Relembrando Douchez-Nicola no mam

06/dez

 

 

Reflexos - Norberto - Nicola

 

Os pássaros de fogo levantarão voo novamente. As formas tecidas de Jacques Douchez e Norberto Nicola. A tridimensionalidade une novamente os artistas Jacques Douchez (Macôn – França, 1921 – São Paulo, 2012) e Norberto Nicola (São Paulo, 1931 – São Paulo, 2007) em “Os pássaros de fogo levantarão voo novamente”. As formas tecidas de Jacques Douchez e Norberto Nicola, em cartaz a partir do dia 16 de dezembro no Museu de Arte Moderna de São Paulo, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP. Estreando oficialmente como curador, assume vivid astro focus / avaf propõe uma reaproximação póstuma entre os artistas. Além disso, a exposição lança luz sobre importantes sucessores do movimento modernista.

 

A partir de um conjunto de 26 obras em tapeçaria, 13 de cada artista, é possível um resgate dos laços profissionais e afetivos entre Douchez e Nicola, amigos que tiveram um atelier juntos entre 1959 e 1980, mas não expuseram mais em conjunto após desfazerem a sociedade. Uma das propostas da mostra é traduzir essa conexão ao criar uma união emocional e física dos trabalhos de ambos.

 

Em “Os pássaros de fogo levantarão voo novamente”, as formas tecidas de Jacques Douchez e Norberto Nicola, o mam amplia as reflexões em relação ao movimento modernista e evidencia, dessa vez, os artistas que vieram depois dele. “Dando continuidade às reflexões que promoveu ao longo do ano de 2021 sobre o centenário da Semana de Arte Moderna de São Paulo de 1922, o mam desdobra sua programação agora discutindo artistas das gerações seguintes que tiveram atuações significativas. O espaço concebido para a mostra traz espelhos e cores que rompem com o tradicional cubo branco e reinventam o ambiente expositivo”, comenta Cauê Alves, curador da instituição.

 

Curadoria: assume vivid astro focus / avaf

 

Sobre os artistas

 

Jacques Douchez (Macôn, França 1921 – São Paulo, 2012) e Norberto Nicola (São Paulo, 1931 – São Paulo, 2007) integraram nos anos 1950 o Atelier-Abstração, de Samson Flexor (1907 – 1971). O artista romeno, inclusive, influenciou os trabalhos dos dois, com seus ideais estéticos e vanguardistas. Em 1959, criaram juntos o Atelier Douchez-Nicola que mantinha a individualidade e a liberdade criativa de cada um. Nicola realizava obras lírico-oníricas e selváticas, e Douchez produzia obras austeras e ascéticas. O encerramento das atividades do Atelier aconteceu em 1978, sem que fizessem uma exposição juntos.

 

Sobre assume vivid astro focus

 

assume vivid astro focus / avaf é um coletivo de artistas fundado em 2001. avaf pode assumir diferentes formações dependendo dos diferentes projetos em que estão envolvidos. avaf trabalha em uma vasta gama de mídias, incluindo instalações, pintura, tapeçaria, néon, papel de parede, música, etc. Com frequência confronta arraigados códigos culturais, questões de gênero e política através de uma superabundância de cores e formas. O pseudônimo é parte fundamental no seu processo de trabalhar “coletivamente”: O intuito central de seus projetos é sempre a criação de um Gesamtkunstwerk (“obra total de arte”) onde o espectador se torna um com trabalho de arte. Ser inclusivo é peça chave para a realização de suas obras – avaf usa a cor como linguagem universal com a intenção de garantir a participação e entrega do espectador. O público sempre é centerpiece em todos seus projetos.

 

De 16 de dezembro a 13 de março de 2022.

 

Legenda da obra em destaque: Norberto Nicola, detalhe da obra “Reflexos”, 1986/1987. Lã em tear manual, fibras vegetais e pigmentos, 240 × 140 cm. Coleção Ana Rosa da Silva. Foto: João Musa.

 

 

Um jardim imaginário

03/set

 

O Museu de Arte do Rio Grande do Sul, MARGS, instituição vinculada à Secretaria de Estado da Cultura do RS, Sedac, exibe a partir do dia 04 de setembro, a exposição inédita “Yeddo Titze – Meu jardim imaginário”.

A mostra tem por objetivo prestar uma homenagem ao professor e artista gaúcho falecido em 2016, aos 81 anos. Com curadoria de Paulo Gomes e Carolina Grippa, “Yeddo Titze – Meu jardim imaginário” tem lugar na Galeria Iberê Camargo e na sala Oscar Boeira, no segundo andar do Museu, e seguirá em exibição até 28 de novembro.

Apresentando mais de 40 obras desde a década de 1950 até 2010, “Meu jardim imaginário” contempla a trajetória de Yeddo Titze (1935-2016) desde o início da sua formação até seus últimos anos de produção. Com ênfase na temática de jardins, flores e paisagens, destaca uma série de tapeçarias e pinturas, produzidas em diversas técnicas.

A exposição traz a público obras dos acervos do MARGS, da Pinacoteca Aldo Locatelli da Prefeitura de Porto Alegre e da Pinacoteca Barão de Santo Ângelo da UFRGS, que são agora pela primeira vez reunidas e exibidas. Trata-se de um conjunto de peças adquiridas recentemente pelos acervos, por meio de doação da família do artista, ao qual se somam obras já anteriormente pertencentes às coleções das instituições.

No texto curatorial, os curadores Paulo Gomes e Carolina Grippa escrevem:

“Yeddo Titze é um nome que, quando citado, lembra antes a sua atuação como professor na UFSM e na UFRGS. Em Santa Maria, instalou o primeiro curso de tapeçaria em uma universidade federal, divulgando o suporte têxtil em toda sua potencialidade artística; e, em Porto Alegre, dedicou-se ao ensino da pintura. Mas e o artista? (…) A maioria dos trabalhos, agora expostos, nunca foi vista pelo público, sendo este um gesto de reconhecimento da importância do artista para a arte sul-rio-grandense e um convite à aproximação entre os seus públicos e a sua poética.”

“Yeddo Titze – Meu jardim imaginário” integra o programa expositivo do MARGS intitulado “Histórias ausentes”, voltado a projetos de resgate, memória e revisão histórica. Com o programa, procura-se conferir visibilidade e legibilidade a manifestações e narrativas artísticas, destacando trajetórias, atuações e produções artísticas, em especial aquelas inviabilizadas no sistema da arte e/ou pelos discursos dominantes da historiografia oficial. Assim, a presente exposição dá prosseguimento ao programa “Histórias ausentes”, que estreou com a mostra “Otacílio Camilo – Estética da rebeldia”.

Nas palavras do diretor-curador do MARGS, Francisco Dalcol: 

“Esta exposição presta uma homenagem ao mestre e artista Yeddo Titze, tendo por objetivo oferecer um justo e necessário resgate em sua memória. Assim, com essa união de esforços entre as instituições, a intenção é também valorizarmos as políticas de aquisição de nossos acervos públicos, celebrando esta importante doação da família em seu conjunto e conferindo a devida e necessária solenidade ao gesto.”

Desde sua reabertura, em 11.05.2021, o MARGS mantém uma série de medidas sanitárias e de regras de acesso para garantir uma visita segura e que ofereça uma experiência que possa ser aproveitada da melhor maneira: controle de fluxo de entrada e quantidade de público, uso obrigatório de máscara, medição de temperatura e respeito à distância de 2m.

TEXTO CURATORIAL

Yeddo Titze – Meu jardim imaginário

“Quando acordo pela manhã, abro minha janela e através de uma leve cortina vejo o meu jardim imaginário. Ele está bem próximo de mim, oferecendo-me suas folhas e flores, que pelo visto tentam dialogar comigo, transmitindo-me uma mensagem”. Yeddo Titze, março 2004

Yeddo Titze (1935 – 2016) é um nome que, quando citado, lembra antes a sua atuação como professor na UFSM e na UFRGS. Em Santa Maria, instalou o primeiro curso de tapeçaria em uma universidade federal, divulgando o suporte têxtil em toda sua potencialidade artística; e, em Porto Alegre, dedicou-se ao ensino da pintura. Mas e o artista? Essa exposição, inserida no programa “Histórias ausentes” do MARGS, tem como objetivo destacar o Yeddo artista, mostrando um recorte de sua produção, desde a década de 1950, enquanto aluno no Instituto de Artes, até o ano de 2010, próximo ao seu falecimento. A mostra é uma ação conjunta de três instituições públicas de Porto Alegre, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli, a Pinacoteca Barão de Santo Ângelo (Instituto de Artes, UFRGS) e a Pinacoteca Aldo Locatelli (Prefeitura de Porto Alegre), que já possuíam obras do artista, mas que receberam recentemente importantes doações de trabalhos e documentos.

As flores, as paisagens e as cores são elementos distintivos na produção de Yeddo Titze, que perpassam as diversas técnicas e os gêneros que ele praticou. A maioria dos trabalhos, agora expostos, nunca foi vista pelo público, sendo este um gesto de reconhecimento da importância do artista para a arte sul-rio-grandense e um convite à aproximação entre os seus públicos e a sua poética.

Paulo Gomes e Carolina Grippa 

Sobre o artista

Yeddo Nogueira Titze nasceu em 10 de janeiro de 1935, em Santana do Livramento, RS, filho de Roberto Titze e de Desideria Nogueira Titze. Em 1955, matriculou-se no Curso de Artes Plásticas no Instituto de Belas Artes de Porto Alegre, sendo diplomado em 1960. Entre 1960 e 1962, foi bolsista do governo francês em Paris, estudando pintura no ateliê de André Lhote e na École Nationale Superieure des Arts Decóratifs, onde foi aluno de Marcel Gromaire. Após essa temporada em Paris, mudou-se para Florença, onde estudou na Academia de Belas Artes. Ao retornar ao Brasil, recebeu o Prêmio de Pintura no 9º Salão de Artes Plásticas do Instituto de Belas Artes (1962) e, em seguida, foi contratado como professor para a Faculdade de Belas Artes, na recém-criada Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Um dos primeiros professores do curso, Yeddo foi o responsável por implementar a disciplina de Arte Decorativa, baseando-se nas experiências adquiridas no Instituto de Belas Artes e na École de Paris. Retornou à França entre 1968 e 1969, para estudar tapeçaria em Aubusson. Após o período lecionando em Santa Maria, transferiu-se para o Rio de Janeiro e, depois, para Brasília. Nesta cidade, entre 1976 a 1979, foi o responsável pelo Setor de Artes Plásticas na Funarte e também coordenador da Galeria Oswaldo Goeldi. Após essa temporada, retornou ao Rio Grande do Sul, atuando como professor na UFSM e, após, no Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde permaneceu até a sua aposentadoria, em 1993.  Em 2011, recebeu foi homenageado com Destaque Especial do Prêmio Açorianos, da Prefeitura de Porto Alegre, e no mesmo ano teve sua obra reconhecida e homenageada em uma mostra na Sala Angelita Stefani na Universidade Franciscana (UNIFRA), em Santa Maria. Faleceu em Porto Alegre, em 2016.

Homenagem ao mestre e artista

Considerado um importante representante da geração moderna das artes visuais do Rio Grande do Sul no século 20, Yeddo Titze morreu em 2016, aos 81 anos, após ser vítima da fatalidade de um atropelamento em Porto Alegre. Notabilizou-se sobretudo como professor, tendo uma trajetória que o consagrou em nossa história da arte como um dos pioneiros da tapeçaria, uma referência da arte têxtil, tendo por isto obtido reconhecimento nacional e mesmo internacional. Mas Yeddo foi mais do que tapeceiro. Dedicou boa parte de sua produção à pintura, sendo apontado como um dos primeiros a explorar ou flertar com a abstração no Rio Grande do Sul ao lado de artistas como Rubens Cabral, Nelson Wiegert e Carlos Petrucci. Era um passo ousado, uma vez que a pintura abstrata foi repelida pelo então cenário conservador do Estado, que via nela a invasão de uma tendência internacional descomprometida politicamente e capaz de corromper os valores da arte figurativa vigente e de viés regionalista. “Yeddo Titze – Meu jardim imaginário” presta uma homenagem ao mestre e artista, tendo por objetivo oferecer um justo e necessário resgate em sua memória. A exposição traz a público obras dos acervos do MARGS, da Pinacoteca Aldo Locatelli da Prefeitura de Porto Alegre e da Pinacoteca Barão de Santo Ângelo da UFRGS, que são agora pela primeira vez reunidas e exibidas. Trata-se de um conjunto de peças adquiridas recentemente pelos acervos, por meio de doação da família do artista, ao qual se somam obras já anteriormente pertencentes às coleções das instituições. Assim, com essa união de esforços, a intenção é também valorizarmos as políticas de aquisição de nossos acervos públicos, celebrando esta importante doação em seu conjunto e conferindo a devida e necessária solenidade ao gesto. “Yeddo Titze – Meu jardim imaginário” integra o programa expositivo do MARGS intitulado “Histórias ausentes”, voltado a projetos de resgate, memória e revisão histórica. Com o programa, procura-se conferir visibilidade e legibilidade a manifestações e narrativas artísticas, destacando trajetórias, atuações e produções artísticas, em especial aquelas inviabilizadas no sistema da arte e/ou pelos discursos dominantes da historiografia oficial. Assim, a presente exposição dá prosseguimento ao programa “Histórias ausentes”, que estreou com a mostra “Otacílio Camilo – Estética da rebeldia” (2019).

Francisco Dalcol – Diretor-curador do MARGS

Sobre os curadores

Paulo Gomes 

Professor Associado no Bacharelado em História da Arte na UFRGS e no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da mesma instituição. Historiador, curador e crítico de arte. Atua como membro do Comitê de Acervo da Pinacoteca Aldo Locatelli (PMPA) e do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS) e coordena a Pinacoteca Barão de Santo Ângelo (Instituto de Artes/UFRGS). É membro das seguintes instituições: AICA – Associação Internacional de Críticos de Arte, ABCA – Associação Brasileira de Críticos de Arte, CBHA – Comitê Brasileiro de História da Arte e da ANPAP – Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas. Dentre suas publicações, destacam-se: “MARGS 50 anos” (2005), “Artes plásticas no Rio Grande do Sul: uma panorâmica” (2007), “Pedro Weingärtner: obra gráfica” (2008), “100 anos de artes plásticas no Instituto de Artes da UFRGS” (2012), “Pinacoteca Barão de Santo Ângelo: catálogo geral 1910-2014” (2015), “Zoravia Bettiol: o lírico e o onírico” (2016), com Paula Ramos.

Carolina Bouvie Grippa

Mestra em História, Teoria e Crítica de Arte (UFRGS), bacharela em História da Arte (UFRGS) e em Moda (Universidade Feevale). Desde 2017, pesquisa sobre tapeçaria brasileira, com foco na produção do Rio Grande do Sul. Desenvolve trabalhos em curadoria, como as mostras que realizou juntamente com Caroline Hädrich: “Influências da arte pop em acervos de Poa”, no MARGS (2018), pela qual receberam o Prêmio Açorianos 2019 na categoria “Difusão de acervos”; e “Os quatro – Grupo de Bagé”, na Fundação Iberê Camargo (2019). Também atua na produção cultural, sendo produtora da 12° e 13° Bienal do Mercosul.

Live com curadores/ Fundação Iberê

22/abr

 

Live na fundação Iberê Camargo

 

No próximo sábado (25), às 11h, a Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, faz live no Instagram com Denise Mattar, curadora da próxima exposição “O Fio de Ariadne”. O bate-papo será conduzido por Gustavo Possamai, responsável pelo acervo da Fundação e co-curador da mostra. Até julho, estão previstas lives quinzenais sobre outros temas abordados no catálogo da exposição pelas professoras Blanca Brites, Maria Amelia Bulhões, Paula Ramos e Andrea Giunta.

 

Neste sábado, Denise abordará a produção de tapeçarias na arte ocidental desde suas origens até a contemporaneidade, com atenção especial às realizadas pelo Artesanato Guanabara, ateliê do Rio de Janeiro que produziu as de Iberê Camargo.

 

A primeira tapeçaria de Iberê foi confeccionada em 1975 e hoje integra a coleção Roberto Marinho. Outra, que chegou recentemente de Portugal para a exposição, decorava o consultório da Clínica Odontológica De Luca, no Rio de Janeiro, da qual Iberê foi cliente.Também participa da mostra a tapeçaria que reproduz um dos estudos para o painel monumental de 49 metros quadrados realizado por Iberê para a sede da Organização Mundial da Saúde, em Genebra.

 

Exposição inédita – Durante as décadas de 1960 e 1970, além de sua intensa produção em pintura, desenho e gravura, Iberê Camargo realizou trabalhos em cerâmica e tapeçaria. Eles respondiam a uma demanda do circuito de arte, herdada da utopia modernista, que preconizava o conceito de síntese das artes; uma colaboração estreita entre arte, arquitetura e artesanato.

 

Com assessoria técnica das ceramistas Luiza Prado e Marianita Linck, Iberê realizou, nos anos 1960, um conjunto de pinturas em porcelana, com resultados surpreendentes. Na década seguinte selecionou um conjunto de cartões, que foram transformados por Maria Angela Magalhães em impactantes tapeçarias.

 

Há algum tempo a Fundação Iberê Camargo vinha estudando essa faceta da produção do artista e a oportunidade de apresentá-la surgiu paralelamente à realização, pela primeira vez nas dependências da instituição, da Bienal do Mercosul. A conjuntura feminina que permeou a produção dessas tapeçarias e cerâmicas revelou grande afinidade com o conceito geral da 12ª edição.

 

Convidada pelo centro cultural a desenvolver esse projeto, a curadora Denise Mattar, juntamente com Gustavo Possamai, expandiu essa percepção inicial, revelando o fio de Ariadne: a urdidura feminina que apoiou o trabalho de Iberê Camargo ao longo de sua história.

 

Prevista para abril de 2020, a abertura da exposição foi adiada por tempo indeterminado em colaboração às medidas de controle da propagação do novo Coronavírus (Covid-19).

 

Homenagem à Bahia 

02/maio

Como parte das comemorações dos seus 15 anos, o Museu Afro Brasil, abre no dia 07 de maio, as exposições “A cidade da Bahia, das baianas e dos baianos também” e “Aberto pela Aduana – Livro de Artista de Eustáquio Neves”, ambas com curadoria de Emanoel Araújo.

 
“Essa exposição (sobre a Bahia) fala de alguns fatos e pessoas, sobretudo dos artistas, dos homens e das mulheres. Mulheres que fizeram da Bahia essa mágica, inusitada e preciosa cidade, de todos os santos, de muita sensualidade e de pouco pudor, que se esvai pelas ladeiras e ruas sinuosas”, declara Emanoel Araújo.

O núcleo central da mostra é composto pelo modernismo baiano, representado por uma robusta seleção de telas de Carlos Bastos (1925 – 2004), tapeçarias de Genaro de Carvalho (Salvador, Bahia, 1926 – 1971), esculturas em ferro ou “ferramentas de santo”, ligadas à religiosidade afro-brasileira, de José Adário dos Santos (1947), esculturas e gravuras de Rubem Valentim (1922 – 1991), além de jóias de Waldeloir Rego (1930 – 2001).
A representação da baiana está presente na escultura de Noêmia Mourão, nos vestidos de renda Richelieu, além de dezenas de bonecas de cerâmica, madeira e louça. Carmen Miranda, a “pequena notável” que celebrizou a figura da baiana mundo afora, é também homenageada com a exibição de fotografias de revistas, iconografia em porcelana esmaltada, além de um vestido original. A seção inclui ainda fotografias de outras baianas ilustres como Marta Rocha (1936), Miss Brasil em 1954, e Helena Ignez, musa do Cinema Novo.

 
Fotografias e pinturas de personalidades baianas do século XX como o escritor Jorge Amado (1912 – 2001), o compositor Dorival Caymmi, aqui homenageado em painel da artista Regina Silveira, Mãe Menininha do Gantois (1894 – 1986), entre outros, se somam aos bustos em gesso patinado dos alfaiates João de Deus do Nascimento e Luiz Gonzaga das Virgens, e dos soldados Lucas Dantas Amorim Torres e Manoel Faustino dos Santos Lira, realizadas em 2004 pelo artista Herbert Magalhães. Estes são heróis da Revolta dos Alfaiates, também conhecida como Conjuração Baiana ou, ainda, Inconfidência Baiana, revolta social de caráter popular ocorrida em 1798, inspirada pelo ideário da Revolução Francesa.

 
A expressão baiana da arte barroca, que no Brasil diferenciou-se da matriz europeia, não poderia ficar de fora da curadoria. Emanoel Araújo reúne nessa seção fotografias de Silvio Robatto, Davi Glatt, óleos sobre tela de pintores baianos do século XVIII como Joaquim da Rocha (1737 – 1807), Teófilo de Jesus (1758 – 1847) e Veríssimo de Freitas (1758 – 1806), azulejaria, livros e revistas, além de um extenso panorama da cidade de Salvador feito por Floro Freire. A exposição conta ainda com um conjunto de fotografias de Mário Cravo Neto e aquarelas do século XIX da artista inglesa Maria Graham (1785 – 1842), retratando o cotidiano das baianas de Salvador.

“A cidade da Bahia, das baianas e dos baianos também” reserva ao público a projeção de filmes ligados ao imaginário baiano como: “Barravento” (1962), dirigido por Glauber Rocha; “Bahia de Todos os Santos” (1960), com direção de Trigueirinho Neto, além da série de documentários do projeto “Centenário de Alexandre Robatto Filho – Pioneiro do Cinema na Bahia”, que conta com os filmes “Entre o Mar e o Tendal” (1952-1953), “Xaréu” (1954), “Vadiação” (1954), Igreja” (1960), “Desfile dos 4 séculos” (1949), “O Regresso de Marta Rocha” (1955), “Um Milhão de KVA” (1949), “A Marcha das Boiadas” (1949), “Ginkana em Salvador” (1952), e “Os Filmes que Eu Não Fiz” (2013).

 

Paralelamente a abertura da exposição “A cidade da Bahia, das baianas e dos baianos também”, o Museu Afro Brasil apresenta “Aberto pela aduana – Livro de Artista de Eustáquio Neves”, a primeira exposição individual do premiado fotógrafo e artista multimídia mineiro em São Paulo desde 2015, quando exibiu “Cartas ao Mar”, também no Museu Afro Brasil.
“Aberto pela Aduana”, além de ser o título da exposição, é o nome da principal obra da mostra, o “Livro de Artista de Eustáquio Neves”, produzido a partir da manipulação de materiais de arquivo do fotógrafo, desenhos, colagens entre outras técnicas. Apesar de ter uma estrutura geral semelhante a um livro, a obra é na verdade um objeto de arte que fala por si próprio. Segundo Eustáquio, o nome “Aberto pela Aduana” foi escolhido para estimular a discussão em torno das múltiplas violações do corpo negro, desde o tráfego negreiro aos dias atuais.

 
Aduana, vale lembrar, é o nome dado a repartição governamental de controle do movimento de entradas (importações) e saídas (exportações) de mercadorias para o exterior ou dele provenientes. E é justamente neste ponto que as relações envolvendo a objetificação de milhares de corpos negros durante o tráfico atlântico e, na contemporaneidade, com os estratosféricos números de mortes por causas violentas de jovens negros em todo o território nacional, são traçadas. Entre as obras apresentadas ao público pela primeira vez, além do próprio “Livro de Artista”, estão trabalhos da emblemática série “Máscara de Punição”, formada por imagens construídas a partir da apropriação de um retrato da mãe do artista mesclado a uma foto de uma máscara de ferro. Compõe a mostra obras da emblemática série “Encomendador de Almas”, de 2006.

 
Nas palavras de Emanoel Araujo, curador da exposição, “a fotografia encontra em Eustáquio Neves um homem devoto dos dramas que envolveram e envolvem um passado atormentado e atormentador da nossa história. História de um povo que foi conduzido ao degredo humano e de tamanha força que não se apaga, não sai da nossa alma. (…) Por certo o seu desempenho de grande artista manipulador dessas imagens comove, penetra, sangra e une passado e presente”.

 

 

“O Universo de Emanoel Araujo, Vida e Obra”

 

Juntamente com a abertura das exposições ocorrerá o lançamento do livro “O Universo de Emanoel Araujo, Vida e Obra”, da Capella Editorial. Com imagens de cartazes, livros, xilogravuras, esculturas em aço, madeira, concreto, fibra de vidro; máscaras, painéis em mármore, concreto e granito; gravuras, totens, relevos, estruturas, biombos, além de textos, entrevistas e pensamentos de Emanoel Araujo, também curador e diretor do Museu Afro Brasil, a obra eterniza o trabalho do artista, cuja produção convida à reflexão sobre a sociedade brasileira – ainda violenta, racista, desigual e injusta. Mais que um livro de arte é um registro histórico da cultura brasileira.

 

 

De 07 de maio a 1º de setembro.

Exposição de Nelson Leirner

14/mar

A Galeria Silvia Cintra + Box 4, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, abre seu calendário de 2018 com “A  Nova Revolução Industrial”,  exposição individual de Nelson Leirner. Com curadoria de Lilia Schwarcz, a exposição apresentará ao público nove tapeçarias que foram produzidas manualmente, reproduzindo os projetos do artista, por um grupo de tecelões durante o último ano.

 

A “nova revolução” proposta por Leirner é na realidade uma volta no tempo, quando o mundo não estava dominado pelas máquinas da revolução industrial, e nem pela tecnologia que recentemente inundou nossas vidas, mudando inclusive a forma como nos relacionamos com o tempo. E é exatamente a essa forma de produção artística que Leirner tem se dedicado: o artesanal.

 

As tapeçarias que já foram moda, e atualmente são vistas como algo kitsch, ganham no universo de Leirner uma graça que lhe é peculiar. Uma natureza-morta bordada ganha a companhia de frutas de plástico, partituras em preto e branco saem do papel para virarem um grande tapete, assim como as teclas de um piano. Mas o grande homenageado da exposição é o italiano Alighiero Boetti e seus “Maps of the world”, também uma série de bordados onde o artista suprimia países, alterava fronteiras e criticava todo tipo de jogo político. Desta vez é com ele que Leirner dialoga criando novas versões para o mapa mundi e aguçando e atualizando as tensões e ironias que já eram presentes na obra do italiano. Nas obras da mostra, o mundo aparece ora como um quebra cabeça, ora se desfazendo em fios, com o oriente refletindo o ocidente e também com novas representações territoriais. Todo o processo de feitura das obras também vai estar presente na exposição. Uma vitrine no centro da galeria abrigará as lãs e agulhas usadas pelos artesãos e também uma série de fotos deles trabalhando durante as várias etapas do projeto.

 

É desta forma que Leirner pretende fazer um convite ao espectador para se rebelar contra a aceleração em que estamos vivendo. Ver essas tapeçarias é compartilhar de um tempo bem gasto e pensar no significado simbólico do trabalho manual. Perder tempo também pode ser ganhar.

 

 

 

 

De 17 de março a 21 de abril.

Eva Soban em Joinville

09/nov

O Museu de Arte de Joinville, SC, inaugura a exposição “Por um Fio” da artista visual Eva Soban, onde diversas obras tentam retratar a realidade cruel a qual devemos nos atentar e buscar meios para alterá-la. Em um cenário global onde o mote principal são conflitos, guerras, terrorismo, refugiados, bombardeios, ataque e contra-ataque, ganância, e pouco ou quase nenhum comprometimento com o mundo ou com o próximo, a artista opta por dar ao seu público uma possibilidade de reconstruí-lo ludicamente, através de sua instalação.

Essa obra, em construção, busca evidenciar a importância da participação de cada um nesse momento. “Estamos acostumados a apontar dedos, ao passo que não fazemos nada para contribuir com a construção de um mundo melhor”, diz Eva. Quando finalizada, “Por um Fio” será um registro da urgência da sociedade enxergar seu poder em um momento de transformação.

 

Suspenso por um cabo de aço, no centro do espaço expositivo, um globo em estrutura de ferro,com os continentes delineados com fios em uma tela plástica, representa a peça central da exposição. Diversos materiais têxteis serão disponibilizados, permitindo ao público uma interação completa e participação ativa na “construção de um novo mundo”. “O convite é que o público possa interagir com a obra, costurando, bordando ou tecendo um novo mundo, um mundo sem fronteiras”, explica Eva Soban. Complementando o cenário, fios, fibras diversas, tecidos e demais materiais, serão posicionados de forma a ficarem pendentes do teto ao chão, como uma cortina de possibilidades.

 

O momento atual é de grandes acontecimentos, mas também de reflexão, superação e reconstrução. É possível notar uma sensação de despertar coletivo, com mais pessoas indo para as ruas protestar, defender seus direitos, seu espaço na sociedade, pessoas que entendem e aceitam as diferenças. “Estamos ligados por um fio; um fio frágil e quebradiço, mas esse fio ainda traz esperança. Pois é através de momentos como esses que as mudanças ocorrem”, declara Eva Soban. “POR UM FIO” é um convite ao espectador, para que ele pare, reflita e ajude a reconstruir o mundo.

 

 

Sobre a artista

 

Graduada em sociologia e política, com cursos livres em fotografia e artes plásticas, Eva Soban tem 40 anos de experiência e vivência com arte, utilizando em seu trabalho fios, fibras, plásticos e tecidos, que ela transforma em obra com formas e texturas exclusivas. Entre as principais exposições internacionais, estão a Bienal Internacional de Arte Têxtil – 2011 – Museo Diego Rivera – México; o “Projeto Empezar”- 2010 -Barcelona – Espanha; “A View of Today’s Brazilian Textile Art”. Museu Rudentarn, 1995 – Copenhagen – Dinamarca. No Brasil, participou da SP-Arte 21016, Mostra Internacional de Arte Contemporânea – 2011- Paraty; “100 Designers do Brasil“- 1999 e “500 Anos de Design no Brasil” – 2001, ambas na Pinacoteca do Estado – SP; Exposição de Arte Lúdica MASP – 1979 – SP; 1ª, 2ª e 3ª Trienal de Tapeçaria no Museu de Arte Moderna MAM –1976, 1979, 1982 – SP. Em junho de 2015 expôs “Floresta Negra”, no Museu de Arte de Joiville. Em 2016, exibiu “Floresta Negra II” no Museu Afro Brasil, SP e da coletiva “Artistas da Tapeçaria Moderna II”, Galeria Passado Composto, SP. O manuseio com as fibras lhe garante um grande conhecimento da linguagem.

 

 

De 10 de novembro a 29 de janeiro de 2017.