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AGENDA CULTURAL

Ascânio MMM no MON

04/jul

 

 

A partir de 07 de julho, “Grid”, é a exposição em cartaz na Sala 01 do MON, Museu Oscar Niemayer, Curitiba, PR, sob curadoria assinada por Felipe Scovino, que apresenta os últimos 25 anos de trabalho de Ascânio MMM (1941-) e sua relação particular com a grade, signo marcante para artistas, como Ascânio, que ajudaram a repensar as bases do pensamento abstrato-geométrico no Brasil. A grade ou grid, com a grafia em língua inglesa mesmo, como muitas vezes é pronunciada no vocabulário das artes, representa também o diálogo que mantém, desde o início da sua trajetória nos anos 1960, com a escultura e a arquitetura.

 

A forma como essas obras mantém um balanço entre o material, invariavelmente o metal, e a sua capacidade orgânica é um ponto nodal da exposição. Percebe-se que há um convite ao toque que elabora uma circunstância de pele mesmo a essas formas industriais.

 

As obras oscilam entre um estado de equilíbrio e ordem, de um lado, e instabilidade e organicidade, por outro. São arquiteturas que exploram a memória e a afetividade de um espaço da cidade. Revelam simultaneamente tramas e cobogós, levando a nossa imaginação para tempos e lugares distintos, e revivendo em nossas memórias, formas que fazem parte da nossa própria história.

 

O grid também é um propositor de lugares. A figura de uma malha vazada faz com que o olhar “fure” o volume, promovendo não só um diálogo incessante entre arte e arquitetura, mas também nos movendo para outras culturas, como a associação que realiza com as tradições mouras e o legado que o muxarabi trouxe para a contemporaneidade.

 

Nesse emaranhado de estruturas metálicas, o grid se torna uma estrutura ilusória, mole e participativa, provocando sensibilidades e afetos àquilo que costumeiramente é identificado como da ordem da construção objetiva.

 

Sobre o Artista

 

Nasceu em Fão, Portugal, em 1941, vive e trabalha no Rio de Janeiro desde 1959. Sua formação inclui passagem pela Escola Nacional de Belas Artes entre 1963 e 1964, e pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FAU/UFRJ), entre 1965 e 1969, onde se graduou. Atuou como arquiteto até 1976. Começou a desenvolver seu trabalho artístico a partir de 1966 ainda na FAU e posteriormente em paralelo com a prática de arquiteto. Neste mesmo ano, exibiu pela primeira vez seus trabalhos ao público, no I Salão de Abril no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. São deste período as caixas, cubos de madeira sobre as quais o espectador pode movimentar quadrados de diferentes tamanhos, formando desenhos variados. A relação entre escultura, arquitetura, matemática e filosofia fixou-se como questão central do seu trabalho durante toda a década de 1970. Neste período, a partir de módulos de ripas de madeira pintadas de branco e um eixo, desenvolveu progressões em torções verticais e horizontais, explorando a questão da luz e sombra. Na década de 1980, com os relevos e esculturas Fitangulares, interessou-se pela madeira crua, passando a explorar as cores naturais da madeira de diferentes espécies (cedro, mogno, pau marfim, ipê, freijó, etc). Já no final dos anos 1980 surgiram as primeiras Piramidais de madeira. Nos anos 1990, a questão das grandes dimensões e o espaço público tornaram-se uma preocupação central para Ascânio e as pesquisas com perfis de alumínio se intensificaram. O alumínio tornou-se então a base para a criação de novos trabalhos, sempre utilizando o módulo. As esculturas desta fase caracterizam-se pelos tubos retangulares de alumínio cortados, que geram esculturas de grandes dimensões com vazios internos e sucessões de transparências e opacidades, tornando-as quase imateriais conforme a posição do espectador. Nos anos 2000, desenvolve os Flexos e Qualas. Nos primeiros, os parafusos que eram usados nas Piramidais foram substituídos por arames de aço inoxidável amarrando os tubos quadrados cortados com um centímetro, e gerando tramas flexíveis. Nos Qualas, a amarração de arame foi substituída por argolas, resultando em uma trama “que se atravessa pelo olhar, pela luz e pelo vento”. Na década 2010, com os Quasos, mantém seu interesse pelas possibilidades do alumínio, e passa a inverter a lógica convencional do uso dos parafusos de tamanhos variados. Estes trabalhos oferecem torções e flexões resultantes da desconstrução da malha geométrica construída, introduzindo a questão da imprevisibilidade nos seus trabalhos. A cor voltou a ser usada mas de forma sutil. A produção artística de Ascânio foi objeto de estudo e análise crítica por Paulo Herkenhoff no livro Ascânio MMM: Poética da Razão (BE? Editora, 2012). Em 2005 foi publicado o livro Ascânio MMM (Editora Andrea Jakobsson, 2005), com textos de Paulo Sergio Duarte, Lauro Cavalcanti, Fernando Cocchiarale e Marcio Doctors.

 

 

MON exibe Juarez Machado

 

 

A exposição comemorativa “Juarez Machado – Volta ao Mundo em 80 Anos”, na sala 3 do Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, PR, apresenta até 18 de setembro a obra de um dos mais representativos e importantes artistas brasileiros. O multiartista catarinense Juarez Machado tem sua história ligada a Curitiba, para onde se mudou no início dos anos 1960 para estudar na Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Ele completou 80 anos em 2021. A exposição reúne 166 obras em diversos suportes: pintura, desenhos, fotos, escultura e instalação. A coletânea abrange desde o início da carreira do pintor na capital paranaense até sua fase internacional com a mudança para Paris, em 1986 – passando pelos períodos no Rio de Janeiro, onde se destacou também como ilustrador, cenógrafo para televisão e teatro, figurinista, escultor e cartunista, entre outros ofícios criativos. A curadoria é de Edson Busch Machado.

 

“Lúdica e poética como tudo o que Juarez Machado produz, a mostra percorre com interatividade diferentes décadas, estilos, localidades, materiais, técnicas, mídias e vertentes artísticas”, afirma a diretora-presidente do Museu Oscar Niemeyer (MON), Juliana Vosnika. “Artista com obra no acervo, ele escreve agora o seu nome definitivamente na história do MON, num importante momento em que completa 20 anos e se consolida entre os principais museus da América Latina”, comenta.

 

Curitiba

 

A exposição inclui trabalhos que remetem ao início da carreira do artista em Curitiba. “Seu despertar como artista teve início em Joinville. Mas foi em Curitiba que ele fundamentou esse trabalho antes de seguir pelo mundo”, diz Edson Busch Machado, que é também irmão do artista.

 

A mostra conta, por exemplo, com desenhos feitos com graxa para sapato na Rua XV de Novembro, no início dos anos 1960, quando Juarez nem sequer tinha recursos para comprar tintas. “O público de Curitiba irá se identificar com o Juarez que viveu em Curitiba de 1961 a 1964, quando também fez grandes amizades com nomes como Fernando Velloso, João Osorio Brzezinski, Fernando Calderari e Domício Pedroso”, lembra o curador.

 

Ateliês

 

O nome da exposição – uma referência ao clássico de Júlio Verne “A Volta ao Mundo em 80 Dias” – traduz, em parte, o movimento constante de Juarez Machado, que nasceu em Joinville (SC), em 1941, e hoje se divide entre seus ateliês nas capitais fluminense e francesa depois de correr o mundo. A mostra inclui obras produzidas em diferentes locais – sobretudo em ateliês em Paris, mas também em locais temporários para o artista, como Veneza e Saint Paul de Vence, na França. “Cada ateliê é representado com cores, códigos e uma linha pictórica diferente, que a exposição reúne muito didaticamente”, explica Busch Machado.

 

Influência

 

A obra de Juarez Machado tornou-se patrimônio mundial, colecionando prêmios de arte nacionais e internacionais. Suas criações, ricas em ousadia, complexidade e humor, influenciaram gerações de artistas no Brasil e no exterior. Entre os artistas influenciados por Juarez Machado está o diretor francês de cinema Jean-Pierre Jeunet, que se inspirou no inconfundível universo de cores do pintor para criar o visual do famoso filme “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” (2001). O diretor conheceu o artista no início dos anos 2000, comprou quadros e estudou seu estilo.  “É possível relacionar a temática, as paletas de cores e diversas nuances do filme com todas as pinturas da exposição, pois Jeunet se inspirou diretamente nas obras do artista”, explica o curador. “O público conseguirá identificar cores como o verde veronese e o vermelho terral que são vistos em “Amélie”, explica Busch Machado.

 

Mímica

 

No Brasil, o artista multimídia também deixou sua marca em referências da cultura popular como o semanário impresso “O Pasquim” e a TV Globo, onde criou quadros humorísticos e musicais, além de assinar a criação de cenários e figurinos. Muitos ainda se lembram dos vídeos de mímica que Juarez Machado criou e estrelou para o programa “Fantástico” nos anos 1970. A exposição fará referência a este famoso personagem nacional com a exibição de alguns desses vídeos em dois monitores. “É realmente uma figura significativa para muita gente que começou a conhecer Juarez a partir deste quadro do Fantástico”, lembra o curador.

 

Ilustração

 

Também tiveram a assinatura de Juarez Machado capas de livros e discos e projetos de design e arquitetura ao lado de nomes como Sergio Rodrigues e o próprio Oscar Niemeyer. Algumas das mais de 200 capas de discos e livros criadas pelo artista poderão ser vistas na vitrine de artes gráficas da mostra, que ajudará a compor a retrospectiva da vida e obra de Juarez, juntamente com um painel de fotografias e informações biográficas.

 

Escultura

 

Entre os destaques da exposição estão dezenas de esculturas, suporte com o qual Juarez Machado se destacou logo no início da carreira. Há obras em bronze, metal e gesso, além da conhecida instalação criada com estátuas de Branca de Neve e os Sete Anões. Também estará presente a famosa bicicleta com rodas quadradas que inspirou o logotipo do Instituto Juarez Machado.

 

Instituto

 

Mais recente empreendimento de Juarez Machado em Joinville, o instituto que leva seu nome foi fundado pelo artista em 2014, com a ideia de estimular a arte na cidade catarinense. A instituição, sediada em uma antiga casa da família construída em meados da década de 1930, desenvolve pesquisas, resgate e promoção de obras de Juarez e de outros artistas locais. O instituto vem desenvolvendo mostras paralelas a partir da aprofundada pesquisa sobre a trajetória de Juarez Machado para a exposição aberta agora no Museu Oscar Niemeyer.

 

Bicicleta

 

Segundo o curador da exposição, Edson Busch Machado, a ideia é que o público percorra a mostra como se estivesse fazendo um passeio de bicicleta – um dos ícones do universo pictórico de Juarez. Esse é o tema da projeção de vídeo que encerra a exposição. “Juarez mescla a bicicleta, um elemento da infância em sua cidade natal, com a descoberta da figura humana, seja no estudo da anatomia no Belas Artes ou das belas mulheres que ele tão bem retrata em suas pinturas. E, a partir desses dois elementos, a curadoria parte para suas demais obras”, explica. “É uma viagem de bicicleta que percorre esses 80 anos e relembra todos esses elementos – os ateliês, as paisagens, as mulheres”, explica Busch.

 

Educativo

 

Ao longo do período expositivo, estão previstas seis oficinas para escolas públicas de Curitiba. Também haverá duas visitas guiadas realizadas pelo curador da exposição para o público visitante, com tradução em libras, às 11h e às 15h do dia 24 de agosto. Um tour virtual da mostra com audiodescrição também será disponibilizado online.

 

A exposição “Juarez Machado – Volta ao Mundo em 80 Anos” foi concebida pelo Instituto Juarez Machado e fica em cartaz até 18 de setembro. A mostra é uma realização da Secretaria Especial da Cultura (Ministério do Turismo) e do MON e tem patrocínio da Vonder.

 

Até 18 de setembro.

 

 

Cem anos de Pasolini no CCBB

29/jun

 

 

Uma história extraordinária em imagens e palavras, composta por mais de 70 fotografias em preto e branco feitas por Pier Paolo Pasolini e Paolo Di Paolo, muitas delas inéditas, textos de Pier Paolo Pasolini, vídeos, material de arquivo e documentos jornalísticos. No ano em que Pier Paolo Pasolini completaria 100 anos, o Instituto Italiano de Cultura do Rio de Janeiro traz para o Brasil a exposição itinerante “Por uma longa estrada de areia – La lunga strada di sabbia”, sob curadoria de Silvia Di Paolo, filha de Di Paolo, que conduzirá uma visita guiada no dia da abertura, 02 de julho, no Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, RJ. A mostra já percorreu Lisboa e Copenhague e depois segue para Santiago e Telaviv. Uma curiosidade: o acervo de Paolo Di Paolo permaneceu escondido durante decênios, perfeitamente conservado, até ser descoberto pela filha Silvia, no início dos anos 2000.

 

Um acordo entre o Ministério das Relações Exteriores da Itália e a Fundação Archivio Di Paolo possibilitou a itinerância da exposição pelo mundo, com a colaboração dos Institutos Italianos de Cultura.

 

“Pier Paolo Pasolini, em suas múltiplas facetas, é uma figura de extrema importância intelectual e artística para o Brasil. Em particular, na sua atuação como cineasta, como demonstram suas relações com alguns protagonistas do Cinema Novo e o fato de ser, ainda hoje, fonte de inspiração para os diretores brasileiros. É na relação com a imagem, unidade básica do cinema, que Pasolini amplia exponencialmente suas ferramentas expressivas e, como ele mesmo afirmou numa entrevista, consegue libertar-se dos limites da língua italiana e abrir-se para uma forma de comunicação universalmente válida. Por isso é para nós de grande relevância trazer duas iniciativas culturais que têm a imagem como meio expressivo, a imagem fotográfica, na exposição “Por uma longa estrada de areia”, e a imagem fílmica, na mostra “O Cinema Segundo Pasolini”. A exposição, através das fotografias de Paolo di Paolo e dos textos de Pasolini, nos acompanha numa interessante viagem pela a Itália do boom econômico, a mesma que, nas suas dinâmicas sociopolíticas e culturais, estimulou uma parte substancial do pensamento crítico do escritor. Acreditamos que o cruzamento das duas linguagens, o fotográfico-jornalístico e o fílmico, na programação que o Instituto Italiano de Cultura, em parceria com o CCBB, oferece ao público brasileiro no mês de julho, possa permitir um aprofundamento ainda maior da atuação desse importantíssimo intelectual e artista”, diz Livia Raponi, diretora do Instituto Italiano de Cultura do Rio de Janeiro.

 

Programação

 

A programação inclui uma retrospectiva cinematográfica composta pelo ciclo “O Cinema Segundo Pasolini” e a estreia nacional do filme-documentário Il Giovane Corsaro (O Jovem Corsário) de Emilio Marrese, Itália, 2022, além de debates. A agenda abre no dia 2, no cinema do CCBB, com “Accattone – Desajuste social” (1961) e segue com “Il Vangelo Secondo Matteo – O Evangelho Segundo São Mateus” (1964), “Mamma Roma” (1962), “Uccellacci e Uccellini – Gaviões e Passarinhos” (1966), “Edipo Re – Rei Édipo” (1967), até o dia 10 de julho. Ainda neste ciclo, haverá a exibição de “Comizi D’amore – Comícios De Amor” (1965), no Instituto Italiano de Cultura. Dentro da comemoração do centenário de Pasolini está previsto ainda outro ciclo de exibições intitulado “Caro Pier Paolo”, na Cinemateca do MAM, que deverá acontecer no final do mês.

 

Contexto histórico remete ao início do milagre econômico

 

Arturo Tofanelli, diretor das revistas mensal Successo e Tempo (semanal), confia a Pier Paolo Pasolini e a Paolo Di Paolo, que até então não se conheciam, uma reportagem sobre as férias de verão dos italianos, publicada em três capítulos na revista Successo, em 1959. O contexto histórico da exposição remete ao início do milagre econômico, quando a Itália tentava esquecer a miséria causada pela guerra e procurava um novo conceito de bem estar. O escritor e o fotógrafo partiram para uma longa viagem de carro com a ideia de atravessar a Itália ao longo da costa, de Tirreno ao Adriático, de ponta a ponta, para documentar o árduo caminho para o “progresso” e as contradições que este desencadeou. Nasceu assim uma parceria complexa e delicada entre os dois intelectuais, que se consolidou no respeito mútuo e na confiança.  “Pasolini procurava um mundo perdido de fantasmas literários, uma Itália que já não existia”, recorda Di Paolo. “Eu procurava uma Itália que olhasse para o futuro.” Cada imagem é uma história contada com cuidado fotográfico e realismo. Embora os temas sejam majoritariamente imortalizados durante umas férias à beira-mar, muitas das fotografias contrastam com uma condição de pobreza ligada a um passado recente. Na Itália da época, biquínis e calções, símbolos da emancipação feminina, coexistem com véus escuros cheios de pesar; o contraste entre os relaxados turistas de férias, desinibidos e emancipados e a população local é muitas vezes evidente. Uma viagem para redescobrir como era a Itália da época, para comparar sonhos, contradições, ilusões presentes e passadas, ao longo da perene estrada de areia.

 

Sobre a curadora

 

Silvia Di Paolo nasceu em Roma, em 1977. Depois de ter conseguido o diploma Artístico experimental em uma escola de Graphic Design cura como Art Director e Designer projetos editoriais, publicitários e de comunicação. Em 2011, funda o site Supernature Visionary Unlimited iniciando novas colaborações na indústria cinematográfica e da moda para a pesquisa de imagens, a criação de moodboards e tratamentos visivos para os roteiros. Em 2017, recebe do pai a doação de seu arquivo fotográfico, que ela mantém como curadora e arquivista.

 

Abertura: dia de 02 de julho, sábado, às 17h.

02, 03, 08, 09 e 10 de julho, às 18h.

Visitação: de 03 de julho a 02 de agosto.

 

 

Rubem Valentim na Pinakotheke São Paulo

28/jun

 


A Pinakotheke São Paulo, Morumbi, lançará no dia 02 de julho, às 11h, o livro “Rubem Valentim (1922-1991) – Sagrada Geometria” (pelo selo da Edições Pinakotheke), edição bilíngüe (port/ingl), com 292 páginas, em formato 21 x 27cm, apresentação de Max Perlingeiro, e texto de Bené Fonteles, amigo mais próximo e que acompanhou por duas décadas Rubem Valentim, extraordinário artista, que fez do sagrado sua vida e obra.
O livro que celebra o centenário de Rubem Valentim, contém depoimentos sobre o artista e sua obra escritos por personalidades da arte como Emanoel Araújo, Ferreira Gullar, Giulio Carlo Argan, Roberto Pontual, Clarival do Prado Valladares e Theon Spanudis. Com edição de Camila Perlingeiro e coordenação geral de Luli Hunt, a publicação busca preencher uma lacuna na história da arte sobre este grande artista, e foi possível graças ao patrocínio do Itaú Cultural, a partir da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Secretaria de Cultura/Ministério do Turismo). “Rubem Valentim (1922-1991) – Sagrada Geometria” poderá ser encontrado nas sedes da Pinakotheke, em São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza, nas livrarias e plataformas de livros na internet, o preço é R$ 120,00. Para marcar o lançamento do livro, a Pinakotheke São Paulo realiza a exposição “Rubem Valentim (1922-1991) – Sagrada Geometria”, com cerca de 100 trabalhos do artista, em pinturas e desenhos, e ainda seus “objetos”, em pintura sobre madeira. A curadoria é de Max Perlingeiro com consultoria de Bené Fonteles. Será exibido, em looping, o vídeo “Rubem Valentim (1922-1991) – Sagrada Geometria”, feito especialmente para a ocasião, com 28’15 de duração, direção de Max Perlingeiro, edição de Fabricio Marques, narração de Bené Fonteles e fotografia de Andre Caliento Barone.

 

Ensaio fotográfico de Christian Cravo

 

Estará também na exposição um ensaio fotográfico de Christian Cravo do “Templo de Oxalá”, conjunto com 20 esculturas e 10 relevos criado em 1974 por Rubem Valentim, pertencente ao Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador.

 

Simbologia Mágica – Tradições populares dos negros da Bahia

 

Nascido em Salvador, em 09 de novembro de 1922, e falecido em São Paulo, em 30 de janeiro de 1991, “Valentim queria essa conexão sagrada em complementação com a estética. Rubem Valentim é um artista essencial para uma melhor compreensão da tradição afro-brasileira; e Bené Fonteles, seu principal estudioso e interlocutor por sua conexão espiritual”, escreve Max Perlingeiro no texto “Um artista sacerdote”, na apresentação do livro. “A pedido do artista, Bené torna-se o Ogã (palavra que vem do iorubá e significa “Senhor da minha casa”) do terreiro de Valentim. Aquele que cuida de sua vida e, em consequência, de sua obra. É mais um caso de amizade que a Pinakotheke torna visível!”, destaca Max, responsável pelo planejamento e organização da publicação e curador da exposição. Giulio Carlo Argan (1909-1992), o grande teórico da arte que conviveu com o artista no início dos anos 1960, durante sua estada em Roma, escreveu sobre ele: “Os seus signos são deduzidos da simbologia mágica que se transmite com as tradições populares dos negros da Bahia. A evocação destes signos simbólico-mágicos não tem, entretanto, nada de folclorístico. É necessário expor, antes, que eles aparecem subitamente imunizados, privados das suas próprias virtudes originárias, evocativas ou provocatórias: o artista os elabora até que a obscuridade ameaçadora do fetiche se esclareça na límpida forma do mito. Decompõe-nos e os geometriza, arranca-os da originária semente iconográfica; depois os reorganiza segundo simetrias rigorosas, os reduz à essencialidade de uma geometria primária, feita de verticais, horizontais, triângulos, círculos, quadrados, retângulos; enfim, torna-os macroscopicamente manifestos em acuradas, profundas zonas colorísticas, entre as quais procura precisas relações métricas, proporcionais, difíceis equivalências entre signos e fundo”. “O que a sua pintura, em última análise, quer demonstrar é que nas atuais concepções do espaço e do tempo os símbolos e os signos de uma experiência antiga, ancestral, conservam uma carga semântica não inferior à geometria pitagórica ou euclidiana”, continua Argan. “O seu apelo à simbologia mágica não é, portanto, o apelo à floresta; é, talvez, a recordação inconsciente de uma grande e luminosa civilização negra anterior às conquistas ocidentais. Por isso, a configuração de suas imagens é também mais claramente heráldica e emblemática do que simbólico-mágica”.

 

Melhor síntese sincrética em todas as Américas afetadas por uma colonização brutal

 

Paraense nascido em 1953, artista plástico e poeta, Bené Fonteles destaca que Rubem Valentim “…talvez seja o artista que fez melhor e mais intensamente a síntese sincrética em todas as Américas afetadas por uma colonização brutal que ainda atormenta a consciência no século 21”. “Artista extraordinário que decodificou, durante cinco décadas, a herança mestiça na busca obsessiva de um fazer sempre leal sua “riscadura e sentir brasileiros”, atravessado por propósitos de uma rigorosa e radical artesania”. Ele comenta que Rubem Valentim afirmava: “Fora do fazer, não há salvação”. “Esta salvação era eivada pela   radicalidade de um artista-sacerdote – como ele queria ser em seu mosteiro-ateliê sonorizado pelos cantos gregorianos ou, ainda, Bach e Mozart”, observa Fonteles. “Seja em Brasília ou São Paulo, desenvolvia seu projeto inspirado por sua vocação construtiva vinda da tradição milenar de nossa arte ameríndia assim como dos povos que atravessaram o Atlântico em meio a toda dor e a redimiram num raro projeto cultural e espiritual sem paralelo no mundo. Valentim é produto vital desse ser mestiço que nos tornamos”.

 

Obras do artista em coleções e locais públicos

 

Em 1963, estava sendo criado o Museu de Arte Moderna de Roma, que adquiriu três obras de Rubem Valentim. Em Roma, a Galleria Nazionalle d’Arte Moderna e o Palácio Doria Pamphili também têm obras do artista. Outras instituições na Europa com trabalhos de Rubem Valentim são o Museu de Arte Moderna de Paris, e o Museu de Arte e História de Genebra, Suíça. O Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), EUA, e Museu de Arte de Ontário, Canadá, têm obras do artista. Na África, há obras de Rubem Valentim no Museu de Arte de Lagos, na Nigéria, e no Museu de Arte de Marrakech, no Marrocos. No Brasil, coleções e locais públicos onde podem ser vistas obras de Rubem Valentim: em São Paulo – Biblioteca Municipal Mário de Andrade, Centro Cultural São Paulo, Museu Afro-Brasil, Museu de Arte Contemporânea da USP, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu de Arte de São Paulo, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Praça da Sé, e Coleção Itaú-Unibanco. Em Brasília: Coleção de Arte do Banco do Brasil, Centro Cultural Banco do Brasil, Palácio do Itamaraty, Palácio do Buriti, Ministério da Educação, e Secretaria da Fazenda do Distrito Federal. Em Salvador: Museu de Arte Moderna da Bahia. No Rio de Janeiro: Museu de Arte Moderna.

Até 30 de julho.

 

 

Vivian Caccuri expõe na Dinamarca

27/jun

 

 

 

A Gentil Carioca anuncia a mostra “Mosquito Revenge”, individual de Vivian Caccuri, com curadoria de Julia Rodrigues, na Kunsthal 44Møen, Dinamarca.

 

“Mosquito Revenge” é uma exposição multimeios que reconta a história da colonização europeia do “novo mundo” com os mosquitos como personagens principais. O inseto aparece como uma força paramilitar, referindo-se ao poder da natureza tropical que é perturbada por novas estruturas artificiais. Como resultado desta catástrofe global, os mosquitos tornam-se onipresentes e mortais. A mostra nasce do longo interesse da artista por histórias médicas e do seu estudo dos registros de doenças do século XVIII no ocidente.

 

Coletiva na Galeria BASE

 

 

 

(A) Parte do Todo na Galeria BASE

O todo sem a parte não é todo,

A parte sem o todo não é parte,

Mas se a parte o faz todo, sendo parte,

Não se diga, que é parte, sendo todo.

Gregório de Matos “O todo sem a parte não é todo”

 

A Galeria BASE, Jardim Paulista, São Paulo, SP,  apresenta a coletiva “(A)PARTE DO TODO”, com obras de Andrea Fiamenghi, Anna Bella Geiger, Anna Maria Maiolino, Antonio Dias, Bruno Rios, Christian Cravo, Gilvan Samico, Lucas Länder, Luiz Martins, Lygia Pape, Mario Cravo Neto, Mira Schendel, 32 trabalhos de técnicas e suportes variados: xilogravura, cerâmica, guache, acrílica, nanquim, lápis de cera, aquarela, monotipia, colagem e fotografia. A curadoria é de Daniel Maranhão.

 

(A)PARTE DO TODO, estrofe de um poema de Gregório de Matos, oferece uma reflexão fundamental sobre a importância das “partes” que compõe o todo. Na exposição, com trabalhos criteriosamente selecionados pelo curador, a importância do coletivo está centrada no valor artístico das partes; histórias pessoais se entrelaçam e tecem um “mosaico narrativo” único e harmônico. O conceito criado por Daniel Maranhão propõe “pensar paredes temáticas, de modo a que cada uma estabeleça um diálogo entre artistas, movimentos e momentos da história da arte brasileira, abrindo muitas discussões possíveis e relacionando trabalhos aparentemente apartados”.

 

No primeiro segmento, onde o ponto de convergência é Oswaldo Goeldi, tem-se o diálogo entre as xilogravuras de Gilvan Samico interagindo com obras da mesma técnica de Anna Maria Maiolino, datadas de 1967, época na qual a artista produziu a sua importante série de xilogravuras, obras seminais do Movimento da Nova Figuração que eclodiria no ano de 1970, onde se destaca a antológica obra “Glu, Glu,Glu” uma franca alusão à antropofagia, define Daniel Maranhão. Interessante registrar que por serem ambos aprendizes de Goeldi, de alguma forma faz com que as confluências dos trabalhos excedam o aspecto técnico de produção. Na sequência, tem-se Lygia Pape, artista visual e cineasta, com uma obra da série “Tecelar” e trabalhos de Antonio Dias da série “Nepal”. “Ambos foram artistas contemporâneos brasileiros de peso, e que também tiveram como referência o trabalho do gravurista carioca: Pape produziu um curta metragem intitulado “O Guarda-Chuva Vermelho” a partir de algumas gravuras de Goeldi, e Antônio Dias foi também seu aprendiz”, diz o curador.

 

Um novo recorte, agora com obras únicas feitas por três artistas mulheres durante o século XX, compõe a sala do primeiro andar. Nele temos trabalhos adicionais de Anna Maria Maiolino com obras das séries “Marcas da Gota” e “Cartilhas”, bem como obras de Mira Schendel, em especial da série “toquinhos” e uma ecoline produzida com ouro, assim como trabalhos da multi artista Anna Bella Geiger das séries “Burocracia” e “América Latina”.

 

No segundo pavimento, a fotografia ocupa o lado direito da sala expositiva com simbologias associadas a ritos afro-brasileiros registrados pelas lentes de Mario Cravo Neto e Andrea Fiamenghi, com suas imagens, celebram uma ancestralidade básica, fundamental, que compõe nossa história enquanto povo. Como complemento, uma imagem de Christian Cravo registrada no deserto da Namíbia, sul do continente africano, conclui essa seleção.

 

A parte final que compõe o todo advém de um conjunto de obras que Daniel Maranhão selecionou a partir de alguns trabalhos de artistas, representados pela BASE: Bruno Rios, Lucas Länder e Luiz Martins que desenvolvem suas próprias poéticas através de pesquisas formais em torno dos pigmentos, técnicas e texturas que resultam em belas composições abstratas.

 

De 29 de junho a 12 de agosto.

 

 

Maura Grimaldi expondo em Portugal

 

“Campo de trabalho” é o nome que engloba diferentes ações que Maura Grimaldi elaborou ao longo dos últimos meses a fim de problematizar a esfera do trabalho, sobretudo no campo da cultura, sua precarização e a financeirização da vida. Para o contexto do projeto Kubikulo, Grimaldi cria um diálogo com as ordinárias mostras de lojas de roupas, apresentando uma de suas mais recentes obras: uma t-shirt branca com a inscrição da frase “- Ninguém trabalha amanhã! – Ninguém!”, realizada em parceria com sua mãe Ana Cristina Porto Castanheira (1956). O projeto originalmente prevê a utilização dessa peça gráfica e têxtil por Ana Cristina, funcionária do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS no Brasil, durante os períodos em que a t-shirt é exibida. A frase que consta na peça de roupa e que dá título á obra foi retirada do livro “Parque Industrial”, escrito em 1933 por Pagu (1910-1962). O livro, publicado sob o pseudônimo Mara Lobo, foi considerado o primeiro romance proletário brasileiro. Juntamente a apresentação do vestuário, é possível ter acesso a outras ações, obras desenvolvidas e conteúdos investigados no âmbito do projeto “Campo de trabalho” através de um QR Code disponível na vitrine da galeria Kubik. Abertura no dia 30 de Junho, no Kubikulo, Rua da Restauração 10, Porto, Portugal, inaugura a exposição “CAMPO DE TRABALHO (- Ninguém trabalha amanhã! – Ninguém ) de Maura Grimaldi.

 

Sobre a artista

 

Maura Grimaldi nasceu em 1988, São Paulo, Brasil. Dedica-se á pesquisa e prática artística. Completou seus estudos de Licenciatura e Mestrado em Artes Visuais pela Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. Atualmente desenvolve seu doutoramento em Lisboa. Seus projetos abordam majoritariamente assuntos relacionados á fantasmagoria, ás tecnologias obsoletas, á arqueologia e á geologia das mídias. Mais recentemente, vem utilizando a literatura e o desenho gráfico para refeletir sobre a enconomia da atenção e as formas de subjetivação na contemporaneidade.

 

Raras obras de Portinari no CCBB

23/jun

 

 

No dia 29 de junho, o Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro inaugura a exposição “Portinari Raros”, com cerca de 50 obras pouco vistas ou nunca antes expostas de Candido Portinari (1903-1962), um dos mais importantes artistas brasileiros de todos os tempos. Com curadoria de Marcello Dantas, a mostra apresenta a enorme diversidade da obra deste grande artista múltiplo, que explorou diversas linguagens, revelando uma faceta pouco conhecida de um dos nossos mais reconhecidos artistas. Obras originais, raras, como a única cerâmica produzida pelo artista ao longo de toda a sua vida, estudos de dois cenários produzidos para o “Balé Iara”, da companhia Original Ballet Russe, e um dos estudos para o painel “Guerra”, da ONU, estarão na exposição, assim como pinturas e desenhos em diversas técnicas, e figurinos, mostrando um artista eclético, que se aventurou em diversas manifestações artísticas muito além de sua zona de conforto. “Portinari é o maior pintor da brasilidade, tem um papel chave no modernismo brasileiro e foi um artista bastante multidisciplinar no seu tempo, encontrou caminhos e linguagens, diversidade de estilos e possibilidades. Apesar de ser uma figura muito conhecida no Brasil, muita gente não tem noção da enorme diversidade de linguagens que ele explorou e é isso que a exposição mostrará”, afirma o curador Marcello Dantas. Ocupando o primeiro andar do CCBB RJ, a mostra será dividida em seis núcleos temáticos: “Fauna”, “Paisagens acidentais”, “Desenhos”, “Infância”, “Carajá”, “Balé” e “Flora”, que darão um amplo panorama das diversas facetas e linguagens exploradas por Portinari, revelando um artista eclético, pesquisador, capaz de se arriscar em outras formas de criatividade, como figurino, cenários, ilustrações e novas linguagens, trazendo à tona um Portinari invisível, ousado e pouco conhecido. “As obras vieram principalmente de coleções privadas, o que significa que várias nunca foram expostas ou estão há muitas décadas em casas de pessoas sem serem vistas pelo público. São trabalhos que circularam relativamente pouco e que vão surpreender muita gente”, ressalta o curador. Completa a mostra a instalação digital “Carroussel Raisonnée”, que levará o público a uma viagem por todas as 4.932 obras catalogadas de Portinari. Os trabalhos serão apresentados em sequência cronológica, em uma projeção com mais de oito horas de duração, mostrando um panorama da enorme diversidade de estilos que é a produção do artista.

 

Obras em destaque

 

Entre os destaques da exposição estão as pinturas em óleo sobre tela “Meninos com Balões” (1951) e “Jangada e Carcaça” (1940), assim como o painel em óleo sobre madeira “Flora e Fauna Brasileiras” (1934), que tem 1,60m de comprimento, e “Menino Soltando Pipa” (1958), a única cerâmica feita por Portinari ao longo de sua vida. Também se destacam “Paisagem com Urubus” (1944), projeto para cenário do “Balé Iara”, o primeiro balé brasileiro a entrar no circuito  internacional. Com a Segunda Guerra Mundial, o Original Ballet Russe, passou a excursionar pelas Américas e procurou enriquecer seu repertório, incorporando concepções arrojadas e modernistas de importantes artistas locais. Desta forma, o argumento foi encomendado ao poeta Guilherme de Almeida; a música ao maestro Francisco Mignone e os cenários e figurinos a Portinari. Além do projeto para cenário em óleo sobre cartão, os figurinos criados por Portinari também estarão na mostra, em uma animação digital. A obra “A Morte Cavalgando” (1955) também ganha destaque por ser o estudo realizado para o painel “Guerra”, instalado na entrada da Assembleia Geral da ONU, em 1956. A obra “O Cemitério” (1955), em óleo sobre papel, presente na mostra, é a nona ilustração do livro “A selva”, de Ferreira de Castro, publicação comemorativa dos 25 anos da primeira edição da obra, ilustrada com doze gravuras de Portinari, executadas na Casa Bertrand. A pintura “Marinha” (1953), em óleo sobre tela, se destaca por suas cores e luminosidade. Como afirmou Luís Carlos Prestes: “As cores do Portinari impressionam, são especificamente brasileiras. No Brasil, a luminosidade é muito diferente de qualquer outro lugar. E ele sabia dar essa luminosidade. E a vegetação verde, o mar azul e aquela listra branca, de areia branca. Não conheço outros pintores latino-americanos que tenham feito coisa parecida”. A pintura “Tempestade” (1943), em óleo sobre tela, que foi uma encomenda de Assis Chateaubriand, também estará na exposição. Ao ver a obra, Chateaubriand quis adquiri-la, mas Portinari explicou que ela já estava reservada para um amigo, prometendo-lhe fazer outra semelhante.

 

Ambientação

 

Mais do que trazer obras raras, a ideia da exposição é mostrar um Portinari que o público não conhece. Para isso, toda a ambientação da exposição foi cuidadosamente pensada para que as pessoas sejam imersas no universo de Portinari e entendam de forma ampla quem foi este grande artista. As paredes de duas salas da exposição serão compostas por desenhos do próprio Portinari, que deram origens às obras que estarão expostas naquele ambiente. “Com isso, será possível entender o seu processo de trabalho. As paredes estarão todas marcadas com os desenhos que depois vão se transformar em pinturas”, conta o curador Marcello Dantas. No núcleo “Flora”, que mostra a série de pinturas que ele fez sobre flores, arranjos de verdade de flores secas, de espécies que inspiraram Portinari a pintar as obras, irão compor as paredes.

 

Sobre o curador

 

Marcello Dantas é um premiado curador interdisciplinar com ampla atividade no Brasil e no exterior. Trabalha na fronteira entre a arte e a tecnologia, produzindo exposições, museus e múltiplos projetos que buscam proporcionar experiências de imersão por meio dos sentidos e da percepção. Nos últimos anos esteve por trás da concepção de diversos museus, como o Museu da Língua Portuguesa e a Japan House, em São Paulo; Museu da Natureza, na Serra da Capivara, Piauí; Museu da Cidade de Manaus; Museu da Gente Sergipana, em Aracaju; Museu do Caribe e o Museu do Carnaval, em Barranquilla, Colômbia. Realizou exposições individuais de alguns dos mais importantes e influentes nomes da arte contemporânea como Ai Weiwei, Anish Kapoor, Bill Viola, Christian Boltanski, Jenny Holzer, Laurie Anderson, Michelangelo Pistoletto, Rebecca Horn e Tunga. Foi também diretor artístico do Pavilhão do Brasil na Expo Shanghai 2010, do Pavilhão do Brasil na Rio+20, da Estação Pelé, em Berlim, na Copa do Mundo de 2006. Atualmente, é responsável pela curadoria da próxima edição da Bienal do Mercosul que ocorre em 2022, em Porto Alegre, e é curador do SFER IK Museo em Tulum, México. Formado pela New York University, Marcello Dantas é membro do conselho de várias instituições internacionais e mentor de artes visuais do Art Institute of Chicago.

 

Sobre o Projeto Portinari

 

Fundado dentro da área científica da PUC- Rio, o Projeto Portinari tem como objetivos, além do resgate abrangente e minucioso da vida e da obra de Candido Portinari, gravar a obra do artista na busca da nossa identidade cultural e consolidação da nossa memória nacional. Não menos importante mobilizar a grande mensagem pictórica, ética e humanista de Portinari na promoção de valores mais atuais do que nunca, como a não violência, a justiça social, fraternidade entre os povos e o respeito à dignidade da vida. O projeto tem, ainda, uma ampla e importante contribuição sociocultural, buscando uma melhor compreensão do processo histórico-cultural brasileiro. Através de um intenso trabalho de pesquisa, organização e digitalização de imagens, o projeto já catalogou mais de 5.300 pinturas, desenhos e gravuras; mais de 25 mil documentos sobre sua obra e vida; mais de 6 mil cartas, além de fotografias, filmes, recortes; mais de 10 mil publicações; mais de 70 depoimentos, totalizando 130 horas gravadas, de artistas, intelectuais e personalidades de seu tempo, realizou pesquisa de autenticidade das obras (Projeto Pincelada), além da publicação do Catálogo Raisonné “Candido Portinari – Obra Completa”, primeira publicação dessa natureza na América Latina.

 

Sobre o CCBB

 

O Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro ocupa o histórico nº 66 da Rua Primeiro de Março, no centro da cidade, prédio de linhas neoclássicas que, no passado, esteve ligado às finanças e aos negócios. No final da década de 1980, resgatando o valor simbólico e arquitetônico do prédio, o Banco do Brasil decidiu pela sua preservação ao transformá-lo em um centro cultural. O projeto de adaptação preservou o requinte das colunas, dos ornamentos, do mármore que sobe do foyer pelas escadarias e retrabalhou a cúpula sobre a rotunda. Inaugurado em 12 de outubro de 1989, o Centro Cultural Banco do Brasil conta com mais de 30 anos de história e celebra mais de 50 milhões de visitas ao longo de sua jornada. O CCBB é um marco da revitalização do centro histórico da cidade do Rio de Janeiro e mantém uma programação plural, regular, acessível e de qualidade. Agente fomentador da arte e da cultura brasileira segue em compromisso permanente com a formação de plateias, incentivando o público a prestigiar o novo e promovendo, também, nomes da arte mundial reconhecidos artistas brasileiros.

 

Até 12 de setembro.

 

 

Coletiva na Baró Mallorca

22/jun

 

 

A galeria BARÓ Mallorca, Carrer Can Sanç 13, Palma, Mallorca, Islas Baleares, España, anuncia sua nova mostra coletiva, “WE KILLED THE BUNNY!” – uma mostra delirante com curadoria do venezuelano Rolando J. Carmona. A exposição reúne um grupo de importantes artistas de diferentes nacionalidades e contextos que, entre ficção científica, desenhos e instalações, deixam vestígios de um mundo híbrido. Os artistas presentes são Assume Vivid Astro Focus (AVAF), Arturo Herrera, Adrián Villar Rojas, Claes Oldenburg, Daniel Arsham, Erwin Olaf, Amparo Sard, Fernando Renes, Anita Molinero, AES+F, Lyz Parayzo, Soju Tao e Albert Pinya.

 

A história de Efrain Almeida

 

 

O Museu de Arte Sacra de São Paulo – MAS/SP, Avenida Tiradentes, 676, Luz, instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, apresenta de 26 de junho a 14 de agosto a exposição “O Sexto Dia”, do artista Efrain Almeida, sob curadoria de Paulo Azeco, que discorre sobre a trajetória do artista, em primeira pessoa, narrando sua história e pautando suas escolhas no decorrer dos anos.

O momento em que Efrain Almeida teve revelado o seu real papel como criativo, quando uma súbita sensação de entendimento da sua essência, quase um sonho irrealizável de conscientização sobre sua procura, ocorre em uma visita à sala de ex-votos em uma congregação local. “Enquanto imagens, relíquias, artefatos votivos são instrumentos de adoração e por vezes causadores de êxtase entre fiéis, no caso de Efrain, a epifania foi estética. Aquilo era o máximo de força criativa que já havia visto e é esse o ponto fundamental de sua produção artística”, explica o curador.

“O Sexto Dia”, dia da criação dos animais e do homem, segundo as Escrituras, marca o momento de sua epifania por sua profunda compreensão da essência das coisas e de sua inserção no todo; a consciência de que todos são criados iguais, sem distinção nem diferenças. Dos desenhos feitos na areia em um pequeno município do interior do Ceará, o artista arquiteta seu sexto dia participante, com objeto de arte, como parte da trajetória que conta a história como personagem de sua própria obra.

Seus delicados beija-flores, em pleno voo, beijam as paredes para dar as boas-vindas já que, em algumas culturas antigas, são seres de luz e portadores de boa sorte. “Eles abrem a exposição, para contar a história desse artista, que esteticamente está muito ligado ao cristianismo, mas que usa o seu corpo, e sua vida como testemunho do seu tempo, partindo de códigos próprios norteados pelo pensamento contemporâneo”, explica Paulo Azeco. O equilíbrio harmônico é desafiado pela série de aquarelas, lembranças do momento pandêmico onde o artista, infectado e afetado por febre elevada, insere o beija-flor em uma delas talvez, inconscientemente, buscando a cura. As aquarelas são seguidas por delicadas pinturas a óleo, reposicionando a figura humana como tema central, elaborada com a precisão geométrica dos concretistas e sofisticadas técnicas e seleção de paletas de cor.

“Cabeça-vermelha”, que compõe a sala expositiva, é uma instalação inédita criada por Efrain para esse momento específico. Está diretamente vinculada às lembranças de sua vida pregressa com pessoas agora ausentes, carinhos do coração. O curador explica: “ Seu pai, marceneiro, sempre cortou os cubos de madeira para Efrain esculpir… Tempos depois de sua morte, Efrain encontra essas últimas peças de madeira esquecidas e as esculpe, uma a uma, em um momento de intimidade sublime entre seu trabalho e a lembrança de seu pai. Obras impregnadas de emoção que, de alguma forma, buscam no espectador cumplicidade frente a delicadeza e força do trabalho”.

Finalizando a exposição, temos uma imagem de Santa Luzia, santa de devoção de Efrain e protetora dos olhos os quais, nas representações escultóricas ela os carrega em sua mão, e que se tornaram elementos constantes nas criações do artista. Uma instalação, com uma série de bonés de veludo onde o artista utiliza a cor marrom, remete a San Francisco, EUA e que, de certa forma fala, sobre sua história, fica posicionada à frente do par de olhos. “Seriam todos esses olhos vigiando ou culpando o artista?”, comenta o curador, deixando a resposta em aberto.

Efrain é daqueles poucos artistas que sempre se manteve fiel à sua arte e sua verdade, se afastando de modismos e mostrando que seu trabalho, por vezes tido como regionalista, é na verdade universal, graças a sofisticação de pensamento, execução. Enfatiza, também, que por tratar um tema tão delicado como a igreja e a fé com força, coragem e respeito, é capaz de criar uma poética precisa e coesa E como na criação do homem, no sexto dia, o artista aqui se desnuda”.  Paulo Azeco

 

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