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AGENDA CULTURAL

“OLAMAPÁ” no Oi Futuro

01/fev

O Oi Futuro, Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, inaugura, no dia 04 de fevereiro às 19h, a exposição “OLAMAPÁ” com trabalhos de Katie Van Scherpenberg, sob a curadoria de Gabriel Perez-Barreiro. A artista vai exibir os vídeos “Menarca” e “Landscape painting”, a série de fotografias “Esperando papai” e a instalação “Síntese”. As obras referem-se à pesquisas pictóricas, sentimentos e a história dos 20 anos em que viveu na floresta amazônica com seu pai.

 

A obra de Katie van Scherpenberg é fundamental para poder entender o desenvolvimento da arte brasileira desde a década de 1980 até hoje.  Com forte fundamento na pintura, seu trabalho transita por diversas linguagens como instalação, vídeo, arte ambiental e fotografia.  A exposição “OLAMAPÁ” resgata um conjunto de trabalhos realizados sobre a região do Amapá (Amazonas), onde passou a maior parte da infância e retornou por alguns anos quando adulta. Nas obras mostradas articulam-se uma série de questões sobre a vida, o tempo, a matéria e a arte que fazem de sua obra referência chave na arte contemporânea. Artista Plástica e professora, Van Scherpenberg iniciou seus trabalhos experimentais de intervenção na paisagem na década de 1980, utilizando-se de praia, rios, jardins e florestas como suporte para suas pinturas. “Tudo o que faço é pintura. Os trabalhos não são feitos no sentido happening ou uma instalação. Em cada intervenção examino aspectos, técnicas e problemas estéticos da pintura: o preto e branco em Síntese, a questão da luz em Esperando Papai, a aquarela em Menarca (pigmento se dissolvendo na água).  No vídeo Landscape painting, fiz intervenções na própria natureza lembrando as expedições artísticas e cientificas do século XIX.  A pintura é a técnica que eu uso para pensar e sentir. Uma busca constante de crescimento, alastramento, densidade, absorção e profundidade. Eu nunca sei exatamente o que vai acontecer, o conceito e a poesia vem depois. Quando comecei estas obras, nunca pensei em mostrá-las. Eram ensaios que eu realizava para mim. Depois, quando associei os estudos com minhas pinturas é que decidi expô-las”, declara a artista.

 

Para o curador da mostra, Gabriel Perez-Barreiro, também curador da edição 2018 da Bienal Internacional de São Paulo, “a obra de Katie nos ensina ou nos faz lembrar que a arte e a vida não são categorias distintas – a arte não é uma reflexão sobre a vida, mas uma parte inseparável dela, feita da mesma materialidade e dos mesmos rumos. Olhar um trabalho de Katie Van Scherpenberg é entregar-se a uma experiência de pathos no seu sentido mais exato, gerando uma resposta emocional por meio de um sentimento de rendição. Um trabalho que registra um processo implacável de decadência inevitável que nos faz conscientes da nossa própria mortalidade, um fato, aliás, da mais profunda indiferença para o mundo que nos cerca.”

 

 

Obras | Intervenções | Ensaios visuais

 

 

Menarca | 2000-2017

 

A artista utiliza-se de pigmento vermelho para “pintar” a água, fazendo referência à menarca, primeiro fluxo menstrual feminino. Usando a água como tela a artista deixa uma marca passageira na natureza que se encarrega de dissolve-la.  Trabalho realizado na praia de Boa Viagem em Niterói.

 

 

Esperando por papai | 2004

 

Sequência de fotos realizadas no Rio Negro, Amazonas. A personagem está sentada ao lado de uma mesa, num final de tarde com a água pela cintura. Sobre a mesa, também parcialmente encoberta pela água, um lampião aceso. As imagens captam o pôr do sol e a substituição da luz natural pela iluminação de uma lamparina, enquanto se aguarda…

 

 

Síntese | 2004-2019

 

Remontagem do trabalho realizado em uma pequena praia ribeirinha do Rio Negro, Amazonas. Quadrados de sal grosso dispostos à margem do rio são dissolvidos aos poucos pelas águas. Gradativamente ficam cobertos de gravetos de carvão, arrastados pelas águas, vindos das árvores destruídas pelas queimadas. O sal muito branco em contraste com a areia negra da praia amazônica e a fuligem oriunda da floresta.

 

 

Landscape painting | 2004

Registro da artista pintando folhas de árvores da floresta Amazônica às margens do Rio Negro, fazendo da paisagem sua tela e a própria obra.

 

 

Sobre a artista

 

Katie Scherpenberg, é filha de pai alemão naturalizado holandês e mãe norueguesa, nasceu em São Paulo, em 1940, vive e trabalha no Rio de Janeiro. Pintora, desenhista, gravadora e professora. Passou a infância na Inglaterra e veio com a família para o Brasil em 1946. Entre 1958 e 1960, estudou pintura com Catherina Baratelli, no Rio de Janeiro e em 1961 ingressou o na Academia de Belas Artes da Universidade de Munique, na Alemanha. Foi também aluna do pintor Oscar Kokoschka (1886 – 1980), em 1963, em Salzburg na Áustria. De volta o Brasil, em 1966, estudou gravura no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Foi uma das fundadoras da ABAPP – Associação Brasileira de Artistas Plásticas Profissionais e do   Núcleo Experimental de Arte em Petrópolis. Foi professora da Universidade Santa Úrsula e da Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Também deu aula na Universidade do Texas, realizou conferências em Estocolmo, Roma e Madrid, além de todo o território nacional. Participou de exposições nos Museus Blanton em Austin,Texas, do Telefone do Rio de Janeiro, MAM do Rio de Janeiro, Paço Imperial do Rio de Janeiro, MAC de Niterói, MAC de S.Paulo, Liljevalchs, Estocolmo, Accademia de Francia, Villa Medici, Roma, entre outros. Participou das Bienais de São Paulo de 1981, 89 e 98. Recebeu bolsas do governo Alemão (1962, 63) além de prêmio em escultura (1963). No Brasil recebeu Isenção de Júri no XXV Salão de Nacional de Arte Moderna (1976), Prêmio Sul América no XXV Salão do Paraná (1983) e Prêmio do Ministério da Cultura e do Esporte no XL Salão do Paraná (1986). Participou do Prêmio Brasília em 1991 e do III Prêmio Itamaraty de Arte Contemporânea (2013). Seus trabalhos fazem parte de importantes coleções no Brasil e no exterior.

 

 

Sobre O Oi Futuro

 

O Oi Futuro, instituto de inovação e criatividade da Oi, promove ações de Educação, Cultura, Inovação Social e Esporte para melhorar a vida das pessoas e transformar a sociedade. O instituto impulsiona iniciativas colaborativas e inovadoras, fomenta experimentações e estimula conexões que potencializam o desenvolvimento pessoal e coletivo. Na Educação, o Oi Futuro investe em novas formas de aprender e ensinar com o NAVE (Núcleo Avançado em Educação), que forma jovens para as economias digital e criativa, com foco na produção de games, aplicativos e produtos audiovisuais. Desenvolvido em parceria com as Secretarias de Estado de Educação do Rio de Janeiro e Pernambuco, o programa oferece ensino médio integrado e já formou mais de 2 mil jovens em 12 anos de atuação. Os estudantes do NAVE são incentivados a desenvolver o espírito empreendedor e a estabelecer suas primeiras conexões profissionais no mercado de inovação e tecnologia. Nas escolas do programa, educadores e estudantes elaboram e testam novas metodologias e práticas pedagógicas que possam ser compartilhadas com outras escolas da rede pública e outros contextos educacionais.

 

Na Cultura, o instituto é um catalisador criativo, impulsionando pessoas através das artes, estimulando a cocriação e promovendo o acesso à cultura na era digital. O Oi Futuro mantém um centro cultural no Rio de Janeiro, com uma programação que valoriza a produção de vanguarda e a convergência entre arte contemporânea e tecnologia, e realiza o Programa Oi de Patrocínios Culturais Incentivados, que seleciona projetos em todas as regiões do país por meio de edital público. O Instituto também tem o Museu das Telecomunicações, pioneiro no uso da interatividade no Brasil, e o LabSonica, laboratório de experimentação sonora e musical. Também no Rio, o Oi Futuro mantém a Oi Kabum!, escola de arte e tecnologia onde está abrigado o Lab.IU, Laboratório de Intervenção Urbana.

 

Na Inovação Social, o Oi Futuro lançou o Labora, laboratório de soluções singulares e de impacto para as cidades e a gestão cultural. O Labora é um ambiente de conexão, aprendizagem e criação para organizações e empreendedores comprometidos com a transformação de impacto, e oferece programas de incubação e aceleração para projetos e negócios de impacto social. O Oi Futuro também aposta em projetos esportivos que conectem pessoas e promovam a inclusão e a cidadania.

 

Numa confluência entre as áreas de Cultura e Inovação Social, nasceu o Lab Oi Futuro, espaço de criação, experimentação e colaboração idealizado para impulsionar criadores de diversas áreas e startups de impacto social de todo o Brasil, selecionados por editais públicos. Com mais de 500m², o laboratório abriga o LabSonica e o Labora e oferece estrutura física e suporte técnico necessários para que seus participantes viabilizem seus projetos em um ambiente que estimula a produção colaborativa, a formação de redes e a inovação.

 

 

Até 31 de março.

Palestra de Rosana Paulino

O programa “Contatos com a arte” receberá, no dia 07 de fevereiro, quinta-feira, às 19h30, a artista Rosana Paulino para uma conversa sobre sua obra presente na exposição “Passado/Futuro/Presente: arte contemporânea brasileira no acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo”.

 

 

Sobre a artista

 
Doutora em Artes Visuais pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – ECA/USP. É especialista em gravura pelo London Print Studio, de Londres e Bacharel em Gravura pela ECA/USP. Foi Bolsista do Programa Bolsa da Fundação Ford nos anos de 2006 a 2008 e Capes de 2008 a 2011. Em 2014 foi agraciada com a bolsa para residência no Bellagio Center, da Fundação Rockefeller, em Bellagio, Itália.

 

Como artista vem se destacando por sua produção ligada a questões sociais, étnicas e de gênero. Seus trabalhos têm como foco principal a posição da mulher negra na sociedade brasileira e os diversos tipos de violência sofridos por esta população decorrente do racismo e das marcas deixadas pela escravidão.

 

Possui obras em importantes museus tais como MAM; Unm – University of New Mexico Art Museum, New Mexico, USA e Museu Afro-Brasil – São Paulo

 
Conversa com Rosana Paulino

 

Local: Museu de Arte Moderna de São Paulo
Endereço: Parque Ibirapuera – Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº. Acesso pelos portões 2 e 3

 
Horário: 19h30 às 21h30

 
Tel: (11) 5085-1300

Dupla Breves Schmidt no IBEU

A Galeria de Arte Ibeu, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ, abre a programação de 2019 no dia 05 de fevereiro, com a exposição “Transfiguração da Matéria”, da dupla Breves Schmidt. Sob curadoria de Marco Cavalcanti, as artistas Claudia Breves e Cecilia Schmidt apresentam um ensaio na fronteira entre fotografia e desenho, em sequências tensas e oníricas. A origem das 26 obras expostas traz fragmentos de um antigo vitral, que transfigurado pela criação fotográfica passou a ter potencial estético autônomo, como imagem desdobrada. Partindo deste antigo vitral, a dupla constrói uma linguagem específica e instala um processo artístico particular que define direções e poéticas inalcançáveis na fotografia analógica. O processo de transformação e reconfiguração contínua se torna onírico, e as artistas lançam mão do potencial estético, formado pelo inconsciente, para depois torná-lo livre e atemporal.

 

“Quando deslocamos o olhar pelas paredes da galeria, percebemos que o tempo das imagens é imanente, liberto da cronologia a fundir lembranças e esquecimentos. Parece que a serialidade executa uma pilhagem no passado, como piratas do tempo”, analisa Marco Cavalcanti. “Ao desdobrar, multiplicar, serializar e descontruir a antiga matriz em algo surpreendente, a dupla de artistas descobre uma lógica interna e define um processo artístico. É transfiguração da matéria para este frágil tempo em que vivemos”, completa o curador. Formada em 2011, Breves Schmidt aparece eventualmente nos intervalos das carreiras solo das duas artistas. A dupla já realizou trabalhos na mostra Morar Mais por Menos, 2014, e na Feira de Arte Contemporânea, no Espaço Ernani Arte e Cultura, 2014.

 

 

Até 1º de março.

31/jan

 

A Baró Galeria, Consolação, São Paulo, SP, apresenta “Visceral Art SP”, exposição individual de Josafá Neves com curadoria de Marcus Lontra Costa.

 

 

A IMAGEM DA VERDADE

 

“Não sou escravo de nenhum senhor

Meu paraíso é meu bastião

Meu Tuiuti, o quilombo da favela

É sentinela da libertação”.

 

Meu Deus, está extinta a escravidão?

G.R.E.S. Paraíso do Tuiuti, 2018

 

A obra de Josafá Neves revela a potência de imagens obliteradas pelo discurso oficial colonizador e patriarcal. Aqui não há espaço para acomodações, para discursos conciliatórios que objetivam criar uma falsa ideia de harmonia e integração racial num país majoritariamente formado por mestiços, filhos do estupro de mulheres negras da parte do homem branco, e que continua a marginalizar e desmerecer a enorme contribuição cultural da arte afro-americana. A história da arte oficial brasileira é o retrato dessa imagem apagada, desse silêncio que ignora a contribuição africana para valorizar tão-somente a presença européia, seus movimentos, suas estratégias de articulação de poder e dominação. Mesmo no modernismo, em sua proposta igualitária e transformadora, a presença de grandes artistas negros se justificava através de discursos críticos que equivocadamente aliavam tais artistas a movimentos construtivos europeus, esquecendo deliberadamente a geometria primeva, essencial, presente nos totens, nos ritos, nas máscaras, nos troncos, nos corpos. A exposição que o artista apresenta reúne obras de potência visual marcante, nas quais imagens resultantes do sincretismo religioso constroem o imaginário místico brasileiro, como no caso de Nossa Senhora de Aparecida, padroeira do Brasil, afirmando a sua negritude, e aludem à saga de violência contra as mulheres negras no país, da escrava Anastácia amordaçada até Marielle Franco, mulher negra assassinada por defender a liberdade e a democracia. Até quando? Este é o brado que as telas de Josafá expressam: até quando esse país insistirá em não admitir a violência que embasa a nossa história e que justifica a tragédia de um povo que não se reconhece no espelho? Entretanto, é preciso lutar, é preciso resistir, é preciso revelar. Josafá abraça esse compromisso, “todo artista deve ir aonde o povo está”, e assim cria imagens povoadas de beleza e sofrimento, realidade e mistério, medo e encantamento. A pintura é, nesse caso, ferramenta poderosa do discurso e ela se justifica pelo seu contexto de luta e participação, pela sua verdade, pela força de sua ideia que a forma e a cor constroem de maneira determinante. Visceral art reúne obras de contundência raras vezes vista no comportado circuito comercial das artes. O artista optou pelo título em inglês no sentido de desprezar nacionalismos e acentuar o caráter internacional de denúncia da violência de raça cometida no Brasil. Elas são trabalhadas de maneira direta, criando uma epiderme pictórica de conteúdo fortemente gráfico e são, elas próprias, resultado de fontes de inspiração distintas, acentuando seu caráter mestiço e multicultural, pois dialogam com a gráfica expressionista de origem germânica e com a pintura corporal africana, prática tradicional de celebração e identificação étnica e cultural. No momento em que, apesar dos pesares, a voz negra se projeta no cenário cultural com ações institucionais de destaque e com a existência, pela primeira vez em nossa história, de um segmento poderoso de artistas negros reconhecidos pelo circuito artístico contemporâneo, a presença, entre eles, de Josafá Neves reafirma os compromissos de construção de uma estética nacional verdadeira e corajosa, que assuma as nossas desigualdades e preconceitos no intuito de superá-los para que possamos criar um país que ofereça a todos os seus habitantes cidadania plena e igualdade de oportunidades.

 

Marcus de Lontra Costa

São Paulo, janeiro de 2019.

 

De 31 de janeiro a 16 de março.

Na Galeria Nara Roesler/Rio

29/jan

O artista colombiano Alberto Baraya, artista-viajante contemporâneo que já participou, entre outras, da 27ª Bienal Internacional de São Paulo (2006) e da 53ª Bienal de Veneza (2009), desta vez tem o Rio de Janeiro como fonte de seu “Estudios Comparados de Paisaje”.  Esteve duas vezes no Rio de Janeiro em 2018 para conceber a nova série de mais de 20 trabalhos que apresenta na Galeria Nara Roesler, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ.

 

A exemplo dos europeus que empreendiam expedições botânicas no período colonial, suas obras investigam territórios para criar poéticas ficcionais que refletem sobre o poder e os resquícios do colonialismo, questionando tanto o impulso de controlar o mundo por meio do ato de nomeá-lo e classificá-lo quanto a construção de identidades nacionais. Em sua última exposição na galeria, em 2010, o artista apresentou um desdobramento de seu emblemático projeto “Herbario de Plantas Artificiales”, séries concebidas a partir de plantas e flores de plástico das mais diversas procedências e fotos que registram o procedimento de trabalho, apropriando-se dos métodos dos naturalistas botânicos para colocar em questão o pensamento positivista, numa resistência aos princípios da educação ocidental.

 

No atual projeto, para criar seus “Estudios Comparados de Paisaje”, Baraya baseia-se na tradição das pinturas de paisagens – também conhecidas como “Panoramas” – retratadas por viajantes ou residentes, procurando debater, entre outros aspectos, a noção de paisagem nacional. Para sua “Expedición Rio de Janeiro”, especialmente realizada para sua nova exposição na galeria, o artista selecionou uma série de vistas panorâmicas da cidade, produzindo por meio da técnica da pintura novas telas nos mesmos locais onde estiveram os pintores acadêmicos. Baraya em seguida levou as obras ao ateliê e, por meio de intervenções, desconstruiu narrativas, convertendo as pinturas em objetos. “Algumas dessas paisagens-impressão funcionam como estágios nos quais desenvolvo comentários de interesse pessoal e social”, explica o artista. Segundo Baraya, nessa série, isso é feito através da introdução de animais-personagens estranhos àquela natureza originalmente representada. “A migração das espécies ou a qualificação de espécies exóticas se inscrevem na tradição literária e gráfica da fábula”, comenta. Ainda para ele, as paisagens-impressões são suscetíveis de serem lidas e reinterpretadas sob a perspectiva de outras categorias do conhecimento e da arte.

 

Para Baraya, no caso particular dos “Estudios Comparados de Paisaje”, os objetos à óleo são propostos como partituras em potencial para serem interpretadas no piano. Daí a realização de uma performance – realizada em novembro no Parque Lage – com paisagens-partituras, em parceria com Benjamin Taubkin. Como um laboratório experimental, o piano é retirado de seu cenário habitual e levado ao espaço exterior, os jardins, onde o pintor e o pianista realizam suas próprias interpretações da paisagem ao redor. Ao final do primeiro ato, as obras da exposição na Galeria Nara Roesler levadas ao local tornam-se partituras, sendo reinterpretadas pelo músico ao piano.

 

 

 

Alberto Baraya: estudios comparados de paisaje

 

Texto crítico por Pedro Corrêa do Lago

 

A série Expedición Rio (2018), parte do projeto Estudios Comparados de Paisaje (1998-2018) de Alberto Baraya, oferece a rara oportunidade de observar uma relação direta entre a obra dos pintores viajantes que retrataram a paisagem do Rio de Janeiro no século XIX e o trabalho recente de um notável artista contemporâneo. Ainda que colombiano, Alberto Baraya bebeu claramente na fonte dos grandes paisagistas atuantes no Brasil, pois parece às vezes transpor quase ipsis litteris imagens produzidas por eles como pano de fundo para suas próprias paisagens oníricas, nas quais o artista acrescenta animais quase míticos, totalmente inesperados nesse contexto. Na verdade, apesar do parentesco óbvio com a obra de artistas do século XIX, a semelhança provém não da simples repetição, mas da mesma postura que Baraya assume ao registrar a paisagem incomparável do Rio de Janeiro, com o objetivo de incorporála como cenário de suas intervenções fabulosas. O tratamento da paisagem por Alberto Baraya procede da mesma contemplação embevecida da paisagem que caracterizou a obra dos autores das vistas panorâmicas do Rio de Janeiro do século XIX. Também pintadas en plein air, não são, no entanto, concebidas por Baraya como as dos artistas que pretendiam apenas captar o cenário exótico para propô-lo à apreciação do espectador europeu. É verdade que o resultado é de tal forma semelhante ao que os viajantes obtinham que poderia apenas remeter integralmente às outras obras de artistas que precederam Baraya nos últimos 200 anos. De fato, a preocupação com a “documentação da paisagem” que caracterizava o trabalho de muitos desses artistas viajantes os tornava extremamente ciosos da precisão no registro dos contornos, diante da paisagem arrebatadora que se perfilava sob seus olhos na topografia única da baía do Rio de Janeiro. Também Baraya declara seu espanto diante da natureza que observa para alavancar sua criação, e é palpável seu domínio de uma técnica precisa que é tão fiel ao que vê quanto ao que Baraya imagina que os artistas viajantes viram: um Rio de Janeiro limpo de suas edificações atuais. Los músicos de Rio, um trabalho a óleo medindo mais de 4 metros, nos traz ecos de um grande panorama, o Panorama do Rio de Janeiro (1873) de Emil Bauch, uma litografia a cores sobre papel medindo 75 x 242,5 cm, assim como de um pastel de Hagedorn de 1860 retratando o Pão de Açúcar visto de trás, num ângulo menos utilizado por outros pintores viajantes. Outros trabalhos, como Rio de Janeiro desde Niterói, con pez volador falso (Dactylopterus volitans), que mostra um exemplar da espécie de peixe conhecida como falso voador, incomum no Rio de Janeiro, saltando das águas da baía, nos lembra as grandes aquarelas de E. E. Vidal, marinheiro inglês e pintor viajante especializado em panoramas extensos da baía do Rio de Janeiro. Já a vista da Águia-pescadora en Playa Vermelha, en Pan de Azucar, Rio de Janeiro assemelha-se mais aos quadros da paisagem carioca realizados no início do século XX, e Baraya volta ao mesmo ângulo inusitado do Pão de Açúcar de Hagedorn com o Macaco comiendo goji berries en Pan de Azucar. A floresta virgem que os artistas viajantes descobriram estarrecidos no Brasil tornou-se um dos temas de predileção em suas obras, e Baraya parece inspirar-se claramente nas versões que nos deram Debret e Rugendas da vegetação brasileira quando coloca seu Caracol gigante africano sobre palo brasil (Achatina fulica sobre Caesalpina echinata) num fundo de floresta tropical – também evocada em Macaco con caracol gigante africano (Callithrix jacchus con Achatina fulica). O Pão de Açúcar foi, como era inevitável, um dos focos principais de atração dos pintores viajantes (profissionais ou amadores) que passaram pela cidade nas primeiras décadas do século XIX, no momento em que a abertura dos portos permitiu restabelecer o fluxo de visitantes estrangeiros, até então interrompido pelo colonizador português. Quando Alberto Baraya sobrepõe pedras e caveiras à paisagem tradicional do Pão de Açúcar, ele nos traz uma evocação renovada de uma paisagem tantas vezes repetida pelos paisagistas do século XIX, a ponto de se tornar o principal cartão postal avant la lettre da então capital. A vista do morro Dois Irmãos antes das muitas edificações em seu entorno (tal como poderia ter sido observado da praia do Leblon no século XIX ou no começo do século XX) apresenta mesmo assim uma mancha indistinta que evoca a atual favela do Vidigal, mostrando o que Baraya quer lembrar sem ver. Sobre essa paisagem, o artista sobrepõe agora pedras envoltas em cânhamo, voltando a surpreender o espectador e reforçando o tema do par com duas pedras sobre a areia da praia. O Rio de Janeiro atual ressurge no Rio desde Parque das Ruínas e no Caballo (Equus ferus caballus) en Lagoa, obras nas quais Baraya abandona a referência aos pintores viajantes e recupera com a mesma postura a paisagem atual da cidade, sempre sobreposta por pedras encontradas em seu caminho ou animais que parecem caídos do céu. A produção atual do artista é constante na referência ao passado, pois o grupo de obras de Alberto Baraya intitulado Nuevas Hierbas de Palermo y Alrededores – Una Expedición Siciliana (2018), parte de seu projeto Herbário de Plantas Artificiales (2002-em andamento), realizado para a Manifesta 12 Palermo no Jardim Botânico da cidade a partir da coleta de plantas falsas (Made in China) e representações botânicas locais em cerâmica relembra também o trabalho impresso dos grandes naturalistas europeus que visitaram o Brasil ao longo do século XIX, documentando sua flora e sua fauna. O relato das expedições desses grandes naturalistas deu oportunidade para a criação de magníficos álbuns com finas gravuras da flora brasileira, muitas vezes coloridas à mão, que aliavam a exatidão científica a um extraordinário impacto visual. O Brasil forneceu assim o tema para alguns dos mais belos livros de botânica do século XIX, e poucos países tiveram sua flora documentada com igual precisão e beleza. Com elementos capturados em Palermo e seus arredores, no caso de sua série siciliana, Baraya recria delicadamente a atmosfera dos herbiers dos séculos passados, dando-lhes uma interpretação que incorpora as novas técnicas agora à sua disposição. Para um estudioso dos artistas do passado que enriqueceram a cultura brasileira com seus relatos visuais, é especialmente instigante apreciar o trabalho de um artista contemporâneo com uma compreensão tão profunda de trajetórias comparáveis trilhadas muito antes dele.

 

 

Sobre Pedro Corrêa do Lago

 

Mestre em Economia, é autor de 20 livros sobre temas da cultura brasileira. Bibliófilo, colecionador, livreiro e editor, foi curador de diversas mostras no Brasil e no exterior. Em 2000, organizou o módulo “O olhar distante na Mostra do Redescobrimento”, na Fundação Bienal de São Paulo. Em 2005, foi curador em Paris das exposições “O Império brasileiro e seus fotógrafos” no Museu d’Orsay e “Frans Post: o Brasil na corte de Luís XIV” no Museu do Louvre. De 2003 a 2005, presidiu a Fundação Biblioteca Nacional. Em 2006, publicou, com sua mulher, Bia Corrêa do Lago, “Frans Post – Obra Completa”. Nos anos seguintes, escreveu ou colaborou com os catálogos raisonnés de Debret, Taunay e Pallière e editou os de Rugendas e Eckhout. Em 2008, novamente com Bia Corrêa do Lago, publicou “Coleção Princesa Isabel – Fotografia do século XIX”, vencedor do Prêmio Jabuti, e, em 2009, lançou “Brasiliana Itaú” – uma grande coleção dedicada ao Brasil e organizou o catálogo raisonné “Vik Muniz 1987 – 2009 Obra Completa”. Sócio titular do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), organizou em 2014 o livro Brasiliana IHGB e, em 2015, a segunda edição (1987-2015) da obra completa de “Vik Muniz, Tudo até agora”.

 

 

Até 09 de fevereiro.

Duas exposições na Europa

28/jan

 

Entre o final de janeiro e início de fevereiro, o fotógrafo e artista visual, Gilberto Perin realiza duas exposições na Europa nas quais apresenta série inédita na “Exposição de Arte Contemporânea da América Latina”, em Genebra, Suíça, e inaugura individual em Lisboa, Portugal. A série inédita “Fake Photos”, composta de 11 imagens que misturam o conceito de fake fotos, fake news e o paradoxo de René Magritte (“A Traição das Imagens”), será exibida em Genebra, a partir do dia 23 de janeiro. Já a série “Sem Identificação”, que foi exposta em 2018 no Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli, entra em cartaz na A Pequena Galeria, em Lisboa, no dia 07 de fevereiro.

 

A Exposição de Arte Contemporânea da América Latina (Exposition D’Art Contemporain D’Amérique Latine), no Centro de Artes da Ecole Internationale de Genève – Ecolint, vai exibir obras de 13 artistas e coletivos da América Latina até o dia 28 de fevereiro. Gilberto Perin foi convidado a expor na Ecolint após participar, no ano passado, de um projeto em parceria entre o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS), sua Associação de Amigos (AAMARGS) e a escola da Unesco. O projeto “Travessia” propiciou um intercâmbio cultural entre estudantes gaúchos e suíços e artistas convidados. Além de Gilberto, outros dois artistas brasileiros que participaram do projeto também terão seus trabalhos expostos na Ecolint: o pintor Britto Velho e o fotógrafo Nilton Santolin.

 

Em “Fake Photos”, – seu trabalho mais recente -, o artista traduz suas inquietações sobre a autenticidade e a veracidade das imagens produzidas, além de fazer uma reflexão sobre o atual momento político no Brasil e suas relações com as fake news: ao carimbar as imagens com as palavras “Fake Photos”, Gilberto Perin nega tudo aquilo que apresenta. “A relação das minhas fotografias com essa temática me fez pensar sobre as fake news e, no meu caso específico como fotógrafo, nas fake photos. Afinal, o que é arte contemporânea? A fotografia pode ser vista como arte? Os carimbos chamam a atenção sobre se o que vemos na realidade é somente uma imagem ou é aquilo que queremos ver”, explica.

 

A série “Sem Identificação” é uma crítica irônica e reflexiva do momento atual, repleto de informações e mensagens visuais. O fotógrafo – junto aos modelos que posaram nus – produziu imagens icônicas, inspiradas em obras de arte conhecidas, e outras que surgiram espontaneamente no momento do ensaio fotográfico. Nas 25 fotografias que compõem a série, os corpos aparecem sem cabeças – efeito obtido apenas com o enquadramento da câmera. “A falta da cabeça e a ausência do olhar causa certo estranhamento e passa a significar uma identidade perdida, levando-se em conta que a cabeça é o centro de tudo: das emoções até a decisão da nossa vida ou morte. Em tempos de selfies, “Sem Identificação” tem concepção simples e direta, onde a nudez é apenas a parcela aparente daquilo que não é revelado sobre a nossa identidade e pensamento”, afirma o fotógrafo.

 

Sobre o artista

Gilberto Perin nasceu em Guaporé, RS, vive e trabalha em Porto Alegre. Formado em Comunicação Social pela PUC-RS, é fotógrafo, diretor de cena e roteirista. Tem dois livros publicados: “Camisa Brasileira” (2011) e “Fotografias para Imaginar” (2015). Suas obras são publicadas em livros, jornais e revistas brasileiras e também no exterior, e fazem parte de acervos de museus, entidades culturais e coleções particulares. Entre suas exposições individuais, destacam-se: “Linha d’Água e Sem Identificação” (2018) no MARGS; “Fotografias para Imaginar” (2013 e 2015), no Instituto dos Arquitetos do Brasil e Pinacoteca Aldo Locatelli, as duas em Porto Alegre: “Vestiário” (2013), no Museu do Futebol de São Paulo; “Camisa Brasileira” (2010 a 2018), Porto Alegre, no interior do Rio Grande do Sul, na França e Itália; “Conexões Infinitas” (2009), no Centro Cultural Erico Verissimo, em Porto Alegre. Participou também de exposições coletivas, como “Queermuseu” (2017 e 2018), no Santander Cultural em Porto Alegre e no Parque Laje no Rio de Janeiro; “A Fonte de Duchamp, 100 Anos de Arte Contemporânea”, MARGS, Porto Alegre; “Objectif Sport” (2016), circuito internacional da Aliança Francesa, em Porto Alegre na Galeria La Photo; “Manifesto: Poder, Desejo, Intervenção” (2014), MARGS, Porto Alegre; “The Beautiful Game: o Reino da Camisa Amarela” (2014), Museu dos Direitos Humanos do Mercosul, Porto Alegre; “De Humani Corporis Fabrica”, MARGS, Porto Alegre; “Cromo Museu” (2012), MARGS, Porto Alegre.

 

 

“Fake Photos” – Exposition D’Art Contemporain D’Amérique Latine

De 23 de janeiro a 28 de fevereiro de 2019 – Entrada franca

Local: Centre Des Arts – École Internationale de Genève – Ecolint

Campus La Grade Boissiére – 62, route de Chêne, CH-1208 – Genebra – Suíça

 

 

“Sem Identificação”

De 07 de fevereiro a 08 de março de 2019 – Entrada franca

Local: A Pequena Galeria –  Av. 24 de Julho 4C, 1200-109 – Lisboa – Portugal

 

Mapa do meu corpo

22/jan

 

A performance será realizada apenas no dia 23 de janeiro, na Baró Jardins, à Rua da Consolação 3417, São Paulo, SP, durante 5 horas, das 17h às 22h, com entrada franca.

 

Desde seus primeiros trabalhos, Fyodor Pavlov-Andreevich explora a distância que separa o espectador do objeto no “live art” (arte ao vivo). A primeira dessas experiências fez parte de “Marina Abramovic Presents”, realizada em Manchester em 2009, onde Pavlov-Andreevich apresentou um trabalho de 21 dias, intitulado “My Mouth Is A Temple” (com curadoria de Hans Ulrich Obrist e Maria Balshaw). Outra tentativa de medir essa distância aconteceu no final de 2017, no SESC Consolação, em São Paulo, como parte do Carrossel Performático do Fyodor, produzido em colaboração com o Atelier Marko Brajovic, a Playtronica e Arto Lindsay, quando Pavlov-Andreevich apresentou sua nova série, Try Me On I’m Very You, usando seu corpo como um instrumento musical a ser tocado presencialmente pelo público.

 

 

Fyodor continua a diminuir essa distância e a estabelecer uma relação entre o público e o corpo do artista com seu novo trabalho, “O Mapa Do Meu Corpo”, comissionado pela galeria Baró em São Paulo, uma nova peça ao vivo de longa duração e mais uma colaboração frutífera com um dos parceiros “de crimes” mais antigos do artista, o arquiteto paulista Marko Brajovic e seu Atelier. Desde o ano 1997, com a sua primeira visita a Moscou, Brajovic começou o estudo sobre “arquitetura performática” da vanguarda construtivista russa, evoluindo o conceito da relação entre corpo e arquitetura em interfaces sensitivas, a serem exploradas pelo público.

 

Em “O Mapa Do Meu Corpo”, o corpo do artista se transforma em um objeto de acesso comum, um instrumento que troca as energias, intenções e intensidade humanas, capaz de receber desejos, emoções, pensamentos e intensidade, estando totalmente exposto ao que vir do lado dos espectadores. Assim, os visitantes são convidados a entrar no espaço da galeria, onde os espera uma instalação muito parecida com a famosa Casa Melnikov (1927-1929), uma das obras primas do construtivismo, residência clássica icônica da vanguarda russa da década de 1920. O prédio real, que inspirou tanto Brajovic quanto Pavlov-Andreevich desde seus anos escolares, é formada por um volume cilíndrico caleidoscópico de três andares com espaço suficiente para abrigar a família do arquiteto e seus ateliês de pintura e de arquitetura.

 

Desta vez, a estrutura arquitetural frágil (porque realizada em compensado), porém física, abrigará o corpo do artista, nu e vulnerável, e o visitante da galeria que entrará no espaço por sua conta e risco. Em pé na frente dele, cada visitante (um de cada vez) será convidado a colocar uma das suas mãos em cima de uma determinada parte do corpo do artista. A cada parte do corpo corresponde uma história da própria vida do artista, narrada em voz alta por ele. Dependendo da qualidade, duração e força do toque do visitante, a história varia. Por exemplo, um toque mais forte e mais longo tornará a respectiva história mais profunda e íntima.

 

Os visitantes que preferirem ver e ouvir em vez de participar, serão convidados a se aproximar de uma das três cadeiras localizadas ao redor da instalação, e de olhar para a interação de cima, associando esse ato voyeurístico com o de um banheiro público, onde se olha para um cubículo vizinho de cima.

 

Modernos & Arte Sacra no MAS/SP

18/jan

O Museu de Arte Sacra de São Paulo – MAS-SP, Luz, São Paulo, SP, instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, exibe “O Sagrado na Arte Moderna Brasileira”, com obras de Agostinho Batista de Freitas, Alberto Guignard, Aldo Bonadei, Alex Flemming, Alfredo Volpi, Anita Malfatti, Antonio Poteiro, Arcângelo Ianelli, Cândido Portinari, Carlos Araújo, Clóvis Graciano, Cristina Barroso, Emeric Marcier, Fé Córdula, Fúlvio Pennacchi, Galileu Emendabili, Glauco Rodrigues, Ismael Nery, José Antonio da Silva, Karin Lambrecht, Marcos Giannotti, Mestre Expedito (Expedito Antonio dos Santos), Mick Carniceli, Miriam Inês da Silva, Nelson Leirner, Nilda Neves, Oskar Metsavaht, Paulo Pasta, Raimundo de Oliveira, Raphael Galvez, Rosângela Dorazio, Samson Flexor, Sérgio Ferro, Siron Franco, Tarsila do Amaral, Vicente do Rego Monteiro, Victor Brecheret e Willys de Castro, sob curadoria de Fábio Magalhães e Maria Inês Lopes Coutinho. A mostra expõe cerca de 100 obras – entre esculturas, desenhos, gravuras e pinturas – que formam um conjunto expressivo de artistas cujas produções abordam poéticas que aludem à fé e à religião, algumas de modo claro e explícito, outras, por meio de metáforas.

 

Até 1808, a temática religiosa dominou por completo a produção artística no país, entre o período que engloba o século 16 até a primeira década do século 19 – com exceção das obras de Franz Post e Albert Eckhout, que retrataram a paisagem, a flora, a fauna, a dança dos índios Tapuias, os tipos humanos e os empreendimentos açucareiros em Pernambuco. A partir de 1808, com a chegada da família real ao Brasil, os temas profanos passaram a ser adotados pelos artistas brasileiros, e algumas décadas depois já prevaleciam nas artes plásticas em nosso país.  “No século XIX, com a presença da missão francesa de arquitetos e artistas no Brasil, também ocorreu a representação do país e de sua sociedade por artistas como Debret e Taunay, entre outros. No correr do segundo império, os temas das pinturas brasileiras serão sobretudo patrióticos. Com o advento da semana de Arte moderna em 1922, inverteu-se a situação com o predomínio do profano e nossos modernistas e depois nossos contemporâneos se fizeram conhecidos do grande público por obras que não expressavam o sentimento religioso”, comenta o diretor executivo do MAS-SP, José Carlos Marçal de Barros.

 

Este conjunto de obras que compõem a nova mostra temporária do MAS-SP pode ser dividido entre os artistas modernos – Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Victor Brecheret, Vicente do Rego Monteiro, Ismael Nery, Cândido Portinari, entre outros -, os populares – entre eles José Antonio da Silva, Agostinho Batista de Freitas, Antonio Poteiro – e os artistas contemporâneos, como Alex Flemming, Marcos Giannotti, Nelson Leirner, Oskar Metsavaht, entre outros. Nos dizeres de Fábio Magalhães e Maria Inês Lopes Coutinho: “Os modernistas foram, antes de tudo, transgressores e não apenas na expressão artística, também adotaram novos modos de vida, muitos deles, incompatíveis com os hábitos da sociedade brasileira, ainda fortemente rural. Influenciados pela grande metrópole francesa que vivia sua “folle époque”, esses jovens transgressores trouxeram novas ideias que tumultuaram os costumes até então estabelecidos na conservadora sociedade brasileira”.

 

A expressão do artista popular parte na maioria das vezes de experiências vividas, das crenças, dos rituais e das festas da sua comunidade. Procissões, as festas juninas, tão populares no Nordeste, e o folclore regional nutrem, muitas vezes, os temas religiosos. Em relação à arte contemporânea, os curadores destacam a presença não rara do tema religioso, “se o entendemos como manifestação de poéticas do sagrado, do sobrenatural, como forças da natureza que inquietam a cultura, ou mesmo os aspectos intangíveis que pressentimos nas coisas e nas pessoas, ou como apropriação de símbolos consagrados”. “Lograram o magnifico resultado que o Museu de Arte sacra apresenta nesta mostra, pois todos e cada um de nossos grandes artistas continuaram mantendo dentro de si a antiga religiosidade com que conviveram desde a sua infância”, conclui José Carlos Marçal de Barros.

 

 

Sobre o museu

 

O Museu de Arte Sacra de São Paulo, instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, é uma das mais importantes do gênero no país. É fruto de um convênio celebrado entre o Governo do Estado e a Mitra Arquidiocesana de São Paulo, em 28 de outubro de 1969, e sua instalação data de 28 de junho de 1970. Desde então, o Museu de Arte Sacra de São Paulo passou a ocupar ala do Mosteiro de Nossa Senhora da Imaculada Conceição da Luz, na avenida Tiradentes, centro da capital paulista. A edificação é um dos mais importantes monumentos da arquitetura colonial paulista, construído em taipa de pilão, raro exemplar remanescente na cidade, última chácara conventual da cidade. Foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em 1943, e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Arquitetônico do Estado de São Paulo, em 1979. Tem grande parte de seu acervo também tombado pelo IPHAN, desde 1969, cujo inestimável patrimônio compreende relíquias das histórias do Brasil e mundial. O Museu de Arte Sacra de São Paulo detém uma vasta coleção de obras criadas entre os séculos 16 e 20, contando com exemplares raros e significativos. São mais de 18 mil itens no acervo. O museu possui obras de nomes reconhecidos, como Frei Agostinho da Piedade, Frei Agostinho de Jesus, Antônio Francisco de Lisboa, o “Aleijadinho” e Benedito Calixto de Jesus. Destacam-se também as coleções de presépios, prataria e ourivesaria, lampadários, mobiliário, retábulos, altares, vestimentas, livros litúrgicos e numismática.

 

 

 

De 26 de janeiro a 31 de março.

Tiago Sant’Ana, performance/workshop

11/jan

O ano começa com agenda cheia na Simone Cadinelli Arte Contemporânea, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ: na segunda quinzena de janeiro, a galeria promoverá workshop e performance do artista visual Tiago Sant’Ana. Nos dias 14 e 15 de janeiro, Tiago ministra o workshop “A Performance Negra nas Artes Visuais do Brasil”, com o objetivo de debater a linguagem da performance e seus intercâmbios estéticos com as poéticas negras. O conteúdo programático envolve um panorama sobre a história da arte da performance, discussão dos conceitos de arte afro-brasileira e arte negra e dos cruzamentos conceituais entre performance e a questão da negritude no Brasil. Na ocasião também será apresentado um repertório histórico de artistas da performance negra nas artes visuais do Brasil, com ênfase nos desafios e nas potências de produzir arte negra na contemporaneidade. Este workshop se destina a artistas visuais, ativistas, pessoas pesquisadoras do campo das artes e demais interessadas.

 

No dia 16, quarta-feira, às 19h30, Tiago Sant’Ana realiza uma performance, revelando uma estratégia da produção do açúcar na Bahia através do uso de uma forma com nome “pão de açúcar”. Supostamente, é a estrutura em metal que inspira o nome da pedra no Rio de Janeiro. A performance “Pão de Açúcar” tem como proposta aproximar a cultura da cana-de-açúcar da Bahia com a paisagem carioca, instigando o público a pensar numa dobra do tempo e do espaço, já que a própria exposição do artista, “Baixa dos Sapateiros” que está em cartaz na galeria, abre esse entre lugar no Rio de Janeiro para pensar uma geografia histórica de Salvador. “Salvador e Rio de Janeiro possuem muitas histórias em comum, basta pensar em todas as pessoas negras escravizadas que chegaram nessas duas localidades e como as culturas dessas cidades se sustentam em boa parte na cultura afro e no trabalho das pessoas negras”, afirma o artista.

 

 

Sobre a exposição “Baixa dos Sapateiros”

 

A mostra individual, que vai até o dia 13 de fevereiro, trata da imagem histórica dos sapatos como símbolo de libertação pós-abolição negra no Brasil. Essa abolição, oficiosa e sem reparação, era simbolizada pelo gesto de pessoas negras poderem calçar sapatos – tal qual a população branca. O título, “Baixa dos sapateiros”, remete a uma região de mesmo nome em Salvador, Bahia, local em que muitas pessoas negras recorriam para confeccionar seus sapatos. “O nome surge com essa proposta de falar de um lugar em que muitas pessoas iam desejando essa representação da liberdade, que eram os sapatos”, informa o artista. “Era uma geografia que simbolicamente envolvia uma expectativa por essa promessa de cidadania para as pessoas negras, que nunca chegou completamente até hoje”, revela. Considerado um dos pontos altos da exposição, as esculturas com sapatos de açúcar cristal estabelecem um paralelo com o complexo sistema de exploração da cana-de-açúcar e a chegada de muitos engenhos na região do Recôncavo. Clarissa Diniz é responsável pela curadoria da exposição, que conta com vídeo, fotografias, objetos e instalações em torno do tema.

 

 

Sobre o artista

 

Tiago Sant’Ana nasceu em 1990, em Santo Antônio de Jesus. É artista performático, doutorando em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal da Bahia. Desenvolve pesquisas em performance e seus possíveis desdobramentos desde 2009. Seus trabalhos como artista tratam de imersões nas tensões e representações das identidades afro-brasileiras. Foi um dos artistas indicados ao Prêmio PIPA 2018. Realizou recentemente a exposição solo “Casa de purgar”, 2018, no Museu de Arte da Bahia e no Paço Imperial, Rio de Janeiro. Participou de festivais e exposições nacionais e internacionais como “Histórias Afro-atlânticas”, 2018, no MASP e no Instituto Tomie Ohtake, “Axé Bahia: The power of art in an afro-brazilian metropolis”, 2017-2018, no Fowler Museum at UCLA, “Negros indícios”, 2017, na Caixa Cultural São Paulo, “Reply All”, 2016, na Grosvenor Gallery, e “Orixás”, 2016, na Casa França-Brasil. Foi professor substituto do Bacharelado Interdisciplinar em Artes na Universidade Federal da Bahia entre 2016 e 2017.

My Way

Atravancando meu caminho,

Eles passarão…

Eu passarinho!”

Mario Quintana

 

Em seu “Poeminho do Contra” Mario Quintana faz troça, nada circunstancial, do fato de ter sido rejeitado (novamente) como membro da Academia Brasileira de Letras (assim reza a lenda), e de maneira sarcástica, dentro de seu linguajar direto e sem pompa, característica do poeta que acabou por deixar uma marca indelével na literatura brasileira, nos fala do eterno embate entre permanência e efemeridade. Para Hannah Arendt a permanência de uma obra de arte dá à Humanidade uma sensação de imortalidade pelo que é criado por meros mortais, uma constância que se sobrepõe ao tempo.

 

Reunidos em torno da ideia de apresentar o seu mundo particular tanto das ideias quanto das imagens, os artistas da mostra “My Way” abrem o ano expositivo da Casa França-Brasil, Centro, Rio de Janeiro, RJ, com liberdade de apresentarem novos trabalhos ou revisitarem questões que entendam ainda em voga de processos anteriores e que precisem ser novamente evocados pelo olhar do outro, pelo público que, como dizia Marcel Duchamp, “…mais tarde se transforma na posteridade (…), estabelece o contato entre a obra de arte e o mundo exterior”.

 

A exposição pretende ressaltar a diversidade de pensamentos, e de como é possível estarem lado a lado, conviverem pacífica e harmoniosamente linguagens as mais variadas, que se apresentam não como um impedimento ao diálogo, ao contrário, como motor que faz girar a engrenagem do saber, da curiosidade, do despertamento e do deslumbramento. Cada um faz a sua jornada íntima. Como diz a música: “eu vivi uma vida plena, viajei por todos os caminhos, mas mais do que isso, eu fiz do meu jeito”.

 

Osvaldo Carvalho (curador)

 

 

 

Artistas: Angela Od, Bet Katona, Cesar Coelho, Eduardo Mariz, Fábio Carvalho, Gabriel Grecco, Helena Trindade, Hugo Houayek, Jozias Benedicto, Leonardo Videla, Lia do Rio, Marcia Clayton, Osvaldo Carvalho, Osvaldo Gaia, Otavio Avancini, Patrizia D’Angello, Paulo Jorge Gonçalves, Rafael Vicente, Raimundo Rodriguez, Rodrigo Pedrosa, Stella Margarita, Suely Farhi, Viviane Teixeira.

 

 

 

 

Até 11 de fevereiro.

 

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