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AGENDA CULTURAL

Cerâmicas de Kimi Nii

23/out

A Galeria Kogan Amaro, Jardim Paulista, São Paulo, SP, apresenta esculturas inéditas de Kimi Nii. A artista nipo-brasileira exibe criações inspiradas em elementos da natureza e revela sua concepção minimalista de paisagem

 

Luz e elementos da natureza despertam encantamento da artista nipo-brasileira Kimi Nii. Ela encontrou no Brasil uma rica variedade de tons, espécies e cenários naturais que inspiram suas criações, esculturas minimalistas, nas quais convida o espectador a construir paisagens mentais. Essa é a proposta da exposição “Montanha das nuvens brancas”, individual que Kimi Nii estreia em 26 de outubro, com curadoria de Ricardo Resende.

 

A intimidade com a cerâmica proporciona à artista a habilidade de fundir elementos da cultura japonesa, guardados em sua memória e bagagem, com referências brasileiras, captadas a partir de sua vivência no País. Autora de uma pesquisa centralizada nas formas e luzes da natureza, as obras de Kimi Nii se assemelham a paisagens e aludem sobre dois lados do mundo.

 

Nascida em Hiroshima, dois anos após a explosão da bomba atômica, a artista mudou-se aos nove anos de idade para São Paulo, e seu fascínio pela luz e a natureza brasileira a fizeram ficar.

 

Em “Montanhas das nuvens brancas”, Kimi Nii apresenta formas cilíndricas que se repetem, mas sem nunca se igualarem, e mimetizam a forma das nuvens brancas sobre a ação do vento. “As nuvens são mágicas para mim e, nessa exposição, quero trazer os extremos opostos: a terra e o céu”, explica a artista.

 

“É proposto pela artista o silêncio entre as nuvens que estão espalhadas pelas alturas da sala expositiva e as formas cônicas alinhadas no chão, organizadas em uma linha reta que desenha em perspectiva para quem adentra a sala”, explica o curador.

 

Em contraposição, formas cônicas são alinhadas de modo a remeter às formas montanhosas. Em meio a essas duas estruturas, estão peças que apontam para plantas da família dos Hibiscos, chamadas de fauna pela artista, concebidas a partir de sua investigação sobre as formas dessas espécies e sua dinâmica na natureza.

 

O minimalismo é um dos traços fundamentais da poética de Nii, que conserva em suas cerâmicas a essência da matéria, da forma e da cor do barro, despindo-as de elementos supérfluos e fazendo delas formas exuberantes. A produção da artista é pautada na organicidade e apenas naquilo que lhe parece fundamental. “A obra de Kimi Nii é sobre a vida transformada em objetos belos e harmoniosamente organizada com a matéria da argila”, sintetiza

 

Ricardo Resende

Até 23 de novembro.

 

 

A obra de Miguel Bakun

18/out

A partir do dia 26 de outubro a obra de Miguel Bakun entrará em exibição na Simões de Assis Galeria de Arte, Jardins, São Paulo, SP, estendendo-se até 14 de dezembro. A apresentação é do crítico Ronaldo Brito.

 

Miguel Bakun

Por Osmose

Texto de Ronaldo Brito

 

Não se enganem com a escala modesta, as cores terrosas, enfim, o aspecto de casual abandono que preside sobre as telas de Miguel Bakun. Elas não respondem passivamente ao mundo. À sua maneira enviesada, avançam decididas sobre ele e o recortam à medida do Eu do artista. Quase chegamos a vê-lo se aproximar furtivamente da paisagem para abreviá-la, tomá-la para si, impregná-la com seu lirismo pungente mas nem um pouco declamado. De fato, nosso pintor parece operar por osmose. É preciso, primeiro, reduzir a cena ao alcance de seus poderes de transfiguração e encantamento, poderes limitados porque intensos demais. Para esse autodidata de província, desamparado de tradição, isso desde logo implicava a empatia com trechos esquecidos de mundo, entregues à própria sorte, inéditos porque jamais mereciam atenção pública. Este é o lar, o único lar possível, desvalido e transitório, desse livre exercício de pintura que, por vocação, procede às avessas do mundo burguês administrado.

 

Depois, é urgente estreitar o contado físico. Muito da força poética de Bakun deriva da sensação de presença corpórea – sentimos o artista em meio à natureza, quase indistinto, a acompanhar sua pulsação orgânica; e o assistimos ainda a absorver a cena, em geral concisa e transversa, até que a tela literalmente a incorpore. É um truísmo: segundo a lógica contrária do trabalho de arte, o errado costuma dar certo. No caso de Miguel Bakun, o óleo fruste, sem brilho, quem sabe veio a ser o veículo ideal a permitir a coalescência com o vegetal, a porosidade com que assimila a matéria orgânica. As extraordinárias marinhas, por sua vez, ostentam um pronunciado acento mineral. Já os céus não exalam nada de aéreo: são quase metálicos. Trata-se sempre, porém, da mesma ânsia tátil que desobedece à vontade a regra acadêmica da textura, a correta imitação visual da sensação tátil. A matéria da pintura é o espírito do pintor. A contraprova vem em seus autorretratos despojados, gênero mimético por definição. Reparem como a figura do artista é feita do mesmo estofo do interior que, ao invés de o acolher e distinguir, expõe sua precária condição existencial. Menos do que representante típico da boêmia – habitat por excelência do pintor extraviado da época – Miguel Bakun se apresenta como o homem comum, funcionário de repartição, comerciário talvez, desgastado pelo trabalho, com a fisionomia um tanto perplexa.

 

Uma vez que o quadro pós-impressionista busca a verdade em si mesmo, em sua própria personalidade, e só se autojustifica graças à coerência e potência formais, é evidente que a natureza deixa de ser Criação, a guardar um segredo que a pintura nos ajudaria a resgatar. O humilde e isolado Bakun foi entre nós um dos primeiros paisagistas para quem o contato com a natureza, o Outro do homem, se converte no modo insigne de interrogar o destino pessoal. Modo solitário, silencioso e meditativo, que a agitação e o convívio humano anônimo e conspícuo da cidade grande tornaram impraticável. De alguma maneira, por meios e modos difusos, Miguel Bakun fez-se contemporâneo de Cézanne e Van Gogh. Ele não passava os olhos sobre as reproduções de suas telas, a essa altura, já emblemáticas; à sua medida, ele as introjetava, examinava a fundo, até as últimas partículas de seu ser.

 

A cronologia termina, assim, quase irrelevante. O que importa é que essas pequenas telas introspectivas, que adquirem direito de cidadania como linguagem moderna inicial nos tardios anos 1940, continuam a seduzir e intrigar o olhar contemporâneo. Quer dizer, permanecem e, para muitos de nós, só agora aparecem como agentes do nosso acervo simbólico modernista, instintivamente envolvidas que estavam com o difícil processo de formação do sujeito estético moderno no Brasil. Junto às telas de uns poucos pares, Guignard, Pancetti e um Alfredo Volpi que ainda preparava o salto mortal em direção à plena pintura autônoma, elas nos levam a interrogar o presente de nosso passado modernista. Porque, visivelmente, o atualizam.

José Bechara – Território Oscilante

17/out

A primeira exposição do artista José Bechara em Porto Alegre, RS, reúne na Fundação Iberê Camargo, até 5de dezembro, diversos momentos de sua trajetória, desde as pinturas oxidadas, passando pelos exercícios fotográficos, pelos seus muitos pequenos desenhos de ateliê e suas potentes instalações com vidro. “Território Oscilante” vai da fotografia à instalação, apostando no transbordamento da experiência poética para fora das convenções expressivas determinadas pela história da arte. As intervenções expulsando o mobiliário de uma casa, a apropriação das mesas como superfície escultórica e a volta constante ao desenho como exercício gráfico mostram que a obra do artista está em constante interrogação.

 

José Bechara iniciou seus estudos em 1987, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Quatro anos mais tarde, passou a integrar um ateliê coletivo na Lapa, centro do Rio de Janeiro, com Angelo Venosa, Luiz Pizarro, Daniel Senise e Raul Mourão. Mas foi somente em 1992 que ele começou suas experimentações com suportes e técnicas diversificadas, até hoje uma característica marcante de seus trabalhos. Outra particularidade de Bechara é a geometria. O artista foi fortemente influenciado por Kasimir Malevich (1878-1935), um dos mais importantes pioneiros da arte geométrica abstrata, tendo fundado, em 1913, o Suprematismo.

 

“Há alguns anos visitei uma retrospectiva de Malevich no The Metropolitan Museum of Art e me assustei. Vi ali um mundo pensado no começo do século passado. Foi o trabalho, a pesquisa, a investigação e a poesia dele que me moveram nessa direção, mas com um dado novo que é pensar a geometria como um indivíduo que se esforça muito para emergir. Sim, a geometria é o topo da ciência que afirma o mundo, é precisa. Mas eu gosto de pensá-la como nós somos, humanos, cheios de falhas e imperfeições. A minha geometria sustenta peças que podem desmontar, vidros que podem quebrar, objetos depositados com gravidade e podem cair. Uma geometria com drama, esforçando-se para existir”, diz o artista.

 

Bechara por Bechara

 

A arte das incertezas – Você aprende arte, mas ninguém te ensina. Pelo menos não conheço ninguém que tenha conseguido ensinar. Durante minha passagem pela Escola de Artes Visuais do Parque da Lage, Charles Watson foi minha maior referência. Ele ajudava seus alunos a problematizar o que faziam, a questionar seu trabalho. Então eu nunca trabalho com certezas. Mesmo que você dê uma pintura ou uma escultura como prontas, há sempre uma vibração de dúvidas.

 

O inesperado – Meus planos nunca dão certo, não consigo suportá-los por muito tempo. E não é que eu provoque acidentes, mas podem acontecer a qualquer momento. Alguma coisa cai, alguma coisa falta e esse tipo de problema dá fôlego, animação, para fazer o próximo trabalho. Existe uma intenção, mas ela não é precisa nem reta. Ela é atraída pelo acidente que pode ser alterada a partir de respostas obtidas a cada ação.

 

No limite – Eu não tenho essa coisa de estancar um trabalho ou de cumprir uma investigação, uma pesquisa. Eu trabalho simultaneamente com pintura e escultura, uma invade a casa da outra e elas vão se contaminando não de uma maneira intencional. Em determinadas produções, os resíduos de um pensamento escultórico estão presentes na de pintura, e vice-versa. E eu gosto disso, de trabalhar no limite entre gêneros.

 

Em busca do novo – Há quem diga que tudo existe, só não tinha visto. Eu já penso diferente, e todos os dias faço a mesma coisa: procuro coisas que não existem. Com toda a poesia, música, dança, literatura, ideias e os insistentes dramas dos indivíduos na sociedade, o homem continua selvagem. Está intrínseco na chamada natureza humana. Eu gosto de problema, porque uma equação insolúvel, e é essa procura e o fazer que me interessam.

 

A arte humanizada – Houve um momento na pré-história que o indivíduo saiu da caverna e, quando viu que o dia estava lindo propício para a caça, ele foi tomado por um susto chamado imaginação. E o pensamento começa todo aí. E eu acho que arte mantém esse susto inicial de você olhar para uma coisa e ela não ser somente o cotidiano. A arte torna o indivíduo mais generoso e o faz saltar para o conhecimento e a educação. Isso não têm limite. A arte faz com que o espírito se abra um pouco e torne-se curioso. A arte é um vetor mais assustador, mas são sustos bons.

 

 

Galeria Marcelo Guarnieri/São Paulo

A Galeria Marcelo Guarnieri, Jardins, apresenta, de 17 de outubro a 14 de novembro, em sua sede de São Paulo, as exposições de Amelia Toledo e Zé Bico (José Carlos Machado). Zé Bico apresentará na Sala 1 um conjunto de esculturas produzidas durante os últimos quatro anos, exibidas pela primeira vez. Amelia Toledo ocupará a Sala 2 com pinturas da série “Horizontes”, produzidas em 2012 e “Poço”, escultura produzida entre a década de 1990 e os anos 2000.

 

Formado em Arquitetura e Urbanismo pela FAU USP, Zé Bico (José Carlos Machado) produz e expõe como artista desde meados da década de 1980. Em sua terceira exposição individual na Galeria Marcelo Guarnieri, Zé Bico apresenta uma pesquisa sobre forças de atração e efeitos ópticos desenvolvida nos últimos quatro anos a partir de uma variedade de procedimentos que deram origem a peças de madeira, vidro e espelho. Ter trabalhado por tantos anos com ímãs na produção de suas obras permitiu ao artista desenvolver uma prática baseada em movimentos sutis, de cálculos exatos, gerados não por métodos teóricos, mas sim empíricos. A partir da força magnética dos ímãs, Zé Bico amplia sua investigação sobre o equilíbrio e a instabilidade, explorando, através de novos objetos, a força gravitacional. Daí surgem peças pendentes feitas em madeira que se articulam em conjunto e percorrem uma trajetória que vai do alto, rente ao teto, até uma base que as permitem pousar. O desenho dessas peças pendentes, cubos incompletos que se formam apenas por algumas arestas, se repete em algumas outras que compõem a exposição. Também parecem desintegrados nas peças que nos remetem a encaixes: ainda mais distantes do contorno e volume original do cubo, suas partes se montam umas sobre as outras em diversas posições de equilíbrio.

 

É nas peças em que trabalha com o vidro e com o espelho que leva a ideia de desintegração mais além. Em “Piano”, da série “Eu não vi” (2017/2019) faz uso de um vidro temperado que, a depender da distância em que se olha, vira um espelho. Dessa maneira, os cubos de ferro dispostos em ambos as faces do vidro, ora se revelam, ora se duplicam ou desaparecem. Já na peça em que posiciona uma placa de alumínio quadrada pendendo frente a um espelho também quadrado de mesmas dimensões, trabalha não só com os efeitos da superfície reflexiva, mas integra na composição um duplo que se forma pela sombra. Mais uma vez as questões referentes ao equilíbrio e a instabilidade aparecem, agora associadas a outro ramo da física: a óptica. A prática de Zé Bico, no entanto, dispensa cálculos matemáticos e elaborações teóricas: suas descobertas provêm das experiências cotidianas.

 

Indo contra todas os ângulos retos que compõem a maior parte das obras da mostra, está a dupla de ovos de ganso e laca. Como se estivessem paralisados no tempo, se equilibram de maneira pouco usual. Também contrário às demais peças da exposição que tratam de vazios e desaparecimentos, o ovo é o símbolo do nascimento, um invólucro que guarda um conteúdo repleto de possibilidades. Tendo sido produzidos durante quatro anos, a dupla tal como se vê é resultado do processo de endurecimento da gema associado à escolha de Zé Bico pela composição. Embora não se toquem, o arranjo dos ovos nos remete à ideia de peso e contrapeso, bem como às esculturas anteriores que o artista fazia com ímãs. “A Beira do abismo” (2019) trata da mesma lógica, em uma relação de peso e contrapeso entre o cubo de madeira e as barras de latão. No limite da instabilidade, suscitam em nosso imaginário a possibilidade da queda, assim como todas as outras peças, parecem estar por um triz.

 

Dentre as diversas exposições individuais e coletivas realizadas, destacam-se as seguintes: Projeto Macunaíma, Funarte, Rio de Janeiro, Brasil; O Reducionismo na Arte Brasileira (19º Bienal de São Paulo), Fundação Bienal de São Paulo, São Paulo, Brasil; Exposição Internacional de Esculturas Efêmeras, Fortaleza, Brasil; O Estado da Arte, Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, Brasil.

 

 

Itinerância

09/out

A convite da Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, o crítico e curador italiano Jacopo Crivelli Visconti anunciará no dia 10 de outubro (quinta-feira) programação da 34ª Bienal Internacional de São Paulo. O encontro será às 17h, no auditório da Fundação com entrada franca.
Escolhido pelo presidente da Fundação Bienal, José Olympio da Veiga Pereira, por meio de uma seleção entre cinco curadores nacionais e internacionais, Visconti já montou uma equipe para começar os trabalhos: curador-adjunto Paulo Miyada (curador, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo) e curadores convidados Carla Zaccagnini (artista, São Paulo-Malmo); Francesco Stocchi (curador de Arte Moderna e Contemporânea, Museum Boijmans Van Beuningen, Rotterdam); Ruth Estévez (curadora geral, Rose Art Museum, Boston; diretora, LIGA DF, Cidade do México).
Radicado em São Paulo, o napolitano tem uma longa relação com a Bienal. Integrante da Fundação Bienal de 2001 a 2009, foi curador da participação oficial brasileira na 52ª Bienal de Veneza (2007). Entre seus trabalhos recentes estão: Untimely, Again, Pavilhão da República de Chipre na 58ª Biennale di Venezia, Itália (2019); Brasile – Il coltello nella carne, PAC – Padiglione d’arte contemporanea, Milão, Itália (2018); Matriz do tempo real, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, Brasil (2018); Memories of Underdevelopment, Museum of Contemporary Art of San Diego, EUA (2017); Héctor Zamora – Dinâmica não linear, Centro Cultural Banco do Brasil, São Paulo (2016); Sean Scully, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Brasil (2015); Ir para volver, 12a Bienal de Cuenca, Equador (2014). É colaborador regular de publicações de arte contemporânea, arquitetura e design, além de escrever para catálogos de exposições e monografias de artistas.
A vinda de Jacopo Crivelli Visconti antecede a abertura da 33ª Bienal de São Paulo – Itinerância Porto Alegre, no dia 12 de outubro (sábado), às 14h, na Fundação Iberê Camargo. Serão apresentadas cerca de 40 obras de artistas, como Vânia Mignone, Antonio Ballester Moreno, Alejandro Corujeira e Sofia Borges. As exposições em circulação não replicam literalmente o que se viu na capital paulista, mas apresentam diferentes associações e relações a partir de recortes de obras e artistas.

 
“Faz escuro mas eu canto”

 

Marcada pelo encontro e potencialização mútua entre projeto curatorial e atuação institucional, a 34ª Bienal de São Paulo enfatiza poéticas da “relação” e adota uma estrutura de funcionamento inovadora, que envolve a realização de mostras e ações apresentadas no Pavilhão da Bienal a partir de fevereiro de 2020 e a articulação com uma rede de mais de 20 instituições paulistas. Quando o Pavilhão for inteiramente tomado pela mostra, a partir de setembro de 2020, essas instituições promoverão, em seus próprios espaços, exposições integrantes da 34ª Bienal.
Intitulada “Faz escuro mas eu canto”, verso do poeta amazonense Thiago de Mello (Barreirinha, 1926), a mostra abre oficialmente em setembro de 2020. Mas a partir de fevereiro, serão realizadas ações no Pavilhão. A Bienal também contará com articulação em rede com mais de 20 instituições paulistas, que promoverão exposições integrantes em seus espaços.
A decisão pela criação dessa rede acompanha uma espécie de linha curatorial, que tem como objetivo destacar as poéticas da ideia de “relação”. Segundo Visconti, a 34ª Bienal reconhece o estado de angústia do mundo contemporâneo enquanto realça a possibilidade de existência da arte como um gesto de resiliência, esperança e comunicação. “O desafio para lidar com todos esses públicos é não ser nem hermético, nem excessivamente simples e, ao mesmo tempo, falar de uma maneira direta e honesta com todos eles”, afirma.

 

 

Exposição de Bruno Miguel

07/out

Com diversas exposições internacionais no currículo, Bruno Miguel mostrará obras inéditas, que o destacaram no exterior, mas nunca foram apresentadas no Brasil. Nos últimos anos, Bruno Miguel expôs mais no exterior, onde também realizou residências. Muitas de suas séries, que o destacaram nos Estados Unidos, na Alemanha e no Peru, nunca foram vistas no Brasil. Com isso, surgiu a ideia da exposição “Youdon´tknow me”, que será inaugurada no dia 8 de outubro, na Luciana Caravello Arte Contemporânea, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ. A curadoria é de Agnaldo Farias. A mostra traz um recorte dos trabalhos mais emblemáticos do artista, produzidos nos últimos cinco anos.

 

A exposição ocupará todo o espaço expositivo da galeria, com cerca de sete séries de trabalhos, que abordam a construção da memória no universo doméstico, as relações do POP e do consumo e a pintura como pensamento expandido. Conhecido por aqui por suas pinturas sobre tela, Bruno Miguel tem uma ampla produção em diversos outros suportes, como escultura, desenho e instalação, incluindo também a pintura, mas que, muitas vezes, é apresentada de forma mais ampla, a partir do pensamento sobre pintura, em obras que não necessariamente utilizam a tela.

 

Dentre as obras apresentadas estará uma instalação da série “Mesa de Jantar”, composta por diversos guardanapos de papel, pintados com tinta Epóxi e vinil adesivo. Obras desta série foram mostradas duas vezes em Nova York, na Pensilvânia, em Lima, em Buenos Aires, em Bogotá e em Berlim, mas nunca no Brasil. Utilizando as formas de objetos de uma mesa de jantar, como pratos, copos, descansos de panelas e outros, o artista vai criando as obras a partir de um jogo entre o positivo e o negativo, utilizando cores e também o branco para destacar certos contornos e dar volume. O vinil adesivo imitando diferentesmadeirascomplementa a obra, dando a sensação de se tratar de uma mesa de jantar.

 

Na série “Sala de Jantar”, o artista apresenta pinturas sobre um conjunto de pratos de porcelana e faiança, comprados em leilões de antiguidade, que são dispostos na parede e pintados com esmalte, tinta a óleo e colorjet, com imagens que perpassam e continuam de um prato para outro, formando uma unidade. “Os pratos têm relação com o rizoma Deleuziano e o grafismo urbano do Rio de Janeiro, com o subúrbio onde moro, com as grades e as pichações que quem vive na cidade está acostumado a ver”, conta o artista, que ressalta que esses trabalhos se relacionam com os guardanapos da série “Mesa de Jantar”, apesar de terem um “caráter de excesso, oposto à estética minimal dos guardanapos”.

 

“O vazio que nos consome” é um conjunto de obras feito a partir de embalagensplásticas de produtos consumidos pelo próprio artista, que são lavadas, preenchidas com resina e tinta e ao final tendo as embalagens descartadas, se tornam um híbrido de pintura e escultura, memoriais do vazio cotidiano. Sem referência à embalagem original não épossível identificar sua origem, tornando-se suportes de cores, que ficam levemente descoladas da parede. “Essas obras vêm da relação do POP com o ambiente doméstico e falam sobre a feitichizaçãodo consumo, sobre o condicionamento social de que consumir faz parte da nossa estrutura”, afirma Bruno Miguel. Essa é uma das obras em que o suporte é a escultura, mas cujo corpo da obra é construído como se fosse pintura, sobrepondo camadas de resina.

 

Farão parte da exposição, ainda, obras da série a série “Candy”, onde, em um suporte de madeira coberta de resina, são inseridas formas coloridas, também de resina, que lembram balas e doces. Essas “balas” são preparadas pelo artista em fôrmas de silicone próprias para a feitura de doces. Novamente explorando a tridimensionalização dos processos pictóricos, ampliando o campo das fronteiras sobre o que pode ser a pintura hoje. Complementa a exposição asérie “Objetos de natureza morta”, obras pictóricas tridimensionais, que reúnemglobos de luz, luminárias, sacos vazios e garrafas, que são preenchidos com resina pigmentada. Essa obra é um desdobramento da instalação “Cristaleira“, apresentada no Oi Futuro Flamengo, em 2015.

 

Sobre o artista

 

Bruno Miguel nasceu no Rio de Janeiro, em 1981. Vive e trabalha no Rio de Janeiro, formado em artes plásticas e pintura pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Fez diversos cursos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, onde é professor desde 2011. Possui obras em importantes coleções públicas e privadas, como Museu de Arte do Rio (MAR), Coleção Gilberto Chateaubriand – MAM- Rio, Deutsche Bank Collection, Centro Cultural São Paulo, entre outras. Recebeu menção especial de honra V Bienal Internacional de La Paz, Bolívia, e realizou residências na FountainheadResidence (2019), em Miami, EUA; no Vermont Studio Center(2018), em Vermont, EUA, e na DreamplayArtists in Residence – Fall (2013), em Lyndhurst, EUA.

 

Dentre suas principais exposições individuais estão: “Youcan´ttakeitwithyou?” (2019), no PCA&D Lancaster, na Pennsylvania, EUA;“Welcome Lima” (2018), no Espacio Tomado, em Lima, Peru; “SeductionandReason” (2017), na Sapar Contemporary, em Nova York, EUA; “A Viagem Pitoresca” (2016), no Centro Cultural da Caixa Econômica Federal, em Curitiba, e “Essas pessoas na sala de jantar” (2016), no Centro Cultural São Paulo; “Sientase em casa” (2015), na Sketch Gallery, em Bogotá, Colômbia; “A Cristaleira” (2015), no Oi Futuro, no Rio de Janeiro; “Essas pessoas na sala de jantar (2015), no Paço Imperial, no Rio de Janeiro; e em 2016 no Centro Cultural São Paulo, “Ex-culturas” (2013), na Galeria do Lago, no Museu da República, no Rio de Janeiro; “MakeYourselfat home” (2013), no S&J Projects, em New York; “Tudo posso naquilo que me fortalece” (2013), na Luciana Caravello Arte Contemporâna, entre outras. Dentre suas principais exposições coletivas estão: “Manjar: Para Habitar Liberdades” (2019), no Solar dos Abacaxis, no Rio de Janeiro; “The World on Paper” (2018), no Palais Populaire, em Berlim, Alemanha; “A Luz que Vela o Corpo é a Mesma que Revela a Tela” (2017), na Caixa Cultural, no Rio de Janeiro; “São Paulo não é uma cidade, invenções do centro” (2017), no SESC 24 de Maio, em São Paulo; “Arte em Revista” (2016), na Galeria do BNDES, no Rio de Janeiro; “EBA 200 anos” (2016), no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro; “Trio Bienal” (2015), no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro, entre outras.

 

Sobre o Curador

 

Agnaldo Farias é professor-doutor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, crítico de arte, curador geral do Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba e curador da 3ª Bienal de Coimbra, Portugal. Realizou curadorias de exposições para o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Instituto Tomie Ohtake, Centro Cultural Banco do Brasil e para a Fundação Bienal de São Paulo, entre diversas outras instituições. Foi curador de Exposições Temporárias do Museu de Arte Contemporânea da USP (1990/1992) e curador geral do MAM/RJ (1998/2000). Na Fundação Bienal de São Paulo, participou de suas 16ª e 17ª (1981 e 1983), na seção de cinema da equipe de Walter Zanini. Curador da Representação Brasileira da 25ª Bienal de São Paulo (1992), curador adjunto da 23ª Bienal de São Paulo (1996) e da 1ª Bienal de Johannesburgo (1995). Ainda, ao lado do curador Moacir dos Anjos, assinou a curadoria geral da 29ª Bienal de São Paulo (2010) e manteve a parceria na Representação Brasileira da 54ª Bienal de Veneza (2011), com uma exposição de Artur Barrio.

 

Até 09 de novembro.

 

Palatnik: atenção perceptiva

04/out

A Simões de Assis Galeria de Arte, Curitiba, PR, apresenta até 23 de novembro obras de Abraham Palatnik em exposição individual.

 
PALATNIK: encantamento e reflexividade do olhar

 

Abraham Palatnik é um dos pioneiros da arte cinética na história da arte do pós-guerra. Participou da formação do grupo concreto no Rio de Janeiro – Grupo Frente – entre o final dos anos 1940 e o começo da década de 1950. Seu Cinecromático causou impacto na 1ª Bienal de São Paulo de 1951 e foi um divisor de águas. A questão que o mobilizou ao longo de toda sua longa trajetória, todavia, não se prende à tecnologia, mas está focada na articulação entre movimento (real ou virtual) e atenção perceptiva.

 

É sabida nossa dispersão sensorial circulando pelas grandes metrópoles modernas. A excitação estética que nos mobiliza, na publicidade e no entretenimento, nos faz olhar muita coisa e não parar para ver nada. Não há tempo e tudo passa. A obra de Palatnik impõe-nos outra temporalidade. O encantamento nos atrai e somos convidados e reparar no que vemos. Ao mesmo tempo em que tudo mexe, nosso olhar se fixa na magia deste jogo lúdico de linhas e cores.

 

Neste aspecto, sua obra esteve, mesmo que indiretamente, vinculada aos interesses da Op art. Uma espécie de acaso controlado define o acender e o apagar das luzes nos cinecromáticos ou o movimento inusitado das hastes nos aparelhos cinéticos ou de ripas, cordas e veios de madeira nas múltiplas séries que ele criou desde a década de 1960.

 

O importante no uso da tecnologia no seu caso é que ele se apropria e transforma o dispositivo tecnológico sem se submeter aos seus condicionamentos predeterminados. A tecnologia não é um imperativo de expressão determinado pela novidade, é um meio de expressão a ser deslocado por conta das potencialidades poéticas e estéticas. Neste aspecto, há um diálogo lateral entre Palatnik e Calder. O que os mobiliza é o gozo estético, o momento da experiência que nos tira da determinação cotidiana.

 

Em uma crítica de 1951, publicada no Diário Carioca, Antonio Bento já aproximava Palatnik de Calder e fazia isso pelo fato de ambos introduzirem o tempo na experiência das artes visuais. O artista americano buscava esta pulsação temporal a partir da escultura, já o brasileiro vai produzi-la como um desdobramento da experiência pictórica. São obras que nascem de gestos simples, de pequenos achados onde sobram graça e encantamento. Esta combinação do lúdico e do cinético vai singularizá-los dentro desta vertente construtiva que os perpassa.

 

A obra de Palatnik manteve-se sempre acreditando na afirmação de uma subjetividade emancipada pelo contato mobilizador com a forma artística. Qualquer tipo de determinismo, seja político, seja tecnológico, passa à margem de sua obra. É uma experiência de absorção e sedução que faz com que a obra seja um lugar de sensibilização de formas e cores. O que interessa na relação com o fenômeno estético é o parar para ver e deixar-se seduzir pelo tempo intrínseco deste ver. Não se adequa ao mero reconhecer, não há nada “fora” ou “antes” do ato de perceber, apenas o dar-se do acontecimento visual.

 

A partir da década de 1960 a obra de Palatnik tomará dois caminhos. O fascínio não é mais com a luz, mas apenas com o movimento e ele pode ser tanto real como virtual. Sua obra se desenvolverá tanto na produção de objetos cinéticos como de pinturas intituladas Progressões, feitas a partir do movimento óptico dos veios da madeira ou de efeitos cromáticos serializados pintados sobre a madeira1. Em seguida, novos materiais passam a ser explorados: do poliéster ao papel cartão, passando pelas cordas e voltando às ripas. Esta exposição na galeria Simões de Assis está focada neste segundo aspecto do movimento, mais óptico que cinético.

 

Tomando as progressões do começo da década de 1960, uma indagação pode ser feita em relação ao uso da madeira. Este uso não parece arbitrário, mas resultado do seu envolvimento àquela época na produção de mobiliário, que o punha em contato direto com a madeira. A partir daí, com sua sempre concentrada atenção estética, a madeira passa a revelar possibilidades formais até então despercebidas. O que interessava a Palatnik era o modo como a forma iria resistir ao tempo acelerado do mundo contemporâneo, obrigando o olhar a parar e deixar-se seduzir pelo acontecimento visual. Contra a manipulação sensorial da sociedade do espetáculo, há neles o primado fenomenológico do reaprender a ver o mundo.

 

Por fim, sua obra assume um compromisso ético, no sentido de uma experiência perceptiva livre e independente – sem determinações normativas nem cognitivas. A obra de Palatnik, assim como de alguns artistas importantes do movimento Op, apesar dos riscos formalistas inerentes a certa diluição decorativa, assumiu até o fim o desejo de fazer da pintura um exercício de emancipação estética da humanidade.

 

Nota:
1 Deixo de lado aqui sua atividade industrial, suas pesquisas com novos materiais como o poliéster e seus jogos e máquinas lúdicas.

 

Luiz Camillo Osorio

 

Catálogo grátis

03/out

Será neste sábado, 05 de outubro, a partir das 14h, o lançamento do catálogo da exposição “Nas Asas da Panair”, no Museu Histórico Nacional,Rio de Janeiro, RJ. Nesse dia, a publicação será distribuída gratuitamente aos visitantes. Depois, o exemplar custará R$ 50 na lojinha do museu.

 

Neste dia, celebra-se também 53 anos de Família Panair, grupo de ex-funcionários e familiares formado em 1966, um ano após o fechamento da companhia aérea, ao tempo da Ditadura no Brasil, por ordem do Marechal Castello Branco.

 

“Nas asas da Panair” exibe, até 13 de outubro, parte do conjunto de 700 ítens que formam a coleção de memorabilia doada pela Família Panair ao Museu Histórico Nacional.

 

O catálogo tem 48 páginas, textos da historiadora Mariza Soares, curadora da mostra, de Rodolfo da Rocha Miranda, diretor-presidente da Panair do Brasil, e do jornalista e escritor Daniel Leb Sasaki, e cerca de 100 ilustrações.

 

 

 

Nova exibição de Ascânio MMM

01/out

A Casa Triângulo, Jardins, São Paulo, SP, inaugurou a exposição individual de Ascânio MMM. A curadoria é de Guilherme Wisnik. As peças espaciais de Ascânio MMM têm uma vocação pública, que denota seu vínculo de base com a tradição construtiva e, mais especificamente, uma proximidade com a Arquitetura, e com a noção de estrutura. Por isso é que muitos desses trabalhos tenham sido instalados em espaços abertos, fora de galerias ou museus.

 

No caso dessa exposição, a tipologia piramidal, remetida a formas históricas totêmicas, combina-se a um novo trabalho mais aberto e abstrato (Quasos/Prisma 1), cuja escala permite que as pessoas penetrem o seu espaço interior e o atravessem. Dependendo do ângulo pelo qual olhamos as peças espaciais de Ascânio – Quasos e Piramidais -, elas assumem aspectos mais sólidos ou mais vazados, dada a profundidade dos perfis utilizados.

 

Até 01 de novembro.

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Exposição Mario Mendonça

30/set

A Galeria Evandro Carneiro Arte, Shopping Gávea Trade Center, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, apresenta de 05 de outubro a 09 de novembro a “Exposição Mario Mendonça”. A mostra conta com 37 telas, em destaque para algumas obras inéditas.

 
“Se parar de pintar… paro de respirar”

 

Mario Mendonça

 

Mario Mendonça nasceu no Rio de Janeiro, em 1934. Cursou Direito e trabalhou na empresa do pai por algum tempo, mas sua vocação pela arte sempre se manifestou, desde que, nos primeiros anos do Colégio Santo Agostinho, os padres confiscavam seus cadernos quando o flagravam desatento às aulas, desenhando.
Autodidata no campo artístico e católico de formação, a pintura sacra o impactava desde as missas frequentadas em família. Mario era afetado (a palavra deriva de afeto) por esse tipo de pintura, sobretudo a de Georges Rouault e Mathias Grunewald até que, em 1961, conheceu Emeric Marcier, em uma reunião de trabalho na corretora onde trabalhava. Havia um caderno de desenho sobre sua mesa e o artista folheou, convidando o jovem para visitar seu ateliê no sábado seguinte. Ali, no pequeno apartamento da Timóteo da Costa, Mario se deparou com um Cristo em proporções monumentais, ainda no cavalete e se apaixonou irreversivelmente. Foi acometido pelo pathos que se abriu em sua vida: a partir de então, estava decidido a viver da e para a arte.

Sua primeira professora de desenho foi Caterina Baratelli, uma italiana indicada por Marcier para o pupilo aprender o básico. E o desafiou: “depois que ela o dispensar das aulas, retorne aqui para o seu curso superior” (contou-me Mario em entrevista oral, 2019). Só que paralelamente às aulas de Baratelli, frequentava também as de Ivan Serpa e Aluísio Carvão, no MAM-RJ. Este parece ter sido um dos motivos de seu desentendimento posterior com Marcier. Antes, porém, chegou a viver um tempo em Barbacena, no sítio do pintor romeno. Mario confessa que ele o influenciou intensa e profundamente por 25 anos e sua admiração por Marcier é inesgotável, mas a amizade não foi. Romperam em 1964 quando, ao final do ano, Aluísio Carvão organizou uma exposição individual do aluno no próprio museu. Desde então, Carvão seguiu sendo mestre, amigo e parceiro de ateliê de Mario Mendonça por quase 40 anos, até o seu falecimento em 2001.

Com Carvão, Mario descobriu a magia das cores que passou a aplicar em suas obras, antes em tons escuros. Os temas preferidos continuavam a ser as cenas bíblicas e as paisagens montanhosas, duas constantes em sua pintura. Além das cores, trouxe a multidão compassiva para compor seus apocalipses, crucificações e calvários. “Trazer a multidão significa trazer à cena o nosso contemporâneo”, explica (entrevista oral, 2019). Ao cenário sagrado, incorporou também o impacto dos horrores do Holocausto: seus Cristos são cadavéricos e deformados, tão lúgubres quanto esteve a condição humana naquele período de Guerra Mundial e Guerra Fria. Sobre essa dimensão de seu trabalho, Walmir Ayala acrescenta que o artista realiza uma “abstração revolucionária dos cânones clássicos das imagens sagradas” e arremata toda uma trajetória artística no resumo inconteste: a obra de Mario se trata de um “apaixonante romance da salvação”. (Apud. In: Mendonça. Espaço Mendonça, 2003).

Retornando à cronologia, após a sua inédita exposição no MAM-RJ (1964), destacaram-se alguns marcos na carreira do artista: em 1967 expôs na Maison de France e pintou o interior da primeira igreja (Matriz dos Santos Anjos, Leblon). Muitas pinturas sacras em capelas se seguiram após esse evento inaugural, tendo pintado o interior de dez igrejas entre Rio de Janeiro e Minas Gerais, culminando com a Capela do Corcovado, no Rio de Janeiro, que abriga a sua solene Ressurreição de Cristo, desde 2014. Quanto às exposições, no ano 1970 realizou uma individual na Alemanha, que lhe abriu um leque de oportunidades internacionais: Portugal (ainda em 1970), Roma (1976 e 1982), Madri (1979), Bulgária (1987), Paris (1988) e Alemanha novamente, em 1989. No âmbito nacional, destacam-se a sua primeira exposição individual no Museu Nacional de Belas Artes (1972), composta de paisagens e uma impactante Via Sacra na entrada do Museu; a de arte sacra na Galeria Ipanema (1978), eleita uma das melhores naquele ano; a sua Retrospectiva na Casa do Bispo (1985, parceria da Fundação Roberto Marinho com a Arquidiocese do Rio de Janeiro, contendo 115 telas sacras do artista) e a exposição Abertura do Novo Milênio (2001, MNBA-RJ) que o consagrava como um pintor religioso secular.

Além desses marcos expositivos, Mario recebeu medalhas de honra e prêmios nacionais e internacionais por seu trabalho; teve obras escolhidas para compor acervos importantes, como o do Vaticano, o do Museu Ibero Amerikanishes Institut (Berlim), o do Museu Nacional de Belas Artes, os de palácios de governos no Estado de Minas Gerais e o do Palácio do Planalto, em Brasília; foi convidado para membro das Academias Brasileira de Arte (ABA) e de Belas Artes e também para conselheiro de cultura da Arquidiocese do Rio de Janeiro; editou livros sobre sua pintura e seus desenhos; criou um instituto cultural em Tiradentes, MG (2011); manteve uma linda família e pintou, pintou e pintou, com disciplina e paixão. Hoje, com 85 anos, Mario continua devoto de sua própria arte. E depois de um período de 20 anos sem expor, apresenta 37 obras (algumas inéditas) na Galeria Evandro Carneiro Arte.

Laura Olivieri Carneiro,

setembro de 2019.

 

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