[1] Heinz Mack, citado por Yvonne Schwarzer [tradução nossa], Das Paradies auf Erden schon zu Lebzeiten betreten. Ein Gespräch mit dem Maler und Bildhauer Heinz Mack, Witten, ars momentum Kunstverlag GmbH, 2005, p. 15.
[1] Heinz Mack, citado por Yvonne Schwarzer [tradução nossa], Das Paradies auf Erden schon zu Lebzeiten betreten. Ein Gespräch mit dem Maler und Bildhauer Heinz Mack, Witten, ars momentum Kunstverlag GmbH, 2005, p. 15.
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No vão livre do museu, foi instalada uma escultura que se apropria da estrutura de uma fogueira à espera de ser acesa, com uma porta fixada em seu topo.
No foyer, uma projeção de grandes dimensões exibirá uma fogueira queimando continuamente, até a total destruição da porta. Graças à configuração arquitetônica do local, a imagem extrapola os limites da tela e reflete, não só no piso de granito preto, mas através das paredes de vidro do museu, transformando o espaço em uma grande fogueira imagética.
Texto: Fabio Szwarcwald
Em setembro, o Rio de Janeiro será palco do “Rua Walls”, projeto de arte pública, aberta e acessível que contará com a participação de 18 artistas. Eles irão transformar 1,5 Km dos muros dos Armazéns da Zona Portuária, na Av. Rodrigues Alves, em obras de arte. Cada convidado será responsável por produzir um mural em 30 noites a partir do dia 22/08 com auxílio de 14 plataformas elevatórias distribuídas ao longo do trecho. O início da exposição está previsto para o dia 27/09. O projeto de urbanismo tático foi criado pela produtora Visionartz, que há mais de 10 anos desenvolve na região ações e revitalização urbana, sempre associadas ao desenvolvimento social por meio da arte.
Mais do que uma exposição artística, a iniciativa serve como ferramenta de revitalização da região e movimentação da economia local, impactada pela crise do coronavírus. De acordo com André Bretas, um dos idealizadores do evento, o Rua Walls traz um novo colorido para o bairro em um momento tão cinzento. “As pinturas revitalizam a cidade e podem ser vistas de dentro do carro, ônibus ou por pessoas que estejam passando pelo local a turismo ou não”, explica. Os passantes poderão admirar as obras, que estarão expostas na altura do prédio AQWA Corporate, Túnel Marcelo Alencar até a Rodoviária Novo Rio.
O Rua Walls faz parte de um novo projeto urbanístico da região que tem como objetivo integrar a Região Portuária à vida cultural e profissional da cidade. “A Zona Portuária ficou muito atrativa com a revitalização urbana realizada nos últimos anos e, agora, a Companhia Docas do Rio de Janeiro tem a oportunidade de também colaborar nesse trabalho com a implementação do projeto Rua Walls nos muros do nosso Porto do Rio de Janeiro, em parceria com empresas arrendatárias dos terminais”, afirmou o diretor-presidente da CDRJ, Francisco Antonio de Magalhães Laranjeira.
Para o presidente Laranjeira, as pinturas que contemplarão os muros externos do porto, entre os armazéns 10 e 18, estreitarão a relação porto x cidade: “A Avenida Rodrigues Alves será transformada em um verdadeiro museu à céu aberto, atraindo cidadãos cariocas e turistas ao Porto do Rio de Janeiro, o que certamente vai promover ainda mais a região, já consolidada como referência histórica e cultural”.
O projeto oferece ao público a oportunidade de consumir e admirar manifestações artísticas de artistas visuais talentosos do cenário atual. Atividades ao ar livre já são uma prática atuante entre cariocas e turistas, e as obras surgem para reforçar o lazer da população através do urbanismo tático na Zona Portuária da cidade. Vale ressaltar que, durante a concepção do Rua Walls, também será realizada a pintura artística nos muros da Escola Municipal General Mitre, no Morro do Pinto. A ação faz parte do projeto “Voltando às Aulas”, liderado por Ricardo Célio, um dos artistas escalados.
Dentre os nomes confirmados para execução das obras estão: Agrade Camís, Amorinha, Bruno Lyfe, Célio, Chica Capeto, Diego Zelota, Doloroes Esos, Flora Yumi, Igor SRC, Leandro Assis, Luna Bastos, Mariê Balbinot, Marlon Muk, Miguel Afa, Paula Cruz, Thiago Haule, Vinicius Mesquita e Ziza.
Cuidados e interdições
Com a pandemia da COVID-19 os cuidados foram redobrados. A equipe de produção foi reduzida e estão sendo seguidas todas as recomendações do Ministério da Saúde. As pinturas serão feitas durante a madrugada, período em que a avenida permanece interditada para o trânsito.
Sobre o Rua Walls
Rua Walls é um projeto de urbanismo tático da produtora Visionartz, que há mais de 10 anos desenvolve na região ações de revitalização urbana associada ao desenvolvimento social por meio da arte. A ação contará com a participação de 18 artistas que serão responsáveis por transformar 1,5 Km dos muros dos Armazéns da Zona Portuária, na Av. Rodrigues Alves, em obras de arte.
Dentre os patrocinadores do evento estão: Triunfo Logística, ICTSI Rio Brasil, Multiterminais, Terminal de Trigo do Rio de Janeiro – TTRJ, Lei Municipal de Incentivo à Cultura, Prefeitura do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura – SMC. Sherwin Willians e Color Gin Arte Urbana são as marcas das tintas oficiais e a Otima é o mídia partner. Os apoiadores são: Companhia Docas do Rio de Janeiro, Hotel Mar Palace Copacabana, Tishman Speyer, Veloe, Taeco, Pincéis Atlas, Faria Cendrão e Maia – FCM Law. O projeto conta ainda com o apoio institucional da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto – CDURP.
O Museu de Imagens do Inconsciente, Engenho de Dentro, Rio de Janeiro, RJ, criado pela psiquiatra Nise da Silveira em 1952, tem a honra de estar representado na 11ª Bienal de Berlim, a partir do próximo dia 05 de setembro, com curadoria de María Berríos, Renata Cervetto, Lisette Lagnado e Agustín Pérez Rubio. Os curadores selecionaram 22 obras dos artistas Adelina Gomes (1916-1984) e Carlos Pertuis (1910-1977), que frequentaram o ateliê de arte criado em 1946 pela médica visionária como uma das estratégias de liberdade em meio ao confinamento dos pacientes.
“A luta antimanicomial da Dra. Nise da Silveira, que se traduziu na prática do afeto e do calor humano reinante nos ateliês de atividades expressivas, permitiu amenizar a dor psíquica do esquizofrênico, e nos revela a extraordinária potência da criação a despeito de pertencer a vidas danificadas”, destaca Lisette Lagnado.
Com um acervo de 400 mil obras, o Museu de Imagens do Inconsciente tem vários projetos em curso, como o de arquitetura e urbanismo que prevê a criação de uma área verde integrando seus dois edifícios; a catalogação e digitalização de 400 obras, a serem disponibilizadas junto com textos informativos em um site bilíngue; e um inventário de 22 mil obras do lote das 128 mil tombadas pelo IPHAN.
E em breve o Museu vai iniciar a terceira fase do matchfunding com o BNDES – que coloca dois reais para cada real doado – para uma obra no prédio recentemente anexado, que irá abranger a reforma do telhado, parte elétrica e de banheiros, poda das árvores, além de aumentar a área expositiva do Museu. A primeira fase deste projeto foi iniciada em janeiro, e uma bem-sucedida campanha se bateu a meta de R$ 244 mil, e em seguida uma segunda meta de R$ 278 mil. (https://benfeitoria.com/imagensdoinconsciente). Entre os apoiadores, estiveram a artistas Maria Bethânia e Glória Pires.
Fotos das obras dos artistas Adelina Gomes e Carlos Pertuis.
A Galeria Evandro Carneiro Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, apresenta de 29 de agosto a 23 de setembro a Exposição Manuel Messias dos Santos. A mostra conta com trinta gravuras do artista nascido em Sergipe, mas que fincou suas raízes no Rio de Janeiro. Nordestino, pobre e doente, acabou vagando pelas ruas do Rio de Janeiro sem o sucesso merecido. Sua arte evidencia expressões das mazelas sociais que nos assombram historicamente. Além da força imagética de seu trabalho, a narrativa em linguagem própria nos deixa um legado de mistério, ainda a ser revelado. Em destaque as obras “O que tem na fala do Cão da lua?”, “Por que me abandonaste”; “Fuga”, entre outras.
“Não preciso de côr – afirma – ela diminui a agressividade da gravura. Me basta o conflito do preto e do branco.”
Manuel Messias dos Santos ao crítico Frederico Morais para o Diário de Notícias (1968).
“Outro dia cruzei com Manoel Messias num dos corredores da Funarte. Trazia debaixo do braço um rolo com suas gravuras. Nervoso, ao mesmo tempo tímido e agressivo, atento e desligado, rosto encovado, os olhos ameaçando explodir. Ali mesmo no chão abriu suas gravuras, enormes, verdadeiros cartazes. Entretanto, o que ele anuncia não são amenidades ou veleidades, nem slogans ou mercadorias. Anuncia a dor e a revolta, abre a boca, cospe sangue, exala o protesto, espuma raiva. Finca o mastro, abre a bandeira e como um Messias condena o erro e antecipa a palavra final. Sua gravura, em que sobram os espaços brancos e o vermelho e o azul são as únicas cores empregadas, tem algo de bíblico. E apesar da rigorosa economia de recursos, é uma gravura sofrida, amarga e de forte impacto visual. (…) Sobram qualidades em sua gravura. Qualidades que já deveriam ter sido notadas pelas galerias e organismos culturais.” Frederico Morais, “Gravura de Manoel Messias. Galeria de Arte em casa”, In. Coluna Artes Plásticas, O Globo 28/02/1979.
A mostra será aberta ao público SEM VERNISSAGE devido à pandemia, durante o horário de visitação da galeria, de segunda a sábado, das 10h às 19h.
O shopping Gávea Trade Center funciona com obrigatoriedade do uso de máscaras e fornece álcool em gel e medição de temperatura para quem entrar. Não há necessidade de agendar a visita, pois o espaço é grande e sem aglomerações.
Sobre o artista:
Em sua coluna Artes Plásticas no Diário de Notícias de 07 de agosto de 1968, Frederico Morais dedicava-se à Gravura de Manuel dos Santos e dizia o seguinte, a propósito de uma exposição do artista que inaugurava naquela ocasião:
“Manuel dos Santos, ou Manuel Messias para alguns amigos, é de Sergipe, onde viveu até os cinco anos de idade, acostumando-se a uma paisagem de extrema penúria. Na sua descida para o sul, o que fêz com sua tia e sua avó, de caminhão, parou primeiro na Bahia, onde ficou uns 2 anos. Após o que se mandou de trem para o Rio. E enquanto sua tia trabalhava como doméstica na casa do ex-diretor do MAM Leonidio Ribeiro, Manuel dos Santos fazia alguns rabiscos e ensaiava seus primeiros contatos com a pintura. Chegou mesmo a frequentar, como ouvinte, a Escola Nacional de Belas Artes, inclusive assistindo as aulas de Abelardo Zaluar. Acabou sendo notado, e pelas mãos de Marilu Ribeiro foi levado a Ivan Serpa, em 62, que contudo, achou ruim seus pastéis e pinturas. Manuel dos Santos, porém, não desanimou e foi ficando, olhando, lendo alguns livros recomendados por Ivan Serpa. Até que decidiu fazer xilogravura, devido, talvez, à presença de Mirian Cerqueira. E o professor que não aprovara sua pintura não teve dúvidas em elogiar a sua gravura. A partir de então, Manuel dos Santos jamais pegou em pincéis ou fêz uso das côres.”
Conforme resumiu o próprio artista em entrevista ao jornalista crítico de arte para a matéria: “ – ‘Não preciso de côr – afirma – ela diminui a agressividade da gravura. Me basta o conflito do preto e do branco.’ E Manuel dos Santos explica a evolução de sua gravura: ‘primeiro, era preciso dominar a linguagem. Conseguindo isto era preciso dizer. Foi quando então senti vontade de falar da fome e da miséria que eu vi na minha infância lá no Nordeste. Mulher virando boi é uma das gravuras dessa época. Finalmente, a descoberta da madeira e seu domínio. O tema, hoje, é de importância relativa, pelo menos em relação ao próprio ato de gravar. É por isso que o fantástico vai tomando o lugar da realidade. A realidade da gravura: eis o que importa. Ou ainda, o desenho é puro pretexto para cavar a madeira. O objetivo não é gravar o desenho, mas dar ao corte um sentido de autonomia, como que um valor próprio’.”
Frederico Morais finaliza a crítica daquela semana, contando-nos sobre o desafio do artista quanto à tiragem: “Manuel dos Santos gostaria de ampliar o tamanho de sua gravura e eliminar o preconceito da tiragem. Fazer gravuras de dois metros ou mais e tirar 50, 100 cópias para baratear o preço individual. Só assim, entende, a gravura poderá atualizar-se e romper com suas origens medievais.” (Frederico Morais, “A gravura de Manuel dos Santos”, In. Coluna Artes Plásticas, Diário de Notícias, 07/08/1968).
Alguns anos antes, na mesma década em que Frederico Morais escreveu a matéria acima, reproduzida quase na íntegra aqui, Evandro Carneiro frequentara o curso de Ivan Serpa no MAM a que Frederico se refere, tendo sido colega e amigo de Messias. Evandro relembra que o trabalho pictórico inicial do artista “era realizado com pasteis oleosos e carregava uma grande influência de Van Gogh”. Tratava-se de “um jovem bastante talentoso e de grande curiosidade intelectual. Ele adorava Dostoievski exatamente devido àquele clima pesado com o qual se identificava. Em 1974 Evandro organizou na Bolsa de Arte uma exposição de Messias, Goeldi e Grassmann, pela semelhança temática e da gravura dos artistas.” E acrescenta:
“Alguns artistas têm a sua obra indissociável de sua biografia. No caso do Messias, para conhecer a sua obra, é importante notar que ele entrou num agudo e irreversível processo de esquizofrenia, com algumas internações e muita resistência quanto à institucionalização. Fugia sempre, não tomava os remédios e usava drogas na rua, onde vivia com sua mãe. Após o falecimento da mesma, seu quadro clínico se agravou. Mas ainda assim ele produzia sem parar e houve um período em que ele construiu um vocabulário próprio, com um alfabeto que se tornava cada vez mais presente em sua obra. As letras tinham origens diferentes, sendo uma grega, outra do latim antigo, e ele misturava tudo numa linguagem própria, cujo sentido é difícil decifrar. Eu tenho um álbum com uma série de gravuras e esse código ao final, no entanto é impossível entender.” (Evandro Carneiro, entrevista oral realizada em 19/05/2018).
Retornando a Frederico Morais, já em outro jornal onde tinha sua coluna de artes plásticas e uma década depois da primeira crítica citada aqui, ele relata um caso sobre o artista que revela algo sobre a confusão psíquica de Messias:
De fato, desde 1965 o artista apresentou seus trabalhos em alguns espaços, mas permaneceu sempre a espera de reconhecimento: coletivas que incluíram os Salões de Arte Moderna (1965/1968) e de Artes Plásticas (1966). Participou de importantes eventos internacionais, como a Bienal de Desenho e Gravura da cidade do México (1979), onde conquistou o prêmio de sua área, a I Bienal Iberoamericana de Arte (1980), além de salões regionais pelo Brasil. Realizou ainda algumas mostras individuais nos anos 1980/ 1990 e após a sua morte. Nos últimos anos de sua vida, amigos, marchands e artistas tentaram ajudá-lo a sair das ruas e a promover sua obra, mas Messias era resistente e insistia em não se tratar. Faleceu em 2001 já completamente envolvido pela mendicância.
Esta exposição na Galeria Evandro Carneiro Arte reúne gravuras de duas coleções de amigos de Manuel Messias. Procuramos o Frederico Morais, crítico de arte icônico que também conheceu bastante o artista, para referenciar o talento e a importância de sua obra, a partir de textos originais sobre o artista. No fundo, a história de Messias diz muito sobre o nosso país: nordestino, pobre e doente, acabou vagando pelas ruas do Rio de Janeiro sem o sucesso merecido. Sua arte evidencia expressões das mazelas sociais que nos assombram historicamente. Além da força imagética de seu trabalho, a narrativa em linguagem própria nos deixa um legado de mistério, ainda a ser revelado, que também compõe a sua obra.
Laura Olivieri Carneiro Agosto de 2020
A exposição da artista Maureen Bisilliat poderá ser visitada a partir de 05 de agosto a 03 de outubro na unidade Jardins, São Paulo, SP, respeitando todos os protocolos e recomendações das autoridades de saúde, com visitas mediante agendamento pelo email: info@
A Galeria Marcelo Guarnieri tem o prazer de apresentar ECOLINES, primeira mostra em nossa unidade de São Paulo da fotógrafa Maureen Bisilliat, que passa a ser representada pela galeria. A exposição será a primeira a ser realizada em circuito comercial e contará com obras das séries “Ecolines” (1960-2020) e “Sertões” (1960- 2020), de tiragem limitada. Na série “Ecolines”, Bisilliat apresenta fotografias feitas na década de 1960 em viagens pelo Brasil posteriormente modificadas por intervenções feitas com a tinta Ecoline. O processo consistia em ampliar as fotografias em preto e branco e “tintá- -las” através de um método intuitivo, retomando a prática de pintura que desenvolvia em suas aulas no Arts Students League, durante a década de 1950 em Nova York. As fotografias, que ficaram em pausa durante sessenta anos nos arquivos da artista, foram reencontradas no último ano e passaram por uma série de processos antes de se apresentarem como se vêem na exposição. Elas foram digitalizadas, impressas em tamanho reduzido, fotografadas novamente e finalmente impressas em uma escala maior à que originalmente havia sido ampliada. Essas “tintagens” e “refotografias” acabam produzindo ambiguidades na estrutura da imagem enquanto tal: entre os elementos da composição – pelo jogo de luz e cores –, assim como entre o limite da imagem como superfície e como objeto, remetendo à materialidade da fotografia analógica. Para Bisilliat, tais processos, posteriores ao registro fotográfico, constituem um momento particular de reflexão e construção do trabalho, onde se entrecruzam temporalidades múltiplas: “o instante da foto / o tempo do acontecer / a memória do fato / a reinvenção da imagem / os processos editoriais / o cotidiano / o originário / o sem fim…”.
Todos esses processos, incluindo a composição dos conjuntos durante a montagem, contaram com o envolvimento de diversas pessoas, que com saberes e maneiras distintas de atuação, foram de fundamental importância para dar origem à nova forma de vida dessas imagens. A série “Sertões” é composta por fotografias feitas entre os anos de 1967 e 1972 em aldeias e lugares santos dos municípios de Canindé, Juazeiro do Norte e Bom Jesus da Lapa, nos estados do Ceará e da Bahia e contou com o incentivo de uma Bolsa do Guggenheim.
Algumas das imagens dessa série deram origem à publicação “Sertões: Luz & Trevas”, de 1982, que combina trechos do clássico “Os sertões” de Euclides da Cunha aos seus registros fotográficos, produzindo diálogos, justaposições e dissonâncias. Os conjuntos apresentados na exposição misturam fotografias em cores e fotografias em preto e branco modificadas por intervenções de cor.
Sobre a artista
Nascida na Inglaterra em 1931 e radicada no Brasil, Maureen Bisilliat é responsável por uma investigação fotográfica de mais de cinquenta anos. Viajou intensamente quando criança, uma vida desenraizada que levou à busca de raízes que caracteriza o seu trabalho. Após estudar artes plásticas na França e nos Estados Unidos, estabeleceu-se na cidade de São Paulo na década de 1950, atuando inicialmente como fotojornalista nas revistas Realidade e Quatro Rodas a partir de 1962. Durante os dez anos que trabalhou para a Editora Abril, pôde fotografar em contextos diversos do Brasil, produzindo ensaios que ficaram célebres, dentre eles “Caranguejeiras”, no qual retrata mulheres catadoras de caranguejos na aldeia paraibana de Livramento.
A curiosidade por um Brasil ainda desconhecido durante a década de 1960 se associa ao fascínio por obras literárias brasileiras e resulta em um projeto de longa duração que Bisilliat classificou como de “equivalências fotográficas” com a literatura. Produz, entre as décadas de 1960 e 1990, uma série de livros de fotografias que dialogam com as obras de Jorge Amado, Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Ariano Suassuna, Adélia Prado e Euclides da Cunha. Em 1985 expõe em uma sala especial da XVIII Bienal de São Paulo um ensaio baseado no livro “O turista aprendiz” de Mário de Andrade. Na década de 1980, começa a dedicar-se também ao audiovisual, lançando em 1981 o documentário “Xingu/ Terra”, filmado com o diretor de fotografia Lúcio Kodato, na aldeia Mehináko do Alto Xingu. Foi curadora da Sala Especial XINGU TERRA, instalada na XIII Bienal de São Paulo (1975). Seu olhar devota uma especial atenção ao fator humano, interesse que pode ser observado na multiplicidade de retratos que compõem a sua obra e no registro das manifestações culturais dos retratados, seja através da vestimenta do sertanejo, da pintura corporal da indígena, da rede do pescador ou da fantasia da carnavalesca. A ideia de equivalência que utilizou para definir seu trabalho com a literatura, norteia também a sua prática através da relação de cumplicidade e troca que constrói com aqueles que retrata enquanto filma ou fotografa. “Forma-se uma cumplicidade natural. Eu não gosto da solidão. Não gosto de trabalhar sozinha”, afirma Maureen .
Maureen Bisilliat foi bolsista da Fundação Guggenheim, do CNPq (1981-1987) e da Fapesp (1984-1987). Em 2010 foi vencedora dos prêmios Porto Seguro de Fotografia, Ordem do Ipiranga, Ordem do Mérito Cultural e a Ordem do Mérito da Defesa. Desde fevereiro, Bisilliat apresenta na sede de São Paulo do IMS “Agora ou nunca – Devolução: paisagens audiovisuais de Maureen Bisilliat”, exposição que percorre seu vasto acervo audiovisual, concebida em colaboração com Rachel Rezende. O Instituto é detentor do acervo fotográfico de Bisilliat desde o ano de 2003.