua influência para mudar o mundo. Os artistas apresentados em “The Speed of Grace” pensam como suas práticas podem desafiar estruturas de poder estabelecidas, questionar normas sociais e articular perspectivas diferenciadas, não-monolíticas e expansivas sobre as comunidades negras.

Ao oferecer à comunidade artística brasileira um encontro imersivo com uma diáspora artística africana mais ampla, a exposição tenta ampliar o sistema de raízes que sustenta o tecido da diáspora. Este esforço conectase apropriadamente com histórias de experiências negras e indígenas em várias diásporas, ressoando com as identidades multifacetadas dos visitantes, ao mesmo tempo que destaca as camadas compartilhadas que unem a sociedade humana. “The Speed of Grace” apresenta artistas da diáspora, locais e internacionais, que exalam engenhosidade criativa em sua prática. A exposição é ancorada por um ilustre grupo de artistas brasileiros como Larissa de Souza, Zéh Palito, Mestre Didi e Emanoel Araujo, que, por meio de suas práticas, ajudaram cuidadosamente a dar forma à exposição, criando macro e micro conversas entre as obras. Por exemplo, a justaposição de “Oxumaré (2022)”, de Emanoel Araújo, e “The 400 Colors of A Pearl/Los 400 Colores de Una Perla (2023)”, de Bony Ramirez, instiga um discurso convincente sobre o queer, a cor, a natureza e o misticismo ao lançar mão de abstração geométrica e realismo mágico, respectivamente. Esses momentos, salpicados ao longo da exposição, motivam o espectador a desenvolver vínculos estéticos e conceituais com os trabalhos apresentados, cultivando uma experiência profundamente pessoal e reflexiva.

Coletivamente, estes artistas redefinem fronteiras e dissipam estereótipos, criando uma mostra que convida os espectadores a mergulhar nas narrativas multifacetadas da diáspora africana. As suas criações transcendem as limitações geográficas, promovendo conexões através da criatividade partilhada, da resiliência e do compromisso de remodelar os diálogos culturais. “The Speed of Grace” prova o poder da arte para unificar, inspirar e transformar. “Grace” (Graça) encapsula a realeza, elegância e autoconfiança inerentes às identidades dessas comunidades. Apesar dos esforços históricos para apagá-los, a sua proeminência perdura e prospera. Suas criações funcionam como mais do que meros exemplos: são pontes que atravessam divisões culturais e ligam cantos díspares do globo. Estes artistas preenchem a lacuna entre os continentes por meio da criatividade partilhada, dando origem a uma linguagem visual poderosa que transcende as barreiras linguísticas e ressoa universalmente. As suas obras, nascidas de uma resiliência inabalável e de uma determinação inabalável de desafiar as convenções, são meios que canalizam a vibração e a tenacidade da diáspora.

Nas pinceladas, costuras e esculturas, uma força dinâmica une o passado e o presente, apagando as fronteiras que antes separavam culturas e gerações. Alimentados por um compromisso inato de remodelar os diálogos culturais, estes artistas construíram uma exposição que mostra os seus talentos artísticos e encoraja os espectadores a envolveremse com diversas experiências e narrativas. À medida que o público entra neste mundo imersivo de criatividade, é convidado a participar de uma conversa global para refletir sobre as lutas partilhadas, os triunfos e o legado duradouro da diáspora africana. Em essência, “The Speed of Grace” surge como o epítome do potencial transformador inerente à arte, um testemunho da capacidade da criatividade para transpor lacunas, desafiar normas e cultivar mudanças duradouras.

Larry Ossei-Mensah

Artistas participantes

Amoako Boafo | Anthony Akinbola | April Bey, Bony Ramirez | Deborah Roberts | Derrick Adams, Emanoel Araujo | Hank Willis Thomas, Larissa de Souza | Ludovic Nkoth | Mestre Didi, Serge Attukwei Clottey | Tunji Adeniyi-Jones, Zandile Tshabalala | Zéh Palito.

Suassuna, Brennand, Samico e dos Santos

03/out

A BASE, de Daniel Maranhão, Jardim Paulista, abre a exposição “Ressonância Armorial” com Ariano Suassuna, Francisco Brennand, Gilvan Samico e Miguel dos Santos, texto crítico de Denise Mattar e 30 obras entre pinturas, esculturas e objetos dos quatro artistas mais representativos no Movimento Armorial, uma iniciativa artística cujo objetivo seria criar uma arte erudita a partir de elementos da cultura popular do Nordeste brasileiro que buscava convergir e orientar todas as formas de expressões artísticas: música, dança, literatura, artes plásticas, teatro, cinema, arquitetura, etc. A abertura é no dia 07 de outubro, ficando em cartaz até 11 de novembro.

Em um primeiro momento, em 2020, Daniel Maranhão inseriu o Movimento Armorial, em seu segmento de artes plásticas, no cenário cultural paulistano com a exposição “Samico e Suassuna – Lunário Perpétuo”, que marcou a reinauguração da BASE pós-pandemia, agora, com “Ressonância Armorial”, amplia o número de artistas que trabalharam os mesmos conceitos.

As “iluminogravuras” – termo criado pela junção das palavras iluminura e gravura, de Ariano Suassuna, retornam à galeria acompanhadas de publicações, raros LPs do “Quarteto Armorial”, do múltiplo artista Antônio Nóbrega, e trechos do longa metragem “Auto da Compadecida” dirigido pelo pernambucano Guel Arraes. Suassuna, idealizador do Movimento Armorial, nos anos 1970, assim o conceitua: “A Arte Armorial Brasileira é aquela que tem como traço comum principal a ligação com o espírito mágico dos “folhetos” do Romanceiro Popular do Nordeste (Literatura de Cordel), com a Música de viola, rabeca ou pífano que acompanha seus “cantares”, e com a xilogravura que ilustra suas capas, assim como com o espírito e a forma das artes e espetáculos populares, com esse mesmo Romanceiro, relacionados”.

Miguel dos Santos, que aos 79 anos figura como único integrante vivo do Movimento Armorial e que, atualmente, está no foco dos grandes colecionadores e instituições nacionais e internacionais, é apresentado de forma inédita na BASE. Como define Daniel Maranhão, “não há como se falar em Movimento Armorial, sem citar Miguel, um dos principais participantes.(…) É sabido que cada artista tem sua fase, ou época, mais prestigiosa; e, no caso de Miguel, são as décadas de 1970 e 1980 as mais importantes, de onde serão apresentadas oito obras, todas em óleo sobre tela, sendo que seis delas da década de 1970 e duas, em grande formato, da década de 1980, adquiridas ao longo de anos”. Sobre seu trabalho, Denise Mattar pontua: “Incorporando vestígios do passado e referências a deuses ancestrais, seu trabalho, personalíssimo, envereda pelo realismo mágico.”

Gilvan Samico possui obras inspiradas no Cordel desde os anos de 1960 o que o qualifica como um dos precursores do Movimento Armorial. “O virtuosismo técnico na arte da xilogravura, aliado ao imaginário das fantásticas histórias do Romanceiro Popular do Nordeste, apresentadas de forma hierática, quase sagrada, em “soberana simplicidade”, tornaram a obra de Samico a mais plena concretização das ideias armoriais – uma união perfeita de erudito e popular”, como define Denise Mattar. Dentre as xilogravuras, destacam-se: “Dama com Luvas” (1959) e “Suzana no Banho” (1966) (acervo do MoMA, NY), com tiragem limitada (20 exemplares).

Internacionalmente reconhecido como pintor e ceramista, Francisco Brennand exibe esculturas de grande porte e peças em cerâmica – painéis e placas – da década de 1960, “que evocam o mundo telúrico, sensual e provocador, característico de toda a sua produção”, segundo Denise Mattar.

“A reunião desses quatro artistas, na Galeria BASE, evidencia a ressonância do Movimento Armorial, potencializando seu resultado mágico e contestador, que remete às raízes profundas de nosso país.”  Denise Mattar

Renata Tassinari expõe na Mul.ti.plo

04/jul

Renata Tassinari expõe na Mul.ti.plo Espaço de Arte, Leblon, Rio de Janeiro, RJ, pinturas sobre o acrílico transparente, em formatos variados e tridimensionais. Como novidade, ela usa também acrílico espelhado, resultando em obras de muita luminosidade, gráficas e coloridas. A mostra, denominada “Construções planares”, ganhou texto crítico de Paulo Venancio Filho. A abertura fez parte do Quinta das Artes na Dias Ferreira, quando mais duas galerias (Lurixs e Quadra) abrem mostras na mesma rua, dia e horário, um circuito de exposições para ser percorrido a pé. A exposição traz ao Rio a obra da artista paulistana reconhecida pelo virtuosismo no uso da cor, apresentando suas inusitadas pinturas sobre acrílico que, antes utilizado como moldura, ganha status de tela. Obras de cores luminosas, inclusive espelhadas, que parecem se desprender do suporte, ganhando materialidade e solidez, ficando em cartaz até 18 de agosto.

Renata apresenta uma série de 12 pinturas sobre acrílico transparente. A novidade fica por conta da combinação com o acrílico espelhado, material incorporado recentemente à sua produção, resultando num conjunto de obras de surpreendente beleza e luminosidade. Em formatos tridimensionais inusitados, as pinturas de Renata ganham ares de objeto, num jogo de percepção entre o industrial e o manufaturado.

O fundamento do trabalho de Renata Tassinari é a cor. Sua paleta tem cores únicas, preparadas por ela mesma, a partir de misturas. “As cores são usadas levando em conta qualidades como transparência, opacidade, reflexos, texturas, num uso calculado e variado de experiências visuais. Esse domínio também se manifesta na escolha dos materiais – madeira, acrílico, espelho -, que se incorporam à pintura”, explica Paulo Venancio, professor titular do Departamento de História e Teoria da Arte da Escola de Belas Artes da UFRJ. Com a combinação virtuosa desses elementos, as cores de Renata Tassinari parecem se desprender do suporte, ganhando materialidade.

Uma particularidade do trabalho de Renata, que pode ser conferida nessa exposição da Mul.ti.plo, é a pintura sobre o acrílico. Antes utilizado como moldura, a artista decide incorporar o material à sua obra, conferindo-lhe o status de suporte. Sobre ele, pela frente ou por trás, a artista aplica generosas camadas de tinta óleo ou acrílica. O resultado são cores ainda mais pulsantes e um acabamento mais limpo e sintético. “Depois de pronto, o trabalho pode até ter certa identidade industrial, mas na verdade é profundamente artesanal. São obras de imensa qualidade, que instigam o olhar, nos convidando a escapar de um mundo contaminado pelo excesso de imagens. A obra de Renata nos convoca a reagir a essa atrofia da percepção”, reflete Maneco Müller, sócio da Mul.ti.plo.

No trabalho singular de Tassinari destaca-se também a sua capacidade de espacialização. Suas obras têm geometrias variadas, como formas de L ou U. É o caso de Vermelho Dois L (235 x 200 cm). Algumas são criadas a partir da combinação de elementos diferentes, como Padaria III (40 x 120 cm). As bordas, inclusive, podem ser pintadas, como em Mata II (40 x 120 cm). “Entre as obras há também os múltiplos Leblon, criados especialmente para essa exposição, formados por 3 cores, que funcionam tanto na vertical como na horizontal”, conta a artista. “Outra novidade da pintura de Renata são os formatos alongados, fora de qualquer convenção pictórica”, como em Marola-Narciso (194 x 350 x 5 cm). O título da mostra pretende revelar o caráter planar de uma pintura que se constrói como objeto tridimensional. “A pintura de Renata é uma construção, feita de elementos separados em geral, que ela junta como se fossem objetos. É uma pintura tridimensional, construída como se fosse um objeto”, explica Paulo Venancio.

Extremamente prestigiada entre críticos, curadores e seus pares, Renata Tassinari iniciou sua carreira há mais de 30 anos. Sua primeira exposição foi em 1985, no Museu de Arte Moderna de São Paulo. “Ela poderia ser enquadrada na turma da Geração 80, mas sua pintura é diferente do que se fazia na época, abstrata. Assim como é diferente também da pintura atual, de algumas décadas para cá. São muitas sutilezas que, combinadas, fazem do trabalho dela uma obra única”, conclui Paulo Venâncio. A última mostra individual da artista no Rio foi em 2018, na galeria Lurixs. Antes, ela expôs no Paço Imperial, em 2015.

Sobre a artista

Renata Tassinari nasceu em São Paulo, SP, 1958. Formou-se em Artes Plásticas na Fundação Armando Álvares Penteado, FAAP, em 1980. Paralelamente, estudou desenho e pintura no ateliê dos artistas Carlos Alberto Fajardo e Dudi Maia Rosa. Nos anos 1980, realizou estampas com motivos indígenas para a Arte Nativa Aplicada-ANA. Nos últimos anos, a pintura de Renata Tassinari transformou-se em um campo fértil de pesquisas e inovações. O quadro deixou de ser um elemento neutro e passou a fazer parte da estrutura da obra. A artista pinta sobre uma superfície de acrílico, que, numa abordagem mais tradicional, seria parte do enquadramento de uma obra. Ao mesmo tempo, deixa a moldura de certas seções da obra cobrir apenas um papel em branco. Onde deveria haver a transparência do acrílico protetor de uma folha de desenho, passa a haver pintura e, inversamente, onde a folha de papel se deixa ver, há apenas o branco do papel que assim se transforma em cor. De início, os procedimentos acima se desdobravam em séries que alternavam as cores acrescentadas sobre o acrílico e o branco emoldurado das folhas de desenho. Com o tempo, ela passa a tratar partes do quadro como coisas, também outras coisas poderiam ser elementos das obras. Madeiras de diferentes colorações e ranhuras, e a inversão do avesso de uma moldura de acrílico, têm sido a prática mais recorrente. A cor sempre foi um elemento fundamental na obra da artista. Colocar cores num quadro e pelo quadro habitar o mundo com cores, essa é uma breve descrição do que ela sempre buscou. Entre o mundo e o quadro – ao tratar partes da obra também como coisas do mundo, como coisas palpáveis – agora surgem relações mais próximas, e percebemos um trinômio obra/cor/mundo sempre insinuando-se em seu trabalho.

 

Resiliência/Mulheres

11/nov

A Casa França-Brasil, Centro, Rio de Janeiro, RJ, recebe a mostra de fotos premiadas da World Press Photo sobre resiliência feminina. “Resiliência – Histórias de mulheres que inspiram mudanças” é uma exposição feita em parceria com a Fundação The World Press Photo e o Reino dos Países Baixos é gratuita e fica em cartaz até o dia 30 de novembro, Casa França-Brasil, no Rio.
“Resiliência – Histórias de mulheres que inspiram mudanças”, consiste numa seleção de histórias premiadas nos concursos da World Press Photo de 2000 a 2021, que salientam a resiliência e os desafios de mulheres, meninas e comunidades em todo o mundo. São retratos documentados por 17 fotógrafos, de 13 nacionalidades diferentes que expressam, por meio das fotografias, suas visões sobre questões como sexismo, violência de gênero, direitos reprodutivos e igualdade de gênero. A mostra seguirá para Belo Horizonte, Brasília e Porto Alegre.
Entre as fotografias em cartaz, Crying for Freedom, da iraniana Forough Alaei, que documentou torcedoras proibidas de entrar em estádios de futebol de seu país. Arriscando serem presas, as torcedoras se disfarçam de homens para entrar nos estádios. O retrato Finding Freedom in the Water, da fotógrafa Anna Boyiazis, compartilha a história de alunas da Escola Primária Kijini que aprendem a nadar e a realizar salvamentos, no Oceano Índico, na Praia de Muyuni, Zanzibar. Tradicionalmente, as meninas do Arquipélago de Zanzibar são dissuadidas de aprender a nadar, muito devido à falta de roupas de banho mais recatadas.
As narrativas, contadas por meio das fotografias premiadas, revelam como as questões de gênero evoluíram no século XXI e como o fotojornalismo progrediu em sua forma de retratar essas mulheres e suas histórias. A exposição inclui ainda fotografias de Finbarr O’Reilly, Maika Elan, Catalina Martin-Chico, Pablo Tosco, Olivia Harris, Terrell Groggins, Jonathan Bachman, Heba Khamis, Daniel Berehulak, Robin Hammond, Diana Markosian, Jan Grarup, Magnus Wennman, Irina Werning, and Fulvio Bugani. “A imagem icônica captura o instante de um acontecimento único e cria no interlocutor uma conexão emocional. É sempre um registro impactante, com viés político por trás. Com imagens assim, tocantes, a World Press Photo hoje é a maior e mais respeitada mostra de fotojornalismo no mundo.
Neste projeto especial chamado Resiliência, as fotos abordam uma temática ainda especial: o papel da mulher no protagonismo histórico. Para mim, a série de 2016, da fotógrafa Anna Boyiazis, sobre instrutoras de natação que ensinam mulheres a nadar e realizar salvamentos, em um esforço para reduzir as altas taxas de afogamento na Região de Zanzibar, no Oceano Índico, é icônica. Compila em um único ensaio aspectos culturais, estéticos, econômicos e comportamentais”. Flávia Moretti é produtora cultural e representa no Brasil as edições da exposição da World Press Photo.
A exposição demonstra a habilidade do fotojornalismo em visualizar o poder de mulheres ao redor do mundo, em redefinir suas realidades e vencer desafios. No contexto da liberdade de imprensa, e celebrando a excelência em fotojornalismo, o World Press Photo tem orgulho em trazer essas histórias para o público brasileiro”, explica Raphael Dias e Silva, gerente de projeto na Fundação. Esta exposição reflete o compromisso dos Países Baixos com os direitos das mulheres, a igualdade de gênero e a justiça, fundamentais na defesa de sociedades harmônicas.
Mulheres em todo o mundo enfrentam desigualdades profundamente arraigadas, que as mantém sub-representadas em papéis políticos e econômicos. “A exposição Resiliência-histórias de mulheres que inspiram mudanças” transmite o compromisso dos Países Baixos com os direitos das mulheres, a igualdade de gênero e a justiça. Vozes múltiplas, documentadas por 17 fotógrafos, oferecem uma maior compreensão sobre como as mulheres e os desafios relacionados ao gênero evoluíram no século 21. A violência contra as mulheres prevalece como uma grave questão global de saúde e proteção”, afirma, André Driessen, embaixador dos Países Baixos. Em 2021, em todo o mundo, as mulheres representavam apenas 26,1% de cerca de 35.500 bancadas parlamentares, apenas 22,6% de mais de 3.400 ministérios, e 27% de todas as posições de gerência. A violência contra as mulheres prevalece como uma grave ameaça global e um problema de segurança.

Sobre a Casa França-Brasil

Este prédio histórico, de estilo neoclássico, foi projetado pelo arquiteto francês Grandjean de Montigny, por encomenda de D. João VI, e inaugurado em 13 de maio de 1820, visando a instalação da Primeira Praça do Comércio da Cidade do Rio de Janeiro. Em 1824, o prédio passou a ser ocupado como sede da Alfândega, e desde então assumiu diversos usos e funções até ser transformado em Centro Cultural. Em 1983 o projeto de requalificação do edifício para fins culturais foi concebido por Darcy Ribeiro quando secretário de Cultura do Estado do Rio de Janeiro, como se mantém até hoje, acolhendo as mais diversas manifestações artísticas e culturais.

Sobre a World Press Photo Foundation

Somos uma plataforma global que conecta fotojornalistas, fotógrafos documentais e nosso público mundial por meio de narrativas confiáveis. A World Press Photo foi fundada em 1955, quando um grupo de fotógrafos holandeses organizou um concurso (“World Press Photo”) para expor seu trabalho a um público internacional. Desde então, nossa missão se expandiu. Nossos concursos se tornaram uma das competições mais prestigiadas do mundo, premiando os melhores em fotojornalismo e fotografia documental. Por meio de nosso bem-sucedido programa de exposições em todo o mundo, apresentamos a milhões de pessoas as histórias que importam. A World Press Photo Foundation é uma organização criativa, independente e sem fins lucrativos, com sede em Amsterdã, na Holanda. Agradecemos o apoio de nosso parceiro global, a Dutch Postcode Lottery, e nosso parceiro, PwC.
Para mais informações, acesse worldpressphoto.org ou nos siga no Facebook, Instagram, Twitter e YouTube.

Darzé com Anderson AC. e Carlos Vergara

01/nov

 

No dia 08 de novembro, às 20 horas, a Paulo Darzé Galeria, Salvador, Bahia, inaugura um novo espaço expositivo, ampliando sua sede com um terceiro andar. Este andar inicia as suas atividades com uma mostra do artista baiano Anderson AC., um dos novos nomes da arte brasileira contemporânea, artista que em seu trabalho utiliza de diversas linguagens como a pintura, o grafite, a colagem, a arte postal, o vídeo, a fotografia digital, a literatura, o uso de imagens e documentos familiares, vestígios, deslocamentos, documentos, relatos e imagens, memórias e registros pelos quais se desdobra numa constante intervenção artística para a criação das composições estéticas que servem de suporte para seus trabalhos, onde cria, desenha, cola, pinta, fotografa, interfere; onde questiona e discute processos, como um espaço de concepção, reflexão e desenvolvimento destas ideias; onde revela um conceito elaborado de vivência através da memória e da sobreposição de linguagens artísticas, na qual o caráter itinerante do processo de documentação dos fatos cotidianos cria o espaço de experimentação através de um diálogo entre arte e vida, de um cotidiano transformado em arte.

A exposição tem textos de Marcelo Rezende e de Thais Darzé. Para o crítico, Anderson AC., “ainda que elementos de sua pesquisa artística de mais de uma década estejam presentes de forma evidente (os códigos visuais da arte do grafitti, a cultural africana em Salvador como matriz e toda a simbologia religiosa e social), “Alvorada” é, a um só tempo, um prosseguimento e uma radical atitude de rompimento em e com a trajetória do artista: o que vemos não são pinturas – em seu sentido mais elementar – , mas um outro objeto, algo que pede uma outra definição, uma outra categoria na qual as imagens pintadas são apenas uma camada inicial em nome do próprio entendimento da obra: no lugar da pintura, um objeto pictórico, ativo, em permanente ação diante de suas próprias circunstâncias”.

Para Thais Darzé, curadora da mostra, “Essa série tem uma ideia de superação dessas dores, mazelas e holocaustos históricos, constituídos através dos processos de colonização e escravização de povos africanos. Se, nas pinturas anteriores, o rasgo tinha o papel de denunciar e deflagrar, agora as tessituras têm a função de curar, superar e transformar essas feridas históricas, não apenas ligadas à sua realidade pessoal, mas de todo um histórico imposto ao povo negro. É tempo de seguir em frente, é “Alvorada”, o primeiro raio da manhã”.

 

Exposição de Carlos Vergara

No espaço do primeiro andar, a Paulo Darzé Galeria, também no dia 08 de novembro, às 20 horas, apresenta a mostra Pinturas Recentes de Carlos Vergara, um dos maiores nomes da arte brasileira contemporânea, com a exposição Pinturas Recentes.

Para o crítico Felipe Scovino, na apresentação da mostra, Carlos Vergara traz “uma história que é escrita por imagens e objetos ao invés da escrita. Que guarda lembranças e sentidos de um território. São camadas de visualidade que se sobrepõem e se misturam continuamente. Especialmente suas pinturas mais recentes revelam uma associação peculiar entre pigmento – a origem da cor ou a ligação mais primária entre pintura e natureza – e terra. A densidade própria do pigmento ou do pó de mármore trazem uma memória da natureza. Não se trata de ilustração de algo, mas uma “liberdade de improviso, movida pelo desejo de explorar acontecimentos poéticos inesperados”. É peculiar esse balanço que Vergara constrói entre o que chamaria de uma magia do imprevisto e a objetividade de um pensamento de pintor. Eis a força dessas obras: sua capacidade de se mover por entre esses limites e permanentemente questionar as adversidades do mundo”.

 

Sobre o artista

Carlos Vergara nasceu no Rio Grande do Sul, em 1941, e mora no Rio de Janeiro. Com uma extensa e intensa trajetória, participou de quatro edições da Bienal de São Paulo (1963, 1967 (Prêmio Itamaraty), 1969 (ano em que participa também da Bienal de Medellín) e 1989, e representou o Brasil na Bienal de Veneza, em 1980. Integrou mostras divisoras na história da arte brasileira como “Opinião 65” no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, e “Propostas 65”, na Fundação Armando Álvares Penteado, em São Paulo. Na sua trajetória, Vergara foi aluno e assistente de Iberê Camargo, e está na pintura o seu maior processo artístico, apesar dos projetos conjuntos com a arquitetura, a realização de cenários e figurinos, a criação de esculturas como resultado de experiências com papelão de embalagem, e obras realizadas com materiais industriais, fruto do seu interesse em investigar as relações entre arte e indústria, neste segmento estando desenhos e objetos moldados em poliestireno.

As mostras “Alvorada” de Anderson AC., e “Pinturas Recentes, de Carlos Vergara ficam na Paulo Darzé Galeria, Rua Chrysippo de Aguiar, 08, Corredor da Vitória, Salvador, em temporada até o dia 10 de dezembro.

Visita Guiada

05/ago

Zéh Palito na Simões de Assis, SP

30/mar

 

 

A exposição “Eu sei por que o pássaro canta na gaiola” é a primeira individual do artista visual Zéh Palito (1986, Limeira), em São Paulo, realizada na Simões de Assis, Jardins, São Paulo SP. Introduzido à prática artística por meio do graffiti/pixação, teve ainda jovem aulas de pintura, por estímulo de sua mãe, após um acidente andando de skate. Posteriormente, viria a estudar Design Gráfico e Belas Artes, formação essa que lhe deu a oportunidade de viajar o mundo e exibir suas obras em mais de 30 países.

O primeiro verso do poema “Sympathy”, de 1893, publicado por Paul Laurence Dunbar (1872, Dayton – 1906, Dayton) – primeiro poeta afro-americano a ter destaque nos Estados Unidos e Inglaterra -, expressa, em tom sombrio, a situação dos negros na sociedade americana do final do século XIX e faz uma alusão à falta de plenitude. Tal poema inspirou o título da primeira autobiografia da poeta afro-americana Maya Angelou (1928, St. Louis – 2014, Winston-Salem) na qual retrata parte de sua infância difícil vivida em uma cidade sulista nos anos 30 e 40 durante o período da segregação. Por consequência, também inspirou o título desta exposição.

Nas pinturas apresentadas vemos representações de pessoas negras em poses altivas, com roupas elegantes, com logotipos de marcas conhecidas, em locais triviais como praias, piscinas, em frente a automóveis ou mesmo em fundo e de forma bastante positiva, trazendo aos retratados humanidade. Zéh nos confronta com pinturas-exaltação, pessoas plenas, autoconfiantes e resolvidas, imagens positivas, em contraste com as imagens criadas nos últimos séculos, nas quais a população negra majoritariamente era representada em situações que corroboram o trauma da colonização.

Em uma das telas da mostra está representado um casal na praia, tendo o rapaz estampados em sua sunga dois botos-cinzas, símbolo da cidade do Rio de Janeiro. Outros elementos que remetem à capital carioca – local onde ocorreu o maior aporte de pessoas negras escravizadas na história da humanidade -, são o popular biscoito de polvilho Globo e a canga com o desenho da bandeira nacional, mas nas cores verde, rosa e branco. A flâmula é semelhante àquela que apareceu no desfile campeão do carnaval carioca de 2019 da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, cujo o lema positivista francês “ordem e progresso” foi substituído por “índios, negros e pobres”. Tal samba enredo do carnavalesco Leandro Vieira (1983, Rio de Janeiro) homenageou figuras populares brasileiras importantes, porém ainda não reconhecidas pela narrativa hegemônica como Carolina Maria de Jesus (1914, Sacramento – 1977, São Paulo) e Marielle Franco (1979-2018, Rio de Janeiro).

Em ação semelhante, o artista utilizou-se de nomes ainda pouco citados nos livros de história e na academia como títulos de suas obras. Temos homenageadas Maria Firmina dos Reis (1822, São Luís – 1903, Guimarães) escritora, compositora e abolicionista, considerada a primeira romancista brasileira, representada violentamente por anos como uma mulher branca; e Laudelina dos Santos Mello (1904, Poços de Caldas – 1991, Campinas) pioneira na luta pelo direito dos trabalhadores domésticos no Brasil, militante da Frente Negra Brasileira e participante do Teatro Experimental do Negro (TEN), iniciativa do artista plástico, ativista, escritor, dramaturgo, ator, diretor de teatro, poeta, jornalista e professor universitário Abdias Nascimento (1914, Franca – 2011, Rio de Janeiro). A tela intitulada Leide Maria (1961, Ivaiporã), trabalhadora do lar e artesã, é uma homenagem à mãe do artista, que colaborou em outra pintura intitulada “Nosso Sonho” com a feitura de fuxicos de tecidos encerados coletados por Zéh nas suas viagens pelo continente africano como voluntário de projetos humanitários. Outro familiar homenageado é seu pai, Marcel Francisco (1962, Limeira), soldador automotivo aposentado. Na tela “O vaso de Marcel”, um rapaz em traje estampado com motivos de pássaros, referência aos cut-outs de Matisse, segura um vaso com flores semelhantes a bougainvilles.

Frequentes nas pinturas são as representações de frutas como cocos, melancias, bananas, abacaxis, mamões e plantas como helicônias, palmeiras e flores que remetem à tropicalidade. Elas aparecem junto às figuras humanas, ora adornando, ora como temas de estampas – porém, não menos dedicadas, muitas vezes ocupam posição central na composição. Informação relevante é o fato de o artista manter com seus pais, em paralelo ao ateliê de pintura, um jardim/pomar com plantio de diversas espécies, como por exemplo bananeiras (próximas a um muro rosa), bananas rosas (ornamentais) semelhantes às estampas do trajes de banho das moças na tela “Ubatuba ou Guarujá”, mangueiras, mamoeiros e bougainvilles.

Tais representações de frutas têm, na história da arte brasileira, um lugar importante, valendo lembrar de um dos primeiros pintores negros a ingressar na Academia Imperial de Belas Artes, o premiado Estevão Roberto da Silva (c.1844-1891, Rio de Janeiro), reconhecido por suas natureza-mortas. Há uma tela, em especial, intitulada “Garoto com Melancia”, de 1889 e hoje pertencente ao acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo, na qual um jovem negro aparece sorridente, sozinho, desfrutando da fruta diaspórica, originária do continente africano. Ela se relaciona com a pintura “Odin ordene o vento”, na qual um rapaz aparece próximo à mesma fruta, degustando um picolé e estampando em sua roupa a rosa-dos-ventos da Estrela (tradicional e elitista fábrica de brinquedos brasileira), além de estar rodeado de brinquedos populares como bolinha de gude, pipa e estilingue.

Ainda na mesma pintura, podemos identificar diferentes tons de preto na pele do rapaz, além da cor ocre que cria efeito de douramento. Os olhos do personagem parecem flutuar em um fundo negro, relacionando-se à prática do afro-americano Kerry James Marshall (1955, Birmingham), que produziu nos anos 80 pinturas tonais pretas ligadas à temática do homem invisível, nas quais, à primeira vista, só são identificados os olhos e dentes. Depois, porém, com uma análise mais atenciosa, era possível observar as variações da cor preta nas definições do corpo. Essa é uma provocação à inviabilização dos sujeitos e da produção cultural negra. Ironicamente, uma dessas telas ficou por mais de 25 anos no banheiro da casa de um colecionador, e agora é uma das obras fundamentais da pintura ocidental.

As obras dessa exposição, apesar de bastante coloridas – evocando alegria -, carregam aspectos políticos pertinentes e também falam de traumas, dores. Talvez, o pássaro enjaulado que canta seja uma metáfora do momento em que estamos, no qual perdura uma pandemia ainda fatal, guerras, governos autoritários alinhados à necropolítica, privação de direitos básicos. E, mesmo assim, seguimos nossas vidas. Ou esse mesmo pássaro de viver restrito já não se lembra, ou até nunca gozou de sua plenitude, alienado.

Ademar Britto Jr