Volpi em NY

06/nov

A galeria Gladstone 64, Nova Iorque, USA, apresenta – até 22 de dezembro – uma exposição de obras históricas do pintor brasileiro Alfredo Volpi, a primeira apresentação individual de seu trabalho nos Estados Unidos. Volpi é considerado um dos mais influentes e célebres pintores brasileiros, que o proeminente intelectual público Mario Pedrosa chamou de “o mestre do seu tempo”. Honrando seu ofício durante o surgimento do modernismo no Brasil, Volpi teve um impacto duradouro na história da arte através de sua abordagem de assinatura para descrever as formas das experiências cotidianas – desde banners de festivais até casas comuns – em abstração vibrantemente cromática.

 

Esta exposição se concentra nos diferentes aspectos de sua prática pictórica durante sua fase mais envolvente entre o final da década de 1950 e meados da década de 1970. Recolhendo obras importantes, muitas das quais nunca foram exibidas fora do Brasil, as pinturas em vista examinam a fachada, a bandeira e as pinturas náuticas com as quais ele está mais associado. Nesta ocasião, será publicada a primeira grande monografia em inglês do trabalho de Volpi, que inclui um novo ensaio sobre seu trabalho do erudito Rodrigo Moura e escritos históricos sobre os artistas de Aracy de Amaral, Willys de Castro e Mario Pedrosa, traduzidos para o inglês pela primeira vez.

 

 

Sobre o artista

 

Alfredo Volpi nasceu em 1896 em Lucca, Itália, e morreu em 1988 em São Paulo. Ao longo de sua vida, Volpi teve exposições individuais no Museu de Arte Moderna de São Paulo; Instituto de Arquitetos do Brasil, Porto Alegre, Brasil; Museu de Arte Contemporânea, Campinas, Brasil; Biblioteca Municipal Mario de Andrade, São Paulo; Companhia do Metropolitano de São Paulo – Metrô; e Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Depois de sua morte em 1988, muitas instituições mostraram o trabalho de Volpi, incluindo Paulo Kuczynski Escritório de Arte, São Paulo; Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo; Palais des Beaux-Arts de Bruxelles, Bélgica; Instituto Moreira Salles, Rio de Janeiro; Instituto de Arte Contemporânea, São Paulo; Paço Imperial, Rio de Janeiro; Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, Brasil; Museu de Arte Latino-Americano de Buenos Aires, Buenos Aires, Argentina; Espaço Cultural Banco Central, São Paulo; Museu de Valores do Banco Central, Brasília, Brasil; Centro Cultural São Paulo; Museu Nacional de Belas-Artes, Rio de Janeiro; Centro Cultural Laurinda Santos Lobo, Rio de Janeiro; e Pinacoteca do Estado de São Paulo. Em 1953, Volpi conquistou o prestigioso Grande Prêmio de pintura brasileira na segunda Bienal de Arte de São Paulo. Volpi também foi incluído na Bienal de Veneza em 1950, 1952, 1954, 1962 e 1964.

Pedro Tebyriça no IBEU

01/nov

O artista plástico e fotógrafo Pedro Tebyriçá mirou sua câmera à beira-mar e fez registros de um espaço democrático por excelência, o Arpoador, para compor a exposição “À Beira”, que será inaugurada na Galeria de Arte IBEU, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ, no próximo dia 07 de novembro. Esta é sua primeira individual exclusivamente de fotografias, após um hiato de dez anos sem expor (sua última exposição foi na Galeria Debret, em Paris). Nascido no bairro carioca, Tebyriçá viveu por 30 anos no edifício “Marambaia” – o mais antigo da área, construído à beira do mar -, de onde, da mesma janela, se vê as praias do Arpoador, Ipanema, Leblon, as Ilhas Cagarras e o Morro Dois Irmãos. Isto influenciou a poética do artista, que registrou de uma maneira pessoal características próprias e múltiplas daquele local.

 

 

A palavra do artista

 

“O curador, César Kiraly, selecionou 20 fotos, nas quais conjugo duas linguagens: umas com a luz estourada, outras com algum colorido, já que fotografo sempre em P&B. A fotografia, para mim, significa um renascimento, um amadurecimento. Lanço um olhar de artista plástico sobre as minhas fotos.”

 

 

Sobre o artista

 

Pedro Tebyriça estudou com Aluísio Carvão e Sergio Campos Mello e trabalhou com o fotógrafo Paulo Azevedo. Realizou exposições individuais nas galerias Debret, Paris, 2007, com pinturas; Centro Cultural Cândido Mendes, RJ, 1996, desenhos; Galeria Arte Espaço, RJ, 1990, desenhos; Galeria Contemporânea, RJ, 1984, colagens e fotografias. Entre as exibições coletivas que participou destacam-se Nanoexposição, Grupo DOC, Vitória, 2006, objetos; Nanoexposição, Grupo DOC, Belo Horizonte e Curitiba, 2005, objetos; Miami Beach Convention Center, Art Miami 94, 1994, desenhos e objetos; Rio Design Center, RJ, 1993 e 1989, colagens e fotografias; Museu de Arte Contemporânea de Curitiba, 47º Salão Paranaense, 1990, desenhos; Galeria Contemporânea, RJ, 1988 e 1985, esculturas e objetos; 10º, 8º e 4º Salão Carioca de Arte, 1986, 1984 e 1980, desenhos e colagens; Galeria Divulgação e Pesquisa, RJ, 1983, desenhos. Seus trabalhos encontram-se nas coleções Marcantonio Villaça, Antonio Bernardo e Luiz Séve.

 

 

Até 1º de dezembro.

Jazz de Matisse no Rio

31/out

Em cartaz na Caixa Cultural Rio, Centro, Rio de Janeiro, RJ, a exposição “Jazz” reúne 20 pranchas do pintor, desenhista e escultor francês Henri Matisse feitas especialmente para o álbum publicado em 1947. Impressas com a técnica au pochoir, as imagens variam da abstração a figuras de grande vivacidade, mescladas a um texto manuscrito impresso em fac-símile no qual Matisse (1869-1954) tece observações sobre assuntos diversos. O próprio autor esclarece que a composição aborda assuntos ligados ao circo, contos populares e viagens, com ritmo identificável aos sons de uma orquestra de jazz.

 

A técnica usada foi desenvolvida por Matisse no início da década de 1940, quando, obrigado a passar longos períodos na cama e na cadeira de rodas em recuperação de uma delicada cirurgia, o artista combinou desenho e pintura em colagens feitas com papeis recortados e coloridos com guache.

 

A mostra chegou ao Rio após temporadas de sucesso em Salvador, Brasília, Recife e Fortaleza. A curadoria é de Ana Paola Baptista.

 

 

Até 22 de dezembro.

Niemeyer na Pinakotheke Rio

30/out

A Pinakotheke Cultural Rio de Janeiro, Botafogo, RJ, apresenta a exposição “Oscar Niemeyer – Territórios da Criação”, que celebra os 110 anos de nascimento do genial arquiteto com um conjunto inédito de desenhos, pinturas, esculturas e peças de mobiliário feitos por ele. Com curadoria de Marcus Lontra, a mostra reúne ainda obras de artistas como Portinari, Bruno Giorgi, Burle Marx, Tenreiro, Athos Bulcão, Ceschiatti, Franz Weissmann e Tomie Ohtake, que foram amigos e trabalharam junto a Niemeyer em diversos de seus emblemáticos projetos.

 

“Oscar Niemeyer – Territórios da Criação” terá ainda uma sala especial com retratos do arquiteto assinados por reconhecidos fotógrafos como Antônio Guerreiro, Bob Wolfenson, Edu Simões, Evandro Teixeira, Juan Esteves, Luiz Garrido, Marcio Scavone, Nana Moraes, Nani Góis, Orlando Brito, Ricardo Fasanello, Rogerio Reis, Vilma Slomp, Walter Carvalho e Walter Firmo. As fotografias, em tamanho 50cm x 60cm, também constituirão uma caixa para colecionador, em tiragem limitada a trinta exemplares.

 

Oscar Niemeyer nasceu no Rio de Janeiro em 15 de dezembro de 1907, e morreu na mesma cidade em 05 de dezembro de 2012. “Ao longo de sua vida, Niemeyer produziu intensamente e afirmou-se não apenas como arquiteto, como a primeira referência estética brasileira reconhecida em todo mundo, mas também como artista e intelectual respeitado, atuando em várias frentes do conhecimento humano”, afirma Marcus Lontra.

 

 

De 09 de novembro a 19 de dezembro.

 

Bechara no Salão Monumental do MAM Rio 

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Parque do Flamengo prorrogou a exposição “Fluxo Bruto”, com trabalhos inéditos do artista José Bechara, que celebra seus 60 anos e sua trajetória iniciada em 1992. A curadoria é de Beate Reifenscheid, curadora e diretora do Ludwig Museum, Koblenz, Alemanha.

 

A mostra reúne trabalhos tridimensionais em grande escala, realizados em alumínio, mármore, madeira e vidros planos, além de pinturas sobre lona. O conjunto é formado por trabalhos inéditos, alguns deles desenvolvidos a partir de obras anteriores, que ganharam “novas ativações, contaminados pelas demais peças e pelo espaço arquitetônico”, comenta o artista.

 

José Bechara diz que “Fluxo Bruto” propõe uma “mirada para trabalhos em permanente alteração. Em estado bruto, esses trabalhos movimentam-se no curso da produção, e devem se concluir na obra a seguir”.

 

“Com exceção das pinturas, todos os demais trabalhos foram “construídos” no espaço expositivo durante os dias de montagem, a partir de escolhas frente às relações espaciais e de vizinhança entre as obras”, explica o artista. Na grande parede branca do Salão Monumental, com trinta metros de comprimento, estão três diferentes trabalhos com vidros planos, pertencentes ao que o artista chama de “pesquisa recente”.

 

Beate Reifenscheid afirma que “José Bechara é um dos artistas mais interessantes da cena de arte contemporânea brasileira. Iniciou a carreira como pintor, com uma forma de linguagem radicalmente reduzida, compromissada, ainda hoje, com a arte concreta no sentido mais amplo da palavra. São a sua noção e o seu entendimento profundos das estruturas construtivas que formam o esqueleto interno de suas pinturas, que modulam cores num tipo de espaço flutuante, ilimitado”. Ela observa que “fica claro também que o foco do artista está sempre em penetrar o espaço e compreender suas dimensões em percepção. O concreto e o não concreto estão fundamentados diretamente no nível das perspectivas possíveis”. A curadora destaca que “na arte contemporânea, o vidro é um material recém-explorado e artistas famosos, como Pierre Soulages, Gerhard Richter e Ai Weiwei, fizeram experiências com ele. As obras em vidro de José Bechara salientam a percepção conceitual do construtivismo brasileiro e a transferem para uma abordagem contemporânea”.

 

O primeiro, “Rabiscada (2017)”, utiliza cerca de dez placas – transparentes e leitosas – algumas suspensas e outras apoiadas no piso com cerca de 3,5m de altura e 10m de largura. Em meio às placas, uma linha geométrica formada por cerca de 20 varas finas, com 2m cada, na cor laranja percorrerá toda a extensão do trabalho desenhando por vezes à frente, por trás e também suspensas ou apoiadas na parede.

 

O segundo trabalho em vidro, “Sobre amarelos (2017)”, compreende placas de vidro e um cubo amarelo suspensos do teto, formando vários planos sobre uma pintura também em amarelo feita diretamente na parede do Salão Monumental.

 

O terceiro trabalho em vidro, “Angelas (2017)”, é o que exigiu maior logística na montagem, e demandou um guindaste para içar ao local expositivo três esferas maciças de diferentes mármores, pesando a maior cerca de 1,6 tonelada e as duas menores 250 kg cada, aproximadamente. Todos os elementos (vidros e esferas) estão suspensos a alturas entre 2 metros e 30 cm do piso.

 

Na grande parede de concreto, ao fundo do Salão monumental, está uma nova versão da peça “Miss Lu (2007-2017)”, que teve sua volumetria ampliada e ganhou elementos “intrusos” também em alumínio, chegando ao tamanho aproximado de 10m X 10m X 3m.

 

Na parede que faz face ao terraço, estão duas pinturas inéditas de aproximadamente 1,7m0 X 3,30m cada, além de um díptico “Musa e abismo“, de cerca de 1,80m X 5m, pertencente à coleção Dulce e João Carlos Figueiredo Ferraz, e outras duas pinturas da coleção Gilberto Chateaubriand/MAM Rio.

 

Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes, curadores do MAM, observam no texto que acompanha a exposição, que os trabalhos de José Bechara, em alumínio, mármore, madeira, placas de vidro, tinta e oxidação de emulsões de cobre e ferro, são “tridimensionais que se confundem com pinturas, bidimensionais que se aproximam de esculturas”. “Trabalhos inéditos por estarem, de fato, sendo vistos pela primeira vez ou por reunirem peças realizadas em anos anteriores em outros arranjos, como a ampliação da volumetria original ou a adição de elementos intrusos, pensados a partir da relação com o espaço arquitetônico ou do diálogo com o conjunto da exposição”, comentam.

 

 

Trajetória

 

José Bechara iniciou sua trajetória com uma exposição individual no Centro Cultural Candido Mendes, no Rio de Janeiro, em 1992, mesmo ano em que integrou as coletivas “Gravidade e Aparência”, e “Diferenças”, ambas no Museu Nacional de Belas Artes, e “9X6”, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, todas no Rio de Janeiro.

 

“Só me lembro dessa coisa de 25 anos de trabalho quando alguém me pergunta. Como todos os dias acontece alguma coisa nova, tem sempre um ‘acidente’ novo no ateliê, eu não penso nisso. Dou mais atenção ao que pode acontecer do que o que aconteceu. Todo dia se parece com o primeiro dia. Quanto à idade, é a mesma coisa, já que todo dia tenho um novo plano. Estou sempre pensando em fazer alguma coisa que precisa de  tempo pra ser feita, então acho que não tenho muito interesse em idade. Tenho uma leve obsessão pelo porvir. Ainda”, diz o artista.

 

José Bechara se programa para participar, em setembro, da Bienalsur, em Buenos Aires, em outubro, da Bienal de Beijing, e em dezembro apresentará uma individual na galeria norte-americana Diana Lowenstein, por ocasião da Art Basel Miami. Em fevereiro de 2018, fará um projeto especial para a galeria XF Projects, em Madri.

 

O artista expôs este ano em Portugal, com curadoria de Miguel Sousa Ribeiro, no Espaço Adães Bermudes, em Alvito, no Centro de Artes e Cultura de Ponte de Sor, e no Círculo de Artes Plásticas de Coimbra. Esteve presente na ARCO 2017 (Feira de Arte Contemporânea), em Madri, nos espaços da galeria espanhola XF Projects (Palma de Maiorca e Madri), e das galerias portuguesas Mario Sequeira, na cidade de Braga, e Carlos Carvalho, em Lisboa. Em 2016, integrou a exposição “(In) Mobiliario”, na Galeria Habana, em Havana; “The agony and the ecstasy – Latin American art in the collections of Mallorca; A review based on contemporaneity”, no Museo d’Art Modern i Contemporani de Palma, em Palma de Mallorca, Espanha; “Este lugar lembra-te algum sítio? – 1º momento”, no Centro para os Assuntos de Arte e Arquitetura, Guimarães, Portugal; e a premiada “Em polvorosa – Panorama das Coleções MAM Rio”, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

Em novembro de 2015, o Ludwig Museum fez uma grande individual do artista, com curadoria de Beate Reifenscheid.

 

 

Sobre o artista

 

José Bechara nasceu no Rio de Janeiro em 1957, onde trabalha e reside. Estudou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV), localizada na mesma cidade. Participou da 25ª Bienal Internacional de São Paulo; 29ª Panorama da Arte Brasileira; 5ª Bienal Internacional do MERCOSUL; Trienal de Arquitetura de Lisboa de 2011 e das mostras “Caminhos do Contemporâneo” e “Os 90” no Paço Imperial – RJ. Realizou exposições individuais e coletivas em instituições como Fundação Eva Klabin – BR; Culturgest – PT; Instituto Figueiredo Ferraz – BR; Fundação Iberê Camargo – BR; MEIAC – ES; Instituto Valenciano de Arte Moderna – ES; MAM Rio de Janeiro -BR; MAC Paraná – BR; MAM Bahia – BR; MAC Niterói – BR; Instituto Tomie Ohtake – BR; Museu Vale – BR; Ludwig Museum (Koblenz) – DE; Haus der Kilturen der Welt – DE; Ludwig Forum Fur Intl Kunst – DE; Kunst Museum – DE; Museu Brasileiro da Escultura (MuBE) – BR; Centro Cultural São Paulo – BR; ASU Art Museum – USA; Museo Patio Herreriano (Museo de Arte Contemporáneo Español) – ES; MARCO de Vigo – ES; Es Baluard Museu d’Art Modern i Contemporani de Palma – ES; Carpe Diem Arte e Pesquisa – PT; CAAA – PT; Musee Bozar – BE; Museu Casa das Onze Janelas – BR; Casa de Vidro/Instituto Lina Bo e P.M. Bardi – BR; Museu Oscar Niemeyer – BR; Centro de Arte Contemporáneo de Málaga (CAC Málaga) – ES; Museu Casal Solleric – ES; Fundação Calouste Gulbenkian – PT; entre outras. Possui obras integrando coleções públicas e privadas, a exemplo de MAM Rio de Janeiro – coleção Gilberto Chateaubriand–BR; Pinacoteca do Estado de São Paulo – BR; Museu Oscar Niemeyer – BR; Centre Pompidou  Paris – FR; Es Baluard Museu d’Art Modern i Contemporani de Palma – ES; Instituto Figueiredo Ferraz–BR; MAC Niterói – Coleção João Sattamini–BR; Instituto Itaú Cultural–BR; MAM Bahia–BR; MAC Paraná -BR; Ludwig Museum (Koblenz) – DE; Culturgest – PT; Benetton Foundation – IT; CAC Málaga-ES;  ASU Art Museum USA; MOLAA-USA; Ella Fontanal Cisneros – USA; Universidade Cândido Mende – BR; MARCO de Vigo – ES; Brasilea Stiftung,  – CH; Fundo BGA–BR, entre outras.

 

 

Sobre a curadora

 

Beate Reifenscheid é historiadora da arte, crítica de arte e curadora, especializada em arte contemporânea e do século 20, e nas relações artísticas entre Europa e China, e no papel dos museus e suas exposições. Ela estudou História da Arte, Estudos Alemães, Jornalismo e Comunicação na Ruhr-University, em Bochum, Alemanha, e na Universidade de Madri. Em 1985 se tornou mestre em arte, e em 1988 recebeu seu PhD em história da arte, pela Ruhr-University Bochum. De 1989 a 1991 ela integrou a equipe do Saarland Museum, em Saarbrücken, Alemanha, onde chefiou, de 1991 a 1997, o Departamento de Pinturas e Desenhos, e também o de Comunicação. Desde 1997 é diretora do Ludwig Museum, em Koblenz, Alemanha, e desde 2000 ele dá conferências em diversas instituições, e desde 2013 é professora honorária na Universidade de Koblenz-Landau, na Alemanha. Preside o ICOM (Comitê Internacional de Museus) da Alemanha.

 

 

Até 21 de janeiro de 2018.

“Voyage” na Galeria Bergamin & Gomide

27/out

2727

A exposição coletiva “Voyage”, sob curadoria de Alexandre da Cunha, será o novo cartaz da Galeria Bergamin & Gomide, Jardins, São Paulo, SP, a partir de 15 de novembro e até 20 de janeiro de 2018.

 

 

Curadoria de Alexandre da Cunha

 

Alexandre da Cunha é atualmente um dos mais importantes artistas brasileiros. Como curador da exposição “Voyage”, divide algumas de suas inquietações através das obras de 15 artistas selecionadas por ele. O título, inspirado na comédia francesa “Voyage Surprise”, de Pierre Prévert (1947), traduz a sua proposta: “Mais do que um tema, a exposição aborda a ideia de viajar em um sentido mais amplo e suas possíveis associações: sonhos, expectativas, idealização, fantasia, fuga, frustração, medo do desconhecido”.

 

No filme, um motorista de ônibus aposentado comanda uma viagem surpresa onde passageiros desconhecem o destino final. Na mostra, da Cunha convida artistas, que possuem proximidade formal com o seu próprio trabalho, a criarem uma situação onde as obras se relacionam de uma forma fluida. “Meu papel como curador neste projeto funciona como um mediador, que sintetiza questões que surgiram no curso da montagem da exposição”.

 

“Voyage” será composta por obras de diversos períodos de artistas brasileiros e internacionais apresentando também artistas jovens como Thiago Barbalho, Camila Sposati, Joel Croxson e Pablo Accinelli.

 

O público, por sua vez, completa a exposição: assim como os passageiros do filme, o espectador é convidado a embarcar na quebra das estruturas preestabelecidas na maioria das exposições coletivas: “O espectador geralmente é confrontado com uma grande quantidade de informações, uma ansiedade conceitual corre acima da possibilidade de ler os trabalhos de forma mais intuitiva; Nesta exposição as perguntas são mais importantes do que as respostas e as imagens são mais importantes que o texto que acompanha”, acrescenta Alexandre da Cunha.

 

Artistas: Samara Scott, Caragh Thuring, Julius Heinemann, Thiago Barbalho, Lygia Clark, Marisa Merz, Brian Griffiths, Camila Sposati, Laura Lima, Ed Flood, Joel Croxson, Jac Leirner, Pablo Accinelli, Rivane Neuenschwander, José Damasceno.

 

 

Até 20 de janeiro de 2018.

Scheffel no MARGS

O Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli, exibe na Pinacoteca do MARGS, Porto Alegre, RS, a exposição “Scheffel Por Ele Mesmo”, com curadoria de Ângelo Reinheimer. A exposição “Scheffel por Ele Mesmo”, reúne obras da Coleção Família Zelmanowicz, Fundação E. F. Scheffel e acervos privados e propõe revelar ao público um recorte sobre a obra de Scheffel, talvez o mais instigante de sua produção: a década de 1970, que permanece ainda pouco conhecida. A escolha das obras forma um conjunto estabelecido pelo próprio Scheffel – com texto de sua autoria – em uma exposição por ele sonhada e não realizada em vida. Apresenta ainda, uma mostra de retratos, promovendo uma visão panorâmica sobre sua produção artística, a partir da década de 1950 até os anos 2000.

 

Em diálogo com a exposição, o MARGS apresenta uma seleta de obras dos professores do artista, no Instituto de Belas Artes (atual Instituto de Artes da UFRGS), do período entre 1941 e 1946. Entre eles, nomes consagrados da pintura gaúcha, como: João Fahrion, Ângelo Guido, José Lutzenberger, Benito Castañeda, Maristany de Trias e Fernando Corona, possibilitando ao público um olhar sobre os mestres que influenciaram diretamente a obra de Ernesto Frederico Scheffel. O colecionador Rolf Zelmanowicz, também presidente da Sociedade de Amigos da Fundação Scheffel, Novo Hamburgo, RS, é o grande incentivador da exposição.

 

 

 

A palavra do artista

 

O retrato: uma batalha à parte

 

O retrato é considerado uma especialidade no mundo das Artes Plásticas – pintura e escultura – e significa para o artista, em particular, um duplo desafio. Trabalho de arte único, é uma proposta pessoal, elaborada através de recursos próprios. O retrato é a proposta que se antepõe e, eventualmente, se contrapõe ao artista que, paulatinamente, se exercita mental e fisicamente a devorar o seu objeto, de ponta a ponta, ao ponto de romper com o espaço e o tempo, pondo em desordem o pensamento e o sentimento. Isso não significa caos ou confusão, mas um diálogo pelos caminhos ocasionais das imagens e das sensações, interligadas numa atmosfera de contato, resultado de um pacto comum.

 

A relação artista-retratado não é, portanto, uma divisão, uma oposição, um combate de rivais em exercício de mútua eliminação de personalidades antagônicas. O relacionamento artista-retratado, frente à frente, é um ato de antropofagia figurada, leal, pré-determinada pelas partes interessadas em criar, como resultado final, uma obra de arte de alto nível em conteúdo e forma.

 

Com este procedimento – a posse através de uma absorção intensa – o artista não engravida o retratado nem recorre ao Espírito Santo, algo vindo de fora ou de cima, na realização da obra de arte. A obra nasce do entendimento e relacionamento de artista e retratado que decidem remover as máscaras, uma a uma, num ritual de concessão das diferentes formas assumidas pelo indivíduo. Esta faina através das contínuas mutações pretende sintetizar o constante de um modo de ser, de um modo de se apresentar, de um modo de sentir. Aí que se encontra a revelação mais profunda de um caráter – em contínua formação – de uma individualidade única que é “relatada” com seriedade e simplicidade.

 

Montaigne, nos “Ensaios”, expressa alguns conceitos mais permanentes e atuais que podem definir essa seriedade e simplicidade, necessárias ao artista, no ato da concepção do retrato, sintetizando numa só virtude: a fidelidade. “Os outros formam o homem (os moralistas), eu o relato”, escreve no Livro III, capítulo 2.

 

Concluído o retrato, rompe-se o liame entre artista e retratado, em favor de uma obra de arte que pode ter atingido um estado de vida permanente, como se tocada pelo imprevisto sopro dos deuses, caprichosos, através da qualidade na composição, na técnica pictórica e na menção do mundo interior do indivíduo. Está superado o desafio da realização pessoal, como obra de arte.

Ernesto Frederico Scheffel

 

 

 

Sobre o artista

 

Ernesto Frederico Scheffel nasceu em 8 de outubro de 1927, em Campo Bom, RS. É descendente de imigrantes alemães de Berghausen – Westfalen, chegados em 1825 e estabelecidos na antiga colônia de São Leopoldo. Aos 12 anos de idade, Scheffel fez parte do Grupo de “coloninhos” que foram levados a Porto Alegre, numa ação do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, dentro das políticas de nacionalização do Estado Novo. Foi convidado a estudar no Instituto de Belas Artes e, simultaneamente, na Escola Técnica Parobé. Em 1950, segue para o Rio de Janeiro, com bolsa de estudos do Estado do Rio Grande do Sul. É acolhido pelo pintor Osvaldo Teixeira, diretor do Museu Nacional de Belas Artes, com quem trabalha como assistente. Scheffel participou dos Salões Nacionais de Belas Artes. Após receber as medalhas de bronze e prata, em 1958 conquista o Prêmio Viagem ao Estrangeiro com a obra “Jerônimo”. O quadro premiado está no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Partiu para a Europa, em 1959. Depois de viajar e conhecer diversos países estabeleceu-se em Florença, onde desenvolveu sólida carreira. Trabalhou com o professor Augusto Vemehren, diretor do Laboratório de Restauro da Galeria dos Ofícios, restaurando obras de Rubens, Velázquez, Ticiano, entre outros. Ao longo dos anos 1960, Scheffel realizou oito obras públicas, a maioria de cunho religioso, em Florença. Inicia a década de 1970 influenciado pelas manifestações e protestos contra as instituições e os valores vigentes, que eclodem na Europa, na segunda metade da década de 1960, inaugurando uma nova fase, mais ousada e autêntica. Como o próprio Scheffel define: “… finalmente posicionei-me no campo da arte pela valorização da individualidade, no esplendor de suas características próprias, cujas qualidades devem ser exaltadas como um direito estético que une a humanidade…”. Em 1974, retorna ao Brasil como convidado oficial do Município de Novo Hamburgo para uma exposição retrospectiva, dentro das comemorações do Sesquicentenário da Imigração e Colonização Alemã no Brasil, que resultou na criação do Museu de Arte e também sua mantenedora Fundação Ernesto Frederico Scheffel, tornando possível a exposição permanente de grande parte da sua obra. Scheffel também inicia uma verdadeira cruzada pela preservação do patrimônio histórico relativo à colonização alemã no Rio Grande do Sul. A escolha de um prédio de características neoclássicas, construído em 1890, para a instalação do Museu de Arte, sinaliza o trabalho a ser desenvolvido nas décadas seguintes, culminando com o tombamento do Centro Histórico de Hamburgo Velho e o acervo pictórico da Fundação Ernesto Frederico Scheffel, pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em maio de 2015. Scheffel viveu os últimos anos da sua vida entre Itália e Brasil, e manteve sua rotina através da pintura e composição musical. Faleceu em Porto Alegre, em 16 de julho de 2015.

 

 

Citações de Scheffel sobre seus mestres

 

“… O Instituto de Belas Artes, que passei a frequentar, mantinha os cursos de Artes Plásticas e o Conservatório de Música com suas subdivisões. Meus professores eram João Fahrion (pintura figurativa), Benito Castañeda (pintura de paisagem), Fernando Corona (modelagem), José Lutzenberger (geometria), Ângelo Guido (história da arte), Luiz Maristany de Trias (anatomia) e Ernani Corrêa (arte decorativa)…”.

 

“… Benito Castañeda – pintura de paisagem, revelava-se, para mim, um homem de comportamento simples e estimulante… No Instituto de Belas Artes era um professor de fino trato, talvez o mais amado dentre todos…”.

 

“… Fernando Corona mostrava-se um tanto agitado, como quem sempre estava empenhado em resolver inúmeras questões. Alguns alunos notavam no professor Corona – assim como eu – sua devoção quase juvenil ao trabalho dos artistas clássicos pelo tempo de um mês e, no próximo, exaltava as virtudes dos artistas mais destemidos e inovadores da história da arte. Entendíamos, contudo, que essa duplicidade de posição do professor Corona não era criticável, por sua sinceridade e larga visão estética…”.

 

“… João Fahrion e Edgard Degas estão unidos, também, pelas soluções técnicas, pelo gosto dos cortes e essencialidade do toque, ao mesmo tempo elegantes e displicentes. As obras de ambos possuem as qualidades da fantasia e do realismo…”.

 

“… José Lutzenberger, artista acima de qualquer juízo crítico, cabe lembrar do seu perfeccionismo, pois todos os detalhes de um projeto eram estudados separadamente e, só depois, no conjunto. Os profissionais da arquitetura, quando não conseguem enquadrar um artista, definem-no “eclético”, devido à sua liberdade criativa. Muito cômodo! Já o arquiteto e escultor Fernando Corona resolve essa questão afirmando que “Lutzenberger é o arquiteto do estilo próprio”. De acordo estou eu, que fui aluno dos dois professores no Instituto de Belas Artes…”.

 

 

Até 10 de dezembro.

Antonio Manuel exibição prorrogada

Devido ao sucesso, a exposição do artista plástico Antonio Manuel foi prorrogada até o dia 21 de novembro de 2017, na Cassia Bomeny Galeria, em  Ipanema, RJ. A mostra comemora os 70 anos de idade e 50 de trajetória do artista, que foi o representante do Brasil na Bienal de Veneza de 2015 e cujas obras integram o acervo de importantes coleções, como MoMA, em Nova York, e Tate Modern, em Londres. Com curadoria de Franz Manata, são apresentadas 15 pinturas inéditas que seguem os traços geométricos, que o artista vem trabalhando há alguns anos. A novidade fica por conta da introdução de texturas em algumas obras, como papel corrugado e tecido, além de recortes em algumas telas, transformando a parede em mais um elemento da pintura. Em algumas obras, ele utiliza também, pela primeira vez, tinta esmalte junto com a tinta acrílica – que sempre usou em suas pinturas -, com a intenção de mesclar o fosco com o brilho.

Brasileiros em Bogotá / ARTBO

Entre os dias 26 e 29 de outubro, será realizada a ARTBO, importante feira de arte contemporânea, em Bogotá, na Colômbia. A galeria carioca Athena Contemporânea participará da feira e mostrará um panorama da produção mais recente dos artistas Frederico Fillipi e Yuri Firmeza, estabelecendo diálogos e interseções entre suas temáticas no que tange a criação de novas narrativas, tanto partindo de um imaginário social como do discurso científico.

 

Os trabalhos de Frederico Fillipi  lidam com materiais de dimensões verticais, do cosmos, do céu e do solo. Este movimento de olhar para as camadas está presente em muitas mitologias, referências importantes para o trabalho do artista. “Céu Fóssil” é uma série de 2 pinturas, que como lâmina ou caco, cada fragmento guarda em si a imagem espelho das nuvens naquele momento. “Espaços vácuos” é outra série de pinturas que também aludem ao céu, a um cosmologia cruzada, onde os elementos se distanciam como uma constelação. A ideia do artista é, associar o olhar vertical sobre a paisagem a de ícones que a nossa cultura ocidental produziu e que agora estão em fagocitose com outros mundos que vão sendo também acessados.

 

 

Yuri Firmeza apresentará o filme “Nada é”, ambientado na cidade de Alcântara, no nordeste do Brasil. As ruínas de palacetes de antigos barões, os foguetes do Centro de Lançamento da Força Aérea Brasileira e uma Festa do Divino Espírito Santo são pano de fundo para a construção do filme. A cidade revive um passado em ruínas justaposto a existência de uma base que prenuncia um futuro tecnológico. As duas fotografias, por sua vez, apropriadas do arquivo da NASA, ao serem manipuladas e descontextualizadas ganham novo significado. Algo entre o familiar e o estranho, as imagens tal como o filme entrelaçam documentos e histórias entre ficção e realidade para criarem novas narrativas.

Arte Cinética em Curitiba

25/out

A Simões de Assis Galeria de Arte, Curitiba, Paraná, promove até o dia 16 de dezembro a exposição coletiva “Arte Cinética Latino-Americana”.

 

Panorama sobre a arte cinética na América Latina

Felipe Scovino

 

O recorte para essa exposição possui mais uma particularidade além de estarem sendo apresentadas obras de arte cinéticas produzidas por artistas latino-americanos. Outro ponto de inflexão é o fato que o início da produção de arte cinética nas Américas coincide com o processo de modernização de grande parte desse continente. A mostra reúne a produção de três países (Argentina, Brasil e Venezuela) que entre os anos 1950 e 1970 passaram por profundos processos de industrialização, alargamento de políticas de importação, reformas amplas de infraestrutura em seus núcleos urbanos, diferentes práticas de uma arquitetura moderna e um desenvolvimento nunca antes visto na América Latina. Essa política de aporte financeiro e prosperidade – que pode ser exemplificada na construção de Brasília e no Plano de Metas (“50 anos em 5”) de Juscelino Kubitschek, ou na indústria petrolífera venezuelana ou ainda na rica vida cultural de Buenos Aires – possibilita um campo frutífero para as artes. Entre o fim dos anos 40 e o início dos anos 50 no Brasil assistimos a um amplo processo de institucionalização das artes com a fundação dos primeiros museus de arte moderna no Rio de Janeiro e em São Paulo (1948), além do MASP (1947) e da I Bienal de São Paulo (1951). Esta rede institucional permitiu a realização de importantes mostras de artistas internacionais no país, desde Calder a Picasso, passando pela importante mostra Pop na Bienal de 67, assim como possibilitou a emergência de uma nova geração de artistas brasileiros. E é aqui que se encontram os cinéticos. Desde 1950, Palatnik desenvolvia os seus Aparelhos cinecromáticos. O fascínio pelo movimento do jogo de luzes e o aspecto lúdico que o Cinecromático possui não podem mascarar uma importância que é singular nessa obra: não apenas marca o pioneirismo da arte cinética no mundo, mas essa invenção dialoga intensamente com a produção cinética na Europa e na América do Sul, particularmente na Argentina e na Venezuela, assim como amplia o conceito de pintura.

 

Em 1948, Mary Vieira realiza seus Polivolumes, torres vazadas, feitas em alumínio anodizado, formadas por semicírculos móveis em que o espectador, agora transformado em participante, escolhe a posição destes. Essas estruturas são móveis apenas no sentido horizontal. Se nos Aparelhos cinecromáticos e nos Objetos Cinéticos de Palatnik, o movimento e a participação se dão de forma autônoma em relação ao espectador – o que não acontecerá nas suas pinturas de matriz construtiva, a série W apresentada nessa mostra, já que a mobilidade do espectador frente a elas causa uma nova proposta para a ideia de movimento, dinâmica, e confronta a suposta rigidez que uma pintura teria -, os Polivolumes anteciparam de certa forma questões encontradas nos Bichos (1959-1964) de Lygia Clark. Nesses dois últimos exemplos, a obra é o molde para a nossa vontade.

 

O que temos nessa mostra, referindo ao campo de produção da arte brasileira, é a reunião de 4 artistas que tiveram participação fundamental no processo de pensar a simbologia do moderno. Abraham Palatnik, Antonio Maluf, Sérvulo Esmeraldo e Ubi Bava, cada um a seu modo, constituíram uma aproximação entre arte e ciência e pavimentaram a arte cinética no país.

 

No caso Relevo progressivo (série realizada a partir dos anos 1960) de Palatnik, o sequenciamento dos cortes na superfície do material – cartão – cria camadas ou ondas que variam dependendo da profundidade e localização do corte. O uso do papel-cartão leva à execução de ritmos e sinuosidades de grande impacto visual. Relevos também se desmembrou a partir dos anos 1990 na série W. Saiu o cartão ou o metal e entrou a tinta acrílica. O artista pinta telas abstratas que servem como ‘base’ para as futuras pinturas cinéticas. Num segundo estágio, o corte a laser fatia a pintura em réguas finíssimas. Depois, movimentando as varetas do ‘quadro fatiado’ no sentido vertical, ‘desenhando’ o futuro trabalho, o artista constrói um ritmo progressivo da forma, conjugando expansão e dinâmica visual. É importante destacar que o caráter cinético dessas obras se dá pela forma em como o espectador se coloca defronte a obra, isto é, a cada mudança de perspectiva dele, a pintura cria novas percepções e imagens.

 

Antonio Maluf foi o autor do cartaz da I Bienal de São Paulo. Artigo raríssimo em exposições, esse cartaz é um dos marcos do design brasileiro e das experimentações artísticas daquele momento. Os elementos estruturais do desenho, feito em três versões, reiteram e enfatizam o formato retangular do suporte. À medida que são reduzidos, os retângulos se adensam em direção ao centro do papel, projetando uma perspectiva tanto espacial quanto temporal. Todo esse conjunto de elementos é integrado ao formato do cartaz e o movimento das linhas paralelas, em duas cores, resultantes do seu perímetro, permite uma vibrante miragem óptica. Figura e fundo não conseguem diferenciar-se, são alternâncias constantes.

 

Maluf ainda dará início, na década de 1950, à produção das séries Progressões crescentes e decrescentes e Equação dos desenvolvimentos em progressões crescentes e decrescentes, realizadas em guache sobre papel, num primeiro momento, e depois com tinta acrílica sobre madeira. Nesse conjunto percebemos que a linha é transformada, por ilusão óptica, em vibração, o material em energia. Quando o espectador se movimenta diante destas obras, o fundo fragmenta a linha de cores, de modo que ele se apresenta como uma série de pequenos pontos flutuando no espaço. Eis a matemática se metamorfoseando em estruturas vibratórias a serviço de uma nova experiência de mundo para o sujeito. Em Equação dos desenvolvimentos (década de 1980), o artista elimina a dimensão física do quadro, privilegiando as construções gráficas. O exercício cinético, provocado pela repetição em série de estruturas monocromáticas, explora processos perceptivos de criação e recriação da forma (tem-se a sensação de multiplicação de quadrados num regime de tempo e espaço interminável).

 

Na série Homenagem ao espectador, realizada ao longo dos anos 1970, Ubi Bava adotou uma forma de experimentação utilizando superfícies construídas com espelhos ou unidades visuais modulares que captam o ambiente e a imagem do espectador. Os limites do círculo e a sua capacidade de reflexão são as unidades motoras do artista. Ademais, não há a preocupação apenas, como se isso fosse pouco, em experimentar novas capacidades cinéticas e propor a participação do espectador como um sujeito ativo e constituinte da obra, mas também a percepção em construir e organizar um estado pictórico. Esta analogia se faz presente na escolha e na ordem com que compõe os espelhos multicoloridos sobre o acrílico. Há o pensamento de um pintor articulando formas e cores naquela superfície.

 

E737, de Sérvulo Esmeraldo, é um exemplar dos mais importantes da sua icônica série Excitáveis. Produzida a partir de 1964, essa série é formada por caixas-objeto, feitas em acrílico, com elementos movimentados por eletricidade estática gerada pelo espectador quando a superfície da obra é tocada. Esmeraldo resolvia simultaneamente os desafios de fazer uma arte de participação do espectador e de estabelecer uma linguagem cinética sensível. Excitáveis retorna à problemática do acaso: a repetição exata de movimento, por mais complexa que seja, torna-se monótona na ideia do artista. Deve ser exercido algum controle. Isso é geralmente obtido pela descoberta de alguma relação entre os elementos nas caixas que se mantêm constantes no decurso de toda e qualquer variação de movimento. Excitável, aqui, diz respeito à ação de colocar em movimento. Como afirma Matthieu Poirier, “cabe ao espectador a função de carregar negativamente a obra, esfregando vigorosamente a mão na superfície da caixa, fazendo que a tal superfície atraia e tire da inércia as diversas linhas cuja carga é positiva.”[1] Essa ação do espectador desorganiza a ordem pré-estabelecida; o que era razão transforma-se em caos. De forma efêmera, criando um tempo próprio de nova aparição e organização para a obra, o gesto do espectador articula uma poderosa ligação entre arte e ciência, e ainda entre o que existe e não necessariamente é visto a olho nu, como novamente afirma Poirier: “Disfarçada pela impressão unicamente telecinética de produzir o deslocamento de objetos a distância, a obra nos torna conscientes da capacidade motriz das forças elétricas invisíveis que nos circundam e nos constituem” [2].

 

As vanguardas geométricas se estabelecem na Venezuela e na Argentina, respectivamente, com as operações de Alejandro Otero, Carlos Cruz-Diez, Gego e Jesús Rafael Soto e do Grupo Madí. Como afirma o manifesto do grupo argentino feito em 1946:

 

Madí confirma o desejo do homem de inventar objetos ao lado da humanidade lutando por uma sociedade sem classes que libera a energia e domina o espaço e o tempo em todos os sentidos, e a matéria em suas últimas consequências.[3]

 

O terreno para a abstração, particularmente o cinetismo, na Venezuela se deu no começo dos anos 1960. Cruz-Diez segue caminhos que poderíamos chamar de “um espaço extra-pictórico”, muito próximos aos de Soto. Suas obras iniciais lançam a cor ao espaço por meio da luz reflexiva: o fundo da pintura se transformava numa espécie de tela branca, destinada a receber os reflexos de luz. De certa forma, se apoia nessa presença corpórea da obra (e aqui as estruturas vibratórias de Soto entram na discussão) para aprisionar a luz projetada em direção ao espaço, assim como, mais tarde, utilizará meios transparentes para alcançar o maior grau possível de imaterialidade, como são os casos das duas obras apresentadas na mostra. Em Color Aditivo Panam 7 (2010) e Physichromie Panam 226 (2015) observamos que as figuras construídas sobre o plano promovem um contínuo jogo de alternância entre figura e fundo de modo a confundir as suas respectivas fronteiras. Sem dúvida, esse conjunto de retângulos almeja conquistar o espaço. Notem, portanto, as relações frutíferas entre essa qualidade de arte cinética e as práticas de uma arquitetura moderna na América Latina. Vejam os casos do arquiteto venezuelano Carlos Raúl Villanueva, muito próximo a Soto e Cruz-Diez, e também Niemeyer. Ambos tornaram curvas as retas, possibilitando uma outra linguagem e visualidade para o elemento concreto. Sobre a obra de Soto aqui apresentada, é importante dizer que além de colocar em suspenso a tradicional oposição entre figura e fundo, em que não se sabe qual é qual, resultando em uma disposição não mais hierarquizada, o encontro das linhas que atravessam essa obra desperta a geometria lírica desse artista. Eis o fenômeno da vibração – mais que ótica – que este cruzamento provoca. É uma tensão por estarem tais linhas no mesmo plano indicando um “nó espacial, que mesmo Mondrian deixa em suspenso ao eliminá-las em sua última fase” [4]. Há algo de musical, mágico e lúdico nessa obra. O plano se torna ativo ou é constantemente reativo pelo espectador. Daí artistas como Soto e Palatnik se declararem como pintores, apesar da pintura de ambos lidar com elementos tridimensionais. As hastes de Soto alteram discretamente a estabilidade do horizonte, e a escultura com motor de Kosice caminha pelo mesmo interesse. É a própria obra posta em questão, ameaçando os seus limites, experimentando as suas várias possibilidades, de forma intensa. Estava em questão o envolvimento total do espectador e a potencialização de toda a sensorialidade. A repetição e a progressão, causadas pelo acionamento do motor, estão entre os modos possíveis de suscitar uma ultrapassagem em direção ao ilimitado. O mundo é movimento, ou melhor, cinético, estando muito além do estritamente visual. E a obra quer acompanhar este modo de ser e se converte em obra-motor, obra-movimento. Ela entra em dissolução, se refaz no contato com o espectador, diminuindo sua distância com ele e exigindo sua participação. Eis a sua riqueza e contribuição: a obra é o espaço sensorial, ativo e mobilizador da vontade e da consciência do sujeito.

 

Luis Tomasello e Julio Le Parc são dois artistas argentinos de primeira ordem mas que fazem parte da geração seguinte ao do Madí. As obras desse último se caracterizam pelo uso da luz como componente central e como ela pode gerar, conectadas a motores, formas no espaço. Entretanto, nas duas obras do artista que estão na exposição notamos a associação entre luz e cor. A série Modulation destaca o largo potencial de variações cromáticas que a pintura pode oferecer. Tratam-se de obras baseadas em elementos geométricos, que utilizam as reações fisiológicas de percepção ótica. Os movimentos do espectador modificam as imagens que a pintura pode oferecer. Ela deixa de ser algo estritamente estático para nesse campo da interação (claro, guardadas as especificidades de uma interação entre espectador e obra bidimensional) promover a multiplicação das imagens. Já Atmospheres chromoplastiques nº 446 e nº 972 e Objet Plastique nº 897, todas de Tomasello, fazem uso de estruturas em relevo onde a ocupação do espaço tridimensional é o desejo maior. O volume que é dado pelas estruturas em madeira se transforma em fluxo e logo se faz tridimensional. A projeção de sombras sobre as madeiras promove uma espécie de expansão dessas formas. É através de uma economia de elementos que o artista promove uma larga experimentação envolvendo planos ilusórios, expansão das formas no espaço e a relação intrínseca entre luz, cor e forma. Em Atmosphere chromoplastique no508, se instala o conceito da ambiguidade e da desorientação ópticas através de ritmos aleatórios e padrões geométricos. A obra associa uma severa destreza técnica, conservando o rigor construtivo, com a delicada gestualidade de traços que deixam de se articular ao perímetro do quadrado para se dirigirem ao centro do quadro e desaguarem no ilusionismo óptico.

 

Essa é uma exposição de fôlego e muito importante para que tomemos conhecimento sobre a produção cinética nesses 3 países e os laços e as diferenças que podem ser analisados quando essas obras ocupam o mesmo espaço. Assinalo que os artistas dessa mostra não foram considerados de vanguarda apenas em seus respectivos países mas no mundo. A produção cinética latino-americana é uma das mais respeitadas no âmbito crítico e institucional, afirmando a qualidade e a pertinência desses artistas.

 

[1] POIRIER, Matthieu. Os Excitables de Esmeraldo ou cinetismo em viveiro. In: AMARAL, Aracy (org). Sérvulo Esmeraldo. São Paulo: Pinacoteca do Estado, 2011, p. 119-121.

[2] Idem, p. 121.

[3] Cf. QUINN, Arden; KOSICE, Gyula. Manifesto Madí. In: AMARAL, Aracy A. (org). Projeto construtivo brasileiro na arte: 1950-1962. Rio de Janeiro: MAM; São Paulo: Pinacoteca do Estado, 1977, p. 62-64.

[4] VENANCIO FILHO, Paulo. Soto: a construção da imaterialidade. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 2005.