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AGENDA CULTURAL

Marcello Nitsche, registro de uma trajetória

21/ago

A exposição retrospectiva do artista Marcello Nitsche abarca sua extensa trajetória, desde a

década de 1960 até dias atuais. Sua carreira artística é marcada pelo diálogo estreito com a

cultura pop, pela leitura ativa da paisagem e dos signos urbanos, pela exploração de diversas

linguagens – como pintura, desenho, intervenções no espaço urbano e a realização de filmes

em super-8 mm. Destaca-se, igualmente, sua atuação nos debates e projetos obre arte-

educação e no cenário político da redemocratização do país, nos anos 1980, sobretudo pela

realização da identidade visual da campanha Diretas Já. A mostra reúne mais de cem do artista

nas últimas cinco décadas.

 

“LIG DES” leva à área de convivência da unidade Sesc Pompeia, Água Branca – Oeste, São

Paulo, SP,  grandes esculturas infláveis denominadas bolhas, esculturas de pequeno porte,

obras de suportes e características variadas, maquetes de obras para locais abertos, desenhos,

pinturas, registros em fotografia e em filmes em 8mm, documentando acontecimentos em

torno de sua obra.

 

O diálogo entre o espaço do Sesc Pompeia e a mostra é um destaque a parte, em que se revela

um fator potencializador para a exposição. Segundo a curadora, Ana Maria de Moraes

Belluzzo, “LIG DES” dialoga com as características do espaço, que já foi uma fábrica,

transformado em ambiente nada convencional de cultura e convívio por Lina Bo Bardi”.

 

 
Texto da curadora

 

A nova visão da natureza moderna impõe-se pela paisagem urbana aos jovens artistas

brasileiros atuantes em meados dos anos 1960. Fábrica e cidade constituem a moderna

paisagem e marcam, de modo peculiar, a experiência artística de Marcello Nitsche entrelaçada

à vida de São Paulo.

 

A presença dessas obras no espaço da fábrica do Sesc Pompeia é um estimulante ponto de

partida. O local, transformado pela imaginação da arquiteta Lina Bo Bardi em espaço não

convencional de convívio e cultura, atualiza sua vocação ao mostrar essa obra aberta à

existência no espaço urbano.

 

A experiência de Marcello Nitsche se desdobra num momento em que se agitam convenções

artísticas e o país é assaltado por profundas transformações políticas e culturais, momento em

que artistas alargam o campo perceptive e lançam mão da apropriação estética de coisas que

povoam o entorno imediato dos habitantes da cidade.

 

A contribuição precoce de Marcello brota no interior de movimentos de renovação cultural no

país, em diálogo com coletivos internacionais da época pop, em meio ao debate sobre o novo

realismo e o retorno à figura. É parte dos avanços da nova objetividade brasileira. Em âmbito

paulista, as experimentações acolhidas pelo grupo REX contam com o substrato trazido ao

debate por mestres da Faap, afinados com a pauta arquitetônica.

 

Em diálogo com diferentes interlocutores, sua obra irrompe no vigor das concepções, sob

diferentes mídias. No teor experimental dos anos 1960, 1970, 1980, apuram-se aberturas para

contemporaneidade.

 

A apreciação retrospectiva do repertório do artista deve-se à cordialidade das coleções

públicas e privadas e à presença de versões fac-similares de peças desaparecidas, construídas

pelo Sesc para a ocasião.

 

Que o caráter inaugural dessa obra chegue às novas gerações, reproduzindo a surpresa vivida

por seus pares com o aparecimento de cada novo trabalho de Marcello.

Ana Maria de Moraes Belluzzo

 

 

Sobre o artista

 

Marcello Nitsche é paulistano, e seu trabalho se apresenta nos anos 1960, em meio ao cenário

de uma São Paulo que tem sua paisagem transformada pelo crescimento urbano industrial.

 

 

Até 30 de agosto.

Valéria Costa Pinto na Marsiaj Tempo Galeria

A artista Valéria Costa Pinto, ocupa todo o espaço expositivo da Marsiaj Tempo Galeria,

Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, com a exposição “Do plano ao espaço”. A mostra apresenta obras

bidimensionais e tridimensionais, além de um site specific idealizado para o anexo da galeria.

 

Seu trabalho mais recente volta-se para a pesquisa da intercessão entre o interior e o exterior,

que se confundem nos diversos suportes da mostra: papel, cartão, madeira. A cor, usada

pontualmente pela artista ao longo de sua carreira, serve de ligação entre esses diversos

formatos. Vemos o uso do branco, preto e cinza, mesclados ao vermelho e gradações de rosa.

 

Com texto do crítico Paulo Sergio Duarte, a exposição é composta por seis prints (pigmento

mineral sobre papel de algodão), um relevo em papel e cinco em madeira, além de três

pequenas esculturas. No anexo da galeria, a pesquisa se adensa, radicalizando a ocupação do

espaço através de paredes avolumadas por formas geométricas e cores.

 

 

A palavra da artista

 

Valéria Costa Pinto traz para sua vasta e diversificada obra novas abordagens para as mesmas

questões, aquelas da Bauhaus e do construtivismo russo. “A obra não deve ser muda. É através

do movimento que faço essa interação, procurando sempre a relação entre espectador/obra.

Ora manipulando o objeto, ora fazendo com que o espectador se desloque no espaço ao

redor, ora transformando uma forma definida em outra diferente como se o objeto tivesse

vida. Um objeto dinâmico e não estável. Ressalto o valor afetivo e intuitivo com a obra.”

 

 

Até 12 de setembro.

Exposição na Fundação Vera Chaves Barcellos

A Fundação Vera Chaves Barcellos, Viamão, RS, apresenta a mostra “Destino dos Objetos | O

artista como colecionador” e as coleções da FVCB. Impressões, desenhos, fotografias,

gravuras, fotocópias, objetos, esculturas, colagens e vídeos integram a mostra que reúne um

diverso grupo de 50 artistas de várias nacionalidades. Com curadoria de Eduardo Veras,

“Destino dos Objetos” examina como, por diferentes caminhos, os artistas se fazem

colecionadores, ou, pelo menos, como seus trabalhos podem replicar algo do furor

colecionista.

 

Há aqueles que tratam de isolar, recolher e sacralizar peças específicas, peças que

imediatamente perdem sua função original, mesmo que não renunciem às memórias que

carregam. Há também aqueles em que, mais do que a escolha, despontam as noções de

acúmulo, ordenamento e classificação. Entre uns e outros, o artista emerge como o sujeito dos

desejos e das decisões, oferecendo ou adivinhando um destino para os objetos.

 

A exposição remonta ao gérmen da própria Fundação Vera Chaves Barcellos, cuja origem

encontra-se nas coleções de arte formadas pelos artistas Vera Chaves Barcellos e Patricio

Farías ao longo dos anos, antes mesmo da formalização desse importante centro de divulgação

de arte contemporânea.

 

Participam da mostra artistas brasileiros, latino-americanos e europeus: 3NÓS3, Albert

Casamada, Almandrade, Amanda Teixeira, Anna Bella Geiger, Antoni Muntadas, Boris Kossoy,

Brígida Baltar, Cao Guimarães, Carlos Asp, Carmela Gross, Christo, Daniel Santiago, Elcio

Rossini, Ester Grinspum, Evandro Salles, Feggo, Gisela Waetge, Gretta Sarfatty, Hannah Collins,

Heloísa Schneiders da Silva, Hudinilson Jr., Jailton Moreira, Jesus R.G. Escobar, Joan Rabascall,

Joaquim Branco, Joelson Bugila, Julio Plaza, Klaus Groh, León Ferrari, Lia Menna Barreto, Mara

Alvares, Marcel-li Antunez, Marcelo Moscheta, Marco Antônio Filho, Marcos Fioravante, Maria

Lúcia Cattani, Mariana Silva da Silva, Marlies Ritter, Mario Ramiro, Mário Röhnelt, Michael

Chapman, Nicole Gravier, Nina Moraes, Patricio Farías, Rogério Nazari, Téti Waldraff, Ulises

Carrión, Vera Chaves Barcellos e Waltércio Caldas.

 

A exposição contará com uma programação paralela com palestras, conversas com artistas,

além das visitas mediadas e da promoção do Curso de Formação Continuada em Artes – ações

permanentes do Programa Educativo da FVCB, que segue oportunizando vivas experiências

com a arte e estimulando a formação de novos públicos.

 

 

De 22 de agosto a 12 de dezembro.

Arquitetura da Luz

Em sua segunda exposição individual na Galeria Oscar Cruz, Itaim, São Paulo, SP, Hildebrando

de Castro apresenta uma série inédita de pinturas e relevos que comprovam seu domínio

refinado da técnica da pintura, mantendo sempre presente a sua constante preocupação com

a luz.

 

Nessa nova série de obras, ainda relacionadas com a arquitetura, percebe-se que mesmo

sendo uma pintura realista, o artista sempre deixa margem para a imaginação do observador,

na medida em que as composições retratadas flertam constantemente com a abstração

geométrica, a op-art, arte cinética e o construtivismo, porém sem nunca abandonar o terreno

da representação figurativa, é justamente aí que reside todo o mistério e encanto de sua

proposta.

 

 

De 03 de setembro a 24 de outubro.

Adriana Varejão exibe “Pele do Tempo”

Em cartaz no Espaço Cultural Airton Queiroz, UNIFOR, Fortaleza, CE, a mostra “Pele do Tempo”

reúne 32 obras de Adriana Varejão e 4 obras de artistas que a influenciaram, abrangendo 23

anos de trabalho. Uma das artistas brasileiras mais conhecidas internacionalmente, Varejão

realiza trabalhos que se baseiam na pintura e, sobre essa, que é a mais clássica das linguagens

da arte, consegue subverter e abrir inúmeros campos de questão. A curadoria traz a assinatura

de Luisa Duarte.

 

 

De 26 de agosto a 29 de novembro.

Do arcaísmo ao fim da forma na Pinacoteca

A Pinacoteca do Estado, Luz, São Paulo, SP, museu da Secretaria da Cultura do Estado de São

Paulo, exibe até 27 de setembro a exposição “Marino Marini: do arcaísmo ao fim da forma”.

Com curadoria de Alberto Salvadori, diretor do Museo Marino Marini em Florença, a exposição

é a primeira retrospectiva no Brasil do artista italiano reconhecido mundialmente por suas

esculturas em bronze, e um dos nomes fundamentais da arte moderna italiana.

 

A mostra proporciona ao público uma visão ampla e generosa da produção artística de Marini,

expondo 68 peças, entre esculturas, pinturas e desenhos, de distintos períodos de sua carreira

e reúne obras das duas importantes instituições dedicadas à obra do artista na Itália, o Museo

Marino Marini de Florença e da Fondazione Marino Marini de Pistoia – cidade natal de Marini.

 

A exposição “Marino Marini: do arcaísmo ao fim da forma”, tem patrocínio da Pirelli e apoio do

Istituto Italiano di Cultura di San Paolo. Esta iniciativa faz parte do “Ano da Itália na América

Latina” promovido pelo Ministério das Relações Exteriores e da Cooperação Internacional da

Itália e já foi apresentada na Fundação Iberê Camargo em Porto Alegre.

 

 

Sobre o artista

 

Nascido em Pistoia (1901 – 1980), na região da Toscana, Marini cresceu cercado pelas

influências da vizinha Florença, nutrindo uma forte ligação com a arte etrusca e com a arte

egípcia pertencente aos museus da região, desenvolvendo em sua obra quatro temáticas em

particular: o retrato, a Pomona – a encarnação do eterno feminino –, os cavalos e os cavaleiros

e o circo. Por este último era extremamente fascinado, sentindo-se intrigado pela natureza do

ofício do malabarista, do palhaço e dos acrobatas. “A relevância de Marino Marini foi de um

artista que não se comportou como um filólogo, não aceitou os dados históricos consumidos

pelo estudo e pela interpretação antropomorfa do sujeito, mas revelou, no seu trabalho, uma

dimensão de atualidade da matéria numa relação direta entre homem e sujeito”, destaca

Alberto Salvadori.

Artista holandês na SIM galeria

20/ago

A SIM galeria, Curitiba, PR, apresenta a exposição individual de Frank Ammerlaan, artista

holandês residente em Londres.

 

Nos trabalhos de Ammerlaan, a essência do múltiplo é manifesta na contínua coexistência de

suportes, materiais e processos mistos, como escultura, pintura, fotografia e vídeo

juntamente de elementos sintéticos e naturais como tinta óleo, linhas de costura, metais e

agentes químicos.

 

Na exposição “Outside the wireframe”, produzida durantes sua residência artística recente no

espaço experimental de arte PIVÔ, na cidade de São Paulo, o interesse permanente no que é

periférico, indistinguível e despercebido é amplamente contemplado.

 

As caminhadas diárias de Ammerlaan na ida e volta de seu ateliê temporário, localizado no

centro de São Paulo, se tornaram uma profunda jornada para dentro e fora do motor da

cidade movido à ansiedade e instabilidade. Ao fazer uso de objetos ready-made como

latinhas de alumínio, vidro e banner de PVC, em “Outside the wirefram”e o artista convoca

uma série de elementos tanto familiares como também invisíveis à capital brasileira. Um

conjunto de ícones que perpassa os catadores de latinhas das quais algumas esculturas são

feitas e que nos fala sobre inventivos subsistemas criados sob circunstâncias econômicas

difíceis. Como também que inclui um banner de serralheria em que o artista aponta

evidências de extrema ansiedade geral quanto à segurança. E até mesmo que destaca do

cenário urbano cotidiano, tampas de bueiro e piche como indicação de um ambiente

publicitário alternativo. E até mesmo piche e tampas de bueiros que nos separam de um

mundo sob nossos pés.

 

A série “Untitled” de imagens impressas em vidro aramado de alta segurança exibe um

material nunca antes usado em exposições do artista, de acordo com ele “Trabalhar em um

novo contexto como a residência desperta novas idéias, te faz, por exemplo, pensar de forma

diferente sobre os materiais”. Permeada por ambigüidades, a série é feita de um material

transparente de alta segurança que busca oferecer segurança enquanto não necessariamente

esconde algo. Ela inclui imagens desenhadas por linhas de armações de arame que lhes

concedem certo aspecto de pop arte, mas ao mesmo tempo uma aparência anônima, uma vez

que nos permite enxergar formas, mas não superfícies. Além disso, um objeto poderoso ainda

que pequeno, a bandeira de mesa, que não mostra nenhum emblema ou insígnia pode ainda

assim simbolizar uma idéia de proteção e defesa de um determinado território ou cultura.

Sobre a figura tridimensional humana, seu aspecto fantasmagórico é justaposto com uma

imagem impressionantemente detalhada.

 

A antítese da abordagem emocional e racional está profusamente presente nas pinturas do

artista na quais aspectos atmosféricos e nebulosos se contrastam com padrões geométricos

precisos feitos de linhas de costura e bordado. Possivelmente sob a influência de seu

treinamento primeiro, em marcenaria, assim como devido a pratica constante de desenhos

técnicos, nos trabalhos de Ammerlaan linhas são de alguma forma, privilegiadas em

detrimento de volume.

 

Em algumas das pinturas de “Outside the wireframe” os conceitos binários característicos dos

trabalhos de Ammerlaan podem ser apresentados mais sutilmente do que em outras. Ao

observar uma pintura a partir de certa distância da tela, seus aspectos atmosféricos e

nebulosos se destacam, porém, uma vez que os padrões em baixo relevo começam a ser

reconhecidos, a pintura simultaneamente exige ser observada mais de perto. Padrões e

linhas, assim, são formas de racionalizar e se apropriar do conceito de periférico com

efetividade. Simultaneamente a qualidade etérea das pinturas contribui para um

engendramento mais amplo das idéias e objetos do periférico.

 

“Outside the wireframe” revela que o imperceptível, o periférico e o sutil podem ser

encontrados em situações e cenários que transcendem efeitos óticos provocados por uma obra

de arte. Aponta claramente que o invisível existe, por exemplo, na rotina cotidiana dos

habitantes de metrópoles como São Paulo. Ao utilizar-se de piche e ao delinear tampas de

bueiros encontradas nas ruas que circundam seu ateliê na cidade, Ammerlaan realça padrões

gravados em tais peças de metal- alguns deles padrões de linhas cruzadas e atravessadas

também comuns a outros trabalhos do artista-, feitos, por  exemplo, por empresas de

telecomunicação para fins publicitários. Geralmente despercebidos, tais padrões e nomes de

marcas atuam como indícios de uma atividade publicitária quase imperceptível acontecendo

sob nossos pés. Um fato ainda mais interessante diante da controversa proibição de

publicidade exterior que busca minimizar a poluição visual da cidade implantada na última

década em São Paulo.

 

A exposição “Outside the wireframe” é uma oportunidade única para todos familiarizados ao

ambiente urbano de observar uma complexa cidade como São Paulo, em suas múltiplas

possibilidades periféricas, através dos cantos dos olhos argutos e precisos do artista

contemporâneo Frank Ammerlaan.

 

 

Sobre o artista

 

Frank Ammerlaan é um proeminente artista plástico nascido na Holanda e residente da cidade

de Londres cujas exposições individuais e coletivas têm sido exibidas nos últimos seis anos em

prestigiados museus e galerias pela Europa e em cidades como Copenhague, Bruxelas, Berlin e

Londres bem como em Nova York e outras grandes capitais internacionais.

 

 

De 27 de agosto até 26 de setembro.

Lidia Lisboa na Galeria Pretos Novos

A Galeria Pretos Novos, Gamboa, Rio de Janeiro, RJ, inaugurou a exposição “Casulo”, da artista

visual Lidia Lisboa, com a curadoria de Marco Antonio Teobaldo. São vinte e uma obras em

dimensões variadas, realizadas em crochê, que lembram de imediato os formatos de casulos e

marsúpios, em que as tramas são formadas a partir de retalhos de tecidos rasgados e

reagrupados. A memória da infância da artista estabelece uma forte conexão com  sua recente

produção, na qual utiliza tecidos que possibilite criar tramas, construindo volumes e invólucros

vindos de uma espécie de viagem no tempo, em que algumas passagens de sua vida eram

envoltas por fantasias e sonhos de menina.

 

A partir da obra “Casulo” (que também serve de suporte para a sua performance de

mesmo nome), a artista apresenta um repertório muito peculiar que trata do recolhimento e

transformação, assim como pode ser observado na Natureza. Talvez por isso a escolha do

silêncio para executar a sua performance, que sugere o movimento feito pela lagarta antes de

adormecer coberta pelos seus fios e depois se libertar, já em outro corpo. Compete à artista,

confeccionar texturas e se desfazer delas quando não fica satisfeita com o resultado. Ela

persegue a forma desejada até alcançá-la.

 

Criada em uma família numerosa em que predominam as mulheres, Lidia Lisboa

encontrou-se com a maternidade aos treze anos de idade. Esta experiência marcante e

incrivelmente positiva (de acordo com as próprias palavras da artista), reaparece na poética de

sua série “Ventre”. Em formatos de úteros e marsúpios, seus trançados evocam a vida que está

por vir e reiteram a feminilidade tão presente em suas obras. Este ciclo criador surge em

outros trabalhos, semelhantes às ovas de animais em um estado letárgico como se ali dentro

existissem embriões germinando e prestes a eclodir.

 

Mesmo flertando com a moda e o design, a artista segue com o impulso de  formular

um pensamento sobre a criação da vida. Alguns de seus colares são feitos a partir da

justaposição de contas de cerâmicas moldadas a mão por ela mesma, formando um conjunto

que pode ser associado ao sagrado, tanto pela matéria de que é feito, quanto pelo formato.

Uma outra série de colares é feita a partir do desmembramento de bonecas de borracha e

plástico, reagrupadas com outros itens, de modo que formem um cordão de ordem aleatória,

mas que carrega em si uma forte carga dramática. Grande parte destas bonecas foram

encontradas pela artista, nas ruas de diferentes cidades por onde passou.

 

Não há como dissociar as experiências pessoais de Lidia Lisboa da sua inquietação

artística, revelando-nos uma produção biográfica, repleta de simbolismos e coberta de lirismo.

 

 

Até 17 de outubro.

 

CASULO

 

artista: Lidia Lisboa

curador: Marco Antonio Teobaldo

inauguração 19 de agosto – 18h

visitação 20 de agosto a 17 de outubro

terça a sexta – 12h > 18h

sábado – 10h > 13h

Galeria Pretos Novos

Rua Pedro Ernesto, 34 – Gamboa

fone 2516-7089

pretosnovos@pretosnovos.com.br

 

Um corpo e duas cabeças

Animais e plantas de cimento, pães calcinados; autorretratos, orelhas de ouro e prata aplicadas sobre conchas de caramujos, um divã carregado de simbologias. Em sentido literal e figurado, quase tudo o que Beatriz Carneiro e Ricardo Becker apresentam na exposição “Um corpo, Duas cabeças”, a partir do dia 29 de agosto, no Espaço Movimento Contemporâneo Brasileiro, EMCB, Horto, Rio de Janeiro, RJ, foi retirado “do fundo do baú” – seja de suas memórias ou de seus arquivos pessoais.

 

Dois nomes da cena contemporânea, eles vão apresentar suas reflexões, singularidades e experiências de arte em laboratórios espalhados pelo casarão do Horto, um imóvel tombado do início do século XIX. Duas instalações fluidas e livres vão ocupar salas, corredores, um pátio, e o segundo andar com obras reunidas pela curadora Cristina Burlamaqui.

 

 

Autorretrato com um mergulho em Brancusi, Magritte, Giacometti…

 

Ricardo Becker apresenta uma coletânea de trabalhos em que aborda questões autobiográficas, carregada de símbolos e autorretratos, além de fotos de partes de seu corpo. No trabalho de baralhos, o artista utiliza fotos de quando era criança.  Em outros reverencia artistas como Beyus, Brancusi e Giacometti. O ponto alto da instalação de Ricardo Becker é um  velho divã em couro utilizado na psicanálise, apoiado em quatro caramujos, no pátio, e faz composição com outros trabalhos do artista, feitos com galhos e fotos.

 

 

A palavra da curadora

 

“A visão consistente de Beatriz Carneiro, que transita entre escultura, instalação, pintura e videoarte, desponta como um antipoema dos anos 60, embeleza o processo do fazer e, mesmo quando usa materiais do cotidiano, foge da escultura tradicional, pois as obras se amontoam e vão invadindo os espaços”, analisa a Cristina.

 

“Becker apresenta sua produção desde os anos 80, com autorretratos, questões envolvendo sons e barulhos, como ‘orelhas de ouro e prata encravadas em grandes caramujos’. Ele mescla referências concretas com brincadeiras poéticas”, conclui Cristina Burlamaqui.

 

 

Um embate entre o Luxo e a Pobreza, a Natureza e a Civilização

 

Como base do laboratório de Beatriz Carneiro, elementos que poderiam ter sido resgatados de algum lugar da infância, como latas velhas amealhadas por aí, onde crescem plantas de cimento. Pães feitos de troncos calcinados e pés de javalis e tatus, reproduzidos em formas acimentadas, revelam o lado dark do seu trabalho, que tem forte conotação de arte povera, resgatando materiais simples e encontrados pelas suas andanças.

 

 

Sobre os artistas

 

Beatriz Carneiro é artista visual formada pela Escola Superior de Arte e Design de Genebra (Haute Ecole d’Art et Design Geneve – HEAD). A artista utiliza materiais orgânicos e industriais em pinturas, esculturas e vídeos. Dentre as exposições de Beatriz, destacam-se “Novas Aquisições 2012/2014 – Coleção Gilberto Chateaubriand” no MAM Rio e na Mercedes Viegas Arte Contemporânea. Nesta mesma galeria, ela ainda apresentou “Coletiva 12”, 2012-2013, “Construções para lugar nenhum”, 2012-2014 e “Cortes”.

 

Ricardo Becker é artista plástico e professor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Nos anos 80, ele começou a participar de exposições e teve destaque em mostras individuais, como “Desfazer Imagem” nas galerias Eduardo Fernandes, 2010 e Novembro, 2007, onde também esteve com o “Projeto Belvedere”, 2005. Dentre as exposições coletivas, Becker participou do V Salão da Bahia no MAM, 1998, no qual ganhou o prêmio Aquisição. Ele também fez parte do “Novas aquisições – Coleção Gilberto Chateaubriand” no MAM-Rio, 2004 e 2001. Em 20012, levou para a Casa de Cultura Laura Alvim o seu “Projeto Cisco”, com grande sucesso.

 

 

De 29 de agosto a 15 de outubro.

O finissage de “Travessia”

19/ago

Guilherme Maranhão promove encontro dia 23 de agosto de 2015, domingo, das 11 às 14h, para fotógrafos, marcando o encerramento de sua exposição “Travessia”, em cartaz na Casa da Imagem / Museu da Cidade de São Paulo, Centro, São Paulo, SP. Ao reunir profissionais da fotografia, curadores e laboratoristas, o evento conta com duas mesas redondas em torno dos processos de trabalho e etapas na apresentação de ensaios fotográficos ao público. A primeira mesa recebe a participação de Ronaldo Entler, Henrique Siqueira e Fausto Chermont, e apresenta diversos pontos de vista em relação aos caminhos – editais, concursos, salões, residências – que visam tornar públicos os trabalhos fotográficos, como por meio de exposições, “zines”, livros etc. Já na segunda mesa redonda – com Roger Sassaki, Rosangela Andrade, Gibo Pinheiro, Elizabeth Lee e Edison Angeloni -, serão abordadas alternativas para a fotografia analógica, especificamente em São Paulo, levantando soluções e ideias para quem ainda não consegue superar esta técnica.

 

 

Convidados

 

Ronaldo Entler – Graduado em Jornalismo pela PUC-SP, mestre em multimeios pelo IA-Unicamp, doutor em artes pela ECA-USP, pós-doutor em multimeios pelo IA-Unicamp. Atuou na imprensa como repórter fotográfico entre 1997 e 2002, participando também de exposições coletivas e individuais. Foi diretor artístico da área de fotografia da Fundação Cultural Cassiano Ricardo de São José dos Campos, entre 1991 e 1995. Entre 2005 e 2010, atuou como professor visitante no Programa de Pós-Graduação em Multimeios do IA-Unicamp. Atualmente, é professor e coordenador de Pós-Graduação da Faculdade de Comunicação e Marketing da FAAP, e professor da Faculdade de Artes Plásticas da FAAP.

 

Henrique Siqueira – Possui graduação em Ciências Sociais e Políticas pela Escola De Sociologia e Política de São Paulo(1989) e mestrado em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo(2006). Atualmente é Diretor da Museu da Cidade de São Paulo – Casa da Imagem. Tem experiência na área de Artes, com ênfase em Fundamentos e Crítica das Artes.

 

Fausto Chermont – Fotógrafo e curador. Membro fundador do Mês Internacional da Fotografia de São Paulo. Membro da comissão criadora da Lei Mendonça, do Conselho Municipal e Estadual de Cultura. Presidente do Júri do Premio Nordeste de Fotografia. Vice-Presidente da Cooperativa dos Artistas Visuais do Brasil. Curador Assistente de fotografia e Criador do Depto de Novas Tecnologias do Mis – Museu da Imagem e do Som de SP e Presidente do Conselho. Atua como fotógrafo profissional e autoral há mais de trinta anos. É consultor de pré-impressão gráfica e produtor gráfico. É autor do livro de fotografias São Paulo Século XXI, sobre o centro de SP. Atualmente desenvolve projetos de produção e realização de documentários de fotografia.

 

Roger Sassaki – Bacharel em Fotografia pelo Centro de Comunicação e Artes do Senac-SP. Já realizou exposição sobre o sertão mineiro às margens do rio São Francisco, participou de outras mostras individuais e coletivas e é fotógrafo oficial de espetáculos e shows. Ministra cursos e oficinas de fotografia, com enfoque em técnicas artesanais analógicas.

 

Rosangela Andrade – Laboratorista profissional desde 1989. Trabalhou com o fotografo Zé de Boni na Álbum Laboratório. Em 1992 abriu seu próprio laboratório, o Imágicas Laboratório Fotográfico Analógico. Em 24 anos de atividade ampliou para exposições e livros de grandes nomes da fotografia brasileira como Cristiano Mascaro, Thomas Farkas, Boris Kossoy, Maureen Bisilliat, Ed Viggiani, German Lorca, Vânia Toledo, Pedro Martinelli, entre outros. Rosangela é uma grande entusiasta do processo analógico e foi quem idealizou e fundou o Clube do Analógico em março de 2014.

 

Gibo Pinheiro – Nasceu na cidade de São Paulo, em 1962, e cursou História na PUC–SP. Na década de 80, abriu uma marcenaria e entrou em contato com o mundo da fotografia ao executar a montagem de um laboratório fotográfico profissional. No início dos anos 90, Gibo começou a trabalhar na área de produção como laboratorista e especializou-se no processo C-41 de revelação e ampliações manuais de negativos coloridos. Após vencer um prêmio de fotografia, montou o Gibo Lab e tornou-se referência no processo analógico colorido, realizando diversas exposições e editoriais para revistas de moda e arte com profissionais renomados do Brasil e exterior. Atualmente, se u laboratório é um dos últimos da América Latina a trabalhar com ampliações manuais coloridas pelo processo analógico, além de fazer impressões fine art (arquivos digitais) e ministrar cursos na área.

Edison Angeloni – Com formação em jornalismo, é fotógrafo, professor e realiza cursos e workshops sobre fotografia em instituições como Centros Culturais, ONG’s e Universidades. Trabalhou nos laboratórios e estúdios da Faculdade de Fotografia Senac, desenvolve trabalho fotográfico pessoal com pesquisa em câmera de orifício (pinhole) e processos históricos do séc. XIX.

 

Elizabetth Lee – Com formação de Bacharel em fotografia pelo Centro Universitário Senac, participou de exposições coletivas e festivais de curta-metragem. Tem como pesquisa as técnicas alternativas e históricas de revelação fotográfica.

 

Guilherme Maranhão – Nascido em 1975, no Rio de Janeiro. Reside e atua em São Paulo. É bacharel em Fotografia pela Faculdade do Senac. Cria imagens sobre ciclos de vida, imperfeitos por natureza, cheios de ruídos, interferências e sujeitos ao acaso. Sua pesquisa imagética busca alterações no processo de formação das imagens técnicas e subversões das ferramentas produzidas pela indústria. Participou de diversas mostras coletivas e individuais. Possui fotografias em importantes coleções como MAM-SP (Museu de Arte Moderna de São Paulo) e Coleção Itaú. Vencedor do Prêmio Porto Seguro de Fotografia 2007, na categoria Pesquisas Contemporâneas, e do Prêmio Marc Ferrez Funarte 2014, com o trabalho Travessia.

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