Mourão na Casa França-Brasil

11/abr

 

Com curadoria de Marcus de Lontra Costa e Rafael Peixoto, a exibição individual “Lugar Geométrico”, de Raul Mourão, abriu a programação 2023 da Casa França-Brasil, Centro, Rio de Janeiro, RJ, reunindo trabalhos em diferentes escalas que exploram as relações com a arquitetura histórica do prédio a partir das dicotomias entre dentro e fora, cheio e vazio, público e íntimo, instável e estável.

Na mostra, Raul Mourão recria o ambiente de seu ateliê, com quatro esculturas cinéticas grandes, de até 5 metros de altura, além de desenhos e aproximadamente 40 maquetes de suas esculturas, entre 20 e 30 cm cada uma. O título da exposição, “Lugar Geométrico”, inspira-se em um conceito da geometria analítica para propor reflexões sobre as questões de pertencimento que atravessam a arte contemporânea, tomando as formas e linhas como ponto de partida. Para isso, a exposição traz trabalhos que exploram o movimento pendular em esculturas de ferro da série “Rebel”, com destaque para duas obras em grande escala criadas pelo artista em 2020 que ocupam o grande átrio central da Casa França-Brasil. Além disso, um dos salões laterais, apresenta maquetes e estudos de trabalhos já realizados e de séries ainda em desenvolvimento, transmitindo a sensação de uma visita ao ateliê e propondo ao público uma experimentação íntima do processo de criação do artista. “Na sala menor a curadoria optou por apresentar uma espécie de visita ao ateliê. Decidimos então reunir num mesmo espaço desenhos de diferentes técnicas e formatos, fotografias, pinturas, um vídeo e um conjunto de 36 maquetes que nunca havia sido  mostrado anteriormente. Essa montagem meio caótica, onde vários meios (por vezes antagônicos) convivem, remete ao ambiente e às experiências que vão acontecendo e se sobrepondo cotidianamente no ateliê”, diz o artista. “Em meio ao turbilhão de imagens e ideias da contemporaneidade Raul Mourão cria, constrói e ressignifica a essência construtiva na arte. Liberta de seus compromissos utópicos, a geometria se afirma como síntese de um discurso poético que acentua a atemporalidade da criação artística. Nesse encontro entre a objetividade do cálculo e a surpresa das poéticas dos movimentos pendulares, a produção de Raul Mourão dialoga de maneira impactante com a arquitetura da Casa França-Brasil e acentua a potência criativa do artista”, complementa Marcus de Lontra Costa, que divide a curadoria com Rafael Fortes Peixoto.

 

Marcando 20 anos

31/mar

No ano em que comemora seus 20 anos, A Gentil Carioca apresenta para a SP-Arte 2023 (Stand E4), uma seleção especial que traduz sua essência poética a partir nova produção dos artistas: Agrade Camíz, Aleta Valente, Ana Linnemann, Arjan Martins, Cabelo, Denilson Baniwa, Jarbas Lopes, João Modé, José Bento, Laura Lima, Marcela Cantuária, Maria Laet, Maria Nepomuceno, Maxwell Alexandre, Novíssimo Edgar, OPAVIVARÁ!, Renata Lucas, Rodrigo Torres, Vinicius Gerheim e Vivian Caccuri.

Como parte da programação VIP da SP-Arte, a exposição Maria Nepomuceno & Valentina Liernur – Condo São Paulo 2023, n’A Gentil Carioca SP, participa do evento Travessa Aberta, um circuito de visitas aos espaços de arte da Travessa Dona Paula, em Higienópolis, que acontecerá no dia 01 de abril, de 10 às 12h.

 

Metapaisagens inaugura no Paço Imperial

30/mar

 

Luiz Pizarro apresenta obras recentes inéditas, abrindo espaço para a representação do Cosmos e questionando o homem como centro do universo.

Nos trabalhos mostrados por Luiz Pizarro na individual no Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ, (de 04 de março até 28 de abril), há uma notória preocupação do artista em expressar uma visão holística sobre os elementos, tirando a figura humana do centro das atenções para dar lugar ao todo, quer seja a natureza, a organicidade ou a harmonia universal. É disso que se trata “Metapaisagens”, que ocupa uma sala de 300m² com 18 telas de grandes formatos (medindo de 1,70m a 2,25m), produzidas entre o início de 2022 e 2023 em tinta acrílica, tendo as cores como elemento fundamental, uma forte característica em suas obras. No fundo do espaço, será apresentado o “Cubo Mágico”, – ou “Cubo dos Desejos” -, onde cada visitante é convidado a escolher uma cor nos novelos disponíveis, perpassando o total das letras do seu nome por pontos dentro da instalação interativa, “mentalizando desejos”. A figura geométrica também se faz presente em cubos brancos nas próprias telas, chamados por Pizarro de cubos de cristal. Esta é sua quarta mostra no Paço Imperial, onde já expôs, além de pinturas, gravuras e trabalhos em parafina.

“Estes trabalhos foram formulados em cima do conceito da colaboração, da interligação dos elementos. Já trabalhei muito a figura humana, desde o início da minha carreira. Desta vez, quis tirar isso das telas. Nossa contemporaneidade foi gerando uma centralidade que acabou sendo egocêntrica e egóica. Em “Metapaisagens”, o planeta Terra está representado por uma bola repleta de pontinhos que são a nossa imagem. Não somos mais do que pequenos pontinhos nesse planeta, planeta esse que também está inserido nesse espaço cósmico e sideral que, metaforicamente, é a tela como um todo, com plantas e flores, em um espaço aberto, o Cosmos”, diz Luiz Pizarro.

 

Sobre o artista

Luiz Pizarro nasceu em 1958, no Rio de Janeiro, residindo em Colônia, na Alemanha, de 1992 a 1998. Contemplado com a Bolsa Icatu de Artes, residiu e trabalhou em Paris, na Cité des Arts, entre março e agosto de 2006.  Formado em Engenharia de Produção pela UFRJ e em Administração Pública pela EBAP – FGV, concluiu sua formação artística no Parque Lage, de 1981 a 1983. Pintor e arte-educador, possui experiência de quase 30 anos em atividades educacionais e socioeducativas. Conhecido por integrar a chamada “Geração 80” da arte brasileira, participou de duas edições da Bienal Internacional de São Paulo, lecionou com Beatriz Milhazes na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e coordenou projetos educacionais e sócio-interativos no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e no Museu Nacional de Belas Artes. Dentro da programação da exposição, o artista pretende organizar visitas guiadas com grupos de moradores em situação de rua e jovens de abrigos. Atualmente é representado pela Galeria Patrícia Costa, no Shopping Cassino Atlântico, em Copacabana.

 

 

O Brasil na Biennale Architettura 2023

 

 

Intitulada “Terra”, a representação do Pavilhão do Brasil na Biennale Architettura 2023 – de 20 de maio a 26 de novembro no Giardini Napoleonici di Castello, Padiglione Brasile, 30122, Veneza, Itália – propõe repensar o passado para desenhar possíveis futuros, trazendo para o centro do debate agentes esquecidos pelos cânones arquitetônicos, em diálogo com a proposta curatorial da edição, Laboratory of the future (Laboratório do futuro). A exposição tem curadoria conjunta dos arquitetos Gabriela de Matos e Paulo Tavares, e conta com a participação do povo indígena Mbya-Guarani, povos indígenas Tukano, Arawak e Maku, Tecelãs do Alaká (Ilê Axé Opô Afonjá), Ilê Axé Iyá Nassô Oká (Casa Branca do Engenho Velho), Ana Flávia Magalhães Pinto, Ayrson Heráclito, Day Rodrigues com colaboração de Vilma Patrícia Santana Silva (Grupo Etnicidades FAU-UFBA), coletivo Fissura, Juliana Vicente, Thierry Oussou e Vídeo nas Aldeias. Partindo de uma reflexão entre o Brasil de ontem, o de hoje e do futuro, a mostra coloca a terra como elemento poético e concreto no espaço expositivo. Para isso, o piso do pavilhão será aterrado, colocando o público em contato direto com a tradição dos territórios indígenas e quilombolas, além dos terreiros de candomblé.
“Nossa proposta curatorial parte de pensar o Brasil enquanto terra. Terra como solo, adubo, chão e território. Mas também terra em seu sentido global e cósmico, como planeta e casa comum de toda a vida, humana e não humana. Terra como memória, e também como futuro, olhando o passado e o patrimônio para ampliar o campo da arquitetura frente às mais prementes questões urbanas, territoriais e ambientais contemporâneas”, contam os curadores.
A primeira galeria do pavilhão modernista é chamada pelos curadores de Decolonizando o cânone, questionando o imaginário em torno da versão de que Brasília, capital do Brasil, foi construída em meio ao nada, uma vez que indígenas e quilombolas que habitavam o lugar já eram retirados da região desde o período colonial, sendo finalmente empurrados para as periferias com a imposição da cidade modernista. Com múltiplos formatos, as obras que preenchem a galeria vão da projeção de uma obra audiovisual da cineasta Juliana Vicente e criada em conjunto com a curadoria, comissionada para a ocasião, passando por uma seleção de fotografias de arquivo, organizada pela historiadora Ana Flávia Magalhães Pinto, ao mapa etno-histórico do Brasil de Curt Nimuendajú e o mapa Brasília Quilombola, comissionado especialmente para mostra.
A segunda galeria, batizada de Lugares de origem, arqueologias do futuro, nos recepciona com a projeção do vídeo instalação em dois canais de Ayrson Heráclito – O sacudimento da Casa da Torre e o da Maison des Esclaves em Gorée, de 2015 –  e se volta para as memórias e a arqueologia da ancestralidade. Ocupada por projetos e práticas socioespaciais de saberes indígenas e afro-brasileiros acerca da terra e do território, a curadoria parte de cinco referências essenciais: Casa da Tia Ciata, no contexto urbano da Pequena África no Rio de Janeiro; a Tava, como os Guarani chamam as ruínas das missões jesuítas no Rio Grande do Sul; o complexo etnogeográfico de terreiros em Salvador; os Sistemas Agroflorestais do Rio Negro na Amazônia; e a Cachoeira do Iauaretê dos Tukano, Arawak e Maku.
A exibição demonstra o que várias pesquisas científicas comprovam: que terras indígenas e quilombolas são os territórios mais preservados do Brasil, e assim apontar para um futuro pós-mudanças climáticas no qual “decolonização” e “descarbonização” caminham de mãos dadas. Suas práticas, tecnologias e costumes ligados ao manejo e produção da terra, como outras formas de fazer e de compreender a arquitetura, estão situados na terra, são igualmente universais e carregam em si o conhecimento ancestral para ressignificar o presente e desenhar outros futuros para o planeta, tanto para as comunidades humanas quanto para as não humanas. Para José Olympio da Veiga Pereira, presidente da Fundação Bienal de São Paulo: “A Mostra Internacional de Arquitetura da Biennale di Venezia é um espaço privilegiado para o debate das questões mais urgentes em arquitetura e urbanismo, campo que, em última instância, reflete sobre nossas dinâmicas de vida a partir do uso e compartilhamento de espaços comuns, enquanto sociedade. Em um momento de grandes desafios enfrentados pela humanidade, realizar a exposição proposta pelos arquitetos Gabriela de Matos e Paulo Tavares é uma maneira de dar visibilidade a pesquisas e práticas que podem contribuir para a elaboração coletiva de nosso futuro”.

 

Sobre os curadores

Gabriela de Matos é arquiteta e urbanista afro-brasileira, nascida no Vale do Rio Doce, em Minas Gerais, e cria projetos multidisciplinares com o objetivo de promover e destacar a cultura arquitetônica e urbanística brasileira, a partir das lentes de raça e gênero. É graduada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da PUC Minas (2010) e especializou-se em sustentabilidade e gestão do ambiente construído pela UFMG. Mestranda do Diversitas – Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Atualmente é professora  na graduação de arquitetura e urbanismo da Escola da Cidade. É CEO do Estúdio de Arquitetura – Gabriela de Matos, criado em 2014. Foi co-presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil no departamento de São Paulo, gestão (2020-2022). É fundadora do projeto Arquitetas Negras (2018), que mapeia a produção de arquitetas negras brasileiras. Pesquisa arquitetura produzida em África e sua diáspora com foco no Brasil. Entre outras, propõe ações que promovam o debate de gênero e raça na arquitetura como forma de dar visibilidade à questão. Foi premiada como Arquiteta do Ano 2020 pelo IAB RJ.
Paulo Tavares explora as interfaces entre arquitetura, culturas visuais, curadoria, teoria e advocacia. Operando através de múltiplas mídias e meios, seu trabalho abre uma arena colaborativa voltada para a justiça ambiental e contranarrativas na arquitetura. Seus projetos e textos foram apresentados em várias exposições e publicações nacionais e internacionais, incluindo Harvard Design Magazine, The Architectural Review, Oslo Architecture Triennial, Istanbul Design Biennale, e a 32a Bienal de São Paulo – Incerteza viva. Tavares foi cocurador da Bienal de Arquitetura de Chicago 2019 (EUA) e, atualmente, é membro do conselho curatorial da segunda edição da Trienal de Arquitetura de Sharjah 2023 (EAU). Foi curador dos projetos Acts of Repair (Preston Thomas Memorial Symposium, Universidade de Cornell, EUA), e Climate Emergency – Emergence, no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT) de Lisboa (Portugal). Tavares é autor de vários textos e livros que questionam os legados coloniais da modernidade, incluindo Forest Law/Floresta Jurídica (2014), Des-Habitat (2019), Memória da terra (2019), Lucio Costa era racista? (2020), e Derechos no-humanos (2022). Seus projetos de design também são apresentados na Bienal de Veneza deste ano no pavilhão do Arsenal.

 

Sobre a participação brasileira na 18ª Mostra Internacional de Arquitetura da Biennale di Venezia

A prerrogativa da Fundação Bienal de São Paulo na realização da representação oficial do Brasil nas bienais de arte e arquitetura de Veneza é fruto de uma parceria de décadas com o Governo Federal, que outorga à Fundação Bienal a responsabilidade pela nomeação da curadoria e pela concepção e produção das mostras em reconhecimento à excelência de seu trabalho no campo artístico-cultural. Organizadas com o intuito de promover a produção artística brasileira no mais tradicional evento de arte do mundo, as exposições ocorrem no Pavilhão do Brasil, projetado por Henrique Mindlin e construído em 1964.

Os 50 anos das Cosmococas

17/mar

O Projeto Hélio Oiticica, em colaboração com a Escola de Artes Visuais do Parque Lage, instalou, na histórica piscina do Parque Lage, hoje, a Cosmococa/CC4 Nocagions (1973). O evento festivo, gratuito, abriu as comemorações dos 50 anos da criação – por Hélio Oiticica e Neville de Almeida – das Cosmococas, que serão realizadas em várias cidades, no Brasil e no exterior, o Cosmococa World Tour.

No dia 13 de março de 1973, o artista Hélio Oiticica (1937-1980) e o cineasta Neville D’Almeida (1941) iniciaram uma colaboração inusitada, e criaram uma série de instalações pioneiras (Quasi-Cinemas), que chamaram de Cosmococas – Programa in Progress, com projeções, trilhas sonoras e proposições para o espectador, elemento ativo, integrante do trabalho.

Cosmococa/CC4 Nocagions (1973/2023) é constituída por dois projetores digitais, trilha sonora de John Cage (1912-1992) e slides.  Duas telas, colocadas em bordas opostas da piscina, exibiram imagens do livro “Notations” (Notações, em inglês), de John Cage, com uma coleção de seus manuscritos musicais. Sobre a capa do livro, Hélio Oiticica e Neville de Almeida fizeram intervenções, as “mancoquilagens”.

O trabalho convidava o público a entrar na piscina, que recebeu uma luz verde formando um padrão geométrico. A obra foi dedicada aos poetas concretos Augusto e Haroldo de Campos. Em 2013, a CC4 Nocagions foi a sensação da Berlinale, o Festival Internacional de Cinema, em Berlim.

Hélio e Neville haviam planejado fazer um filme, e em 1973, em um encontro em Nova York, desenvolveram uma série de slides, onde a câmera fotográfica foi usada como filmadora, o Quasi-Cinema. Na montagem, eles usaram as imagens com duração de alguns segundos, ao contrário das habituais 24 imagens por segundo do cinema. O tempo da obra fica então dilatado, exigindo uma atenção maior do público, que assim se torna ferramenta fundamental no trabalho.  “Dessa forma, a Cosmococa é precursora dessa participação em meio cinematográfico das mídias no século 20”, destaca César Oiticica Filho, que coordena o Projeto Hélio Oiticica.

Krajcberg e Garrido na Pinakotheke

A Pinakotheke São Paulo inaugura neste 18 de março a exposição Frans Krajcberg (1921-2017) – “(…) ao acordar a natureza estava preta e branca.” As vinte obras – esculturas, pinturas e trabalhos em papel, como seus relevos – de Frans Krajcberg estarão em diálogo com o ensaio fotográfico do artista feito em 1996 por Luiz Garrido (1945), em Nova Viçosa, Bahia, onde Frans Krajcberg morava e trabalhava.

Com planejamento e organização de Galciani Neves e Max Perlingeiro, a exposição é uma realização da Pinakotheke Cultural em colaboração com a Associação de Amigos de Frans Krajcberg.

O público poderá ver ainda Krajcberg em ação em Nova Viçosa, indo ao mangue buscar material sobre o seu trabalho, rindo e conversando, no vídeo de 10 minutos, que será exibido em looping. O registro feito por Luiz Garrido e seu assistente Carlos (Kaká) Hansen, em 1996, com uma filmadora Video8, analógica, foi restaurado, digitalizado e editado especialmente para a exposição.

Na abertura da exposição será lançado o livro homônimo, bilíngue (port/ingl), com 172 páginas e formato 21 x 27 cm, com imagens das obras de Frans Kracberg e as fotografias de Luiz Garrido. Os textos são de Marcia Barrozo do Amaral, presidente da Associação de Amigos de Frans Krajcberg; Galciani Neves, Max Perlingeiro, Bené Fonteles, Jaider Esbell, e Pierre Restany – um dos autores do célebre “Manifesto do Rio Negro do Naturalismo Integral”, escrito em 1978 também por Frans Krajcberg e Sepp Baendereck (1920-1988) – uma entrevista de Advânio Lessa dada a Valquíria Prates, e uma cronologia do artista.

“Ele foi um precursor na defesa do meio ambiente. Krajcberg se revoltou com a destruição da natureza que conheceu em suas viagens pelo país, e sua indignação não esmoreceu até o fim de sua vida, aos 96 anos”, destaca Marcia Barrozo do Amaral, presidente da AmaFrans.

Obras de Anna Braga no Paço Imperial

16/mar

 

O Paço Imperial inaugura na próxima quarta-feira, dia 22 de março, a exposição “Anna Braga – Submersões”, com um panorama da obra da artista multimídia, que há 20 anos não faz uma exposição individual em uma instituição no Rio de Janeiro. Com curadoria de Fernando Cocchiarale, serão apresentadas 36 obras, entre instalações, pinturas, desenhos, fotografias, vídeos e objetos inéditos, pertencentes a três séries distintas: “Ternas Peles”, “Memória Submersa” e “Puro Álibi”. Os trabalhos, que ocuparão três salões do Paço Imperial, trazem como temas centrais a ecologia, a violência e questões de gênero. Até 21 de maio.

“Todos os trabalhos são em técnica mista, nos quais utilizo pintura, desenho, colagem, vídeo e fotografia na mesma obra. Faço interferências sobre o que encontro visualmente, dando outros significados para a imagem, transformando-a em algo completamente diferente”, conta a artista, nascida em Campos do Goytacazes, radicada no Rio de Janeiro, após ter passado um longo período no exterior, principalmente no Uruguai.

“As obras realizadas por Anna Braga nos colocam diante de imagens impregnadas de nexos que, como rastros, desenham um percurso de relações ao redor de temas como a destruição ambiental, a degradação urbana e a violência social, contextos encadeados em diversas situações nos trabalhos da artista. As três séries aqui reunidas – Memória Submersa, Ternas Peles e Puro Álibi – abarcam indagações entrecruzadas pelo próprio enredamento que caracteriza as sociedades contemporâneas e seus conflitos de identidade, classe, gênero, cor e grupo étnico”, afirma o curador Fernando Cocchiarale.

Na primeira sala estará a série “Memória Submersa”, que reflete, de forma poética, sobre ecologia, a partir do distrito de Atafona, em São João da Barra, no litoral campista, que está desaparecendo após sucessivas ressacas do mar. Através deste trabalho a artista faz uma veemente crítica à destruição da natureza, partindo de um exemplo local para falar globalmente sobre a questão da ecologia. Esta obra foi exposta originalmente no Museu Nacional de Brasília, em 2017. No Paço Imperial, no entanto, ela será acrescida de novos elementos, sendo composta por 17 trabalhos, entre obras bidimensionais, que estarão penduradas na parede, esculturas-objetos, instalações, um vídeo 3D e uma animação. Assim que entrar na exposição o público verá os vídeos, que ocuparão todas as paredes, fazendo uma imersão dos espectadores na obra.

“O que retorna à superfície, em poesia faz lembrar coisas que submergiram. A memória afetiva posta à prova vem contrariar o fenômeno natural das marés – quando arte não deixa apagar da memoria aquilo que se foi para sempre. Embora com isso não se reduza o sentido trágico da desaparição, a arte vem traduzir em metáforas essa melancolia e inexorável realidade”, afirma a artista.

Seguindo o percurso da exposição, na segunda sala estará a série “Ternas peles”, composta por sete trabalhos nos quais a artista cria interseções entre o nu artístico das estátuas gregas e imagens femininas presentes em antigos classificados de jornais da seção de termas e massagens. Anna Braga intervém manualmente nos periódicos, com pintura ou desenho e os fotografa, exibindo-os de três formas diferentes: como se fossem filmes usados para a impressão; impressos, mostrando a aproximação com a estatuária grega, e em uma instalação que se assemelha à cabeça da Medusa, com longas faixas feitas a partir da página em negativo, como fios de filmes. Com esta instalação, a artista pretende falar sobre o silêncio imposto sobre as mulheres e sobre os corpos trans. O resultado é uma potente reflexão sobre questões de gênero, a partir de corpos dissidentes, marginalizados e transexuais. “Neste trabalho destaco a luta social do ser humano para ter suas próprias opções sexuais e fazer delas o que bem entender. É mais um problema estrutural que a sociedade acumula”, ressalta.

Na terceira e última sala, estará a série “Puro Álibi”, composta por 12 trabalhos produzidos a partir do detalhe de uma fotografia publicada em um jornal de grande circulação, que mostra uma fila humana em um presídio. Nesta série, a artista destaca as sombras, transformando-as em novas figuras, dando um novo significado para a imagem para falar sobre o tema da violência. “A obra pertence a uma série na qual desenvolvo inúmeras metáforas forjadas em dorsos e posições de intimidação do homem em situações de ameaça. Neste caso específico trata-se de uma fila humana no pátio de uma prisão cujas sombras rastejantes sugerem outras verdades. Verdades que estão sendo realizadas nas imagens criadas pelo poeta entre a realidade, sonhos, temores e perplexidades do homem entre si e o outro, na vida e no tempo”, conta a artista.

 

Sobre a artista

Nascida em Campos dos Goytacazes, RJ, Anna Braga é formada em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com mestrado em Sociologia pela UFRJ e extensão em Filosofia e Arte Contemporânea pela PUC-Rio. Frequentou o ateliê da artista Anna Bella Geiger e os ateliês de Elena Molinari, Maria Freire e Hilda Lopes em Montevidéu, no Uruguai. Fez curso de Arte e Filosofia e Arte Crítica na EAV Parque Lage entre 2000 e 2001 e especialização em Arte e Filosofia na PUC Rio em 2008. Ao longo de sua trajetória, realizou diversas exposições, no Brasil e no exterior. Dentre as coletivas destacam-se: “Obranome”, no Mosteiro de Alcobaça, em Portugal, em 2013, e na EAV Parque Lage, em 2009, “30 anos de videoarte”, na EAV Parque Lage, em 2004, “Questões Diversas”, no Centro Cultural Correios, em 1998, entre outras. Dentre as principais exposições individuais destacam-se: “Visitando Ternas Peles” (2022), no Estúdio Dezenove, “Memória Submersa” (2017), no Museu Nacional da República, em Brasília, “Ternas Peles” (2003), no Palácio do Catete, Museu da República, “Transobjetos” (1996), na Caixa Cultural em Brasília, entre outras. Possui obras em importantes acervos, como Museo de Arte Contemporanea do Uruguai; Centro Cultural da Caixa Econômica Federal, Brasília, DF; Centro Cultural dos Correios e Telégrafos, Museu Postal, Rio de Janeiro e Museo Nacional da República (MUN), em Brasília.

 

 

 

Exposição Haverá consequências

17/nov

17

 

No sábado, 26 de novembro, às 11h, a Fundação Vera Chaves Barcellos, Viamão, Rio Grande do Sul, inaugura a mostra coletiva “Haverá consequências”, que reúne mais de 60 obras de 57 artistas na Sala dos Pomares da Fundação Vera Chaves Barcellos.

 

Inscrições para Transporte Gratuito

Saída no sábado, 26/11, às 10h30, em frente ao Theatro São Pedro (Praça Mal. Deodoro, s/nº – Centro Histórico de Porto Alegre). Inscreva-se pelo e-mail educativo.fvcb@gmail.com ou pelo telefone (51) 98229-3031.

 

Sobre a exposição

Trata-se da primeira mostra com curadoria da professora e pesquisadora Bruna Fetter à frente da Direção Cultural da FVCB, função assumida em abril deste ano. Realizada integralmente a partir do Acervo da instituição, “Haverá consequências” representa um exercício de encontros e aproximações que se materializam por meio de rastros e vestígios da memória, reverberando no presente e nos desdobramentos futuros. As obras presentes na mostra – seja em termos temáticos, materiais ou mesmo formais – são compreendidas simultaneamente como imagem-índice-percurso, o que possibilita diferentes leituras, relações e caminhos. Fazem parte da seleção apresentada trabalhos em fotografia, vídeo, gravura, pintura, objeto, arte postal, serigrafia e livro de artista.

Nas palavras da curadora, Bruna Fetter: “Ao partir da noção de rastro e vestígio, Haverá consequências busca tecer fios que atravessam nossas compreensões de passado-presente-futuro, causa e consequência. Na mostra encontraremos imagens e objetos que são resíduos de pensamentos e ações ocorridas no passado, mas que pela sua condição de obra de arte tornam-se testemunhos perenes a nos acessar em diferentes contextos e tempos. Reunindo um grupo de obras da coleção da FVCB, a exposição resulta de uma imersão minha neste Acervo, e também de um trabalho muito próximo a todas as equipes da instituição, inaugurando meu trabalho como diretora cultural da Fundação.”

 

Artistas Participantes

Begoña Egurbide | Bill Viola | Brígida Baltar | Cao Guimarães | Carla Borba | Carlos Krauz | Christian Cravo | Cinthia Marcelle | Claudia Hamerski | Claudio Goulart | Clovis Dariano | Darío Villalba | Dennis Oppenheim | Dirnei Prates | Elaine Tedesco | Elcio Rossini | Eliane Prolik | Ethiene Nachtigall | Fabiano Rodrigues | Fernanda Gomes | Frantz | Geraldo de Barros | Guilherme Dable | Heloisa Schneiders da Silva | Hudinilson Jr. | Ío (Laura Cattani e Munir Klamt) | Jaume Plensa | Joan Fontcuberta | João Castilho | Lluís Capçada | Luanda | Lucia Koch | Mara Alvares | Marco Antonio Filho | Margarita Andreu | Mariana Silva da Silva | Mario Ramiro | Marlies Ritter | Michael Chapman | Nelson Wiegert | Nick Rands | Patricio Farías | Paulo Nazareth | Perejaume | Regina Vater | Rosângela Rennó | Roselane Pessoa | Sarah Bliss | Sascha Weidner | Sol Casal | Susy Gómez | Telmo Lanes | Tuane Eggers | Vera Chaves Barcellos | Wanda Pimentel | Yuri Firmeza

 

Sobre a curadora

Bruna Fetter. Professora e pesquisadora do Instituto de Artes da UFRGS, Bruna Fetter é Doutora em História, Teoria e Crítica de Arte pelo PPGAV/UFRGS, Programa de Pós-Graduação no qual hoje atua como docente. Vice-coordenadora do curso de especialização em Práticas Curatoriais da UFRGS, foi pesquisadora visitante na New York University (2014/2015), possibilitado por bolsa Fulbright. Atualmente é diretora cultural da Fundação Vera Chaves Barcellos. Curadora das mostras Do abismo e outras distâncias (Mamute Galeria, Porto Alegre/2017), Expedições pela Paragem das Conchas (Espaço de Artes da UFCSPA, Porto Alegre/2016), Da matéria sensível: afeto e forma no acervo do MAC/RS (Porto Alegre/2014), O sétimo continente (Zipper Galeria, São Paulo/2014) e Qualquer lugar (Casa Triângulo, São Paulo/2013). Também realizou a curadoria da mostra Mutatis mutandis, com Bernardo de Souza (Largo das Artes, Rio de Janeiro/2013); e dividiu a curadoria da mostra Cuidadosamente, através com Angélica de Moraes (São Paulo/2012). Entre 2006 e 2007 coordenou a equipe de produção executiva da 6a Bienal do Mercosul. É membro da ANPAP, da ABCA e da AICA. Coautora do livro As novas regras do jogo: sistema da arte no Brasil (Editora Zouk, 2014), colaborou nas publicações Artes visuais – ensaios brasileiros contemporâneos (org. Fernando Cocchiarale, André Severo e Marília Panitz, FUNARTE, 2017), Práticas contemporâneas do mover-se (org. Michelle Sommer, Circuito, 2015) e A palavra está com elas: diálogos sobre a inserção da mulher nas artes visuais (org. Lilian Maus, Panorama Crítico, 2014).

 

 

Variações técnicas de Ricardo Villa

 

Luciana Caravello Galeria SP, Itaim Bibi, São Paulo,  apresenta “Tudo está Acontecendo”, primeira exposição individual do multiartista paulistano Ricardo Villa na cidade, no Espaço GEMA, com 15 trabalhos com suportes plurais resultantes de uma pesquisa iniciada em 2006 onde o artista ‘busca compreender as implicações e determinações do capital na construção da realidade social’.

“O conjunto de trabalhos que será apresentado, procura demonstrar como a economia se estabeleceu como “ciência oficial”, onde a vida passa a ser tratada como uma questão numérica, descartando tudo fora do escopo do cálculo; ilustrando como a lógica neoliberal busca invadir todos os aspectos das relações sociais e reduzi-los a sua função econômica”, explica o artista. Para Marcio Harum, “em uma era de hegemonia das narrativas econômica, enquanto vai sendo constantemente reafirmada a construção de mundo, o artista Ricardo Villa reflete sobre a ideia de civilização, ao chamar a nossa atenção para outras possibilidades de organização das mentalidades em um planeta cada vez mais ciente de sua própria vulnerabilidade.”

“Tudo está Acontecendo” é o momento em que Ricardo Villa dedica-se a destacar a simultaneidade e determinação das metodologias econômico/sociais que constroem a experiencia social. As obras escolhidas, derivadas de uma pesquisa ativa a 16 anos e ainda em andamento, mantém a utilização do papel moeda dialogando com alguns trabalhos anteriores em concreto e tecido. Segundo o artista, “os trabalhos que produzo são muito variados em termos de técnica; trabalho com vídeo/animação, desenho, colagem, tecelagem, dobradura, tradução, fotografia, etc. A pesquisa/tema tende a variar na medida em que avança, compondo um mesmo campo de interesse.”

Para dar feitio às suas obras, no momento de sua concepção, Ricardo Villa “parte da necessidade de compreender o que determina nossas vidas, nossas convicções, pontos de vista sobre o mundo. O método para isso é viver e buscar estratégias de conversação e construção de afetos.”

“O pensamento por trás da pesquisa artística e o universo das relações do capital que afetam a vida e a produção de artistas no sistema de arte são a tônica deste trabalho.” Marcio Harum

 

Sobre o artista 

Ricardo Villa (São Paulo, 1982) – Vive e trabalha em São Paulo. Formado em Arte e Cultura fotográfica pelo Centro Universitário Senac (bolsista Prouni). Entre suas principais exposições estão: “Até Começar a parecer ordem” (individual), Luciana Caravello Arte Contemporânea (2017). “São Paulo não é uma cidade, Invenções do centro”, Sesc 24 de maio (2017); “ Modos de Ver o Brasil: Itaú Cultural 30 anos” (2017), OCA/SP; “Como Atravessar Paredes”, Prêmio CCBB Contemporâneo (individual) Centro Cultural Banco do Brasil/RJ (2016); ArtePará (2016); Encontro de Mundos, Museu de Arte do Rio/MAR (2015); “Falso Movimento” Luciana Caravello Arte Contemporânea (2014); “Vanitas” Central Galeria de Arte (2011); “Abre-Alas15”, A Gentil Carioca (2018) e residência Re:uso JACA Centro de Arte e Tecnologia BH/SA.

 

Até 17 de dezembro.

 

 

Dois novos espaços

 

Com o nome inspirado pela palavra que abre uma das obras fundamentais da literatura brasileira, “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, Nonada ocupa dois espaços: um em Copacabana e outro em um galpão industrial na Penha, subúrbio do Rio de Janeiro. A mostra inaugural reuniu obras de 32 artistas de diversas cidades brasileiras, com pesquisas que abrangem temas atuais, entre os quais racismo, questões políticas, sociais e de gênero. Em Copacabana as obras de “A Palavra: Prosa”, e na Penha “A Palavra: Verso”. Na Penha, a artista e DJ Marta Supernova realizou uma apresentação no dia da abertura. O texto crítico é do artista, poeta e compositor André Vargas. Nonada é uma galeria dedicada a dar visibilidade à excelência da produção artística, e local de pesquisa e debate plural.

 

Artistas expositores

Os artistas da exposição inaugural de Nonada são: 13unituh (André Moura), de Realengo, Rio; Agrippina, de São Gonçalo, Rio; Alan Oju, de Santo André, São Paulo; Allan Pinheiro, do Complexo do Alemão, Rio; André Barion, de São Paulo; Andy Villela, Rio; Bruno Alves, Cidade Júlia, São Paulo; Bruno Lyfe, de Ramos, Rio; Carlos Mello Carvalho, de Jundiaí, São Paulo; Carmen Garcia, São Paulo; Castiel Vitorino Brasileiro, de Fonte Grande, Vitória, Espírito Santo; Darks Miranda, de Fortaleza, e vive no Rio; Diambe, Rio; Emerson Freire, de São Paulo; Fabio Menino, de São Paulo; Fernanda Gomes, de Porangaba, São Paulo; Gabriel Branco, São Paulo; Guilherme Almeida, Salvador; Gustavo Magalhães, de Goioerê, Paraná, e vive em Curitiba; Guto Oca, de São Paulo, e mora em João Pessoa; Jorge Cupim, do Rio; Juan Casemiro, vive entre Conceição das Pedras, Minas, e São Paulo; Link (Diego Jesus Bezerra), de São Paulo; Lucas Almeida, de São Paulo; Maria Pia Garcez, do Rio; Marta Supernova, do Rio; Melissa Oliveira, do Morro do Dendê, Rio; Miguel Afa, do Complexo do Alemão, Rio; Pazza Pennello, de Odessa, Ucrânia, e vive em Kiev; Renan Aguena, do Rio; Siwaju, de São Paulo, e vive no Rio; e Vika Teixeira, do Morro do Inferninho, Niterói. Rua Ministro Armando de Alencar, 35/506 – 22471-080 – Rio de Janeiro RJ

 

Política e Lirismo

Em Copacabana, no espaço de 70 metros quadrados da Nonada ZS na Rua Aires Saldanha, próximo à Rua Bolívar, área boêmia e perto do futuro Museu da Imagem do Som, em exibição obras com um teor maior de crítica política e social. Na Penha, na Nonada ZN, na área de mais de 200 metros quadrados e 4,5 metros de altura, os trabalhos serão mais líricos. São variadas as linguagens dos artistas, em diversos materiais e suportes – pinturas, esculturas, fotografias, poesia, vídeos, entre outros – que percorrem várias pesquisas, discutindo temas de nosso tempo.

 

“A palavra: Prosa” / “A palavra: Verso”

André Vargas, em seu texto crítico, escreve sobre “A Palavra: Prosa” – “Também celebramos em convulsão a realidade, como quem não se fia em depressões e nostalgias. E, talvez, sejamos os que mais festejam as cisões da cidade no terror mais concreto de todo santo dia. É o paliativo, um antitérmico, a alegria. Apaga-se com ela uma barricada em chamas num futuro de rebeldias, mas rebela-se com ela no presente de extremo frio das agonias. Uma fuga, uma aventura, uma brisa. A grande alegoria.” E sobre “A Palavra: Verso” – “Respondemos mal à medicação, porque não criamos a doença. Quem a criou segue imune e impune de seu caráter maligno.

Acrônica das classes é a sua consciência, e o sintoma mais comum éo vigor da poesia. (…) Num mundo que gira padrões, que sejamos a altera presença. Pois quando nos encantamos em um mundo desencantado, dando razão à loucura, nesse mundo desconcertado, arruinamos as bases de uma hegemonia, que ainda não sabe, mas agoniza engasgada com o próprio rabo.”

A iniciativa da criação de Nonada é de Paulo Azeco e João Paulo Balsini, a que se juntaram os dois irmãos Ludwig e Luiz Danielian, donos da Danielian Galeria, na Gávea. “Há uma qualidade impressionante de trabalhos feitos por artistas que não têm tanto acesso ao circuito de galerias, que trazem temas atuais, entre eles questões políticas, sociais, de racismo e gênero. Queremos apresentar de forma plural novos talentos, visões e força criativa”, comenta Paulo Azeco, graduado em Artes Visuais na Universidade Federal de Goiás com pós-graduação em “Métiers d’art: lesArtsAppliqué”, na École Boulle”, em Paris, e uma longa trajetória em galerias importantes em São Paulo. Ludwig Danielian conta que sempre desejou ter um espaço de arte no subúrbio, diferente do perfil da galeria na Gávea. Com o projeto de Paulo Azeco e João Paulo Balsini – colecionador de arte e advogado com atuação em políticas públicas – revitalizou, junto com seu irmão Luiz Danielian, a fábrica de moda praia e lingerie aberta por seu pai em 1968, e desativada há sete anos.

Por um ano, os quatro sócios pesquisaram artistas e seus trabalhos, em um processo “extremamente orgânico, que abrange desde nossa experiência como também indicações de artistas, curadores, e de buscas que fizemos em mídias sociais”, diz Paulo Azeco. “Não queremos levantar bandeiras, rótulos, e sim valorizar a arte boa, que independe de estereótipos. Queremos ter esta proposta de galeria em Copacabana, bairro popular, e no subúrbio,na periferia do circuito de arte, para que se leve excelentes trabalhos a todos. Pretendemos promover discussões livres, contemporâneas, abertas, sem julgamentos prévios”, complementa Ludwig Danielian.

 

Guimarães Rosa

Nonada é a palavra que abre uma das obras fundamentais da literatura brasileira, “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa (27 de junho de 1908 – 19 de novembro de 1967), “um neologismo criado para representar o não-lugar ou a negação de existência”, escrevem os sócios no texto de apresentação do novo espaço de arte. “Nonada é um lugar híbrido: pesquisa, acolhe, expõe e dialoga. Deixa de ser nada e passa a ser essência por acreditar que o mundo precisa de arte, e que a arte por si só já é lugar.Parte da ideia do não-lugar para ilustrar uma visão que, ao se afastar de rótulos, amplia diálogos, se norteando pela pesquisa,o debate e a importância da curadoria. A galeria de arte enquanto agente promotor de encontros e descobertas com anseio pela experimentação”.

 

Sobre Nonada

Um neologismo criado para representar o não lugar ou a negação de existência. Nonada é a palavra que abre uma das obras fundamentais da literatura brasileira, “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, e que representa o pensamento que alicerça este projeto. Parte da ideia do não-lugar para ilustrar uma visão que ao se afastar de rótulos, amplia diálogos, se norteando pela pesquisa e debate sociológico e na importância da curadoria. A galeria de arte enquanto agente promotor de encontros e descobertas com anseio pela experimentação. Sua forma concreta se dá quando rompe padrões dos circuitos sociais e culturais. Entende a pluralidade como necessidade para sua pertinência enquanto personagem contemporâneo, e que é motivo e condição de se ser .Nonada é híbrido, pesquisa, acolhe, expõe e dialoga. Deixa de ser nada e passa a ser essência por acreditar que o mundo precisa de arte…e arte por si só já é lugar.

 

Até 04 de março de 2023.